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A influência do conhecimento científico expresso nos painéis do IPCC nos tratados internacionais sobre o meio ambiente: mudanças climáticas.

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Academic year: 2021

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Disciplina: ACH 0042 Resolução de Problemas II

Turma: 54

Professora: Vivian Urquidi

Monitor: Renato Eliseu Costa

A influência do conhecimento científico expresso

nos painéis do IPCC nos tratados internacionais

sobre o meio ambiente: mudanças climáticas.

Integrantes:

Marcio da Silva Queiroz Marina Biazon da Silva

Neuza Ferreira do Amazonas Reginaldo Antonio de Pinho Ricardo Ribeiro da Silva Robson Dias Vieira Vagner Peixoto Alencar Wagner Kimura

São Paulo Dezembro de 2009

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO... 5

2. HISTORIOGRAFIA... 6

2.1. HISTÓRICO DA QUESTÃO AMBIENTAL... 6

2.2. QUADRO HISTÓRICO... 12

2.3. IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE.. 15

2.3.1. DOS GRUPOS DE TRABALHO... 18

2.3.2. DA OPERACIONABILIDADE DOS GRUPOS... 19

3. II RELATÓRIO DO IPCC X PROTOCOLO DE QUIOTO... 20

3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO... 20

3.2. II RELATÓRIO DO IPCC... 23

3.3. PROTOCOLO DE QUIOTO... 31

3.4. CRÍTICAS AOS ACORDOS... 38

3.5. ALTERNATIVAS SUGERIDAS... 40

4. IV RELATÓRIO DO IPCC X PLANO DE AÇÕES DE NEGOCIAÇÕES DE BALI ... 40

4.1. CONTEXTUALIZAÇÃO... 40

4.2. IV RELATÓRIO DO IPCC ... 45

4.2.1. OS FATORES NATURAIS E HUMANOS NAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS... 46

4.2.2. UMA PERSPECTIVA PALEOCLIMÁTICA... 47

4.2.3. PROJEÇÕES FUTURAS PARA MUDANÇAS NO CLIMA... 49

4.2.4. ELEVAÇÃO DOS OCEANOS... 49

4.3. CONFERÊNCIA DE BALI... 50

4.4. PLANO DE AÇÕES DE NEGOCIAÇÕES “BALI ACTION PLAN ROADMAP”... 54

4.5. PRINCIPAL DE BALI... 57

5. CONCLUSÁO... 59

6 OBJETIVOS... 62

7. METODOLOGIA... 62

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GLOSSÁRIO DE SIGLAS

AIE – Agência Internacional de Energia

AOSIS – Aliança dos Pequenos Países Insulares AR – Assessment Reports

PAR – Primeiro Assessment Reports SAR – Segundo Assessment Reports TAR – Terceiro Assessment Reports QAR – Quarto Assessment Reports)

AWG-LCA – Ad Hoc Working Group on Long-term Cooperative Action under the Convention BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento

CIE – Comércio Internacional de Emissões (em inglês ET - Emissions Trading) COP – The Conference of the Parties

COP/MOP – The Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to the Kyoto Protocol CP – Compromisso do Protocolo de Quioto

CSTD – Commission on Science and Technology for Development DOE – Department of Energy

DOE’s – Department of Energy – Office os Science ECOSOC – Economic and Social Council

EPE – Empresa de Pesquisa Energética FAO – Food and Agriculture Organization GCP – Global Carbon Project

GEE – Gases de Efeito Estufa GEF – Global Environment Facility GEO – Global Environment Outlook

IC – Implementação Conjunto (em inglês JI - Joint inplementation) INC – Intergovernmental Negotiating Committe

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Especiais IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change

IUCN – International Union for Conservation of Natural

MARPOL – Marine Pollution - International Convention for the Prevention of Pollution From Ships MIT – Massachussets Institute of Technology

MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (em inglês CDM - Clean Development Mechanism)

NAS – National Academy of Sciences OMC – Organização Mundial de Comércio

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GLOSSÁRIO DE SIGLAS

OMCI – Inter-governmental Maritime Consultative Organization

OMM – Organização Meteorológica Mundial (em inglês WMO - World Meteorological Organization) ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas (em inglês UN – United Nations) OXFAM – Oxford Committee for Famine Relief

PD – Países Desenvolvidos PED – Países em Desenvolvimento

PMDR – Países de Menor Desenvolvimento Relativo

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (em inglês UNEP - United Nations Environment Programme)

REDD – Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação SBSTA – Subsidiary Body for Scientific and Technological Advice

SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente e o Cadastro de Defesa Ambiental

SN – Sociedade das Nações (em inglês LoN - League of Nations) UE – União Européia

UNDP – United Nations Development Programme

UNESCO – United Nations Educational Scientific and Cultural Organization.

UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change

WCED – United Nations World Commission on Environment and Development WCS – World Conservation Strategy

WWF – World Wide Fund For Nature

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1. APRESENTAÇÃO

Diante do tema Método Científico e Desenvolvimento, apresentado para turma 54, na disciplina de Resolução de Problemas, vários assuntos surgiram com grande potencial de serem explorados. A partir de discussões consideramos que atualmente o tópico meio ambiente está muito ligado a desenvolvimento. Modos de desenvolvimento sustentável de uma nação são pautas frequentes em reuniões internacionais. Na maioria das vezes a dúvida sobre o que faremos, vem acompanhado de como faremos, pesquisas e estudos em áreas específicas costumam apontar o caminho. Por isso procuramos voltar nosso trabalho para como o conhecimento científico influencia tratados internacionais sobre o meio ambiente.

Procurando restringir um pouco mais nosso trabalho, focamo-nos no IPCC -

Intergovernmental Panel on Climate Change. Reunião instituída pela ONU

Organização das Nações Unidas (em inglês UN – United Nations), na qual participa uma miríade de atores do mundo científico internacional que publica, desde 1988, pareceres técnicos, documentos de avaliação das mudanças climáticas, e relatórios gerais e abrangentes onde sumarizam orientações para que as nações possam desenvolver suas políticas ambientais. É uma organização internacional calcada no conhecimento científico, que não realiza pesquisas científicas, mas compila investigações produzidas por diversas entidades mundiais de credibilidade irrefutável. (IPCC, 2009)

Nossa proposta, sem ter a pretensão de esgotar o assunto, é analisar “a influência do conhecimento científico expresso nos painéis do IPCC nos tratados internacionais sobre o meio ambiente: mudanças climáticas”. Levando em conta que as reuniões do IPCC geram relatórios científicos, comparamos o II Relatório ao Protocolo de Quioto e o IV Relatório ao Plano de Ações de Negociações - “Bali

Action Plan Roadmap”. Se por um lado os relatórios do IPCC são apresentados

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tomadas de decisões, com metas traçadas, a espera de ratificação e implementação pelos diversos governos envolvidos.

2. HISTORIOGRAFIA

2.1. HISTÓRICO DA QUESTÃO AMBIENTAL

O Relatório Brundtland, 1987, disseminou o conceito de desenvolvimento sustentável, tornando-o popular, de tal forma que o mesmo figurou na agenda da UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change, traduzida para o português como Conferência das Nações Unidas, sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992, conforme cita VIEIRA

(2008), em seu artigo:

“O conceito de desenvolvimento sustentável – entendido como aquele que atende às necessidades das gerações presentes, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender a suas próprias necessidades – foi popularizado pelo Relatório Brundtland, e tornou-se realmente um item na agenda internacional a partir da ECO 92; já a questão da proteção ambiental dela constava desde o final dos anos 60.”

(VIEIRA, 2008)

A preocupação crescente no final dos anos 60, do século passado, recebeu um grande reforço em 1972, com a publicação do Relatório The Limits of Growth, apresentado por cientistas do MIT - Massachussets Institute of Technology, ao Clube de Roma. O documento despertou a comunidade internacional para a possibilidade de enfrentar terríveis conseqüências que afetariam não só a qualidade de vida, mas a própria segurança e viabilidade do planeta, caso continuasse a

Várias fontes consultadas apontam a publicação do relatório no final dos anos 60, contudo em consulta ao site

do Clube de Roma, obtivemos a data correta ao consultar a cópia eletrônica do próprio documento “The Limits to Growth, Abstract established by Eduard Pestel. A Report to The Club of Rome”

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combinar o crescimento geométrico da população com a destruição acelerada de recursos naturais. (MIT, 1972)

Em 1972, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (Suécia), que já vinha sendo planejada pela ONU, desde sua Assembléia Geral ocorrida em 1968. A questão ambiental passa a ser tema principal de um evento mundial. Dentre as ações desenvolvidas na Conferência, destacamos: a criação do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (em inglês UNEP - United Nations Environment Programme); a elaboração de um Plano de Ação para Política Ambiental, com orientações e recomendações voltadas para a cooperação internacional; o estabelecimento de um

Fundo Ambiental dependente de contribuições voluntárias dos diversos países

membros; e a elaboração da Declaração de Estocolmo, onde 26 Princípios deveriam servir, conforme seu Preâmbulo, "de inspiração à humanidade, para a preservação e melhoria do ambiente humano...". (UNEP, 2009; VIEIRA 2008)

Ainda sobre 1972, o cenário mundial polarizava forças de forma bem distinta, de um lado tínhamos os países desenvolvidos e do outro os países em desenvolvimento, em outro trecho VIEIRA (2008) dirá:

“Em 72 o clima era de confrontação Norte/Sul – vivia-se o tempo da Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI, sigla em inglês NIEO) e os países em desenvolvimento temiam que a questão ambiental fosse usada pelos países ricos, muito influenciados pelas ONGs ambientalistas já ativas, como disfarce para uma nova onda de colonização.”

(VIEIRA, 2008)

Ao contrário de sua antecessora, a SN - Sociedade das Nações (em inglês LoN - League of Nations), a ONU foi concebida não só como órgão mundial de mediação, mas também com a preocupação de auxiliar no desenvolvimento de

“Confrontação Norte/Sul”, era uma espécie de jargão, como “Confrontação Leste/Oeste”, no caso, VIEIRA

(2008) utilizou para exprimir o confronto entre os países desenvolvidos localizados em sua maioria no hemisfério Norte e os países em desenvolvimento cuja maioria se encontra no hemisfério Sul.

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países emergentes e pobres. Após a Segunda Guerra Mundial, a ONU passou a ser mais atuante, e foi determinante nas negociações que envolveram a independência de antigas colônias na África e Ásia. (VIEIRA, 2008; RODRIGUES, 2001)

Quanto a atuação da ONU no início dos anos 70, do século passado, e os percalços vividos pelas nações dependentes de petróleo, VIEIRA (2008) comenta:

“Devemos à ONU a solidificação do princípio do direito dos povos à autodeterminação e a discussão que levou ao reconhecimento de um Direito ao Desenvolvimento. A NOEI foi, na realidade, um conjunto de programas e idéias, que inovava ao ser proclamado logo em seguida à crise de energia de 1973, quando a atenção dos paises desenvolvidos voltava-se para a questão da interdependência. Apesar de ter como foco as relações Norte/Sul, seu sucesso dependia em larga medida de relações sul/sul (cooperação entre os paises em desenvolvimento)”

VIEIRA (2008)

Ao estabelecer os princípios fundamentais, na Declaração de Estocolmo, relacionados com o direito dos povos, a ONU abre caminho para uma maior interação entre os países e emprego de negociações multifacetadas, onde a fome e a miséria passam a ser foco de combate, como também as questões ambientais. (UNEP, 2009; RODRIGUES, 2008)

Na Assembléia Geral da ONU, ocorrida em 1982, foi elaborada a “Carta

Mundial para a Natureza”, que além de repetir princípios constantes na Declaração

de Estocolmo, inseriu outros princípios estabelecidos pela WCS - World

Conservation Strategy, publicados em 1980 pela IUCN - International Union for Conservation of Natural, em cooperação com o PNUMA, a WWF - World Wide Fund For Nature, a FAO - Food and Agriculture Organization e a UNESCO – United Nations Educational Scientific and Cultural Organization. (FONSECA, 2007; VIEIRA,

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Em 1983, a ONU em Assembléia, decide criar a WCED - United Nations

World Commission on Environment and Development, composta por peritos e

cientistas, chefiada pela Gro Brundtland (empresa norueguesa), e regida por três objetivos:

 Re-examinar questões críticas e de impactos negativos ao meio ambiente e desenvolvimento, vislumbrando soluções e formulando propostas para o emprego de soluções;

 Propor novos modelos e formas de cooperação internacional para combater os diversos problemas causados por questões críticas e de impactos negativos, corroborando com a elaboração de políticas e emprego de ações voltadas para as mudanças desejadas;

 Promover ações de capacitação de disseminação de informações, visando aumentar a compreensão e engajamento de indivíduos, organizações voluntárias, empresas, institutos e governos.

(WECD, 1986; VIEIRA, 2008)

A WECD, posteriormente, no ano de 1985, assume parceria com o PNUMA para a elaboração de um documento que traçasse estratégias para o século XXI. Dessa parceria resultou o Relatório Brundtland, publicado em 1987 com o título: “Nosso Futuro Comum”. Pouco tempo depois o Conselho de Administração do PNUMA emitiu um outro documento chamado “Environmental Perspective to the

Year 2000 and Beyond”, que deveria ser utilizado como modelo para o

estabelecimento de cooperação na área de meio ambiente. (WECD, 1986; VIEIRA, 2008)

A UNFCCC ocorrida no Rio de Janeiro, em junho de 1992, chamada Rio 92 ou ECO 92, trouxe a tona uma série de problemas que compuseram a agenda do encontro, apresentada na relação a seguir:

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a) proteção da atmosfera através do combate aos desencadeadores de mudança no clima, ao desgaste da camada de ozônio e à poluição transfronteiriça do ar;

b) proteção da qualidade e quantidade da oferta de água doce; c) proteção das áreas oceânicas, marítimas e das zonas costeiras;

d) proteção e controle dos solos por meio, inter alia, do combate ao desmatamento, desertificação e seca;

e) conservação da diversidade biológica;

f) controle ambientalmente sadio da biotecnologia;

g) controle de dejetos, principalmente químicos e tóxicos;

h) erradicação da pobreza e miséria, melhoria das condições de vida, do trabalho no campo, do trabalho cidade; e proteção das condições de saúde.”

(CAMARGO, 2004; VIEIRA, 2008)

No Brasil, em meio a uma crise econômica, a questão ambiental, mesmo sem ser a prioridade das agendas do governo, foi institucionalizada nos anos 80. Em 1981 a Política Nacional do Meio Ambiente adquire forma e posteriormente, nos anos de 1989 e 1990, a mesma é adequada à Constituição Federal de 1988. Para acompanhamento e aplicação da legislação, o governo brasileiro cria o SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente e o Cadastro de Defesa Ambiental. Nesse período, vários estados da Federação estabelecem suas políticas estaduais, contemplando especificidades regionais, mas sempre vinculadas à Lei Federal. (JACOBI, 2003, VIEIRA, 2008)

Para fecharmos esta contextualização inicial sobre o histórico ambiental, retornamos ao conceito de desenvolvimento sustentável, tratado no primeiro parágrafo deste tópico, transcrevendo na íntegra sua definição estabelecida na 15ª Reunião do Conselho de Administração do PNUMA em 1989:

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"O Conselho de Administração acredita ser sustentável o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Desenvolvimento sustentável tampouco implica transgressão alguma do princípio de soberania. O Conselho de Administração considera que a consecução do Desenvolvimento Sustentável envolve cooperação dentro das fronteiras nacionais e através daquelas. Implica progresso na direção da eqüidade nacional e internacional, inclusive assistência aos países em desenvolvimento de acordo com seus planos de desenvolvimento, prioridades e objetivos nacionais. Implica também a existência de meio econômico internacional propício que resulte no crescimento e no desenvolvimento. Estes são elementos da maior relevância para o manejo sadio do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável implica ainda a manutenção, o uso racional e a valorização da base de recursos naturais que sustenta a recuperação dos ecossistemas e o crescimento econômico. Desenvolvimento sustentável implica, por fim, a incorporação de critérios e considerações ambientais na definição de políticas e de planejamento de desenvolvimento e não representa uma nova forma de condicionalidade na ajuda ou no financiamento para o desenvolvimento. O Conselho de Administração está inteiramente consciente de que os próprios países são e devem ser os principais atores na reorientação de seu desenvolvimento, de forma a torná-lo sustentável. O desenvolvimento sustentável e ambientalmente sadio é de grande importância para todos os países, industrializados e em desenvolvimento. Os países industrializados possuem os recursos para fazer os ajustes requeridos; algumas de suas atividades econômicas realmente têm impacto substancial no meio ambiente, não apenas no âmbito nacional, mas além de suas fronteiras. Mesmo no caso dos países em desenvolvimento, a maior parte dos recursos para o desenvolvimento provém deles mesmos. Para estes, muito embora a manutenção da base de recursos naturais para as futuras gerações seja de grande relevância, as necessidades da geração atual são de importância crítica. Ações induzidas pela pobreza e pela necessidade de sobrevivência erodem a base de recursos e assim geram mais pobreza. Em todos os países, questões de desenvolvimento e meio ambiente estão entrelaçadas em uma mútua interação. Hoje, novas questões ambientais desafiam a comunidade internacional, enquanto as velhas questões se mantêm e até adquirem maior magnitude".

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2.2. QUADRO HISTÓRICO

A questão ambiental, mais especificamente a questão das mudanças climáticas já era objeto de estudo no século XIX, nos quadros que seguem estaremos retratando a cronologia envolta a questão ambiental.

Ano Acontecimento

1827 O cientista francês Jean-Baptiste Fourier estudou o fenômeno no qual os gases atmosféricos prendem a energia solar, elevando a temperatura da superfície terrestre, e não permitindo que o calor retorne para o espaço. Podemos considerá-lo como o primeiro cientista a tratar oficialmente do chamado "efeito estufa".

1850 Iniciou-se o registro de temperaturas da superfície terrestre.

1859 O cientista britânico John Tyndall apontou que a elevação da temperatura na terra, poderia ser causada por barreiras aos raios solares infravermelhos.

1896 O químico sueco Svante Arrhenius apontou as queimas de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) como responsáveis pela produção de dióxido de carbono (CO2).

1920 O geoquímico russo Vladimir Vernadsky concluiu que o oxigênio, o nitrogênio e o dióxido de carbono presentes na atmosfera, foram depositados, em grande parte, por atividades antrópicas.

1938 Guy Callendar foi o primeiro a contestar a certeza científica de que o clima não era influenciado por atividades humanas em um artigo entregue a Real Sociedade Meteorológica de Londres.

1940 Foi realizada em Washington (EUA), a 1ª Convenção para a Proteção da Fauna e da Flora e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América.

1951 Foi realizada em Roma, a 1ª Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais.

1954 Foi realizada em Londres, a 1ª Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por Óleo. 1958 O cientista americano Charles David Keeling apresentou seus estudos sobre a elevação anual de CO2, na

atmosfera, resultante do aumento do uso dos combustíveis fósseis no pós-guerra.

1968 Em 3 de dezembro, na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU, atendendo a recomendações do ECOSOC - Economic and Social Council e do CSTD - Commission on Science and Technology for Development, foi aprovada a resolução para realização de uma convenção para tratar das questões de proteções ambientais, ficando estabelecido o ano de 1972 para sua realização.

1972 Entre 5 a 16 de junho foi realizada a Convenção das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, tendo como resultados: a elaboração da Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Declaração de Estocolmo); a elaboração de um Plano de Ação para o Meio Ambiente; e a Instituição do PNUMA, com sede em Nairobi, Quênia. A Declaração de Estocolmo, contendo 26 princípios que se consagram como fundamentos do Direito Ambiental Internacional.

Em 23 de novembro foi realizada a Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, sob a égide da UNESCO, visando à proteção do meio ambiente antrópico, ou seja, aquele construído pelo homem.

Em 29 de dezembro foi realizada a Convenção de Londres sobre a Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e outras Matérias, com negociações sob a esfera da OMCI - Inter-governmental Maritime Consultative Organization.

Publicou-se o Relatório The Limits of Growth, apresentado por cientistas do MIT - Massachussets Institute of Technology ao Clube de Roma

1973 Ocorreu o agravamento da crise do petróleo, revelando toda a vulnerabilidade dos países capitalistas.

Foi realizada em 2 de novembro, a MARPOL - Marine Pollution - International Convention for the Prevention of Pollution From Ships, visando à redução dos níveis de poluição causados por embarcações.

Foi iniciada a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, essa conferência teve uma duração excepcional de quinze anos de trabalhos contínuos, vindo a encerrar somente em 1982.

1978 Em 3 de julho foi firmado e assinado o Tratado de Cooperação Amazônica entre os países que compõe o território da floresta amazônica, cujo objetivo era o desenvolvimento econômico da região e a preservação do meio ambiente.

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1979 Um Relatório da NAS - National Academy of Sciences, vinculou o efeito estufa às mudanças climáticas e alertou a comunidade mundial que a inércia política, esperando por mais dados e comprovações poderia nos levar a irreversibilidade dos impactos e efeitos.

Ocorreu a Primeira Conferência Mundial sobre Clima.

1982 Em 9 de novembro a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a Carta da Terra, Carta Mundial para a Natureza.

É encerrou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, depois de quinze anos de trabalhos contínuos, em 10 de dezembro foi assinado o tratado gerado, no qual aparecem diversos temas sobre a preservação ambiental do meio marinho e a conservação da biodiversidade marinha.

1983 Foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, pela ONU, constituída de peritos e chefiada pela norueguesa Gro Brundtland.

1987 A ONU definiu o conceito de desenvolvimento sustentável.

Em 16 de setembro foi assinado por quarenta e seis países o Protocolo de Montreal, que estabeleceu cortes para o consumo e produção de substâncias que destroem a camada de ozônio.

Publicou-se o Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum”.

1988 Foi criado o IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change, um órgão internacional vinculado à OMM - Organização Meteorológica Mundial e ao PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. 1989 A Assembléia Geral das Nações Unidas decidiu realizar uma 2ª Conferência Mundial sobre o Clima no Rio de

Janeiro (Rio-92), 20 anos após a Conferência de Estocolmo, de 1972. Nesta assembléia a ONU, através da Resolução XLIII, declarou que o clima é a preocupação comum da humanidade.

1990 O I Relatório do IPCC, informou que os níveis dos gases de efeito estufa, produzidos pelo homem, estão aumentando na atmosfera e lançaram uma previsão, a de que estes causarão o aquecimento global.

Em Outubro, ocorreu em Genebra a 2ª Conferência Mundial sobre o Clima da Declaração Ministerial, onde a Assembléia Geral da ONU estabeleceu formalmente o início das negociações de uma convenção sobre mudanças climáticas. Estabeleceu o INC - Intergovernmental Negotiating Committe, para conduzir estas negociações.

1992 O INC, em fevereiro, reúniu-se pela primeira vez para dar início à estruturação da Convenção sobre Mudanças Climáticas;

Foi adotado, em 9 de maio, pelo INC, a UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change, traduzida para o português como “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.” Em Nova York (EUA);

Em junho, aconteceu a Conferência Rio 92, onde foi efetivamente criada a UNFCCC, que também pediu cortes voluntários nas emissões de gases de efeito estufa. A Convenção-Quadro foi assinada na Rio-92 (conhecida também como “Cúpula da Terra”) por 189 países. A agenda 21, a declaração do Rio e a declaração de princípios sobre florestas foram alguns dos documentos gerados.

1994 Em 21 de março, a UNFCCC entrou em vigor. É gerou um documento que propôs ações e diretrizes para o início do combate ao aquecimento global, sugeriu cortes voluntários de emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa; Foi estabelecida a COP - Conferência das Partes.

1995 O II Relatório do IPCC, afirmou que os níveis dos GEE aumentaram, e acrescentou que o conjunto de evidências apontou para a influência das ações humanas nas mudanças climáticas.

De 28 de março a 7 de abril foi realizada em Berlim (Alemanha) a 1ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro, a COP 1. Forão estipulados limites de emissão dos GEE.

1996 De 9 a 19 de julho foi realizada em Genebra (Suíça) a COP 2. Nesta ocasião foi assinado o acordo de Genebra, contemplando o acordo para a criação de obrigações legais com vistas à redução de emissão dos GEE, com previsão de ser implementado na COP 3. É foi criado o Fundo Global para o Meio Ambiente.

1997 De 1 a 11 de dezembro foi realizada a COP 3, em Quioto (Japão). Estabeleceu-se o Protocolo de Quioto. Os países participantes da UNFCCC assinaram o Protocolo, que contém metas direcionadas aos países industrializados quanto à redução das emissões de seis gases de efeito estufa em 5,2%, para o período que compreende 2008 a 2012. O Protocolo é um documento de compromisso, as regulamentações legais e a aplicabilidade acabaram sendo deixadas para futuras negociações.

1998 De 2 a 13 de novembro foi realizada a COP 4, em Buenos Aires (Argentina). Os EUA assinaram o Protocolo de Quioto, representando um passo importante de reconhecimento do problema, embora não tenham ratificado o documento (ato necessário por parte do senado americano). A não ratificação, entre outros motivos, foi alegada pelo fato de os países em desenvolvimento não terem metas estabelecidas de redução.

1999 Em 7 de julho foi criada a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima. Formada por onze ministérios, com o papel de articular as ações do governo brasileiro e prosseguir com as decisões tomadas pela Convenção-Quadro.

De 25 de outubro a 5 de novembro foi realizada a COP 5 em Bonn (Alemanha). Abriu-se discussões sobre o uso da terra, mudança de uso da terra e florestas.

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2000 De 13 a 18 de novembro foi realizada a COP 6 em Haia (Holanda). A falta de consenso entre a maioria dos países participantes levou à suspensão da conferência. Os EUA se retiram das negociações alegando que o plano de redução de emissões seria prejudicial à sua economia.

2001 Em março o recém-empossado presidente dos EUA George W. Bush disse que o Protocolo de Quioto continha falhas estruturais e reforçou a não ratificação do mesmo.

Em maio foi lançado o III Relatório do IPCC, declarando como incontestável a evidência de aquecimento global causado pelo homem, embora tenham considerado que os efeitos sobre o clima são difíceis de especificar e detalhar. O documento apontou uma previsão alarmante de que em 2100 a temperatura atmosférica global será entre 1,4 e 5,8 ºC mais alta que a atual, e os níveis dos mares estarão entre 0,09 e 0,88 metro mais elevados. De 16 a 27 de julho, após reconvocação, foi realizada a COP 6½, que ao contrário da anterior, foi considerada um sucesso. Realizada em Bonn e mesmo sem o apoio dos EUA, o Protocolo caminhou para a ratificação com a adesão da União Européia e do Japão.

De 29 de outubro a 9 de novembro foi realizada a COP 7 em Marrakesh (Marrocos). Iniciou-se o comércio de Créditos de Carbono e o desenvolvimento de atividades de MDL, mesmo sem a aprovação do Protocolo. Os signatários do Protocolo de Quioto, com exceção dos EUA, ratificaram o tratado. Os EUA, apontado como o maior ofensor dos níveis de gases de efeito estufa liberados para a atmosfera, apesar de ter assinado, não ratificou o Protocolo de Quioto. Seu presidente, George W. Bush, questionou a veracidade das informações contidas no III Relatório do IPCC, e apontou os prejuízos que aconteceriam à economia americana.

2002 A pressão dos EUA forçou a saída do presidente da IPCC, Robert Watson, americano e um dos cientistas líderes no alerta sobre as mudanças climáticas.

Em 14 de fevereiro, o presidente dos EUA, George W. Bush anunciou um plano alternativo ao Protocolo de Quioto. O plano estabeleceu que o aumento das emissões de seu país deviam sofrer uma desaceleração atrelada ao crescimento do seu PIB. Lançou ainda uma iniciativa denominada de “Iniciativa dos Céus Limpos”, com a proposta de cortar em 70% a emissão de NOX, SO2 e mercúrio até 2018;

Em 23 de agosto, o Brasil ratificou o Protocolo de Quioto;

De 26 de agosto a 4 de setembro foi realizada em Joanesburgo (África do Sul) a Conferência RIO+10, uma reunião sobre o meio ambiente, onde forão discutidos os avanços ocorridos, 10 anos depois da Cúpula da Terra (Rio 92);

De 23 de outubro a 1 de novembro foi realizada a COP 8 em Nova Déli (Índia) – Resultou na elaboração da Declaração de Nova Delhi – regulamentação de Projetos de MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, de pequena escala.

2003 De 1 a 12 de dezembro foi realizada a COP 9, em Milão (Itália). Que regulamentou os Projetos de MDL de Florestamento e Reflorestamento.

2004 De 6 a 17 de dezembro foi realizada a COP 10, em Buenos Aires (Argentina). Ocorreram poucas decisões efetivas, mas avançou-se nas questões estruturais das COP, divulgou-se inventários sobre a floresta Amazônica e esclareceu-se postos de divergências e dúvidas contidas no Protocolo de Quioto.

Em 18 de novembro, com a ratificação da Rússia o Protocolo atingiu sua meta mínima para início de seu vigor, depois de 90 dias. A adesão da Rússia transformou o esboço do pacto em um tratado efetivamente internacional.

A AIE - Agência Internacional de Energia, declarou a China como o segundo maior poluidor de CO² do planeta, resultante do crescente uso de combustíveis fósseis.

2005 Em 16 de fevereiro, entrou em vigor o Protocolo de Quioto ratificado por 141 países.

Em 16 de maio, cerca de 130 prefeitos de cidades americanas se uniram, em uma crítica explícita ao governo Bush, e resolveram aderir ao Protocolo de Quioto, tomando medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Dentre as cidades estão Seattle, Nova York, Salt Lake City e Nova Orleans.

Em 28 de julho, os EUA, anunciou um plano de redução de emissão de gases poluentes através do desenvolvimento de novas tecnologias. O plano também foi assinado pela Austrália (outro país a não ratificar o Protocolo de Quioto), Japão, China. Índia e Coréia do Sul. Considerado pelos criadores do plano como um complemento ao Protocolo de Quioto, este não fixou metas de redução de emissões.

De 28 de novembro a 10 de dezembro de 2005 foi realizada a COP 11 em Montreal (Canadá), a primeira Conferência das Partes após a entrada em vigor do Protocolo de Quioto.

1ª COP/MOP - The Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to the Kyoto Protocol, estabelecimento do grupo ad hoc para negociar as metas do 2º período de compromisso do Protocolo,

Em 16 de fevereiro, o Protocolo de Quioto, finalmente, entrou em vigor, sem a adesão dos EUA. Em 29 de agosto, o furacão “Katrina” devastou a costa do Golfo americano.

2006 Estudos apontaram dados alarmantes sobre as mudanças climáticas, como a perda de gelo nos Alpes, na Europa, o derretimento da cobertura de gelo na Groenlândia e no Pólo Norte e a retração do subsolo permanentemente congelado na Sibéria.

O Estado norte-americano da Califórnia anunciou planos para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa aos níveis de 1990 até 2020, e processou seis empresas automobilísticas por sua contribuição para o aquecimento global.

O Relatório britânico escrito pelo ex-economista do Banco Mundial, sir Nicholas Stern, disse que as mudanças climáticas consumirão até 20% do PIB, caso permaneça o mesmo cenário.

Foi realizada a COP 12 e COP/MOP 2 em Nairóbi (Quênia), onde se elaborou orientativos para a operação e utilização dos Fundos criados. Foi Elaborado um programa de capacitação no âmbito da Convenção.

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2007 Em 4 de janeiro, cientistas britânicos anunciaram que o ano de 2007 seria o ano mais quente já registrado em todo o mundo, fato que aconteceu.

Em 17 de janeiro, o Boletim de Cientistas Atômicos adiantaram em dois minutos o Relógio do Juízo Final, ficando na marca de cinco minutos para a meia-noite, compararam os riscos oriundos das mudanças climáticas com os riscos para a humanidade de uma proliferação nuclear.

Em 2 de fevereiro, o IPCC publicou o primeiro dos quatro capítulos de seu IV Relatório, que apontou com 90% de certeza a influência da ação andrógena no aquecimento global. Além disso, apontou que as temperaturas da Terra aumentarão até o final do século XXI entre 1,8 e 4 ºC.

Foi realizada a COP 13 e COP/MOP 3 – Bali (Indonésia), onde foi elaborado o chamado “Mapa do Caminho”, dividido em cinco tópicos:

• Transferência de tecnologia limpa desde os países desenvolvidos.

• Mobilização e disponibilização de recursos financeiros para enfrentar as questões de mudança do clima. • Adaptação: colocar em funcionamento um fundo para auxílio a países vulneráveis para combater as conseqüências do aquecimento global.

• Mitigação: um dos principais assuntos a definir é o mecanismo REDD - Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação.

• Definição a respeito do valor da redução das emissões de gases de efeito estufa. O índice proposto para debate sinaliza um corte de até 40% das emissões em 2050, com base nos valores de 1990.

2008 Dezembro em Póznan (Polônia), aconteceu a COP 14 e COP/MOP 4, decepcionando quem esperava por resultados concretos relacionados aos EUA, mas apresentou alguns avanços significativos entre os países em desenvolvimento que apresentaram propostas concretas de redução de emissões (Brasil, China, México e Peru).

2009 COP 15 e COP/MOP 5 – Copenhague (Dinamarca), cujo objetivo principal é chegar a um consenso a longo prazo e a emissão de um documento orientativo. A ausência dos EUA e da China tendem a enfraquecer a convenção.

Quadro 1

Fontes: IPCC, UNEP Year Book, WWF, MMA – Ministério do Meio Ambiente, CONPET – Ministério das Minas e Energia, CME – Congresso Nacional, Proclima – Governo do Estado de São Paulo, Peter (2009), Derani (2001), Onça (2007)

2.3. IPCC - INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE

O IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change, traduzido para o português como Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, é um órgão internacional vinculado à OMM - Organização Meteorológica Mundial (em inglês WMO - World Meteorological Organization) e ao PNUMA. Criado em 1988, seu objetivo é o processamento de informações científicas e dados técnicos e sócio-econômicos, obtidos através de pesquisas e estudos científicos sobre os efeitos e impactos gerados pelas mudanças climáticas, buscando alternativas e possíveis soluções. Do trabalho desenvolvido são gerados relatórios que irão prover as nações mundiais e seus líderes para que possam desenvolver suas políticas relativas ao meio ambiente e biodiversidade (MONTEIRO, 2008).

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O IPCC, que surgiu um ano após a definição do conceito de desenvolvimento sustentável (1987) está organizados em duas instâncias a saber:

1 - Instância Técnica – composta por grupos de trabalhos e força-tarefa divididos por segmentos temáticos.

2 - Instância Política – incumbida e responsável pelos diálogos e estreitamento de relações com as nações.

(IPCC, 2007; MONTEIRO, 2008)

A estrutura é apresentada no quadro abaixo:

Figura 1 – Estrutura do IPCC Fonte: Monteiro, 2008

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Os relatórios, chamados de Relatórios de Avaliação sobre o Meio Ambiente, ou AR - Assessment Reports, são publicados de cinco em cinco anos, sempre divididos em quatro capítulos, conforme discriminamos:

 I Relatório, emitido e divulgado em 1990, sugeriu a criação de uma rodada de negociações políticas sobre as mudanças climáticas, seus impactos e efeitos, desta recomendação surgiram as UNFCCC;

 O II Relatório, emitido e divulgado em 1995, foi proposta a criação de um sistema de mitigação da emissão de CO2, principal fonte ofensora do efeito estufa, esta proposta só foi efetivada em 1997, no âmbito da UNFCCC com a elaboração do Protocolo de Quioto;

 O III Relatório, emitido e divulgado em 2001, apontava evidências muito fortes de que a ação do homem era a principal promotora das mudanças climáticas no planeta. O III Relatório arriscou projetar cenários futuros, alarmantes, de elevação dos níveis de aquecimento em termos de temperatura na terra e quais seriam as desastrosas conseqüências para os diversos biomas;

 O IV Relatório, emitido e divulgado em 2007, elevou para 90% o nível de confiabilidade daquilo que havia sido apontado no III Relatório, ou seja, as ações andrógenas são apontadas como principais responsáveis pelas mudanças climáticas do planeta. Convém ressaltar que o grau de precisão elevou, devido ao fato do IPCC ter se beneficiado de dados disponibilizados por novas tecnologias de levantamento e apuração que até então, não existiam.

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2.3.1. DOS GRUPOS DE TRABALHO

Com vimos, o IPCC está dividido em três Grupos de Trabalhos e uma Força-Tarefa, e estes possuem as seguintes incumbências:

a) Grupo de Trabalho 1 – Grupo de cientistas responsáveis pela publicação do 1º capítulo do Relatório, é o grupo que reúne as evidências científicas, os subsídios teóricos, que contextualiza a relação entre a ação do homem e as mudanças climáticas e avaliam os aspectos científicos do sistema do clima e das mudanças climáticas;

b) Grupo de Trabalho 2 – Grupo de cientistas responsáveis pelo 2º capítulo do Relatório, dedica-se em analisar as conseqüências das mudanças climáticas sobre o meio ambiente (elevação dos índices de acidez dos mares e oceanos, desertificação de áreas florestais, extinção e riscos de extinção de espécies, entre outros efeitos) e a saúde humana, e avaliam a vulnerabilidade socioeconômica e dos sistemas naturais em conseqüências das mudanças climáticas;

c) Grupo de Trabalho 3 – Grupo de cientistas responsáveis pelo 3º capítulo do Relatório, é o grupo que deve apontar possíveis soluções e ações para reversão e minimização dos impactos e efeitos causados pelas mudanças climáticas, além das orientações sobre adaptabilidade às mesmas. É o grupo que avalia as opções para limitação das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa;

d) Força-Tarefa – Elaborado por cientistas, mas revisado por um corpo de diplomatas, que interferem politicamente na sua redação, o 4º e último capítulo do Relatório, é o mais singular, porém o mais impactante deles. Trata-se de um documento sucinto, de linguagem fácil e acessível, destinado ao universo dos não-cientistas, e reúne as principais conclusões de todo o Relatório de Avaliaçäo, bem como as sugestões de adoção de

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políticas públicas. É denominado como sumário de recomendações para os tomadores de decisão (em inglês: Summary for Policymakers).

(IPCC, 2007; MONTEIRO, 2008; WWF, 2007)

O Brasil contribuiu com a presença de doze pesquisadores na elaboração do IV Relatório, dentre eles estão Carlos Nobre, pesquisador do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Especiais, Thelma Krug, secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, e Maurício Tolmasquim, presidente da EPE - Empresa de Pesquisa Energética. (MONTEIRO, 2008; WWF, 2007)

2.3.2. DA OPERACIONABILIDADE DOS GRUPOS

Arrebanhar e coordenar as ações de um verdadeiro exército de cientistas é uma tarefa de extrema complexidade, por isso, além da divisão em Grupos de Trabalho e Força-Tarefa, os grupos são divididos internamente, obedecendo a uma hierarquia institucional e devem respeitar uma metodologia de trabalho estabelecida. (MONTEIRO, 2008)

Os cientistas que contribuem para o IPCC são escolhidos de acordo com a sua experiência na produção científica e também pela sua nacionalidade. Este critério de nacionalidade é usado pra que haja representatividade de todos os países-membros da ONU. O maior contingente de cientistas é dos EUA. Eles se reúnem em plenárias de discussão, onde analisam os dados e informações obtidas pela produção científica de um determinado tema a ser trabalhado, e através de consenso, estabelecem quais serão os assuntos abordados no Relatório e definem sua redação. Esta atividade tem a duração de aproximadamente quatro anos. (IPCC, 2009; WWF, 2007)

Os grupos são subdivididos em dois subgrupos: um subgrupo de pesquisadores principais e um subgrupo de revisores. O subgrupo de pesquisadores

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é responsável pela redação dos capítulos, enquanto que o subgrupo de revisores são os responsáveis pela análise do que foi produzido, e se foram atendidas as questões levantadas nas plenárias. O trabalho é regido por critérios de extrema rigorosidade onde prevalece a questão de sigilo, o que dá confiabilidade e credibilidade ao Painel. (IPCC, 2009; WWF, 2007)

Para o IV Relatório foi elaborado por cerca de seiscentos cientistas, que contaram com a colaboração de cercas de dois mil outros cientistas. (WWF, 2007)

3. II RELATÓRIO DO IPCC X PROTOCOLO DE QUIOTO

3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Com a divulgação dos resultados, oriundos de diversos trabalhos realizados pela comunidade científica mundial e a ocorrência de eventos climáticos extremos, a questão do aquecimento global passou a ocupar maior espaço na mídia imprensa da cidade de Säo Paulo, tendo em vista o crescente interesse da população mundial sobre o tema.

Diversos assuntos relacionados ao meio ambiente, principalmente, referentes à poluição e ao aquecimento global, permearam a elaboração do Protocolo de Quioto e foram retratados e reportados com muita profusão pela mídia impressa.

“Pesquisadores alertam para a ameaça que representa o efeito estufa à economia e cultura dos países, com mudanças na fauna e flora e o aumento no nível dos oceanos”.

O Estado de São Paulo, 28/12/1995

A matéria referente ao subtítulo transcrito, discorreu sobre a relação da alteração da vida marinha com as mudanças climáticas, preocupação presente na Conferência Ásia-Pacífico sobre Mudanças Climáticas realizada em Manila

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(Filipinas) por países da África e banhadas pelo oceano pacífico, onde especialistas, alertavam sobre o derretimento das calotas polares e cumes montanhosos. Notícia veiculada no jornal O Estado de São Paulo, edição de 28/12/1995 – “Estudo aponta

relação entre aquecimento global e ecossistemas”.

Relembrando o ocorrido no Peru em 1970, onde quantidades imensas de gelos, pedras e terras cobriram uma vila nos Andes, cuja causa foi atribuída aos deslocamentos de placas tectônicas, provocaram na comunidade científica o temor de que essa catástrofe tenha sido originada pelo efeito estufa, e que outros fenômenos semelhantes aconteçam repetidamente nos próximos anos. Notícia veiculada no jornal O Estado de São Paulo”, edição de 16/06/1996 – “Aos pés dos

Andes, vila desapareceu sob toneladas de gelo”.

A desertificação provocada pelas mudanças climáticas ocorre muito mais pela ação do homem do que pelas condições naturais. Totalizou-se cerca de 61,3 milhões de quilômetros de áreas degradadas em todo mundo. A fragilidade inerente ao ecossistema e as condições climáticas adversas estão entre as consequências diretas desse fenômeno, que é provocado pelo aumento da poluição do ar, e traz como agravante, a redução das atividades agrícolas, em virtude da degradação e redução das áreas de cultivo. Notícia veiculada no jornal Folha de São Paulo, edição de 08/10/1997 – “Convenção mundial tenta deter avanço da desertificação”.

O então presidente da República Fernando Henrique Cardoso sancionou a lei ambiental, Lei de Crimes Ambientais, Lei Federal nº 9605/98, negando alguns pedidos de vetos da bancada dos ruralistas, cedendo, no entanto, aos pedidos de usineiros quando vetou um artigo que tratava das penas de detenções e aplicações de multas para aqueles que se utilizam da técnica de queimadas. As queimadas respondem por uma significativa parcela de extinção de florestas e demais formas de vegetação. Notícia veiculada no jornal Folha de São Paulo, edição de 13/02/1998 – “Lei Ambiental é sancionada com 10 vetos”.

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Num levantamento o BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, revelou que 40% do lixo gerado em nosso país não são destinados a um sistema de coleta e que a poluição está caracterizada da seguinte maneira, quanto aos principais ofensores: na região norte, nas fumaças das queimadas e rejeitos de mineração; na região centro-oeste, no ar das grandes cidades, águas urbanas e rejeitos da mineração; na região nordeste, nos rejeitos da produção de açúcar e álcool; na região sul, nas minerações do carvão, poluição atmosférica e poluição das águas nas cidades; e na região sudeste, poluição atmosférica (maior incidência em São Paulo e Rio de Janeiro), poluição industrial (maior incidência em Volta Redonda/RJ e Cubatão/SP), poluição das águas nas cidades de moderada a grave e poluição na costa oceânica. Notícia veiculada no Jornal da Tarde”, edição de 04/08/1998 – “Onde falta saneamento e sobra poluição”.

Após as exposições destas matérias veiculadas na mídia impressa, percebe-se que as preocupações da sociedade civil com o planeta frente aos impactos causados pelo seres humanos e a própria projeção midiática dos acidentes causados pelas mudanças climáticas, bem como dos resultados científicos, fortaleceram a necessidade de entendimentos, visando a elaboração de um acordo político efetivo que comprometesse as partes no enfrentamento dos problemas.

A realização da COP 3, em Quioto (Japão), seria o palco apropriado para o estabelecimento de um Protocolo, que contivesse metas direcionadas aos maiores ofensores do planeta no quesito poluição, quanto à redução das emissões de GEE, que buscasse uma coalizão de entendimentos e a união de esforços para os possíveis enfrentamentos necessários, bem como o estabelecimento de programas de cooperação e transferência de tecnologias dos países mais desenvolvidos para os países em desenvolvimento e a criação de fundos para fomentação e mitigação de soluções e ações voltadas a preservação ambiental. A reunião foi municiada com dados mais precisos e preocupantes, contidos no II Relatório do IPCC. (MCT, 2009; CAMPOS, 2001)

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3.2. II RELATÓRIO DO IPCC

O II Relatório, divulgado em 1995, foi uma avaliação das informações científicas e sócio-econômicas disponíveis sobre a mudança climática, e apontou um cenário caótico e devastador sobre os impactos que o aquecimento global podem causar ao meio ambiente e aos sistemas econômicos mundiais. Mas, o Relatório não ficou restrito à críticas e previsões, algumas medidas foram sugeridas quanto a mobilização das diversas nações para resolução dos problemas para evitar a irreversibilidade dos danos. O Brasil, foi um dos países focados no Relatório, que descreveu os impactos significativos e suas possíveis conseqüências para as regiões do entorno da floresta amazônica, para a região nordestina, especificamente o semi-árido e para as regiões litorâneas. (IPCC, 1995; MCT, 2009; WWF, 2007)

A conclusão do II Relatório do IPCC, fundamentada em estudos mais confiáveis e precisos, aponta para uma certeza maior sobre a influência do ser humano na alteração das dinâmicas do clima. Termos que não apareceram no I Relatório, surgem no II Relatório como, por exemplo, “parece provável” (“it appears

likely”) quando foram tratadas as informações sobre o aumento da concentração de

GEE e como certos efeitos vem acelerando essa concentração (a absorção de carbono pelas florestas não está acompanhando esse crescimento), e “melhor suposição” (“best-guess”) quando foi relatado o aumento da temperatura média da superfície do planeta. Foi previsto alcançar até 3ºC no final do século XXI. Porém, os políticos e diplomatas que fazem parte do IPCC, pressionaram para que os resultados não fossem tão contundentes e conclusivos, atendendo às reivindicações de governantes e empresários preocupados com suas economias. Resultante dessas pressões, o II Relatório também aponta para impactos positivos causados pelas mudanças no clima, mas os negativos acabam predominado. (LEGGET, 1999; ESPARTA, 2002)

No II Relatório, uma das conclusões apresentadas foi a de que seria ”improvável” que o crescente aumento de temperatura da superfície da terra, que

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orbitaram sobre índices de 0,3 a 0,6 ºC, no final do século XIX, resultassem somente de condições e impactos naturais, ou seja, mesmo num período distante, o Relatório apontou para ações andrógenas. Na seqüência transcrevemos um trecho do referido Relatório para ilustrar tal entendimento:

“... o balanço das evidências, de mudanças da temperatura média do ar na superfície e das mudanças geográficas, de estações do ano e de padrões verticais da temperatura da atmosfera, sugerem uma influência discernível do homem no clima global. Ainda há incertezas com relação a pontos chave, incluindo a magnitude e padrões de variabilidade de longo prazo. O nível do mar subiu entre 10 e 25 cm nos últimos 100 anos e muito dessa subida pode estar relacionada com o aumento da temperatura média global.” Finalmente, no último relatório apresentado em 2001 (IPCC-TAR) já se conclui que “há novas e mais fortes evidências que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuível a atividades humanas.”

(IPCC, 1995 apud ESPARTA, 2002)

O II Relatório do IPCC teve a seguinte composição:

 Segunda Avaliação do IPCC - Síntese de Informações Técnicas e Científicas que subsidiaram a interpretação do artigo 2º da UNFCCC;

 Relatório do Grupo de Trabalho 1 - a Ciência da Mudança do Clima, contextualização e embasamento teórico;

 Relatório do Grupo de Trabalho 2 – Análise de Impactos através de Técnicas Científicas, Adaptação e Mitigação das Mudanças Climáticas;

 Relatório do Grupo de Trabalho 3 - o Comitê Econômico e Social e as Dinâmicas das Mudanças Climáticas.

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O Grupo de Trabalho 1 no II Relatório, apresentou suas conclusões em vários itens que na sequência discriminamos:

 O clima global está mudando. Esta afirmação pode ser verificada através de evidências que indicam sua veracidade:

 Um aumento de cerca de 0,6ºC sobre a temperatura média da superfície da terra entre os anos de 1861 e 2000;

 Os padrões verificados de chuvas sofreram alterações volumétricas, ou seja, passaram a ocorrer precipitações mais fortes e mais frequentes;

 Uma maior freqüência do fenômeno El-Niño, com maior amplitude e intensidade;

 Elevação do nível dos oceanos, sendo em média de 10 a 20 cm nos anos 1900 e 2000;

 As ações humanas estão provocando sérias mudanças na concentração de GEE na atmosfera. Dentre as ações destacamos a queima de combustíveis fósseis na indústria e pelas pessoas individualmente, e o desmatamento desenfreado das florestas remanescentes;

 Existem forte evidências de que atividades andrógenas são as causas de grande parte do aquecimento global dos últimos 50 anos até os dias de hoje;

 Em todo mundo ocorre a associação das mudanças climáticas com alterações diversas observadas em sistemas físicos, ambientais, ecológicos, sócio-econômicos, políticos e administrativos. Apesar de afetarem uma determinada região, ou área, as mudanças podem afetar outras regiões que tenham dependências com a região onde aconteceu o fenômeno. Para ilustrar, citamos alguns exemplos: a redução em extensão e espessura do Mar Ártico durante o verão; introdução não planejada de espécies vegetais e animais em regiões diferentes da origem; o

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florescimento antecipado; menor produtividade agrícola na Europa; migração de pássaros fora de época ou por questões climáticas; clareamento de recifes de corais; elevação do nível de perdas econômicas causada por eventos climáticos extremos.

 O cenário de crescimento das emissões de GEE depende, no futuro, da evolução tecnológica, da educação da população, das alterações demográficas, dos sistemas econômicos, dos sistemas ambientais, entre outros;

 Vários cenários foram analisados, alguns deles já possuem soluções ecológicas (utilização de biocombustíveis, técnicas de reflorestamento, uso de fontes renováveis, etc.), mas todos apontam para um crescimento das concentrações de GEE, que deverão romper o século XXI. As projeções relacionadas aos diversos cenários seguem discriminadas:

 Ocorrerá um aumento da temperatura média no mundo entre 1,4 e 5,8ºC até 2100. As temperaturas serão maiores para a superfície terrestre e menor para os oceanos;

 Aumento nos índices pluviométricos mundiais, com precipitações mais volumosas e com ventos mais fortes;

 Entre 1990 e 2100, a previsão é a de que o nível dos oceanos suba entre 9 e 88 cm (um range muito grande);

 Os eventos climáticos serão mais extremos e resultarão no aumento das secas, das enchentes, dos ciclones tropicais. As temperaturas altas serão cada vez mais freqüentes e com ela uma maior incidência de problemas com a saúde populacional.

(IPCC, 1995, ESPARTA, 2002)

No capítulo 8º, os resultados mostraram as tendências observadas quanto a temperatura média e o aquecimento do planeta nos últimos cem anos. Um dos pontos mais importantes, foi o apontamento de evidências quanto a um padrão

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emergente de resposta para os efeitos no clima resultantes de GEE e aerossóis nos registros climáticos levantados. (UNEP, 2008)

O II Relatório apresentou de forma inteligível que os impactos das mudanças do clima estão expostos através de formas mais contundentes e perceptíveis, e que a tendência para futuro é de um crescente agravamento. Foi informado sobre o aumento gradual do nível dos oceanos, prevendo-se com isto, que cerca de cem milhões de pessoas, habitantes das costas oceânicas, com menos de um metro acima do atual nível do mar correm o risco de perder suas casas num futuro próximo. Outra previsão alarmante foi a de que as populações da Índia e da China podem passar fome por causa da redução gradativa da produção de alimentos decorrente das mudanças climáticas e do aquecimento global. Uma terceira previsão, e com certeza a mais grave de todas, foi a de que os mananciais de água doce, dos quais milhões de pessoas no mundo dependem, correm o risco de serem afetados. (IPCC, 1995; NAE, 2005; WWF, 2007; UNEP, 2008))

Os impactos das mudanças climáticas no Brasil, trouxeram diferentes previsões para as regiões, todas contendo aspectos bem negativos. Na região Amazônica, o II Relatório previu que os habitantes poderão sofrer com temperaturas no verão muito acima das médias aferidas até o ano de 1995, o que provocaria fenômenos relacionados à seca. Confirmando a previsão em 2005, houve uma seca de grande intensidade que afetou boa parte do rio Amazonas, trazendo um cenário desolador e prejuízos vultosos para a população ribeirinha. Várias toneladas de peixes foram dizimadas e a imagem ganhou espaço na mídia mundial, reforçando e dando credibilidade às previsões do IPCC. Além disso, aliado à seca, o desmatamento poderia causar uma redução da densidade da floresta amazônica, transformando sua vegetação em algo parecido com o cerrado da região centro-oeste. Para o nordeste brasileiro, a previsão do II Relatório foi com relação ao aumento das temperaturas médias, que transformariam a região de semi-árida para árida, resultando em reduções abruptas dos volumes de água dos lençóis freáticos da região. Para o sudeste, a previsão foi de aumento das precipitações, que

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causariam uma redução da produtividade agrícola e provocariam anomalias de causas naturais, como inundações e deslizamentos de terra, deixando em risco parte da população urbana, além dos prejuízos financeiros. (NAE, 2005; MEC, 2008; WWF, 2007)

Apesar de todas essas previsões alarmantes, o II Relatório demonstrou ser apenas o princípio de um aprofundamento científico sobre as mudanças climáticas e o entendimento de seus impactos, como transformadores da dinâmica do planeta. Mostrou uma maior necessidade de esclarecimentos e melhoria do ferramental utilizado nas pesquisas, visando uma redução dos níveis de incerteza, considerados altos por alguns países. Ficaram explícitas, mas não conclusivas, no II Relatório, que as alterações da química do planeta estão provocando a extinção de várias espécies, mudanças dos movimentos migratórios de outras e que passaram a comprometer os serviços ambientais prestados pela natureza em seus ciclos, ou seja, muito do que a natureza nos proporcionava está findando. Ficou também implícita a necessidade de estudos que vinculem o aumento da temperatura e a mudança nos padrões das chuvas com a evolução e o desenvolvimento econômico e social de nações emergentes. (NAE, 2005; WWF, 2007)

Posteriormente, no III Relatório de Avaliação do IPCC, a parte do Grupo de Trabalho I do II Relatório de Avaliação virá a ser analisada da seguinte forma:

"O relatório ressaltou que a abundância de gases com efeito de estufa continuam a aumentar na atmosfera e que cortes substanciais nas emissões seriam necessários para a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera (que é o objetivo final do artigo 2º da Convenção-Quadro sobre as Alterações Climáticas). Além disso, o aumento geral da temperatura global continua aumentar, com os últimos anos sendo os mais quentes desde 1860. A capacidade dos modelos climáticos para simular eventos e tendências observadas tinham melhorado, notoriamente com a inclusão dos aerossóis de sulfato e de ozônio estratosférico como agentes radiativos em modelos climáticos. Utilizando essa capacidade simulativa para comparar com os padrões observados de mudanças de temperatura regional, o relatório concluiu que a capacidade de quantificar a influência humana no clima global é limitada. As limitações surgiram

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porque o sinal esperado ainda estava emergindo do ruído da variabilidade natural, e por causa das incertezas em outros fatores chaves. Contudo, o relatório também concluiu que "o balanço de evidências sugere uma discernível influência humana no clima global". Finalmente, com base em uma série de cenários futuros de abundância de gás com efeito de estufa, um conjunto de respostas do sistema climático foi simulado.”

(IPCC, 2001)

Em resposta ao II Relatório, na 1ª COP – Conferência das Partes, realizada em Berlim (Alemanha) em 1995, iniciaram-se as negociações para a elaboração de um Protocolo fixando procedimentos concretos para a redução das emissões de GEE.

O processo negociador que levou à adoção do Protocolo de Quioto começou na COP 1, na qual os EUA assumiram papel de liderança na tentativa de estabelecer metas obrigatórias de redução de GEE para os países desenvolvidos, e metas de redução da taxa de crescimento futuro das emissões para os países em desenvolvimento. A proposta dos EUA foi rejeitada, em virtude da articulação dos países emergentes, liderados pelo Brasil, contrários ao estabelecimento de metas que estariam inviabilizando o crescimento econômico e o desenvolvimento dos países, relegando-os a condições de inferioridade perenes. Com isto, a COP 1, adotou Mandato de Berlim, que apontou para a obrigatoriedade de elaboração de um Protocolo ou outro instrumento legal de consenso, que estabelecesse metas e mecanismos obrigatórios para a redução das emissões e para promover a redução ou estabilização da concentração de GEE na atmosfera. O documento refletiria as decisões tomadas na Convenção e estaria estabelecendo também um calendário para o seu cumprimento. (WWF, 2007; MOREIRA, 2008; UNEP, 2009)

Na COP 2, realizada em julho de 1996, em Genebra (Suíça), os EUA tornaram a insistir quanto a necessidade do estabelecimento de metas e mecanismos voltados para as reduções das emissões de GEE e levaram à

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Convenção, uma idéia de criação de cotas comercializáveis de emissão de carbono. Esta solução traria a introdução de um mecanismo flexibilizador para as reduções das emissões e deveria ser assumida por um grupo de Partes, cuja maioria era dos países desenvolvidos. A Declaração de Genebra, definiu um acordo para a elaboração do Protocolo de Quioto e deu início às negociações das obrigações legais consensuais voltadas para as reduções das emissões de CO2. Na COP 2 foi apresentado o II Relatório de Avaliação do IPCC na íntegra, reforçando a necessidade da confecção do Protocolo de Quioto, com definições mais objetivas e com regras mais detalhadas. (MOREIRA, 2008)

As negociações giraram em torno de três metas principais. Os EUA, derrotados nas proposições para a segunda e terceira metas, declarou sua posição contrária ao Protocolo de Quioto, e prometeu não ratificá-lo. O principal motivador foi a falta de metas para os países em desenvolvimento. Na seqüência discriminamos as metas negociadas:

 Até 2010, metas mais brandas para as reduções de emissões;

 Após 2010, metas mais contundentes, voltadas para as reduções das taxas de crescimento das emissões;

 Criação de mecanismos de flexibilização objetivando o alcance das metas.

(MOREIRA, 2008)

A COP 3, aconteceu em Quioto (Japão), em dezembro de 1997, e foi considerada a mais importante das Convenções até então realizadas. Participaram cerca de 160 países em torno de uma premissa obrigatória, a de cumprirem o Mandato de Berlim e a Declaração de Genebra, sem deixar de observar os dados concisos do II Relatório do IPCC. Com isto, durante a COP 3, as metas de reduções de emissões e os prazos foram negociados e definidos, porém com diversas restrições decorrentes dos impasses que surgiram no período de negociações. Várias decisões não tomadas e discussões de temas não abordados foram

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postergadas para as Conferências posteriores. Em meio a conturbadas controvérsias, o Protocolo de Quioto foi elaborado e submetido à assinatura das Partes. Na própria Convenção, para os trabalhos de obtenção de assinaturas e ratificação, foi criado um Grupo de Trabalho ad hoc, com o objetivo de negociar com as Partes e no futuro acompanhar a implementação de todos os acordos negociados pelos países desenvolvidos, no sentido de possibilitar ações apropriadas para o período pós-2000. (MCT, 1999; MOREIRA 2008, UNEP, 2009)

3.3. PROTOCOLO DE QUIOTO

O Protocolo de Quioto foi concebido na COP 3, em 11 de novembro de 1997, após onze dias de intensas negociações entre delegados, autoridades governamentais, ministros e demais representantes das Partes. Na composição final do documento foram estabelecidos vinte e oito artigos e dois anexos. Quando foi publicado, o Protocolo incluiu também três decisões negociadas e firmadas na COP 3, que auxiliam na implementação dos preceitos constantes no documento. (PEREIRA, 2002)

No Anexo A (Quadro 2), parte integrante do Protocolo, estão definidos, além do detalhamento de setores e categorias de fontes, seis gases diretamente relacionados com o efeito estufa: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HCFC), perfluorcarbonos (PFC) e Hexafluoretos de Enxofre (SF6). Estes gases foram escolhidos por serem os que mais contribuem com o efeito estufa e por serem relacionados com atividades antrópicas. Dos seis gases, o de maior impacto é o CO2. No Anexo B (Quadro 3), constam o nome dos países que assinaram e ratificaram o Protocolo e seus compromissos quanto as reduções de emissões de GEE. (RIBEIRO, 2006; MCT, 2009))

Referências

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