• Nenhum resultado encontrado

O impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens"

Copied!
55
0
0

Texto

(1)

Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica

O Impacto das Redes Sociais na Saúde

Mental dos Jovens

Jessica Marta Paiva Fidalgo

(2)

Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica

O Impacto das Redes Sociais na Saúde

Mental dos Jovens

Jessica Marta Paiva Fidalgo

Orientado por:

Prof. Doutor Nuno Félix da Costa

(3)

[3]

Resumo

Em 2014, o INE (Instituto Nacional de Estatística) verificou que 70% dos jovens portugueses com mais de 15 anos usava as redes sociais, dos quais 98% tinham um perfil no Facebook, a rede social mais utilizada em todo o mundo.

As redes sociais digitais são aplicações da Internet que permitem a conexão e o contacto permanente e constante entre os indivíduos, sendo cada vez mais usadas, principalmente entre os mais novos. O seu uso versátil, que coloca ao dispor dos seus utilizadores uma grande variedade de atividades, torna-as quase irresistíveis e demasiado apelativas, tanto para os mais novos como para os mais crescidos. No entanto, estas podem ser vistas de dois pontos de vista diferentes: se, por um lado, podem ser encaradas como um apoio importante para a socialização dos indivíduos, por outro, podem ser um obstáculo ao confronto dos problemas do quotidiano.

A pressão intrínseca entre os mais novos para se estar sempre disponível, sempre online, pode culminar no uso compulsivo das redes sociais, principalmente por parte dos adolescentes, grupo etário no qual se verifica a maior incidência de dependência da Internet e das redes sociais. Assim, percebe-se a importância crescente de se alertar para esta temática e para se começar a agir, de modo a reverter as novas tendências virtuais, sendo fulcral estar atento aos sinais de alarme.

Além disso, tem-se tentado compreender qual o verdadeiro impacto do uso problemático da Internet (UPI), inclusive das redes sociais, na expressão ou no surgimento de perturbações psiquiátricas. No entanto, esta é ainda uma questão que levanta bastante controvérsia. No final de contas, será o uso problemático da Internet causa ou consequência de perturbações psiquiátricas?

Palavras-Chave:

Adolescentes, Redes Sociais, Dependência da Internet, Depressão, Ansiedade Social, Suicídio, Saúde Mental.

(4)

[4]

Abstract

In 2014, INE (Instituto Nacional de Estatística) showed that 70% of Portuguese 15 years old or older, had social network sites, and that 98% of them had a profile on Facebook, the most popular social network in the world.

Social network sites are internet applications that allow the constant communication and interaction between individuals; they are being increasingly used especially among young people. Their versatility make a wide variety of activities available which make their use very attractive and almost irresistible, both for youngsters and the grown-ups. However, their use can be seen from different points of view: they can, on one hand, be considered as an important tool for the socialization of individuals, but on the other hand can be an obstacle to facing the problems of daily life.

The intrinsic pressure among youngsters to be always online, can culminate in the compulsive use of social networks, mainly by adolescents, the age group showing greatest dependence on the Internet and social networks. Thus, it is increasingly important to recognize this problem and to begin to act, in order to reverse these new virtual tendencies; it is vitally important to recognize alarm signals.

In addition, the definition of the impact of the problematic use of the Internet, including social networks, has been included in the expansion or onset of psychiatric disorders. However, this is still a very controversial issue. In the end, is the problematic use of the Internet the cause or the consequence of psychiatric disorders?

Keywords:

Teenagers, Social Network Sites, Internet Addiction, Depression, Social Anxiety, Suicide, Mental Health.

(5)

[5]

Entrei naquele mundo sem pensar Do que dali podia advir E o que era suposto serem meros minutos Viraram inúmeras horas E naufraguei sem saber remar Deixei-me consumir Pensando ter amigos em todo o mundo Do meu mundo desisti E quando acordei para a realidade Tarde demais me apercebi Que o meu mundo já não era meu Já era de meio mundo a partilhar Fiquei sem realidade para me agarrar E perguntei como era possível Que uma tecla aqui e acolá Levasse num clique a minha vida Para um mundo onde não sei quem por lá está.

(6)

[6]

Índice

1. Introdução 8

2. Vantagens e Desvantagens do Uso das Redes Sociais 9

3. Uso Problemático da Internet e Dependência da Internet – Conceitos e Definições

13

4. Epidemiologia 16

5. O Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental dos Jovens 20

5.1. Fatores de Risco e Fatores Protetores 20

5.2. Sinais de Alerta 23

5.3. Psicopatologia e Redes sociais 24

5.3.1. Caracterização da População Dependente das Redes Sociais 24

5.3.2. Quadro Clínico e Mecanismos de Nocividade 28

5.3.3. Diagnósticos 32 5.3.3.1. Causa ou Consequência? 32 5.3.3.2. Perturbação Depressiva 33 5.3.3.3. Ansiedade Social 40 5.3.3.4. Comportamentos Suicidários 44 6. Conclusões 48 7. Agradecimentos 50 8. Referências Bibliográficas 51

(7)

[7]

Índice de Figuras

Figura 1 – Vantagens e Desvantagens das Redes Sociais 12

Figura 2 – Uso da Internet: do uso esporádico à dependência 13

Figura 3 – Escalada no Uso da Internet 14

Figura 4 – Escala de Dependência das Redes Sociais – Fatores a ter em conta 15

Figura 5 – Distribuição de atividades no Facebook 16

Figura 6 – Motivação do Uso (Excessivo) da Internet, por género 25

Figura 7 – Caracterização Geral da População Dependente das Redes Sociais 27

Figura 8 – Espetro de cognições e comportamentos suicidários 44

Índice de Quadros

Quadro 1 – Exemplos de Sites de Redes Sociais 11

Quadro 2 – Utilizador (regular) não-dependente vs. Utilizador dependente 15

Quadro 3 – Perfis de Risco para desenvolver UPI 18

Quadro 4 – Psicopatologia e Redes Sociais – Algumas percentagens 22

Quadro 5 – Dados na Literatura sobre a Caracterização da População Dependente

das Redes Sociais 26

Quadro 6 – Dados na Literatura sobre Perturbação Depressiva & Dependência da

Internet/das Redes Sociais 37

Quadro 7 – Dados na Literatura sobre Ansiedade Social & Dependência da Internet/

das Redes Sociais 42

Quadro 8 - Dados na Literatura sobre Comportamentos Suicidários & Dependência da

(8)

[8]

1. Introdução

À distância de um clique, quebram-se fronteiras, sem necessidade de passaporte, sem necessidade de contacto, sem necessidade de um diálogo face-a-face. À distância de um clique, quebra-se a solidão e gera-se o isolamento. À distância de um clique, esconde-se uma identidade e geram-se outras tantas. À distância de um clique, vivemos isoladamente acompanhados, acompanhando seres sós rodeados de vazios sociais.

O impacto que o uso da Internet, e em particular das redes sociais digitais, pode ter na sociedade (e que, na verdade, já tem) ultrapassa os limites do racional.

Torna-se cada vez mais necessário abrir os olhos, não perante ecrãs, mas perante os seres que acabam por entrar no mundo da dependência online. A ausência de barreiras e de limites abre, não apenas caminho a novos e belos horizontes, mas também (ou ainda mais significativamente) a abismos que consomem o tempo e a sanidade mental dos jovens. Não basta pensar que é um problema para se abordar a longo prazo. É necessário começar a agir, agora. Porque uma tecla hoje pode virar uma complexa e inatingível rede amanhã. Porque um clique agora pode gerar um vírus no imediato. Não daqueles que se combatem com um brilhante software, nem com uma vacina altamente eficaz, mas daqueles multi-resistentes à razão e à racionalidade.

Foi com o intuito de alertar, conhecer e dar a conhecer, esta temática, que optei por abordar este tema. Porque se os jovens são o futuro, há que investir neles. E porque, acima de tudo, um problema (re)conhecido é problema resolvido. Ou não será assim?

(9)

[9]

2. Vantagens e Desvantagens do Uso das Redes Sociais

Atualmente, a preocupação com a segurança dos jovens pode limitar as atividades fora de casa, o que cria as condições ideais para estar online, o que acaba por ser visto como algo saudável e seguro. No entanto, será mesmo assim?

As redes sociais digitais (Quadro 1) são aplicações da Internet focadas na conexão e interação entre indivíduos, sejam estes amigos do mundo real ou simplesmente desconhecidos com interesses em comum. O seu uso é eclético, versátil, pois disponibilizam uma grande variedade de atividades, tais como a criação de perfis, trocas de mensagens, publicação de fotografias, vídeos e comentários, e procura de informações

[32], [16], havendo conteúdos produzidos pelo próprio utilizador e conteúdos gerados pelas

indústrias do jornalismo e do entretenimento. Assim, há quem afirme que as redes sociais proporcionam um meio para a socialização e a criatividade online, com impacto na interação, a nível individual e da sociedade em geral [25]. Por outro lado, podem fornecer

a possibilidade de formar novas identidades, proporcionando o ambiente ideal anónimo para situações como o ciberbullying, o voyeurismo e o ciberstalking, aumentando a potencialidade de efeitos nefastos que podem comprometer o bem-estar e a integridade dos indivíduos atingidos e das suas relações [16], à distância de um simples clique, em

qualquer hora e em qualquer lugar. As redes sociais permitem ainda a existência de subculturas marginais, por vezes anónimas, pelas quais circulam conteúdos de incitamento à violência, ao ódio, à xeno- e homofobias, à anorexia ou ainda a comportamentos auto-lesivos [25].

Os sociólogos defendem que os pares se reconhecem no modo de falar, de vestir, nas escolhas ou nas preferências, fator importante no processo de socialização, que guia as crianças e jovens em direção à uniformidade, conformidade e obediência [25]. Tal explica

o porquê de, hoje em dia, os mais novos ao crescerem rodeados de tecnologia, serem sujeitos a uma pressão intrínseca entre pares, uma pressão inerente para se estar sempre disponível, para se estar envolvido nas redes sociais, para se sentirem pertencentes a algo, o que pode culminar num uso compulsivo e problemático destas redes [16]. Os processos

mínimos de comunicação constante destas novas gerações podem ser vistos como um reforço de aspetos socio-emocionais da construção de relações entre jovens, ao possibilitar a combinação imprevisível de encontros, a captação e partilha de momentos vividos em conjunto, podendo as interações online prolongar as relações dos que vivem

(10)

[10]

fisicamente próximos, confirmando as identidades de grupo, permitindo ainda uma comunicação assincrónica, possibilitando que se pense melhor no que se quer dizer e na forma como nos queremos apresentar aos outros [25]. Contudo, há quem defenda que esta

conexão constante prejudique as interações e habilidades sociais, pela diminuição da capacidade de reter informação, a médio e longo prazo, podendo mesmo disfarçar um isolamento social. Um estudo transversal, realizado com 10 930 adolescentes de seis países europeus (Grécia, Espanha, Polónia, Holanda, Roménia e Islândia), mostrou que o uso das redes sociais, durante duas ou mais horas por dia, se encontrava associado a problemas de internalização e diminuição do desempenho em atividades académicas [16].

Ou seja, se, por um lado, as redes sociais permitem uma interação vantajosa em quantidade, permitindo que um indivíduo interaja com um maior número de pessoas, por outro lado, essa interação é desvantajosa em termos de qualidade, visto que poderá ser superficial [22].

A cultura de pares, principalmente entre adolescentes, é assim marcada pela presença assídua nas redes sociais, num ambiente muito próprio, onde os conteúdos partilhados são persistentes, recuperáveis e circulam a grande velocidade, com o risco de poderem ser lidos fora de contexto por alguém que o autor não prevê [3].

A existência de amigos online pode ser um apoio importante, auxiliando no estabelecimento de contactos sociais e na aprendizagem do mundo, no desenvolvimento emocional e social dos jovens [8], facto apoiado por estudos recentes que indicam que a

comunicação online com amigos e familiares se encontra associada a um declínio dos sintomas e sinais depressivos, pelo fortalecimento e manutenção de laços pré-existentes

[22]. Há mesmo quem defenda que a utilização e a comunicação através da Internet,

possam aliviar a perturbação depressiva, em populações isoladas e deprimidas, que confiam nas tecnologias para obter apoio social [32].

Contudo, a partir do momento em que uma rede de relacionamentos online se torna consumidora, essa pode vir a afetar negativamente a vida social / ocupacional offline do indivíduo[17].

Na figura 1, encontram-se resumidas as principais vantagens e desvantagens das redes sociais.

(11)

[11]

Quadro 1 - Exemplos de Sites de Redes Sociais. [16], [22]

Facebook (2004)

Uso pessoal e profissional;

Em 2016: 1 712 milhões de utilizadores ativos;

Estima-se que a cada minuto, são publicados 510 000 comentários, 136 000 fotos e atualizados 293 000 estados; Vantagens:

 Aumento da conectividade;  Partilha de ideias;

Aprendizagem online.

Desvantagens:

 Prejudica a perceção subjetiva de bem-estar e satisfação pessoal;  Aumento dos sinais e sintomas depressivos;

 Potencial responsável por fraca qualidade do sono. Twitter

(2006)

Usada como microblogging. Particularmente relevante como ferramenta política; Em 2016: 313 milhões de utilizadores. Instagram (2010) Partilha de imagens; Em 2016: 500 000 utilizadores ativos. Snapchat (2011)

Envio de mensagens de texto, vídeos. Realização de chamadas. Em 2016: 200 milhões de utilizadores.

Vantagem:

 Exclui as mensagens automaticamente, após a receção - “falsa” experiência de privacidade e segurança. Desvantagem:

Necessidade constante de estar online para não perder o fio condutor das conversas. Tinder

(2012)

“Namoro online”. Atende a necessidades e desejos românticos dos seus utilizadores, através de perfis individuais e interação com membros com interesses em comum. Possível marcação de encontros, posteriormente.

(12)

[12]

Figura 1 - Vantagens e Desvantagens das Redes Sociais.

- Conexão e interação entre pessoas;

- Reforço de aspetos socio emocionais da construção de relações entre jovens; - Prolongamento de relações offline, com manutenção de laços pré-existentes; - Confirmação de identidades de grupo;

- Comunicação assincrónica; - Procura de informações; - Interação forte em quantidade?

- Formação de novas identidades, protegidas pelo anonimato; - Cyberbullying, ciberstalking, voyeurismo;

- Exposição de conteúdos pessoais a desconhecidos, sem conhecimento prévio de que isso venha a acontecer;

- Existência de subculturas marginais com circulação de conteúdos de incitamento a comportamentos nocivos;

- Pressão intrínseca entre os mais jovens para se estar constantemente disponível online;

- Possível diminuição da capacidade de reter informação a médio e longo prazo;

(13)

[13]

3. Uso Problemático da Internet e Dependência da Internet – Conceitos

e Definições

As dependências são perturbações motivacionais, que interferem com o normal funcionamento da pessoa, a três níveis: psicológico, biológico e relacional. Nestas, um objeto de desejo ganha uma centralidade cada vez mais significativa no quotidiano da pessoa, o que pode ter consequências potencialmente nocivas. Importa, portanto, perceber o que é “normal” e o que é um comportamento disruptivo e descontrolado, ou seja, o momento a partir do qual um comportamento se torna aberrante relativamente ao contínuo biográfico da pessoa, mas cujos mecanismos de reforço levam a um decair do estado funcional da mesma [7].

As dependências devem ser consideradas em três dimensões [7]:

1. Personalidade e características biológicas da pessoa, que determinam o grau de vulnerabilidade a determinada dependência;

2. Características do objeto da dependência, capaz de provocar um reforço positivo (intensidade e rapidez de aparecimento do prazer proporcionado) e, eventualmente, o desagrado que a sua privação desencadeia;

3. Ambiente sociocultural em que estes processos decorrem, que pode levar à contenção ou multiplicação dos consumos.

Para além disso, deve também ser tido em conta o suporte neurobiológico existente nos processos envolvidos no reforço positivo associado à sensação de prazer [7].

Assim, de uma maneira muito simplista, uma dependência apresenta-se primariamente como uma falha recorrente para resistir aos impulsos e falta de controlo ao se envolver num determinado comportamento [35].

Uso Esporádico Uso Regular Não-dependente Uso Excessivo Uso Problemático Dependência

(14)

[14]

Do uso excessivo e problemático da Internet até à dependência existe uma escalada no uso da Internet, com distintos picos de intensidade (figura 3).

De uma investigação com jovens portugueses, em média, por semana, é despendido o seguinte tempo online para estudar: 2 horas no ensino básico; 6 horas no ensino secundário; 42 horas no ensino universitário [23]. Assim, percebemos que para se

considerar um jovem dependente, é necessário ter em conta muito mais do que o tempo de permanência online, já que a dependência da Internet é multifatorial.

O termo “dependência da Internet” foi usado pela primeira vez em 1995 [6],

caraterizando-se pelo consumo multidimensional associado a passar tempo online caraterizando-sem qualquer atividade específica, podendo, no entanto, existirem alguns focos, como a utilização prolongada de redes sociais, havendo a procura típica de atividades consideradas normais, tais como a procura e consolidação de amizades ou namoros [24], [8].

Embora as dependências da Internet e das redes sociais digitais não se encontrem incluídas no DSM-5, foram criadas escalas que permitem rastrear e avaliar estas situações

[22], tal como a Escala de Dependência das Redes Sociais, sistema de pontuação criado

para avaliar os sintomas de dependência frequentemente associados à dependência das redes sociais digitais, através de três fatores (figura 4) [32].

Desespero “Já nem consigo sair de casa, só para estar online” Compulsão “Não consigo resistir a estar online” Escalada “Cada vez estou mais horas online” Experimentação “Estar online permite viver muitas coisas diferentes” Descoberta “Estar online é fascinante”

(15)

[15]

O uso excessivo das redes sociais digitais pode ser visto como patológico, a partir do momento em que ocorre um detrimento significativo da vida do jovem [16]. O que começa

inicialmente como forma de entretenimento, gera rapidamente perícia e domínio, levando ao uso excessivo e prolongado no tempo, bem como ao aumento da probabilidade de vir a desenvolver um comportamento aditivo [23].

No Quadro 2, encontram-se resumidas as principais diferenças entre utilizadores regulares não-dependentes e os utilizadores dependentes da Internet.

Quadro 2 - Utilizador (regular) não-dependente vs. Utilizador dependente.

Utilizadores REGULARES NÃO-DEPENDENTES

Utilizadores DEPENDENTES

Há um propósito expresso, numa quantidade razoável de tempo, sem desconforto cognitivo ou

comportamental [32];

Quantidade excessiva de tempo dispensado online, com impacto negativo no utilizador, tanto a nível

físico como a nível psicológico [32];

Comunicação pessoal (e-mail) [23];

Indivíduo que perca o controlo sobre as suas ações e que gaste mais de 38 horas por semana no mundo

online [2];

Pesquisa de informação [23]. Aplicações interativas de comunicação instantânea:

redes sociais, jogos online [23];

Impulsividade. Fenómeno interdisciplinar [2].

•Deterioração do desempenho escolar, condução; Privação do contacto social e pensamentos sobre as redes sociais enquanto não as utiliza.

Factor 1 (Social Consequences)

•Uso excessivo das redes sociais, evitamento de tarefas escolares, irritabilidade, falta de sono devido ao uso das redes sociais.

Factor 2 (Time Displacement)

•Necessidade da utilização das redes sociais e os sentimentos que daí advêm.

Factor 3 (Compulsive Feeling)

(16)

[16]

4. Epidemiologia

Sabe-se que o número de utilizadores de Internet, por cada 100 pessoas, aumentou 806% de 2000 a 2015, tendo o telemóvel, sido o dispositivo mais usado para aceder à Internet, com 4,43 mil milhões de utilizadores, número estimado, a nível mundial, em 2015 [24].

Em 2010, a distribuição de utilizadores da Internet, a nível mundial, era a seguinte: 42% asiáticos; 24,2% europeus; 13,5% norte-americanos; 10,4% latino-americanos; 5,6% africanos; 3,2% Médio Oriente; 1,1% Austrália/ Oceânia [12].

Em Portugal, a Internet passou a ser utilizada por mais de metade da população portuguesa, em 2009. Segundo o INE, em 2014: 65% dos agregados familiares tinham acesso à Internet, sendo que, em famílias com crianças até aos 15 anos, o acesso superou a média nacional, aproximando-se dos 90%; dos 16 aos 24 anos, o acesso à Internet era de 98%. Para além disso, 70% dos jovens portugueses com mais de 15 anos, usam as redes sociais (superior à média europeia de 57%); 98% destes têm um perfil no Facebook, sendo representada na figura 5 a distribuição da atividade nesta rede social [25].

De acordo com o Inquérito de 2010 da EU Kids Online, realizado em 25 países europeus, jovens dos 11 aos 12 anos, sob a pressão do grupo de pares para estarem constantemente conectados, afirmam que [25]:

- Cerca de 40% realizou pelo menos uma atividade de risco na Internet;

- Quase ⅓ realizou oito ou mais atividades com um ou mais riscos encontrados;

85% 67% 50% 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Mensagens "Gostos", Comentários, Chat Álbuns fotográficos, Aniversários

Distribuição de Atividades no Facebook

Mensagens "Gostos", Comentários, Chat Álbuns fotográficos, Aniversários

(17)

[17]

- 54% tinha um perfil numa rede social, sendo que 1 em cada 3 elegeu o Facebook como a principal.

Segundo os resultados nacionais do inquérito do projeto Net Children Go Mobile (2014)

[30], que envolveu 501 crianças e jovens (dos 9 aos 16 anos), utilizadores da Internet,

verificou-se que:

- Tal como os entrevistados nos outros países europeus, as atividades mais populares são ouvir música (52%), ver videoclipes (50%), estar nas redes sociais (50%) e trocar mensagens instantâneas (47%), sendo que metade dos internautas portugueses entre os 9 e os 16 anos refere realizar estas atividades todos os dias; 19% dos entrevistados afirmou visitar salas de conversação;

- 3 em cada 4 crianças portuguesas (76%) refere ter um perfil numa rede social, sendo que em 2010 essa percentagem era de 59%, sendo o Facebook a rede elegida pelos internautas portugueses (97%), seguida do Instagram (19%);

- Verifica-se um salto abrupto da presença nas redes sociais dos 11 aos 12 anos, sendo que 80% destes referem ter um perfil numa rede social (dos 9 aos 10 anos, apenas 26% referem o mesmo); 77% dos rapazes (vs. 75% das raparigas) apresentam um perfil numa rede social;

- De realçar que, relativamente ao uso das redes sociais, 28% dos rapazes e 24% das raparigas, dos 9 aos 12 anos, afirmam estar nestas, apesar do uso interdito a estas ser, regra geral, a menores de 13 anos; ¾ dos menores de 13 anos reportou introduzir uma idade falsa no perfil;

- 44% dos entrevistados com perfil nas redes sociais reporta que o mantém privado, só disponível para os amigos; 33% dos rapazes dos 9-10 anos e 15% das raparigas na mesma faixa etária apresentam perfis públicos; ¼ dos entrevistados refere que existe uma maior exposição verbal de aspetos privados na Internet do que na comunicação face-a-face, sendo que a maior concordância surge entre as raparigas e entre adolescentes mais velhos; assim, a maioria prefere a comunicação face-a-face (ou por telefone) do que a comunicação via rede digital.

Ainda tendo em conta os resultados do referido inquérito, 78% das crianças e jovens entrevistados referem conseguir passar menos tempo na Internet se assim o desejarem, sendo que 1/5 refere sentir-se “algumas ou muitas vezes” aborrecido caso não possam estar na Internet. Ter ainda em conta que cerca de ⅓ menciona deixar de estar com a família e amigos ou de realizar tarefas escolares por estar online. No entanto, 88% responde que nunca ou quase nunca ficou sem comer ou dormir por causa da utilização

(18)

[18]

da Internet. O uso excessivo da Internet verificou-se principalmente na faixa etária dos 13 aos 14 anos [30].

Numa amostra representativa de adolescentes europeus (n = 18 709) com idade entre os 11 e os 16 anos, a prevalência de UPI foi de 1,4%, coincidente com as taxas relatadas por outros autores, que estimaram uma prevalência de UPI de 1,2% numa amostra representativa de jovens europeus (n = 13 284) com idade entre os 14 e os 17 anos. Num outro estudo, contudo, a prevalência de UPI foi de 4,4%, numa amostra representativa de adolescentes europeus (n = 11 956) com idade entre os 14 e os 16 anos [11].

Quadro 3 – Psicopatologia e Redes Sociais – Algumas percentagens.

Perturbação depressiva

[18] - Numa amostra de 1015 estudantes chineses, os adolescentes dependentes das redes sociais foram 3,27 vezes mais propensos

a estarem deprimidos; 61% de relação entre dependência da Internet e depressão e 45% de relação entre dependência das redes sociais e depressão, mediados por insónia;

- Estudantes universitários dependentes do Facebook tinham 1,31 vezes mais prevalência de insónia;

- Numa amostra de 874 estudantes, 53% da associação entre dependência das redes sociais digitais e humor deprimido foi mediada por perturbações do sono;

- Estudantes dependentes da Internet tinham 2,5 mais probabilidade de desenvolver depressão.

[29] - Comunicação online prediz mais depressão, ao longo de 6 meses, entre adolescentes de 12 e 15 anos. [21] - Relação estatisticamente significativa entre a dependência da Internet e a depressão;

- Relação causa-consequência desconhecida;

- Em ≈ < 2%, o uso excessivo da Internet como sinal de alerta para tendências depressivas.

[33] - Em 736 estudantes universitários, não foi encontrada uma relação direta significativa entre a frequência do uso do Facebook

e depressão. O uso do Facebook para “vigilância” pode diminuir a depressão quando não desencadeia sentimentos de inveja. Caso desencadeie, pode levar à depressão.

- O tamanho da rede de amigos dos utilizadores do Facebook não mostrou ter relevância. - O uso do Facebook só por si não leva diretamente à depressão.

[15] - Em estudantes universitários, não foi encontrada qualquer associação entre o uso de redes sociais e depressão.

[6] - Em 672 polacos, entre os 15 e os 75 anos, a depressão pode ser um preditor de “intrusão no Facebook”, bem como o tempo

(19)

[19]

Ansiedade Social

[17] - Em 338 australianos, dos 18-74 anos, a ansiedade social foi fortemente associada a maior incidência de UPI. Indivíduos com

maior ansiedade social afirmaram comunicar-se com mais pessoas online do que offline;

- Os mais jovens têm maior probabilidade de desenvolver UPI, por possível aumento da exposição à Internet numa fase precoce do desenvolvimento.

[29] - Adolescentes que gastavam a maior parte do tempo na comunicação online não eram mais socialmente ansiosos do que os

que gastavam menos tempo.

[26] - Correlação mediamente positiva entre ansiedade social e sentimentos de conforto online;

- Ansiedade social não foi correlacionada com o tempo total gasto online;

- Estudos sobre o uso das redes sociais ainda é limitado para estabelecer uma correlação entre estas e a ansiedade social; - Pequena correlação positiva entre UPI e ansiedade social - indivíduos socialmente ansiosos poderão ser mais vulneráveis ao

UPI;

- O conforto social online, o tempo despendido e o UPI apresentaram uma correlação mais forte com a ansiedade social com o aumento da idade.

- Em estudantes universitários, a ansiedade social foi positivamente relacionada com medidas de desinibição e redução da pressão social online; ansiedade social correlacionada positivamente com a auto-divulgação online e negativamente com a auto-divulgação offline – indivíduos socialmente ansiosos percebem a Internet como um meio social mais confortável; - Ansiedade social apresentou uma forte correlação negativa associada à autoestima em indivíduos que usam a Internet como

um substituto positivo das interações face-a-face;

- Ansiedade social associada a maior depressão em indivíduos que usam a Internet para evitar interações face-a-face; - Uso compensatório da Internet foi associado a maiores scores de depressão em indivíduos mais socialmente ansiosos, mas a

menores scores de depressão em indivíduos com menor ansiedade social;

- Ansiedade social associada a altos níveis de uso compensatório da Internet está associada a menor bem-estar do indivíduo.

Comportamentos Suicidários

[31] - Relações significativas entre o uso do Twitter relacionado ao suicídio e o comportamento suicida: jovens com tweets sobre

“querer morrer” são 3,2 vezes mais propensos a ideação suicida, 3,2 vezes mais propensos a ter um plano de suicídio e 2,1 vezes mais propensos a tentar o suicídio, comparativamente a jovens que não publicam tweets desse género; jovens com

tweets sobre “querer cometer suicídio” são 2 vezes mais propensos a comportamentos auto-lesivos, 2 vezes mais propensos

a ter um plano de suicídio e 3,5 vezes mais propensos a tentar o suicídio, comparativamente aos que não publicam tweets semelhantes; este tipo de tweets foi significativamente maior no sexo masculino; ter uma conta do Twitter e usá-la diariamente não foi associado, por si só, a comportamentos suicidários.

[19] - Prevalência de comportamentos auto-lesivos - 10,1%; Prevalência de dependência da Internet - 17,1%; 3,3% foram

expostos a pensamentos suicidas na Internet.

[10] - Ideação suicida no seguimento dos entrevistados foi semelhante à ideação basal (11% vs 12%, respetivamente), sendo

maior em indivíduos que reportaram a existência de ideação e desesperança inicialmente - jovens com perturbação psiquiátrica e dependentes da Internet estão mais propensos a procurarem informações relacionadas com o suicídio. - Correlações significativas entre UPI e ideação suicida - utilizadores dependentes de Internet têm risco 3 a 4 vezes superior

de ideação suicida comparativamente a utilizadores não dependentes;

- Correlação positiva entre jovens dos 15 aos 25 anos e o aumento de suicídios e comportamentos auto-lesivos em grupo; - Num estudo com estudantes em risco de suicídio: os que participavam em discussões online com terapeutas eram 3 vezes

(20)

[20]

5. O Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental dos Jovens

Apesar da preocupação com o impacto negativo da Internet sobre os jovens, sustentada por vários estudos que mostram que indivíduos dependentes da Internet apresentam várias perturbações psiquiátricas co-mórbidas [2], não devemos esquecer todos os efeitos

positivos que este elemento possui, ao permitir a aceitação, o alívio da solidão e da vergonha, e a criação de intimidade, fornecendo uma ponte para jovens vulneráveis, dando-lhes acesso instantâneo às redes sociais e fornecendo o anonimato para criar ou descartar identidades [9].

Contudo, a questão fulcral persiste: será a Internet um porto seguro ou, pelo contrário, um perigoso rochedo que faz naufragar cada vez mais jovens em perigosíssimos mares desconhecidos e repletos de ofertas virtuais amargas?

5.1. Fatores de Risco e Fatores Protetores

Segundo a investigadora britânica Sonia Livingstone, as oportunidades e os riscos vividos na rede dependem, sobretudo, dos contextos familiar, socioeconómico e nacional, o que acaba por conferir uma heterogeneidade às culturas da Internet. Os riscos acabam por fazer parte da experiência global e do próprio processo de crescimento individual. Segundo a pesquisa EU Kids online, nem todas as experiências de risco levam necessariamente a danos, podendo o enfrentar das mesmas ser uma forma de adquirir resiliência [25].

Os fatores de risco são variados. Seguidamente, poderemos ver alguns dos mais estudados.

Em primeiro lugar, o facto de a Internet ser um meio acessível e largamente não monitorizado, pode ser per si um importante fator de risco [9]. Assim, o início precoce de

acesso à Internet e sem supervisão parental constitui um verdadeiro desafio para o desenvolvimento da criança e para a relação com os pais [23], aumentando o risco de

(21)

[21]

A diferença verificada entre gerações no que toca ao uso da tecnologia (“fosso digital”)

[23], bem como a nomofobia (i.e., fobia de estar sem o telemóvel) [16], podem igualmente

propiciar o habitat ideal para se desenvolver UPI.

A adolescência, sendo uma fase de grande turbulência emocional, é também uma altura de maior suscetibilidade para iniciar comportamentos de risco, com maior probabilidade de este tipo de comportamentos se perpetuar na idade adulta, sendo aceite por alguns autores que o facto de existir um comportamento problemático pode reduzir o limiar de desenvolvimento de outros comportamentos problemáticos, sendo por isso plausível supor que os adolescentes com comportamentos de risco pré-existentes sejam mais suscetíveis de desenvolver UPI [11].

Adolescentes mais introvertidos, com menor autoestima e insatisfação com a aparência, e maior dificuldade de interação social, carentes socialmente, têm risco aumentado de desenvolver UPI, já que, como veremos posteriormente, as interações face-a-face despoletam ansiedade. Para além disso, estes usam a Internet para procurarem a aceitação e se embrenharem em relações pouco exigentes, que podem terminar tão depressa como começaram, que se desenvolvem sem filtros, sem necessidade de criar empatia ou compreensão pelos outros, e defendidas pelo anonimato [27].

Também a impulsividade, a baixa tolerância à frustração, a procura da novidade e a necessidade de gratificação imediata, aumentam o risco de UPI, bem como de uso problemático de substâncias ou comportamentos sexuais de risco [27].

Adolescentes com baixa ligação à escola ou com mais autocrítica e pessimismo em relação à mesma, apresentam um risco aumentado de UPI e de desenvolver relações desviantes e de risco [27].

Já a nível familiar, a sua disfunção, marcada por conflitos frequentes, má comunicação entre pais e filhos, falta de intimidade relacional ou estilos parentais menos adequados, permite a criação de um refúgio virtual, um escape na Internet, posição defendida pelos próprios educadores, que encaram a situação como segura, já que os seus filhos estão em casa, aparentemente calmos. Para além disso, pais que tendem a controlar o uso por retirada de afeto, ao invés da definição de regras e de monitorização, podem agravar a necessidade deste uso problemático, bem como pais que não permitem que os jovens tenham intimidade [27].

(22)

[22]

Quadro 4 - Perfis de Risco para desenvolver UPI.

Retirado de Patrão, I. Hubert, P.. (2016). Os comportamentos e as preferências online dos jovens portugueses: o jogo online e as redes sociais. In I. Patrão, D. Sampaio (Eds.), Dependências online: O poder das tecnologias (pp. 97-103). Portugal: Pactor.

Perfis de risco Rapazes Raparigas

Início de acesso à Internet sem controlo

parental 5-8 anos 5-8 anos

Acesso a dispositivos móveis (inclui nº de horas

na escola, espaços públicos, em casa) Facilitado Facilitado

Média diária de horas online 6 horas 6 horas

Preferência online Jogos online Redes Sociais

Consideram-se dependentes da Internet Sim Sim

Retenção escolar, pelo menos 1 ano Sim Sim

Prática de exercício físico Não Não

Meio urbano Sim Sim

Níveis superior UPI Sim Sim

Utilizam a Internet para lidar com problemas

emocionais Sim Sim

Alterações de humor, no sono, no bem-estar

psicológico e no funcionamento familiar Sim Sim

Quanto a fatores protetores, salientam-se sobretudo a ligação positiva à escola, a sensação de pertença, a crença nos professores, já que se percebeu que jovens com forte ligação à escola têm: menor probabilidade de criar relação com pares desviantes, maior autocontrolo e menor risco de desenvolver UPI ou outros comportamentos de risco [27].

Também a existência de um propósito na vida acompanhado do sentido de realização (“significado na vida”) e autoestima elevada parecem oferecer uma proteção substancial contra a dependência da Internet [35].

(23)

[23]

5.2. Sinais de Alerta

Quando as atividades online ocupam a maior parte da vida do jovem, ocorre uma queda funcional [23]. Existem vários sinais de alerta a ter em conta:

- Estreitamento do campo de interesses, ou seja, o jovem encontra-se cada vez menos interessado em atividades / hobbies que antes considerava estimulantes, com consequente isolamento social [27];

- Alterações do comportamento, tais como apatia, tristeza, desinteresse, irritabilidade [27];

- Privação de sono e alteração dos ritmos circadianos, apresentando, durante o dia, cansaço, sonolência, irritabilidade, dificuldades de concentração, diminuição do rendimento escolar e aumento potencial da taxa de retenções; ganho ou perda de peso evidentes; inatividade física decorrente de passar muitas horas online; e em casos extremos, perda de cuidados com o próprio (higiene, alimentação) ou mesmo agressividade dirigida aos pais ou cuidadores quando impedidos de utilizar o computador ou a Internet [27], [23];

- Uso da Internet para alterar a identidade, que vai para lá da simples criação de um “eu” virtual, alter ego da vida real [8];

- Gastos de dinheiro em atividades online considerados excessivos [27].

Estudos realizados com populações de adolescentes e universitários correlacionam, de forma consistente, o UPI com pior rendimento académico e isolamento social. Contudo, como em todos os estudos de correlação, não se pode estabelecer causalidade, havendo casos em que a utilização da Internet pode, de facto, interferir com o rendimento académico, mas existindo outros nos quais haja outro desencadeante a quebrar o funcionamento do indivíduo, o que faz com que este se refugie na Internet, como forma de lidar com o problema [27].

O uso problemático ou os padrões de utilização de risco podem ser detetados a priori dentro do agregado familiar, devendo haver uma promoção, por parte dos cuidadores/ educadores, de uma atitude com as linhas orientadoras da compreensão, da negociação e da firmeza (sem rigidez). Quando se detetar a presença de sinais de alarme ou de quebra do funcionamento, deve ser considerado um pedido de observação por um psicólogo ou psiquiatra [27].

(24)

[24]

5.3. Psicopatologia e Redes sociais

5.3.1. Caracterização da População Dependente das Redes Sociais

Em termos de idade, os estudos são consensuais, indicando que os indivíduos mais jovens são mais propensos a desenvolver dependência da Internet, já que se encontram mais envolvidos nas redes sociais, havendo uma perceção diferente quanto à extensão da dependência, de geração para geração [16]. Assim sendo, os adolescentes são mais

vulneráveis a desenvolver UPI, visto que têm uma menor capacidade de controlar o seu entusiasmo relativamente a algo que desperta os seus interesses [1] e que lhes concede,

muitas vezes, um escape do mundo real.

Estes jovens que preferem a interação social online, em prol da interação face-a-face, tendem a ter maiores níveis de isolamento e ansiedade social, depressão e poucas competências sociais, podendo a baixa autoestima ser um aspeto central. Também características de personalidade como o neuroticismo (i.e., propensão para expressar mais sentimentos negativos e maior vulnerabilidade ao stress) e a extroversão (i.e., tendência para a estimulação e para estar em contacto com os outros) estão mais relacionadas com a dependência das redes sociais [23], [16].

De facto, um estudo realizado recentemente em Portugal, com adolescentes e jovens adultos, revelou que, para ambos os sexos, o UPI era mais frequente quando havia queixas de depressão, problemas de sono, ansiedade, stress e isolamento social, verificando-se que a dependência da Internet se encontrava relacionada com problemas emocionais em ambos os sexos, não parecendo afetar tão frequentemente a capacidade de formar e manter relacionamentos satisfatórios nos rapazes e nos homens jovens como afeta no género oposto. Percebeu-se ainda que a dependência da Internet é mais frequente no subgrupo feminino sem relacionamentos, devendo-se os problemas relacionais, mais frequentes nas raparigas com maior dependência da Internet, a uma dependência de interações sociais em geral. Para ambos os sexos, a sensação de isolamento social tendia a ser maior com a severidade da dependência da Internet, independentemente de se ter ou não ter um relacionamento amoroso e da qualidade percebida das relações familiares, o que não seria expectável [8].

Apesar de tudo, parece haver alguns autores que apoiam a hipótese de que os rapazes estão em maior risco de desenvolver UPI devido à maior tendência para passar mais tempo na Internet, com maior incapacidade de corrigir o uso e com maior negligência das

(25)

[25]

atividades diárias [23]. Alguns estudos, demonstram, inclusivamente, que adolescentes

solteiros do sexo masculino têm maior tendência a recorrerem à Internet com maior risco de dependência [2]. No entanto, mais uma vez, outros autores não encontram uma

associação estatisticamente significativa entre o estado civil e a dependência da Internet.

Steers et al. justificam que indivíduos do sexo masculino se encontram significativamente

mais propensos ao uso das redes sociais para estabelecer relações amorosas, do que as mulheres, sugerindo que o desenvolvimento de depressão nestes pode resultar de sentimentos de inadequação associados à competitividade.

Apresentam-se na figura 6, as motivações que podem explicar o componente aditivo do uso da Internet [16], [23].

Figura 6 - Motivações do Uso (Excessivo) da Internet, por género.

No entanto, alguns estudos não verificaram qualquer relação entre género e dependência da Internet, o que pode ser explicado pelas diferenças interculturais [2], que poderão

justificar o porquê de o UPI será tendencialmente uma perturbação de sociedades com acesso à Internet. De facto, entre os países desenvolvidos, existem diferenças explicáveis pelos fatores culturais. O continente Asiático, como referido anteriormente, é o líder na percentagem da população global online, local onde se começaram a descrever os primeiros casos de UPI, na década de 80; tal pode ser explicado pelas elevadas taxas de ansiedade, depressão e problemas comportamentais causados pelas pressões das expectativas e aspirações parentais num só filho (China e a sua política de filho único). O padrão comportamental dos pais de adolescentes com dependência da Internet tende a ser mais punitivo, crítico e menos emocional. Já em países com maiores taxas de criminalidade (Brasil, México), a utilização da Internet poderá ser desvalorizada como problema pelos pais, e até mesmo incentivada, como forma de manter os jovens em casa, livres dos riscos na rua [27].

Sexo Feminino

•Comunicação

•Interação social direta com os pares •Entendimento dos próprios problemas

Sexo masculino

•Experimentar gratificação narcisista (jogos)

(26)

[26]

Quadro 5 - Dados na literatura sobre a Caracterização da População Dependente das Redes Sociais.

IDADE

[32]  Estudo comparativo:

- 50 adolescentes (13 - 19 anos) vs. 50 adultos (> 60 anos);

- Adolescentes passam mais horas nas redes sociais, comparativamente aos adultos.

CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE [16]  Estudo transversal (2014):

- 920 estudantes chineses do ensino secundário;

- Instabilidade emocional e extroversão como fatores preditivos de dependência das redes sociais.

[16]  Modelo de Regressão Linear Múltipla e Hierárquica (2014):

- 1 000 indivíduos belgas;

- 6,5% - Uso compulsivo das redes sociais, com baixos scores de estabilidade emocional, consciência, perceção de controlo e autoestima e altos scores de solidão e sintomas depressivos.

GÉNERO

[32]  Estudo Prospetivo (2009):

- 233 estudantes universitários, 149 do sexo feminino, dos 17 aos 24 anos ( = 19.22 anos); - Raparigas usam redes sociais pelo menos 4 vezes por dia.

[16]  Estudo transversal (2014):

- Amostra representativa alemã;

- Dependência da Internet mais prevalente no sexo feminino, dos 14 aos 16 anos;  Outros estudos sem qualquer relação entre género e dependência da Internet.

[2]  Estudo transversal (2011):

- Sexo masculino usa Internet mais frequentemente - risco de dependência 3 vezes superior comparativamente ao sexo feminino;  Outros estudos – sem nenhuma relação entre o género e a dependência da Internet.

[1]  Estudo randomizado (2012):

- 250 estudantes universitários iranianos, dos 20 aos 30 anos, que utilizaram a Internet, pelo menos, uma vez por mês, nos últimos 6 meses; - 61,7% do sexo masculino;

- 15% dos utilizadores foi considerado dependente da Internet.

[11]  Europa:

- Taxas de prevalência de UPI significativamente maiores nos indivíduos do sexo masculino, aumentando com a idade, diferindo nos diferentes países, e estando associadas a diversas perturbações psiquiátricas.

(27)

[27]

Dependência

online

Género Feminino Adolescentes Solteiros Depressão, Perturbações do sono, Stress Ansiedade e isolamento Social Neuroticismo Extroversão Problemas emocionais, Baixa auto-estima Acesso facilitado à Internet

(28)

[28]

5.3.2. Quadro Clínico e Mecanismos de Nocividade

Como vimos, os adolescentes são o principal grupo de risco para desenvolver comportamentos aditivos, como a dependência da Internet, o que pode ser explicado pelo facto de a adolescência traduzir um momento crucial do processo de desenvolvimento cognitivo, emocional e de identidade, no qual ocorre a seleção de vias cerebrais no córtex pré-frontal, responsável pelo desenvolvimento dos processos associados ao pensamento abstrato, pela capacidade de planear antecipadamente, pela autorreflexão e pela introspeção, que permitem a tomada de decisões ponderadas, a relativização dos problemas e a aprendizagem social. Porém, determinadas estratégias cognitivas parecem ser adquiridas numa fase mais tardia, o que justifica a dificuldade de um adolescente em aceitar perspetivas exteriores e em controlar a tomada de decisões de caráter impulsivo. Assim, esta é uma fase na qual se gera um conflito entre autonomia e dependência, mediada pelo desenvolvimento de maturidade, pautada pela dificuldade em adiar a recompensa, o que torna os efeitos negativos da Internet mais expressivos e relevantes nesta faixa etária, com consequências biopsicológicas importantes, tais como [27]:

- Declínio do funcionamento socio-ocupacional; - Negligência de necessidades básicas.

O uso problemático da Internet, como referido anteriormente, pode ser visto como uma dependência comportamental, podendo ser avaliado por um questionário desenvolvido com base nos critérios de diagnóstico do jogo patológico (Questionário Diagnóstico para Dependência da Internet). Assim, o diagnóstico baseia-se num padrão de uso da Internet, nos últimos seis meses, resultando numa deficiência clínica ou angústia, de acordo com os seguintes critérios [12]:

1. Preocupação com a Internet;

2. Necessidade de mais tempo online para obter satisfação;

3. Esforços repetidos frustrados para controlar, reduzir ou parar o uso da Internet; 4. Inquietação, mau humor, depressão, irritabilidade, ao tentar reduzir ou

interromper o uso da Internet;

5. Ficar online mais do que o pretendido;

6. Comprometer ou arriscar a perda de uma relação significativa, trabalho ou oportunidade educacional / laboral, por causa da Internet;

(29)

[29]

7. Mentir para familiares, terapeutas ou outros, para esconder a extensão do envolvimento com a Internet;

8. Usar a Internet como escape de problemas ou alívio de um humor disfórico. Um questionário com pontuação: entre três e quatro equivale a risco de dependência; maior ou igual a cinco equivale a utilizadores patológicos da Internet [12].

Como facilmente é deduzido, o uso excessivo das redes sociais, pode levar ao comprometimento funcional significativo do indivíduo, e a sintomas típicos de dependência, como nos mostra o modelo de componentes da dependência da Internet

[32], [16], [27]:

1. Saliência (uso das redes sociais como a atividade mais importante);

2. Alterações de humor (uso das redes sociais para induzir sentimentos de prazer); 3. Tolerância (necessidade de aumentar o tempo de uso das redes sociais para obter

o mesmo efeito);

4. Abstinência (interrupção do uso das redes sociais culmina em sintomas psicológicos e fisiológicos negativos, tais como frustração, sentimento de perda, irritação, agressividade e violência);

5. Recaída (reintegração do comportamento dependente, após abstinência);

6. Conflitos interiores e interpessoais (surgem em detrimento da dependência, tais como a perda subjetiva de controlo, problemas de relações pessoais e laborais/ académicas).

Mas, afinal, o que torna as redes sociais tão apelativas?

Segundo a teoria da hierarquia de necessidade de Maslow, as redes sociais atendem a quatro necessidades humanas básicas [16]:

- Segurança, necessidade atendida por redes sociais passíveis de personalizar quanto à privacidade;

- Associação, necessidade cumprida através da conexão estabelecida nas redes sociais, entre “amigos” e desconhecidos com interesses em comum;

- Estimação, através da obtenção de likes e criação de novas “amizades”;

- Autorrealização, já que utilizadores podem apresentar-se como querem e desejam. A tentativa de suprimir emoções negativas e de aliviar o sofrimento psíquico, gerados por problemas do quotidiano, difíceis de enfrentar, pode levar as pessoas a refugiarem-se nas redes sociais, obtendo uma autossatisfação imediata que estimula o seu uso contínuo e crescente, com a consequente negligência dos relacionamentos offline. Tal pode culminar

(30)

[30]

em isolamento social e, eventualmente, em situações mais graves, como a perturbação depressiva que, por sua vez, vão aumentar a necessidade de recorrer ao “escape” online, entrando num ciclo vicioso, no qual o adiamento da resolução dos problemas de base gera novos problemas [27], [16].

Segundo uma teoria baseada na seleção natural, existem processos bioquímicos que fazem um indivíduo sentir-se satisfeito quando tem contactos sociais desejados, numa interação face-a-face, já que o ser humano sempre sobreviveu melhor em grupo. Assim, ao estabelecer relações meramente virtuais, as emoções despoletadas não satisfazem as necessidades naturais ligadas à sobrevivência e ao contacto íntimo, por serem formas inadequadas de lidar com os problemas, pelo que o organismo permanece carente da informação sensorial e emocional que lhe permite sentir-se acompanhado. Tal leva a uma procura online contínua de companhia que requer pouco esforço, na qual o que é verdadeiramente procurado nunca é encontrado. Esta teoria pode explicar porque é que a sensação de isolamento social é tão frequente em pessoas dependentes da Internet, mesmo quando têm relações offline positivas [8].

Um dos modelos mais aceites para explicar o UPI é o modelo

cognitivo-comportamental de Davis: o uso excessivo das redes sociais é consequência de

cognições (pensamentos e crenças) desadaptadas, exacerbado por problemas externos [16];

estas cognições, muitas vezes automáticas e inconscientes, incluem pensamentos sobre o próprio e sobre o mundo – insegurança, baixa autoeficácia e autoavaliação negativa, tendo o adolescente uma conceção negativa de si mesmo, recorrendo à Internet para obter uma interação social positiva, com a crença de que os relacionamentos no mundo virtual são mais seguros, eficazes e confortáveis [27]. Por um mecanismo de feedback negativo, após

o estabelecimento do UPI, este é mantido, sendo as tentativas de reduzir o uso da Internet responsáveis pelo aparecimento de respostas fisiológicas stressantes [17].

Outro modelo para contextualizar o desenvolvimento do UPI, enquanto comportamento de dependência, define que estímulos agradáveis são tendencialmente procurados de uma forma repetida, desencadeando uma sensibilização do cérebro a partir dos mecanismos motivacionais de recompensa, tornando-se o seu uso compulsivo [27].

De acordo com o modelo sociocognitivo, o uso excessivo das redes sociais é consequência das expectativas de resultados positivos, autoeficácia e autorregulação limitada da Internet [16].

Segundo o modelo de habilidade social, o uso excessivo das redes sociais é consequência da preferência por habilidades de autoapresentação e interação social

(31)

[31]

online, ao invés de face-a-face [16]. De facto, redes sociais que têm como foco principal a

autoapresentação, aliados à competição e às comparações das suas próprias realizações com as de outros, podem, no mínimo, promover comportamentos narcisistas e de ciúme. Por outro lado, indivíduos com baixa autoestima têm maior atividade online, principalmente com conteúdo de destaque autopromocional nos seus perfis [22].

Também segundo a teoria de usos e gratificações, utilizadores de redes sociais, como o Facebook ou o Instagram, parecem experimentar sentimentos de gratificação, ao partilharem fotografias e ao terem a oportunidade de explorar novas identidades, teoria apoiada pela menor probabilidade de dependência de redes como o Twitter [16].

O elevado envolvimento nas redes sociais pode também dever-se ao “medo de perder”, componente da insegurança relacional, marcada por “uma apreensão generalizada de que os outros possam ter experiências gratificantes das quais o indivíduo possa estar ausente”, podendo este ser um fator preditivo das consequências negativas da dependência das redes sociais, mediando ainda a relação entre o uso elevado das redes sociais e a diminuição da autoestima [16].

(32)

[32]

5.3.3. Diagnósticos

5.3.3.1. Causa ou Consequência?

A massificação do uso da Internet, a sua grande disponibilidade e a forma como transformou a vida em sociedade, são fatores que têm feito questionar se, em alguns casos, o uso da Internet pode ser considerado patológico, tornando-se fulcral compreender se esta atividade cria condições para novas formas de patologia psiquiátrica ou se apenas fornece um meio para a patologia psiquiátrica, previamente estabelecida, se expressar [27].

Durante a última década, as redes sociais têm alterado a forma como as pessoas comunicam e interagem, embora ainda seja pouco clara a forma como essas alterações podem culminar em perturbações psiquiátricas [22].

Uma das interações estudadas é a relação co mórbida entre UPI e outras dependências. Os adolescentes com UPI parecem ter maior vulnerabilidade ao uso problemático do álcool e de drogas, especulando-se que a co-morbilidade possa resultar da partilha de mecanismos etiológicos (causais), como fatores de personalidade, características familiares disfuncionais, ou de mecanismos desadaptativos de autorregulação. Existem alguns autores que chegam a argumentar que o UPI representa meramente um meio de alimentação de outros comportamentos de dependência pré-existentes. Também há quem contraponha esta afirmação, defendendo que a dependência existe por si só, envolvendo uma interação excessiva e descontrolada com os meios tecnológicos e uma perda da capacidade de funcionar normalmente em sociedade [27].

De facto, verificou-se que a dependência da Internet se encontrava associada a sintomas de perturbação obsessiva-compulsiva e da perturbação de hiperatividade com défice de atenção, bem como de perturbação depressiva, especialmente no sexo feminino; quanto à dependência entre o sexo masculino, esta encontra-se mais associada a comportamentos agressivos [2].

Assim, as conclusões sobre o impacto do UPI na saúde mental ainda não são claras, embora se concorde que o estado de saúde, em geral, dos indivíduos dependentes se encontra em maior risco do que a dos utilizadores não-dependentes [2].

(33)

[33]

5.3.3.2. Perturbação Depressiva

A excitação fisiológica e a ativação de vias apetitivas em resposta às redes sociais assemelham-se àquelas observadas noutros tipos de dependência comportamental. A regulação emocional refere-se a tentativas de alterar experiências emocionais (principalmente negativas) por meio da iniciação, manutenção ou modificação de frequência, intensidade ou duração dessas experiências. Acredita-se que dificuldades com a regulação emocional sejam fatores de risco para a dependência. Assim, tem sido hipotetizado que a evicção experiencial atua como um mecanismo central no desenvolvimento e manutenção de dependências, sugerindo-se que o uso da Internet possa servir como uma forma de escapar da realidade e lidar com o stress, a depressão e a preocupação. Assim, supõe-se que o uso de redes sociais distrai de pensamentos ou sentimentos negativos e ajuda a diminuir a sensação de solidão, tristeza ou ansiedade [14].

A natureza do uso de redes sociais digitais parece ser mais importante na influência de sintomas depressivos e vice-versa do que a frequência ou duração do uso, isoladamente. Há autores que concluíram que é a qualidade das experiências nas redes sociais (i.e., se uma pessoa percebe se as suas interações online são positivas ou negativas), e não a frequência do uso das redes sociais, que prediz os outcomes negativos na saúde mental. Alternativamente, outros estudos sugerem que a depressão pode ser resultado do envolvimento em atividades online específicas[5].

Contudo, se, por um lado, o uso da Internet e das redes sociais expande as possibilidades de contacto entre amigos e conhecidos, aumentando sentimentos de autoestima e bem-estar, por outro, este uso pode ser visto como um desviante do tempo dispensado às atividades sociais em prol das atividades online, podendo intervir no desenvolvimento e manutenção de relações sociais, o que serve de base para estudos que mostraram que o uso da Internet estava associado a uma maior incidência de depressão em adolescentes

[29].

A Internet pode ser usada com dois fins: comunicacionais e não-comunicacionais. Segundo alguns autores, o envio direto de mensagens instantâneas, muitas vezes através das redes sociais (fim comunicacional), torna a comunicação online como um excelente meio para os adolescentes “treinarem” as suas habilidades sociais. Algumas pesquisas sugerem que, com o aumento da individualização e separação física entre os indivíduos e a sua família/ colegas, a comunicação online oferece uma ótima oportunidade de

(34)

[34]

interação, quando o contacto real é impossibilitado, estando por isso associada a menos depressão e ansiedade social. Contudo, navegar na Internet (fim não-comunicacional) foi fortemente relacionado com a dependência da Internet, que parece levar a um ciclo negativo vicioso, no qual os indivíduos recebem gratificação a curto prazo, mas cujas recompensas a longo prazo não parecem ser satisfatórias, não aumentando a gratificação, podendo levar a sentimentos depressivos e a ansiedade social, como veremos mais à frente [29].

Num estudo longitudinal (2009), percebeu-se que o contexto social modifica os efeitos do uso da Internet na internalização dos problemas, podendo fazer referência a um efeito

poor get poorer, ou seja, adolescentes com amizades de baixa qualidade que passam mais

tempo em atividades online não-comunicacionais são mais suscetíveis de desenvolver mais problemas de internalização (depressão e ansiedade social); no entanto, não se verificou um efeito rich get richer, ou seja, a navegação e comunicação online parecem não ter quaisquer efeitos na internalização de problemas em adolescentes com amizades de alta qualidade. Além disso, em adolescentes com amizades de baixa qualidade que passam mais tempo em comunicação online, parece haver menor desenvolvimento de depressão, talvez pelo aumento de oportunidades para obter (ou ter essa perceção) apoio social, fortalecendo as suas habilidades sociais, apesar de não haver redução do medo de situações sociais offline [29].

Já em 1998, Kraut defendia que um elevado tempo de utilização da Internet poderia levar a perturbação depressiva e diminuição no envolvimento social que, por sua vez, levaria a uma privação do entretenimento, culminando em isolamento social e diminuição do bem-estar psicológico [32].

A Academia Americana de Pediatria, em 2011, definiu o fenómeno “depressão do Facebook” como um acontecimento desenvolvido em pré-adolescentes e adolescentes que passam muito tempo em redes sociais, como o Facebook, que começam a manifestar os sintomas clássicos de depressão, alertando-se para os riscos de isolamento social e exposição de risco em interações online [5]. Por se pensar que redes sociais, como o

Facebook, possam ser um dos fatores que influenciam o desenvolvimento de sintomas depressivos, assume-se que determinadas características do comportamento online possam ser preditivas na identificação e avaliação da perturbação depressiva, por exemplo, através de publicações ou partilhas de factos associados à perturbação depressiva, como sugerido por estudos recentes [22].

(35)

[35]

Recentemente, a comparação social e a inveja foram sugeridas como fatores relevantes na associação entre o uso das redes sociais, como o Facebook, e a depressão.

Segundo a teoria da classificação social, os seres humanos competem por variados recursos, não tanto no sentido de dominação, mas de controlo social sobre os recursos que os outros também necessitam. Assim, a competição social pode referir-se à competição por poder ou atratividade, sendo que, aqueles que não têm sucesso (ou com essa perceção), se sentem subordinados, não sendo necessariamente indivíduos deprimidos, mas sim vulneráveis à depressão. Esta teoria pode ser aplicada aos jovens, já que se encontram numa fase em que são significativamente afetados pelo seu status, colocando uma maior importância na popularidade, do que noutros fatores sociais. Se, por um lado o Facebook é elaborado com base na autoapresentação positiva, por outro, há uma exposição ao que os outros partilham, desenvolvendo-se perceções sobre a atratividade social de outros utilizadores, com a possibilidade de os utilizadores perceberem a sua atratividade social como inferior comparativamente à de outros utilizadores, sentindo-se subordinados e superados (inveja), o que pode culminar em depressão [33].

Também importa referir o termo “intrusão no Facebook”, referente ao envolvimento profundo e excessivo no Facebook e à sua intrusão na vida quotidiana, com a perturbação das atividades diárias e das relações interpessoais, podendo estar associado à insatisfação com os relacionamentos. O potencial das redes sociais em induzir e agravar o humor distímico pode ser explicado pelo facto de que, tais comportamentos online, podem levar a falsas conclusões sobre as qualidades físicas, sociais e morais, de outros utilizadores, o que pode levar um utilizador a comparar-se constantemente com outros que possam estar a apresentar informações distorcidas nos seus perfis, culminando em baixa autoestima e, consequentemente, em aumento dos níveis de depressão, mesmo em indivíduos mentalmente saudáveis. Atividades como a publicação de selfies, foram associadas a maior narcisismo e depressão [6].

Existem estudos que abordam o conceito de erro de previsão afetivo, ou seja, o facto de prever erradamente os próprios sentimentos e pensamentos pode ser um erro com consequências drásticas, o que pode explicar o facto de os utilizadores usarem as redes sociais, apesar do impacto negativo destas no seu humor. Ou seja, a consequência comportamental do erro de previsão implica um estado emocional de intensidade e qualidade diferentes das esperadas. Assim, os utilizadores do Facebook podem interpretar

(36)

[36]

erradamente o uso da rede social para obter efeitos positivos, o que os impede de reduzir a quantidade de tempo gasto na rede, diminuindo a sua felicidade [28].

Imagem

Figura 3 - Escalada no uso da Internet.  [23]
Figura 4 - Escala de Dependência das Redes Sociais - Fatores a ter em conta.
Figura 7 - Caracterização Geral da População Dependente das Redes Sociais.
Figura 8 - Espetro de cognições e comportamentos suicidários  [13] .

Referências

Documentos relacionados

Além disso, buscamos observar como a relação de proximidade estabelecida pela empresa com seu público alvo por meio das redes sociais da Internet é positiva para que

devidamente assinadas, não sendo aceito, em hipótese alguma, inscrições após o Congresso Técnico; b) os atestados médicos dos alunos participantes; c) uma lista geral

Resumo: A fim de ultrapassarmos os conhecimentos até então restritos à articulação de orações e com o objetivo de conhecer a estrutura retórica das construções de por exemplo,

Após Estocolmo, importantes convenções são dadas à estampa, ratificadas por um crescente número de países, como por exemplo: Convenção para a preservação da poluição marinha

Esse trabalho tem por objetivo apresentar um mapeamento das teses e dissertações que englobam o tema Building Information Modeling (BIM), assim como exibir,

interagem com a aplicação: à medida que se aproxima de um beacon, o visitante recebe informação detalhada no seu smartphone sobre esse ponto específico da exposição, para

Figure 6 is reproduced from Goessling and Reick (2011) and represents schematically the three major mechanisms by which evapotranspiration (and its changes due to land cover