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Os Selos Do Dharma

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Os Selos do

Os Selos do

 Dharma

 Dharma

Por Por

J. E. Marinho Cardoso J. E. Marinho Cardoso

Rio de Janeiro - Brasil Rio de Janeiro - Brasil

2015 2015

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Os Selos do

Os Selos do

 Dharma

 Dharma

Prefácio

Prefácio

Introduç

Introduçãoão

A Abordagem Budista A Abordagem Budista Motivação Motivação As Três J As Três Joiasoias A Natureza Búdica A Natureza Búdica Os Cinco Preceitos Os Cinco Preceitos Os Selos

Os Selos do do  Dharma Dharma

Impermanência e Vacuidade Impermanência e Vacuidade Sofrimento Sofrimento Nirvana Nirvana

Contemplação dos Selos

Contemplação dos Selos

Apêndices

Apêndices

Tripitaka Tripitaka As Nobres Verdades As Nobres Verdades O Caminho Óctuplo O Caminho Óctuplo Originação Dependente Originação Dependente

As Seis Perfeições - Paramitas

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Glossário

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Prefácio

Sidarta Gautama, que um dia se tornaria conhecido como Buda ("O Iluminado" ou "desperto"), viveu no Nepal entre os séculos VI e IV A.C. Embora os estudiosos concordem que ele de fato viveu, os eventos de sua vida ainda são debatidos. De acordo com a mais conhecida história de sua vida, depois de explorar diferentes ensinamentos por anos, e não encontrando nenhum que fosse aceitável, Gautama mergulhou em profunda meditação. Durante sua meditação, todas as respostas que vinha procurando foram esclarecidas, e alcançou a iluminação, tornando-se Buda.

Todas as práticas autênticas do Buda carregam consigo pelo menos três dos quatro ensinamentos essenciais chamados Selos do Dharma  ou Marcas da

Existência. Estes ensinamentos do Buda são: impermanência, sofrimento, insubstancialidade (“não eu”) e nirvana. Assim como os documentos legais autênticos têm a marca ou a assinatura de uma testemunha, todas as práticas genuínas do Buda têm as marcas desses ensinamentos.

Embora muito tenha sido escrito sobre Budismo, existindo inclusive vários livros que abordam os Selos do Dharma. A proposta deste livro se concentra

em apresentar estes ensinamentos de forma simples e ideais para o mundo contemporâneo.

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Introdução

No Hinduísmo como no Budismo a palavra "Dharma" refere-se não só ao princípio ou lei que ordena o universo, embora tenha outros significados. No Budismo corresponde aos ensinamentos dados por Buda e as experiências internas ou realizações desses ensinamentos. Razão pela qual encaramos o Budismo como um caminho de ensino e prática, de transformação não só individual, mas também social.

A palavra "Buda" é um título e não um nome que foi dado em primeiro lugar a um príncipe chamado Sidarta Gautama, que viveu há 2.500 anos no norte da Índia. Tal título significa "aquele que está acordado", ou seja, que passou pela experiência direta, exata e ampla da natureza final da realidade, conhecida como "iluminação".

Os budistas acreditam que todas as pessoas tem potencial para a iluminação e que, se quisermos, podemos utilizar os princípios e práticas do Budismo para começar no caminho do crescimento pessoal e desenvolvimento espiritual.

Mesmo após a morte de sua figura-chave, o Budismo tem se adaptado a muitas sociedades diferentes, encontrando maneiras de expressar a visão do Buda em diferentes culturas e épocas históricas. Assim, o que nós chamamos hoje de Budismo deu origem a muitas escolas diferentes que se desenvolveram para atender um determinado tempo e lugar, levando ao surgimento de várias tradições.

No Budismo são geralmente reconhecidos dois grandes ramos: Theravada

("A Escola dos Anciãos") e Mahayana ("O Grande Veículo"). O primeiro se

difundiu no Sri Lanka e no Sudeste da Ásia (Tailândia, Myanmar etc.). Já o segundo é encontrado em toda a Ásia Oriental (China, Coréia, Japão, Vietnã etc.) e inclui também as tradições da Terra Pura, Zen, Nitiren, Tibetano, Shingon, e Tiantai (Tendai). Algumas classificações reconhecem um terceiro ramo, o Vajrayana, que é visto como um corpo de ensinamentos atribuídos a siddhas indianos (seres perfeitos), enquanto outros o classificam como uma

parte do  Mahayana, estando presente principalmente no Tibete e na

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Buda não deixou nada escrito, transmitindo seus ensinamentos oralmente por muito anos. Logo após a sua morte, seus discípulos reuniram-se para recitar e organizar os ensinamentos dados por ele na forma de Discursos e Regras monásticas, tal como foram originalmente ensinados. Também conhecido como os "Três Cestos", o Tripitaka ou Tipitaka é o Cânone budista organizado em três coleções: na primeira está a doutrina encontrada nos discursos; na segunda a disciplina na forma de leis e regras de conduta monásticas; e na última estão as dissertações filosóficas. Conforme a fonte

de consulta, o Tripitaka pode apresentar diferença na organização de suas coleções. (Ver apêndice: Tripitaka)

Com o passar do tempo, as diferentes escolas do Budismo acabaram proporcionando diferentes apresentações dos ensinamentos do Buda. Então, o que todas elas têm em comum, e que diferencia o Budismo de outras religiões e filosofias?

Para responder a questão proposta, podemos citar os Cinco Preceitos, as Três Joias, os Selos do  Dharma, as As Nobres Verdades, a Originação

Dependente, o O Caminho Óctuplo  e as Seis Perfeições (Paramitas). (Os quatro últimos podem ser encontrados no apêndice)

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A Abordagem Budista

Embora pessoas diferentes tenham pontos de vista diferentes do que seja o Budismo, podemos afirmar que o Budismo difere da noção de religião que a maioria das pessoas tem. Isso talvez ocorra porque o Budismo promove o exame crítico de suas próprias doutrinas, e em razão de ser eminentemente um método que confia na demonstração empírica e na inferência lógica e racional. Com efeito, os budistas creem que são responsáveis pela qualidade da suas vidas, por sua felidade e por suas potencialidades. Assim sendo, cada um de nós tem a capacidade de se tornar inteiramente compassivo, sábio e hábil.

Quando estudamos o Budismo não estamos algo que foi criado ou imaginado pelo Buda, estamos estudando a nós mesmos - a natureza do nosso corpo, fala e mente - a principal ênfase está na natureza da nossa mente e como ela funciona na vida cotidiana. Sem se ocupar com questões metafísicas do tipo "Qual é a natureza de Deus?" ou qualquer coisa assim. Por que é tão importante conhecer a natureza de nossa própria mente? Visto que felicidade e sofrimento são estados mentais e desde que ambos não caem do céu, suas causas principais são encontradas na mente. Se desejamos ser verdadeiramente felizes e livres do sofrimento, temos que entender o que a mente é e como ela funciona.

O Budismo explica logicamente como a satisfação vem da mente, não de algum tipo de ser sobrenatural no qual temos que acreditar. Tal ideia pode ser difícil de aceitar, porque, a partir do momento em que nascem, grande parte das pessoas coloca extrema ênfase na crença de que a fonte da felicidade está do lado de fora, nos objetos externos. Este ponto de vista equivocado supervaloriza as coisas materiais, resultando em percepções e pensamentos distorcidos da realidade. Portanto, se quisermos paz, felicidade e alegria verdadeiras, precisamos perceber que tais qualidades vêm do nosso interior parando de procurar por elas caoticamente no exterior. A valer, as circunstâncias exteriores só podem nos fazer felizes se nossa mente estiver em paz.

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prática dos ensinamentos de Buda. Delusões que são maneiras distorcidas de perceber a nós mesmos, aos outros seres e ao mundo a nossa volta. Colocando todos os ensinamentos de Buda em prática, realizaremos facilmente a visão e a intenção última de Buda e ficaremos livres de todas as visões e intenções equivocadas. Na realidade, todas as pessoas têm o mesmo potencial para controlar e desenvolver suas mentes. Não há distinção de acordo com a raça, cor ou nacionalidade. Da mesma forma, todos podem experimentar paz mental e alegria duradouras. A nossa capacidade humana é grande - se pudermos usá-la com sabedoria, nossa vida além de preciosa será extremamente significativa; mas ao usá-la com ignorância e apego emocional nós desperdiçaremos nossa vida sem perceber quão preciosa e rara ela é.

Em poucas palavras, podemos afirmar que na abordagem budista nossa inteligência além de ser encorajada também é respeitada. Com efeito, os ensinamentos do Buda são similares as refeições que realizamos ao longo do dia, não comemos tudo de uma vez, pois cada refeição recebe toda atenção sendo degustada de modo apropriado evitando a indigestão. Dessa maneira, podemos escolher um prato a outro, sem a obrigação de ter que comer tudo, o mesmo se dá com os ensinamentos do Buda, pois escolhemos aquele que nos é mais adequado agora e deixamos os demais para mais tarde.

Então, como faremos para praticar os ensinamentos budistas, o Dharma?

Antes de tudo, compreendendo claramente o que não é  Dharma  e assim

eliminarmos todas as atividades que criam as causas do nosso sofrimento. Falar sobre a prática do Dharma diz respeito principalmente as práticas de ouvir/ler, contemplar o significado daquilo que ouvimos/lemos e meditar sobre o significado daquilo que entendemos. Usamos essa forma de ouvir/ler, contemplar e meditar para trazer o Dharma à nossa experiência, assim estas

três atividades são da maior importância. Daí dizermos que praticar o

Budadharma  é não só testá-lo e comprová-lo, mas é também nossa maior

responsabilidade - o principal caminho que temos que trilhar.

Vamos ouvir/ler, aprendendo e praticando de acordo com a nossa própria capacidade atual para que possamos assimilar os ensinamentos no nosso ritmo, afinal não existe um dogma a ser seguido cegamente. Desse modo, compreendemos e apreciamos gradualmente cada ensinamento que de início possa parecer desimportante ou até mesmo complexo. Cabe a cada um de nós, verificar através da lógica e da experiência a veracidade daquilo que foi ensinado por Buda, como um ourives testa uma peça para checar se ela é

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ouro. Tal abordagem é possível porque o próprio Buda pediu a seus discípulos que testassem tudo que ele ensinou.

Ao descrever as dificuldades pelas quais passamos e as respectivas causas, O Buda também ensinou de que modo elas são eliminadas. Pela familiaridade com seus ensinamentos, vamos notar que ele não criou ou inventou o caminho para a libertação definitiva de todos os sofrimentos. O Buda recomendeu que fossemos diretos e práticos, sem enveredarmos pela especulação intelectual inútil e exibicionista, estudando seus ensinamentos, contemplando e meditando a respeito de cada um deles. É ouvindo ou lendo muitas instruções de  Dharma  que poderemos transformar dificuldades em

caminho espiritual e usá-las para aumentar nossa sabedoria.

Aqueles que se tornaram praticantes sábios e realizados agiram desta maneira, pela familiarização e prática dos ensinamentos, se livraram do engano e da confusão. Ao compreendermos que, embora as delusões estejam enraizadas em nós, elas não são inerentes à nossa mente, podendo então ser removidas. Se praticarmos o  Dharma  de maneira correta e organizada, o

verdadeiro poder da prática do Dharma surgirá e nossa prática terá resultados

maravilhosos.

É através das nossas meditações que submeteremos o Dharma a um exame

crítico e, desse modo, reforçaremos nosso respeito por Buda e nossa confiança nele como um mestre verdadeiramente autêntico de sua doutrina, o

 Dharma. Ao agir assim, não só acentuamos nossa compreensão do caminho

budista, bem como nosso respeito pela comunidade de praticantes, nossos amigos esírituais, a Sangha.

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Motivação

O Buda usou a analogia dos três potes para explicar como remover os obstáculos à aprendizagem do Dharma. Sempre que estudarmos o Dharma,

seja ouvindo ou lendo, é importante fazê-lo com motivação ou intenção correta e de uma forma benéfica. Vamos abandonar três falhas, isto é, não sejamos como os três tipos de potes:

1. O pote emborcado: Nenhum Dharma  penetra em nossa mente porque

estamos adormecidos ou distraídos embora presentes. Dessa forma, retemos muito pouco ou nada do que foi dito/lido porque estamos perdidos nos pensamentos e imagens mentais.

2. O pote furado: Estamos despertos, estamos ouvindo e motivados, mas esquecemos rapidamente o que foi dito/lido. Como praticar o Dharma, se não

lembramos dele?

3. O pote sujo: É quando nós ouvimos/lemos sem distrações, mas a nossa motivação está poluída porque filtramos tudo que ouvimos/lemos segundo as nossas interpretações. Nossa mente está cheia de opiniões e preconceitos. Já sabemos tudo. Temos tantas ideias rígidas que nada novo pode nos afetar ou nos leva a questionar as nossas suposições.

Nós agora temos a intenção de aprender a lgo sobre o Dharma. De fato, não

pegamos este livro para ler alguma grande história ou para aprender a ser um profissional bem sucedido e ficar rico. A única motivação que poderíamos ter é aprender sobre o Dharma. Nem sempre é fácil estudar o  Dharma. Mas

estudar e praticar o Dharma é algo que vai ser muito útil para nós e para as

gerações vindouras. Isso vai ajudar a propagar o Dharma  no nosso próprio

país, fazendo com que floresça por muitos e muitos anos.

Sempre que estudarmos o  Dharma  ou fizermos qualquer prática de  Dharma, a coisa mais importante é ter uma motivação pura. Se temos uma

motivação pura, tudo o que fazemos com o nosso corpo, fala e mente vai sair benéfico. Mas se a nossa motivação não é pura, então, apesar dquilo que fazemos com nosso corpo, fala e mente parecer salutar do lado de fora, no final será insalubre. No entanto, ler este livro denota que além de querermos

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aprender sobre o Dharma, nós também queremos praticá-lo; isto demonstra

que somos humildes o suficiente para aprendermos algo novo que beneficie os outros seres e a nós mesmos.

É maravilhoso ter a motivação para adentrar a porta do  Dharma, para

estudá-lo e praticá-lo. Esta é uma motivação inequívocamente altruísta. Muito embora, essa motivação inicial que nos aproxima do Dharma seja uma

boa motivação, é importante ter uma motivação verdadeiramente vasta - a motivação da bodichita. O sentido literal do termo bodichita  é “mente de

despertar ou mente de iluminação”. Ela é definida como uma mente que, motivada por compaixão por todos os seres vivos, espontaneamente busca a iluminação. Sem o desejo espontâneo de proteger todos os seres vivos do sofrimento, não poderemos gerar uma mente tão virtuosa.

A necessidade de amor está na própria essência da existência humana, não aquele amor que está misturado com apego, mas aquele que resulta da interdependência que todos os seres compartilham entre si. Amor que é a verdadeira proteção contra o sofrimento e que é motivado por equanimidade, pois todos os seres são preciosos e importantes. Já a compaixão é uma qualidade mental inerente em todos nós, capaz de nos proporcionar paz e força interiores verdadeiras e duradouras. Podemos cultivá-la para transformar nossos sentimentos aflitivos em sentimentos que conferem bem-estar. Assim, reduzimos as emoções destrutivas, induzidas pelo egoísmo, e aumentamos com atitudes construtivas e altruístas, propiciando felicidade para nós e para os demais seres. Colocando o Dharma  em prática vamos

conhecer um grau de tranquilidade interior cada vez maior que resulta do desenvolvimento da compaixão e do amor. Quanto mais nos importamos com a felicidade dos outros seres, maior se torna o nosso próprio senso de bem-estar.

Por vezes, nossa motivação é influenciada por aflições ou pelo mero desejo de apreciar a nós mesmos, e se este for o caso, então devemos nos livrar dela. Em vez disso, nossa motivação estará voltada para trazer benefícios para todos os seres sencientes, sem deixar de incluir a nós mesmos. É por isso que estudamos o  Dharma, é por essa razão que lemos, contemplamos e

meditamos sobre os ensinamentos budistas com a motivação pura da

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As Três Joias

A ida ao refúgio é o primeiro passo no caminho budista à liberdade interior, mas não é algo novo. Buscamos refúgio em todas as nossas vidas, embora principalmente em coisas externas, na esperança de encontrar segurança e felicidade. Alguns de nós buscam refúgio no dinheiro, alguns nas drogas. Outros buscam refúgio no sucesso profissional, na vida familiar, na vida espiritual etc.

A ida ao refúgio tem um objeto triplo, isto é, as Três Joias ou Três Tesouros. Este objeto é a base de todas as formas de Budismo. A expressão “Joia Tríplice” também é muito utilizada e designa o Buda, o  Dharmae a Sangha constituindo o foco central de inspiração e devoção para os budistas.

A Primeira Joia: O Buda

A ida ao refúgio ou tomar refúgio no Buda é recorrer àquele que é a encarnação suprema da pureza, sabedoria e compaixão. Visto como professor, mestre ou guru incomparável que pode guiar-nos com segurança quando navegamos no oceano de sofrimentos - o samsara.

No Budismo  Mahayana, enquanto o "Buda" pode referir-se ao Buda

histórico, chamado de Buda Shakyamuni, "Buda" também faz referência a "natureza búdica", o carácter absoluto, incondicionado de todas as coisas. E numa dimensão mais profunda e ainda mais comum, todos nós temos a Natureza de Buda. Assim, tomar refúgio no Buda não é se esconder na segurança de um ser poderoso. Refúgio nesta situação é mais como nos movermos para uma nova perspectiva, para uma nova consciência. Ao tomar refúgio no Buda, nos alinhamos com a capacidade de reconhecer o Buda que há em nós, de buscar a capacidade de despertar para o que o Buda experimentou. Esta joia preciosa faz referência ao encontro com a nossa própria natureza de Buda.

A função desta primeira joia é conectar a nossa experiência emocional com a prática dos ensinamentos budistas. Pela prática regular nossa mente se acalma, proporcionando clareza mental, maior equilíbrio aos pensamentos e as nossas emoções. Apesar das constantes mudanças exteriores,

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experimentamos não só menos agitação mental, mas podemos equilibrar os pensamentos e as emoções, e assim sofremos menos. Ao manter a mente serena, sob quaisquer condições, nos permite ver, ouvir, cheirar, tocar e saborear claramente as “coisas”, de momento a momento, como elas realmente são.

A Segunda Joia: O Dharma

Apesar da palavra “dharma” apontar para vários significados, no caso faz referência a “tomar refúgio no Dharma”, que é muito mais do que apenas

confiar e aceitar os ensinamentos budistas. É também confiar na nossa prática do Budismo.

No nível elementar,  Dharma  pode ser entendido como os próprios

ensinamentos do Buda. Mas, também contempla os ensinamentos contidos no

Tripitaka  – a coleção de sutras e shastras  (comentários canônicos)

oficialmente reconhecidos. Podemos considerar também que o Dharmaé a

corporificação do Buda. É o Dharma  que nos ensina a verdade e nos guia

rumo à iluminação. O Dharma descreve como são as coisas; é o método pelo

qual podemos aprofundar nossa compreensão da realidade e gradualmente mudar a nós mesmos. O Dharma ensina compaixão por nós mesmos e pelos

outros através da compreensão das Quatro Nobres Verdades, levando a liberação do sofrimento. O caminho envolve abraçar o ensinamento do Buda e aplicar esse conhecimento na vida cotidiana.

Trabalhar com a mente para tentar transformá-la na mente de iluminação é semelhante a trabalhar com um lote de terra, a fim de cultivar flores. Para cultivar plantas no solo deste terreno precisamos aumentar a capacidade da terra para incentivar o cultivo. Nós adicionamos água e fertilizantes, de modo que o solo tenha a capacidade de sustentar o cultivo das sementes e, posteriormente, das respectivas plantas. Ao mesmo tempo, retiramos tudo que possa prejudicar o cultivo: ervas daninhas, pragas etc.

O Buda ensinou que todo sofrimento tem origem na mente, ou seja, no pensamento. É o pensamento que discrimina as coisas como boas ou ruins, que faz suposições, julgamentos e causa separação. Nosso pensamento cria tudo; tudo vem do pensamento. E o apego aos nossos pensamentos cria mais e mais problemas. Assim, se quisermos ter sabedoria e aprofundar o entendimento, antes de tudo devemos retornar à nossa mente antes do surgimento do pensamento, aquele ponto onde não há nome nem forma, que

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é anterior ao pensamento.

A Terceira Joia: A Shanga

Apesar da palavra “sangha” também apontar para vários significados, no caso faz referência a “tomar refúgio na Sangha”, num grupo particular de

budistas, leigo ou monástico, que pratica junto. Inclui também todos os budistas espalhados pelo mundo. A Sangha é de grande importância, pois nos

mantém na direção correta. Os praticantes do Dharma além de nos ajudarem

na prática dos ensinamentos, também nos fornecem as diretrizes básicas, a fim de alcançarmos a iluminação.

A Unidade das Três Joias

Os sutras budistas foram ensinados pelo Buda e pelos seus discípulos, e,

posteriormente, recolhidos e escritos por membros da Sangha.

Concentrar-nos sobre estes textos só proporciona uma compreensão limitada da Joia

 Dharma. Isso nos levaria a desconsiderar o Buda, que deu estes

ensinamentos, e a Sangha, que partilha o  Dharma. O Budismo salienta o  Dharma  - o caminho que conduz ao fim do sofrimento - somente em

conjunto com o Buda e a Sangha. Os três são inseparáveis.

Há outra interpretação que percebe a unidade das Três Joias, e que decorre da analogia que vê o sofrimento como doença, na qual o Buda é o médico que incidiu sobre os sintomas e as causas dessa doença, como parte do esforço para trazer a cura. É ver os ensinamentos do Buda – o Dharma

-como a terapia ou o remédio que promove a cura para os grandes problemas da vida. Enquanto a equipe de enfermeiros é a Sangha, nós somos os

pacientes que estão aflitos, diante das muitas situações insatisfatórias da vida. A cura se dá quando seguimos as orientações dadas pelo médico, o que significa praticar os ensinamentos, com o apoio e a orientação da equipe de enfermeiros.

Cabe observarmos também que cada uma das Três Joias abriga as outras duas. Não faz sentido considerar o Buda, a Verdade ou a Comunidade de prática como partes separadas do todo. Ao nos refugiarmos nas Três Joias, mais que expressar nossa devoção, vivenciamos a união das Três Joias como uma unidade. Desta forma, as Três Joias representam “tesouros” ou virtudes que já estão dentro de cada um de nós. Portanto, buscar refúgio nas Três Joias é retornar ao santuário de nossa verdadeira natureza, de nossas virtudes inatas e da nossa bondade.

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A Joia Tríplice e a Compaixão

É importante saber o que é compaixão, porque muitos confundem com sentir pena ou por ter apego àqueles que são mais próximos, mas isso não é compaixão. Compaixão é o senso de preocupação sincera, mas é mais do que isso, é a noção clara de que todos os seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade. Essa compreensão é que enseja a compaixão. Compaixão é reconhecer o sofrimento do outro e ativamente se engajar internamente (por uma solução) como se esse sofrimento fosse de fato seu. Portanto, a compaixão é verdadeira quando se assenta na compreensão da igualdade de todos os seres no que diz respeito a querer felicidade e a evitar sofrimento.

Compaixão também não é sinônimo de auto-sacrifício, porque não se deve ser negligente em relação a si mesmo. Graças a compaixão cresce dentro de nós um senso de conexão e um cuidado sincero em relação: a nós mesmos, nossos amigos, estranhos e inimigos. De forma objetiva, a compaixão não vê

a quem.

A compaixão é a raiz das Três Joias. É a raiz de Buda porque todos os Budas nascem da compaixão. É a raiz do  Dharma  porque os Budas dão

ensinamentos motivados pela compaixão. É a raiz da Sangha porque ouvindo

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A Natureza Búdica

Basicamente, falar sobre a Natureza de Buda é fazer referência a natureza fundamental de todos os seres vivos. Dizer “todos os seres vivos”, ou “seres sencientes”, ou “todas as formas de vida” ou “todas as criaturas” contempla todos os seres e todas as formas de existência. Em razão dessa natureza, todos os seres podem atingir a iluminação. Quer dizer, quando o Buda se iluminou, ele percebeu que todos os seres, sem exceção, têm a mesma natureza e potencial para a iluminação, e isso é conhecido como Natureza Búdica. Portanto, a Natureza de Buda refere-se à natureza inata ou original como Buda, que é intrínseca aos seres sencientes. Ao mesmo tempo, também significa o potencial para tornar-se Buda.

Existem todos os tipos de comentários, teorias e doutrinas sobre a Natureza Búdica, que a princípio podem ser difíceis de entender. Isso se dá porque a Natureza Búdica não faz parte do entendimento convencional ou conceitual das coisas, e explicá-la por meio da linguagem pode ser um tanto complexo. Para simplificar, imagine uma jarra vazia. O espaço interior deste objeto é exatamente o mesmo que o espaço externo; apenas as frágeis paredes da jarra separam um do outro. A Natureza Búdica está encerrada dentro das paredes da mente comum. Mas quando nós despertamos do sono da ignorância, é como quebrar a jarra em pedaços. O espaço "interno" se funde imediatamente com o espaço "externo" - há um e apenas um só espaço. Nesse exato momento, percebemos que eles nunca estiveram separados nem eram diferentes; na verdade, sempre foram o mesmo.

Às vezes, a Natureza de Buda é descrita como um "eu verdadeiro" ou "eu original". E, certas vezes, é dito que todos os seres têm a Natureza de Buda. Isso não está errado. No entanto, as pessoas ouvem isso e imaginam que a Natureza de Buda é como uma alma ou algum atributo ou característica que todo ser possui, como inteligência ou um mau temperamento. Esta não é uma visão correta.

Outra maneira de colocar isso é dizer que a Natureza Búdica é "algo" - esta talvez não seja a palavra certa - que realmente existe, e o mesmo é válido para todos os seres. E esse "algo" já está desperto, iluminado. Porque os seres

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se agarram a uma falsa ideia de um "eu" finito, separado ou independente de tudo o mais, eles não enxergam nem vivenciam a si mesmos como Budas. Mas quando os seres compreendem a natureza de sua existência, eles experimentam a Natureza de Buda que sempre esteve presente.

Ao dizer Buda, a pessoa naturalmente pensa no príncipe indiano Sidarta Gautama, que alcançou a iluminação... Buda, no entanto, tem um significado muito mais profundo. Na realidade, significa que alguém despertou completamente da ignorância e se abriu ao vasto potencial de sabedoria. Um Buda é aquele que colocou um ponto final ao sofrimento e frustração, e descobriu a felicidade e a paz duradouras e imortais.

Entretanto, muitos são céticos, alegando que este estado búdico parece mais com uma fantasia ou um sonho, ou uma conquista impossível. É importante lembrar sempre que Buda era um ser humano, como nós. Ele nunca reivindicou ser uma divindade, mas simplesmente sabia, por experiência própria, que tinha a Natureza Búdica a semente da iluminação -e qu-e todos os s-er-es também têm.

A Natureza de Buda é um direito natural de todos os seres sencientes, daí afirmar que a Natureza Búdica é tão boa como a Natureza Búdica de qualquer Buda. Esta é a boa notícia que o Buda trouxe da sua iluminação em

Bodigaya, e que muitas pessoas acham tão inspirador. Sua mensagem - de

que a iluminação está ao alcance de todos - proporciona grande esperança. Através da prática, nós também podemos nos tornar despertos. Se isso não fosse verdade, o Budismo já teria desaparecido por completo.

Todos os seres têm natureza de Buda porque todos os seres têm dentro de si a Essência do Buda, esta semente, que pode florescer como um Buda e que constitui o potencial para a iluminação. Mas o que é um Buda? Resumidamente, um Buda é alguém que desenvolveu tanto a compaixão quanto a sabedoria ao nível máximo, além de todos os limites. Sabedoria, neste contexto, não se refere a um acúmulo de conhecimento, mas a capacidade de ver a verdadeira natureza de todas as coisas. Compaixão, neste sentido é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento. O que caracteriza um Buda, portanto, é a união da sabedoria e da compaixão.

Para determinar se a Natureza de Buda existe em todos os seres, é preciso analisar se eles possuem as qualidades de sabedoria e compaixão. Sem

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sabedoria e compaixão, é impossível tornar-se um Buda, mas se alguém possui uma quantidade embrionária dessas qualidades, então ele pode desenvolvê-las ao seu nível final e se tornar um Buda. A prova mais concreta da presença desta natureza é que todos possuem, em diferentes graus, estas qualidades de sabedoria e compaixão.

Segundo o Budismo, não há ser que não possua alguma sabedoria e alguma compaixão. Cada ser tem uma quantidade mínima de amor, bondade ou compaixão, pelo menos, para si ou para um outro ser. Em sua Natureza Búdica ou Natureza Original, todo ser é puro, livre e feliz. Entretanto, desconhece essa Natureza Original, em especial pelo jogo das emoções aflitivas, tais como: o apego desejoso, a possessividade, a aversão, o ódio, o ciúme, a delusão etc. Assim, todos os seres sensíveis continuam no ciclo do

nascimento e morte - o samsara - sem reconhecerem a sua Natureza de Buda

devido à ignorância. Mas se puderem perceber a sua Natureza de Buda, podem deixar as delusões, libertar-se do samsara  e alcançar o extinção de

todos os sofrimentos - o nirvana.

O Buda libertou-se das emoções aflitivas e do carma, alcançando a onisciência do Despertar. Nele, todos os defeitos desapareceram e todas as qualidades da pureza interior desabrocharam. O Desperto alcançou a realização infinitamente superior, e por essa razão busca-se refúgio nele. O Buda mostra o caminho que conduz ao fim do sofrimento e sua maneira de guiar é ensinando o Dharma, cuja prática conduz à liberação. Por último, a

Sangha – os que praticam o Dharma e o transmitem a outros – que ajuda na

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Os Cinco Preceitos

O Budismo é antes de tudo um sistema filosófico e ético que tem três pontos de apoio: Moralidade, Desenvolvimento Mental e Sabedoria. Em que a moralidade é o ponto de partida da boa prática do  Dharma  e alicerce do

crescimento espiritual. Daí o Budismo enfatizar a importância dos preceitos morais para o aperfeiçoamento das ações da mente, do corpo e da fala. Por exemplo, não mentir, roubar ou tirar a vida de outras pessoas. No entanto, a tradição budista reconhece que a vida é complexa e levanta muitas dificuldades, e isso não quer dizer que há um único curso de ação que vai ser bom em todas as circunstâncias. Na verdade, em vez de considerar as ações como certas ou erradas, o Budismo ensina que elas podem ser hábeis ou inábeis.

Viver é agir, e nossas ações podem ter consequências quer prejudiciais ou benéficas para nós mesmos e para os outros seres. A ética budista está preocupada com os princípios e práticas que ajudam a pessoa a agir de forma a ajudar ao invés de causar sofrimento. O núcleo do código de ética do Budismo é conhecido como os Cinco Preceitos ou Cinco Preceitos Puros, e estes são a destilação de seus princípios éticos. Os preceitos não são regras ou mandamentos, mas "princípios de formação", que são realizados de forma livre e precisam ser postos em prática com inteligência e sensibilidade. Dessa forma, toda a ação pode ser encarada do ponto de vista dos Cinco Preceitos. Afinal, sempre podemos perguntar: O que estou fazendo agora é mau ou me torna uma pessoa mais deludida? O que estou fazendo agora melhora minha situação ou me traz o bem? O que estou fazendo agora é bom para os outros?

Na verdade, a essência de todos os preceitos morais é o não egoísmo. As obrigações morais ensinadas pelo Buda na forma de regras ou princípios orientam o comportamento, e podem variar na ordem, quantidade e conforme a tradição budista. Esses preceitos têm como objetivo afastar os praticantes das ações negativas, frutos da ignorância, e conduzi-los ao caminho do bem. Suas finalidades básicas são:

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- Promover o bom carma, ou mérito. Os Cinco Preceitos

A lista dos Cinco Preceitos que conformam os pilares da ética budista é: - Não matar.

- Não roubar. - Não mentir.

- Não ter má conduta sexual.

- Não se entorpecer com álcool ou drogas.

Embora para aqueles que abraçam a vida monástica o número de preceitos a serem observados seja bem maior, o budista leigo conseguirá evoluir e melhorar o seu carma mesmo observando somente os Cinco Preceitos.

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Os Selos do

 Dharma

Antes de falar sobre os Selos do Dharma precisamos considerar a seguinte

questão: “O que é a realidade?” Os dicionários nos dizem que a realidade é "o estado das coisas como elas realmente existem". Avançando um pouco mais, podemos afirmar que todas as coisas podem ser vistas de acordo com dois níveis de realidade:

- Relativa; empírica; fenomenal ou convencional, - Absoluta; fundamental; final ou última.

Segundo o Budismo Mahayana, o caminho do Buda em sua totalidade

pode ser entendido por meio de uma estrutura composta por dois pontos de vista ou Duas Verdades:

- Verdade Relativa: que é relativamente verdadeira, mas absolutamente ilusória;

- Verdade Absoluta: que é definitivamente verdadeira, a experiência autêntica além de toda ilusão.

Seja qual for o fenômeno a ser conhecido, a sua compreensão se dá em termos da verdade convencional, ou em termos da verdade última. Mas, apenas em termos dessas duas verdades e não por meio de quaisquer outras verdades. Daí a importância dos Selos do  Dharma, pois se uma suposta

“verdade” contradiz ou entra em conflito com os Quatro Selos do  Dharma,

ela não pode ser considerada um ensinamento autêntico do Buda. Uma “verdade” que não for timbrada com todos os Selos do Dharma não pode ser

considerada uma verdade budista nem parte integrante do Dharma. Desde

que selo significa uma marca que confirma a autenticidade. Sem esses Quatro Selos o caminho buddista passaria a ser teísta, um dogma religioso, e a própria finalidade do Budismo se perderia.

Então, o que são e quais são os selos? As escolas budistas com base nos ensinamentos do Buda reconhecem os Selos do  Dharma, denominados

também como Características da Existência (ou Marcas da Existência) que são vistos como as características definidoras do Budismo. Com efeito, os principais conceitos da Psicologia Budista sobre a consciência estão contidos

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nos Selos do  Dharmma, pois só os ensinamentos autênticos do Budismo

possuem essas quatro características básicas.

Os Selos do Dharma não só respondem a pergunta: “Qual é a essência do

Budismo?”, mas permitem encontrar as razões porque o Budismo às vezes é considerado uma filosofia e não uma religião. Se encontrarmos tais selos ou marcas numa filosofia ou caminho este poderá ser considerado um autêntico caminho do Buda.

O Primeiro Selo afirma que todos os fenômenos condicionados são impermanentes. O Segundo Selo diz que todos os fenômenos têm a natureza do sofrimento. O Terceiro Selo diz que todos os fenômenos são vazios (vacuidade). O Quarto Selo afirma que o nirvana  é a completa ausência de

conceitos ou extremos.

É bom ressaltar que ao investigarmos a natureza última da realidade, não tomamos as palavras do Buda como uma autoridade suprema, mas sim como referências ou “placas de trânsito” que nos orientam no caminho que leva ao fim do sofrimento. Outro ponto a ser observado, é que a singularidade do Budismo está expressa nos Quatro Selos, embora apenas os três primeiros sejam mencionados por algumas tradições budistas.

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Impermanência e Vacuidade

Ainda muito jovens aprendemos a olhar para a realidade empregando duas dimensões: espaço e tempo. Pouco a pouco nos familiarizamos com essa perspectiva espaço-tempo, que passa a fazer parte dos modos pelos quais pensamos e organizamos a realidade.

Ciente de que vivemos nossas vidas a partir dessa perspectiva espaço-tempo porque não olhar o Primeiro Selo e o Terceiro Selo juntos. Na verdade, impermanência e insubstancialidade (“não eu”) são aspectos da mesma realidade, ou seja, enquanto a impermanência é a insubstancialidade (“não eu”) vista a partir do ponto de vista do tempo, a insubstancialidade (“não eu”) é a impermanência vista do ponto de vista do espaço.

O Conceito de Impermanência

O mundo em que vivemos, a nossa mente, corpo e natureza básica estão em constante mudança, mudando e mudando automaticamente. Embora a vida seja esse caleidoscópio sempre em movimento - uma ligeira mudança, e todos os padrões se alteram – é comum nos fixarmos em certas ideias e é exatamente o apego às ideias fixas ou a resistência que abala nossa mente, causando desconforto, agitação e isolamento.

No entanto, mesmo que tudo seja transitório, podemos ver a impermanência facilmente, através da simples observação. Pela ótica do tempo, podemos notar a impermanência na quantidade de mudanças que ocorrem ao longo das estações do ano, nos meses, semanas, dias, ou mesmo num único dia, que tem vinte e quatro horas. E dentro destas vinte e quatro horas existem mudanças de hora em hora, de minuto a minuto e de um segundo para outro segundo. Não podemos negar que há mudanças, pois cada novo segundo que surge, logo desaparece – a natureza de cada instante é fugaz. Mas podemos notá-la também pela ótica do espaço, ao questionarmos onde estávamos ao acordar, e que deslocamentos sucessivos ocorreram a partir daí até chegarmos onde estamos agora - quando nossos olhos percorrem, neste instante, cada palavra de cada linha desta página.

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tradução comumente aceita para o termo anicca ou anitya. Impermanência ou

inconstância significa que aquilo que depende de causas e condições é transitório. Todo fenômeno composto está em um estado de fluxo interminável, transformando-se continuamente em outra coisa, eternamente em decomposição e reorganizando-se, pois não dura para sempre. “Composto” significa aquilo que é produzido, que é condicionado (causas e condições). Por exemplo, uma pessoa é um fenômeno composto por isso é necessariamente impermanente. Logo, podemos sintetizar essa marca ou característica numa única frase: “todos os fenômenos compostos são impermanentes”.

Ao ensinar sobre a impermanência, Buda não propôs uma nova teoria apenas revelou a verdade da impermanência, isto é, que tudo está sujeito a fenecer, desvanecer num fluxo, embora a mente insista em buscar segurança ou permanência. Não há nada que não oscile, decaia ou mude. De acordo com os ensinamentos do Buda, a vida é comparável a um rio. É um momento em progressão, uma série sucessiva de diferentes momentos, que se unem para dar a impressão de um fluxo contínuo. Ela se move de causa em causa, de um efeito a outro, de um ponto a outro, de um estado de existência para outro, ou seja, o rio de ontem não é o mesmo rio de hoje. O rio deste momento não vai ser o mesmo rio do momento seguinte. O mesmo acontece com a vida. Ela muda continuamente, tornando-se uma coisa ou outra de momento a momento.

Os budistas observam que neste mundo não há nada que seja fixo e permanente. Cada coisa está sujeita a mudança e alteração. "A deterioração é inerente a todas as coisas compostas", declarou o Buda a seus seguidores evidenciando que a existência é um fluxo, um contínuo vir a ser. O Budismo declara que há cinco processos os quais nenhum ser humano tem controle e que ninguém pode mudar. Estes cinco processos são nomeadamente: o processo de envelhecer, de não cair doente, de morrer, da decadência das coisas que são perecíveis e da extinção daquilo que é susceptível de cessar. Deste modo, todas as pessoas estão presas a uma visão de mundo que nutre o desejo de permanência e a busca por segurança sob diversas formas: confortos, relacionamentos, saúde, felicidade, ideias, conceitos etc. quando as pessoas se deixam iludir pela crença de que as doenças e a morte afetam apenas os outros, por exemplo.

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A impermanência pode ser de dois tipos:

- Densa ou grosseira: refere-se a um objeto deixar de existir. A morte de um ser humano ou a quebra de um carro são exemplos disso. Compreender este tipo de transitoriedade não é muito difícil.

- Sutil ou tênue: em geral, e superficialmente algo parece o mesmo, mas ele realmente está mudando a cada momento. Tudo o que surge não necessita de qualquer outro fator que o influencie a desaparecer. Em outras palavras, apenas seu surgimento já é a causa de sua cessação, porque as coisas mudam a cada momento. Elas não permanecem estáticas, mesmo para o momento seguinte.

Quando os fenômenos que nos cercam no mundo natural são observados superficialmente percebemos as mudanças mais evidentes. Porém, quando observamos certos fenômenos temos a impressão de que eles não mudam e que irão durar por muito tempo. No entanto, mesmo que leve milhares de anos, até aqueles que dão a impressão de serem aparentemente duradouros também mudam. O fato é que eles mudam de forma sutil, e temos que aceitar que tal processo de mudança ocorra de modo comparativamente mais lento do que com outros. De fato, quando afirmamos que a impermanência dos fenômenos são sutis, declaramos que eles não permanecem os mesmos num par de momentos consecutivos. Todavia, se um fenômeno não mudasse -ainda que sutilmente - de momento a momento, jamais cessaria de existir. Por exemplo, o livro que estamos lendo neste instante não é o mesmo livro que estávamos lendo no instante anterior, e ele só veio a existir porque o livro do instante anterior cessou de existir.

Nada é Fixo ou Permanente

Mesmo sabendo que não vamos permanecer jovens para sempre, em algum lugar das nossas mentes nutrimos a noção inata de que escaparemos da impermanência. Quando paramos diante do espelho sentimos que estamos olhando para nós mesmos e não demora muito para nos darmos conta do quanto envelhecemos. Nossos corpos ficam sujeitos as marcas da passagem do tempo, tanto a nivel externo quanto a nível interno, exibindo sinais típicos e inexoráveis do envelhecimento e que podem ser facilmente percebidos como a mudança do cabelo, da pele, dos braços, das pernas, a flacidez abdominal etc., nos deixando preocupados e infelizes.

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para o envelhecimento. Mesmo quando queremos acreditar que envelhecer é sinônimo de amadurecer com sabedoria e serenidade, que podemos viver plenamente, sabendo aproveitar cada fase da vida com saúde e alegria, a pressão social tem dificultado isso. Nas sociedades modernas não é incomum que mulheres e homens escondam suas idades, como se o passar dos anos fosse um motivo de vergonha, levando a fazerem grandes esforços para melhorar a aparência que mostram no mundo.

O processo de envelhecimento é marcado por uma deterioração física e mental que, às vezes, não aceitamos, gerando conflitos e dificuldades de adaptação às novas circunstâncias vitais. De fato, a maioria das pessoas fica infeliz com os primeiros sinais do envelhecimento, e com o aumento da longevidade elas percebem que passam mais da metade da vida envelhecendo. Mudanças vão surgir e serão inevitáveis, o corpo pede repouso, descanso e cuidados, o mais adequado é dar isso tudo a ele. E se nossa mente não está tão desperta nem tão ativa, significa que não podemos esperar de nós mesmos o mesmo que esperávamos em etapas anteriores.

Nosssos corpos mudam a todo momento, e não há como evitar isso. Aquele pulso da energia que reverberava em nós na adolescência se torna letárgico. Nossos membros e sentidos falham. Mas pelo reconhecimento realista conjugado com a aceitação da natureza mutável dos nossos corpos, poderemos lidar de forma mais sábia com o sofrimento decorrente do processo de envelhecimento. Dessa forma, vamos compreender que é da natureza dos nossos corpos envelhecerem.

Outro equívoco muito comum em relação ao nosso corpo físico está contido na expectativa de que ele nos traz felicidade duradoura. Ser saudável é um apego reforçado culturalmente, há uma preocupação exagerada em nos mantermos saudáveis que pode culminar no desenvolvimento de estados mentais negativos ou até mesmo agressivos. Nestes casos, precisamos compreender que é da natureza dos nossos corpos adoecerem, embora ninguém goste de ficar doente não conhecemos ninguém que nunca adoeceu. Assim, se pudermos aceitar a fragilidade de nossos corpos e que eles estão sujeitos a adoecer estaremos cultivando um estado mental mais calmo e feliz.

Outro equívoco frequente sobre o corpo físico é que ele seria intrinsicamente puro e atraente. Há um forte apego a boa aprência, reforçado também pela sociedade em que vivemos. Corpos sedutores e atléticos são valorizados e tendem a ser preferidos, já aqueles que não se encaixam nessas

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categorias são preteridos ou até mesmo serem vítimas de preconceitos. Podemos nos manter saudáveis, relativamente bem cuidados e bem vestidosn mas sem gerar forte apego, pois preocupações exageradas com a aparência podem nos deixar infelizes.

Logo, se procurarmos por uma entidade sólida e imutável para chamar de "meu corpo", não acharemos nada. Não existe um fenômeno permanente e estático que se possa identificar como corpo. E, assim como aquilo que denominamos "meu corpo" pode ser fragmentado em cabeça, tronco e membros; que por sua vez pode ser dividido em móleculas; e por sua vez em particulas bem menores chamadas átomos; e continuando a fragmentá-lo chegaremos ao ponto em que poderemos afirmar que "meu corpo" não é uma entidade inerente. E nem é inerentemente atraente ou feio.

Essas quatro noções equivocadas - que nossos corpos são imutáveis, que trazem felicidade duradoura, que são inerentemente puros e que possuem natureza verdadeira e acessível - exageram as qualidades do nosso corpo nos deixando ansiosos e infelizes. Daí a importância de estudar, contemplar e meditar sobre a impermanência e também sobre nossa morte iminente, pois dá um sentido maior de urgência ao uso de nosso renascimento humano atual. Sem o reconhecimento dessa excelente oportunidade que a fugacidade da vida nos concede, poderemos considerar nossa meditação sobre a morte deprimente e masoquista.

As Duas Verdades e a Identidade

Antes de abordar a vacuidade vamos considerar um tema importante no Budismo, que diz respeito as duas verdades: a convencional ou relativa; última ou absoluta. A propósito, a verdade última não pode ser ensinada, senão apoiando-se na verdade relativa. Mas só a realização da verdade última conduz ao nirvana. Daí dizer que ambas são verdadeiras.

Todos os fenômenos podem ser vistos segundo dois níveis de realidade, em que as duas verdades correspondem a dois pontos de vista da realidade: a verdade ou visão relativa é convencional ou relativamente verdadeira, mas absolutamente ilusória; e a verdade ou visão absoluta é definitivamente verdadeira, a experiência autêntica além de toda ilusão. É por não incidirmos no reconhecimento radical da verdade relativa, enquanto tal, que também podemos designar por verdade convencional; mas é pela absolutização indevida de qualquer ser ou forma que mantemos a ilusória separação entre

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sujeito e objeto.

A verdade convencional é o nível empírico, relativo e fenomenal àquilo que nos parece ser, onde causas e condições, nomes e rótulos podem ser validamente compreendidos. A verdade absoluta é um nível profundo de existência, para além do primeiro, que os budistas descrevem como o fundamental, ou realidade final ou última, a natureza da realidade, e que muitas vezes é tecnicamente referido como "vazio". Assim, pelo estudo e prática regular do Dharma é possível perceber, ao mesmo tempo, as coisas

como existentes mundo afora (a verdade convencional), bem como reconhecer que não dispõem de uma existência inerente (a verdade absoluta). Sustentar essas duas posições aparentemente contraditórias só é possível quando reconhecemos que a “realidade” não é um fenômeno com existência objetiva e independente da nossa experiência.

As Duas Verdades são a explicação de um dado objeto que está sendo observado por dois ângulos diferentes. Estas Duas Verdades são fenômenos diferentes. Uma flor, por exemplo, que tem um nível relativo de existência onde todas as convenções podem ser aplicadas, como cor e cheiro. Depois há a realidade mais profunda, absoluta. A natureza absoluta age como base para receber as coisas ou permitir a elas que tenham todas as suas diferentes funções. Visto que as Duas Verdades são explicadas tomando o mesmo objeto, elas também são consideradas como mutuamente excludentes.

Portanto, o Budismo vê a realidade a partir de duas perspectivas. Da perspectiva última, o "eu" é visto como ilusório, como uma construção vazia de existência intrínseca. Da perspectiva convencional, percebemos um "eu" de modo convencional que parece ser independente das pessoas e coisas. Basicamente, nós não temos um "eu" mas na vida cotidiana nós temos. Buda sabia que no nível convencional há um "eu", pois funcionamos a partir da perspectiva relativa nos relacionando com o mundo e com tudo que nele existe. Mas no nível básico, os fenômenos não existem como coisas separadas ou duradouras. Tudo o que há é uma rede de inter-relacionamentos que se desenvolve constantemente.

O conceito de Vacuidade (“não eu”)

Embora falemos de um "eu" no Budismo, consideramos qualquer conceito de "eu" meramente imputado ou identificado na dependência de um corpo-mente. Conhecer realmente a natureza do "eu" é escapar do samsara. Por

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isso, é imperativo nos dedicarmos a investigação da real natureza desse "eu". O fato de existirmos como indivíduos não pode ser negado. Isso é afirmado pela nossa própria experiência cotidiana.

Buda ofereceu uma visão a respeito, na qual propõe que o "eu" existe meramente na dependência de suas partes mentais e físicas. Assim como não pode haver um celular livre das partes que o compõem, não pode haver um "eu" que exista de forma independente das partes que compõem uma pessoa, explicou Buda.

Buda ensinou que imputar um "eu" unitário, imutável, permanente e autônomo, independente das partes que compõem um indivíduo, introduziria algo que não existe e, desse maneira, reforçaria um sentimento instintivo de "eu". Por isso, Buda propôs a ideia da insubstancialidade ou não eu - a impessoalidade.

O que quer dizer “não eu”? A expressão “não eu” é a tradução do termo

anatta ou anatman, e indica que nada existe de forma isolada e independente.

Na verdade, nada existe como entidade sólida e independente. Tudo carece de existência independente, de uma natureza essencial, do seu "próprio ser". Isso é o que queremos dizer com existência inerente – entidades sólidas e independentes que existem por si mesmas, completamente independentes da influência de qualquer outra coisa. É assim que as coisas aparecem e são percebidas por nós. Daí dizermos que é vazio/vazia de existência inerente, carecendo de natureza própria, porque todas as coisas são interconectadas e interdependentes. Logo, podemos sintetizar essa marca ou característica numa única frase: “todos os fenômenos são vazios”.

Enquanto acharmos que nossas partes ou agregados têm uma existência natural legítima, não conseguiremos eliminar nosso apego à noção de "eu" completamente. Daí os budistas advogarem o cultivo do discernimento da ausência do "eu" - vazio -, pois trabalham para reconhecer a ausência de um "eu" autossuficiente e substancialmente real. Para chegarmos a uma percepção profunda dessa impessoalidade ou o "não eu" da pessoa devemos desenvolver a mesma percepção da insubstancialidade dos fenômenos - das partes de que são compostos. Logo, em relação a existência intrínseca de nosso "eu" e dos fenômenos ocorre o mesmo.

Enquanto atribuirmos existência objetiva ao mundo que nos cerca, vamos nutrir uma multiplicidade de noções e sentimentos, como apego, raiva e

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aversão. Pela compreensão da impessoalidade chegamos a negação de qualquer vestígio de apego a uma ideia de realidade inerentemente existente, independente e objetiva. Portanto, é pelo cultivo do discernimento desse significado extremamente sutil do vazio a ausência de existência autônoma -que poderemos solapar a ignorância fundamental -que nos prende ao samsara.

Insubstancialidade e Identidade Pessoal

A questão básica em relação as aflições emocionais reside na falsa ideia de identidade. Essa cegueira do "eu" deve ser abolida por meio do estudo de nós mesmos, ou seja, pelo estudo do Dharma. Com efeito, o Budismo considera a

ideia de alma eterna ou "eu" uma ilusão, uma ignorância fundamental que deve ser removida. Pelo estudo, contemplação e meditação no  Dharma

poderemos reconhecer que, na raiz das nossas aflições cotidianas, encontra-se um apego forte e equivocado àquilo que percebemos como nossa identidade intrinsicamente real. Enquanto nos apegarmos a essa ideia de existência objetiva - de que existe algo de maneira concreta e identificável - estaremos sujeitos ao desejo e a aversão.

A crença em nós mesmos como um ser único e integrado é muita poderosa. Nós pensamos: Este é o meu corpo. Esta é a minha mente. Buda ensinou que este ponto de vista, é não só inerente e equivocado, sendo também fonte de muito sofrimento. Quando começamos a desconstruí-lo pela meditação, questionando se o "eu" ainda existiria sem o corpo e suas respectivas partes, sem os seis sentidos e sem as memórias, poderemos compreender que o "eu" é apenas um conceito.

De acordo com os ensinamentos budistas, o núcleo da consciência é composto de vários elementos, os cinco tipos de agregados (skandhas) que

são classificados em duas categorias: mente e corpo. De acordo com as escrituras budistas, o "eu" existe com base nos skandhas e não como algo que

não está relacionado com eles ou que venha de outro lugar. Há a sensação inata de que nosso corpo é propriedade nossa, damos por certo que nosso corpo pertence ao "eu". Da mesma maneira, há uma sensação inata de "minha mente", de forma que a mente também é vista como pertencente ao "eu". Portanto, isso contribui para transmitir uma falsa ideia de uma consciência do "eu", e em vista disto, consideramos que o "eu" é diferente do corpo e da mente.

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não encontramos um "eu" existente à parte do corpo e da mente. Por outro não encontramos um "eu" existente à parte do corpo e da mente. Por outro lado, se esse "eu" não existisse absolutamente, não haveria nenhum ser lado, se esse "eu" não existisse absolutamente, não haveria nenhum ser humano; indicando então que se trata de um "eu" convencional, que é mera humano; indicando então que se trata de um "eu" convencional, que é mera imputação ou nome que não é substancial. Quando chegamos à conclusão de imputação ou nome que não é substancial. Quando chegamos à conclusão de que a essência de um fenômeno não pode ser encontrada depois de ter sido que a essência de um fenômeno não pode ser encontrada depois de ter sido investigada através da análise, essa não é uma indicação de esse fenômeno investigada através da análise, essa não é uma indicação de esse fenômeno não existe, mas se presta a negar sua existência inerente. Vamos não existe, mas se presta a negar sua existência inerente. Vamos compreender, que a partir da análise de um fenômeno que tem, no nivel compreender, que a partir da análise de um fenômeno que tem, no nivel convencional, qualidades como a de ir e vir ou produção e cessação, resulta convencional, qualidades como a de ir e vir ou produção e cessação, resulta na refutação da existência intrínseca ou inerente.

na refutação da existência intrínseca ou inerente. Insubstancialid

Insubstancialidade e ade e InterdependênciaInterdependência

Nada realmente existe como um objeto independente. Um carro, quando Nada realmente existe como um objeto independente. Um carro, quando examinado de perto, tem quatro rodas, um chassi, um motor; visto ainda mais examinado de perto, tem quatro rodas, um chassi, um motor; visto ainda mais de perto é simplesmente a mistura de metal e borracha, vidro e plástico, couro de perto é simplesmente a mistura de metal e borracha, vidro e plástico, couro e pintura. Um livro não é um todo unificado; é a combinação de páginas e pintura. Um livro não é um todo unificado; é a combinação de páginas individuais, que são feitas de fibra de papel e de tinta. E assim por diante, até individuais, que são feitas de fibra de papel e de tinta. E assim por diante, até uma visão molecular ou atômica. É um equívoco acreditar que o carro é um uma visão molecular ou atômica. É um equívoco acreditar que o carro é um todo sem partes, quando na verdade é composto de infinitas partes que são todo sem partes, quando na verdade é composto de infinitas partes que são interdependentes.

interdependentes.

Portanto, ao vermos algo que nos agrada no nosso exemplo um carro Portanto, ao vermos algo que nos agrada no nosso exemplo um carro -nós o percebemos como possuidor de uma qualidade real de existência entre nós o percebemos como possuidor de uma qualidade real de existência entre suas partes. Não vemos o carro como uma coleção de partes, mas como uma suas partes. Não vemos o carro como uma coleção de partes, mas como uma entidade existente, dotada de qualidades específicas típicas de um carro. E, entidade existente, dotada de qualidades específicas típicas de um carro. E, quando se trata de um carro que desperta o desejo de adquirí-lo, nossa quando se trata de um carro que desperta o desejo de adquirí-lo, nossa percepção é acentuada pelas qualidade percebidas como inerentemente percepção é acentuada pelas qualidade percebidas como inerentemente existentes e que são entendidas como parte da natureza do carro. Devido a existentes e que são entendidas como parte da natureza do carro. Devido a percepção equivocada do carro surge o desejo de adquirí-lo. Igualmente, a percepção equivocada do carro surge o desejo de adquirí-lo. Igualmente, a aversão em relação a outro carro do qual não gostamos surge como resultado aversão em relação a outro carro do qual não gostamos surge como resultado de atribuirmos qualidades repulsivas que lhe seriam intrínsecas.

de atribuirmos qualidades repulsivas que lhe seriam intrínsecas.

Como as coisas não existem apenas por sua livre e espontânea vontade, Como as coisas não existem apenas por sua livre e espontânea vontade, mas na dependência de condições, elas mudam onde quer que encontrem mas na dependência de condições, elas mudam onde quer que encontrem condições diferentes. Desta forma, elas vêm a existência sob a dependência condições diferentes. Desta forma, elas vêm a existência sob a dependência de certas condições e cessam de existir sob a dependência de condições. A de certas condições e cessam de existir sob a dependência de condições. A própria falta de qualquer existência inerente, independente de causa e própria falta de qualquer existência inerente, independente de causa e condições, é a base para todas as mudanças possíveis para um dado condições, é a base para todas as mudanças possíveis para um dado fenômeno, tais como nascimento, cessação e assim por diante. fenômeno, tais como nascimento, cessação e assim por diante.

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Consequentemente, quer seja um fenômeno externo ou interno, não há nada Consequentemente, quer seja um fenômeno externo ou interno, não há nada que não seja dependente de suas partes ou de seus aspectos.

que não seja dependente de suas partes ou de seus aspectos.

Ao relacionarmos esse processo com o modo como vivenciamos nosso Ao relacionarmos esse processo com o modo como vivenciamos nosso sentido de existência e também ao modo como surge a ideia de "eu", notamos sentido de existência e também ao modo como surge a ideia de "eu", notamos que ele se dá, invariavelmente, em relação a algum aspecto de nossas partes que ele se dá, invariavelmente, em relação a algum aspecto de nossas partes físicas ou mentais. A ideia que temos de nós mesmos baseia-se não só no físicas ou mentais. A ideia que temos de nós mesmos baseia-se não só no sentimento de nosso eu físico e afetivo, mas também porque sentimos que sentimento de nosso eu físico e afetivo, mas também porque sentimos que esses aspectos físicos e mentais têm existência própria. Logo, uma mera esses aspectos físicos e mentais têm existência própria. Logo, uma mera sensação corporal de calor ou frio contribui para nutrir o sentimento de sensação corporal de calor ou frio contribui para nutrir o sentimento de sermos um "eu" sólido e legítimo.

sermos um "eu" sólido e legítimo.

No nívem superficial, a existência dependente e o vazio, explicados acima, No nívem superficial, a existência dependente e o vazio, explicados acima, pode parecer contraditórios. Porém, no nível mais profundo pode chegar a pode parecer contraditórios. Porém, no nível mais profundo pode chegar a compreender que os fenômenos, por serem vazios, existem de forma compreender que os fenômenos, por serem vazios, existem de forma dependente e, por causa dessa existência dependente, são vazios por natureza. dependente e, por causa dessa existência dependente, são vazios por natureza. Assim, pode-se estabelecer tanto o vazio como a existência dependente num Assim, pode-se estabelecer tanto o vazio como a existência dependente num único fundamento, mas que possui duas faces.

único fundamento, mas que possui duas faces. O

O ContinuumContinuum da Mente e o da Mente e o ContinuumContinuum do Mero Eu do Mero Eu

Todos os seres sencientes são dotados de mente, que é muito mais que Todos os seres sencientes são dotados de mente, que é muito mais que pensamentos e capacidades mentais. Mente no sentido usado no livro, é pensamentos e capacidades mentais. Mente no sentido usado no livro, é consciência ou consciência mental, – uma forma de energia não física – que é consciência ou consciência mental, – uma forma de energia não física – que é naturalmente lúcida e reflete tudo que é vivenciado como se fosse um naturalmente lúcida e reflete tudo que é vivenciado como se fosse um espelho. Desse significado decorre também que ninguém faz parte de uma espelho. Desse significado decorre também que ninguém faz parte de uma mente maior ou universal, pois cada um tem a sua própria corrente mental ou mente maior ou universal, pois cada um tem a sua própria corrente mental ou continuum mental - continuidade da mente no tempo.

continuum mental - continuidade da mente no tempo.

Diferentemente do cérebro, que tem pensamentos e sensações, a mente não Diferentemente do cérebro, que tem pensamentos e sensações, a mente não é uma coisa, mas o espaço no qual os pensamentos, sensações, sentimentos, é uma coisa, mas o espaço no qual os pensamentos, sensações, sentimentos, percepções, lembranças e sonhos vêm à luz. Todavia, a mente não é espaço percepções, lembranças e sonhos vêm à luz. Todavia, a mente não é espaço propriamente dito, porque ela nunca tem formato e cor. Já o espaço pode ter propriamente dito, porque ela nunca tem formato e cor. Já o espaço pode ter formato e cor: claridade durante o dia e escuridão durante a noite. Apesar da formato e cor: claridade durante o dia e escuridão durante a noite. Apesar da mente não deixar rastros, é possível reconhecer que ela além de não ter mente não deixar rastros, é possível reconhecer que ela além de não ter formato e cor também não tem forma, tamanho, cheiro ou som. Embora formato e cor também não tem forma, tamanho, cheiro ou som. Embora intangível, ela está presente em todos os lugares, e em todos os tempos, intangível, ela está presente em todos os lugares, e em todos os tempos, permitindo o surgimento dos objetos e está envolvida com eles; pode-se permitindo o surgimento dos objetos e está envolvida com eles; pode-se afirmar inclusive, que todos os fenômenos são precedidos por ela.

afirmar inclusive, que todos os fenômenos são precedidos por ela.

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