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ABORDAGENS DOS TEMAS PRECONCEITO E EXCLUSÃO COM ALUNOS DE UM CURSO DE ENGENHARIA

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Academic year: 2020

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ABORDAGENS DOS TEMAS PRECONCEITO E EXCLUSÃO COM

ALUNOS DE UM CURSO DE ENGENHARIA

APPROACHES OF PREJUDICE AND EXCLUSION THEME WITH STUDENTS OF AN UNDERGRADUATE ENGINEERING COURSE

José Antônio Pinto

CEFET-MG/Coordenação de Formação Geral/Campus-Leopoldina/ Universidade Cruzeiro do Sul/ josanpi@yahoo.com.br

Maria Delourdes Maciel Universidade Cruzeiro do Sul/ maria.maciel@cruzeirodosul.edu.br

Resumo

O cenário deste estudo de caso é a sala de aula de uma disciplina optativa de um curso de engenharia. Como instrumentos de coleta de dados, lançamos mão da observação, questionários, discussão e debate procurando diagnosticar como os alunos percebem e se posicionam em relação ao preconceito e à exclusão. Adotamos a seguinte rotina para o desenvolvimento do tema em sala de aula: i) aplicamos um questionário para diagnóstico das concepções iniciais; ii) disponibilizamos textos para leitura e apresentamos vídeos sobre o tema, visando contribuir as discussões e debates, reflexão e análise de algumas situações relacionadas ao tema; iii) utilizamos, ainda, como objeto de discussões e debates, as afirmativas dos estudantes e o resultado dos questionários aplicados. No final do semestre reaplicamos o mesmo questionário. Um detalhe relevante no resultado deste trabalho refere-se à maneira como os alunos percebem o preconceito na sociedade, ou seja, identificam a existência de preconceito em relação aos afrodescendentes e às mulheres; aos cidadãos que compõem as camadas socialmente mais desfavorecidas (mais pobres) e aos homossexuais; reconhecem que estes grupos sociais não têm as mesmas condições de acesso aos bens produzidos pela ciência e tecnologia e à educação.

Palavras-chave: Preconceito, Temas Controversos, Currículo. Abstract

The scenery of this case study is the classroom of an elective course in an undergraduate course in engineering. The data were collected from observation, questionnaires, discussions and debate. The aim of this work is to make a diagnosis related to how the students perceive and position themselves in relation to the prejudice and exclusion theme. The theme was developed in the classroom based on the following steps: i) a questionnaire was administered aiming the diagnosis of initial conceptions; ii) the students were provided with texts and videos with the intention of increasing the quality of the debates, the discussions and the analysis of situations related to the topics; iii) the questionnaire answers and the students statements were used in discussions and debate. At the end of semester the same questionnaire was administered. The way in which the

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students perceive the prejudice in the society is a relevant detail in the result of this work. They identify the existence of prejudice in relation to women, African descendants, homosexuals, and poor people. They recognize that these classes of people do not have the same opportunities to access the goods and services provided by the science, technology and education.

Keywords: Prejudice, Polemical Themes, Curriculum. Introdução

O cenário de nossa pesquisa é a sala de aula de uma disciplina optativa de um curso de Engenharia de Controle e Automação, uma área tecnológica. Na página oficial do referido curso, entre outras informações, está disponível sua matriz curricular. O curso possui um esquema de eixo onde constam as disciplinas e os conteúdos. Os eixos temáticos são: 1- Matemática, 2- Física e Química, 3- Computação e Matemática Aplicada, 4- Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas á Engenharia, 5- Eletricidade, 6- Eletrônica, 7- Mecânica, 8- Controle de Processos, 9- Informática Industrial, 10- Automação da manufatura e 11- Atividade de Prática Profissional e Integralização Curricular.

Esta organização curricular é diagnosticada, segundo Capra (2006), como a presença do paradigma cartesiano. Nesta perspectiva, torna difícil a implantação de uma formação mais ampla e que inter-relacione conhecimento científico, desenvolvimento tecnológico e a complexidade social do nosso tempo. A pretensão dos professores desta disciplina é a busca de uma formação mais equilibrada, ou seja, uma formação científica acompanhada de uma formação para a cidadania.

Em 2009, quatro anos após a sua criação, além das disciplinas obrigatórias (Contexto Social e Profissional da Engenharia de Controle e Automação; Filosofia da Tecnologia; Introdução a Sociologia; Psicologia Aplicada Às Organizações; Gestão

Ambiental) foi possível inserir na matriz curricular a disciplina “Humanidades e Ciências

Sociais Aplicadas à Engenharia”, dentro do eixo que já abrigava várias outras disciplinas optativas. Foi nessa disciplina que realizamos este trabalho.

Os cursos de engenharia possuem uma carga horária ampla de disciplinas com conteúdos de Física e Matemática, porém, a inter-relação com Ciências e Sociedade é extremamente pequena, o que torna a disciplina Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas á Engenharia importante, por priorizar a reflexão, análise, discussão e debate.

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Acredita-se que o engenheiro que tenha uma formação atenta para as questões e problemas do seu tempo, certamente participará de forma mais ativa nas escolhas que faz na Sociedade.

A disciplina Tópicos Especiais: Educação, Ciências, Tecnologia e Sociedade tem

como objetivo principal trabalhar, junto aos alunos de um curso de engenharia, alguns temas controversos e relacionados com os problemas da Sociedade. Os temas foram discutidos pelo professor na primeira reunião com os alunos, e depois foram selecionados para o desenvolvimento desse trabalho os de maior interesse da turma, os quais foram: preconceito e exclusão, automação e desemprego, cotas nas universidades públicas e homofobia. Neste artigo focamos apenas o trabalho com o tema preconceito e exclusão.

Fundamentação teórica

A educação bancária é definida por Freire (1997) como uma educação onde apenas o professor é sujeito no processo. Para esse autor:

A narração de que o educador é o sujeito conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda a narração os transforma em "vasilhas", em recipientes a serem "enchidos" pelo educador. Quanto mais vá “enchendo" os recipientes com seus "depósitos" tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente "encher", tanto melhores educandos serão(FREIRE, 1997, p. 62).

Nesta concepção os professores possuem uma infinidade de “pacotes” de conhecimento e eles escolhem quando e como colar uma cópia de alguns destes “pacotes” na memória do aluno. Freire (1997) critica a educação bancária e aponta na direção de uma educação libertadora:

O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo (FREIRE, 1997, p. 70).

A educação tem que caminhar na direção da formação de um cidadão com capacidade de refletir, avaliar, discutir e debater, tomar decisões e ter a consciência do seu papel na sociedade humana.

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Nesta mesma direção Freire (2005) questiona o que deve ser objeto de ensino e, ao mesmo tempo, aponta o caminho para sua concretização quando diz:

Porque não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deve associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Porque não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? (FREIRE, 2005, p. 30).

Ao trazer o tema preconceito e exclusão para ser objeto de estudo é importante trazer para a discussão e debate as diferentes formas de violências sofridas pelos grupos sociais estudados.

Para Bortoletto (2009), o ensino tradicional não contribui para uma participação ativa dos alunos. Para esse autor:

O ensino tradicional dificulta a participação dos alunos em um processo comunicativo de ordem coletiva, e não promove, também, a interface entre o conhecimento escolar e o social, reduzindo, assim, o conhecimento escolar à sala de aula e a exames para a busca da excelência (BORTOLETTO, 2009, p. 259).

O ensino tradicional trás como característica a passividade dos alunos, não existe espaço onde o aluno possa opinar e muito menos para expor suas concepções. Em conformidade com esta percepção sobre a escola Ruiz-Moreno (2008) aponta que:

No modelo pedagógico vigente na maioria das escolas, o aluno é visto como um receptor de conteúdos cuja tarefa é assimilar e reproduzir, ao invés de problematizar, analisar, refletir, discutir e conversar (RUIZ-MORENO, 2008, p.883).

Atividades de ensino que buscam uma formação para a democracia, com reflexão, análise, discussão e debate, encontram apoio em vários autores. Para Pérez (2009):

O exercício da cidadania só pode desenvolver-se plenamente em uma sociedade legitimamente democrática, que deve fornecer à maioria dos cidadãos sua participação efetiva no poder. Embora a participação real ainda seja um ideal que não se concretizou até o momento, é necessário continuar desenvolvendo processos de formação que contribuam para o empowerment dos sujeitos na constituição de sua cidadania (PÉREZ, 2009, p.269).

Uma formação cidadã, que prepara o indivíduo para a convivência democrática, propicia uma educação para vida em uma sociedade dinâmica.

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Objetivos

O objetivo principal deste trabalho foi verificar se e como os alunos de um curso de engenharia percebem o preconceito e a exclusão e se identificam a existência, ou não, de uma maior dificuldade por parte dos grupos sociais discriminados e excluídos, no acesso

à educação e aos bens produzidos pela ciência e pela tecnologia. Pretendeu-se, ainda,

verificar se a percepção de preconceitos se altera quando estes alunos têm a oportunidade de refletir, analisar, discutir e debater sobre o tema.

Metodologia

Estabelecemos como local para o desenvolvimento desta pesquisa a sala de aula de uma turma do sétimo período de um curso de Engenharia de Controle e Automação. Planejamos uma rotina para a realização da pesquisa e desenvolvimento do tema preconceito e exclusão em sala de aula. Para diagnosticar as concepções inicias dos alunos, relacionadas ao tema, aplicamos um questionário contendo afirmativas a partir das quais o aluno manifestava-se, quantificando suas respostas de zero (0) a cinco (5). No cabeçalho do questionário havia uma tabela de valorização das questões onde se lia: 0 = Discordo totalmente, 1 = Discordo muito, 2 = Discordo pouco, 3 = Concordo pouco, 4 = Concordo muito e 5 = Concordo totalmente. Os alunos atribuíram um destes valores em cada uma das afirmativas contidas em um questionário.

Após a aplicação do questionário, para aumentar as possibilidades de reflexão e análise sobre o tema, procuramos trazer para sala de aula informações através da exposição de vídeos e estudo de textos. Utilizamos as afirmativas de cada questão e as respostas iniciais dos alunos, obtidas a partir da análise dos questionários, para promover as discussões e o debate. No final do semestre, reaplicamos o questionário para avaliar mudanças, ou não, nas concepções dos alunos.

Na escolha dos vídeos apresentados para trazer informação para os alunos, consideramos a recomendação de Perez (2009):

Quando o professor de Ciências decide usar reportagens da mídia em suas aulas, particularmente a apresentada na televisão, deve, além de construir critérios para sua seleção, favorecer sua problematização devido às distorções que podem apresentar (PEREZ, 2009, p.273).

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Os vídeos utilizados foram: 1) A LIGA – Discriminação/Preconceito (Programa

exibido pela Rede Bandeirante de Televisão em 2010)1; 2) Entrevista com um travesti

(aluno de um curso de Doutorado, feita pelo programa Fantástico, da Rede Globo de

Televisão em 2010)2.

No primeiro vídeo são apresentadas várias situações de manifestação de preconceito. São reportagens sobre: i) um casal homossexual expulso do Exército; ii) um homem afrodescendente que é abordado e baleado pela polícia; iii) um trabalhador demitido por ser portador do vírus HIV; iv) realização de uma experiência onde um grupo de pessoas, embasados apenas em um contato visual, tenta associar a aparência com a profissão de cinco homens e duas mulheres.

Após a exibição de cada vídeo, os alunos apresentam ‘destaques’ sobre situações que eles consideraram relevantes no vídeo para ser discutida e debatida com toda turma.

Na sequência, são apresentados aos alunos textos que visavam contribuir, assim como os vídeos, para enriquecer a reflexão, análise, discussão e debate. Um documento relevante disponibilizado aos alunos foi uma tabela do DIEESE (2008) que compara os salários praticados no Brasil entre etnias e gêneros diferentes.

Outra estratégia usada para enriquecimento das discussões foi o incentivo aos alunos para trazerem questões, documentos, depoimentos e posicionamentos de pessoas públicas que fossem interessantes e relacionados ao tema. Os alunos tinham como objeto de reflexão, análise, discussão e debate, todo este conjunto de informações acrescidas dos gráficos gerados a partir da média dos valores atribuídos às questões iniciais por eles respondidas no questionário.

No final do semestre letivo o questionário foi aplicado novamente. Comparando as respostas iniciais e finais dos alunos, foi possível observar em quais questões os alunos mudavam suas concepções. O intervalo de tempo entre a aplicação do questionário inicial e final, e as atividades realizadas em aula, em ambos os casos, foi de no mínimo um mês. Não é metodologia é resultado.

Resultados 1 http://www.youtube.com/watch?v=ZVDQA4e5mGc. 2http://www.youtube.com/watch?v=r3G4uGq31Cs

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Para diagnosticar a percepção do preconceito sobre os afrodescendentes, mulheres, pessoas de camadas mais desfavorecidas socialmente (pobres) e homossexuais os alunos avaliaram as afirmativas do Quadro 1.

1- No Brasil existe preconceito em relação aos afrodescendentes.

2- Nas escolas que frequento (ei), existem (iam) preconceito em relação aos afrodescendentes.

3- No grupo social de minha convivência, existe preconceito em relação aos afrodescendentes.

4- No Brasil existe preconceito em relação às mulheres.

5- Nas escolas que frequento (ei), existem (iam) preconceito em relação às mulheres.

6- No grupo social de minha convivência, existe preconceito em relação às mulheres. 7- No Brasil existe preconceito em relação aos cidadãos que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres).

8- Nas escolas que frequento (ei), existem (iam) preconceito em relação aos cidadãos que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres).

9- No grupo social de minha convivência, existe preconceito em relação aos cidadãos que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres).

10- No Brasil existe preconceito em relação às pessoas que tem orientação homossexual.

11- Nas escolas que frequento (ei), existem (iam) preconceito em relação às pessoas que tem orientação homossexual.

12- No grupo social de minha convivência, existe preconceito em relação às pessoas que tem orientação homossexual.

Quadro 1: Afirmativas sobre a o percepção preconceito.

O Gráfico 1 representa a média dos valores atribuídos pelos alunos em cada das afirmativas do quadro 1. Os resultados desta avaliação antes e depois da intervenção facilitam a visualização das mudanças de percepção do preconceito pelos alunos.

3,95 2, 14 1,41 2,45 0,81 0,55 4,05 2,45 1,55 4,50 3,50 3,18 4,30 2,73 2,37 2,73 1,33 1,13 4,30 2,47 1, 60 4,73 4,07 3,80 0 1 2 3 4 5

Brasil Escola Grupo Brasil Escola Grupo Brasil Escola Grupo Brasil Escola Grupo

Afrodecendentes Mulheres Mais pobres Homossexuais

.

Antes Depois

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Gráfico 1 - Percepção do preconceito antes e depois da intervenção.

Os resultados mostram que os alunos perceberam o preconceito sobre todos os grupos sociais estudados.

O quadro 2 possui afirmativas que possibilitam verificar se, nas concepções dos alunos, os grupos sociais pesquisados (afrodescendentes, mulheres, camadas mais desfavorecidas socialmente e homossexuais) possuem as mesmas oportunidades de acesso à ciência, tecnologia e educação que as demais pessoas

13- No Brasil os afrodescendentes têm as mesmas oportunidades de acesso à Ciência que os demais brasileiros.

14- No Brasil os afrodescendentes têm as mesmas oportunidades de acesso à Tecnologia que os demais brasileiros.

15- No Brasil os afrodescendentes têm as mesmas oportunidades de acesso à Educação que os demais brasileiros.

16- No Brasil as mulheres têm as mesmas oportunidades de acesso à Ciência que os homens.

17- No Brasil as mulheres têm as mesmas oportunidades de acesso à Tecnologia que os homens.

18- No Brasil as mulheres têm as mesmas oportunidades de acesso à Educação que os homens.

19- Os brasileiros que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres) têm as mesmas oportunidades de acesso à Ciência que os demais brasileiros.

20- Os brasileiros que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres) têm as mesmas oportunidades de acesso à Tecnologia que os demais brasileiros.

21- Os brasileiros que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres) têm as mesmas oportunidades de acesso à Educação que os demais brasileiros.

22- As pessoas que tem orientação homossexual têm as mesmas oportunidades de acesso a Ciência que os demais brasileiros.

23- As pessoas que tem orientação homossexual têm as mesmas oportunidades de acesso a Tecnologia que os demais brasileiros.

24- As pessoas que tem orientação homossexual têm as mesmas oportunidades de acesso a Educação que os demais brasileiros.

Quadro 2 - Afirmativas sobre a oportunidade de acesso a ciência, tecnologia e educação. Os alunos avaliaram as afirmações do Quadro 2 e a média dos valores atribuídos por eles estão apresentadas no Gráfico 2.

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2,23 2,50 2,45 3,73 3,73 4,23 1,00 0,77 1,00 2,91 3,45 3,45 2,70 2,67 2,70 4,07 4,10 4,20 1,33 1,17 1,30 3,10 3,17 3,13 0 1 2 3 4 5 Ci ên cia Te cno logi a Ed u ca çã o Ci ên cia Te cn o logi a Ed u ca çã o Ci ên cia Te cn o logi a Ed u ca çã o Ci ên cia Te cn o logi a Ed u ca çã o

Afrodecendente Mulheres Mais pobres Homossexuais

Antes Depois

Gráfico 2 - Oportunidade de acesso à Ciência, à Tecnologia e à Educação, antes e depois da intervenção.

Em relação aos Afrodescendentes, ao quantificar esta percepção atribuindo valores às frases que afirmam a existência deste preconceito, fica evidente que os alunos visualizaram um preconceito muito grande em relação aos mesmos. Após a realização das atividades de aula, a percepção do preconceito em relação aos Afrodescendentes aumentou, principalmente no grupo social de convivência do aluno. Os afrodescendentes, na percepção dos alunos, têm mais acesso a ciência, tecnologia e educação somente quando comparados ao grupo formado pelas camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres).

De todos os grupos sociais estudados, o preconceito em relação às mulheres é o menos percebido. Após a realização das atividades de aula a percepção do preconceito em relação às mulheres aumentou, principalmente no grupo social de convivência do aluno e na escola onde o aluno estuda ou estudou. As mulheres, na percepção dos alunos, é o grupo social que sofre o menor preconceito e que tem maior acesso a ciência, tecnologia e educação.

Os alunos perceberam o preconceito bastante acentuado em relação às camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres). A percepção desse preconceito foi semelhante ao observado em relação aos Afrodescendentes. Entretanto, esta percepção quase não se alterou após a realização das atividades de aula. Este grupo social, na percepção dos alunos, foi entre todos os grupos estudados o que tem menos acesso a ciência, tecnologia e educação.

Os alunos perceberam também o preconceito muito acentuado em relação aos Homossexuais, de acordo com eles, é o que mais sofre preconceito. O preconceito a esse

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grupo social foi o maior entre todos os outros. Após a realização das atividades de aula, a percepção do preconceito em relação aos Homossexuais ainda foi maior do que a inicial. Os alunos entenderam que os Homossexuais têm mais acesso à ciência, tecnologia e educação do que os afrodescendentes e os brasileiros que compõem as camadas mais desfavorecidas socialmente (mais pobres).

Os alunos também quantificaram as dificuldades que cada grupo social tem em relação ao acesso a ciência, tecnologia e educação.

Análise dos resultados

Todos perceberam o preconceito sobre os grupos sociais estudados. Entretanto, a percepção deste preconceito é menor nos grupos mais próximo ao estudante. Para todos os grupos sociais abordados na pesquisa, nossos alunos percebem um preconceito maior no contexto nacional (Brasil distante) e menor na escola em que estudam ou estudaram (realidade próxima); menor ainda no seu grupo de convivência social (muito próximo). Se a afirmativa fosse: “Na minha família existe preconceito em relação aos afrodescendentes (mulheres) (camadas mais desfavorecidas socialmente) (homossexuais)” ou ainda “Eu tenho preconceito em relação aos afrodescendentes (mulheres) (camadas mais desfavorecidas socialmente) (homossexuais)”, qual seria a avaliação destes alunos sobre a percepção do preconceito neste nível de proximidade? Um dado relevante em relação à percepção do preconceito é que após a realização das atividades de aula os alunos passaram a perceber um preconceito maior no seu entorno, escola e grupo social de sua convivência.

Uma questão que é importante observar com relação à diminuição da percepção do preconceito à medida que o grupo discriminado se aproxima do indivíduo, é que este resultado serve de provocação para que possamos avaliar nossos próprios preconceitos. Muitas vezes nosso discurso é politicamente correto, mas nossa prática pode ser contraditória. A percepção do nosso próprio preconceito é difícil por estarmos imersos em uma sociedade que, na sua essência, é preconceituosa, com uma predominância dos valores que exaltam o homem heterossexual, branco e rico.

Um aluno da turma percebeu seu preconceito quando os colegas riram no final de

sua fala: “[...] eu não tenho nenhum preconceito. Eu só não gosto quando eu estou

malhando e ai vem o gay aproximando e querendo levar uma ideia. Eu, numa boa, levanto, saio, na boa, sem preconceito”.

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Perceber o nosso preconceito pode ser o primeiro passo para não contribuirmos para sua perpetuação.

Conclusões

O estudo mostra, para este caso, que os alunos perceberam a existência de preconceito sobre diferentes grupos sociais e que a oportunidade de acesso destes grupos sociais a ciência, tecnologia e educação não são idênticas as dos demais cidadãos. Uma disciplina que aborda temas controversos de nossa sociedade em um curso de engenharia se justifica pelas mudanças de percepções do preconceito pelos alunos.

Concordamos com Freire (2005) quando condena de forma veemente o preconceito ser justificado ou tratado como algo normal na sociedade:

O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o que, mas que se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas, ou históricas, ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se conheça a força dos condicionamentos a enfrentar (FREIRE, 2005, p.60).

Após a realização desta pesquisa houve um aumento da percepção do preconceito na escola, principalmente no grupo de convivência e até mesmo do próprio preconceito. A percepção do preconceito deve ser vista como um avanço se acompanhada de reconhecimento de que a sociedade humana é composta por indivíduos diferentes.

Referências

BORTOLETTO, A. CARVALHO, W. L. P. Temas sociocientíficos e a prática discursiva em sala de aula: um estudo no Ensino Médio. In: CALDEIRA, Ana Maria de Andrade. Ensino de Ciências e Matemática II. Temas sobre formação de conceitos. São Paulo: Editora UNESP 2009.

CAPRA, F. O ponto de mutação: A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Editora Cultrix Ltda. 2006.

DIEESE. A mulher negra no mercado de trabalho metropolitano: inserção marcada pela dupla Discriminação. Estudos e Pesquisa. Ano II – Nº 14 – Novembro de 2005. Disponível em:

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FREIRE, P. Educação bancária e educação libertadora. In: PATTO, Maria Helena de Souza. Introdução à psicologia escolar. 3ª edição. São Paulo: Casa do Psicólogo - Livraria e Editora Ltda. 1997

_________ Pedagogia da autonomia – Saberes necessários a prática educativa. 31ª

edição. São Paulo:Editora Paz e Terra. 2005

PÉREZ, L.F.M.; CATTUZZO, F.L.M. CARVALHO, W.L.P. Ensino de ciências para a cidadania a partir do desenvolvimento de habilidades de negociação em estudantes do Ensino Médio. In: CALDEIRA, A.M.A. Ensino de ciências e Matemática II. Temas sobre formação de conceitos. São Paulo. Editora UNESP 2009.

RUIZ-MORENO, L. PITTAMIGLIO, S.E.L.; FURUSATO, M.A. Lista de discussão como

estratégia de ensino-aprendizagem na pós-graduação em Saúde. Comunicação Saúde

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Gráfico  2  -  Oportunidade  de  acesso  à  Ciência,  à  Tecnologia  e  à  Educação,  antes  e  depois da intervenção

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