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Choques transicionais com perfil reto nas soluções de problemas de Riemann

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Academic year: 2021

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(1)Universidade de Bras´ılia Instituto de Ciˆencias Exatas Departamento de Matem´atica. Choques transicionais com perfil reto nas soluc¸o˜ es de problemas de Riemann por. Maryane da Silva Moreira Figueiredo. 2007.

(2) Aos meus pais e a` Tathiana, minha irm˜a.. ii.

(3) Agradecimentos. Agradec¸o, primeiramente a Deus pela orientac¸a˜ o espiritual, por estar presente em meu corac¸a˜ o em todos os momentos de minha vida abrindo portas para que eu alcance meus objetivos. Agradec¸o a toda minha fam´ılia, em especial, aos meus pais, La´ercio e Conceic¸a˜ o, que lutaram juntos para oferecer-me a melhor educac¸a˜ o poss´ıvel, pelo apoio, paciˆencia, dedicac¸a˜ o e amor concedidos a mim. Agradec¸o a minha irm˜a Tathiana pela amizade incondicional, por estar sempre me apoiando, pelos momentos de descontrac¸a˜ o e, tamb´em, ao meu cunhado Marco Antˆonio por alegrar nossa fam´ılia e participar de minha vida nestes dois anos. Sem estas pessoas eu n˜ao teria como tornar poss´ıvel este sonho. Agradec¸o a todos que trabalham no departamento de matem´atica da Universidade de Bras´ılia, a todos os professores que contribu´ıram com minha formac¸a˜ o acadˆemica. Agradec¸o, em especial, ao meu orientador Arthur Vicentini, n˜ao apenas pela orientac¸a˜ o, mas pela disponibilidade, paciˆencia, bons conselhos, bom humor, pelo enriquecimento matem´atico que me proporcionou, enfim pela verdadeira amizade que surgiu entre n´os. Agradec¸o aos professores C´esar Eschenazi, UFMG, e Carlos Alberto Pereira, UnB, pela participac¸a˜ o na banca examinadora e. iii.

(4) pelo tempo dispensado ao meu trabalho. Agradec¸o a minha amiga Grazi que acompanhou cada momento de minha caminhada n˜ao s´o esses dois anos mas durante grande parte de minha vida. Igualmente agradec¸o a amiga L´ıgia pelos bons conselhos e risadas que me proporcionou. N˜ao posso deixar de agradecer aos amigos que fiz na universidade. Agradec¸o ao Ewerson pelo constante incentivo durante a graduac¸a˜ o e amizade mesmo distante. E, e´ claro, agradec¸o a Bel, a Lu, ao Magno, ao Miguel e ao L´eo pelas horas de estudo, por caminharmos juntos, por superarmos etapas juntos, pelo apoio quando desanim´avamos, pelas risadas e choros. Tamb´em agradec¸o aos colegas Vagner, Fl´avia, Karise, Manu, Jorginho, Gi, Tertu dentre outros que tamb´em participaram deste processo. Enfim, agradec¸o a todos que de certa forma contribu´ıram para que eu conclu´ısse este trabalho. Muito obrigada.. iv.

(5) Resumo. Problemas de Riemann modelam escoamentos de fluidos trif´asicos em meios porosos. Estudamos as noc¸o˜ es b´asicas de alguns tipos de problemas de Riemann e de suas soluc¸o˜ es, utilizando o crit´erio de entropia de viscosidade. Obtemos uma forma normal para o sistema 2 × 2 de leis de conservac¸a˜ o [14] e examinamos o papel dos choques transicionais nas soluc¸o˜ es de Riemann, verificando em que circunstˆancias estes choques possuem perfil reto [9]. Por fim, verificamos que o conjunto de soluc¸o˜ es est´a associado a uma variedade que se assemelha a um helic´oide, para um exemplo de problema em que a matriz de viscosidade e´ a identidade [1]. Em seguida, modificamos uma das entradas nulas da matriz de viscosidade identidade e comprovamos que o helic´oide de soluc¸o˜ es ainda existe. A maior parte desta dissertac¸a˜ o est´a baseada em [1], [9] and [14].. Palavras-chaves: problema de Riemann, crit´erio de entropia, choques transicionais, helic´oide.. v.

(6) Abstract. Riemann Problems model three phase flow in porous media. We study the basic notions of some type of Riemann problems and their solutions, using the viscous profile criterium. We obtain a normal form to the 2 × 2 system of conservation laws [14] and we examine the role of the transicional shocks in Riemann solutions checking in which circunstances these shocks posses straight line profiles [9]. Finally, we verify that the set of solutions is associated to a manifold that looks like an helicoid, for an example in which the viscosity matrix is the identity [1]. Next, we modify one of the zero entries of the identity viscosity matrix and we confirm that the helicoid of solutions still exists. The main part of this dissertation is based on [1], [9] and [14].. Key words: Riemann problem, profile criterium, transicional shocks, helicoid.. vi.

(7) ´ SUMARIO. Introduc¸a˜ o. 1. 1 Modelagem e aplicac¸o˜ es. 4. 1.1. Conservac¸a˜ o da massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 4. 1.2. Modelo de fluido trif´asico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 6. 2 O problema de Riemann. 11. 2.1. Teoria para uma u´ nica lei de conservac¸a˜ o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 11. 2.2. Soluc¸o˜ es Fracas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 19. 2.3. Noc¸o˜ es b´asicas sobre o problema de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 21. 2.4. Crit´erios de entropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 25. 2.5. Classificac¸a˜ o dos pontos cr´ıticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 28. 3 A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o vii. 30.

(8) 3.1. Alguns resultados para modelos quadr´aticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 30. 3.2. A forma normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 36. 4 Ondas transicionais. 40. 4.1. Modelos quadr´aticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 41. 4.2. ´ Orbitas retas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 44. 4.3. Regi˜ao transicional e soluc¸a˜ o do problema de Riemann contendo choques transicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 5 O helic´oide de soluc¸o˜ es. 50 53. 5.1. O modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 53. 5.2. Classes de soluc¸o˜ es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 57. 5.3. O helic´oide . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 58. 5.4. Perturbac¸a˜ o da matriz de viscosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 60. viii.

(9) Introduc¸a˜ o. Neste trabalho, consideraremos problemas de Riemann, que e´ um caso particular de um problema de Cauchy, para o sistema 2 × 2 de leis de conservac¸a˜ o Ut + F (U)x = 0 , onde U = U(x, t) ∈ R2 , F : R2 −→ R2 , −∞ < x < ∞ e t > 0; e sujeito a` condic¸a˜ o inicial   U , para x < 0 L U(x, 0) = ,  U , para x > 0 R. onde, UL , UR ∈ R2 , s˜ao constantes.. No decorrer do trabalho, faremos um estudo de sistemas com comportamento hiperb´olico e, tamb´em, consideraremos um exemplo de problema de Riemann para um sistema de leis de conservac¸a˜ o com comportamento misto, sendo el´ıptico para certos estados e hiperb´olico para outros. Tais sistemas tˆem origem no escoamento de fluidos trif´asicos em meios porosos, como ocorre na recuperac¸a˜ o de petr´oleo. Comec¸aremos o trabalho descrevendo a origem das equac¸o˜ es conhecidas como leis de conservac¸a˜ o e um pouco das ferramentas matem´aticas usadas para estud´a-las. Em seguida, apresentaremos a teoria da soluc¸a˜ o para um problema de Riemann. Essa soluc¸a˜ o se comp˜oe de 1.

(10) Introduc¸a˜ o soluc¸o˜ es cont´ınuas ou cl´assicas (rarefac¸o˜ es) e descont´ınuas (choques). Os choques satisfazem a equac¸a˜ o F (UR ) − F (UL ) − s(UR − UL ) = 0 , onde s e´ a velocidade de propagac¸a˜ o da descontinuidade, conhecida como relac¸a˜ o de RankineHugoniot. Com UL fixo, esta relac¸a˜ o tem como soluc¸a˜ o a equac¸a˜ o de uma curva em R3 , chamada curva de Hugoniot. Por surgir multiplicidade de soluc¸o˜ es quando utiliza-se choques para compor as soluc¸o˜ es e´ que consideramos restric¸o˜ es adicionais chamadas crit´erios de entropia, que objetiva selecionar de modo u´ nico as soluc¸o˜ es fisicamente relevantes. O primeiro crit´erio introduzido por Lax, em [11], para leis de conservac¸a˜ o estritamente hiperb´olicas e genuinamente n˜ao-lineares, conhecido por crit´erio de Lax, torna-se insuficiente para modelos em que falha a hiperbolicidade estrita. Surge ent˜ao, o crit´erio de viscosidade, introduzido por Gel’Fand em [6] e Courant e Friedrichs em [5], que considera admiss´ıveis, os choques que s˜ao limites de ondas viajantes de um sistema associado parab´olico de equac¸o˜ es diferenciais parciais. Em [14], Schaeffer e Shearer mostraram como transformar um sistema de duas leis de conservac¸a˜ o com func¸a˜ o fluxo F quadr´atica em um sistema com func¸a˜ o fluxo com apenas dois parˆametros livres. Para isto, eles demostraram, entre outras coisas, um teorema que afirma que existe um polinˆomio c´ubico da forma C(x, y) =. 1 ax3 3. + bx2 y + xy 2 , tal que C(x, y) e´ um. potencial da func¸a˜ o de fluxo. Com isso, verificou-se, fazendo uma an´alise em torno do ponto umb´ılico isolado (isto e´ , um ponto onde os autovalores da matriz jacobiana de F s˜ao iguais, com DF (U) = λI), que podemos obter uma forma normal para o sistema de leis de conservac¸a˜ o. Esta forma e´ u´ til para a investigac¸a˜ o do comportamento local da soluc¸a˜ o de um problema de Riemann. No Cap´ıtulo 3 desta dissertac¸a˜ o, daremos uma id´eia do trabalho desenvolvido por Schaeffer e Shearer em [14]. Com este modelo, estudaremos o papel das ondas transicionais na resoluc¸a˜ o de problemas de Riemann, no Cap´ıtulo 4. Soluc¸o˜ es de problemas de Riemann contˆem choques que podem ser associados a sistemas dinˆamicos. Com o estudo do sistema dinˆamico associado, sob o crit´erio de perfis vis2.

(11) Introduc¸a˜ o cosos, veremos, ainda no Cap´ıtulo 4, que as o´ rbitas do sistema dinˆamico ligando os estados UL e UR s˜ao segmentos de reta. Parametrizaremos a Hugoniot de U0 por coordenadas polares centrada em U0 por um aˆ ngulo ϕ. Escreveremos as equac¸o˜ es da Hugoniot Hu0 ,v0 (u, v) e da velocidade de propagac¸a˜ o da descontinuidade s nessas coordenadas e a partir da´ı faremos uma an´alise de quando uma reta entre dois estados UL e UR e´ uma o´ rbita para o sistema autˆonomo −s[U − U− ] + F (U) − F (U− ) = D(U)U˙ , onde D(U) e´ a matriz de viscosidade. Independente da classificac¸a˜ o do aˆ ngulo ϕ, sob certas hip´oteses, qualquer estado U0 e´ ligado a algum U 6= U0 por um perfil reto. Surge ent˜ao a regi˜ao transicional para o aˆ ngulo ϕ, que e´ o conjunto de estados U0 para os quais temos choques transicionais. No u´ ltimo cap´ıtulo deste trabalho, descreveremos um comportamento topol´ogico para soluc¸o˜ es de Riemann para o sistema parab´olico de um modelo particular de um sistema de leis de conservac¸a˜ o. Azevedo, em [1], mostrou que o conjunto de soluc¸o˜ es para um modelo particular cuja matriz de viscosidade e´ a identidade, pode ser ilustrado por uma variedade que se assemelha a um helic´oide. Para isso, foi necess´ario agrupar soluc¸o˜ es em classes que mudam de acordo com o n´umero de choques transicionais contidas em cada uma. Por fim, ainda no Cap´ıtulo 5, faremos uma pequena perturbac¸a˜ o na matriz de viscosidade e, com aux´ılio dos programas Maple e Riemann Solver [8] e a teoria apresentada nos cap´ıtulos anteriores, mostraremos que ainda existe uma variedade de soluc¸o˜ es que se assemelha a um helic´oide para esse novo modelo.. 3.

(12) ´ CAPITULO 1 Modelagem e aplicac¸o˜ es. As equac¸o˜ es b´asicas que descrevem fluidos mecˆanicos s˜ao derivadas das leis de conservac¸a˜ o da massa, momento e energia. Supondo os fluidos perfeitos, obteremos as formas integral e diferencial da Lei de conservac¸a˜ o da massa. Essas equac¸o˜ es juntamente com a forma diferencial e integral das leis de conservac¸a˜ o do momento e conservac¸a˜ o de energia, ajudam a descrever o movimento de fluidos em uma regi˜ao bi ou tridimensional, [4]. Neste cap´ıtulo, discutiremos apenas a conservac¸a˜ o de massa usando a formulac¸a˜ o Euleriana para especificar o movimento de um fluido em uma dada regi˜ao do espac¸o.. 1.1 Conservac¸a˜ o da massa. Dados D ⊂ R3 uma regi˜ao delimitada por uma superf´ıcie fechada S; L, M, N func¸o˜ es cont´ınuas com derivadas primeiras cont´ınuas em D e F~ um campo vetorial F~ = L~i+M~j +N ~k. 4.

(13) Cap´ıtulo 1. Modelagem e aplicac¸o˜ es Do Teorema da Divergˆencia temos ZZZ . div F~. D. . dV =. ZZ. F~ · ~n dS,. S. onde ~n e´ o vetor normal unit´ario exterior a` superf´ıcie S = ∂D. A integral de superf´ıcie. ZZ. F~ · ~n dS, representa o fluxo do campo vetorial F~ atrav´es da. S. superf´ıcie S na direc¸a˜ o ~n e o vetor F~ e´ visto como a “medida do fluir”. Imaginando uma part´ıcula de poeira suspensa no fluido, ela descreve uma trajet´oria bemdefinida. Denotando por v¯ (¯ x, t) a velocidade da part´ıcula em um ponto x¯ = (x, y, z) de D no tempo t, ent˜ao, para cada tempo fixo, v¯ e´ um campo vetorial em D. E, para cada tempo, ρ (¯ x, t), que e´ a densidade de massa do fluido, est´a bem-definida. Pelo teorema da divergˆencia e, tomando F~ = ρ~v , tem-se ZZZ. D.  div ρ~v¯ dV =. ZZ. ρ~v¯ · ~n dS ,. S. onde a integral do lado direito representa o fluxo do fluido. A quantidade total de massa presente em uma regi˜ao D, que n˜ao depende de t, e´ dada ZZZ por ρ dV e a variac¸a˜ o de massa em D, por unidade de tempo, e´ dada pela derivada dessa D. integral em relac¸a˜ o ao tempo, ou seja, ZZZ ZZZ −d ∂ρ ρ dV = − dV. dt D D ∂t Admitindo-se que n˜ao existem sumidouros de massa e nem tampouco criac¸a˜ o de massa, podemos escrever −. ZZZ. D. ∂ρ dV = ∂t. ZZ. ρ~v¯ · ~n dS = S. ZZZ. D. ou,.  div ρ~v¯ dV.  ZZZ   ∂ρ dV = 0 , div ρ~v¯ + ∂t D 5. (1.1).

(14) Cap´ıtulo 1. Modelagem e aplicac¸o˜ es que e´ a forma integral da Lei de Conservac¸a˜ o da massa. Como a equac¸a˜ o (1.1) vale para qualquer regi˜ao D, temos  ∂ ρ + div ρ~v¯ = 0, ∂t. que e´ a forma diferencial da Lei de Conservac¸a˜ o da massa. Uma forma mais geral de leis de conservac¸a˜ o e´ ut + div f = 0,. (1.2). onde u representa a densidade de uma entidade f´ısica e o vetor f descreve seu fluxo em uma certa regi˜ao. Neste trabalho vamos estudar sistemas de leis de conservac¸a˜ o da forma ujt + div f j = 0 ,. j = 1, ..., n ,. onde cada f j e´ uma func¸a˜ o de todos u1 , ..., un , que descreve o escoamento de fluidos trif´asicos em meios porosos. Estudaremos problemas de Cauchy com dados iniciais constantes, exceto em pontos de descontinuidade, para sistemas de leis de conservac¸a˜ o. Tais problemas de valor inicial s˜ao conhecidos como problemas de Riemann.. 1.2 Modelo de fluido trif´asico Consideraremos o fluxo unidimensional horizontal de um fluido trif´asico imisc´ıvel, onde as fases do fluido s˜ao a´ gua (w), o´ leo (o) e g´as (g), em um meio poroso. Desconsideraremos efeitos gravitacional, t´ermico e de compressibilidade. Assumiremos ainda que todo o espac¸o e´ preenchido pelo fluido e que n˜ao existem fontes ou sumidouros dentro do meio. Denotando por ϕ a porosidade do meio, si a saturac¸a˜ o, ρi a densidade, µi a viscosidade e vi a velocidade da part´ıcula na fase i, temos as equac¸o˜ es da conservac¸a˜ o de massa de a´ gua, o´ leo e g´as: ∂ ∂ (ϕ si ρi ) + (ρi vi ) = 0 , ∂t ∂x 6. (1.3).

(15) Cap´ıtulo 1. Modelagem e aplicac¸o˜ es para i = w, o, g, respectivamente. A porosidade ϕ e a permeabilidade absoluta, denotada por K, est˜ao associadas as rochas e consideraremos constantes. Tamb´em consideraremos constantes as densidades e viscosidades das fases. Darcy [13] e [15], realizou um experimento unidimensional para fluidos monof´asicos em meios porosos e deduziu uma relac¸a˜ o v´alida para tais escoamentos, conhecida como lei de Darcy. Tentou-se utilizar esta lei para a mistura de fases imisc´ıveis, mas verificou-se que para escoamentos multif´asicos essa lei s´o e´ v´alida para cada uma das fases onde, por´em, a permeabilidade de cada fase depende da saturac¸a˜ o do meio poroso relativo a` fase em quest˜ao, ou seja, usaremos a seguinte forma da lei de Darcy:. vi = −K λi. ∂ pi , ∂x. (1.4). onde pi denota a press˜ao na fase i e λi = ki/µi ≥ 0 a mobilidade da fase i, com ki representando a permeabilidade relativa da fase i. Chamamos de press˜ao capilar a diferenc¸a de press˜ao entre duas fases quaisquer i e j (i 6= j), pij = pi − pj , medida experimentalmente como func¸a˜ o das saturac¸o˜ es. Com isso e X λi definindo a mobilidade total λ = λj , as func¸o˜ es fracionais de fluxo fi = e a velocidade λ j total v =. X. vj , temos, de (1.4),. j. ∂ pj ∂x j X ∂ fi v = −Kfi λ j pj ∂x j X λi ∂ = −K λ j pj λ j ∂x X ∂ = −Kλi fj pj ∂x j. X j. vj = −K. 7. X. λj.

(16) Cap´ıtulo 1. Modelagem e aplicac¸o˜ es Somando e subtraindo vi da express˜ao obtida anteriormente temos fi v = vi − vi − Kλi. X j. = vi + Kλi. = vi − Kλi. = vi − Kλi. fj. ∂ pj ∂x. X ∂ ∂ pi − Kλi fj pj ∂x ∂x j ( (. X. ∂ fj pj ∂x. !. X. ∂ fj pj ∂x. !. j. j. ∂ − pi ∂x. −. ). X j. fj. !. ∂ pi ∂x. ). ,. ou seja, vi = vfi + Kλi. X j6=i. fj. ∂ pji . ∂x. (1.5). Substituindo (1.5) em (1.3) sem o termo da densidade, j´a que este e´ constante, as equac¸o˜ es do fluxo s˜ao:. • i=w ∂ ∂ ∂ (ϕsw ) + (vfw ) + ∂t ∂x ∂x.   ∂ ∂ Kλw fo pow + Kλw fg pgw = 0, ∂x ∂x. (1.6). ∂ ∂ ∂ (ϕso ) + (vfo ) + ∂t ∂x ∂x.   ∂ ∂ Kλo fw pwo + Kλo fg pgo = 0, ∂x ∂x. (1.7). ∂ ∂ ∂ (ϕsg ) + (vfg ) + ∂t ∂x ∂x.   ∂ ∂ Kλg fw pwg + Kλg fo pog = 0. ∂x ∂x. (1.8). • i=o. • i=g. 8.

(17) Cap´ıtulo 1. Modelagem e aplicac¸o˜ es Ainda temos que a velocidade total v depende apenas de t, pois dividindo (1.3) por ρi e somando em i, encontramos. ∂ v ∂x. = 0. E´ poss´ıvel tamb´em mudar as vari´aveis, desde que v seja. diferente de zero, de forma que podemos remover v, K e ϕ do sistema (1.6) - (1.7) - (1.8). Considerando u1 e u2 duas saturac¸o˜ es quaisquer, como. X. si = 1, i = w, o, g, ent˜ao. i. podemos escrever u3 = 1 − u1 − u2 . E, ainda podemos escrever, p12 = p13 + p32 , onde pkl = pk − pl , k, l = 1, 2 ou 3 (k 6= l). Desta forma, este sistema de trˆes componentes pode ser convenientemente escrito como um sistema de duas componentes apenas. Se tomarmos dois eixos coordenados centrado em (0, 0), com um deles sendo u1 e o outro u2 , a reta ligando os pontos (1, 0) e (0, 1) dos eixos, representa automaticamente u3 e forma um triˆangulo. Isto justifica chamarmos de triˆangulo das saturac¸o˜ es, denotado por 4, a representac¸a˜ o das saturac¸o˜ es escolhidas para descrever o fluido. Com essas modificac¸o˜ es temos o novo sistema.     ∂ ∂ ∂ ∂ ∂   u1 + f1 = λ1 −f2 p23 + (1 − f1 ) p13    ∂x ∂x ∂x ∂x  ∂t. (1.9).       ∂ ∂ ∂ ∂ ∂   u2 + f2 = λ2 −f1 p13 + (1 − f2 ) p23  ∂t ∂x ∂x ∂x ∂x ou,   ∂ ∂ ∂ ∂ U+ F (U) = D(U) U , ∂t ∂x ∂x ∂x 0. onde D(U) = Q(U)P (U), com. . Q(U) = . λ1 (1 − f1 ) −λ2 f1 9. −λ1 f2 λ2 (1 − f2 ).  . (1.10).

(18) Cap´ıtulo 1. Modelagem e aplicac¸o˜ es e ∂p13  ∂u1  0 P (U) =    ∂p . 23. ∂u1.  ∂p13 ∂u2   .  ∂p  23. ∂u2. As matrizes D(U) e Q(U) s˜ao chamadas matriz de difus˜ao e matriz balanc¸o, respecti0. vamente. J´a a matriz P (U) e´ a Jacobiana da press˜ao capilar.. 10.

(19) ´ CAPITULO 2 O problema de Riemann. Neste cap´ıtulo, discutiremos a soluc¸a˜ o de um problema de Riemann para um sistema escalar de leis de conservac¸a˜ o, introduziremos as notac¸o˜ es a serem utilizadas em cap´ıtulos posteriores e apresentaremos alguns fatos b´asicos sobre o problema de Riemann para sistemas 2 × 2 de leis de conservac¸a˜ o. Discutiremos, tamb´em, a construc¸a˜ o da soluc¸a˜ o do problema de Riemann e algumas caracter´ısticas do mesmo. Grande parte deste cap´ıtulo foi baseada em [10].. ´ 2.1 Teoria para uma unica lei de conservac¸a˜ o Nesta sec¸a˜ o vamos descrever a soluc¸a˜ o de um problema de Riemann n˜ao-linear (1.2) e unidimensional para uma u´ nica lei de conservac¸a˜ o. A quantidade u varia apenas em uma dimens˜ao espacial e em relac¸a˜ o ao tempo, isto e´ , vamos considerar (1.2) na forma ut + fx = 0, onde f e´ uma func¸a˜ o n˜ao-linear de u. 11. (2.1).

(20) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann. Denotando-se. df = a (u), podemos reescrever a equac¸a˜ o acima como du ut + a (u) ux = 0.. (2.2). As soluc¸o˜ es de (2.2) s˜ao obtidas pelo m´etodo das caracter´ısticas [10], o qual passamos a descrever. Denotando γ (t) = u (x (t) , t) temos γ 0 (t) = ux x˙ + ut . Se x˙ = a (u) , ent˜ao (2.2) implica que γ 0 (t) = 0, ou seja, que γ (t) = u (x (t) , t) = constante. Logo, u e´ constante ao longo de trajet´orias x = x (t) que se propagam com velocidade a(u), a qual e´ chamada de velocidade do sinal (ou velocidade caracter´ıstica). Como x˙ = a (u), vemos que tais trajet´orias s˜ao retas, ou seja, u e´ constante sobre as retas. Essas trajet´orias s˜ao chamadas curvas caracter´ısticas da equac¸a˜ o diferencial parcial (2.2) e a an´alise feita acima mostra que os sinais se propagam ao longo de caracter´ısticas. Desse modo a construc¸a˜ o geom´etrica da soluc¸a˜ o de um problema de valor inicial   u + a (u) u = 0 t x ,  u (x, 0) = u0 (x) pode ser obtida desenhando retas passando por pontos y do eixo-x com inclinac¸a˜ o. (2.3). 1 a (u0 (y)). .. Usando o teorema da func¸a˜ o impl´ıcita, pode-se mostrar que, se u0 e´ uma func¸a˜ o de classe C 1 , essas retas cobrem uma vizinhanc¸a do eixo-x e u (x, t) fica unicamente determinada perto do eixo-x, j´a que o valor de u ao longo da reta saindo de um ponto y do eixo-x e´ u0 (y).. Usando o que foi feito acima, podemos obter uma forma da soluc¸a˜ o de (2.3). Para tanto, observe a Figura 2.1, onde (x, t) e´ um ponto e y a intersecc¸a˜ o da caracter´ıstica por (x, t) com o 12.

(21) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann t (x, t). y. x. Figura 2.1: Reta caracter´ıstica. eixo-x. Assim, u = u (x, t) satisfaz    u = u0 (y) . 1  (x − y) ⇐⇒ y = x − ta (u)  t = a (u0 (y)). (2.4). Assumindo u0 diferenci´avel e usando o teorema da func¸a˜ o impl´ıcita, obtemos u, soluc¸a˜ o de (2.4), como func¸a˜ o diferenci´avel de x e t, para t suficientemente pequeno. Como u = u0 (x − ta (u)), tem-se ux =. −u00 a u00 , u = . t 1 + u00 au t 1 + u00 au t. (2.5). Assim, pode-se ver, substituindo os resultados obtidos imediatamente acima em (2.2), que u como definida em (2.4) satisfaz (2.2). Assuma, agora, que a equac¸a˜ o ut + a (u) ux = 0 e´ genuinamente n˜ao-linear, ou seja, au 6= 0 para todo u. Sem perda de generalidade, suponha au > 0. Assim, se u00 > 0, ∀x, ent˜ao (2.5) s˜ao func¸o˜ es limitadas para todo t > 0. Sendo θ = inclinac¸a˜ o θ, ou seja,. θ0 =. 1 a (u0 (y)). , ent˜ao a func¸a˜ o da. −1 0 ´ decrescente quando u00 > 0, isto e´ , quando 2 au u0 e [a (u0 (y))]. u0 (x) e´ uma func¸a˜ o crescente de x. Assim, as caracter´ısticas cobrem o semi-plano t > 0. 13.

(22) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann Agora, se u00 < 0 em algum ponto, tanto ut como ux tendem a ∞ quando (1 + u00 au (u0 ) t) se aproxima de 0 e, al´em disso, existem y1 , y2 tais que y1 < y2 , u1 = u0 (y1 ) > u0 (y2 ) = u2 e a1 = a (u1 ) > a (u2 ) = a2 , pois au > 0 . Assim, as caracter´ısticas saindo de y1 e y2 se interceptam em t =. y2 − y1 . a1 − a2. t. (x, t). 1 a1. y1. 1 a2. y2. x. Figura 2.2: Intersecc¸a˜ o entre caracter´ısticas em t =. y2 − y1 . a1 − a2. No ponto de intersecc¸a˜ o na Figura 2.2, u = u0 (y1 ) = u1 e, tamb´em, u = u0 (y2 ) = u2 , que e´ uma impossibilidade, pois u1 > u2 . Logo, se o valor inicial u0 n˜ao for uma func¸a˜ o crescente de x, tanto a forma geom´etrica quanto a anal´ıtica n˜ao garantem existˆencia de u (x, t) cont´ınua, ∀t > 0, com valor inicial u0 que seja soluc¸a˜ o de (2.2). Se voltarmos o estudo a experimentos com fluidos compress´ıveis poderemos responder o que acontece depois que a soluc¸a˜ o cont´ınua p´ara de existir. Esses experimentos mostram claramente o aparecimento de soluc¸o˜ es descont´ınuas. Vejamos o caso mais simples, o qual satisfaz ut +fx = 0, em cada lado de uma curva suave x = y (t) atrav´es da qual u e´ descont´ınua. Denotamos por ul e ur os valores de u a` esquerda e a` direita de x = y (t), respectivamente. Escolhemos a e b tal que a curva intersecte o intervalo a 6 x 6 b em t (Figura 2.3). 14.

(23) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann. t ul t. ur y. a. b. x = y(t). x. Figura 2.3: Descontinuidade.. Denotamos por I (t) a quantidade I (t) =. Z. b. u (x, t) dx =. a. Z. y(t). u (x, t) dx. +. a. Z. b. u (x, t) dx ,. y(t). chamamos de F (x, t) a func¸a˜ o primitiva de u (x, t). Ent˜ao, Z y(t) Z b ∂F (x, t) ∂F (x, t) I (t) = dx + dx ∂x ∂x a y(t) = F (y (t) , t) − F (a, t) + F (b, t) − F (y (t) , t) e dI (t) = Fx (y (t) , t) y˙ + Ft (y (t) , t) − Ft (a, t) dt + Ft (b, t) − Fx (y (t) , t) y˙ − Ft (y (t) , t) = ul y˙ +. Z. y(t). ut (x, t) dx +. a. Z. b. ut (x, t) dx − ur y˙ .. y(t). Como ut + fx = 0, temos ut = −fx e substituindo: dI (t) = ul y˙ − ur y˙ − f (ul ) + f (u (a)) − f (u (b)) + f (ur ) . dt 15.

(24) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann Denotando por y˙ = s a velocidade de propagac¸a˜ o da descontinuidade, temos dI (t) = f (u (a)) − f (ul ) + ul s − f (u (b)) + f (ur ) − ur s. dt Combinando este resultado com a lei de conservac¸a˜ o, onde dI (t) = dt. Z. definimos a condic¸a˜ o-salto. b a.

(25) b

(26) ut dx = −f

(27) = f (u (a)) − f (u (b)), a. −f (ul ) + ul s + f (ur ) − ur s = 0 s (ul − ur ) = f (ul ) − f (ur ) s [u] = [f ] ,. (2.6). em que [u] e [f ] denotam o salto de u e f atrav´es de y. Essa relac¸a˜ o e´ tamb´em conhecida como condic¸a˜ o de Rankine-Hugoniot. Chamamos as descontinuidades do tipo salto que se propagam com velocidade “s” e separam dois estados ul e ur por choque. Vamos exemplificar a resoluc¸a˜ o de um problema de Cauchy onde descontinuidades aparecem. 1 Exemplo 2.1. Tome f (u) = u2 e 2   1, 1 − x, u0 (x) =  0,. para x 6 0 para 0 6 x 6 1 para x > 1. Observe que para t ≤ 1 a soluc¸a˜ o geom´etrica, Figura 2.4, e´ u´ nica.. 16.

(28) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann t. 1. 0. 1. x. Figura 2.4: Soluc¸a˜ o geom´etrica com multiplicidade. O mesmo n˜ao acontece para t ≥ 1, onde definimos. u (x, t) =.  (1 + t)     1, se x < 2. ..     0, se x > (1 + t) 2. A descontinuidade separa o estado a` esquerda ul = 1 do estado a` direita ur = 0 e satisfazendo a condic¸a˜ o-salto (2.6) para a f (u) deste exemplo, temos s [u] = [f ] s =. f (ur ) − f (ul ) ur − ul. s =. −1/2 1 = . −1 2. Temos outro exemplo onde introduzindo soluc¸o˜ es generalizadas e´ poss´ıvel resolver um problema de Cauchy que n˜ao poderia ser solucionado com a classe de soluc¸o˜ es cont´ınuas. Por´em, deve-se tomar cuidado para que a classe de soluc¸o˜ es n˜ao seja t˜ao grande ao ponto que exista multiplicidade de soluc¸o˜ es generalizadas para o mesmo problema. 1 Exemplo 2.2. Tome f (u) = u2 e 2 17.

(29) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann. u0 (x) =. . 0, 1,. para x < 0 para x > 0. Observe na Figura 2.5 a soluc¸a˜ o geom´etrica.. t. (x, t). x. 0. Figura 2.5: Soluc¸a˜ o geom´etrica.. Como essa soluc¸a˜ o n˜ao est´a determinada na cunha 0 < x < t, definimos ent˜ao,. u (x, t) =.     0,    1,. se x <. t 2. t se x > 2. ,. (2.7). onde a velocidade de propagac¸a˜ o da descontinuidade ser´a s=. 1/2 − 0 1 [f ] = = . [u] 1 2. Por´em, u(x, t) =. x , se 0 6 x 6 t , t. (2.8). tamb´em satisfaz ut + a(u)ux = 0 e, al´em disso, preenche o espac¸o vazio da soluc¸a˜ o geom´etrica acima. Mas devemos rejeitar a soluc¸a˜ o (2.7) acima por n˜ao satisfazer o seguinte crit´erio introduzido por Lax, [11]: 18.

(30) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann as caracter´ısticas comec¸ando em qualquer lado da curva de descontinuidade, quando estendidas na direc¸a˜ o positiva de t, cruzam a linha de descontinuidade. Este e´ o caso se a(ul ) > s > a(ur ).. (2.9). A relac¸a˜ o (2.9) e´ chamada de condic¸a˜ o de entropia de Lax. Quando a(u) > 0, tem-se ul > ur , que n˜ao acontece para a soluc¸a˜ o (2.7). A condic¸a˜ o de entropia deixa cada ponto da descontinuidade ser alcanc¸ado por caracter´ısticas em ambos os lados, de tal forma que o choque e´ influenciado pelos valores iniciais da soluc¸a˜ o.. 2.2 Soluc¸o˜ es Fracas Esta sec¸a˜ o trata do conceito de soluc¸a˜ o generalizada para leis de conservac¸a˜ o. Definic¸a˜ o 2.1. Uma func¸a˜ o limitada e mensur´avel u (x, t) e´ chamada soluc¸a˜ o fraca do problema de valor inicial . ut + f (u)x = 0 , u (x, 0) = u0. (2.10). com valor inicial u0 limitado e mensur´avel, quando vale a relac¸a˜ o ZZ. (uφt + f (u) φx ) dxdt + t>0. Z. u0 φ dx = 0,. (2.11). t=0. para toda φ ∈ C01 (conjunto das func¸o˜ es de classe C 1 com suporte compacto em t > 0). Daremos uma justificativa para a definic¸a˜ o acima, obtendo a relac¸a˜ o (2.11). Vamos supor, por um momento, que u e´ uma soluc¸a˜ o cl´assica do problema de valor inicial citado na definic¸a˜ o. Sendo C01 a classe de func¸o˜ es φ ∈ C 1 tal como na definic¸a˜ o anterior, isto e´ , (supp φ) ∩ (t > 0) ⊆ D, onde supp φ denota o suporte de φ e D e´ o retˆangulo 0 6 t 6 T , a 6 x 6 b, escolhido de forma que φ = 0 fora de D e nas linhas t = T , x = a, x = b. 19.

(31) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann Multiplicando ut + f (u)x = 0 por φ e integrando sobre t > 0 obtemos ZZ ZZ. D. (ut + f (u)x ) φ dxdt =. t>0. Z bZ. T. Z bZ. T. Z b 

(32) T Z

(33) ut φ dtdx = uφ

(34) −. T. (ut + f (u)x ) φ dxdt =. ⇔. Z bZ. T. ut φ dtdx +. a 0. a 0. a 0. (ut + f (u)x ) φ dtdx = 0. f (u)x φ dtdx = 0.. Integrando por partes tem-se. Z bZ. a 0. T. 0. a. =. 0.  uφt dt dx. b. Z. [u (x, T ) φ (x, T ) − u (x, 0) φ (x, 0)] dx−. a. −. Z bZ. T. uφt dtdx. a 0. Z. b. T. f (u)x φ dtdx =. Z. T. =. Z. =. −u0 (x) φ (x, 0) dx −. Z bZ. T. uφt dtdx. a 0. a. e. Z bZ. a 0. T. . 0. 

(35) b Z b

(36) f (u) φx dx dt = f (u) φ

(37) − a. a. [f (u (b, t)) φ (b, t) − f (u (a, t)) φ (a, t)] dt−. 0. −. Z TZ 0. =−. b. f (u) φx dxdt =. a. Z TZ 0. b. f (u) φx dxdt. a. 20.

(38) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann Portanto, Z. b. −u0 (x) φ (x, 0) dx −. Z bZ. T. uφt dtdx −. a 0. a. ⇔. Z bZ. Z TZ 0. T. (uφt + f (u) φx ) dxdt +. a 0. Z. b. f (u) φx dxdt = 0. a. u0 φ dx = 0.. t=0. Mostramos, assim, que se u e´ uma soluc¸a˜ o cl´assica de (2.10), ent˜ao (2.11) vale para toda φ ∈ C01 . Al´em disso, a condic¸a˜ o (2.11) faz sentido se tivermos u e u0 limitadas e mensur´aveis. Com isso e os resultados da sec¸a˜ o precedente temos que a func¸a˜ o descont´ınua   u , para x < st l u(x, t) = ,  u , para x > st r. com s ∈ R, e´ um choque (soluc¸a˜ o fraca) de (2.10) se, e somente se, satisfaz a condic¸a˜ o de Rankine-Hugoniot: s [u] = [f ] , onde s e´ a velocidade de propagac¸a˜ o da descontinuidade. E´ bom salientar que todas as definic¸o˜ es e conceitos apresentados anteriormente nestas sec¸o˜ es s˜ao an´alogos para sistemas de leis de conservac¸a˜ o que ser˜ao vistos adiante.. 2.3 Noc¸o˜ es b´asicas sobre o problema de Riemann Nesta sec¸a˜ o, trabalharemos com o problema de Riemann, definido como um caso particular de um problema de Cauchy para o sistema 2 × 2 de leis de conservac¸a˜ o Ut + F (U)x = 0 , 21. (2.12).

(39) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann com U = U(x, t) ∈ R2 , F : R2 −→ R2 , −∞ < x < ∞ e t > 0; e sujeito a` condic¸a˜ o inicial   U , para x < 0 L U(x, 0) = ,  U , para x > 0 R. (2.13). onde, UL , UR ∈ R2 , s˜ao constantes.. A func¸a˜ o F e´ chamada func¸a˜ o de fluxo e deve ser, pelo menos, de classe C 2 . Os pontos do dom´ınio da F s˜ao chamados estados, o conjunto dos estados e´ chamado espac¸o de estados e o plano (x, t) e´ chamado espac¸o f´ısico. Determinar geometricamente uma soluc¸a˜ o para o problema de Riemann e´ , de certa forma, fazer uma conex˜ao entre os estados constantes UL e UR . Essa conex˜ao dever´a obedecer a certas condic¸o˜ es que veremos mais adiante. O sistema (2.12) e´ dito hiperb´olico se os autovalores λi (U), i = 1, 2, da matriz jacobiana de F , denotada por DF (U), forem reais e λ1 ≤ λ2 , ∀ U ∈ R2 . O mesmo sistema e´ chamado estritamente hiperb´olico em U se os autovalores s˜ao reais e λ1 (U) 6= λ2 (U). Estados U onde λ1 (U) = λ2 (U), com DF (U) = λI, s˜ao chamados pontos umb´ılicos. Uma func¸a˜ o U(x, t) e´ uma soluc¸a˜ o fraca de (2.12) - (2.13), analogamente ao caso escalar visto anteriormente, se U e F s˜ao func¸o˜ es integr´aveis em todo conjunto compacto do semi-plano t≥0e Z. 0. ∞. Z. ∞. [φt (x, t)U(x, t) + φx (x, t)F (U(x, t))] dxdt +. −∞. Z. ∞. φ(x, 0)U(x, 0) dx = 0 −∞. e´ satisfeita para toda func¸a˜ o teste suave φ de suporte compacto em t ≥ 0. Observe que se U(x, t) e´ soluc¸a˜ o do sistema (2.12)-(2.13), ent˜ao U(ax, at), para a > 0, x ˜ . Ent˜ao, com tamb´em o e´ . Assim, faz sentido procurarmos soluc¸o˜ es da forma U(x, t) = U t x a mudanc¸a de vari´aveis ξ = , em (2.12), e supondo U suave, temos t −U˜ (ξ) 0. x 1 ˜0 ˜ + dF ( U(ξ)) U (ξ) = t2 t 22.

(40) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann h i 0 ˜ DF (U(ξ)) − ξI U˜ (ξ) = 0 ,. (2.14). 0 onde U˜ (ξ) denota a derivada de U˜ em relac¸a˜ o a` vari´avel ξ e I denota a matriz identidade.. ˜ De (2.14) tem-se que U˜ (ξ) e´ autovetor a` direita de DF (U(ξ)) associado ao autovalor 0. λ = ξ, o que implica que as soluc¸o˜ es suaves do problema de Riemann est˜ao sobre as curvas integrais desses autovetores, logo satisfazem: dU˜ (ξ) = ri (U˜ (ξ)) , dξ onde ri (U˜ (ξ)) denota o autovetor associado a` velocidade caracter´ıstica λi , i = 1, 2. Dizemos que o estado UR e´ conect´avel a UL por uma i-rarefac¸a˜ o (ou onda de rarefac¸a˜ o associada a` fam´ılia i) (i=1 ou 2), se esses estados est˜ao na curva integral do autovetor ri (U˜ (ξ)) e λi (U) cresce no sentido de UL para UR . Assim, uma i-curva de rarefac¸a˜ o (i=1 ou 2) por UL e´ o conjunto de estados U que podem ser conectados a UL por uma i-rarefac¸a˜ o. Fazer a exigˆencia de que λi (U) cresce no sentido de UL para UR quer dizer que, no x espac¸o f´ısico (x, t), a inclinac¸a˜ o deve ser estritamente crescente da esquerda para a direita, de t forma que as i-caracter´ısticas formam um leque de retas, passando pela origem, com inclinac¸o˜ es crescendo de λi (UL ) a λi (UR ) (Figura 2.6).. Continuando ainda com mais definic¸o˜ es, dizemos que o sistema (2.12) e´ genuinamente n˜ao-linear se a i-´esima velocidade caracter´ıstica e´ uma func¸a˜ o estritamente mon´otona sobre a curva integral do campo de vetores associado, ou seja, se o produto interno ∇λi (U) · ri (U) 6= 0, ∀ U ∈ Ω ⊂ R2 , para todo campo de vetores da DF (U). Com isso, caracterizamos as soluc¸o˜ es cont´ınuas do problema de Riemann. Vamos, agora, caracterizar as descontinuidades. Analogamente a sec¸a˜ o 2.1 deste cap´ıtulo, definimos por choque as descontinuidades do 23.

(41) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann. t. UL 0. UR. x. Figura 2.6: Rarefac¸a˜ o no espac¸o f´ısico. tipo salto que se propagam com velocidade “s” e separam dois estados UL e UR . E para sistemas 2 × 2, como apresentado no in´ıcio desta sec¸a˜ o, a func¸a˜ o descont´ınua   U , para x < st L U(x, t) =  U , para x > st R. ,. com s ∈ R, e´ um choque (soluc¸a˜ o fraca) do sistema (2.12)-(2.13) se, e somente se, satisfaz a equac¸a˜ o de Rankine-Hugoniot: H(UL , s, UR ) = F (UR ) − F (UL ) − s(UR − UL ) = 0 ,. (2.15). onde s e´ a velocidade de propagac¸a˜ o da descontinuidade. Com UL fixo, a relac¸a˜ o de Rankine-Hugoniot representa um sistema de 2 equac¸o˜ es e 3 inc´ognitas, o que tem como soluc¸a˜ o a equac¸a˜ o de uma curva em R3 , chamada curva de choque ou curva de Hugoniot. Na abordagem cl´assica de problemas de Riemann consideramos a projec¸a˜ o desta curva no espac¸o de estados. Os choques e rarefac¸o˜ es usados na construc¸a˜ o da soluc¸a˜ o de um problema de Riemann s˜ao chamados ondas elementares. Uma soluc¸a˜ o do problema de Riemann para o sistema (2.12)-(2.13) e´ constitu´ıda de uma sequˆencia de ondas elementares intercaladas por estados constantes conectando UL a UR e com 24.

(42) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann velocidade crescente no espac¸o (x, t). Definimos ainda grupo de ondas como uma sequˆencia de ondas elementares conectando UL a UR sem estados constantes separando as ondas. Uma i-curva de onda (i=1 ou 2) por um estado UL e´ o conjunto de estados U que podem ser conectados a` direita de UL por um grupo de ondas da i-fam´ılia caracter´ıstica (i=1 ou 2). Na construc¸a˜ o de uma soluc¸a˜ o para o problema de Riemann, a primeira condic¸a˜ o que a conex˜ao UL − UR deve obedecer, chamada condic¸a˜ o de compatibilidade, e´ que a velocidade final de cada onda usada deve ser menor que a velocidade inicial da onda seguinte. A condic¸a˜ o de compatibilidade faz com que conjuntos de estados onde a velocidade caracter´ıstica e´ cr´ıtica tornem-se importantes, pois a soluc¸a˜ o de problemas de Riemann podem sofrer alterac¸o˜ es quando UL cruza algum desses conjuntos. Esses conjuntos s˜ao definidos como conjuntos de bifurcac¸a˜ o. Al´em da condic¸a˜ o de compatibilidade, surgem, tamb´em, os crit´erios de entropia, os quais explicaremos a seguir.. 2.4 Crit´erios de entropia As condic¸o˜ es de entropia surgiram do fato de que o problema estudado tem interesse real, ou seja, por acontecerem fenˆomenos naturais que s˜ao modelados por esse problema. Com isso, espera-se unicidade de soluc¸a˜ o e como soluc¸o˜ es m´ultiplas do problema de Riemann s˜ao originadas pelos choques, utiliza-se essas condic¸o˜ es a fim de que apenas soluc¸o˜ es u´ nicas e fisicamente relevantes sejam selecionadas. • Crit´erio de entropia de Lax Em [11], Lax introduziu um crit´erio de entropia para sistemas estritamente hiperb´olicos e genuinamente n˜ao-lineares. Segundo ele, um choque admiss´ıvel associado a` i-´esima fam´ılia 25.

(43) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann caracter´ıstica, e´ uma descontinuidade entre os estados UL e UR , que se propaga com velocidade s, e satisfaz λi (UR ) < s < λi (UL ) , λi−1 (UL ) < s < λi+1 (UR ). Um choque satisfazendo λ1 (UL ) > s > λ1 (UR ) e λ2 (UR ) > s e´ chamado 1-choque de Lax denotado por S1 e um satisfazendo λ2 (UL ) > s > λ2 (UR ) e λ1 (UL ) < s e´ um 2-choque de Lax denotado por S2 . Para sistemas que n˜ao s˜ao estritamente hiperb´olicos o crit´erio de Lax e´ insuficiente para garantir existˆencia de soluc¸a˜ o. Por isto outros tipos de choque s˜ao considerados, dentre os quais destacamos os choques de cruzamento que satisfazem λ1 (UL ) < s < λ2 (UL ) ,. (2.16). λ1 (UR ) < s < λ2 (UR ) . Um crit´erio de entropia mais geral que o de Lax e´ o chamado crit´erio de viscosidade. • Crit´erio de entropia de viscosidade Introduzido por Gel’Fand em [6] e Courant e Friedrichs em [5], este crit´erio considera admiss´ıveis choques que s˜ao limites de ondas viajantes de um sistema parab´olico associado, obtido com o acr´escimo de um pequeno termo difusivo no sistema (2.12), ou seja, Ut + (F (U))x = [D(U)Ux ]x ,. (2.17). com  > 0, onde D(U) e´ uma matriz cujos autovalores tˆem parte real positiva e e´ chamada matriz de viscosidade. As descontinuidades que s˜ao limites, quando  → 0+ , de soluc¸o˜ es suaves de (2.17) da   x − st ˜ , satisfazendo U˜ (−∞) = UL e U˜ (+∞) = UR s˜ao chamadas forma U(x, t) = U  ondas viajantes com velocidade s. 26.

(44) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann ˜ em (2.17), temos Substituindo U   s 1 1 ˜0 1 0 0 00 0 0 0 ˜ ˜ ˜ ˜ ˜ ˜ ˜ −U (ξ) + F (U(ξ))U (ξ) =  D (U (ξ))U (ξ) 2 U (ξ) + D(U(ξ))U (ξ) 2     0 0 ˜ ˜ 0 (ξ)]0 . −sU˜ (ξ) + F (U(ξ)) = [D(U˜ (ξ))U. Integrando com relac¸a˜ o a` ξ, ˜ ˜ ˜ 0 (ξ)] + C. −sU˜ (ξ) + F (U(ξ)) = [D(U(ξ)) U. Como UL e´ soluc¸a˜ o, −sUL + F (UL ) = C. Portanto, obtemos o sistema dinˆamico h i dU ˜ ˜ ˜ ˜ , D (U) −s[U − UL ] + F (U ) − F (UL ) = dξ −1. (2.18). que depende dos parˆametros ul , vl e s, onde UL e UR s˜ao singularidades que est˜ao sobre uma curva de Hugoniot. Assim, um choque e´ admiss´ıvel segundo o crit´erio de viscosidade se existir uma o´ rbita do sistema dinˆamico (2.18) conectando UL e UR e tal que ˜ lim U(ξ) = UL. ξ→−∞. e lim U˜ (ξ) = UR .. ξ→+∞. Choques satisfazendo a condic¸a˜ o de viscosidade s˜ao ditos admiss´ıveis ou com perfil viscoso. Omitiremos, por simplicidade, a` partir deste ponto do trabalho o “ ˜ ” da notac¸a˜ o acima. 27.

(45) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann. 2.5 Classificac¸a˜ o dos pontos cr´ıticos Para o sistema dinˆamico (2.18), um ponto cr´ıtico e´ , como j´a foi dito, um estado Uc que satisfaz a relac¸a˜ o de Rankine-Hugoniot para UL e s fixados. O comportamento das soluc¸o˜ es na vizinhanc¸a de um ponto cr´ıtico Uc e´ refletido nas caracter´ısticas qualitativas das soluc¸o˜ es da linearizac¸a˜ o de (2.18) em torno de Uc : 0. [−s + DF (Uc )](U − Uc ) = D(Uc )U .. Considerando o caso onde D(Uc ) e´ a matriz identidade e denotando dH = −sI + DF (U), onde H = −s[U − UL ] + F (U) − F (UL ), temos que ˜ dU =H. dξ. (2.19). Assim, os autovalores de dH s˜ao dados por µi (Uc ) = λi (Uc ) − s , onde λi (Uc ) s˜ao os autovalores de DF (Uc ). Neste caso, um 1-choque de Lax deve satisfazer µ1 (UL ) = λ1 (UL ) − s > 0, µ2 (UL ) = λ2 (UL ) − s > 0, µ1 (UR ) = λ1 (UR ) − s < 0 e µ2 (UR ) = λ2 (UR ) − s > 0. As duas primeiras desigualdades implicam que UL e´ um n´o repulsor de (2.19), enquanto as duas u´ ltimas implicam que UR e´ uma sela de (2.19). Analogamente, um 2-choque de Lax deve satisfazer µ1 (UL ) = λ1 (UL ) − s < 0 , µ2 (UL ) = λ2 (UL ) − s > 0 , µ1 (UR ) = λ1 (UR ) − s < 0 e µ2 (UR ) = λ2 (UR ) − s < 0. Neste caso, as duas primeiras desigualdades nos d´a que UL e´ uma sela enquanto as outras desigualdades implicam que UR e´ um n´o atrator de (2.19). Assim, vemos que um choque de 28.

(46) Cap´ıtulo 2. O problema de Riemann Lax que satisfaz o crit´erio de viscosidade (S1 ou S2 ) est´a associado a uma ligac¸a˜ o entre uma sela e um n´o. No caso de uma descontinuidade de cruzamento, que satisfaz (2.16), temos µ1 (UL ) = λ1 (UL ) −s < 0 , µ2 (UL ) = λ2 (UL ) −s > 0, µ1 (UR ) = λ1 (UR ) −s < 0 e µ2 (UR ) = λ2 (UR ) − s > 0. Ou seja, um choque de cruzamento (UL , s, UR ) satisfaz o crit´erio de viscosidade se existir uma o´ rbita conectando as selas UL e UR . Choques de cruzamento admiss´ıveis s˜ao chamados choques transicionais. No caso em que D(Uc ) n˜ao e´ m´ultiplo da identidade, o sinal de λi (Uc ) − s nem sempre determina a natureza do ponto cr´ıtico Uc .. 29.

(47) ´ CAPITULO 3 A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o. Neste cap´ıtulo, faremos um estudo do comportamento local da soluc¸a˜ o de um problema de Riemann para um sistema hiperb´olico atrav´es de uma an´alise em torno do ponto umb´ılico. Schaeffer e Shearer, em [14], mostraram em detalhes que existe uma forma normal para o sistema de leis de conservac¸a˜ o. Aqui, daremos uma id´eia do que foi feito por eles.. 3.1 Alguns resultados para modelos quadr´aticos Nesta sec¸a˜ o faremos um estudo do sistema 2 × 2 de leis de conservac¸a˜ o Ut + F (U)x = 0 , na vizinhanc¸a de um ponto umb´ılico, U = U ∗ , onde U e F s˜ao dados como no cap´ıtulo anterior. Para isso, consideramos a s´erie de Taylor para F (U) em torno de U ∗ : F (U) = F (U ∗ ) + dF (U ∗ )(U − U ∗ ) + Q(U − U ∗ ) + r , 30. (3.1).

(48) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o onde r representa o resto e Q : R2 → R2 e´ uma aplicac¸a˜ o quadr´atica homogˆenea. Denotamos a s´erie truncada por FT (U) : FT (U) = F (U ∗ ) + dF (U ∗ )(U − U ∗ ) + Q(U − U ∗ ) .. Neste trabalho, estamos interessados em modelos que satisfazem as hip´oteses ´ HIPOTESES (H): (H1) dF (U ∗ ) e´ diagonaliz´avel; (H2) dFT (U) tem autovalores distintos ∀U ∈ V − {U ∗ }, onde V e´ uma vizinhanc¸a de U ∗ . As proposic¸o˜ es abaixo s˜ao u´ teis no estudo de modelos que satisfazem (H1) e (H2). Antes de enunci´a-las, vamos introduzir a aplicac¸a˜ o dev : Λ −→ Γ que associa a cada matriz do espac¸o das matrizes (reais) 2 × 2, denotado por Λ, uma matriz do espac¸o das matrizes sem trac¸o (tr = 0), denotado por Γ, que podemos escrever nas coordenadas  . X. Y +Z. Y −Z. −X. . .. (3.2). Consideramos ent˜ao, M uma matriz (real) 2 × 2 e 1 dev M = M − (trM)I , 2 a projec¸a˜ o de M no espac¸o das matrizes sem trac¸o. Assim, por dependerem de apenas trˆes coordenadas, essas matrizes dev M podem ser vistas como pontos em R3 . Proposic¸a˜ o 3.1. M tem autovalores iguais e e´ diagonaliz´avel se, e somente se, dev M = 0. Demonstrac¸a˜ o. Se M tem autovalores iguais e e´ diagonaliz´avel, ent˜ao existe uma base β de autovetores de M tal que [M]β e´ diagonal e a diagonal e´ formada pelos autovalores correspon      1 α 0 α 0 1 0 dentes, ent˜ao, suponha M = . Assim, dev M = − 2α = 0. 0 α 0 α 0 1 2 31.

(49) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o. Agora, se M =. . α β γ θ. . , com dev M = 0, ent˜ao. 1 M = (trM)I ⇐⇒ M = 2. . 1 (α 2. + θ) 0. 0 1 (α + θ) 2. . ,. o que prova a afirmac¸a˜ o. Proposic¸a˜ o 3.2. M tem autovalores reais distintos, reais iguais ou complexos conjugados, se dev M est´a fora, sobre, ou dentro do cone X 2 + Y 2 = Z 2 , respectivamente.. Demonstrac¸a˜ o. Seja M =. . . e, denotando a − d = X,. (a − d)/2 b c −(a − d)/2. .  a b , c d. uma. matriz. gen´erica. b=. Y +Z , 2. Assim, c=. dev M =. Y −Z , temos a 2. forma (3.2). Ent˜ao, calculando os autovalores de M e pensando nessas matrizes dev M como pontos em R3 , temos det(M − λI) = λ2 − (a + d)λ + ad − bc = 0 . E o discriminante ∆ = (a − d)2 + 4bc . Logo, (Y + Z) (Y − Z) > 0 ⇔ X 2 + Y 2 > Z 2 , ou 2 2 seja, se M tem autovalores reais e distintos, ent˜ao dev M est´a fora do cone,. • ∆ > 0 ⇔ (a − d)2 + 4bc > 0 ⇔ X 2 + 4. • ∆ = 0 ⇔ (a − d)2 + 4bc = 0 ⇔ X 2 + Y 2 = Z 2 , ou seja, se M tem autovalores reais e iguais, ent˜ao dev M est´a sobre o cone, • ∆ < 0 ⇔ (a−d)2 +4bc < 0 ⇔ X 2 +Y 2 < Z 2 , ou seja, se M tem autovalores complexos conjugados, ent˜ao dev M est´a dentro do cone. 32.

(50) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o. Podemos, agora, fazer uma interpretac¸a˜ o das hip´oteses (H) usando as notac¸o˜ es introduzidas acima. Considere uma func¸a˜ o de fluxo F satisfazendo (H) e a aplicac¸a˜ o dev dF : plano -U −→ Γ. .. (u, v) 7−→ {dev dF }. Esta aplicac¸a˜ o define uma superf´ıcie em R3 , denotada por {dev dF }, j´a que podemos associar uma matriz sem trac¸o a pontos de R3 como j´a vimos anteriormente. Sendo U ∗ um ponto umb´ılico, a condic¸a˜ o (H1) implica que U ∗ e´ levado pela aplicac¸a˜ o dev dF na origem (no v´ertice do cone X 2 + Y 2 = Z 2 ). Esta e´ uma implicac¸a˜ o direta da proposic¸a˜ o 3.1. Para DF estritamente hiperb´olica em uma vizinhanc¸a V ∗ = V −{U ∗ }, de U ∗ , a imagem de V ∗ por dev dF deve estar fora do cone, de acordo com a proposic¸a˜ o 3.2. Supondo que esta superf´ıcie {dev dF } e´ n˜ao-singular em U ∗ (diferencial injetiva), seguese que o plano tangente est´a fora da regi˜ao fechada {X 2 + Y 2 ≥ Z 2 }, ou seja, temos a seguinte proposic¸a˜ o: Proposic¸a˜ o 3.3. A condic¸a˜ o (H2) de (H) e´ satisfeita se, e somente se, a superf´ıcie {dev dF } e´ n˜ao-singular em U ∗ e, exceto para U ∗ , o plano tangente est´a na regi˜ao aberta {X 2 + Y 2 > Z 2 }. Demonstrac¸a˜ o. Note que dev dFT , onde FT e´ o polinˆomio de Taylor de grau 2 truncado, e´ uma aplicac¸a˜ o linear a qual define um plano tangente a {dev dF }. Essa aplicac¸a˜ o deve ser n˜aosingular (injetiva), pois caso seu n´ucleo fosse diferente de zero, dFT teria autovalores iguais neste subespac¸o, violando, portanto, a condic¸a˜ o (H2). Agora, (H2) requer que uma vizinhanc¸a furada de U ∗ no plano tangente esteja na regi˜ao aberta {X 2 + Y 2 > Z 2 }, pela proposic¸a˜ o 3.2. Por homogeneidade pode-se estender essa conclus˜ao para o plano tangente inteiro. Observac¸o˜ es 3.4. A Figura 3.1 apresenta quatro configurac¸o˜ es para a superf´ıcie {dev dF }. A Figura 3.1(a) mostra essa superf´ıcie intersectando o cone X 2 + Y 2 = Z 2 da maneira requerida 33.

(51) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o pelas hip´oteses (H). Em contraste, a Figura 3.1(b) mostra o caso em que a condic¸a˜ o (H1) falha, por´em (H2) n˜ao, ou seja, {dev dF } e´ n˜ao-singular. Ainda contrastando com a Figura 3.1(a), a Figura 3.1(c) mostra o caso em que o ponto umb´ılico e´ levado na origem, ou seja, (H1) e´ satisfeita, mas (H2) n˜ao. J´a a Figura 3.1(d) difere da Figura 3.1(a) somente pela inclinac¸a˜ o da superf´ıcie {dev dF }. Neste caso existe uma reta de pontos umb´ılicos.. Z. Z. Y {devDF }. 0. Y. {devDF } 0. X. X. (a). (b). Z. Z. Y. Y 0. {devDF }. {devDF }. 0. X. X. (c). (d). Figura 3.1: Configurac¸o˜ es da superf´ıcie {dev dF }.. Escreveremos estas informac¸o˜ es nas coordenadas u e v, para prosseguir nosso estudo. 34.

(52) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o Se U = (u, v) e F = (f, g), ent˜ao a condic¸a˜ o (H1) de (H) implica que, em U ∗ , fu −gv =     fu fv λ 0 =  = λI = dF (U). fv = gu = 0, pois dF (U) =  gu gv 0 λ Com respeito a` (H2) existe um polinˆomio qu´artico homogˆeneo na segunda derivada de F no ponto umb´ılico, p(Q), tal que p(Q) e´ positivo se, e somente se, (H2) e´ satisfeita. De fato, seja n = (n1 , n2 , n3 ) a normal ao plano tangente de {dev dFT }. Devido a` Proposic¸a˜ o 3.3, basta mostrar que o plano tangente est´a fora do cone. Isto acontece se, e somente se, a normal est´a dentro do cone, isto e´ , se, e s´o se, n1 2 + n2 2 < n3 2 . Mas,   1 1 2 2 f u + f uv + f v uu uv 2 vv , onde todas as derivadas segundas s˜ao avaliadas no Q(u, v) =  2 1 1 2 2 g u + guv uv + 2 gvv v 2 uu. ponto umb´ılico.. Com os vetores do plano tangente de {dev dFT }, tu = (fuu − guv , fuv + guu , fuv − guu ) e tv = (fuv − gvv , fvv + guv , fvv − guv ), calculamos o vetor normal n = tu × tv e obtemos, assim, p(Q) = n3 2 − n1 2 − n2 2 , que e´ o . polinˆomio desejado. Podemos resumir essas informac¸o˜ es no lema seguinte.. Lema 3.5. F satisfaz as hip´oteses (H) se, e somente se, existe um ponto U ∗ onde fu − gv = fv = gu = 0 e onde p(Q) > 0. Faremos agora reduc¸o˜ es em (3.1) e introduziremos algumas definic¸o˜ es e lemas a fim de mostrar que existe uma forma normal para o sistema de leis de conservac¸a˜ o. Primeiro, podemos assumir que a expans˜ao (3.1) comec¸a com termos lineares, j´a que o sistema de leis de conservac¸a˜ o n˜ao muda se trocarmos F (U) por F (U) − F (U ∗ ). A seguir, 35.

(53) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o como dF (U ∗ ) e´ diagonaliz´avel, temos dF (U ∗ ) = λI, para algum λ ∈ R; por fim, a mudanc¸a 0. de vari´aveis x = x − λt elimina os termos lineares e tomando U ∗ como a origem (renomeamos U − U ∗ como U), obtendo F (U) = Q(U) + r . Assim nosso foco, a` partir de agora, ser´a sobre n˜ao-linearidades puramente quadr´aticas Ut + Q(U)x = 0.. (3.3). Para o caso em que consideramos os termos de ordem mais alta, r, contanto que Q satisfac¸a algumas hip´oteses, o teorema 2.4 de [14] garante que existe uma correspondˆencia biun´ıvoca entre as curvas de onda de F atrav´es do ponto umb´ılico com as curvas de ondas de Q atrav´es deste mesmo ponto. Mais ainda, toda tal curva de onda de F e´ tangente, no ponto umb´ılico, a` curva de onda de Q (cf. demonstrac¸a˜ o em [14]).. 3.2 A forma normal Iremos, nesta sec¸a˜ o, concluir o objetivo principal deste cap´ıtulo mostrando o teorema que nos d´a condic¸o˜ es para que a func¸a˜ o de fluxo seja gradiente. Duas aplicac¸o˜ es quadr´aticas Q1 : R2 → R2 e Q2 : R2 → R2 s˜ao equivalentes se existe uma matriz constante invert´ıvel S tal que Q2 (U) = S −1 Q1 (SU), ∀U em R2 .. Se Q(U) = dC(U) para C : R2 → R polinˆomio c´ubico homogˆeneo, ent˜ao C e´ chamado de potencial. E Q : R2 → R2 e´ fortemente hiperb´olico se dQ(u, v) tem autovalores reais e e´ diagonaliz´avel para todo (u, v). 36.

(54) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o O estudo da aplicac¸a˜ o dev e´ u´ til nas demostrac¸o˜ es (que podem ser encontradas em [14]) das duas observac¸o˜ es seguintes. Assumiremos estas observac¸o˜ es como resultados e as utilizaremos na demonstrac¸a˜ o do pr´oximo teorema deste cap´ıtulo. Observac¸a˜ o 3.6. Equivalˆencia preserva a estrutura de curvas de onda. Isto e´ , a aplicac¸a˜ o U → S −1 U associa curvas de onda a curvas de onda. Observac¸a˜ o 3.7. Q e´ fortemente hiperb´olico se, e somente se, existe uma aplicac¸a˜ o c´ubica homogˆenea C : R2 → R tal que Q e´ equivalente a` dC. ˜ Lema 3.8. Seja Q : R2 → R2 uma aplicac¸a˜ o quadr´atica com potencial C(U) e seja Q(U) = ˜ S −1 Q(SU). Se S = αI, para algum escalar α 6= 0, ou se S e´ uma matriz ortogonal, ent˜ao Q ˜ tem o potencial C(U) ˜ ˜ tamb´em tem um potencial, especificadamente Q = αC(U) ou C(U) = C(SU), respectivamente.. ˜ e´ sim´etrica, portanto Demonstrac¸a˜ o. Como Q tem um potencial, ent˜ao dQ e´ sim´etrica, logo dQ ˜ tem um potencial. Se S = αI, ent˜ao Q(SU) = α2 Q(U) e temos Q ˜ = 1 α2 Q(U) = α dC. Q α ˜ e´ C˜ = αC(U). Agora, se S e´ ortogonal, temos Q ˜ = S −1 Q(SU) = Assim, o potencial de Q S T Q(SU) = S T dC(SU) = SdC(SU), mas dC˜ = d(C(SU)) = SdC(SU), o que prova o lema. Teorema 3.1. Se Q : R2 → R2 e´ uma aplicac¸a˜ o quadr´atica tal que (3.3) e´ hiperb´olico com um ponto umb´ılico isolado em U = 0, ent˜ao existem a, b com a 6= 1 + b2 tal que Q e´ equivalente a` dC, onde 1 C(u, v) = au3 + bu2 v + uv 2 . 3. (3.4). Demonstrac¸a˜ o. Como (3.3) e´ hiperb´olico com um ponto umb´ılico isolado, Q e´ fortemente hiperb´olico e, pela Observac¸a˜ o 3.7, podemos trocar Q por uma aplicac¸a˜ o equivalente que tem potencial C, polinˆomio c´ubico, que denotaremos em sua forma geral por C(x, y) = αx3 + βx2 y + γxy 2 + δy 3. 37.

(55) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o Dividindo C(x, y) por y 3 temos  2    3 x x x C1 (x, y) = α +β +γ + δ. y y y Agora, . (x, y) ∈ R2 : C1 (x, y) = 0. (3.5). consiste de uma, duas ou trˆes retas atrav´es da origem no plano-xy. Considere, primeiro, o caso em que pelo menos uma das retas e´ obtida de um zero simples de C1 (x, y) = 0. Pelo Lema 3.8 podemos rotacionar as coordenadas de forma que esta reta de zero simples seja o eixo-y (ou seja, δ = 0), ent˜ao, C(x, y) = αx3 + βx2 y + γxy 2 . Mais ainda, pelo Lema 3.8, podemos reescalar Q de forma que o coeficiente γ seja igual a 1, j´a que este deve ser diferente de zero pois o eixo-y e´ uma reta de zero simples. Assim, convenientemente, temos a forma normal (3.4). Para que se verifiquem as hip´oteses (H) e´ necess´ario a 6= 1 + b2 . Sempre e´ poss´ıvel essa construc¸a˜ o j´a que o conjunto (3.5) sempre cont´em pelo menos uma reta de zero simples. Caso (3.5) possua trˆes zeros coincidentes podemos rotacionar as coordenadas de forma que C(x, y) = αx3 e podemos ver que este potencial viola (H). Com isto fica provado o teorema. Com esse teorema, sendo a origem um ponto umb´ılico isolado, podemos escrever sistemas de duas leis de conservac¸a˜ o com U = (u, v)T e func¸a˜ o de fluxo quadr´atica como um sistema da forma   u + 1 (au2 + 2buv + v 2 ) = 0 t x 2 ,  vt + 21 (bu2 + 2uv)x = 0. onde a 6= 1 + b2 e F T se iguala ao gradiente de um polinˆomio c´ubico, como acima.. 38.

(56) Cap´ıtulo 3. A forma normal do sistema de leis de conservac¸a˜ o Observac¸a˜ o 3.9. Schaeffer e Shearer, ainda em [14], estudaram curvas de ondas originando em pontos umb´ılicos e identificaram quatro tipos de problemas que ficaram conhecidos, desde ent˜ao, por problemas do tipo I, II, III, IV, dependendo das regi˜oes em que se encontram. Eles mostraram que a` medida em que a e b variam, existem quatro configurac¸o˜ es diferentes para as curvas de ondas atrav´es de pontos umb´ılicos, correspondendo as quatro regi˜oes no plano-ab como na Figura 3.2.. b. I. II III. 0. 1. IV. 2. a. Figura 3.2: Regi˜oes no plano-ab.. 39.

(57) ´ CAPITULO 4 Ondas transicionais. J´a estudamos em cap´ıtulos precedentes a estrutura das soluc¸o˜ es de problemas de Riemann. Para modelos com duas equac¸o˜ es, estritamente hiperb´olicos e estados iniciais pr´oximos, a soluc¸a˜ o consiste de dois grupos de onda, cada um correspondendo a uma fam´ılia caracter´ıstica [9]. Para modelos mais gerais, a soluc¸a˜ o pode conter ondas transicionais que interpolam (s˜ao transic¸o˜ es) entre as fam´ılias. Neste cap´ıtulo, vamos examinar choques transicionais para modelos quadr´aticos. Estes choques correspondem a o´ rbitas ligando selas do sistema dinˆamico ˙ −s[U(ξ) − U− ] + F (U(ξ)) − F (U− ) = D(U(ξ))U(ξ) , com a func¸a˜ o de fluxo F quadr´atica, neste caso, dada por F = (f, g)T , sendo f (u, v) =. 1 (a u2 2 1. + 2b1 uv + c1 v 2 ) + d1 u + e1 v ,. g(u, v) =. 1 (a u2 2 2. + 2b2 uv + c2 v 2 ) + d2 u + e2 v . 40. (4.1).

(58) Cap´ıtulo 4. Ondas transicionais. 4.1 Modelos quadr´aticos Considerando o sistema de leis de conservac¸a˜ o 2 × 2 com func¸a˜ o de fluxo quadr´atica como dada anteriormente, observamos que a introduc¸a˜ o de uma perturbac¸a˜ o linear na func¸a˜ o de fluxo pode fazer com que o modelo falhe em ser estritamente hiperb´olico em algum lugar do plano-uv, logo, regi˜oes el´ıpticas, onde as velocidades caracter´ısticas s˜ao complexas, ocorrem. Um exemplo onde isto ocorre e´ no modelo de Stone, [3]. Vamos eliminar a velocidade s da condic¸a˜ o de Rankine-Hugoniot −s[U+ − U− ] + F (U+ ) − F (U− ) = 0 . Com U0 = U− fixo, temos uma u´ nica equac¸a˜ o para os estados U = U+ na Hugoniot de U0 . Ent˜ao, −s[U+ − U− ] + F (U+ ) − F (U− ) = 0 . −s . u − u0 v − v0. . . f (u, v) − f (u0, v0 ). +. g(u, v) − g(u0, v0 ). . =0. (4.2). −s(u − u0 ) + f (u, v) − f (u0 , v0 ) = 0 e −s(v − v0 ) + g(u, v) − g(u0, v0 ) = 0.. Com isso, s =. f (u, v) − f (u0 , v0 ) (u − u0 ). e s=. g(u, v) − g(u0 , v0 ) . (v − v0 ). Igualando esses resultados, temos Hu0 ,v0 (u, v) = (u − u0 )[g(u, v) − g(u0, v0 )] − (v − v0 )[f (u, v) − f (u0 , v0 )] = 0. (4.3). De (4.2), temos h. u − u0 v − v0. i. . s. u − u0 v − v0. . =. h. u − u0 v − v0 41. i.  . f (u, v) − f (u0, v0 ) g(u, v) − g(u0, v0 ).  .

(59) Cap´ıtulo 4. Ondas transicionais s[(u − u0 )2 + (v − v0 )2 ] = (u − u0 )[f (u, v) − f (u0 , v0 )] + (v − v0 )[g(u, v) − g(u0, v0 )]. s=. (u − u0 )[f (u, v) − f (u0 , v0 )] + (v − v0 )[g(u, v) − g(u0 , v0 )] . (u − u0 )2 + (v − v0 )2. (4.4). Para modelos quadr´aticos, a curva de Hugoniot por U0 dada por Hu0 ,v0 (u, v) e´ um polinˆomio c´ubico nas vari´aveis u e v, a qual podemos parametrizar por coordenadas polares cen  cos(ϕ) , onde trada em U0 por um aˆ ngulo ϕ. Mais precisamente, escrevendo U = U0 + R  sen(ϕ) R ∈ R representa a distˆancia entre U e U0 , ou ainda, u = u0 + Rcos(ϕ) e v = v0 + Rsen(ϕ) em (4.3) e (4.4), temos Hu0 ,v0 (u, v) = R. 2. . 1 R[α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ)] + α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) 2. . (4.5). e 1 ˜ ˜ s = R[˜ α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ)] + α(ϕ)u ˜ ˜ (ϕ) , 0 + β(ϕ)v0 + γ 2. (4.6). respectivamente, onde α(ϕ) =. 1 2. {(a2 + b1 )cos2ϕ + (b2 − a1 )sen2ϕ + a2 − b1 } ,. β(ϕ) =. 1 2. {(b2 + c1 )cos2ϕ + (c2 − b1 )sen2ϕ + b2 − c1 } ,. γ(ϕ) =. 1 2. {(d2 + e1 )cos2ϕ + (e2 − d1 )sen2ϕ + d2 − e1 } ,. α ˜ (ϕ) =. 1 2. {(a1 − b2 )cos2ϕ + (b1 + a2 )sen2ϕ + a1 + b2 } ,. ˜ β(ϕ) =. 1 2. {(b1 − c2 )cos2ϕ + (c1 + b2 )sen2ϕ + b1 + c2 } ,. γ˜ (ϕ) =. 1 2. {(d1 − e2 )cos2ϕ + (e1 + d2 )sen2ϕ + d1 + e2 } .. Um aˆ ngulo ϕ e´ chamado aˆ ngulo caracter´ıstico para um dado estado U0 quando satisfaz α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) = 0. 42. (4.7).

(60) Cap´ıtulo 4. Ondas transicionais O conjunto de estados U0 satisfazendo (4.7) e´ chamado reta caracter´ıstica denotada por ˆ L(ϕ). Angulos que satisfazem α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ) = 0. (4.8). s˜ao chamados aˆ ngulos assint´oticos. L(ϕ) chama-se reta de bifurcac¸a˜ o se ϕ e´ assint´otico. E´ bom salientar que aˆ ngulos assint´oticos e retas de bifurcac¸a˜ o dependem somente dos coeficientes do modelo e n˜ao de U0 . Observe, tamb´em, que s˜ao v´alidas as seguintes igualdades. 00. . α(ϕ)cosϕ + β(ϕ)senϕ = (−senϕ, cosϕ)F (0)  . 00 ˜ α ˜ (ϕ)cosϕ + β(ϕ)senϕ = (cosϕ, senϕ)F (0) . cosϕ senϕ. cosϕ senϕ. 2.  ,. (4.9). 2.  .. (4.10). Com elas podemos definir aˆ ngulo de viscosidade como sendo o aˆ ngulo que satisfaz (4.9), por´em com a func¸a˜ o de fluxo dada por D −1 F . A reta caracter´ıstica L(ϕ) associada a um aˆ ngulo de viscosidade e´ chamada reta de viscosidade. Com isso, vale o resultado: Proposic¸a˜ o 4.1. (a) Suponha que ϕ n˜ao e´ aˆ ngulo assint´otico. Ent˜ao a reta por U0 com aˆ ngulo ϕ cruza a Hugoniot de U0 em um estado U 6= U0 se, e somente se, ϕ n˜ao e´ um aˆ ngulo caracter´ıstico para U0 . (b) Suponha que ϕ e´ aˆ ngulo assint´otico. Ent˜ao a reta por U0 com aˆ ngulo ϕ cruza a Hugoniot de U0 em um estado U 6= U0 se, e somente se, U0 est´a sobre a reta de bifurcac¸a˜ o associada a ϕ. Neste caso, a Hugoniot cont´em esta reta. Demonstrac¸a˜ o. (a) Se U est´a na Hugoniot de U0 , ent˜ao Hu0 ,v0 (u, v) = R. 2. . 1 R[α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ)] + α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) 2 43. . = 0..

(61) Cap´ıtulo 4. Ondas transicionais Mas R 6= 0, pois U 6= U0 e α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ) 6= 0, j´a que ϕ n˜ao e´ assint´otico. Ent˜ao, R = −2. α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) . α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ). Isso implica que α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) 6= 0. Agora, supondo que ϕ n˜ao e´ um aˆ ngulo caracter´ıstico para U0 e aˆ ngulo n˜ao assint´otico, temos que R = −2. α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) 6= 0 , α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ). e´ soluc¸a˜ o de Hu0 ,v0 (u, v) = 0, logo a reta por U0 com aˆ ngulo ϕ cruza a Hugoniot de U0 em um estado U 6= U0 .. . (b) Se U est´a na Hugoniot de U0 , ent˜ao Hu0 ,v0 (u, v) = R. 2. . 1 R[α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ)] + α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) 2. . = 0.. Mas R 6= 0, pois U 6= U0 e α(ϕ)cos(ϕ) + β(ϕ)sen(ϕ) = 0, j´a que ϕ e´ assint´otico. Ent˜ao, α(ϕ)u0 + β(ϕ)v0 + γ(ϕ) = 0 , ou seja, U0 est´a sobre a reta de bifurcac¸a˜ o associada a` ϕ. Agora, se U0 est´a sobre a reta de bifurcac¸a˜ o e ϕ e´ assint´otico, ent˜ao Hu0 ,v0 (u, v) = 0.. ´ 4.2 Orbitas retas Nesta sec¸a˜ o, vamos voltar nossa atenc¸a˜ o ao estudo de choques transicionais com perfil reto. Daremos condic¸o˜ es necess´arias e suficientes para encontrar tais choques. 44.

Imagem

Figura 2.1: Reta caracter´ıstica.
Figura 2.2: Intersecc¸˜ao entre caracter´ısticas em t = y 2 − y 1
Figura 2.4: Soluc¸˜ao geom´etrica com multiplicidade.
Figura 2.5: Soluc¸˜ao geom´etrica.
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Referências

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