ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO MAL NA PREVISÃO DE TEMPERATURA, NO PERÍODO DE 15 A 17 DE MAIO DE 1998, NAS CIDADES DE BAURU E BOTUCATU/SP.
José Carlos Figueiredo1 Rosmeri Porfirio da Rocha2,
José Scolar3,
Instituto de Pesquisas Meteorológicas - IPMet/UNESP/Bauru
ABSTRACT
Hourly surfaces temperatures predicted by a limited area model (LAM) are compared with the observations temperatures at two surface stations in São Paulo State (Bauru e Botucatu) during the 15-17 May 1998 anticyclone event. This polar anticyclone move to São Paulo State causing minimum temperature on 17 May 1998. The results show the hourly evolution of predicted by the LAM are in good agreement with observed temperature at stations associated to anticyclone passage. However for the maxima temperatures predicted by the LAM tends to understimate the observed values.
1.0 INTRODUÇÃO
A previsão da temperatura do ar é de extrema importância para a programação de atividades operacionais principalmente na agricultura. O efeito da temperatura em uma planta pode ser destruidor, como por exemplo o congelamento em folhas de café, que segundo FERRAZ (1968) ocorre entre -1 e -4°C. Por outro lado doenças no feijão como antracnose não se propagam em temperaturas acima de 27°C. A temperatura ideal para o seu desenvolvimento situa-se entre 17-18°C, sendo que abaixo de 13°C, o ataque da doença à cultura praticamente não existe. (VIEIRA, 94)
Nos últimos cinco anos muitos estudos têm discutido o comportamento da temperatura no globo. O aquecimento da temperatura média foi observado no sul da África (UNGANAI, 97). A diminuição do albedo e o conseqüente aumento da temperatura em superfície nos últimos 46 anos, ocasionando uma antecipação na primavera no norte da Europa (Estônia), foram analisados recentemente por TOOMING, 97.
Este trabalho compara as temperaturas do ar observadas nas estações meteorológicas de Bauru e Botucatu e a previsão de tempertura pelo modelo de área limitada (MAL), em operação no IPMet desde 1995, para o período de 15 a 17 de maio de 1998. Nesse período observou-se um declínio acentuado na temperatura no dia 17 de maio devido a penetração de um anticiclone polar no Estado de São Paulo.
2.0 MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados os dados observados das estações meteorológicas automática ( a 1 metro da superfície) e convencional ( a 1,5 metros) em Bauru/SP (Lat. 22°21’30’’S, Lon. 49°01’37’’W, Alt. 630m) e Botucatu/SP (Lat. 22°55’08’’S, Lon. 48°27’00’’W), respectivamente. A temperatura do ar obtida do MAL (ROCHA,1992) é aquela do primeiro nível sigma e nos pontos de grade mais próximos das estações meteorológicas de Bauru e Botucatu. A temperatura no primeiro nível sigma é corrigida, para representar a temperatura do ar, em função da diferença entre a altitude real da estação e a altitude nos pontos de grade do modelo (GIORGI E MARINUCCI, 91).
3.0 SITUAÇÃO SINÓTICA
1
Mestrando na área de energia na agricultura, FCA-UNESP/Botucatu
2
Doutoranda em meteorologia, INPE
3
O período entre 14 e 17 de maio de 1998 foi caracterizado pela passagem de uma frente fria por São Paulo seguida pelo deslocamento de um anticiclone para a região, como mostram as figs. 1-4.
Uma massa de ar frio com centro de 1032 hPa pode ser vista na análise sinótica do dia 14/05/92, fig.1, entre 30-40oS na Argentina. Nessa mesma fig. observa-se um sistema frontal com forte gradiente de pressão atuando desde o sul do Paraguai até o norte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No dia 15, fig. 2, a massa de ar polar se expande, ainda com 1032 hPa, enquanto o sistema frontal ondula no oeste do Paraná e São Paulo, associado ao ciclone no Oceano Atlântico, nas proximidades do litoral de Santa Catarina. No dia seguinte o anticiclone deslocou-se para norte e situa-se no norte da Argentina, fig. 3, e o sistema frontal atua agora no sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro. A fig. 4 mostra que na manhã do dia 17/05 o anticiclone predomina em quase todo o Estado de São Paulo, enquanto o sistema frontal encontra-se no Oceano Atlântico na altura do litoral do Rio de Janeiro.
4.0 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nas figs. 5 e 8 tem-se a evolução horária da temperatura do ar prevista e observada para o dia 15/05/98. Essas figuras mostram que no período da madrugada e manhã as temperaturas previstas são muito próximas as observadas, sendo que a partir das 9 horas da manhã, em ambas as localidades, as temperaturas previstas pelo MAL são menores do que as observadas. Para Botucatu, fig. 8, a partir das 17 horas o MAL volta a prever temperaturas próximas às observadas.
No dia 16/05/98, o sistema frontal está passando por Botucatu, e já havia passado por Bauru, e nas figs. 6 e 9 observa-se que as duas curvas estão bem próximas até a metade do dia (12 horas), mas a partir desse horário as observações mostram o aumento de temperatura em Botucatu que não é muito bem reproduzido pelo MAL, enquanto em Bauru o aumento de temperatura foi menor e as temperaturas previstas e observadas são bastante próximas até as 21 horas. Em Bauru a temperatura simulada volta a se distanciar da prevista a partir das 21 horas, fig. 6.
No dia 17/05 a penetração do anticiclone polar faz declinar a temperatura tanto em Bauru como em Botucatu, como pode ser observado comparando as figs. 7 e 10 com as anteriores, o que é bem reproduzido pelo MAL, principalmente em Botucatu. Como nos dias anteriores observa-se que a maior discrepância entre as temperaturas previstas e observadas ocorrem durante o período diurno.
5.0 CONCLUSÃO
Para os três dias analisados, 15-17/05/98, destaca-se que no dia da pentetração do anticiclone, tanto em Bauru como em Botucatu, o MAL reproduziu bastante bem a queda acentuada de temperatura mostrada nas observações, sendo que para Botucatu a previsão foi ainda mais próxima da observação do que em Bauru.
As temperaturas, previstas e observadas, mostradas nas figs. 5-10, evidenciam que o MAL tende a subestimar a temperatura quase que sistematicamente após o horário de ocorrência da temperatura mínima, distanciando-se mais próximo ao horário de ocorrência da temperatura máxima. Na madrugada e início do dia o MAL tende a reproduzir a temperatura observada.
O melhor resultado na previsão da temperatura na madrugada na cidade de Botucatu talvez possa ser atribuído à correção da temperatura em função da altitude da estação e do ponto de grade do modelo. Como trabalho futuro pretende-se estudar as várias metodologias para obtenção da temperatura do ar a partir da temperatura no primeiro nível sigma do modelo.
BIBLIOGRAFIA
FERRAZ, E.C., 1968: Estudo Sobre o momento em que a geada danifica as folhas do cafeeiro (Coffea Arabica L. Var. Mundo-Novo). Tese de doutorado - Escola Superior de
tura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 68 p.
GIORGI, A. E MARINUCCI, M.R., 1991: Validation of a regional atmospheric model over Europe: Sensitivity of wintertime and summertime simulations to selected physics parametrizations and lower boundary conditions. Q.J.R. Meteorol. Soc. V 117, pp. 1171-1206.
ROCHA, R.P., 1992: Simulação numérica de sistema convectivo de mesoescala na América do Sul. Dissertação de Mestrado. Departamento de Ciências Atmosféricas, USP.
TOOMING, H., 1996: Changes in Surface Albedo and air Temperature at Tartu, Estonia. Tellus, 48A, pp. 722-726.
UNGANAI, L.S., 1997: Surface Temperature variation over Zimbabwe between 1897 and 1993. Theor. Appl. Climatol. 56, pp. 89-101.
VIEIRA, C., 1994: Principais Doenças do Feijoeiro no Inverno. Inf. Agropec., v 17, n. 178, pp. 43-46.
fig. 1 fig. 2
Evolução da temperatura do ar, medida e simulada, na cidade de Bauru no dia 15/05/98 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 20.0 22.0 24.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 HORA TEMPERATURA EM CELSIUS T med/15/05 Simulação fig. 5
Evolução da temperatura do ar, medida e simulada, na cidade de Bauru no dia 16/05/98 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 20.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 HORA TEMPERATURA EM CELSIUS T med/16/05 Simulação fig. 6
Evolução da temperatura do ar, medida e simulada, na cidade de Bauru no dia 17/05/98 5.0 7.0 9.0 11.0 13.0 15.0 17.0 19.0 21.0 23.0 25.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 HORA TEMPERATURA EM CELSIUS T med/17/05 Simulação fig. 7
Evolução da temperatura do ar, medida e simulada, na cidade de Botucatu no dia 15/05/98 10.0 11.0 12.0 13.0 14.0 15.0 16.0 17.0 18.0 19.0 20.0 21.0 22.0 23.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 HORA TEMPERATURA (°C) Tmed 15/05 Simulação fig. 8
Evolução da temperatura do ar, medida e simulada, na cidade de Botucatu no dia 16/05/98 10.0 11.0 12.0 13.0 14.0 15.0 16.0 17.0 18.0 19.0 20.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 HORA TEMPERATURA (°C) Tmed 16/05 Simulação fig. 9
Evolução da temperatura do ar, medida e simulada, na cidade de Botucatu no dia 17/05/98 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 13.0 14.0 15.0 16.0 17.0 18.0 19.0 20.0 21.0 22.0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 HORA TEMPERATURA (°C) Tmed 17/05 Simulação fig. 10
