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AULA 1 09/02/11 TÍTULOS DE CRÉDITO

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AULA 1 – 09/02/11

TÍTULOS DE CRÉDITO

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1 A TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

O título de crédito pode ser caracterizado, em sentido genérico, como um documento que se destina a representar um crédito, facilitando assim a sua circulação entre titulares distintos, em substituição à moeda, propiciando segurança à circulação de valores.

O direito de crédito é expressão atrelada ao termo obrigação. Pode ser percebido como o direito atribuído ao credor para exigir do devedor o cumprimento de uma certa obrigação. Interessa-nos apenas uma modalidade de crédito: o pecuniário.

O direito de crédito é, sem duvida nenhuma, no âmbito dos direitos disponíveis, aquele de maior circulação no mundo atual, sobretudo quando associado a um valor de natureza pecuniária (pecus, do grego, boi – antiga moeda).

No Brasil existe cerca de quarentas modalidades de títulos de crédito, cada uma delas regulada por uma norma específica. As principais – por preencherem a maioria das necessidades civis e comerciais – são: a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata (títulos perfeitos).

A lógica dos títulos de crédito está assentada em duas finalidades: promover e facilitar a circulação de crédito e de seus respectivos valores; e propiciar segurança a circulação de valores. Exemplificando: compra e venda a prazo efetuada com cheques pré-datados.

Um título de crédito é um documento representativo de um direito de crédito e não originário deste, na medida em que a existência de um direito de crédito não exige a criação de um título, mas, pelo contrário, a existência do título exige a preexistência do direito a ser por ele representado.

Consideremos o seguinte exemplo: João empresta a Pedro R$ 1.000,00. Trata-se de um contrato de empréstimo – o mútuo. Há duas situações possíveis a serem aventadas: João não tem um título de crédito fornecido por Pedro (ex.: cheque pré-datado “bom para”) ou o tem.

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Primeira situação (João não tem o título de crédito): inadimplente Pedro, João (que não pode exercer a autotutela – constranger Pedro) buscará o judiciário – ingressará com ação em processo de conhecimento de modo que terá que provar que é credor insatisfeito.

Segunda situação (João tem o título de crédito): inadimplente Pedro, João (que não pode exercer a autotutela) buscará o judiciário – ingressará com ação em processo de execução de modo que o título de crédito devidamente preenchido e dentro do prazo prescricional faz prova em si.

O título faz prova de liquides, certeza e exigibilidade (as três condições para exigir a execução). Escapa-se do conhecimento, logo do contraditório. Anexa-se na petição o cheque original e planilha de juros e honorários advocatícios.

Inicia-se execução com quantia certa contra devedor solvente1. O devedor é citado para efetuar o pagamento em até três dias. Não o fazendo, advém a penhora (restrição do patrimônio do devedor) on line (contas, automóveis, aeronaves etc.) e se infrutífera, penhora física dos bens localizados.

2 A ORIGEM HISTÓRICA

Noventa por cento do Direito Empresarial é oriundo do Direito Italiano. Os títulos de crédito têm a sua origem mais precisa por volta do século XIII, no período compreendido entre a Baixa Idade Média e o início da Idade Moderna, mais conhecido por Renascimento Comercial.

Nesse período histórico, em que o modo de produção feudal, baseado na imobilidade e na troca de produtos dentro dos limites do feudo, entrou em declínio, um modo de produção passou a ser desenvolvido nas vilas conhecidas por burgos, extrapolando os limites feudais.

Nos burgos surgiu uma nova categoria profissional, que viria a constituir uma nova classe social – a burguesia. Ela era constituída por mercadores, banqueiros e manufatureiros e passou a fomentar o crescimento de um comércio pujante: era o renascimento comercial.

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Código Civil do Brasil (2002): Art. 614. Se a obra constar de partes distintas, ou for de natureza das que se determinam por medida, o empreiteiro terá direito a que também se verifique por medida, ou segundo as partes em que se dividir, podendo exigir o pagamento na proporção da obra executada. § 1o Tudo o que se pagou presume-se verificado. § 2o O que se mediu presume-se verificado se, em trinta dias, a contar da medição, não forem denunciados os vícios ou defeitos pelo dono da obra ou por quem estiver incumbido da sua fiscalização.

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O poder feudal se desagregava e as monarquias nacionais ainda não haviam se consolidado no mundo moderno. O comércio crescia. A circulação de valores exigia canais rápidos e seguros que superassem os habituais entraves.

Os entraves: aqueles gerados pela diversidade de moedas, muitas vezes entre cidades vizinhas, característica do sistema feudal e da inexistência de unidade política e monetária; e a falta de segurança nas estradas e mares por onde transitavam mercadores e dinheiro.

Algumas cidades, bons exemplos são Gênova, Pisa e Veneza, faziam-se cidades-estado. Neste norte eram pequenos Estados que concretizavam suas próprias leis, cunhavam suas próprias moedas e patrocinavam grandes trocas de mercadoria.

Como forma de minorar os efeitos dos sobreditos entraves, os comerciantes passaram a emitir ordens de pagamento, em substituição às moedas utilizadas: letera di cambio (carta de troca). A sistemática empregada à época pode ser explanada como se segue.

O vendedor, munido de sua mercadoria, se deslocava de sua cidade até a cidade do comprador. O comprador entregava-lhe uma ordem de pagamento dirigida a uma casa bancária localizada na cidade de origem do vendedor. De volta a sua cidade, o vendedor trocava a ordem por moeda corrente.

Os títulos de crédito foram uma das mais geniais criações jurídicas e comerciais, sendo instrumento imprescindível à rápida circulação de valores exigida pelas sociedades moderna e contemporânea. Disto resultou a criação da primeira modalidade: a letra de câmbio.

Por ter sido a letra de câmbio precursora dos títulos de crédito, usa-se a expressão cambial ou cambiário para designar os elementos relacionados a um título de crédito. Neste norte, Direito Cambiário é o ramo do direito comercial que estuda os títulos de crédito.

3 A DEFINIÇÃO

O comercialista italiano Cesare Vivante concebeu a melhor definição para a expressão título de crédito, que, no seu entendimento, é o “documento necessário ao exercício de um direito literal e autônomo que nele se contém”. Tal é reproduzida na doutrina e em nosso Código Civil2.

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Código Civil do Brasil (2002): Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

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4 AS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS

4.1 CARTULARIDADE

Um título de crédito existe enquanto existir a sua cártula, ou seja, o próprio título impresso. Tal representa o direito de crédito e deve conter todas as informações relativas ao crédito cambiário. Daí o brocado: o que não está no título não está no mundo. Se aceita a cópia autenticada.

O termo cartularidade vem da palavra cártula que quer dizer cartela, documento, papel. É o aspecto físico do título. Exemplo: o cheque. Se o credor perder o cheque, perdeu o título, não o direito de crédito (mas, a satisfação será mais complicada – processo de conhecimento, não, execução).

Menção especial merece o chamado título eletrônico ou virtual. Note que não se trata de encaminhar, por exemplo, uma duplicata em arquivo PDF de um interlocutor ao outro. Em verdade, tal não existe de modo impresso. Exige previsão legal, no momento impossível no Brasil.

4.2 LITERALIDADE

Literalidade é sinônimo de exatidão, rigorosidade. É a obrigatoriedade de o título de crédito estar devidamente preenchido, explicitando, assim, de forma literal, a obrigação por ele representada. Neste norte, percebe-se que a literalidade reveste-se de um aspecto eminentemente formal.

Representa a garantia para as partes na relação cambial, Por um lado, o beneficiário tem assegurado o seu direito de crédito no valor literalmente expresso; por outro, o obrigado não pode ser cobrado por valor superior àquele literalmente constante no título.

Caso o beneficiário dê quitação ao obrigado cambiário pela totalidade de crédito representado por título com o recebimento em pagamento de quantia em valor inferior àquele literalmente expresso, tal implicará mera liberalidade do beneficiário na condição de credor.

Por outro lado, após o vencimento do título, é assegurado ao beneficiário o direito de exigir do obrigado cambiário o valo do título acrescido de juros de mora, multa e honorários advocatícios, podendo o devedor efetuar o pagamento parcial do título que será anotado pelo credor na cártula.

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Neste norte consideremos o seguinte exemplo. João recebe de Pedro um cheque no valor de R$ 500,00. João acrescenta no referido título de crédito: “pague mais R$ 100,00 por este cheque”. Inexiste literalidade. O cheque está invalidado.

4.3 A AUTONOMIA

4.3.1 O Conceito

A obrigação que se origina de um título de crédito (obrigação cambial ou cambiária) é autônoma em relação às demais obrigações decorrentes do mesmo direito de crédito (obrigações civis ou comerciais) que deram causa ao título.

Podemos dizer que tal obrigação gera direitos autônomos no campo processual. No campo material, entretanto, o direito de crédito é um só, estando apenas representado pelo título a partir da sua emissão. Todo título de crédito já nasce autônomo.

A autonomia encerra em si duas características ou princípios, que podem ou não surgir em um título de crédito, dependendo de sua entrada ou não em circulação. Ele entra em circulação quando a sua propriedade é transferida a terceiro de boa-fé.

4.3.2 A Primeira Característica: Abstração

É a desvinculação de um título de crédito em relação ao negócio jurídico que motivou a sua criação. Todo título de crédito tem origem em uma relação de débito e crédito que constitui o motivo concreto para a sua criação.

Assim, a abstração opõe-se a concreção, sendo que, uma vez colocado em circulação, o título se desvincula do negócio concreto que o originou, como forma de proteger o terceiro de boa-fé e conferir segurança jurídica à circulação do crédito representado pelo título.

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4.3.3 A Inoponibilidade de Exceções

O devedor (obrigado cambiário), uma vez requerido judicialmente a efetuar o pagamento de valor constante de título, pode apresentar defesas, aqui denominadas exceções, e estas podem ser de duas modalidades: cartular e extracartular.

A exceção de natureza cartular: tem por fundamento uma alegação relacionada a própria cártula e podem ser verificadas pelo exame da cártula em questão. Assim, cabe, por exemplo, nas hipóteses em que haja falsificação de assinatura e adulteração de valores.

A exceção de natureza extracartular: tem por fundamento argumento relacionado à convenção cambial, ou seja, ao próprio negócio jurídico que gerou o direito de crédito representado pela cártula. Somente é oponível ao credor originário enquanto for proprietário do título.

Neste norte, a transferência do título a um terceiro de boa-fé, com sua conseqüente entrada em circulação, afasta a possibilidade de o obrigado opor alguma exceção de natureza extracartular contra o terceiro que venha a tornar-se titular do crédito representado pelo título.

Neste sentido, o Código Civil3 dispõe que o devedor somente poderá opor ao endossatário as exceções relativas à forma do título e ao seu, contudo literal, à falsidade da própria assinatura, o defeito de capacidade ou representação à subscrição e à falta de requisito ao exercício da ação.

Assim, a exceção de natureza cartular pode ser oposta ao credor originário ou ao novo credor (ex.: o endossatário, quando o título for transferido mediante endosso), pois acompanha a cártula por onde quer que ela circule.

No entanto, a exceção de natureza extracartular somente pode ser oposta em relação ao credor originário ou primitivo por estar adstrita à relação fundamental originária do crédito representado pela sobredita cártula.

Exemplo: João contrata com Pedro a compra e venda do automóvel do primeiro. Do ponto de vista jurídico surgiu uma relação contratual. Os contratantes convencionam, com vistas a garantir o cumprimento das obrigações, que o comprador emitira nota promissória.

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Código Civil do Brasil (2002): Art. 915. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação.

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A emissão da nota promissória (promessa de pagamento) do comprador para o vendedor representa o surgimento de uma segunda relação obrigacional entre João e Pedro, sendo a mesma denominada relação cambial.

Assim, numa primeira hipótese, verificando-se o pagamento regular por Pedro, João é obrigado a proceder à devolução a Pedro da nota promissória por este anteriormente emitida como garantia do pagamento do preço (resgate do título).

Por outro lado, numa segunda hipótese, imaginemos se decorridos cinco dias da entrega do veículo ao comprador, este detectar vício oculto no automóvel (redibitório) e propor um abatimento do preço ou o desfazimento do negócio.

Imaginemos, ainda, que João não concorde com nenhuma das alternativas propostas por Pedro e, ao fim do prazo de quinze dias, notifique Pedro que proceda ao pagamento do preço avençado, sob pena de protesto e execução da nota promissória.

Pedro ingressa com uma ação ordinária de anulação contratual, com vistas a anular o contrato de compra e venda celebrado com João e obrigá-lo judicialmente ao recebimento do automóvel. João ingressa com ação de execução contra Pedro, com fulcro na nota promissória.

A possibilidade de João ingressar com uma medida judicial própria para cobrar o valor do título caracteriza a autonomia cambial, e qualquer defesa que possa ser interposta por Pedro deverá ser feita nos autos da respectiva ação de execução.

Assim, a ação ordinária proposta por Pedro atinge apenas a relação contratual de compra e venda existente, ao passo que a ação de execução proposta por João atinge apenas a relação cambial vigente entre as partes e representada pela nota promissória.

Por fim, uma terceira hipótese, João não aguarda o prazo de vencimento estabelecido na nota promissória e endossa o título a um terceiro de boa-fé. A relação cambial anteriormente existente é transferida para o endossatário, que assume a titularidade no pólo ativo da relação cambial.

Nessa hipótese, a relação contratual entre João e Pedro continua vigorando, mas a relação cambial entre eles anteriormente existente passa a existir entre o endossatário e Pedro. Pedro somente poderá defender-se opondo exceções de natureza cartular.

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5 A SISTEMÁTICA LEGAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO E O CÓDIGO CIVIL

No Brasil, cada uma das modalidades de títulos de crédito existentes encontra-se disciplinada por leis específicas. Destacam-se como principais modalidades: a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata.

A letra de câmbio e a nota promissória estão reguladas pelo Decreto n. 2.044/2008 (Lei Saraiva) e pelo Decreto n. 57.663/1966 (introduziu no direito brasileiro as disposições da Convenção de Genebra, realizada em 1930, à qual o Brasil aderiu em 1942).

A referida norma destinava-se a uniformizar as legislações internas dos países signatários, sendo por isso chamada de Lei Uniforme. Mas, o Brasil, quando de sua adesão à Convenção, efetuou certas reservas. Destarte o texto brasileiro não corresponde integralmente ao da Convenção.

O cheque, por sua vez, está disciplinado pela Lei n. 7.357/1985 (Lei do Cheque). E, finalmente a duplicata, título eminentemente brasileiro, encontra-se regulada pela Lei n. 5.474/1968 (Lei de Duplicatas).

Até a edição do Código Civil, inexistia no Brasil norma que se propusesse a regular os títulos de crédito em geral. Em 2002, este ordenamento trouxe em seus artigos 887 e 926 disposições genéricas aplicáveis aos títulos de crédito4.

O fato de os títulos de crédito no Brasil estarem disciplinados por leis específicas, porém, afasta, em princípio, a incidência direta do Código Civil sobre os mesmos. Tal encontra respaldo no princípio de que a lei especial prepondera sobre a geral5.

Disto resulta que a regência do Código Civil, em matéria de títulos de crédito é tão-somente supletiva, disciplinando a matéria, adicionalmente, naquilo que as leis especiais não o fizerem. Na prática, existem as leis especiais.

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Código Civil do Brasil (2002): Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Art. 926. Qualquer negócio ou medida judicial, que tenha por objeto o título, só produz efeito perante o emitente ou terceiros, uma vez feita a competente averbação no registro do emitente.

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