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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR NO CLIMA DE INVERNO NA CIDADE DE SÃO PAULO

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Academic year: 2021

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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR NO CLIMA DE INVERNO NA CIDADE DE SÃO PAULO

Andréa de Oliveira Cardoso* e Pedro Leite da Silva Dias**

*Bolsista de Pós-Graduação FAPESP – Departamento de Ciências Atmosféricas – Instituto Astronômico e Geofísico - Universidade de São Paulo

Rua do Matão, 1226 – CEP 05508-900 – São Paulo - SP E-mail: andreca@model.iag.usp.br

** Departamento de Ciências Atmosféricas – Instituto Astronômico e Geofísico - Universidade de São Paulo E-mail: pldsdias@model.iag.usp.br

RESUMO

Regiões de influência da temperatura da superfície do mar dos oceanos Atlântico e Pacífico sobre o clima de inverno na cidade de São Paulo foram verificadas em Cardoso e Silva Dias (2000a). Neste trabalho, através de análises de casos de 4 invernos extremos foram avaliadas na prática estas influências. O presente estudo também auxiliou na identificação de outros fatores que possam estar associados a invernos anômalos ocorridos nessa região.

ABSTRACT

Regions of influence of sea surface temperature of Atlantic and Pacific oceans over Sao Paulo city in the winter season was verified by Cardoso and Silva Dias (2000a). In this work, through of analysis of four extreme winters was checked in practice these influences. The present study also helped in identification of others factors which can be associated the anomalous winters occurred in this region.

Palavras-chaves: Temperatura da superfície do mar, invernos extremos, cidade de São Paulo

1. Introdução

A cidade de São Paulo está localizada geograficamente na Bacia Sedimentar de São Paulo, sendo cortada pelo Trópico de Capricórnio na latitude subtropical de 23,5ºS, está a 50 Km da costa do Oceano Atlântico a uma altitude de 750 m acima do nível do mar. Sua topografia é dominada por colinas que variam de 500 a 1200 m, suavizada por morros e espigões de altitudes modestas (Climanálise, 1986).

Toda essa complexidade topográfica, proximidade do oceano e das Serras do Mar e da Mantiqueira, com diversos vales subjacentes, gera um complexo de regime de vento na camada limite planetária com implicações no transporte de poluentes atmosféricos e no clima da cidade. Porém, o clima de São Paulo também sofre influências de anomalias climáticas remotas (Grimm e Silva Dias, 1995). Essas anomalias remotas em parte estão associadas à alterações de temperatura da superfície do mar (TSM) em regiões tropicais.

Pauliquevis Jr. (1997) mostrou que o clima de São Paulo apresenta boa correlação com anomalias de TSM na faixa tropical do Pacífico e com o dipolo do Oceano Atlântico. Recentemente Silva (1998), observou que a temperatura da cidade de São Paulo apresenta uma correlação significativa com a TSM próxima à região costeira.

(2)

O presente trabalho tem como principal objetivo complementar os estudos de Cardoso e Silva Dias (2000a) (CSD), analisando, em casos de invernos extremos, o comportamento das regiões dos oceanos Atlântico e Pacífico identificadas por esse autores. Também tem-se como finalidade identificar outros fatores que possam estar associados a invernos anômalos ocorridos na cidade de São Paulo.

2. Dados e Metodologia

Neste estudo foram utilizados médias mensais de TSM do Comprehensive Ocean-Atmosphere Data Set (COADS), Woodruffl et al. (1998), com resolução espacial de 1ºX1º, médias mensais e dados diários de temperatura da estação meteorológica do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da USP, com períodos estendendo-se de 1950 a 1996. A partir dos dados de TSM foram calculadas anomalias mensais, obtidas subtraindo o valor mensal de TSM da média mensal climatológica de 1950 a 1996.

Também utilizou-se diversos campos mensais derivados de variáveis meteorológicas, tais como pressão no nível do mar (PNM), anomalia de PNM, vento zonal e meridional; todos obtidos dos sites do NOAA (www.cdc.noaa.gov/reanalysis.html) e do Cptec (www.cptec.inpe.br/products/clima/ecprodp.html).

Na seleção dos invernos extremos quentes e frios utilizou-se as séries de dados diários de Temperatura de São Paulo (TSP) da estação meteorológica do IAG-USP, englobando os meses de maio a setembro de 1950 a 1996. Estas séries foram divididas em 5 grupos, mês a mês, durante os 47 anos. Esta divisão foi realizada através do cálculo de “quintis”, onde o primeiro quintil fornece o valor do 20º percentil, o segundo o valor do 40º percentil, o terceiro o valor do 60º percentil, o quarto o valor do 80º percentil e o quinto quintil fornece o valor do 100º percentil.

O percentil é obtido da seguinte forma, para cada dia de um determinado mês toda a série de 47 anos e um total de n dias de dados de TSP são ordenados de 1, para o menor valor de TSP, até n, para o maior valor de TSP. Estes valores são a seguir normalizados pelo número de dias da série, divididos por n e multiplicados por 100. Nosso interesse é identificar para cada mês, os dias e o ano em que as temperaturas ficaram abaixo do primeiro quintil e acima do quarto quintil, pois estas são as temperaturas mais baixas e mais altas, respectivamente, de toda a série.

Após a analise dos resultados fornecidos pelos quintis, selecionou-se para cada mês períodos que foram extremos frios e quentes, isto é, cujas temperaturas estavam abaixo do primeiro quintil e acima do quarto quintil. Então foram escolhidos 4 invernos anômalos para serem estudados. Os invernos selecionados foram os seguintes:

♦ Inverno de 1988, por ter sido bastante frio em junho e julho, porém anomalamente quente no final de agosto e em setembro. (figura 1a)

♦ Inverno de 1990, por ser considerado um extremo frio de maio a setembro. (figura 1b)

♦ Inverno de 1994, pelo fato de ter sido bastante frio em junho e julho, no entanto o oposto em maio e setembro. (figura 1c)

♦ Inverno de 1995, por ser anomalamente quente de maio a setembro. (figura 1d)

Assim, serão analisados dois invernos opostos, de 1990 e 1995, e dois invernos similares, de 1988 e 1994, sendo que os primeiros são considerados estações anômalas, e os últimos são divididos por alguns meses mais quentes e outros mais frios que o normal. No estudo desses casos, serão analisados diversos campos mensais derivados das variáveis meteorológicas, tais como TSM, pressão no nível do mar (PNM), vento zonal e meridional.

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T S P - I n v e r n o d e 1 9 8 8 0 , 0 5 , 0 1 0 , 0 1 5 , 0 2 0 , 0 2 5 , 0 3 0 , 0 3 5 , 0 01/05/88 06/05/88 11/05/88 16/05/88 21/05/88 26/05/88 31/05/88 05/06/88 10/06/88 15/06/88 20/06/88 25/06/88 30/06/88 05/07/88 10/07/88 15/07/88 20/07/88 25/07/88 30/07/88 04/08/88 09/08/88 14/08/88 19/08/88 24/08/88 29/08/88 03/09/88 08/09/88 13/09/88 18/09/88 23/09/88 28/09/88 D i a Temperatura (ºC) T S P m a x T S P m e d T S P m i n T S P - I n v e r n o d e 1 9 9 0 - 5 , 0 0 , 0 5 , 0 1 0 , 0 1 5 , 0 2 0 , 0 2 5 , 0 3 0 , 0 3 5 , 0 01/05/90 06/05/90 11/05/90 16/05/90 21/05/90 26/05/90 31/05/90 05/06/90 10/06/90 15/06/90 20/06/90 25/06/90 30/06/90 05/07/90 10/07/90 15/07/90 20/07/90 25/07/90 30/07/90 04/08/90 09/08/90 14/08/90 19/08/90 24/08/90 29/08/90 03/09/90 08/09/90 13/09/90 18/09/90 23/09/90 28/09/90 D ia Temperatura (ºC) T S P m a x T S P m e d T S P m i n T S P - I n v e r n o d e 1 9 9 4 0 , 0 5 , 0 1 0 , 0 1 5 , 0 2 0 , 0 2 5 , 0 3 0 , 0 3 5 , 0 01/05/94 06/05/94 11/05/94 16/05/94 21/05/94 26/05/94 31/05/94 05/06/94 10/06/94 15/06/94 20/06/94 25/06/94 30/06/94 05/07/94 10/07/94 15/07/94 20/07/94 25/07/94 30/07/94 04/08/94 09/08/94 14/08/94 19/08/94 24/08/94 29/08/94 03/09/94 08/09/94 13/09/94 18/09/94 23/09/94 28/09/94 D ia Temperatura (ºC) T S P m a x T S P m e d T S P m in T S P - I n v e r n o d e 1 9 9 5 2 0 , 0 2 5 , 0 3 0 , 0 3 5 , 0 T S P m a x T S P m e d T S P m i n (a) (b) (c) (d)

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3. Resultados e Discussão

3.1 – Inverno de 1988

Através dos campos de anomalias de TSM (figuras 2A a 2E) verificou-se claramente a atuação do fenômeno La Niña, representado por anomalias negativas intensas no Pacífico equatorial leste e central, principalmente nos meses de maio e junho. Notou-se também, que as anomalias de TSM estão nas regiões que, segundo os resultados obtidos por CSD, possuem correlação com TSP. Por exemplo, o dipolo de anomalias de TSM sobre o OA sul, coincide com o dipolo de correlaçõespara todos os meses em questão, sendo que, de maio a setembro as anomalias negativas próximas a costa continental estão associadas a queda da TSP, pois nessa região os coeficientes de correlações (CCs) são positivos. As anomalias positiva de TSM sobre o Atlântico sul, de maio a agosto, também contribuem para a queda da TSP, pois nesta região os CCs são negativos. Destaca-se que as anomalias sobre o OA foram mais intensas nos meses de junho e julho, este fato pode ter contribuído às quedas bruscas de temperatura durante esses meses, sobre a RMSP.

Sobre o OP foi também observado anomalias de TSM sobre regiões correlacionadas com a TSP em CSD. O mês de junho (figura 2B) mostra uma distribuição de anomalia de TSM totalmente coincidente com estas regiões, onde as anomalias negativas sobre a costa oeste da América do Sul (AS) que se estendem sobre o Pacífico equatorial leste e central, coincidem com a região positiva do dipolo de correlações do OP, já mencionado anteriormente. A região negativa deste dipolo de correlações é marcada por anomalias positivas de TSM no Pacífico central oeste. Portanto, o dipolo de anomalias contribui para a queda da TSP.

Assim, de maio a julho as anomalias de TSM sobre ambos oceanos estiveram associadas a queda da TSP, destacando-se os meses de junho e julho, quando estas anomalias foram mais intensas. Para o caso dos meses de agosto e setembro, as regiões de CCs de CSD possuem padrões diferentes dos meses anteriores, chegando a mudar de sinal nas áreas do Pacífico equatorial leste e central oeste. Desta forma, a influência das anomalias de TSM do OP acabam se anulando nestes meses.

Os campos mensais de PNM (não mostrado) e de anomalias de PNM (figuras 2K a 2O) mostram que a Alta Subtropical do Pacífico Sudeste (ASPSE) manteve-se intensa de maio a setembro, com valores excedendo a média climatólógica (1949 a 1997). Já a Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) apresentou-se intensificada de junho a agosto, sendo que o mês de julho destacou-se pela configuração das anomalias positivas de PNM atuando sobre o sudeste da AS.

Nos meses de maio e junho (figuras 2K e 2L) a ASAS esta mais afastada do continente, favorecendo ao escoamente de sudeste sobre a região equatorial da AS e sobre o Nordeste, respectivamente. Esse fato também foi verificado através do campo mensal de linha de corrente em 850mb.

Em julho a ASAS apresentou uma forma mais alongada, estando mais ao sul e com o núcleo muito próxima do continente (figura 2M). Esta configuração juntamente com o fato de ser uma alta intensa, contribui para o escoamento de sudeste sobre a Região Sudeste do Brasil.

Relatos apresentados na Climanálise (1988), mostraram que dentre os diversos sistemas frontais que passaram sobre o estado de São Paulo (ESP) no inverno, apenas foram considerados fortes os sistemas do final de maio e dos meses de junho e julho. Estes sistemas causaram chuvas fortes e queda da temperatura no ESP, principalmente nas regiões litorâneas.

Em suma, somando-se a influência da TSM, que foi mais significativa em junho e julho, a disposição e intensidade da ASAS e atuação de sistemas frontais, podemos dizer que estes fatores contribuíram para temperaturas mais baixas de maio a julho (figura 1a), destacando-se o mês de julho. Em termos de influências da TSM, o oposto foi observado para agosto e setembro que juntamente com o fato de não ter atuação de sistemas frontais intensos, pode ter causado aumento na TSP durante esse período.

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(A) Anomalia de TSM (ºC) – Maio 1988 (K) Anomalia de PNM (Pa) – Maio 1988

(B) Anomalia de TSM (ºC) – Junho 1988 (L) Anomalia de PNM (Pa) – Junho 1988

(C) Anomalia de TSM (ºC) – Julho 1988 (M) Anomalia de PNM (Pa) – Julho 1988

(D) Anomalia de TSM (ºC) – Agosto 1988 (N) Anomalia de PNM (Pa) – Agosto 1988

(E) Anomalia de TSM (ºC) – Setembro 1988 (O) Anomalia de PNM (Pa) – Setembro 1988

(F) Anomalia de TSM (ºC) – Maio 1990 (P) Anomalia de PNM (Pa) – Maio 1990

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(H) Anomalia de TSM (ºC) – Julho 1990 (R) Anomalia de PNM (Pa) – Julho 1990

(I) Anomalia de TSM (ºC) – Agosto 1990 (S) Anomalia de PNM (Pa) – Agosto 1990

(J) Anomalia de TSM (ºC) – Setembro 1990 (T) Anomalia de PNM (Pa) – Setembro 1990

Figura 2: Continuação

3.2 – Inverno de 1990

O ano de 1990 foi caracterizado um inverno frio na RMSP nos meses de maio a setembro (figura 1b). Igualmente a outros invernos, esse possui períodos onde a temperatura variou bruscamente porém, no geral, a série temporal contém valores de temperaturas baixas. Este comportamento concorda com os campos de anomalia de TSM apresentado nas figuras 2F a 2J. Nestes campos é verificado para o OA em maio, junho e setembro um dipolo de anomalias semelhante ao do inverno de 1988, este dipolo situa-se na região do dipolo de correlações de CSD, sendo que as anomalias negativas (positivas) estão sobre a região de CCs positivos (negativos). Assim as anomalias mensais do OA contribuíram para a queda da TSP, com exceção do mês de agosto, quando as anomalias contribuíram para o aumento da TSP.

As anomalias de TSM do OP foram menos intensas que do ano de 1988, mas na região do Pacífico leste, foi observado anomalias negativas significativas (maio a agosto), que contribuem para a queda da TSP juntamente com as anomalias positivas no Pacífico central oeste de maio a julho. Em agosto o dipolo com anomalias negativas no Pacífico leste e positivas no Pacífico central equatorial contribuem para a queda da TSP, já em setembro apenas no Pacífico central entre 30ºS e 40ºS é verificado uma contribuição para a queda da TSP.

Os campos mensais sinóticos, mostram que a ASAS se intensificou e ficou mais próxima do continente a partir do mês de junho. Já a ASPSE apresentou-se intensificada apenas em julho (figuras 2P a 2T), que condiz com o trabalho de Satyamurty et al, (1998), o qual destaca o fortalecimento da ASAS e o enfraquecimento ASPSE no inverno. É importante destacar que o campo de anomalia de PNM apresentou anomalias positivas sobre a ASAS de junho a agosto (figuras 2R a 2T). Esta configuração é semelhante a observada em junho de 1988, que contribuiu ao escoamento de sudeste sobre o ESP. Uma hipótese seria que o mesmo tenha ocorrido nestes meses de 1990, principalmente em julho quando a alta esta mais intensa. Merece destaque a posição da ASAS em agosto, que contribuiu ao escoamento de sudeste sobre a Região Nordeste do Brasil (figura 2S). Notou-se também que o Jato Subtropical manteve-se menos intenso de junho a setembro (não mostrado).

Durante esse inverno, a maior parte dos sistemas frontais que atuaram sobre o Brasil, passaram pelo ESP. Na Climanálise (1990), destacou-se o fato que grande parte destes sistemas tiveram origem frontogenética e ciclogenética no Rio Grande do Sul, sendo assim, são mais intensos e estão associados a uma maior penetração do ar frio em sua retaguarda. Desta forma, as quedas de TSP causadas pelo sistemas frontais durante todo inverno, juntamente com as das anomalias de TSM e a posição dos sistemas de alta pressão, contribuíram para que o inverno de 1990 fosse um caso extremo frio.

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3.3 – Inverno de 1994

Segundo os campos de anomalia de TSM (figuras 3A a 3E ) notou-se que no inverno de 1994 não ocorreram anomalias representativas no OA, principalmente nas regiões que possuem maiores correlações com a TSP (CSD). Porém, sobre o OP, junto a costa do Equador e Colômbia, foram verificadas anomalias negativas de TSM em maio e junho, essas anomalias se estenderam ao Pacífico equatorial central nos meses de julho e agosto. Nas vizinhanças dessas anomalias e no prolongamento das mesmas até o OP equatorial oeste, foram verificadas anomalias positivas de TSM, que a partir de julho são mais intensas (figuras 3C a 3E). Estas regiões do Pacífico central leste e equatorial oeste, são positivamente correlacionadas com a TSP nos meses de maio, junho e julho (CSD), como parte da região correlacionada possui anomalias positivas e parte negativas, a influência desta região sobre TSP é praticamente nula.

O Pacífico sudeste foi marcado por anomalias negativas significativas de TSM durante todo inverno, o que deveria contribuir para o aumento da TSP, porém esse fato não foi observado. Isso pode ser devido às correlação negativas dessa região com a TSP serem baixas em comparação a região do Pacífico Central Leste. É importante destacar que as anomalias de TSM foram moderadas durante este inverno, provavelmente por ser uma fase de transição entre um final de episódio El Niño (1993-1994) e um início de uma La Niña (1995), diferente do caso de inverno de 1988.

Observamos que o inverno de 1994, marcado pelos meses de maio e setembro quentes e meses de junho e julho frios (figura 1c), não foi somente influenciado pelas anomalias de TSM, sendo que estas no geral foram muito fracas. Esse comportamento anômalo pode estar associado a outros fatores, tais como transientes, sistemas permanentes como Altas subtropicais, sistemas de grande escala, etc. Para verificar essa hipótese e procurar identificar quais sistemas podem ter contribuído para a queda de temperatura em junho e julho, foram analisados alguns campos sinóticos.

Através dos campos de PNM, observou-se que a ASAS estava mais intensa e próxima do continente nos meses de junho e julho, apresentando anomalias positivas de PNM por volta de 4 hPa (figuras 3Q e 3R). Essa situação pode favorecer ao escoamento de sudeste na região tropical. No mês de setembro a ASAS permaneceu próxima ao continente, no entanto numa posição mais a norte e enfraquecida. Os padrões verificados pela PNM foram confirmados através das linhas de corrente em 850 hPa.

De acordo com a variação temporal da TSP (figura 1c) e de informações da Climanálise (1994), pode-se notar que o mês de maio não sofreu quedas bruscas de temperatura, apesar da atuação de dois sistemas frontais que atingiram o ESP. Já no final de junho e início de julho ocorreram duas grandes quedas na temperatura devido a sistemas frontais de forte intensidade que atingiram a cidade de São Paulo. De acordo com a Climanálise, a frente fria que atingiu o RMSP no dia 25 de junho causou geada nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, com precipitação de neve nas áreas serranas da Região Sul. Esse sistema frontal foi intensificado por um anticiclone extratropical que penetrou em sua retaguarda. Um caso parecido ocorreu no dia 6 de julho quando um sitema frontal foi intensificado por uma ciclogênese na costa do Uruguai, essa frente fria passou pela região sudeste causando bruscas quedas de temperatura. Nos meses de agosto e setembro os sistemas frontais foram mais fracos, causando apenas chuvas fracas no litoral do ESP.

Devido a pouca influência das anomalias de TSM sobre a TSP nesse inverno, podemos notar que esse caso anômalo está mais associado aos sistemas transientes e a posição da ASAS. Já que nos meses de junho e julho a atuação de sistemas frontais na RMSP foi mais freqüente e intensa, e a ASAS estava com anomalias positivas e mais próxima do continente. A junção desse fatores pode ter favorecido a queda de TSP nesse período.

(8)

inverno, fazem parte da região de CCs negativos pertencente ao dipolo de correlações do OP, desta forma, tendem a aumentar a TSP.

Para o caso do OA, notou-se a presença de um dipolo de anomalias de TSM (figuras 3F a 3J), próximo a costa sul e sudeste do Brasil durante todo inverno. Como esta região possui CCs positivos com a TSP em CSD, a influência dessas anomalias acabam se cancelando. Contudo, nos meses de julho a setembro foi verificado anomalias negativas na costa do Nordeste brasileiro e que se estendem até o OA central. Visto que esta região é negativamente correlacionada com a TSP, estas anomalias contribuem para o aumento da TSP durante esses meses. De acordo com a figura 1d, pode ser verificado que a TSP não sofreu quedas bruscas e, pelo contrário, a série temporal foi marcada por temperaturas altas para casos de inverno, chegando a ser considerado um inverno anomalamente quente. Segundo os resultados verificados através das anomalias de TSM e das correlações, temos que o balanço das anomalias de TSM de ambos oceanos devem contribuir ao aumento da TSP por todo inverno.

Os campos mensais de PNM mostraram que a ASAS manteve-se intensa e próxima ao continente da AS em julho e setembro. Notou-se também que a ASPSE apresentou-se intensificada no período de julho a setembro. Foram verificadas anomalias negativas de PNM sobre a região sul e sudeste do Brasil nos meses de julho e agosto (figuras 3R e 3S). Praticamente por todo inverno a ASAS manteve-se próxima ao continente, podendo ter estabelecido sua circulação sobre a região de interesse.

Verificou-se nos campos mensais de linha de corrente em 850mb, uma circulação anticiclônica sobre o Atlântico sul associada a ASAS intensa (não mostrado). No Pacífico sudeste também é observado esta configuração associada a ASPSE, com exceção do mês de julho onde nessa posição foram verificados dois núcleos, sendo um mais ao norte, com circulação anticiclônica, e outro mais ao sul, com circulação ciclônica. Já em altos níveis foi verificado uma intensificação do Jato Subtropical sobre a AS a partir de junho e que este permaneceu mais ao sul em julho e agosto.

Dos sistemas frontais que atuaram sobre o Brasil no inverno de 1995, poucos atingiram o ESP, principalmente nos meses de junho, julho e agosto. Segundo Ito (1999), este fato se deve a vários períodos de bloqueios sobre o OP, que impediram o avanço normal dos sistemas frontais através do continente, exceto na Região Sul do país onde o bloqueio favoreceu a propagação de ondas curtas provocando precipitação acima da média.

Ito (1999), identificou alguns períodos de bloqueios em junho, julho e agosto, que de acordo com relatos da Climanálise (1995), coincidem com períodos onde não passaram sistemas frontais na Região Sudeste, exceto no mês de agosto em que um sistema frontal passou pelo ESP. Este sistema foi intensificado por uma ciclogênese disparada por um cavado de onda curta, e causou apenas declínio acentuado de temperatura no litoral do ESP. Foi também destacado na Climanálise que o número de sistemas frontais atuantes no Brasil nos meses de junho e julho estiveram abaixo da média climatológica, fato este associado aos bloqueios no OP.

Desta forma, a atuação de bloqueios foi um importante fator que contribuiu para o aumento da TSP, e que juntamente com as anomalias de TSM, deram condições para a ocorrência deste inverno anomalamente quente sobre a RMSP. Outros fatores podem também ter contribuído para este fato, como por exemplo os Jatos Subtropicais em sua posição mais ao sul, fazendo com que as frentes vindas do sul se desviassem para o oceano. Também a posição da ASAS, que se manteve mais próxima do continente, e de acordo com Ito (1999), persistiu por determinados períodos com pouco deslocamento.

4. Conclusões

Os resultados deste estudo confirmaram a influência da TSM sobre a TSP nas regiões com CCs significativos encontradas em CSD para casos de invernos extremos frios e quentes.

Em alguns casos, como no inverno de 1988, este fato se mostrou bastante evidente. Contudo, ficou claro que a TSM é apenas um dos fatores que influenciam o clima de inverno na cidade de São Paulo, sendo que a influência resultante é sua soma com outros vários fatores, tais como: disposição e intensidade da Alta Subtropical do Atlântico Sul, atuação de sistemas frontais, ciclogêneses e fenômenos de grande escala, como El Niño e Bloqueios Atmosféricos.

Notamos também, que em anos de transição entre um evento El Niño e um evento La Niña, as anomalias de TSM do OP e OA foram moderadas durante o inverno, diminuindo sua influência sobre TSP.

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(A) Anomalia de TSM (ºC) – Maio 1994 (K) Anomalia de PNM (Pa) – Maio 1994

(B) Anomalia de TSM (ºC) – Junho 1994 (L) Anomalia de PNM (Pa) – Junho 1994

(C) Anomalia de TSM (ºC) – Julho 1994 (M) Anomalia de PNM (Pa) – Julho 1994

(D) Anomalia de TSM (ºC) – Agosto 1994 (N) Anomalia de PNM (Pa) – Agosto 1994

(E) Anomalia de TSM (ºC) – Setembro 1994 (O) Anomalia de PNM (Pa) – Setembro 1994

(F) Anomalia de TSM (ºC) – Maio 1995 (P) Anomalia de PNM (Pa) – Maio 1995

(10)

(H) Anomalia de TSM (ºC) – Julho 1995 (R) Anomalia de PNM (Pa) – Julho 1995

(I) Anomalia de TSM (ºC) – Agosto 1995 (S) Anomalia de PNM (Pa) – Agosto 1995

(J) Anomalia de TSM (ºC) – Setembro 1995 (T) Anomalia de PNM (Pa) – Setembro 1995

Figura 3: Continuação

Agradecimentos. A FAPESP, pelo amparo à pesquisa dos projeto Temático de Inverno 96/1403-4 e de Mestrado

98/16277-0. Também ao Instituto Astronômico e Geofísico (IAG - USP) pela cessão do dados e suporte técnico.

5. Referências Bibliográficas

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Referências

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