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Tem gente ansiosa esperando o texto do seu aluno

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Academic year: 2019

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Nos anos em que ocorre o Prêmio Escrevendo o Futuro, as salas do Cenpec, onde as equipes trabal-ham, ficam bastante agitadas. Há gente preparando os lançamentos e os encontros com professores; out-ros cuidam das inscrições, da comunicação com os participantes e esclarecem dúvidas por telefone; há os que preparam e enviam os materiais e kits do Programa para as escolas; tem os que lêem as dezenas de cartas recebidas mensalmente; e ainda há os que organizam as oficinas regionais com os semifinalistas e a premiação final. Tudo exige con-centração e empenho. Mesmo assim, quem visita o Cenpec não deixa de notar os sorrisos e o clima de expectativa sobre os textos que virão. A ansiedade é visível. É como se eles quisessem conversar pessoal-mente com cada um dos professores inscritos e saber o que pensam e esperam do Programa. Afinal, são os professores que poderão realizar transfor-mações no cotidiano da sala de aula, um trabalho gigantesco que só pode ser percebido, em toda sua dimensão, de uma geração para outra. Não é à toa que esse programa se chama “Escrevendo o Futuro” e que essa idéia inspira a equipe que nele trabalha.

Nessa altura do ano, a proposta de criação de tex-tos com os estudantes está no fim. É hora de concluir, fazer a seleção e enviar o escolhido. É o momento em que os alunos percebem que o trabalho deles não foi em vão. O prazo para chegada dos textos às UNDIMEs estaduais é 21 de agosto.

E nesta edição de Na Ponta do Lápis, em seu

segundo ano, há mais informações sobre os próximos passos do Prêmio em 2006. Mais do que isso, tem a história da poeta goiana Cora Coralina, escrito por sua neta, a jornalista Ana Maria Tahan. Nesse emba-lo, preparamos seleção com trechos de obras de poetas brasileiros falando do lugar em que vivem ou viveram, e que lhes serviu de inspiração. Outro destaque é a entrevista com a professora Roxane Rojo, da Unicamp, que numa animada conversa sobre o ensino de gêneros textuais.

E para encerrar, o almanaque traz novidades em seu projeto gráfico e ganha mais uma seção, “Histórias do Escrevendo o Futuro”. A partir deste número, qualquer professor, coordenador ou diretor que conheça uma boa história envolvendo alunos ou professores que participam ou participaram do Programa, pode enviá-la ao Na ponta do lápis.

A todos uma boa leitura e um bom trabalho! Iniciativa

Fundação Itaú Social

Realização

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Cultura e Ação Comunitária – CENPEC

Coordenação Sônia Madi

Texto e Edição

Luiz Henrique Gurgel (edição de texto e consultoria) Maria Aparecida Laginestra

Regina Andrade Clara

Leitura Crítica Anna Helena Altenfelder

Maria Estela Bergamin Marta Wolak Grosbaum

Revisão Simone Zaccarias

Edição de Arte e Ilustrações Criss de Paulo

Editoração

AGWM produções gráficas e editoriais

Equipe de Apoio Edileuza Alves Santana, Elisângela Alencar de Almeida, Ivani Alencar, Maria Antonieta Rizzotti Oliveira, Marina Brant de Carvalho Martins,Patrícia Araújo ,

Tathyane Fernandes Tudda.

Fotos

Páginas 8 / 9 Elza Lima (PA), Ronaldo Pereira Guimarães (MG), Fernanda Cunha Oliveira (CE),

Didier Pinheiro (GO), César Duarte (RJ), Almir Salgado (PR), Cristina Rufatto (SP)

Fontes Consultadas

Desvendando os Segredos do Texto – Ingedore Grunfeld Villaça Koch – SP: Cortez, 2002. Alfabetização e Letramento: Perspectivas

lingüísticas – Roxane Rojo – SP: Mercado das Letras, 1998. Oficina de Leitura: teoria e prática – Angela Kleiman – Campinas: Pontes,1989.

Agradecimentos Ana Maria Tahan Antonio Carlos F. Brito “Cacaso”

Bartolomeu Campos Queirós Celso Alencar

Celso Cruz George Mautner Jornal do Brasil- RJ

Max Martins Roseana Murray

Contato com a redação: Rua Dante Carraro, 68 São Paulo / SP – CEP 05422-060

Telefone: 0800-7719310

E-mail:

escrevendofuturo@cenpec.org.br www.escrevendoofuturo.org.br

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Todos nós temos como desafio na educação pública garantir, não só a entrada, como também a permanência das crianças na escola. Refiro-me à per-manência com aprendizagem, sucesso, alegria. E a formação cidadã de alunos e alunas, profissionais e gestores, é uma das prioridades da UNDIME em sua atuação a favor da melhoria da educação de qualidade para todos.

O Programa Escrevendo o Futuro, pelo seu perfil, contribui para o fortalecimento da Educação como promotora da cidada-nia, porque incentiva o desenvolvimento das competências de leitura e da escrita dos alunos das escolas públicas. E a leitu-ra e a escrita são instrumentos funda-mentais e estruturantes desse processo.

A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) – tanto a nacional quanto todas as Undi-mes estaduais – participa, com seu tra-balho, no recebimento e seleção dos tex-tos do Programa Escrevendo o Futuro. Também se engaja, com muita serieda-de, na formação da comissão julgadora.

A Fundação Itaú Social tem colabo-rado para a consolidação do princípio de associação da Educação ao desenvolvi-mento local, que passa pela interseto-rialidade das políticas públicas sociais e culturais. Por essa sinergia, a UNDIME se sente motivada a continuar apoiando o Programa Escrevendo o Futuro, uma iniciativa capaz de conferir novas refe-rências de aprendizagem ao ensino público.

Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva

Presidente da UNDIME Nacional

2

ENTREVISTA COM A PROFESSORA DOUTORA HELENA ROJO

4

RECADO DO LEITOR

5

O QUE VEM POR Aí

6

CONFUNDE CARTA DE AMOR COMQUESTÃO DE GÊNERO: NINGUÉM NARRAÇÃO DE FUTEBOL

ONDE ESTÁ O FUTURO: O QUE INSPIRA O LUGAR ONDE VIVO

8

REPORTAGEM: POR UM

FUTURO MELHOR

ESPECIAL: ARTIMANHAS DA LEITURA

16

TIRANDO DE LETRA: CAMINHOS E CONQUISTAS

18

20

TIRANDO DE LETRA: DIÁRIO DE UM PROFESSOR

DE OLHO NA PRÁTICA: REVISAR O DITO E O ESCRITO

14

PÁGINA LITERÁRIA: AVENTUREIRA E LIBERTÁRIA

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–ano

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nº4

Como os professores têm recebido a pro-posta de ensino de Língua Portuguesa na perspectiva de gêneros?

Roxane – Em geral os professores têm sido

receptivos, inclusive aqueles que ainda não estão suficientemente formados para a execução da proposta. Por isso, o principal investimento deve ser a formação sistemática, a sedimenta-ção de novas práticas de ensino. É esse trabalho

de formiga que vocês fazem: oferecer materiais de apoio, discutir a prática, analisar resultados para aprimorar o trabalho em sala de aula. Não se trata apenas de ensinar o gênero, mas pensar “no que ensinar” por meio de gênero. Eu não pre-ciso explorar todas as propriedades de artigo de opinião. Se o foco do meu trabalho é a capaci-dade de argumentação, tanto posso propor um debate sobre racionamento de água ou uma discussão sobre arbitragem no futebol. O fun-damental é que o aluno aprenda a negociar, contra-argumentar e tomar posição.

“Trazer para a escola o repertório

e os produtos da cultura local,

que às vezes a gente discrimina...”

O que era para ser uma entrevista virou conversa esclarecedora. A professora doutora Roxane Helena Rojo, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, respondeu às perguntas e questões levantadas por educadores do Programa Escrevendo o Futuro e de outros projetos do Cenpec. As discussões sobre o ensino de gêneros textuais na escola dominaram a “entrevista coletiva”. Segundo Roxane, para esse trabalho dar certo, é preciso...

“Não se trata apenas de ensinar o gênero, mas pensar‘no que ensinar’ por meio de gênero.”

O que significam essas mudanças para o ensino da Língua Portuguesa?

Roxane – Não são mudanças locais. Fiz um

estudo dos PCNs [Parâmetros Curriculares Nacionais] de 12 países e a grande maioria tem como objeto de ensino o gênero. Os currículos são organizados privilegiando a língua em uso. Eles vêm atender à crescente exigência de letra-mentos no mundo. Até a década de 1980 era pos-sível focar um trabalho, digamos, em textos mais escolares e literários. Com as novas tecnologias e as mudanças no mundo do trabalho e das comunicações em geral, torna-se necessário uma variedade muito maior de conhecimento de gêneros do que naquelas décadas, pois já não bastam as noções de tipo de texto e a gramática que tínhamos até então. Hoje é preciso ter conhecimento do gênero, formar os alunos para o uso da língua.

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Almanaque

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II–

nº4

Diante de tamanha diversidade, que gêne-ros textuais ensinar?

Roxane – É difícil responder. Isso vai depender muito da cultura local. No mundo atual, por exemplo, os gêneros digitais (ou a linguagem digital) vem ganhando cada vez mais espaço. Mas dar essa resposta sem considerar a reali-dade de cada canto do Brasil poderia condenar muitas comunidades a uma situação de exclu-são. É preciso conhecer a cultura em que a escola está inserida para pensar num projeto voltado para essa comunidade. Isso inclui mapear os níveis e tipos de letramento dessa comunidade: As pessoas lêem o quê? Utilizam a leitura para quê?

E como trazer para escola o repertório e os produtos da cultura local?

Roxane – Muitas vezes a escola está distante,

não valoriza e até discrimina a realidade, a cul-tura do lugar. O trabalho fica aborrecido, provo-ca indisciplina, desistência, resistência. Os alu-nos, embora estejam dentro da mesma sala de aula, sentem-se literalmente excluídos. Uma maneira é abrir espaço para dialogar, levar em conta o ponto de vista do outro. Por exemplo: Quais os interesses dessa comunidade? O que faz de melhor? Rap?! Pode ser que você não apre-cie o Rap, que não seja de sua geração, mas há letras que têm um apelo poético bem interes-sante. Assim, é possível aproximar os alunos de outras letras de música, de outros poemas, da literatura e, dessa forma, ampliar seu repertório cultural.

“Muitas vezes a escola está distante, não valoriza e até discrimina a realidade, a cultura do lugar.

O trabalho fica aborrecido, provoca indisciplina, desistência, resistência.”

“Se o professor não lê jornais, revistas, livros de literatura com regularidade,

isso dificulta o do mínio dos gêneros que circulam nesses portadores.”

Mas muitas vezes o professor também não tem um repertório tão vasto...

Roxane –O repertório faz toda diferença. Se o professor não lê jornais, revistas, livros de litera-tura com regularidade, isso dificulta o domínio dos gêneros que circulam nesses suportes. É essencial ser usuário freqüente da leitura e da escrita, rever valores e conhecer as peculiarida-des da cultura local.

Como trabalhar a situação de produção na escola sem torná-la artificial?

Roxane – Em alguns casos os projetos ficam

artificiais: não o conteúdo, o discurso, o gênero, mas a situação de produção (o que escrevo, com que finalidade, para quem ler, para circular em que suporte...). Para garantir uma boa situação de produção, é preciso entender o funciona-mento da esfera de circulação da instituição que o produz, assegurando a condição original do gênero.

O Kit Itaú de Criação de Textos oferece alguns modelos no final dos fascículos, pois muitos professores não têm material à disposição...

Roxane –É importante ter modelos. Todos têm.

É preciso trabalhar com vários textos para evi-denciar o que é modelar.

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I

I–

nº4

Abrir uma carta,

o coração batendo,

é precioso ritual.

O que terá dentro?

Um convite, um aviso,

uma palavra de amor

que atravessou oceanos

para sussurrar em

meu ouvido? (...)

Os carteiros, Roseana Murray. (Literatura em minha casa

Volume I – poesia A bailarina e outros poemas)

“O almanaque mostra que não é fácil o ofício de poeta. Exige muito trabalho para comporem seus poemas.”

Edena de Sousa Mendes Cidade Ocidental/GO

“Conheço a professora Marisa Lajolo e lendo a entrevista foi como se voltasse a encontrá-la.”

Ghislaine Lamounier São Bernardo do Campo/SP

“O ineditismo da proposta de atender o professor em sua prática cotidiana respondendo às suas necessidades de forma próxima e individualizada me sensibilizou (Especial do almanaque). Fico ansiosa por receber o próximo número. Torço muito pela sua continuidade, pois considero uma forma eficiente de promover a formação continuada do professor.”

Sonia Aparecida Medeiros Curitiba/PR

“Recebi a carta com pontuações sobre o trabalho desenvolvido. Achei excelente. Me senti parte integrante desse projeto.”

Valéria Miranda Divinópolis/MG

“Por meio da seleção de algumas escritas do aluno Fernando Henrique (seção De olho na prática), pude refletir sobre minha prática em produção de texto.”

Rosimar de Fátima Borges Freitas – Monte Carmelo/MG

“Eu, como a maioria dos professores públicos brasileiros, não tenho tempo nem poder aquisitivo para fazer cursos de reciclagem e o almanaque funciona para mim como curso que posso fazer em horas vagas, sem gastos. Parabéns à equipe!”

Maria Regina Flamini Guaranésia/MG

“(...) A seção Página Literária é sempre maravilhosa. Essa do 3º número, do Ferreira Gullar, traz uma assertiva fascinante: ‘A poesia é a maneira que o poeta tem de inventar-se como ser humano’.”

Ana Maria de Carvalho Leite Manhumirim/MG

Correção

Na seção ‘De olho na prática’ do 3º número do almanaque Na ponta do lápis, deixamos de publicar o nome do Professor Adilson Luis de Almeida Lima, da Escola Municipal João Batista, Apucarana, PR

“Adorei receber, no ano passado, a análise de texto da minha aluna. Percebe-se o carinho que vocês têm pelos textos.”

Rosana Cristina de Sousa Melo Rio Formoso/PE

“Este trabalho tem ajudado a organizar melhor minhas aulas e aprimorar os textos dos alunos; elabora um programa permanente de assistência ao professor em sala de aula.”

Murilo Virgílio Medeiros Lucas do Rio Verde/MT

“Não sou habilitada em Língua Portuguesa e me ajudou muito como base de produção de textos na Geografia. Trabalho muito com o tema “o lugar onde vivo” com meus alunos. (...) Acredito nesse tema como a

verdadeira inclusão social.”. Elizane Rocha

Cambuquira/MG

“Fiz mestrado em lingüística (trabalho com gêneros textuais) e em minha opinião o almanaque traz informações que contribuem para a prática do professor tanto na maneira teórica como na prática com os alunos.”

Lucimara Salete Guerchewski Campo Largo/PR

Escreva para nós!

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Almanaque

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II–

nº4

21/8: último dia para enviar o texto escolhido pela escola

Depois de inscrever a escola no Prêmio Escrevendo o Futuro, desen-volver todas as oficinas com a turma e os alunos escreverem seus textos, é hora da escolha do melhor texto da escola. O escolhido deve ser passado à limpo no papel específico com o timbre do Prêmio e enviado à Undime estadual até o dia 21 de agosto (os endereços estão disponibilizados no cartaz O passo-a-passo do Escrevendo o Futuro, que as escolas receberam junto com o Kit Itaú de Criação de Textos).

Depois é aguardar e torcer. Os me-lhores textos darão prêmios para alunos, professores e a escola.

Almanaquês

Biblioteca Itinerante - A primeira biblioteca “circulante” do mundo (fonte: Adlibs, junho 1990) é do vizir persa Abdul Kassem Ismail (938-995), que viajava com 400 camelos que carregavam muitos volumes de sua

biblioteca para onde quer que ele fosse. Os animais eram treinados para andar de forma que os livros estivessem sempre em ordem alfabética. (fonte: Adlibs, junho 1990)

A festa final

Dos 21 textos finalistas, a Comissão Julgadora Nacional selecionará o

melhor em cada gênero e um deles será o grande vencedor. A festa de premiação ocorre em São Paulo. Quem escolhe os

semifinalistas

As Comissões Regionais que vão jul-gar e escolher os semifinalistas ao Prêmio Escrevendo o Futuro, são organizadas e coordenadas pelas UNDIMEs de cada Estado. Elas são compostas por três ou mais professores de Língua Portuguesa. Entre 19 de julho e 4 de agosto, ocorrem encontros de formação para que os mem-bros das comissões estudem os critérios de análise e seleção dos três textos que serão indicados em cada Estado, um de cada gênero: poema, memórias, artigo de opinião. Acompanhe os semifinalistas de seu Estado pela internet: www.escreven-doofuturo.org.br.

Oficinas de escrita: o primeiro de muitos prêmios

Alunos e professores selecionados na eta-pa estadual eta-particieta-parão da oficina regional em uma das sete cidades-pólo do Prêmio. Hospedados em hotel, terão atividades de escrita, discutirão o ensino da língua e farão passeios pela cidade. Nesta fase, serão escolhidos os vencedores regionais, um em cada gênero, que receberão prêmios e par-ticiparão da etapa final.

Locais e datas das oficinas com semifinalistas

Oficina 1

Pólo São Paulo – de 27 a 29/09/06

Oficina 2

Pólo Rio de Janeiro – de 2 a 4/10/06

Oficina 3

Pólo Goiânia – de 4 a 6/10/06

Oficina 4

Pólo Curitiba – de 16 a 18/10/06

Oficina 5

Pólo Fortaleza – de 18 a 20/10/06

Oficina 6

Pólo Belém – de 25 a 27/10/06

Oficina 7

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nº4

Na terceira edição do Prêmio Escrevendo o Futuro, mais uma vez os gêneros textuais com que alunos e professores de escolas públicas participarão do concurso serão o artigo de opi-nião, o texto de memórias e poesia. Os melho-res em cada gênero serão premiados. Assim, para participar do concurso é preciso saber o que são gêneros textuais e como trabalhar bem com eles.

Gêneros textuais são formas de linguagem que tem características mais ou menos estáveis porque produzidas em situações de comunica-ção parecidas, em áreas de conhecimento seme-lhantes. Em nosso dia-a dia, quando lemos ou ouvimos determinados gêneros mais comuns, os reconhecemos de imediato. É esse reconheci-mento que permite que nos comuniquemos de forma eficiente.

Um exemplo de gênero bem conhecido é a carta de amor. Embora cada uma tenha suas particularidades – dependendo de quem escre-veu, em que época escreveu ou para quem escreveu – quando as lemos sabemos de que gênero se trata porque todas têm semelhanças gerais entre si. Isso ocorre porque as pessoas que escrevem um texto desse gênero estão numa situação de comunicação cujos elementos se repetem: há alguém afetivamente interessa-do em alguém, que espera que a pessoa objeto de seu interesse tome conhecimento de seus sentimentos por meio da carta.

Um outro exemplo de gênero textual bastan-te conhecido, desta vez oral, é a narração de um jogo de futebol pelo rádio. Enquanto torcedores ansiosos acompanham, um narrador descreve e comenta os lances da partida, estabelecendo um vivo diálogo com o ouvinte. Esse diálogo, para cumprir as finalidades de comunicar a quem ouve as emoções e as particularidades do jogo, tem que descrever as posições dos jogadores em sua movimentação pelo campo em tempo real. A voz do narrador ganha maior ou menor emoção conforme os lances da partida. Podemos tam-bém afirmar que, para narrar o jogo, o narrador tem que conhecer bastante de futebol. Os torce-dores, por sua vez, devem ter conhecimentos próprios da área futebolística para entender a narração que o locutor faz.

Tanto um como outro gênero tem aspectos muito conhecidos que permitem que quem se comunique por meio deles os reconheça. Esses aspectos, entre eles o “tom”, ou seja, uma certa musicalidade própria do gênero, possibilitam que ninguém confunda carta de amor com nar-ração de jogo de futebol.

Assim como nas duas situações exemplifica-das, cada uma das inúmeras situações de comu-nicação que ocorrem no dia-a-dia exige gêneros próprios para acontecer. Se forem situações que acontecem em circunstâncias parecidas, elas marcarão o gênero que nelas ocorre com expres-sões próprias e darão a cada um deles um “tom” muito particular.

Os gêneros textuais, como você pôde ver pelos exemplos, são a língua viva, a língua tal como ocorre em situações de comunicação social, sejam essas situações mais formais ou menos formais. Compreender língua e lingua-gem por essa perspectiva muda radicalmente o que se pensa sobre seu ensino. Em vez de práti-cas de memorização, treinamento motor e uso do texto como pretexto para ensinar gramática, o que se procura é fazer com que os alunos com-preendam a situação de produção dessas lingua-gens na sociedade e as particularidades que os gêneros de textos adquirem por estarem ligados a diferentes situações de comunicação e a dife-rentes áreas de produção de conhecimento.

Um bom modo de fazer com que os alunos aprendam diferentes gêneros textuais é planejar seqüências didáticas para seu ensino, como é demonstrado nos fascículos do Escrevendo o Futuro: Pontos de vista, Poetas da escola e Se bem me lembro... As seqüências didáticas de-vem esclarecer quais são os elementos próprios da situação de comunicação em questão, levar o aluno a ter contato com exemplares variados do gênero e exercitá-lo no domínio de suas particu-laridades, para que sua produção escrita seja o mais próxima possível das características do gênero textual escolhido.

Inscreva-se, escolha um gênero, siga as orien-tações do fascículo e boa sorte no concurso!

Ninguém confunde carta de amor

com narração de futebol

* Mestre em Educação,autora do fascículo Pontos de Vista do Kit Itaú de Criação de Textos.

Heloísa Amaral*

DE ONDE VEM A PALAVRA...

Gênero vem do latim generu, que significa família; ou seja, agrupamento de indivíduos ou seres que têm características comuns. Portanto, os gêneros literários são agrupados por suas semelhanças nascem de situações de comunicação que ocorrem em uma mesma área de produção de linguagem.

O PRIMEIRO DO GÊNERO

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Almanaque

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nº4

um articulista que é autoridade em um assunto e é convidado por um jornal para dar sua opinião sobre algo polêmico que foi noticiado pelo jornal.

para leitores interessados em saber sua opinião sobre a questão que causou polêmica.

um autor que deseja escrever sobre suas vivências em uma época passada e que foi contratado por uma editora para isso.

para leitores interessados em conhecer uma época por meio da narrativa literária de fatos que envolvem a pessoa do autor.

poeta que tem a intenção de emocionar, divertir, convencer e fazer pensar o mundo de um jeito novo, original e único.

para pessoas que desejam, quando lêem poemas, sentir e emocionar -se com o que lêem mais do que raciocinar logicamente sobre o assunto lido.

para convencer seus leitoresde que sua posição é a mais correta, argumentando sobre ela.

para trazer o passado ao presente, dando-lhe vida por meio de comparações e referências que pode partilhar com o leitor.

para encantar ou mesmo chocar os leitores, para aproximá-los do que sentem sobre o mundo, por meio da arte de escrever poesia em poemas.

em jornais impressos ou virtuais e em revistas.

em livros, jornais ou revistas. em livros, revistas, jornais, Internet, murais, saraus, etc.

a questão polêmica, as vozes que debatem a questão, a posição que o autor toma diante da polêmica, os argumentos que utiliza, a conclusão que fecha seu artigo.

o relato de uma pessoa que viva há bastante tempo na comunidade onde o aluno estuda e que tenha lembranças vivas sobre o passado do lugar; o aluno deve se colocar no lugar de quem relatou as memórias e escrevê-las em primeira pessoa; o uso de verbos no passado e no presente, para estabelecer a comparação entre duas épocas, o uso de palavras que remetam ao passado relatado.

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nº4

As inscrições terminaram em 8 de maio e os números ainda estão sendo contabilizados, mas a expectativa é que em 2006 o Prêmio Escrevendo o Futuro bata seu próprio recorde atendendo ainda mais alunos, professores e escolas no Brasil. Desde 2002, o Programa vem dobrando o número de estudantes e escolas participantes. Se na primeira edição foram 4.657 escolas inscritas, em 2004 esse número se ele-vou para 10.544, ou 7% de todas as escolas públicas do país, envolvendo 25.377 professores. Outro dado importante é a permanência dos professores no Programa, aproximada-mente 70% das escolas que haviam participado em 2002 se reinscreveram no Prêmio em 2004. Agora em 2006, em ape-nas 20 dias, até 31 de março, quase 1.500 escolas já haviam se inscrito, o que equivale a 14% de todas as instituições que participaram do Prêmio em 2004, ou mais de 1% de todas as escolas públicas brasileiras.

Sete pólos regionais realizaram lançamentos e reuniões técnicas do Prêmio Escrevendo o Futuro. Em comum, a expectativa de que mais uma vez o projeto vai rapidamente ampliar seu alcance.

Luiz Henrique Gurgel

Por um futuro melhor

Foram por estes números e pelas qualidades do projeto que o Governo Federal, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade concederam o Prêmio Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), ao Programa Es-crevendo o Futuro.

O lançamento

A partida para o Prêmio aconteceu em São Paulo no dia 13 de março. Na seqüência foram feitos lançamentos nas cinco regiões do país: Belém (17/3), Belo Horizonte (21/3), Fortaleza (24/3), Goiânia (31/3), Rio de Janeiro (03/4) e Curitiba (06/4). Em São Paulo, quase 300 convidados, entre educadores, professores, pesquisadores, representantes de secretarias de Educação e do Banco Itaú, lotaram o auditó-rio do Instituto Itaú Cultural, na avenida Paulista. No lugar dos discursos, o palco recebeu gestores e colaboradores do Escrevendo o Futuro que eram entrevistados pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior, falando sobre as novidades e perspectivas para 2006.

Antonio Matias, Vice-Presidente da Fundação Itaú Social e o primeiro a ser entrevistado, destacou a evolução do Prêmio desde a primeira edição: “Tudo o que a gente fez até agora mostra que os professores estão muito motivados com o Prêmio. Ele traz um potencial de contribuição enorme em matéria de geração de conhecimento e de melhoria de metodo-logia de ensino. Vamos desenvolver melhores modelos, expe-riências e trocas interessantes”. Matias também acha possível atingir mais de 2 milhões de alunos neste ano.

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Almanaque

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II–

nº4

Trocas de experiências

Ana Beatriz Patrício, superintendente da Fundação Itaú Social, ocupou o lugar de jornalista nos lançamentos e reu-niões técnicas regionais. Ela contou que neste ano o Escrevendo o Futuro também vai premiar com aparelhos de DVD os professores que apresentarem os melhores relatos de práticas com o programa: “Os que chegarem à fase semifinal vão trazer para as oficinas o registro de suas prá-ticas de sala de aula. E nós vamos premiar em cada pólo regional, o melhor relato. Queremos incentivá-los a fazerem esse registro, a mostrarem como fizeram as oficinas na escola. O objetivo é oferecer caminhos para o professor sis-tematizar sua prática e promover a troca de experiências. Isso multiplica”.

Os lançamentos regionais foram marcados pelo entu-siasmo e contaram com a presença de secretários estaduais e municipais de Educação, além de técnicos e professores e alunos semifinalistas em 2004. Em Fortaleza ocorreu no Centro Dragão do Mar, próximo à praia de Iracema, e contou com representantes de todas as Diretorias Regionais de Ensino daquele Estado e de outros Estados nordestinos. O mesmo aconteceu em Goiânia que acolheu mais de 100 representantes de Estados do Centro-Oeste e Distrito Federal. Belém realizou o encontro na antiga capela de Santo Alexandre, recentemente restaurada e que faz parte do Museu de Arte Sacra da cidade.

Na reunião em Belo Horizonte, a professora Maria da Gra-ça da Costa Val, do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da UFMG, fez uma apresentação sobre os textos escri-tos por estudantes do Estado. A equipe do Ceale, coordenada por Val, fez a análise detalhada de quase mil textos, enviando uma avaliação individualizada aos professores que orientaram esses alunos. O trabalho inédito surpreendeu participantes da reunião que desconheciam a iniciativa. Sônia Madi, coordena-dora pedagógica do Programa, afirmou que existem planos para ampliar esse tipo de ação para outros Estados participan-tes, além de Minas Gerais e Pernambuco, que realizaram ava-liações dos textos da edição de 2004 do Prêmio.

Secretários, técnicos e educadores afir-mam ser possível perceber melhorias no de-senvolvimento dos alunos e dos professores que já participaram do Programa. A secretá-ria de Educação de Marília (SP) e vice-presi-denta da Undime-SP, Rosani de Souza Pereira, falou dessa contribuição: “Por depoimentos de professores e coordenadores de escolas estaduais, percebemos que as crianças que saem da quarta série – já que o nosso ensino municipal, em Marília, atinge até a quarta – chegam bem preparadas, principalmente em língua e escrita. Claro que o Prêmio tem aju-dado muito, especialmente no auxílio aos

professores, pelo fato de ser uma ferramen-ta a mais na prática pedagógica.”

Para Jeane Cristina dos Santos, profes-sora em Sobradinho, no Distrito Federal, e que participa do Programa desde sua primei-ra edição, em 2002, o método opeprimei-ra mu-danças e estimula outras aplicações: “O Pro-grama não é um concurso qualquer, pois transforma a ação do professor. Em minha escola, todos os professores que passaram por lá, e trabalharam com o Programa, leva-ram essas idéias. Eu mesma estudo uma adaptação do Escrevendo o Futuro para tra-balhar com matemática.”

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nº4

O que inspira o lugar onde vivo?

“Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se

não pode fechar cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei.”

(Fernando Pessoa, Passagem das Horas)

De muitos modos os poetas olham à sua volta e traduzem com palavras o que sentem, refletem e vêem. Numa aventura de combinações e arranjos singulares, através do olhar apurado e particular, o poeta capta e expressa em versos, a vida, a arquitetura e o ritmo peculiar de cada cidade. Foi pensando nessa diversidade e sensibilizados pela beleza da unidade melódica e qualidade de tantos poemas, que sele-cionamos – dentre tantos e tão bons poetas brasileiros – alguns versos em que autores falam das cidades e regiões que tanto os marcaram. Esperamos que você, professor, encontre nesta página aquele poema que fale mais de perto, que aguce sua emoção e inspire seu trabalho em sala de aula.

O mapa

( ... ) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)

Livro: Apontamentos de História Sobrenatural — Ed. Globo, 1976.

Mário Quintana (1906-1994) Poeta gaúcho de Alegrete trabalhou em vários jornais. Traduziu Proust, Conrad, Balzac entre outros autores famosos. Em 1940 lançou Rua dos Cataventos, seu primeiro livro de poesias. Ao que seguiram

Canções,Sapato Florido, Preparativos de Viagem, entre outros. Passou a maior parte de sua vida em Porto Alegre. Auto-Retrato Falado

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.(...)

Livro: O livro das Ignorãças. Editora Civilização Brasileira, 1993.

Manoel Wenceslau Leite de Barros(1916) nasceu em Cuiabá (MT) no Beco

da Marinha, beira do Rio Cuiabá. Advogado, fazendeiro e poeta. Publicou

Poemas Concebidos Sem Pecado,Face Imóvel,Compêndio para Uso dos Pássaros, O Guardador de Águas, O Fazedor de Amanhecer, Memória Inventadas, entre outros. É conhecido como o Poeta do Pantanal.

Filho da floresta, água e madeira

(...) Durante mais de meio século, sem voltar ao lugar onde nasceu,

a casa permaneceu erguida em sua lembrança, as janelas abertas para as manhãs

do Paraná do Ramos, a escada de pau-d’arco que ele continuava a descer para pisar o capim orvalhado e caminhar correndo

pelo campo geral coberto de mungubeiras até a beira florida do Lago Grande (...)

Livro: Amazona, Pátria da Água, in Vento Geral. Editora Jose Olympio, 1960.

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Almanaque

–ano

II–

nº4

Salve, salve

Meus cinco dedos da mão direita são camarões que se debatem enfurecidos no matapi.

No cipó molhado as camarinhas ornamentam o Tocantins. No meu braço esquerdo

arborizam-se alamandas e alamandas. Suspiro!

As mandarinas aliviam a minha fome. (...)

Livro: Salve Salve Salve, editado pelo Grupo Poeco – Só Poesia,1982.

Celso de Alencar (1949)nasceu em Belém (PA). Vive em São Paulo desde 1972, sendo reconhecido como um dos grandes talentos da geração de 70. É autor de Arco Vermelho,Salve Salve,Os reis de Abaeté,

O Pastor, entre outros.

O fazendeiro do mar

Mar de mineiro é inho

mar de mineiro é ão

mar de mineiro é vinho

mar de mineiro é vão

mar de mineiro é chão Mar de mineiro é pinho mar de mineiro é pão

mar de mineiro é ninho

mar de mineiro é não mar de mineiro é bão. (...)

Livro: Mar de mineiro: poemas e canções. Editora Grafit, 1982

.

Antonio Carlos Ferreira de Brito (1944-1987) “Cacaso”, mineiro, um dos principais nomes da “poesia marginal” brasileira. Influenciado por Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Oswald de Andrade, tem atizou a política e o amor em tempos de ditadura e liberação sexual, com humor e crítica social. Sua obra inclui os livros Grupo Escolar,

Segunda Classe,Na Corda Bamba,

Beijo na Boca e Outros Poemas. Virado paulista

Margaridas do Largo do Arouche. Azaléias do meio-fio.

Rosas do jardim de um sobrado. Girassóis de terreno baldio. Flores do campo da Dr. Arnaldo. Orquídeas dos Jardins. O buquê que fiz pra você.

Livro: “Paixão por São Paulo: antologia poética paulistana” — organizado por Luiz Roberto Guedes.

Editora Terceiro Nome, 2004.

Celso Cruz(1965) Nasceu em São Paulo (SP). Poeta, dramaturgo, diretor de teatro, publicitário, jornalista e professor universi-tário. Publicou Livro de Amor, devoção e outras taras,Ciência do AcidenteeCaixa de escorpião.

Duas luas

Estou adorando andar pelas ruas como quem não quer nada debaixo do sol

debaixo de luas que são mais de duas porque tem as artificiais e no mais

não tem nada mais só a felicidade como névoa brilhante por cima da cidade em paz

Livro “Paixão por São Paulo: antologia poética paulistana” organizado por Luiz Roberto Guedes

Editora Terceiro Nome, 2004.

Henrique George Mautner (1941) Carioca, em 1962 estreou em livro com

Deus da chuva e da morte, vencedor do Prêmio Jabuti daquele ano, o primeiro da Trilogia do Kaos. Em 2002, a Azougue Editorial lançou Mitologia do Kaos, reunião de sua obra literária.

Volta a Pernambuco

(...) As cidades se parecem nas pedras do calçamento das ruas artérias regando faces de vário cimento, por onde iguais procissões do trabalho, sem andor, vão levar o seu produto aos mercados do suor.

Livro: Duas Águas: poema reunidos. Editora José Olympio, 1956.

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I–

nº4

A voz era apaixonada, vibrante. Transbordava do coração, atravessava as cordas vocais, ga-nhava emoção ao ritmo das mãos, os olhos viva-zes acompanhavam o tom. Histórias, poemas, contos, causos, opiniões fluíam ao ritmo entoa-do por Cora, mestre na arte de declamar e inter-pretar, capaz de confundir desavisados sobre o que era realidade, o que era fantasia.

Cora, Aninha, Anica, Anita era todas numa só, pequenina, franzina, eternamente atarefada, permanentemente escritora. Erram os que ten-tam reduzi-la à condição de poeta, ou poetisa. Era contista, cronista de tempos passados e pre-sentes. Jornalista também, observadora distan-te e crítica, fiel redatora de fatos e acondistan-tecidos. Escrevia com afã, no impulso, sobre qualquer papel que lhe caísse às mãos. Escrevia em bor-das de jornais, em meio a cartões postais, em envelopes de cartas, em rústicos papéis de embrulhar pão. Se a inspiração transbordasse, desprezava os limites, ia desenhando letras pelos cantos, nas entrelinhas, subia e descia até que se extinguisse o desejo de expressão. Se tivesse tempo, passava a limpo, em cadernos caprichados ou em blocos de carta. Caso contrá-rio, ficavam por ali, esquecidos em meio a livros, recortes, folhetos. Perdidos nos guardados.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto nasceu e cres-ceu na casa velha da ponte, construção maciça, erguida por escravos, nos idos de 1770 para abrigar o capitão-mor de Villa Boa de Goyaz, Antonio Sou-za Telles de Menezes. Conta-se que o capitão foi um inconfidente, desgarrado da turma de Minas e perdido no interior de Goiás. Morreu, ou foi manda-do morrer, em 1804. Entre os bens seqüestramanda-dos pela Coroa portuguesa, estava a casa, comprada em leilão pelo cônego Couto Guimarães. Meio século depois, em 1889, ali Ana foi gerada.

Virou Cora aos 15 anos, o pseudônimo uma exigência para disfarçar a escritora, que moça prendada e casadoira não perdia tempo com manuscritos. Cora, derivativo de coração, identi-dade que a diferenciava de tantas Anas da cida-de, batizadas todas em homenagem à santa padroeira. Coralina ainda demorou algum tempo, surgiu depois, soma perfeita de sonoridade e tra-dução literária. Cora Coralina,coração vermelho, gostava de contar. “Lindo, não é?”

Vó Cora falava pouco de si, muito contavam dela os quatro filhos, um homem, três mulheres. Conheceu Cantídio Tolentino de Figueiredo Brê-tas, recém-nomeado chefe de Polícia de Villa Boa, durante uma tertúlia literária. Tinha 20 anos, já era uma “solteirona”. Entre poemas, récitas e acirrados debates culturais se apaixonaram. Fu-giu com ele para Jaboticabal, interior de São Paulo. Cantídio era homem separado, tinha filhos na capital paulista. E uma outra filha, fru-to de romance com uma índia, durante passa-gem pelo Norte de Goiás. Essa, Cora criou.

Aventureira e libertária

Ana Maria Tahan

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Almanaque

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II–

nº4

Saraus literários ou não, Cantídio nada gos-tava do pendor da mu-lher. A Cora ousada, que deixou para trás precon-ceitos sociais, pouco li-gava. Publicava artigos nos jornais de Jabotica-bal, construía poesias e costurava contos, de-pois, ao mudar para São Paulo. Flagrada na

cida-de pela Revolução Constitucionalista cida-de 1932, alistou-se como enfermeira – a filha mais nova, Vicência, encontrou a ficha de inscrição recente-mente, perdida entre centenas de textos inéditos. Costurava bibis (bonés) para soldados, unifor-mes, aventais para enfermeiras. Depois, dos revoltosos derrotados pelas Forças de Getúlio Vargas, encontrou outra causa. Bradou pela for-mação de uma partido feminino, escreveu até o manifesto da agremiação.

Enviuvou, vendeu livros editados pela José Olympio de porta em porta. Aventurou-se por Penápolis, no interior paulista, montou uma pen-são, depois um pequeno comércio, a Casa de Retalhos. Desembarcou em Andradina no início da década de 50, a cidade se erguia. Abriu a Ca-sa da Borboleta, vendia um pouco de tudo para mulheres. Montou sítio na vizinha Alfredo de Castilho. Subiu em palanques para apregoar o voto na UDN. Em 1956, filhos criados, netos em-balados, voltou à “origem ancestral”.

Tinha motivo – lutar pela posse da velha casa da ponte antes que, por usucapião, se transferis-se para um sobrinho. Instalou-transferis-se com “transferis-seu” Vi-cente, um nordestino faz-tudo e analfabeto que a acompanhava desde o sítio em Castilho. “Seu” Vicente, figura doce, simplório, dedicado, embe-bedava-se até com guaraná.

Entre móveis antigos e sob o calor do velho fo-gão de lenha, Cora escre-veu, escreescre-veu, escreveu. Aprendeu a datilograr aos 70 anos, publicou o primeiro livro – Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais – aos 75. Meu pai, Rúbio, minha mãe, Vicência, meus três irmãos e eu passamos uma temporada com Cora nesse tempo. Meu pai datilografa os manuscritos numa antiga Olivetti. Ela, ao lado, ainda remendava os tex-tos, processo contínuo de criação.

Sou neta de Cora, herdeira de seu nome de batismo, orgulhosa dessa ascendência. Cresci escavando o porão da casa velha da ponte atrás do ouro do capitão-mor – que ela contava ter sido escondido por um escravo de confiança do inconfidente. Cheguei à adolescência ouvindo-a declamar, com cativante êxtase, poemas recém-terminados. Acreditei em histórias in-ventadas. Empanturrei-me de seus doces, apu-rados dias e dias em tachos de cobre, capricho-samente arrumados em caixas de papelão, dinheiro da venda depositado na poupança. Economias que permitiram a compra, em leilão, da velha casa.

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I–

nº4

Artimanhas da leitura

Vivemos numa sociedade letrada. Imersos em imagens, fotografias, letreiros, manchetes de jornais, placas de rua, sinais de trânsito, cartões de crédito, cheques, notas fiscais, doc-umentos, rótulos, revistas..., a habilidade de leitura se torna indispensável à vida.

Somos leitores em tempo integral! Mas não lemos do mesmo jeito um livro de literatura e um manual de instrução, uma notícia de jornal e um verbete de enciclopédia. Essas situações de leitura têm, cenário, contexto, e finalidade pecu-liares: divertir-se, emocionar-se, manter-se

infor-Ajudando a construir o sentido do texto

O que é ler?

Ler não é apenas decodificar a escrita (letra, pa-lavra, frase...), vai muito além. É preciso inter-pretar, compreender, construir o sentido e co-nhecer a intencionalidade do texto.

O que faz o leitor?

O leitor mobiliza diversos conhecimentos durante a leitura:

recorda o que já sabe sobre o autor e o assunto;

identifica pistas do próprio texto: título, subtítulo, autor, ilustrador, imagens, fotografias, diagramação...

Que leitor é você?

Depois de muita conversa sobre leitura queremos saber: como você leu o almanaque

Na ponta do lápis,

até aqui?

Por isso, convidamos você a responder as questões abaixo, assinalando (S) Sim e (N) Não:

– Apreciou a capa? Antecipou o conteúdo deste número do almanaque? ( )

– Folheou de ponta a ponta? ( ) – Prestou atenção na diagramação? ( )

– Consultou o sumário? ( )

– Leu o editorial? E também as mensagens? ( ) – Leu títulos e subtítulos das seções? ( ) – Começou a leitura pela seção de sua

preferência? ( )

– Leu todos os textos linearmente, da primeira à última palavra? ( )

– Utilizou fotos, ilustrações,legendas para construir o sentido do texto? ( ) – Dialogou com as idéias apresentadas,

relacionando com outros textos lidos

– Refletiu criticamente sobre os textos ? ( ) – Extraiu informações que trarão contribuições em

outros contextos? ( )

Conte as respostas e descubra o seu per fil como

leitor:

Se respondeu afirmativamente a todasas

questões, parabéns!

Você é um exímio leitor: fluente e minucioso. Lê tudo o que lhe cai às mãos: de livros de literatura a bulas de remédio, de jornais a folhetos de

propa-ganda, de textos científicos a receitas culinárias...

Se respondeu sim para

metadedas questões,

bom... parece que você é um leitor esporádico: a leitura não é uma prioridade, ainda precisa desvendar os mistérios e delícias do ato de ler

.

Se você respondeunãopara a maioria das questões, hum... sinal que falta intimidade com a leitura.

Para criar o hábito, sugerimos que leia o almanaque Na ponta do lápis

.

mado e atualizado,aprender a utilizar um novo aparelho, preparar um prato especial, executar uma ação... Enquanto lemos, dialogamos com lembranças, emoções impressões, informações, que nos ajudam a interagir, compreender o que dizem os escritores em suas obras.

Cabe ao leitor lançar mão dos conhecimentos armazenados, de suas experiências anteriores para construir de um jeito bem pessoal um sen-tido para o texto.

localiza trechos mais importantes, seções, páginas, que focam determinado conteúdo; estabelece relações com outros

textos lidos etc.

E o papel do professor?

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Almanaque

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II–

nº4

Conheça as estratégias utilizadas pelo leitor para construir o sentido do texto

Seleção – escolhe as informações que considera importantes no texto, descartando o que não é relevante.

Antecipação –levanta hipóteses sobre o conteúdo do texto a partir das pistas que vai colhendo durante o processo de leitura.

Inferência –lê as entrelinhas do texto, complementando o sen-tido do texto a partir de seu conhecimento prévio (outras leituras, informações sobre o assunto, gênero, autor...)

Checagem –estabelece relações entre o que supõe(pação) comprovando ao longo do texto. Isto é, avalia as anteci-pações e as inferências,confirmando-as ou refutando-as, com a intenção de garantir a compreensão.

Generalização – reconstrói ou transforma as informações do texto lido.

Leia o que diz, poeticamente, o escritor Bartolomeu Campos Queirós sobr

e a leitura:

“Desconheço liberdade maior e mais duradoura do que esta do leitor ceder

-se à escrita do outro,

inscrevendo-se entre as suas palavras e os seus silêncios. T

exto e leitor ultrapassam a solidão individual

para se enlaçarem pelas interações. Esse abraço a partir do texto é soma das diferenças,

movida pela emoção, estabelecendo um encontro fraterno e possível entre leitor e escritor

.

Cabe ao escritor estirar sua fantasia para, assim, o leitor projetar seus sonhos.“

O livro é passaporte, é bilhete de partida.

In: PRADO, Jason; CONDINI, Paulo (orgs.). A formação do leitor — pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999.

É preciso ensinar a ler?

A leitura é uma das ferramentas imprescindíveis para apropriação de novas aprendizagens. Quando se trata de ensinar a ler, o grande desafio é assegurar a qualidade e a variedade de textos que circulam na escola, associando as atividades de leitura às situações reais de comunicação.

Por onde começar? ou Que estratégias ensinar?

Para ajudar o leitor a compreender, desvendar o sentido do texto é preciso ensiná-lo a exercitar, colocar em ação várias estratégias:

antecipar informações que possam estar no texto;

fazer previsões apoiadas nas pistas do próprio texto e em sua experiência leitora; confirmar ou refutar sua hipótese, conhecimento;

produzir inferências, perceber significado acerca do que não está dito de forma explícita no texto;

(18)

Leitoras e leitores de Na Ponta do Lápis já sa-bem que escrever não é dom com o qual se nasce, nem talento de poucos. É algo que se ensina e que se aprende. O caminho que se faz para chegar a um bom texto é feito de idas e vindas, leituras e releituras. Revisar o que se escreveu nos ajuda a perceber erros, ver possibilidades de dizer algo a mais, ou de um jeito melhor. É bom ler atentamen-te e perceber se algum ponto não está claro, o que significa que também poderá acontecer com o leitor do nosso texto.

Para pensarmos juntos sobre como aprimo-rar essa nossa capacidade, fizemos interven-ções em um artigo de opinião produzido por um aluno de 4ª série. Sugerimos que tenha em mãos o fascículo Pontos de Vistado Kit Itaú de Criação de Texto, na página 55, oficina 11, para acompa-nhar a reflexão.

A atividade é apenas um exemplo. Aos poucos você irá perceber que existem outras possibilida-des para aperfeiçoar a escrita e deixá-la mais adequada ao gênero texto de opinião.

Revisar o dito e o escrito

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro

botando ponto no final da frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma

chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:

Meu filho, você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios com as suas peraltagens.

E algumas pessoas vão te amar por seus

despropósitos.

Exercício de ser criança (Manoel de Barros-1999)

FALTA texto

Guimarães

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Almanaque

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II–

nº4

O título pode ser mais instigante, provocar no leitor a vontade de ler e sugerir a questão polêmica.

Neste parágrafo, o autor não esclarece o leitor sobre a questão polêmica. O autor precisa reorganizar as informações do texto para ajudar o leitor a identificar e a compreender qual é a questão polêmica.

O novo lago

O rio Açú é o mais importante da cidade. Ele atravessa o município de Bosque e nasce na serra das Flores. Ele é muito bom para o município e dá sustento para muitas famílias. A construção de um lago com água do rio Açu, na praça da cidade, tem sido muito comentada.

Ameaça ao rio Açú

A construção de um lago na praça com a água represada do rio Açú tem sido muito comentada na cidade.

O rio Açú nasce na serra das Flores e atravessa o município de Bosque.

Ele é muito importante para a economia local, pois dele é tirado o sustento de muitas famílias.

A posição do autor, em relação à questão polêmica, não está bem definida. O autor precisa assumir uma posição, (a favor ou contra) e justificá-la por meio de argumentos bem articulados.

A mudança do rio será muito ruim, pois a população depende do rio: pesca,lavagem de roupa e transporte de pessoas em canoas.

Acredito que a alteração do curso do rio trará muitos problemas à população, que o utiliza como fonte de renda.

É necessário fundamentar a argumentação. Para isso, é indispensável pesquisar, entrevistar especialistas no assunto e coletar dados na comunidade.

Tem gente que acha que se isso acontecer vai mudar muito a água do rio Açu e a vida da população vai ficar prejudicada.

Muitos moradores temem que, com o passar do tempo, haja alteração no volume das águas do rio. Se isso acontecer, pode comprometer as atividades econômi-cas como a pesca, lavagem de roupas e transporte de pessoas em canoas. E, na época das chuvas, as águas represadas poderão inundar muitos bairros e desabri-gar muita gente.

Neste trecho o autor traz a voz dos adversários listando as atrações que serão construídas junto ao novo lago. É preciso articular melhor este parágrafo para dar força à argumentação dos opositores. Dizem que com o novo lago, Bosque vai

ganhar quadra de esporte, campo de futebol, lugar de caminhada e muitas coisas que só têm em clubes pagos.

Outros dizem que o novo lago trará beleza e diversão à cidade, que não tem clubes públicos de lazer. Serão construídos, próximo ao lago, quadras de esportes, campo de futebol com iluminação e calçadão para caminhada.

De forma genérica, o autor desvaloriza o argumento dos o positores. É indispensável que o autor estabeleça um diálogo consistente com os diferentes pontos de vista e, ao mesmo tempo, reforce sua posição. Essa gente esquece que a construção

do lago e das diversas atrações, vai trazer muitos gastos e destruição do meio ambiente.

Mesmo com todas essas melhorias, as pessoas precisam lembrar que durante a obra haverá desmatamento, destruição das margens e prejuízo para o ambiente. E, ainda, considerar os gastos que a prefeitura terá com a manutenção desse espaço de lazer.

Neste último trecho, o autor não usa uma expressão que indica o término do texto. É importante que o autor, ao concluir o texto, além de usar a expressão correta, reafirme sua posição e convença o leitor. Acho que é importante estudar este

projeto e avaliar o perigo dessas mudanças para a cidade.

Concluindo, é preciso que engenheiros e técnicos estudem este projeto para analisar o impacto do represamento das águas do rio Açu para a região.

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–ano

I

I–

nº4

Diário de um professor

Sem a formalidade de um diário de classe, quase como num diário pessoal, encontramos um relato detalhado das ações desenvolvidas pelo professor junto aos alunos para a criação de textos de opinião. Neste percurso, reflexões, dúvida, êxitos e reveses estão anotados. Estes registros são um estimulo para que outros professores também documentem seu trabalho.

Ao iniciar o trabalho, pensei numa questão polêmica que mobilizasse os alunos e

che-guei à conclusão de que esta seria inter

essante: “Criança pode assistir qualquer pr

ograma

de televisão?”

Para introduzir a questão, vou conversar com a classe a r

espeito dos assuntos que

cau-sam polêmica: O que é uma situação que pr

ovoca a divisão de opiniões, discor

dâncias?

— Devemos usar uniforme na escola? (Os alunos devem usar unifor

me na escola?)

— Criança pode brincar na rua?

— É bom ou não que a prefeitura constr

ua um campinho de futebol no bair

ro?

— Trabalho infantil: contra ou a favor?

Avaliação do dia

Preciso alimentar muito a oralidade e dar voz para os que pouco participam.

Insistir com os alunos mais tímidos e r

etomar os combinados .

Atividade individual

Vou propor a escrita do texto individual

(pedir que façam o cabeçalho para que fique

identificado o autor e data pr

odução ).

— Convidar as crianças a pr

oduzirem um texto

dando sua opinião sobr

e o assunto.

— Ler, analisar o texto (ar

quivar numa

sanfo-na, para avaliar os avanços e dificuldades no

decorrer do trabalho)

— Planejar os próximos encaminhamentos.

Avaliação do dia

As produções iniciais deram

algumas pistas: os alunos não

têm familiaridade com artigos de

opinião. Preciso or

ganizar muito

bem as próximas oficinas.

Há muito trabalho pela fr

ente!

Debater uma situação imaginária: A constr

ução de

um centro esportivo comunitário na cidade. Há pessoas

a favor e outras contra esta constr

ução.

Inicialmente, organizar a tur

ma em círculo e depois

em pequenos grupos para constr

ução dos argumentos.

Voltar ao círculo para socializar as discussõe

s

com a classe toda.

Avaliação do dia

Gastei mais de duas aulas nesta atividade, por

que

os alunos desconheciam o que era centr

o esportivo

comunitário. Acho que a tar

efa dos grupos poderia ter

sido mais rápida.

Uma coisa boa: os alunos participaram ativamente

das discussões. Assumiram uma posição e levantaram

argumentos e contra-ar

gumentos.

16 de abril

de 2004

22 de abril

de 2004

27 de abril

de 2004

Prêmio

08007719310

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Almanaque

–ano

II–

nº4

– Continuar com a reescrita do

texto coletivo.

– Reelaborar a conclusão,

tornando-a mais clara e convincente.

Entrar em contato com um artigo de opinião. Organizar a classe em semicírculo.

Ler para a classe o título do texto Meio Ambiente x dir

eitos humanos

e as informações sobre o autor. Perguntar para os alunos:

– Este texto vai tratar de que assunto? – O que sugere o título?

– O que será que o autor do texto tem a nos dizer? Propor a leitura e interpretação do texto:

– Que hipóteses levantadas por vocês foram compr

ovadas pelo texto?

– Qual é a questão polêmica? E a posição do autor? Identifiquem no texto os argumentos favoráveis e os contrários.

Avaliação do dia:

Deveria ter explorado melhor o texto, levantando o vocabulário des-conhecido dos alunos, perguntando se todas as palavras são conhecidas deles etc.

A primeira leitura poderia ter sido feita por toda a classe e, oralmente, poderíamos localizar a polêmica, a posição do autor e seus ar

gumentos.

Nem todos os alunos se interessaram pela tarefa. Alguns per guntaram,

várias vezes, o que era para ser feito, outr

os se distraíram com outras

conversas.

Organizar o debate:

– Convidar pessoas para debater

em a questão:

É válido usar a verba da pr

efeitura para

cons-truir centro esportivo comunitário?

– Planejar com os alunos as questões que serão

debatidas com os convidados.

– Preparar a sala e os alunos para r

eceber os

convidados.

Avaliação do dia:

O debate deu muito certo. A pr

esença de

es-pecialistas no assunto enri

queceu o debate e

envolveu os alunos. De modo r

espeitoso, cada

um falava, perguntava e todos ouviam com

aten-ção. O envolvimento do gr

upo superou minhas

expectativas.

Conversar com a turma sobre o

debate realizado na aula anterior:

– O que vocês acharam do debate?

– Que ponto discutido vocês acharam mais interessante?

– O que este debate acrescentou ao conhecimento que já tínhamos

sobre o assunto?

Produção coletiva

– Produzir um texto sobre Uso da verba da prefeitura na construção

de um centro esportivo comunitário, que será distribuído para outras

turmas e equipe da coordenação da escola.

– Pedir que os alunos lembrem os combinados de trabalho, dando

idéias e acompanhando com atenção a produção do texto na lousa.

Avaliação do dia:

Depois desta oficina, saí esgotada da sala, sem energia e

com a sensação de não ter forças para terminar o trabalho.

Melhor continuar esta reflexão amanhã...

Preparar a reescrita do texto coletivo:

– Ler o texto registrado no papel pardo.

– Comentar com a turma sobre as características do

texto de opinião.

– Destacar aspectos que poderão ser reestruturados.

– Utilizar o banco de palavras para reescrever o

texto: aquelas que introduzem o ponto de vista, as que

iniciam os argumentos, as que refutam oposições.

30 de abril

de 2004

3 de maio

de 2004

6 de maio de 2004

13 de maio

de 2004

10 de maio de 2004

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–ano

I

I–

nº4

Escolhi trabalhar com texto de opinião. Meus alunos são bastante críticos, têm muitos argumentos e se posicionam sempre que surgem questões polêmicas na escola. Quando con-tei como se desenvolveria o trabalho, eles ficaram muito animados. Mas ao explicar como seria a produção do texto, percebi que ficaram confusos. Creio que isso aconteceu porque utilizei termos desconhecidos até então. Precisei explicar o significado de diversas palavras: articulista, argumentos, ponto de vista, questão polêmica.

Já nas primeiras oficinas, o debate sobre assuntos polêmicos empolgou o grupo. Fervilharam idéias. Os alunos se mostraram bastante atentos e conhecedores das questões que afligem a vida da comunidade. Ajudei-os a elaborar os argumentos, a manifestarem sua opinião, justificarem seu ponto de vista de forma convincente. Os artigos publicados no final do fascículo Ponto de Vista

contribuíram para familiarizá-los com os textos de opinião, pois na escola de zona rural não temos acesso a jornais e revistas.

Interessados, escreveram o primeiro texto. Esse diagnóstico inicial possibilitou a organi-zação de intervenções mais adequadas para a turma. Fui percebendo que, por estar presa aos conteúdos curriculares, muitas vezes faço o trabalho de Língua Portuguesa desvinculado da realidade dos alunos. Nas atividades orais, tudo ia muito bem: os alunos identificavam a ques-tão polêmica, argumentavam, tomavam uma posição. Mas, ao produzirem o texto escrito, sur-giam as dificuldades: amontoado de frases desarticuladas, a posição do autor não ficava clara, não levava em consideração a posição do adversário para construir seus argumentos. Por isso, intensifiquei o trabalho de leitura e escrita.

Propus aos alunos que identificassem nos textos de opinião publicados no fascículo

Pontos de Vista, tomada de posição, argumentos e conclusão. Facilmente a t

urma reconheceu as diferentes vozes presentes nos textos – tanto as favoráveis como as contrárias - e localiza-ram a questão polêmica. Na atividade cujo desafio era ordenar frases usando os elementos articuladores, surgiram os desacertos. Os alunos, acostumados a escreverem textos narrati-vos, no qual apenas discorriam, encontraram dificuldade. Ignoraram as expressões que anun-ciavam a posição do autor e que introduzem argumentos. Nem a pista da letra maiúscula para iniciar a frase foi considerada. Fiz várias intervenções para que a turma estabelecesse a liga-ção entre os argumentos e estruturasse melhor o texto.

Antes da escrita do texto coletivo, pedi que discutissem esse assunto em casa. Os fami-liares ficaram felizes em colaborar. Por sua vez, os alunos, orgulhosos, mostraram que têm idéias e sabem expressar sua opinião. Isso ficou evidente na produção de texto individual.

Para essa produção as questões polêmicas da comunidade foram amplamente debatidas. O assunto que mais incomoda os alunos são os f

reqüentes incêndios na Ilha Grande. Assim, buscamos saber mais sobre o tema consultando publicações sobre preservação do ambiente. Analisamos mapas e fizemos entrevistas com o agente florestal e outras pessoas da comuni-dade. Abastecidos de informações, os alunos escreveram, revisaram e reescreveram o texto. Neste momento, verifiquei como a escrita evoluiu das primeiras para as últimas produções.

Ao finalizar as oficinas, refleti sobre minhas conquistas: aprendi a ouvir, dar voz aos alu-nos, ajudá-los a organizar e expressar suas idéias, e, assim, fortalecer o espaço de participa-ção deles na comunidade.

Profª. Conceição Aparecida Ornelas Micheloto — Altônia/PR

“Se escrever é dialogar com o mundo, ao registrar suas experiências pedagógicas você estará registrando sua história como professor e, seu diálogo com o mundo

.”

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Desde o início do ano letivo de 2002, era grande a inquietação dos alunos da quarta série na EMEF Prof. Antônio de Freitas Filho, em Itaí (SP). A agitação em sala de aula ia além do “normal” para crianças daquela idade. Era uma queda sem fim de cadernos, livros, canetas e lápis da carteira para o chão. Os próprios alunos não agüentavam mais e queixavam-se. O problema estava naquelas carteiras de um braço só, do tipo “universitário”. As crianças queriam outras mais confortáveis.

Diz o ditado que é “de pequenino que se torce o pepino”. Em Itaí, o adágio foi contrariado. Foram as crianças que toma-ram a iniciativa de corrigir um ato impróprio dos adultos: levar para a escola carteiras inadequadas. Rapidamente a idéia de ter novas carteiras ganhou corpo na classe e os alunos se mobilizaram. Professor da turma, Rodrigo Negrão aproveitou a oportunidade e atuou como mediador, seria uma boa chance de trabalhar com criação de textos. “Era um problema deles, que não incomodava o professor que tinha cadeira apropriada. Mas eles se incomodavam. Eu dizia a eles que não adiantava ficar falando, falando e não se colocar. Então trabalhamos todo o processo de como reivindicar alguma coisa, de como elabo-rar um requerimento ou abaixo-assinado e enviá-lo aos órgãos responsáveis por essas ações. Fomos vendo como aquele tipo de texto, mais formal, tinha de ser construído, já que quería-mos que tivesse legitimidade”, afirma Rodrigo. Depois de pronto e assinado pelos alunos, o texto coletivo foi encaminha-do à direção da escola. A diretora ficou agradavelmente sur-presa e prometeu dar prosseguimento à solicitação.

Foi com essa experiência que Rodrigo inscreveu sua turma no Prêmio Escrevendo o Futuro daquele ano. Ele tinha em mãos uma situação concreta em que os alunos se mani-festaram e fizeram valer sua opinião. “Como eu estava com esse problema na sala, discuti com os alunos a possibilidade de a gente participar do Prêmio e abordar isso. Escolhemos trabalhar com textos de opinião”. Rodrigo iniciou as oficinas

e os alunos fizeram pesquisas sobre as carteiras mais apro-priadas para estudantes na idade deles, os prós e contras, e o tipo que proporcionava uma postura corporal adequada para estudar e escrever. Justificaram suas idéias, compuse-ram os textos, escolhecompuse-ram um e o enviacompuse-ram ao Prêmio.

A mobilização e os textos dos alunos chegaram à Coordenadoria de Educação da prefeitura, e a coordenadora, em pessoa, foi até a escola reunir-se com os alunos. “Foi inte-ressante, obedecemos a hierarquia. Primeiro procuramos a diretora da escola, que nos encaminhou para a Coordenadoria Municipal de Ensino. A coordenadora leu os textos e no encontro com os alunos apresentamos os moti-vos. As crianças estavam bem preparadas, tinham estudado bem a questão através das oficinas de preparação de textos, isso possibilitou que elas se colocassem, falando da reivindi-cação, dos pontos a favor da troca”.

Os fortes e sérios argumentos vindos daquela gente miúda convenceram a coordenadora, que prometeu a troca das carteiras. Ela realizou o processo de licitação para a compra do equipamento e no final do ano a turma de quarta série da EMEF Prof. Antônio de Freitas Filho, na cidade de Itaí, tinha conseguido carteiras novas. “Durante todo o pro-cesso eu deixei claro a eles que as nossas reivindicações podiam ser aceitas ou não. E ainda que fossem aceitas, poderia ser que eles mesmos não usufruíssem desse benefí-cio, mas a ação deles beneficiaria outros. Mesmo assim pro-seguiram e foi isso que aconteceu. Eles mesmos não utiliza-ram, mas deixaram para o patrimônio da escola.”

A experiência motivou Rodrigo a continuar trabalhando com o Programa. Ele está na escola há sete anos, sendo que há dois assumiu a coordenação pedagógica. A escola tam-bém está participando da edição de 2006. Mas o maior prê-mio a receber, segundo ele, é poder ver as crianças como protagonistas, entusiasmadas com o resultado de um traba-lho feito por elas.

E os pequeninos torceram o pepino

Alunos de Itaí, no interior de São Paulo, convencem prefeitura a trocar as carteiras da escola com seus artigos de opinião.

Referências

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