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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

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Registro: 2015.0000911479 ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0090174-17.2014.8.26.0050, da Comarca de São Paulo, em que são apelantes JOCIMAR NERES SANTOS e HELDER HENRIQUE CELSO, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de

São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E BORGES PEREIRA.

São Paulo, 1 de dezembro de 2015.

Guilherme de Souza Nucci RELATOR

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Apelação nº 0090174-17.2014.8.26.0050 Comarca: São Paulo

Apelantes: JOCIMAR NERES SANTOS e HELDER HENRIQUE CELSO

Advogada: Juliana Monnerat

VOTO Nº. 11332

Apelação. Receptação. Pleitos almejando absolvição por insuficiência probatória. Impossibilidade. Palavra dos policiais militares com semelhante valor ao de quaisquer outras testemunhas. Condenações mantidas. Reprimendas acertadamente fixadas no acima patamar mínimo legal em razão da reincidência. Regime fechado que se mostra adequado em vista das condições subjetivas dos recorrentes. Pedido objetivando a detração das parcelas cumpridas a título provisório. Ausência de dados nos autos que viabilize o cômputo. Melhor apuração cabe ao magistrado da Vara das Execuções Criminais. Improvido.

Trata-se de recurso de apelação interposto por JOCIMAR NERES SANTOS e HELDER HENRIQUE CELSO, contra sentença de primeiro grau (fls. 157/161), prolatada em 11 de dezembro de 2014, pela MM. Juíza de Direito, Dra. Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa, da 5ª Vara Criminal da Comarca da Capital, que os condenou às penas de 1 ano e 6 meses de reclusão, em regime inicial fechado, e pagamento de 15 dias-multa, no piso legal, declarando-os como incursos no art. 180, caput, do Código Penal.

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Irresignados, interpuseram recurso de apelação objetivando, em resumo, a absolvição por ausência de provas, inclusive no tocante ao dolo e, subsidiariamente, o abrandamento do regime inicial.

O Ministério Público, em suas contrarrazões, bateu-se pelo acerto do decisum, salientando a inconteste ciência pelos apelantes quanto à origem espúria do bem.

Em seu parecer, a douta Procuradoria Geral de Justiça endossou as contrarrazões ministeriais, opinando pelo improvimento.

É o relatório.

Devidamente processado, o apelo defensivo não comporta provimento, merecendo subsistir a r. decisão atacada.

Segundo descreve a denúncia, no dia 2 de outubro de 2014, na Rua Chantal, policiais militares surpreenderam os apelantes na condução do veículo Fiat Uno, placas KBC7707, o qual sabiam ser produto de furto perpetrado, instantes antes, em face da vítima Antonio Joaquim do Nascimento.

A materialidade e a autoria restaram amplamente demonstradas, no decorrer da instrução processual, conforme provas coligidas, todas em perfeita consonância, restando de rigor a manutenção do édito condenatório.

A vítima Antônio descreveu a dinâmica do furto de seu automóvel, o qual deixou estacionado em via

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pública, porém não teve condições de reconhecer os recorrentes como autores da subtração, posto não ter presenciado a ação.

O policial Deivison narrou que, atendendo à denúncia de furto noticiada via rádio, diligenciou ao local informado e avistou o veículo subtraído, na ocasião, conduzido pelos apelantes. Diante disso, procedeu a abordagem dos recorrentes e deu-lhes voz de prisão. Por fim, relatou que, questionados, os apelantes disseram ter furtado o veículo cerca de uma hora antes, cuja partida se deu mediante a utilização de chave mixa.

Em semelhante sentido seguiu o depoimento do policial Rodrigo, o qual apenas acrescentou que Helder conduzia o automóvel e Jocimar era passageiro.

O apelante Helder informou, em seu interrogatório, ter emprestado o veículo de Júnior, desprovido de documentos, desconhecendo a procedência espúria, ocasião em que foi abordado e detido pelos policiais. Por fim, esclareceu que estava em companhia de Jocimar, na ocasião do empréstimo do veículo, visto que ambos teriam, anteriormente, realizado a manutenção de um portão.

Jocimar, ao seu turno, disse não ter visto o momento em que Helder pegou o carro emprestado de Júnior, o qual, inclusive, desconhece.

O auto de exibição e apreensão (fl. 18), auto de entrega (fl. 19), boletim de ocorrência da subtração (fls.13/14) e laudo pericial (fls. 114/116) são suficientes à materialidade delitiva, certificando as condições do automóvel e

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da chave falsa apreendidas.

Quanto aos depoimentos dos policiais militares, devem ser analisados sob o mesmo prisma de qualquer outra testemunha, não tendo seu valor diminuído pelo fato de serem servidores públicos. A esse respeito, valioso mencionar decisão do Superior Tribunal de Justiça, in litteris:

Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de policiais responsáveis pela prisão em flagrante do acusado constitui meio de prova idôneo a embasar o édito

condenatório, mormente quando

corroborado em Juízo, no âmbito do

devido processo legal. (HC 166979/SP. Min.

Rel. Jorge Mussi. 5ª Turma. DJe 15.08.2012)

Ademais, sendo agentes públicos, gozam de presunção de legitimidade, não se podendo, em princípio, considerá-los inidôneos ou suspeitos para prestar depoimentos, exclusivamente por sua condição funcional, na ausência de quaisquer elementos concretos aptos a eivar sua credibilidade, os quais, in casu, inexistem.

Por outro lado, as variantes apresentadas pelos apelantes demonstram-se, além de incongruentes entre si, patentemente desamparadas frente às demais provas coligidas, sem qualquer respaldo capaz de confirmar a veracidade de suas alegações.

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veículo na presença de Jocimar, este informa, de maneira divergente, não ter visto o empréstimo, tampouco conhecer o suposto proprietário do automóvel.

Em verdade, os apelantes sequer lograram êxito em comprovar, ainda que minimamente, a existência do suposto sujeito responsável pelo empréstimo do veículo.

Caso fosse crível, os recorrentes declinariam, ao menos, o nome completo, endereço, telefone ou demais contatos de Júnior, com o fito de que fosse localizado e ouvido, como suporte às variantes sustentadas.

Nesse passo, é de se estranhar, ter o recorrente Helder aceitado retirar e conduzir o automóvel, desprovido das chaves originais e da documentação de porte obrigatório ainda mais quando pertencente à terceiro , fatores que, de per si, despertariam desconfiança razoável quanto à procedência do bem.

Não fosse suficiente, imperioso voltar os olhos ao curtíssimo lapso temporal entre a subtração e a localização da res furtiva sob a posse dos apelantes, corroborando a disparidade de suas versões, restando inequívoca a ciência acerca da espúria procedência do referido veículo e, portanto, afastando qualquer hipótese de reconhecimento de modalidade culposa.

Em síntese, do exposto, não resta dúvida em relação ao caráter doloso da conduta dos recorrentes, cujas provas são suficientes à manutenção do édito condenatório.

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De tal sorte, amplamente demonstradas autoria e materialidade do delito, de rigor a manutenção da condenação em face dos apelantes como incursos no art. 180,

caput, do Código Penal, cujas reprimendas aplicadas, dispensam

reparos.

Quanto à fixação da pena-base, temos defendido a adoção de um sistema de pesos, contando com pontos, para o fim de nortear o juiz na escolha do montante cabível, resguardando, assim, a proporcionalidade e a individualização da pena.

As circunstâncias judiciais, previstas no art. 59 do Código Penal, são compostas por oito fatores, sendo o primeiro a culpabilidade, representando o conjunto dos demais. Portanto, o juízo de censura formado em relação ao fato e seu autor (culpabilidade como fator de aplicação da pena) compõe-se dos compõe-seguintes elementos: antecedentes, conduta social, personalidade, motivos, circunstâncias e consequências do crime, além do comportamento da vítima.

Numa perspectiva geral, se os sete elementos inseridos no quadro da culpabilidade forem favoráveis, a censurabilidade será mínima, restando a pena-base no patamar básico; se desfavoráveis, a censurabilidade, obviamente, será extrema, devendo-se partir do máximo previsto pelo tipo penal. Dificilmente, todos os fatores do art. 59 do Código Penal são, ao mesmo tempo, negativos.

Importante destacar constituírem a personalidade, os antecedentes e os motivos como fatores

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preponderantes, conforme previsão formulada pelo art. 67 do Código Penal (nessa norma, menciona-se a reincidência, que não deixa de ser antecedente criminal). A eles, então, atribui-se o peso 2.

As demais circunstâncias judiciais são menos relevantes, também conhecidos por componentes rasos, dividindo-se em dois grupos: a) componentes pessoais, ligados ao agente ou à vítima; b) componentes fáticos, vinculados ao crime. O primeiro grupo diz respeito à conduta social do agente e ao comportamento da vítima, ao passo que o segundo, às circunstâncias do delito e às consequências da infração penal, atribuindo-se a esses quatro elementos o peso 1.

Portanto, a projeção dos pesos atribuídos aos elementos do artigo 59, em escala de pontuação, forneceria o seguinte: personalidade = 2; antecedentes = 2; motivos = 2; conduta social = 1; circunstâncias do crime = 1; consequências do crime = 1; comportamento da vítima = 1. O total dos pontos é 10.

Firmados os critérios, torna-se fundamental que o magistrado promova a verificação da existência fática de cada elemento, avaliando as provas constantes dos autos, para, na sequência, promover o confronto entre os fatores detectados. Dessa comparação, surgirá a maior ou menor culpabilidade, ou seja, a maior ou menor censura ao crime e seu autor.

Vale ressaltar, a individualização da pena é um processo discricionário, juridicamente vinculado aos

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motivos enumerados pelo julgador. Como regra, portanto, um elemento com peso 2 negativo pode ser compensado por um elemento com peso 2 positivo. Mas tudo depende do caso concreto e da suficiente motivação. Noutro prisma, a personalidade, com peso 2 negativo, pode ser compensada por dois outros elementos, com peso 1 positivo. Essa pode ser a regra, embora somente a situação concreta, espelhada nas provas dos autos, permita ao magistrado avaliar se não cabe uma exceção.1

Contudo, in casu, a magistrada a quo optou por fixação distinta, majorando de forma única, na primeira fase, em 1/2, porquanto considerou como maus antecedentes todas as condenações criminais existentes em desfavor dos recorrentes (certidões de fls. 11/13 e 15 condenações de Jocimar por roubos ; fls. 30/32, 34 e 35 condenações de Helder por furto, roubo e receptação).

Em verdade, ante a presença de múltiplas condenações, melhor alternativa à magistrada sentenciante seria reservar uma para fins de reincidência e as outras, remanescentes, considerar maus antecedentes, provendo exasperação em fases distintas de aplicação da pena.

Tal fixação, todavia, não comporta adequação ao critério aqui mencionado, posto que, ante a ausência de recurso ministerial, resta inviável o estabelecimento

1 NUCCI, Guilherme de Souza. obra citada, p. 412.

_______________________. Manual de Direito Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 6ª edição, página 443

_______________________. Individualização da Pena. São Paulo: Revista dos Tribunais, 4ª edição, página 185.

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das reprimendas em patamares superiores aos estabelecidos, em prestígio ao non reformatio in pejus.

Por fim, a quantidade de pena estabelecida, aliada às condições pessoais negativas dos apelantes (sujeitos reincidentes, que ostentam extensas folhas de antecedentes), permite a manutenção do regime mais severo, suficiente à reprovação do delito e, de igual modo, ilide a substituição por restritivas de direitos, consoante bem exposto pela magistrada sentenciante.

Ademais, sobre as almejadas detrações, insta consignar que, em relação à atual redação do § 2º, do art. 387, do Código de Processo Penal, decorrente da Lei nº. 12.736/2012, somente é viável ao magistrado do conhecimento o desconto do cômputo da reprimenda já cumprida, a título provisório, desde que se tenha nos autos elementos para tanto.

Todavia, in concreto, a situação dos recorrentes perante as reprimendas em execução, é obscura, porquanto a unificação com as reprimendas anteriores impede a análise isolada do cumprimento provisório das penas aqui reclamadas.

Frise-se ser impossível distinguir, com clareza, através dos parcos elementos contidos nos autos, se o

quantum das penas já foi cumprido provisoriamente, sem que se

confunda com o cumprimento efetivo das reprimendas definitivas restantes, por cada qual dos apelantes.

Ante o exposto, nego provimento ao apelo defensivo, mantendo-se, in totum, a r. sentença atacada,

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por seus próprios e jurídicos fundamentos.

GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator

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