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PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O (6ª Turma) GMACC/src/hta/m

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A C Ó R D Ã O (6ª Turma)

GMACC/src/hta/m

RECURSO DE REVISTA SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E DA IN 40 DO TST. DANO

EXISTENCIAL. JORNADA EXCESSIVA.

REQUISITOS DO ARTIGO 896, § 1º-A, DA CLT ATENDIDOS. Essa Corte tem reconhecido

que a submissão do empregado, por meio de conduta ilícita do empregador, ao excesso de jornada extraordinária, para muito além do tempo suplementar autorizado na Constituição Federal e na CLT, quando cumprido de forma habitual e por determinado período, pode

tipificar o dano existencial

(modalidade de dano imaterial e

extrapatrimonial). Tal conduta

representa prejuízo ao tempo que todo indivíduo livre detém para usufruir de suas atividades pessoais, familiares e sociais, além de recompor suas forças físicas e mentais, sendo presumível o dano causado (in re ipsa). In casu, o Regional consignou que o reclamante laborou por oito anos, dirigindo veículos com cargas tóxicas, em jornadas de 12 horas, 20 dias por mês, estando evidenciado o dano existencial.

Recurso de revista conhecido e

desprovido.

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014 E DA IN 40 DO TST. HORAS EXTRAS NO TRABALHO EXTERNO. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. DOMINGOS E FERIADOS TRABALHADOS. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO.

Não se analisa tema do recurso de revista interposto na vigência da IN 40 do TST não admitido pelo TRT de origem quando a parte deixa de interpor agravo de instrumento.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-358-60.2014.5.04.0802, em que é Recorrente GAFOR

S.A. e Recorrido PAULO SCHMITZ.

O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, por meio do acórdão de fls. 3.670-3.725 (numeração de fls. verificada na visualização geral do processo eletrônico – “todos os PDFs” – assim como todas as indicações subsequentes), deu provimento parcial aos recursos ordinários da reclamada e do reclamante.

Embargos declaratórios da reclamada às fls. 3.730-3.734, os quais foram rejeitados às fls. 3.746-3.764.

A reclamada interpôs recurso de revista às fls. 3.770-3.800, com fulcro no art. 896, alíneas a e c, da CLT.

O recurso foi admitido parcialmente às fls. 3.814-3.820.

Contrarrazões não foram apresentadas (certidão à fl. 3.823).

Os autos não foram enviados ao Ministério Público do Trabalho, por força do artigo 95 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho.

É o relatório.

V O T O

O recurso é tempestivo, subscrito por procurador regularmente constituído nos autos e é regular o preparo.

Convém destacar que o apelo em exame rege-se pela Lei 13.015/2014, tendo em vista haver sido interposto contra decisão publicada em 19/6/2015, após iniciada a eficácia da aludida norma, em 22/9/2014.

Igualmente, considerando que a decisão de

admissibilidade foi publicada em 18/7/2016, e ante o cancelamento da Súmula 285 do TST, em 15/4/2016, está preclusa a discussão quanto aos temas “horas extras – trabalho externo”, “adicional de periculosidade”, “domingos e feriados trabalhados” e “reconhecimento do vínculo de

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emprego”, aos quais foi denegado seguimento pelo Regional, não havendo interposição de agravo de instrumento pela reclamada, nos termos da IN 40 do TST.

Logo, a análise do recurso de revista será restrita ao tema "dano moral – excesso de jornada", ao qual foi dado seguimento pelo Tribunal Regional.

1 – DANO MORAL. EXCESSO DE JORNADA Conhecimento

Inicialmente, é de se frisar que o recurso de revista obstaculizado é regido pela Lei 13.015/2014; logo, o reexame de sua admissibilidade torna necessário analisar o cumprimento dos requisitos do art. 896, §1º-A, incisos I, II e III, da CLT, inseridos pela aludida lei.

No caso em tela, a recorrente indicou o trecho do acórdão regional que consubstancia o prequestionamento da controvérsia; apresentou impugnação fundamentada mediante cotejo analítico entre a decisão recorrida e o teor da violação dos artigos que defende, bem como

quanto aos arestos transcritos para demonstrar divergência

jurisprudencial. Satisfeitos, portanto, os requisitos do art. 896, §1º-A, da CLT, com a redação dada pela Lei 13.015/2014.

Ultrapassado esse exame inicial, é necessário perquirir acerca da satisfação dos requisitos estabelecidos nas alíneas do artigo 896 da CLT.

Foi consignado no acórdão regional: “(...)

O autor alega ter comprovado o cumprimento de jornadas extenuantes de trabalho, com a prática habitual de horas extras. Afirma que não gozava do descanso semanal remunerado e que a prática da ré implica afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana e ao direito ao lazer, acarretando danos graves à integridade e à saúde física e mental do trabalhador.

Pois bem.

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O cumprimento de jornadas de trabalho exaustivas, com prestação de labor em sobrejornada acima do limite estabelecido pela lei (art. 59, caput, da CLT), constitui causa de danos não apenas patrimoniais ao trabalhador, mas, principalmente, importa violação a direitos fundamentais e o aviltamento da saúde e bem-estar do empregado. É, pois, fator de risco ao estado psicossocial da pessoa, capaz de ensejar danos à saúde e à sociedade como um todo, na medida em que o Obreiro fica privado de uma vida familiar e social dignas, do lazer e do desenvolvimento, de sua personalidade, além de gerar risco potencial para acidentes e doenças do trabalho.

In casu, a prova dos autos indica que o autor trabalhava 12 horas, por

20 dias no mês, até 16-06-2012 é, após, por 10 horas.

Inegavelmente, a prestação de trabalho em jornadas exaustivas, com labor habitual e diário acima dos limites estabelecidos pela lei, além do máximo tolerável para permitir uma existência digna ao trabalhador, causa dano presumível aos direitos da personalidade do empregado (dano moral/existencial in re ipsa), dada a incúria do empregador na observância dos direitos fundamentais e básicos estabelecidos pela lei quanto à duração da jornada de trabalho, em especial os limites para exigência de horas suplementares e ao mínimo de descanso exigido para recomposição física e mental do trabalhador.

No caso, a ilicitude do ato praticado pelo empregador fica, nessa medida, nitidamente caracterizada, diante da violação de direitos fundamentais e sociais, notadamente os direitos sociais a uma existência digna, ao lazer, à segurança etc, pelas restrições de ordem pessoal e social sofridas pelo indivíduo que labora nessas condições.

Apenas registro, ao exame desta matéria, para que não pareça contraditório, que admito o regime compensatório de 12x36h, mas a situação destes trabalhadores é diversa da examinada nestes autos, notadamente em razão da folga de 36h. Neste caso, o labor do autor em jornada extensa se dava em vários dias.

Cito recentes precedentes deste Colegiado em que analisada a questão ora ventilada:

(...)

No presente caso, os danos morais (existenciais) ao demandante estão plenamente configurados, na medida em que laborou, por oito anos, como

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motorista carreteiro, dirigindo veículos com cargas tóxicas, em jornadas de 12 horas.

Assim, estão inegavelmente presentes os requisitos caracterizadores da responsabilidade civil: a existência de dano à esfera extrapatrimonial do trabalhador (lesão a direitos fundamentais relacionados à existência digna), a conduta ilícita praticada pela ré (exigência de jornadas excessivas de trabalho) e o nexo entre esta conduta e aquele dano, fazendo jus o autor à indenização correspondente por danos morais na qualidade de danos existenciais.

Para estabelecer o importe da quantia, ponderam-se os princípios da razoabilidade é da proporcionalidade, bem como a necessidade de ressarcir o obreiro de seu prejuízo, sem descurar, também, do caráter pedagógico da condenação, buscando inibir o empregador de repetir o ato danoso.

Quanto á extensão do dano - repercussão em relação ao ofendido e ao seu meio social, verifico que este é de intensidade grave, haja vista que o autor foi privado de uma existência digna e social por cerca de dez anos.

Quanto ao grau de culpa da ré, conforme já asseverado, este se caracteriza como grave, que decorre de sua negligência e renitência no descumprimento de normas trabalhistas e direitos fundamentais do trabalhador.

Destaco, por fim, o aspecto pedagógico e educativo que cumpre a condenação a esse título, desdobrado em tríplice aspecto: sancionatório/punitivo, inibitório e preventivo, a propiciar não só a sensação de satisfação ao lesado, mas também desestímulo ao ofensor, a fim de evitar a repetição da conduta ilícita.

Por esta razão, considerando a extensão dos danos sofridos pelo autor, a capacidade econômica do ofendido (salário de, aproximadamente, R$ 3.000,00, fls.797-807) e do ofensor, o grau de culpa da ré, o tempo da prestação de trabalho (8 anos), bem como o caráter pedagógico e punitivo que o quantum indenizatório deve cumprir na espécie, tenho por razoável e suficiente o valor de R$20.000;00 (vinte mil reais) como montante a ser pago a título de dano moral/existencial” (fls. 3.709-3.713).

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A reclamada sustenta que o excesso de jornada, por si só, não ocasiona danos morais ou existenciais ao trabalhador. Colaciona arestos.

Em análise.

O aresto colacionado às fls. 3.792-3.793, oriundo do TRT da 23ª Região, está apto à configuração da divergência jurisprudencial, trazendo o entendimento de que o excesso de jornada, por si só, não configura ato ensejador de danos de ordem moral.

Conheço, por divergência jurisprudencial. Mérito

Essa Corte tem reconhecido que a submissão do empregado, por meio de conduta ilícita do empregador, ao excesso de jornada extraordinária, para muito além do tempo suplementar autorizado na Constituição Federal e na CLT , quando cumprido de forma habitual e por determinado período, pode tipificar o dano existencial (modalidade de dano imaterial e extrapatrimonial).

Tal conduta representa prejuízo ao tempo que todo indivíduo livre detém para usufruir de suas atividades pessoais, familiares e sociais, além de recompor suas forças físicas e mentais, sendo presumível o dano causado (in re ipsa).

Nesse sentido, os seguintes julgados:

“INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. JORNADA DE

TRABALHO EXCESSIVA - CONFIGURAÇÃO DE DANO

EXISTENCIAL. DESCONTO SALARIAL INDEVIDO - AUSÊNCIA DE CULPA DO EMPREGADO NO FURTO DO MALOTE. QUANTUM INDENIZATÓRIO. 1 - O TRT concluiu que, no caso dos autos, a revista visual não configurou ato ilícito passível de reparação, entretanto manteve a condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos morais, por entender que: 1º) restou configurado o dano existencial, pois a jornada de trabalho do reclamante (12,30 horas) era exaustiva, prejudicando sobremaneira a saúde do trabalhador e comprometendo seu convívio social e com a família; 2º) o desconto salarial sofrido pelo obreiro (mais de mil reais)

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foi exorbitante, levando em conta sua média remuneratória, bem como o fato de que não foi comprovada sua culpa no furto do malote. Ao final, reduziu o valor total da indenização, fixado na sentença com base em diversos fundamentos (excesso de horas extras, desconto em razão de furto e revista visual), para R$ 15.000 (quinze mil reais). 2 - No que se refere à configuração de danos existenciais, esta Corte Superior vem se posicionado no sentido de que estes não se caracterizam apenas pela jornada excessiva de trabalho, mas, sim, quando esteja demonstrado que, em razão da jornada excessiva, ocorra a supressão ou limitação de atividades de cunho familiar, cultural, social, recreativas, esportivas, afetivas ou quaisquer outras desenvolvidas pelo empregado fora do ambiente laboral. 3 - A Sexta Turma do TST, na Sessão de 26/04/2017, no ARR-1262-47.2010.5.20.0003, Ministro Augusto César Leite de Carvalho, reconheceu os danos existenciais evidentes na hipótese de jornada contínua superior a 12h, inclusive feriados, sem a observância de descanso obrigatório (naquele caso, o intervalo intrajornada), constando na fundamentação do julgado: "Não desconheço a jurisprudência desta Turma que se sedimentou na direção de ser necessária a comprovação do dano moral, sob o entendimento de que o trabalho em jornada excessiva, por si só, não conduz à conclusão de que o empregado tenha sofrido dano existencial. Entretanto, penso que o caso reclama reflexão sob a influência da hermenêutica constitucional - que confere sentido à ordem jurídica e investe os órgãos jurisdicionais de amplos poderes para garantir a efetividade dos direitos fundamentais, inclusive daqueles que concernem à dignidade humana, liberdade, saúde, honra - porquanto o excesso comprovadamente havido ao se exigir um regime de trinta dias de trabalho, com uma jornada superior a 12 horas, sem intervalo intrajornada, com labor aos domingos e feriados, dispensa demonstração dos prejuízos advindos ao descanso, lazer, convívio familiar e recomposição física e mental do reclamante". 4 - Também no RR-922-11.2015.5.17.0101, na Sessão de 17/05/2017, sob a relatoria da Ministra Kátia Magalhães Arruda, foram reconhecidos os danos existenciais no seguinte caso: "além da jornada excessiva de 15h30 (5h30 a 21h), o reclamante trabalhava em todos os feriados sem compensação (...), sem a observância do intervalo interjornada (...); (...)o reclamante foi contratado para a função de montador em obra de construção de torres de linhas de transmissão de energia elétrica, tendo sido

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registrado no acórdão recorrido (tema "horas in itinere") que trabalhava em locais de difícil acesso, não servido por transporte público regular, em montanhas de elevado aclive, em zonas rurais de acesso extremamente arriscado, nas Cidades Afonso Cláudio, Domingos Martins, Marechal Floriano e Viana, sendo necessárias entre duas e três horas de percurso (cada trecho percorrido)". 5 - No caso dos autos, deve ser mantido o direito à indenização por danos existenciais, considerando que o reclamante era submetido a jornada excessiva de 12h e meia diárias (6h30 às 20h), na qual nem sequer era observado o intervalo interjornadas de 11h. 6 - Também deve ser mantida a condenação ao pagamento da indenização por dano moral, com base no segundo fundamento adotado pelo TRT (desconto salarial exorbitante), visto que a decisão recorrida está ancorada em premissas fático-probatórias contraditadas nas razões do recurso de revista, cujo reexame é vedado nesta instância extraordinária, ante o óbice da Súmula nº 126 do TST. 7 - Quanto ao montante indenizatório, deve prevalecer o valor fixado pela Corte de origem (R$ 15.000,00), pois não está demonstrada a falta de proporcionalidade entre os fatos discutidos e o quantum estabelecido no segundo grau de jurisdição, que foi reduzido justamente porque o TRT concluiu que não se configuraram todas as causas de condenação por dano moral reconhecidas na sentença. 8 - Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (Processo: AIRR - 130007-58.2015.5.13.0005, Data de Julgamento: 14/03/2018, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 16/03/2018.)

“INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DANO EXISTENCIAL. JORNADA EXAUSTIVA. SUPRESSÃO DO DESCANSO SEMANAL E DO INTERVALO INTRAJORNADA MÍNIMO. HORAS EXTRAS HABITUAIS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO DANO. DANO MORALIN RE IPSA. PRESUNÇÃOHOMINIS. A controvérsia cinge-se na necessidade de comprovação efetiva do dano na hipótese de jornada de trabalho exorbitante imposta ao trabalhador. Na hipótese, a Corte de origem concluiu ser "evidente que as jornadas extenuantes, a ausência de obediência ao intervalo intrajornada mínimo e ao descanso semanal lesionam o projeto de vida do trabalhador, até mesmo porque, in casu, depreense-se do conjunto probatório que lhe restava tempo diário apenas para necessidades básicas,

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como dormir", e condenou as rés ao pagamento de indenização no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Esta Corte tem entendido que a submissão habitual dos trabalhadores à jornada excessiva de labor ocasiona dano existencial, modalidade de danos imaterial e extrapatrimonial em que os empregados sofrem limitações em sua vida pessoal por força de conduta ilícita praticada pelo empregador, exatamente como na hipótese dos autos, importando em confisco irreversível de tempo que poderia legitimamente destinar-se a descanso, convívio familiar, lazer, estudo, reciclagem profissional e tantas outras atividades, para não falar em recomposição de suas forças físicas e mentais, naturalmente desgastadas por sua prestação de trabalho. Portanto, o ato ilícito praticado pela reclamada acarreta dano moralin re ipsa, que dispensa comprovação da existência e da extensão, sendo presumível em razão do fato danoso. Agravo de instrumento desprovido.” (Processo: AIRR - 1793-56.2013.5.09.0029 Data de Julgamento: 09/10/2018, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 11/10/2018.)

“DANO EXISTENCIAL. JORNADA EXCESSIVA. DANO IN RE IPSA. O dano existencial é espécie do gênero dano imaterial cujo enfoque está em perquirir as lesões existenciais, ou seja, aquelas voltadas ao projeto de vida (autorrealização - metas pessoais, desejos, objetivos etc) e de relações interpessoais do indivíduo. Na seara juslaboral, o dano existencial, também conhecido como dano à existência do trabalhador, visa examinar se a conduta patronal se faz excessiva ou ilícita a ponto de imputar ao trabalhador prejuízos de monta no que toca o descanso e convívio social e familiar. Nesta esteira, esta Corte tem entendido que a imposição ao empregado de jornada excessiva ocasiona dano existencial, pois compromete o convívio familiar e social, violando, entre outros, o direito social ao lazer, previsto constitucionalmente (art. 6º, caput). Na hipótese dos autos, extrai-se do acórdão recorrido que, além de não usufruir regularmente dos intervalos intrajornada e interjornada, o reclamante laborava em extensa jornada, havendo ocasiões em que laborou 80 horas extras no mês e até 100 horas extras no mês. Assim, comprovada a jornada exaustiva, decorrente da conduta ilícita praticada pela reclamada, que não observou as regras de limitação da jornada de trabalho, resta patente a existência de dano imaterial

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in re ipsa, presumível em razão do fato danoso. Precedentes da Turma. Recurso de revista não conhecido.” (Processo: RR - 11307-26.2015.5.03.0095 Data de Julgamento: 19/09/2018, Relatora Ministra: Maria Helena Mallmann, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/09/2018.)

“RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. DANOS MORAIS. JORNADA EXTENUANTE. DANO EXISTENCIAL. Conforme escorço fático delimitado pelo Regional, o reclamante cumpria regime de trinta dias de trabalho por quinze dias de descanso (30x15), com jornada superior a doze horas, sem o gozo de intervalo intrajornada e sem respeito aos domingos e feriados. Em razão do exposto, somado ao não cumprimento das formalidades legais, a Corte considerou inválido o acordo de compensação entabulado mediante negociação coletiva, deferindo as horas extras pretendidas, bem como as dobras legais. Contudo, indeferiu a indenização por danos morais, sob o fundamento de que o mesmo fato não poderia ensejar reparação de ordem moral e material, esta última já deferida. No entanto, essa Corte tem reconhecido que a submissão do empregado, por meio de conduta ilícita do empregador, ao excesso de jornada extraordinária, para muito além do tempo suplementar autorizado na Constituição Federal e na CLT, quando cumprido de forma habitual e por determinado período, pode tipificar o dano existencial (modalidade de dano imaterial e extrapatrimonial), por representar prejuízo ao tempo que todo indivíduo livre detém para usufruir de suas atividades pessoais, familiares e sociais, ademais da recomposição de suas forças físicas e mentais. Nesse contexto, diante do quadro fático delimitado pelo Regional - ao decidir que o reclamante ativou-se em jornada extenuante, submetido a regime de trinta dias de trabalho por quinze dias de descanso, sem a concessão de intervalo intrajornada, com trabalho aos domingos e feriados - resulta evidenciado que o excesso comprovadamente havido in casu dispensa demonstração dos prejuízos advindos ao descanso, lazer, convívio familiar e recomposição física e mental do reclamante. Assim, diversamente do entendimento da Corte a quo, verifica-se que foram preenchidos todos os requisitos caracterizadores da responsabilidade civil, previstos no art. 186 do Código Civil, porquanto configurado o dano existencial. Recurso de revista

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conhecido e provido.” (Processo: ARR - 1262-47.2010.5.20.0003 Data de Julgamento: 26/04/2017, Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 02/03/2018.)

In casu, o Regional consignou que o reclamante laborou

por oito anos, dirigindo veículos com cargas tóxicas, em jornadas de 12 horas, 20 dias por mês, estando evidenciado o dano existencial.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso de revista.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Sexta Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista quanto ao tema “dano existencial – excesso de jornada”, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, negar-lhe provimento.

Brasília, 6 de outubro de 2020.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

AUGUSTO CÉSAR LEITE DE CARVALHO

Ministro Relator

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