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ESPÉCIES DE MADEIRAS APLICÁVEIS NA FAIXA COSTEIRA

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Academic year: 2021

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ESPÉCIES DE MADEIRAS APLICÁVEIS NA FAIXA COSTEIRA

Teresa de Deus Ferreira, Arq.ª, Mestre em Construção pelo Instituto Superior Técnico

Jorge de Brito, Eng.º Civil, Professor Associado c/ Agregação no Instituto Superior Técnico

1 - Considerações introdutórias

A madeira tem as mais variadas aplicações, sendo um dos materiais mais versáteis utilizados na construção. É muito sensível à água mas pouco afectada pelos sais, resistindo a valores de pH entre 3 e 10. O seu comportamento em exteriores, e especialmente em zonas marítimas, depende do tipo de tratamento que lhe for dado. A figura 1 mostra um exemplo de aplicação numa zona exigente, que tem resistido bem aos elementos atmosféricos.

Figura 1 - Pérgola em madeira maciça, com cerca de 7 anos de exposição em ambiente salino.

A aplicação de madeira no exterior é muito influenciada pelos agentes atmosféricos. Deve-se ter sempre em atenção o clima do local da obra, nomeadamente as variações de humidade, a insolação, a pluviosidade e a temperatura, assim como as condições de exposição da madeira; se está coberta ou exposta, qual a sua orientação e se tem a ventilação adequada. Devem ser ponderados estes factores, juntamente com a especificidade dos agentes biológicos e a sua relação com os tipos de madeira e os produtos preservadores.

2 - Madeiras aplicáveis na faixa costeira

Tendo em atenção os problemas correntes no que respeita à conservação das madeiras na construção, devem ser tidos em conta alguns aspectos determinantes de um desempenho adequado e durável [1]:

• especificar as madeiras com a durabilidade adequada face ao risco de ataque dos agentes biológicos, de acordo com as classes de risco da sua utilização;

• escolher as espécies florestais de modo a que as suas características mecânicas, físicas e tecnológicas sejam compatíveis com as solicitações previstas;

• atender às características intrínsecas do material na concepção, fabrico e montagem dos elementos de madeira, dando especial atenção aos fenómenos relacionados com a variação do teor de água;

• fazer uma adequada aplicação dos materiais e exploração e manutenção das construções.

Entre as madeiras maciças existentes, as seguintes são consideradas adequadas para aplicação na faixa costeira. No entanto, são apenas exemplos já que não se trata de uma listagem exaustiva. Na

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informação contida nos quadros sobre estas madeiras, existe a seguinte correspondência:

• facilmente impregnável - fácil de tratar; a madeira serrada pode ser completamente penetrada, sem dificuldades, com um tratamento por pressão;

• medianamente impregnável - suficientemente fácil de tratar; usualmente não é possível uma penetração completa mas, após 2 ou 3 h de tratamento por pressão, pode atingir-se uma penetração lateral de mais de 6 mm nas Resinosas, e nas Folhosas uma grande proporção de vasos pode ser penetrada;

• pouco impregnável - difícil de tratar; 3 a 4 h de tratamento por pressão podem não resultar em mais de 3 a 6 mm de penetração lateral;

• não impregnável - virtualmente impossível de tratar; pouco produto preservador absorvido mesmo após 3 ou 4 h de tratamento por pressão; penetrações laterais e longitudinais mínimas.

2.1 - Afzélia, Chanfuta ou Doussié (Quadro 1)

(Afzelia africana e Afzelia bipindensis)

Encontra-se na África tropical e chega a atingir 30 m de altura e 1 m de diâmetro. É uma madeira densa, pesada, muito durável e que apresenta uma boa estabilidade dimensional, o que a torna apropriada para a execução de caixilharias. Ao secar, não apresenta fissuras e é bastante resistente a fungos e térmitas. É muito utilizada na indústria naval.

Quadro 1 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade da afzélia [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE

Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Medianamente impregnável CERNE Muito durável Durável Dados insuficientes Não impregnável

2.2 - Câmbala ou Iroko (Quadro 2)

(Milicia excelsa e Milicia regia)

Madeira originária da África intertropical (Serra Leoa até Angola, interior do Zaire, Tanzânia e Moçambique), apresenta uma boa resistência à compressão, ao corte e à fendilhação (figura 2). É uma madeira fácil de trabalhar, quer por meios mecânicos, quer com ferramenta manual. Recebe muito bem verniz, polimento, pregos e parafusos mas deficientemente as tintas. Cola com relativa facilidade e permite bons acabamentos [3]. Durante a sua secagem, tem pouca tendência para empenar ou abrir fendas.

Pelas suas características, é uma madeira muito utilizada em construção naval. Devido à sua elevada durabilidade, é muito indicada para obras expostas à intempérie, como paramentos exteriores e caixilharias. A sua boa estabilidade e características de resistência, durabilidade e aspecto decorativo fazem da câmbala uma das madeiras africanas mais divulgadas.

Quadro 2 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade da câmbala [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE

Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Facilmente impregnável CERNE Durável a muito durável Durável Durável Não impregnável

2.3 - Carvalho roble ou comum (Quadro 3)

(Quercus robur)

O carvalho roble (figura 3), ou carvalho americano, encontra-se espalhado pelo continente europeu; em Portugal, distribui-se no Norte, nas zonas de maior pluviosidade [4]. É uma madeira de Folhosa,

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com cerne distinto, de cor castanha escura, brilhante e de contorno regular, e de impregnabilidade impraticável. É moderadamente pesada, elástica e resistente ao choque. A sua serragem é fácil e tem boa aptidão à colagem. Recebe bem velaturas, tintas e vernizes. É muito utilizada em carpintarias de limpos, contraplacados, folheados e elementos estruturais (barrotes e vigas).

Quadro 3 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade do carvalho [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE

Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Facilmente impregnável CERNE Durável Medianamente durável Susceptível Não impregnável

Figura 2 - Madeira de Câmbala. Figura 3 - Exemplar de Carvalho.

2.4 - Castanho (Quadro 4)

(Castanea sativa Mill)

Surge em países mediterrâneos, na América e no Japão; em Portugal (figura 4), ocorre no Norte e Centro, incluindo a região de Portalegre [4]. É uma madeira de Folhosa, de cor pálida ou castanha, de cerne distinto, poro em anel, textura grosseira e não uniforme, desenho venado (tem veios) e por vezes ondulado, e com anéis de crescimento bem visíveis. É dura, leve, estável, fácil de trabalhar e muitodurávele pode chegar a corroer reforços de ferro.É de excelente qualidade e muito semelhante à madeira do carvalho. Apesar de ser atacada pelo caruncho, é muito usada nas construções.

Quadro 4 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade do castanho [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE

Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Medianamente impregnável CERNE Durável Medianamente durável Susceptível Não impregnável

2.5 - Casquinha (Quadro 5)

(Pinus sylvestris)

Esta espécie encontra-se disseminada pelo continente europeu, desde a floresta de montanha no Ocidente (dos Pirinéus aos Vosgos) e das planícies do Centro e Leste, às regiões setentrionais de baixa altitude euro-asiáticas. É uma árvore que necessita de muita luz, suporta grandes amplitudes térmicas e desenvolve-se bem em terrenos leves e ligeiramente ácidos. Em Portugal, existem plantações em zonas de serras elevadas como as serras do Gerês, da Estrela e da Lousã [5].

É uma madeira resinosa, pálida, de desenho venado, com cerne distinto, branda, leve, fácil de trabalhar, tanto manualmente como por meios mecânicos, embora essa facilidade esteja dependente da largura média dos anéis anuais (taxa de crescimento). Cola com facilidade, recebe e fixa bem os

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pregos e os parafusos e pode ser pintada ou envernizada, sendo bastante durável. Através do desenrolamento de toros que sejam isentos de defeitos, obtêm-se folhas destinadas a contraplacados. A sua aplicação na construção civil é vasta, em toscos e limpos. Para a sua utilização em exteriores, é imprescindível a aplicação de um tratamento preservador adequado. É uma madeira com mais cerne do que o pinho, pelo que absorve melhor os produtos preservadores, se necessário.

A chamada “casquinha branca” não está relacionada com a casquinha verdadeira, trata-se de espruce (Picea Abeas). É uma madeira mais grosseira, em que o cerne não se distingue do borne, o toro é todo esbranquiçado, daí a designação. Não se consegue tratar e é muito atacada pelo caruncho.

Quadro 5 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade da casquinha comum [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE

Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Facilmente impregnável CERNE Moderadamente durável a pouco durável Susceptível Durável Pouco ou não impregnável

2.6 - Pinho bravo (Quadro 6)

(Pinus pinaster)

É uma madeira resinosa, pálida ou castanho-avermelhada, de cerne distinto, textura grosseira, moderadamente dura e pesada, pouco durável e com alguma capacidade de retracção. O pinheiro bravo (figura 5) encontra-se distribuído por todo o litoral, excepto o Algarve, e na zona serrana do Norte e Centro do país [4].

Figura 4 - Exemplar de Castanheiro. Figura 5 - Exemplares de Pinheiro bravo.

A madeira de pinho é excelente para a construção, em interiores e no exterior, devido às suas características de resistência e facilidade de tratamento com produtos preservadores. O borne admite tratamento e, consoante o tipo de método usado, poderá ser tratado mais ou menos profundamente. Considera-se o cerne praticamente impossível de impregnar uma vez que, mesmo sob pressões elevadas, os produtos penetram muito ligeiramente nesta zona sendo, por natureza, bastante mais durável que o borne. É facilmente trabalhada em todas as operações de carpintaria manual ou

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mecânica, para o que deverá estar convenientemente seca e possuir pouca quantidade de nós ou outros defeitos, permitindo bons acabamentos [6].

Em peças destinadas a exteriores ou a serem imersas em água salgada, o produto preservador deverá penetrar em toda a profundidade na madeira, para o que se deve efectuar o tratamento em autoclave1

sob vácuo e pressão, ou por imersão prolongada a quente em tanques, seguida de arrefecimento. Desde que tratada adequadamente, pode ser aplicada em todas as situações ao ar livre. É utilizada na construção em geral, em toscos e limpos, tais como elementos estruturais, pavimentos, escadas, caixilharias, portas e janelas e em todos os trabalhos de carpintaria corrente.

Quadro 6 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade da madeira de pinheiro bravo [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE

Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Facilmente impregnável CERNE Pouco a não durável Susceptível Durável Não impregnável

2.7 - Tola branca (Quadro 7)

(Gossweilerodendron balsamiferum)

Trata-se de uma árvore muito comum nas florestas equatoriais da África Ocidental cujos principais exportadores são o Congo, a Nigéria e Angola.

É uma madeira clara, pouco densa e branda, o que a torna fácil de trabalhar, quer manual quer mecanicamente. Por ser pouco retráctil, ter uma elevada durabilidade natural e um comportamento mecânico satisfatório relativamente à densidade, é uma madeira que tem tido uma aplicação generalizada na construção, nomeadamente na carpintaria de limpos e nas indústrias de contraplacados e de mobiliário e na construção naval [7].

A tola branca reage muito bem à colagem e recebe bem as tintas, os vernizes e o polimento, possibilitando um bom acabamento, desde que não se verifiquem posteriormente exsudações de gomas. É uma madeira que propicia a obtenção de peças de grandes dimensões sem defeitos.

Quadro 7 - Características de durabilidade natural e de impregnabilidade da tola branca [2]. DURABILIDADE NATURAL

IMPREGNABILIDADE Fungos Térmitas Carunchos

BORNE Não durável Susceptível Susceptível Facilmente impregnável CERNE Moderadamente durável a durável Susceptível Durável Pouco impregnável

3 - Conclusão

A utilização da madeira tem numerosas vantagens construtivas: a sua imediata colocação em carga, o seu bom comportamento à flexão e a facilidade que oferece de corrigir os defeitos que possam aparecer durante a execução.

A maioria dos problemas de funcionamento da madeira resultam do não cumprimento de regras básicas de utilização deste material. Por vezes, o mau desempenho pode resultar do facto de este material não ser uma boa opção ou ser mesmo completamente desaconselhado para esse fim.

Se as condições de aplicação forem bem definidas e a escolha da madeira, a concepção do desenho e o seu tratamento forem os adequados, não devem existir quaisquer anomalias no material.

Existem assim condições a vários níveis para que a madeira possa, e deva, ser aplicada na construção, especificamente na zona costeira, podendo usufruir-se plenamente das suas qualidades físicas e estéticas.

1 “Autoclave” ou “autoclave de tratamento” é um aparelho que trabalha a frio e faz ciclos de vácuo e/ou pressão de forma

a forçar a entrada dos produtos preservadores na madeira.

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4 - Referências bibliográficas

[1] Cruz, Helena; Machado, J. Saporiti; Nunes, Lina. Problemas de conservação de madeira em

edifícios, in “2º Encore - Encontro sobre conservação e reabilitação de edifícios”, LNEC,

Lisboa, 1994, pp. 301-312;

[2] Versão portuguesa da norma europeia NP EN 350-2: 2001 - Durabilidade da Madeira e de produtos derivados. Durabilidade natural da Madeira maciça. Parte 2: Guia da durabilidade natural da madeira e da impregnabilidade de espécies de madeira seleccionadas pela sua importância na Europa;

[3] Ficha M 3, Madeira para construção - Câmbala, LNEC, Lisboa, 1997;

[4] Cabral, F. Caldeira; Telles, G. Ribeiro. A árvore em Portugal. Assírio & Alvim, Lisboa, 1999. [5] Ficha M 4, Madeira para construção - Casquinha, LNEC, Lisboa, 1997;

[6] Ficha M 2, Madeira para construção - Pinho bravo para estruturas, LNEC, Lisboa, 1997; [7] Ficha M 7, Madeira para construção - Tola branca, LNEC, Lisboa, 1997.

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