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CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE [16]  Estudo transversal (2014):

5.3.2. Quadro Clínico e Mecanismos de Nocividade

5.3.3.2. Perturbação Depressiva

A excitação fisiológica e a ativação de vias apetitivas em resposta às redes sociais assemelham-se àquelas observadas noutros tipos de dependência comportamental. A regulação emocional refere-se a tentativas de alterar experiências emocionais (principalmente negativas) por meio da iniciação, manutenção ou modificação de frequência, intensidade ou duração dessas experiências. Acredita-se que dificuldades com a regulação emocional sejam fatores de risco para a dependência. Assim, tem sido hipotetizado que a evicção experiencial atua como um mecanismo central no desenvolvimento e manutenção de dependências, sugerindo-se que o uso da Internet possa servir como uma forma de escapar da realidade e lidar com o stress, a depressão e a preocupação. Assim, supõe-se que o uso de redes sociais distrai de pensamentos ou sentimentos negativos e ajuda a diminuir a sensação de solidão, tristeza ou ansiedade [14].

A natureza do uso de redes sociais digitais parece ser mais importante na influência de sintomas depressivos e vice-versa do que a frequência ou duração do uso, isoladamente. Há autores que concluíram que é a qualidade das experiências nas redes sociais (i.e., se uma pessoa percebe se as suas interações online são positivas ou negativas), e não a frequência do uso das redes sociais, que prediz os outcomes negativos na saúde mental. Alternativamente, outros estudos sugerem que a depressão pode ser resultado do envolvimento em atividades online específicas[5].

Contudo, se, por um lado, o uso da Internet e das redes sociais expande as possibilidades de contacto entre amigos e conhecidos, aumentando sentimentos de autoestima e bem- estar, por outro, este uso pode ser visto como um desviante do tempo dispensado às atividades sociais em prol das atividades online, podendo intervir no desenvolvimento e manutenção de relações sociais, o que serve de base para estudos que mostraram que o uso da Internet estava associado a uma maior incidência de depressão em adolescentes

[29].

A Internet pode ser usada com dois fins: comunicacionais e não-comunicacionais. Segundo alguns autores, o envio direto de mensagens instantâneas, muitas vezes através das redes sociais (fim comunicacional), torna a comunicação online como um excelente meio para os adolescentes “treinarem” as suas habilidades sociais. Algumas pesquisas sugerem que, com o aumento da individualização e separação física entre os indivíduos e a sua família/ colegas, a comunicação online oferece uma ótima oportunidade de

[34]

interação, quando o contacto real é impossibilitado, estando por isso associada a menos depressão e ansiedade social. Contudo, navegar na Internet (fim não-comunicacional) foi fortemente relacionado com a dependência da Internet, que parece levar a um ciclo negativo vicioso, no qual os indivíduos recebem gratificação a curto prazo, mas cujas recompensas a longo prazo não parecem ser satisfatórias, não aumentando a gratificação, podendo levar a sentimentos depressivos e a ansiedade social, como veremos mais à frente [29].

Num estudo longitudinal (2009), percebeu-se que o contexto social modifica os efeitos do uso da Internet na internalização dos problemas, podendo fazer referência a um efeito

poor get poorer, ou seja, adolescentes com amizades de baixa qualidade que passam mais

tempo em atividades online não-comunicacionais são mais suscetíveis de desenvolver mais problemas de internalização (depressão e ansiedade social); no entanto, não se verificou um efeito rich get richer, ou seja, a navegação e comunicação online parecem não ter quaisquer efeitos na internalização de problemas em adolescentes com amizades de alta qualidade. Além disso, em adolescentes com amizades de baixa qualidade que passam mais tempo em comunicação online, parece haver menor desenvolvimento de depressão, talvez pelo aumento de oportunidades para obter (ou ter essa perceção) apoio social, fortalecendo as suas habilidades sociais, apesar de não haver redução do medo de situações sociais offline [29].

Já em 1998, Kraut defendia que um elevado tempo de utilização da Internet poderia levar a perturbação depressiva e diminuição no envolvimento social que, por sua vez, levaria a uma privação do entretenimento, culminando em isolamento social e diminuição do bem- estar psicológico [32].

A Academia Americana de Pediatria, em 2011, definiu o fenómeno “depressão do Facebook” como um acontecimento desenvolvido em pré-adolescentes e adolescentes que passam muito tempo em redes sociais, como o Facebook, que começam a manifestar os sintomas clássicos de depressão, alertando-se para os riscos de isolamento social e exposição de risco em interações online [5]. Por se pensar que redes sociais, como o

Facebook, possam ser um dos fatores que influenciam o desenvolvimento de sintomas depressivos, assume-se que determinadas características do comportamento online possam ser preditivas na identificação e avaliação da perturbação depressiva, por exemplo, através de publicações ou partilhas de factos associados à perturbação depressiva, como sugerido por estudos recentes [22].

[35]

Recentemente, a comparação social e a inveja foram sugeridas como fatores relevantes na associação entre o uso das redes sociais, como o Facebook, e a depressão.

Segundo a teoria da classificação social, os seres humanos competem por variados recursos, não tanto no sentido de dominação, mas de controlo social sobre os recursos que os outros também necessitam. Assim, a competição social pode referir-se à competição por poder ou atratividade, sendo que, aqueles que não têm sucesso (ou com essa perceção), se sentem subordinados, não sendo necessariamente indivíduos deprimidos, mas sim vulneráveis à depressão. Esta teoria pode ser aplicada aos jovens, já que se encontram numa fase em que são significativamente afetados pelo seu status, colocando uma maior importância na popularidade, do que noutros fatores sociais. Se, por um lado o Facebook é elaborado com base na autoapresentação positiva, por outro, há uma exposição ao que os outros partilham, desenvolvendo-se perceções sobre a atratividade social de outros utilizadores, com a possibilidade de os utilizadores perceberem a sua atratividade social como inferior comparativamente à de outros utilizadores, sentindo-se subordinados e superados (inveja), o que pode culminar em depressão [33].

Também importa referir o termo “intrusão no Facebook”, referente ao envolvimento profundo e excessivo no Facebook e à sua intrusão na vida quotidiana, com a perturbação das atividades diárias e das relações interpessoais, podendo estar associado à insatisfação com os relacionamentos. O potencial das redes sociais em induzir e agravar o humor distímico pode ser explicado pelo facto de que, tais comportamentos online, podem levar a falsas conclusões sobre as qualidades físicas, sociais e morais, de outros utilizadores, o que pode levar um utilizador a comparar-se constantemente com outros que possam estar a apresentar informações distorcidas nos seus perfis, culminando em baixa autoestima e, consequentemente, em aumento dos níveis de depressão, mesmo em indivíduos mentalmente saudáveis. Atividades como a publicação de selfies, foram associadas a maior narcisismo e depressão [6].

Existem estudos que abordam o conceito de erro de previsão afetivo, ou seja, o facto de prever erradamente os próprios sentimentos e pensamentos pode ser um erro com consequências drásticas, o que pode explicar o facto de os utilizadores usarem as redes sociais, apesar do impacto negativo destas no seu humor. Ou seja, a consequência comportamental do erro de previsão implica um estado emocional de intensidade e qualidade diferentes das esperadas. Assim, os utilizadores do Facebook podem interpretar

[36]

erradamente o uso da rede social para obter efeitos positivos, o que os impede de reduzir a quantidade de tempo gasto na rede, diminuindo a sua felicidade [28].

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Quadro 6 - Dados na Literatura sobre Perturbação Depressiva & Dependência da Internet/das Redes Sociais.

[18]  Estudo transversal (2017):

- 1 015 estudantes chineses; 44% do 7º, 39,3% do 8º, 16,7% do 9º anos; 58,8% do sexo masculino; 32,2% relataram altos níveis de pressão académica; 60,4% têm smartphone; - Elevada prevalência de depressão;

- Adolescentes dependentes das redes sociais digitais foram 3,27 vezes mais propensos a estarem deprimidos, comparativamente aos não dependentes;

- Dependência da Internet e das redes sociais têm efeitos independentes sobre a depressão: efeito da dependência das redes sociais digitais superior ao da dependência da Internet. - 61% da relação entre dependência da Internet e depressão, e 45% da relação entre dependência das redes sociais digitais e depressão, foram mediados por insónia - UPI entre

adolescentes, em particular dependência das redes sociais digitais, poderá aumentar o risco de desenvolver insónia, o que, por sua vez, aumentará a vulnerabilidade à depressão.  Outros estudos referidos:

- Estudo longitudinal (2010):  Duração de 9 meses;

 Estudantes com dependência da Internet no início do estudo tinham 2,5 vezes mais probabilidade de desenvolver depressão do que aqueles sem dependência. - Análise de Clusters (2017):

 Adolescentes com dependência das redes sociais digitais apresentaram um alto nível de sintomas depressivos - Estudos transversais (2013, 2017):

 Associação positiva entre dependência das redes sociais e sintomas depressivos entre adultos jovens e adolescentes.

- Dependência da Internet e das redes sociais competem com atividades offline, incluindo o tempo que poderia ser usado para dormir; adolescentes com maior dependência da Internet tendem a dormir mais tarde, exigindo mais tempo para adormecer e interrompendo o seu sono horário (i.e., maior número de despertares noturnos) – uso excessivo da Internet e das redes sociais pode inibir os padrões de sono dos adolescentes.

- Estudo transversal (2013):

 Estudantes universitários do Peru;

 Prevalência de insónia entre os dependentes do Facebook foi 1,31 vezes maior do que entre os não-dependentes. - Estudo longitudinal (2016):

 874 estudantes, 41% do sexo masculino, = 14.4 anos;

 53% da associação entre a dependência das redes sociais digitais e o humor deprimido foi mediada por perturbações do sono.

[29]  Estudo longitudinal (2009):

- 307 adolescentes entre os 14 e os 17 anos ( = 15,5 anos), 99,3% holandeses; 150 do sexo masculino;

- Não houve associações longitudinais entre o tempo gasto na comunicação online ou na navegação na Internet e as mudanças na internalização de problemas, na amostra como um todo;

- Adolescentes com amizades de baixa qualidade que passam mais tempo a navegar na Internet são mais suscetíveis a dependência da Internet, tendo maior probabilidade de depressão e ansiedade social - efeito poor get poorer;

- Adolescentes com amizades de baixa qualidade que passam mais tempo em comunicação online, parecem desenvolver menos depressão;

- Adolescentes com amizades de alta qualidade usam mais a comunicação online (comparativamente a adolescentes com amizades de baixa qualidade), mas sem evidência de efeito

rich get richer, provavelmente por serem menos propensos a influências adversas da Internet.

 Outros estudos referidos:

- Diversos estudos realizados com estudantes universitários:

Aumento do tempo dispensado na comunicação online associado a menos relatos de depressão;  Aumento do tempo dispensado na navegação na Internet associado a mais relatos de depressão. - Estudo longitudinal (2008):

[38]

[21]  Análise correlacional (2010):

- Jovens adultos, no Reino Unido;

- Relação estatisticamente significativa entre a dependência da Internet e a depressão; - Relação causa-consequência desconhecida;

- Para um pequeno subgrupo da população (≈ < 2%), uso excessivo da Internet como sinal de alerta para tendências depressivas;

- Sites de gratificação sexual, jogos online e sites de conversação online, como os tipos de atividade mais associados à dependência da Internet.

[4]  Revisão Sistemática (2016):

- Estudos transversais: correlação positiva entre a “quantidade” de uso do Facebook e a frequência das comparações sociais, com maior probabilidade de desfechos afetivos negativos (depressão). Relação causal impossível de estabelecer;

- Estudos prospetivos: tendência para se comparar desfavoravelmente com os outros no Facebook, prevê mudanças na sintomatologia depressiva a posteriori;

- Estudos longitudinais: qualquer tipo de comparação social, seja ela positiva ou negativa, medeiam uma correlação positiva entre o uso frequente do Facebook e o humor deprimido, sendo que a depressão não prediz sobre o uso do Facebook. O uso passivo (visualização dos perfis de outros utilizadores), mas não o uso ativo (publicar), previu diminuições subsequentes no bem-estar, totalmente mediadas pela inveja, não sendo os resultados influenciados pela depressão nem pela satisfação com a vida – Relação causal do uso passivo do Facebook, através da inveja, com a depressão. Depressão associada a maiores níveis de inveja, especialmente quando existem elevados padrões de comparação social;

- Estudos experimentais: indivíduos instruídos a observar o Facebook durante 10 minutos apresentam humor mais deprimido do que aqueles que olharam sites de controlo. Perfis de redes sociais que representam padrões de comparação altamente atraentes despoletaram pior humor e menor satisfação com a aparência, em comparação a padrões menos atraentes (evidência indireta).

[33]  Estudo de regressão (2015):

- 736 estudantes universitários;

- Não foi encontrada uma relação direta significativa entre a frequência do uso do Facebook e depressão entre estudantes universitários;

- O uso do Facebook para “vigilância” pode diminuir a depressão quando não desencadeia sentimentos de inveja. Caso desencadeie, pode levar à depressão; - O uso excessivo do Facebook tende a levar os utilizadores a sentir níveis mais altos de inveja, comparativamente ao uso não excessivo;

- Tamanho da rede de amigos dos utilizadores do Facebook não mostrou ser relevante;

- Aqueles que relatam sentir níveis mais altos de "inveja" tendem a relatar mais sintomas de depressão; - Uso do Facebook, só por si, não leva diretamente à depressão.

[15]  Estudo experimental (2013):

- Estudantes universitários da universidade do Midwest (18-23 anos);

- Não foi encontrada qualquer associação entre o uso de redes sociais e depressão.

[6]  Estudo transversal (2015):

- 672 polacos, entre os 15 e os 75 anos ( = 27,53 anos), 65% do sexo feminino;

- Depressão pode ser um preditor de “intrusão no Facebook”, bem como o tempo diário dispensado na Internet, o género (masculino) e a idade (jovens).  Referência a outros estudos:

- (Estudantes turcos): depressão, ansiedade e insónia graves podem ser preditores positivos da dependência do Facebook; - (Taiwan): caráter depressivo e de baixa autoestima podem ser preditores positivos da dependência do Facebook;

- (Turco, pacientes em hemodiálise): ter uma conta no Facebook foi relacionado a menor incidência de depressão (ajuda a lidar com a doença?); - Estudos que não encontram relação entre depressão e redes sociais.

[39]

[14]  Estudo transversal (2014):

- 253 estudantes universitários, 62,8% do sexo feminino, = 19,68 anos;

- Indivíduos com padrões mal adaptativos do uso de redes sociais apresentaram significativamente mais problemas relacionados à regulação de emoções (mais evicção experiencial, falta de aceitação de respostas emocionais, acesso limitado a estratégias de regulação de emoções, controlo inadequado de impulsos e dificuldades em comportamentos direcionados);

- Uso do Facebook possivelmente mantido por feedback negativo.

[28]  Atividade no Facebook: processos não interativos (“consumo” direcionado ou aleatório de conteúdo social) com possibilidade de redução do capital social e aumento dos sentimentos de

solidão, sentimentos de inveja, com prejuízo na satisfação pessoal.  Estudo correlacional (1):

- 123 utilizadores alemães, 72 do sexo masculino, = 22,11 anos;

- Quanto mais tempo for gasto no Facebook, menor será o humor imediatamente após uso.  Estudo experimental (2):

- 263 participantes ingleses, 163 do sexo feminino, = 33,83 anos;

- Uso do Facebook diminui o bem-estar emocional dos seus utilizadores, mediado pelo sentimento de ter acabado de perder tempo com uma atividade sem sentido, o que não se verificou nos grupos de controlo e de navegação na Internet - Efeito causal da atividade do Facebook;

- Uso da Internet não relacionado com as redes sociais não influenciou negativamente o bem-estar dos indivíduos.  Estudo (3):

- 101 utilizadores ingleses, 53 homens, = 30,86 anos;

- Utilizadores assumiram que a sua atividade no Facebook faria com que se sentissem melhor do que antes (erro de previsão afetiva), o que pode culminar no uso contínuo da rede social, em busca dessa sensação de se sentirem melhor.

[40]

5.3.3.3. Ansiedade Social

A ansiedade social é extremamente debilitante, tendo um impacto negativo na rede social do indivíduo, com risco de conduzir ao seu isolamento. Geralmente, surge no início da adolescência, já que é nesta fase que se verifica a crescente importância das interações sociais com os pares [26].

Pelo facto de a comunicação online e o uso das redes sociais se terem tornado omnipresentes, nos últimos anos, especialmente para adolescentes e jovens adultos, há autores que defendem que o conforto social e o tempo despendido online e o UPI apresentam uma correlação mais forte com a ansiedade social, em adultos, já que nos jovens, o uso de tempo livre na comunicação online pode ser visto como adaptativo ou normativo, sem estar necessariamente relacionado com ansiedade social, camuflando a sua eventual presença [26].

Segundo a hipótese de compensação social, os indivíduos socialmente ansiosos compensam as suas relações offline pobres com a procura de ligações num ambiente

online, existindo a perceção de este ser um meio mais seguro e confortável, que permite

camuflar aspetos físicos/psicológicos que suscitem uma possível avaliação negativa por parte dos outros, permitindo uma apresentação do próprio mais controlada. De facto, o medo de rejeição pode levar indivíduos socialmente ansiosos a terem dificuldade em retratar o seu verdadeiro “eu” nas interações face-a-face, medo amenizado com o anonimato das relações online, nas quais podem satisfazer a necessidade social de pertencer e ser entendido. Contudo, considera-se que os comportamentos de segurança reforçam cognições inadaptadas, perpetuando a prevenção de situações ameaçadoras, isto é, a comunicação online ao funcionar como um comportamento de segurança para estes indivíduos, impede que aprendam que estão a sobrestimar a probabilidade de avaliação negativa e a subestimar a sua capacidade social [17].

Assim, apesar de a curto prazo, a comunicação online parecer reduzir/regular a ansiedade social, a longo prazo, se a comunicação online bem-sucedida se dever única e exclusivamente a aspetos da Internet, e não a atributos pessoais, a capacidade de comunicação offline pode ser afetada. Isso pode levar a um ciclo de evasão perpetuado pela comunicação online e, em última análise, levar ao desenvolvimento de UPI e manutenção da ansiedade interpessoal. Daí, a ansiedade social parecer ser um preditor significativo de UPI [17].

[41]

Além disso, o uso problemático da Internet como “compensatório”, foi associado a baixa autoestima, em indivíduos mais socialmente ansiosos (vs. Maior autoestima em indivíduos menos socialmente ansiosos) bem como a maiores scores de depressão em indivíduos mais socialmente ansiosos (vs. menores scores de depressão em indivíduos menos socialmente ansiosos). Ou seja, a ansiedade social associada a altos níveis de uso “compensatório” da Internet está associada a menor bem-estar do indivíduo, o que pode ser explicado de três maneiras diferentes [34]:

- O conforto social e a auto-divulgação online, em indivíduos mais socialmente ansiosos, pode não traduzir a formação de laços satisfatórios, sendo a Internet usada como um meio passivo de exibição de grandes quantidades de informação num perfil online;

- A tentativa de auto-divulgação online pode causar níveis mais elevados de ansiedade social ao antecipar a rejeição como resultado, podendo os sentimentos de inadequação social e a avaliação negativa antecipada diminuir o envolvimento ativo nas redes sociais, nestes indivíduos, estando inibido o impacto potencialmente benéfico da comunicação online;

- A ansiedade social pode manifestar-se negativamente online, podendo os indivíduos mais socialmente ansiosos tender a manter um foco auto-protetor, apresentando-se como distantes, podendo causar experiências de menor satisfação às pessoas com quem interagem; esta reação negativa de potenciais parceiros

online pode perpetuar o isolamento social e enfraquecer o bem-estar destes

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Quadro 7 - Dados na Literatura sobre Ansiedade Social & Dependência da Internet/das Redes Sociais.

[17]  Estudo transversal (2012):

- 338 australianos, 18-74 anos ( = 29,75 anos), 134 do sexo masculino; - Ansiedade social fortemente associada a maior incidência de UPI;

- Ansiedade social é um fator preditor único de UPI, ao controlar a variação explicada pelos sintomas psicopatológicos (depressão, ansiedade generalizada e stress); - Indivíduos com maior ansiedade social afirmaram comunicar-se com mais pessoas online do que offline (teoria da compensação social);

- Duplo efeito das relações online no bem-estar social dos indivíduos com ansiedade social:  1 - Ajuda na formação de novas amizades,

 2 - Exacerba a evicção das interações face-a-face;

- Ansiedade social associada à perceção de relacionamentos de qualidade inferior, tanto online como offline, não se verificando que a comunicação online possa ser mais atrativa para indivíduos socialmente ansiosos por terem a perceção de mais interdependência, profundidade, amplitude, previsibilidade e compromisso nos seus relacionamentos online do que

offline, não se observando nenhuma discrepância;

- Indivíduos com relacionamentos presenciais de menor qualidade e com maior dependência de relacionamentos online são mais vulneráveis a desenvolver UPI;

- Maiores níveis de ansiedade social associados à perceção de maior controlo nas interações sociais online comparativamente às interações face-a-face (escondem-se sinais evidentes de ansiedade);

- Consequências da avaliação negativa percebidas como iguais, independentemente do meio através do qual interagiram - aspetos online como o anonimato podem ser insuficientes para reduzir as consequências percebidas da avaliação negativa;

- Diminuição da perceção de ameaça social durante as interações online pode explicar a maior vulnerabilidade das pessoas socialmente ansiosas ao UPI;

- Maior vulnerabilidade das pessoas socialmente ansiosas ao UPI pode não ser mediado pela perceção de probabilidade de ameaça online, mas sim pela perceção de probabilidade de ameaça presencial, sugerindo que os indivíduos são atraídos para interações online porque as interações face-a-face parecem ameaçadoras;

- Comunicação online exacerba a prevenção de interações face-a-face em pessoas com ansiedade social, mesmo quando é controlada a variância diretamente atribuível ao medo de avaliação negativa;

- Os mais jovens têm maior probabilidade de desenvolver UPI, por possível aumento da exposição à Internet numa fase precoce do desenvolvimento.

[29]  Estudo longitudinal (2008):

- Adolescentes de 12 e 15 anos;

- Ao longo de 6 meses, utilizadores da Internet que gastavam a maior parte do tempo na comunicação online não eram mais socialmente ansiosos do que os que gastavam menos tempo.

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