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CAPÍTULO 3: AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS

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Academic year: 2021

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CAPÍTULO 3:

AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS

I. Interpretação das Cartas

Ladd1 nos informa que o método interpretativo futurista extremo, próprio do dispensacionalismo, entende as sete cartas como sete épocas sucessivas da história da igreja.

De tão frágil, Hendriksen2 chega a afirmar que tal idéia dispensa refutação séria, chamando-a de “quase humorística – se não deplorável – exegese”. Com efeito, a tomar esse ponto de vista, teríamos que concluir, sem perder muito tempo, que:

i. A igreja arrefecida de Éfeso do final do primeiro século representaria a igreja apostólica. Grande equívoco!

ii. Mais ainda. A igreja irrepreensível de Esmirna representaria a igreja primitiva pós-apostólica, espiritualmente superior, portanto, à igreja dos apóstolos. Impensável.

iii. Outra séria dificuldade: a igreja da reforma seria a igreja morta de Sardes, a que, muito provavelmente, não recebeu qualquer elogio do Senhor Jesus.

Nada obstante, apenas uma palavra resolveria essa questão: “Não há qualquer evidência interna para tal interpretação, há apenas sete cartas para sete igrejas históricas” 3.

Se assim o é, as sete cartas não referem-se a períodos específicos, distintos e sucessivos. Antes, apresentam particularidades de sete igrejas locais do final primeiro século que se repetem diversas vezes ao longo da história da

1 Op. Cit. p. 12 2 Op. Cit. p. 88 3 Ladd, Cit.

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cristandade, constituindo-se, por isso, fonte inequívoca e inesgotável de necessária reflexão em todos os tempos.

II. A Carta a Éfeso Apocalipse 2:1-7 1

Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: 2

Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos;

3

e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste.

4

Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. 5

Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres.

6

Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço.

7

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.

Éfeso, localizada na costa oeste da Ásia Menor, no mar Egeu, era próspera, exuberante e famosa por seu templo de Diana. Era cidade portuária e de fácil acesso por terra, o que lhe outorgou a possibilidade de ser o centro comercial da Ásia conhecida também por práticas supersticiosas e artes mágicas (At 19:19).

Paulo visitou Éfeso na segunda viagem missionária, cerca de 52 AD, em At 18:19-21. Lá deixou Priscila e Áquila (18:19). Lá também conheceu Apolo, pregador fervoroso (18:25).

Na terceira viagem, Paulo passou três anos em Éfeso (20:31); fez ali um trabalho próspero. “A loja de venda de miniaturas de prata do templo de Diana foi queimada em 262 AD, e jamais foi reconstruída” 4.

Quando ia a Jerusalém, ao fim da terceira viagem, Paulo se despediu dos presbíteros de Éfeso de modo emocionante (At 20:17-38). Isso se deu em 57 AD.

4

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Durante a primeira prisão em Roma. Paulo enviou sua carta aos efésios (60-63 AD). Após essa prisão, Paulo deve ter feito algumas visitas a Éfeso, onde deixou Timóteo (I Tm 1:3).

“Poucos anos depois, possivelmente logo após o início da guerra judaica, digamos no ano 66 AD, encontramos o Apóstolo João em Éfeso (...) A tradição relata que, bem velho e fraco demais para andar, João era carregado para a igreja onde admoestava os irmãos: ‘filhinhos, amai-vos uns aos outros’” 5.

Passados quarenta anos da implantação da igreja, a nova geração havia perdido o primeiro amor, aquele entusiasmo, ardor e devoção a Cristo e aos irmãos, que caracterizava seus pais. Ver Jz 2:7,10,11.

A igreja é louvada pelo seu trabalho e intolerância para com o erro religioso. Era leal à doutrina. Quanto a isso, é aprovada (At 20:28,29)! A igreja não deve extinguir o Espírito (I Ts 5:19), mas era preciso provar os espíritos (I Ts 5:10; I Jo 4:1; I Co 14).

“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor”. O trabalho permanecia, mas o amor diminuiu. E isto é cair: “Lembra-te, pois, de onde caíste”.

Quanto à ameaça (2:5b), foi cumprida. Hoje não há igreja em Éfeso. Da cidade só restam ruínas. Quanto à importância do amor, ver Jo 13:34; I Co 13:1-3. Igrejas que perdem o amor são ameaçadas de extinção.

Os nicolaítas, que tinham, com razão, suas obras odiadas, talvez representem o grupo geral dos heréticos6 (ver 2:14,20), “as quais eu também odeio”.

5

Cit. p. 90

6

“Algumas pessoas têm tentado relacionar os nicolaítas com Nicolau de Antioquia (At 6:5), mas não existe evidência real para fazê-lo. Há boas razões para se considerar uma relação entre os nicolaítas e os balaamitas (2:14-16) e Jezabel (2:20). Se assim é, comida sacrificada aos ídolos e imoralidade parecem estar incluídas (At 15). Comentário Bíblico Broadman: Novo Testamento. Editor Geral: Clifton J. Allen. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira. 2ª. Ed. Rio de Janeiro, Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987. Vol 12. p. 311. H. E. Alexander

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Recuperar o amor não implica em relaxamento doutrinário. A igreja tem demonstrado, historicamente, enormes dificuldades em conciliar o amor à verdade e o amor aos homens. Quando amou a ortodoxia, cometeu crueldades em nome desse amor. Por outro lado, em nome de um humanismo inócuo, tem-se desprezado a verdade. Os efésios estavam sendo admoestados a permanecer no ódio ao erro dos nicolaítas, sem deixar de amá-los. Que a verdade não torne sisudos. Que o amor não torne apáticos.

A exortação do verso 7 é geral, não apenas à igreja para a qual a carta foi originalmente escrita.

A promessa ao vencedor – aquele que luta contra o pecado, o diabo e o mundo, perseverando até o fim – é que lhe seria dado a comer da árvore da vida (Gn 3:22; Ap 22:2,14). “Esta é a linguagem bíblica para expressar a promessa de vida eterna no Reino de Deus, quando este estiver estabelecido (...) O vencedor é aquele que permanece incondicionalmente leal ao seu Senhor, mesmo se isto lhe custar a vida” 7 (Mc 8:4; Mt 10:38).

III. Carta a Esmirna Apocalipse 2:8-11 8

Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: 9

Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém são sinagoga de Satanás. 10

Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. O que vencer, de modo algum sofrerá o dado da segunda morte, e dar-te-ei a coroa da vida.

11

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que vencer, de modo algum sofrerá o dado da segunda morte.

Esmirna ficava a uns 60 km ao norte de Éfeso, e disputava com esta a honra de ser a principal cidade da Ásia. Era conhecida por sua lealdade a Roma.

entende os nicolaítas sob outra perspectiva: “A palavra ‘nicolaíta’ é composta de duas palavras gregas que significam ‘dominar’ e ‘povo’. Provavelmente, temos aí a menção do clericalismo, a dominação sobre o rebanho de Deus com suas conseqüências fatais (...)”. ALEXANDER, H. E. Apocalipse. São Paulo: Ação Bíblica do Brasil, 1987. p. 48

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Desde 195 aC já tinha erigido um templo à deusa Roma. Em 26 aC conquistou a honra de construir um templo ao imperador Tibério 8.

Provavelmente a igreja foi fundada durante as atividades de Paulo em Éfeso, na terceira viagem missionária, em cerca de 55 AD (Ver At 19:10).

Alguns anos mais tarde (c. 155 AD), em Esmirna, judeus e pagãos se reuniram para pedir a morte de Policarpo, bispo da igreja, que havia sido discípulo de João.

A auto-designação de Cristo se encontra em harmonia com a mensagem da carta: “Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu”. Esta igreja perseguida é animada com a certeza de que o Senhor venceu a morte. Às vezes, Cristo livra da iminência da morte; noutras vezes, livra na iminência da morte; noutras ainda, encoraja para a morte, livrando do medo da morte.

“Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza”. Muitas vezes a perseguição aos cristãos levavam ao confisco dos bens (Hb 10:34). Ser cristão era um verdadeiro sacrifício. Mas os não deveriam sentir piedade de si mesmos, porque, na verdade, eram ricos (Mt 6:20; 19:21; Lc 12:21; I Tm 6:18).

“A blasfêmia dos que se dizem judeus, e não são” eram acusações caluniosas da parte dos judeus (At 13:50; 14:2,5,19; 17:5-7; 24:1; I Ts 2:14-16). Esses tais eram falsos judeus e ainda que se dissessem “sinagoga de Deus”, eram, em verdade, “sinagoga de Satanás”. Os verdadeiros judeus são o povo do Messias (Rm 2:28-29; Fp 3:3). Os judeus de raça não são e não podem ser considerados o povo de Deus. “Sabeis, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão” (Gl 3:7).

“Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados (...)”. Por trás da perseguição romana e do ódio dos judeus estava o diabo, que os usava como seus instrumentos. Mas enquanto o diabo tenta, Deus prova

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Seus filhos, como também os encoraja, comunicando-lhes que era curto o tempo da provação: “tereis uma tribulação de dez dias”. O aviso quanto à brevidade da provação é encorajamento à perseverança (ver Is 26:20; 54:8; Mt 24:22; I Co 4:17; I Pe 1:6).

“Sê fiel até a morte” significa sê fiel ainda que sua lealdade lhe custe a vida. Aos fiéis é prometida “a coroa da vida”, a vida de glória no céu, e o livramento da segunda morte - da morte eterna (20:6,14; 21:18. Ver Mt 10:28).

IV. Carta a Pérgamo Apocalipse 2:12-17 12

Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois gumes:

13

Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o meu nome e não negaste a minha fé, mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.

14

Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, introduzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem.

15

Assim tens também alguns que de igual modo seguem a doutrina dos nicolaítas.

16

Arrepende-te, pois; ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a espada da minha boca.

17

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.

Pérgamo era uma cidade próspera comercialmente e importante política e religiosamente. Nela havia um templo dedicado a Zeus, entre os muitos altares pagãos. Ali havia também o culto a Esculápio, o Deus-serpente da cura, com seu famoso colégio de sacerdotes-médicos. “No ano 29 aC foi dedicado um templo ao divino Augusto e à deusa Roma, e desta maneira Pérgamo se tornou o principal lugar de adoração ao imperador na Ásia” 9.

“Aquele que tem a espada aguda de dois fios” (ver 1:16) já lembra-nos que Cristo tem uma palavra séria de advertência a uma igreja transigente para com

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as atitudes pagãs e uma palavra de julgamento contra os que seguem a doutrina de Balaão (v.14), e contra os nicolaítas (v.15,16).

O Senhor tem a favor desta igreja que “reténs o meu nome, e não negaste a minha fé”. O “trono de Satanás” talvez se refira ao culto a Esculápio, representado por uma serpente, o que lembraria Satanás aos cristãos. Mas o mais provável é que a expressão se refira ao culto ao Imperador, que tinha Pérgamo como centro. Ali os cristãos eram coagidos a dizerem “César é Senhor”. Antipas morreu por recusar-se a dizê-lo. Os cristãos de Pérgamo são elogiados por haverem permanecido firmes na sua confissão, a despeito das pressões exteriores.

Os que seguem a “doutrina de Balaão” são os que promovem a idolatria e a imoralidade. A igreja, embora tenha mantido sua fé em meio à perseguição, relaxou na disciplina dos que haviam participado dos festivais pagãos (ver Nm 22:24; 25:1-3; 31:16). Toda a igreja é chamada ao arrependimento (v.16) por tolerar o erro de alguns. Ela deveria ter disciplinado os membros faltosos. Exatamente o que Paulo exigiu dos coríntios: “(...) Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa? Lançai fora o velho fermento (...)” (I Co 5:6, 7).

Quanto aos “sacrifícios de idolatria” (ou comida sacrificada aos ídolos), Paulo tratou extensamente sobre isto escrevendo aos coríntios. A carne comprada no mercado não era impura em si mesma (I Co 8:7-13). Por outro lado, era vedado aos cristãos a participação nos festivais pagãos (I Co 10:21). A prostituição referida no verso 14 pode ser espiritual (Is 1:21; Ez 23:37) ou incluir também prostituição física (ver At 15:20).

A recusa em participar destas festas significava ostracismo social e outras perdas, como a do emprego. O que fazia alguns crentes transigirem com o paganismo.

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Caso a igreja não tome as providências, Cristo mesmo o fará: “Quando não, em breve virei a ti”. Cristo iria destruir aqueles que persistissem em suas práticas mundanas.

“Ao que vencer”, por outro lado, será alimentado por “maná escondido”. Os que resistiram à tentação e não comeram a comida dos sacrifícios seriam alimentados pelo próprio Senhor (Jo 6:33,35). Eles comeriam do pão do céu! O “maná” é escondido do mundo, mas dado aos crentes.

Ao que vencer seria dado também “uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito”. “A pedra representa a pessoa que a recebe, tal como em Israel (ver Ex 28:15-21) (...) Agora essa pedra é branca. Isso indica santidade, beleza, glória (Ap 3:4; 6:2) (...) A pedra branca, portanto, indica um ser livre de culpa e purificado de seu pecado, que permanece nesse estado para sempre. O novo nome (...) Expressa o caráter interior real da pessoa (...)” 10. Ver Is 62:6; 65:15.

“Conforme a Escritura, o nome indica o caráter ou posição do portador. Nessa base (...) a pessoa cujo caráter é mudado recebe um novo nome que corresponde a ele. Na glória, nós receberemos uma nova santidade (...) Portanto, receberemos um novo nome” 11.

V. Carta a Tiatira Apocalipse 2:18-29 18

Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes a latão reluzente: 19

Conheço as tuas obras, e o teu amor, e a tua fé, e o teu serviço, e a tua perseverança, e sei que as tuas últimas obras são mais numerosas que as primeiras.

20

Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas a ídolos;

21 e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua prostituição.

22

Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem adultério com ela, se não se arrependerem das obras dela;

10

Hendriksen, Cit, p. 99

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e ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou aquele que esquadrinha os rins e os corações; e darei a cada um de vós segundo as suas obras.

24

Digo-vos, porém, a vós os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conhecem as chamadas profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei;

25

mas o que tendes, retende-o até que eu venha. 26

Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações,

27

e com vara de ferro as regerá, quebrando-as do modo como são quebrados os vasos do oleiro, assim como eu recebi autoridade de meu Pai;

28

também lhe darei a estrela da manhã. 29

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Tiatira era a menos importante das cidades da Ásia. Tinha somente alguma importância comercial por ser um centro de comunicação que ligava viajores a Pérgamo, a capital.

Em Tiatira, o que havia de importante eram as corporações comerciais de “artesanato de lã, de linho, capas, tingimento de panos, artesanato de couro, curtidores, oleiros, etc” 12.

A dificuldade para os cristãos consistia no seguinte: “cada negócio tinha seu deus guardião” 13. Havia necessidade de estar em uma das associações comerciais. Mas participar delas implicava em compromisso de culto com o respectivo deus. O que significava participar de suas festas que sempre terminavam na mais horrenda imoralidade.

Ao cristão a única alternativa coerente seria deixar a associação, perder sua participação na sociedade e suportar as conseqüências de sua decisão. Aqui residia o dilema da igreja em Tiatira.

O Cristo glorificado Se auto-designa para essa igreja como “o Filho de Deus, que tem olhos como chama de fogo e pés como latão reluzente” (ver 1:14,15).

12

Cit. p. 103

13

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No v.19 nosso Senhor reconhece as forças dessa igreja. “É possível que o serviço seja a manifestação do amor e a perseverança da fé” 14.

Todavia, contra essa igreja o Cristo glorificado tem que ela tolera o ensino e a sedução de “Jezabel”. Seu nome é sinônimo de sedução à idolatria e à imoralidade (I Rs 16:31; 18:4,13,19; 19:1,2).

Esta mulher dizia-se profetisa, com revelações especiais da parte de Deus. E a igreja tolerava. Se o Cristo glorificado elogiou Éfeso por não tolerar o erro, certamente reprovaria a tolerância de Pérgamo e Tiatira. O erro de Jezabel é o mesmo dos nicolaítas em Pérgamo: adaptação completa aos costumes pagãos!

Nosso Senhor, todavia, é misericordioso. Ele deu-lhe tempo para que se arrependesse (v.21). Mas ela não quis fazê-lo. Sua penalidade seria:

i) Doença. “Eis que a prostro na cama”.

ii) “em grande tribulação os que com ela adulteram”. iii) Matarei os seus filhos.

A maioria da igreja erra por tolerar Jezabel, mas não se contaminava com seu ensino - “as coisas profundas de Satanás” (v.24), não de Deus (I Co 2:10; Rm 11:33; Ef 3:18). Aos crentes fiéis Cristo não acrescentava outra lista para ser obedecida, mas exorta-os a que permaneçam fiéis (At 15:28,29). Ver o v. 25.

Ao vencedor é prometido:

i) “Autoridade sobre as nações”. Os santos reinarão com Cristo sobre o mundo e o julgarão (I Co 6:2). Ver Sl 2:8,9; Dn 7:18,22,27.

ii) “Dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã”. O próprio Cristo será dado ao vencedor (Ap 22:16).

VI. Carta a Sardes Apocalipse 3:1-6

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1

Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus, e as estrelas: Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e estás morto.

2

Sê vigilante, e confirma o restante, que estava para morrer; porque não tenho achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus.

3

Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. Pois se não vigiares, virei como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei.

4

Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram as suas vestes e comigo andarão vestidas de branco, porquanto são dignas.

5

O que vencer será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.

6

Quem tem ouvidos, ouça o que o espírito diz às igrejas.

Sardes estava situada sobre um monte inacessível, o que tornava seu povo orgulhoso de sua segurança. Todavia, tal segurança foi duas vezes envergonhada (em 549 e em 218 aC). “Um ponto despercebido, desguardado e fraco, uma rachadura oblíqua na encosta de pedra, uma única chance em mil de um ataque noturno realizado por hábeis escaladores, era tudo o que foi preciso para causar uma ruptura na arrogância dos presunçosos cidadãos dessa orgulhosa capital” 15.

“O povo da cidade era conhecido por sua maneira de viver luxuosa e dissoluta (...) O problema principal é uma profunda apatia espiritual, resultado talvez da despreocupação e do amor ao luxo que caracterizava a sociedade secular” 16.

O Cristo glorificado Se apresenta como “Aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas”. Ele é o único que pode dar vida a uma igreja morta através do Espírito Santo (1:4) e dos ministros (1:20).

“Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto”. Sardes gozava de uma reputação imerecida. Tinha reputação de vitalidade, mas estava morta à vista de Deus. Este é o quadro do cristianismo nominal. “Nem

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Hendriksen, Op. Cit. p. 105

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os judeus nem os gentios parecem ter atribulado o povo de Sardes. Sardes era uma igreja ‘pacífica’. Gozava paz, mas a paz de um cemitério!” 17.

“Não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus”. As formas estavam ali, mas estavam vazias da essência.

Quanto à ameaça do verso três, Sardes certamente sabia o que significava (Mt 24:43; I Ts 5:2; II Pe 3:10). Algum acontecimento histórico traria uma experiência inesperada sobre uma igreja letárgica, à guisa de julgamento divino.

“Tens (...) umas poucas pessoas que não contaminaram suas vestiduras” (v.4). Em Sardes apenas “o resto” se mantinha fiel, quando a apatia tomou conta da quase totalidade de seus membros. “A indiferença espiritual era causada pelo fato de que os cristãos desejaram adaptar-se à luxúria e aos prazeres do seu ambiente pagão” 18. Os que não se contaminavam “andarão de branco junto comigo” (v.4). Branco indica santidade, pureza, perfeição (Is 61:10; Ap 19:8).

“De modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida”. “Quando os cidadãos terrenos morrem, seus nomes são apagados dos livros; os nomes dos vencedores espirituais jamais serão apagados; sua vida gloriosa perdurará” 19. Ver Ex 32:32; Sl 69:28; Lc 10:20; Fp 4:3; Hb 12:23; Ap 13:8; 17:8; 20:12,15. 21:27.

Quanto à última parte da promessa, ver Mt 10:32; Lc 12:8,9. Cristo reconhecerá os Seus, publicamente, como Seus!

VII. Carta a Filadélfia Apocalipse 3:7-13 7

Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre:

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Hendriksen, Op. Cit. p. 106

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Ladd, Op. Cit. p. 45

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Conheço as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.

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Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não o são, mas mentem, eis que farei que venham, e adorem prostrados aos teus pés, e saibam que eu te amo. 10 Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra.

11

Venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.

12

A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome.

13

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Filadélfia estava situada em um vale. Parece que a igreja era saudável. Não há na carta nenhuma crítica. O maior problema para os cristãos de Fialdélfia eram os judeus.

Cristo auto-designa-se como Aquele que é “santo” e “verdadeiro”, ou seja, Ele é apto a discernir e reprovar os falsos judeus. Ele é tanto inteiramente separado para Deus como é fiel e confiável quanto ao que promete (Sl 146:6; Is 65:16; Ex 34:6).

“Aquele que tem a chave de Davi” ensina-nos que só o Senhor tem em Seu poder autoridade sobre o reino de Deus (Is 22:22; Mt 16:19; Ap 5:5 22:16). Somente Cristo tem o poder de permitir acesso ao Reino ou negar tal acesso (Ele “abre, e ninguém fechará; fecha, e ninguém abrirá”). E nosso Senhor repartiu esse privilégio só com Sua igreja (Mt 16:16).

“Tenho posto diante de ti uma porta aberta” é oportunidade para pregar o evangelho (I Co 16:9; II Co 2:12; Cl 4:3; At 14:27) acompanhada da ação do Espírito que gera corações receptivos.

“Que tens pouca força” indica uma igreja pequena, fraca aos olhos humanos e sem influência (ver I Co 1:26-29). Contudo, era uma igreja fiel na perseguição.

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A sinagoga judaica, mais uma vez, como em 2:9, é chamada “sinagoga de Satanás” (ver Rm 2:28-29).

“Eis que os farei vir e prostrar-se aos seus pés” pode referir-se à humilhação ou à conversão dos judeus à fé cristã em um acontecimento escatológico (ver Is 60:14; 45:14; 49:23). Ou talvez signifique que aqueles que afrontavam a igreja se converteriam e viriam “a conhecer que eu te amei”. Isto nos lembra a conversão de Saulo de Tarso (At 9).

Essa igreja também seria “guardada da hora da provação” que em breve se abateria sobre a igreja. É certo que viriam tribulações sobre a igreja. E, à medida em que a vinda do Senhor se aproxima, a tendência dessas pressões sobre a igreja é aumentar (ver Dn 12:2; Mc 13:14; II Ts 2:1-12). Ver, entretanto, Lc 21:18, sobre o pleno controle do Senhor sobre os sofrimentos da igreja!

Por outro lado, a ira de Deus será derramada sobre os pagãos (9:20; 16:9,11). Disso a igreja seria poupada.

Vê-se que os sofrimentos da igreja são de caráter essencialmente distinto daqueles que se abaterão sobre os ímpios. Estes experimentarão a ira de Deus nos sofrimentos. Aquela, a ira humana e o poder das consolações divinas.

“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá”. “Um pilar é algo permanente (...) (Sl 27:4). Nenhum terremoto os encherá de medo ou os levará para fora da cidade celestial” 20.

“Gravarei também sobre ele o nome do meu Deus” é um símbolo de posse (ver Nm 6:27; cf. Ap 13:17; 7:3; 22:4).

“E o meu novo nome”. Ninguém sabe o novo nome de Cristo, a não ser Ele mesmo (19:12). “Isto é uma maneira simbólica de dar uma idéia da glória e da

20

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majestade de Cristo quando ele se revelar, da qual participarão os seus seguidores” 21.

“Em outras palavras, ao vencedor será dada a segurança de que pertence a Deus, à nova Jerusalém, e a Cristo” 22.

VIII. Carta a Laodicéia Apocalipse 3:14-22 14

Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:

15

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente!

16

Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.

17

Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;

18

aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.

19 Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te.

20

Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.

21

Ao que vencer, eu lhe concederei que se assente comigo no meu trono. 22

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

Laodicéia era um grande centro financeiro comercial. Era uma cidade para milionários. Nela havia teatros, um estádio e um ginásio equipado com banhos. “A cidade era tão rica que quando um terremoto a danificou consideravelmente em 60-61 dC, juntamente com outras cidades da Ásia, ela foi capaz de financiar a reconstrução com recursos próprios, sem recorrer a subsídios substanciais do tesouro imperial, como as outras cidades” 23.

Laodicéia estava situada na vizinhança de águas termais. Lá existia uma famosa escola de medicina que, dentre outras coisas, produzia colírio. A cidade também era conhecida pelo tecido negro de lã para fazer roupas e tapetes.

21

Ladd, Op. Cit. p. 50

22

Hendriksen, Op. Cit. p. 108

23

(16)

Embora Paulo soubesse da existência da igreja (Cl 4:16), ele não a visitou até sua primeira prisão em Roma (Cl 2:1). É provável que a igreja tenha sido fundada por Epafras, de Colossos (Cl 1:7; 4:12ss).

Em Laodicéia não havia problemas externos. Sua igreja era muito parecida com a de Sardes, em seu cristianismo nominal. A diferença é que em Sardes ainda havia um remanescente fiel (3:4). Em Laodicéia toda a igreja havia sido tomada de indiferença. A riqueza econômica dos crentes foi fatal à sua espiritualidade.

Quem fala é “o Amém, a testemunha fiel e verdadeira”, ou seja, o Deus fiel, que diz a verdade e é inteiramente digno de confiança. É “o princípio da criação de Deus”, ou seja, a origem da criação. Ver Cl 1:15; Jo 1:1-3; I Co 8:6.

“(...)Nem és frio nem quente (...) porque és morno...”. “Morno, tépido, lasso, claudicante, tíbio, sempre pronto a se comprometer, indiferente, desatento: uma atitude de ‘somos todos boa gente aqui em Laodicéia’ (...) É impossível se fazer qualquer coisa por essa gente. Com os pagãos (...) pode-se fazer alguma coisa. Com cristãos sinceros e humildes, pode-se trabalhar com alegria. Mas com esses ‘somos todos boa gente aqui em Laodicéia’, nada há que possa ser feito” 24.

Cristo não está ofendido nem irado com eles. Ele está enojado. A sua indiferença provocou náuseas em nosso Senhor. Mas nosso Senhor é muito bondoso e não deu Sua sentença final. A carta pretende retirar a igreja dessa mornidão.

O que era membro típico dessa congregação dizia (no verso 17): “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. A igreja se orgulhava de ser saudável e próspera. A riqueza material produziu orgulho espiritual.

24

(17)

O Cristo glorificado aconselha que dEle seja comprado (Is 55:1; Mt 13:44-45) “ouro refinado pelo fogo” (a verdadeira riqueza), a salvação (I co 8:9); “vestiduras brancas” (pureza e santidade); e “colírio” pra que a igreja tivesse sua cegueira espiritual curada.

Embora o Cristo glorificado esteja enojado dessa igreja, Ele continua a amá-la (v. 19a; Hb 12:6). Por isso há esperança para ela: “Sê, pois, zeloso e arrepende-te”.

O arrependimento do v. 19 é explicado em termos de deixar Cristo entrar. A passagem é ilustrativa da graça soberana (é cristo quem bate, e não o pecador) tanto quanto da responsabilidade humana. Lembra-nos que salvação é algo individual (“se alguém ouvir...”), e que o resultado da chamada é comunhão pessoal com Cristo (Jo 14:23; Lc 15:2; At 11:3).

“Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono”. O vencedor começará uma comunhão com Cristo agora, mas, então, na consumação do Seu Reino, reinará em íntima comunhão com Ele.

Referências

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