• Nenhum resultado encontrado

Corrupção no Estado do Rio movimentou R$ 6,1 bilhões em 20 anos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Corrupção no Estado do Rio movimentou R$ 6,1 bilhões em 20 anos"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Sem Opção

Veículo: O Globo - Caderno: O País - Seção: Não Especificado - Assunto: Economia - Página: 1,18,19 - Publicação: 20/09/20

URL Original:

Corrupção no Estado do Rio movimentou R$ 6,1

bilhões em 20 anos

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Corrupção no Estado do Rio movimentou R$ 6,1 bilhões

em 20 anos

Do propinoduto ao caso Witzel, dinheiro público se esvaiu, e obras ficaram paralisadas Selma Schmidt e Vera Araújo

20/09/2020 - 04:30

Operação Placebo: PF chega para cumprir mandado de busca e apreensão no Palácio Laranjeiras, residência oficial de Wilson Witzel, governador afastado por 180 dias pelo Superior Tribunal de Justiça Foto: Domingos Peixoto em 26-5-2020 / Agência O Globo

RIO — Desde “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, publicado por Mário de Andrade em 1928, as definições de corrupção no Rio foram tão atualizadas que passam longe dos malfeitos do clássico anti-herói. Nas últimas décadas, foram inúmeros os escândalos no estado que levaram para a cadeia governadores, deputados e até conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que deveriam zelar pelo dinheiro público. Levantamento feito pelo GLOBO em publicações e junto a órgãos de controle identificou que esquemas de propinodutos movimentaram, segundo denúncias, mais de R$ 6,1 bilhões desde 1999 em superfaturamento, pagamentos irregulares e lavagem de dinheiro envolvendo autoridades. O céu é o limite se a esse valor fossem acrescentados desvios de prefeituras e da União no Rio.

(2)

bilhão, executar o projeto de reurbanização da Rocinha anunciado pelo governador afastado Wilson Witzel (R$ 1,5 bilhão), tirar do papel o projeto da Cedae de universalizar o saneamento básico da Baixada de Jacarepaguá, incluindo todas as favelas (R$ 2 bilhões), e até despoluir o Rio Guandu (R$ 1,4 bilhão).

Mas o diretor-executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Manuel Thedim, destaca que os prejuízos vão muito além do custo corrupção. São como uma bola de neve.

— A parcela de corrupção existente em um contrato gera dependência do contratante com o contratado. Se fizer exigências, poderá não receber a propina. Pode haver mudança de projeto e prejuízo na qualidade da execução — analisa Thedim.

O economista esperava que, ao longo dos anos, com as denúncias e prisões, a situação melhorasse. No entanto, Wilson Witzel, que assumiu há um ano e meio, é mais um a ser investigado.

— Parece que as pessoas perderam a vergonha — afirma ele. — Não há desenvolvimento sem instituições fortes. Quem quer investir num estado governado por corruptos?

(3)

.

Falta controle

Professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o cientista político Eurico Figueiredo destaca que nossos governantes não têm compromisso nem ética na política para cumprir o que dizem.

— Além disso, o estado não tem instrumento de controle sobre si mesmo. Isso facilita, por exemplo, que licitações sejam burladas — diz, atribuindo parte da responsabilidade à cultura do caixa dois, que é o combustível das eleições. — O culpado não é o povo que votou nesse ou naquele político. O descompromisso é dos eleitos com a população.

O levantamento do GLOBO começou em 1999, quando Anthony Garotinho governava o Rio e Rodrigo Silveirinha era subsecretário-adjunto de Administração Tributária. Em 2003, estourou o escândalo do propinoduto, envolvendo quatro funcionários do governo, entre eles Silveirinha, e quatro auditores da Receita Federal, acusados de lavagem de dinheiro e remessa ilegal de dólares.

Ainda em 2003, a Justiça Federal do Rio condenou 22 réus do propinoduto. Silveirinha recebeu pena de 15 anos e cinco meses de prisão, mas, no ano seguinte, foi solto por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal. Desde então, o caso se arrasta na Justiça. Em março de 2018, Silveirinha foi flagrado dirigindo um táxi.

Dos cinco governadores que assumiram desde 1999 — sem contar os vices que ocuparam o cargo —, apenas Wilson Witzel não foi preso, mas foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 28 de agosto, suspeito de desvios na Saúde. Dos quatro presos, só Sérgio Cabral, investigado pela Lava-Jato do Rio, está atrás das grades desde 2016, e recebeu condenações que já somam 284 anos de prisão por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações. Preso no fim de 2018, Luiz Fernando Pezão foi solto pelo STJ em dezembro do ano passado. Ele usa tornozeleira e só pode sair de casa entre 6h e 20h.

— Não tenho boi, vaca, jet-ski, ilha ou fazenda. Nem conheço doleiro. Não tive nem a oportunidade de me defender, como está ocorrendo agora com o julgamento do impeachment do Witzel. Fui preso por uma decisão monocrática do STJ, faltando 33 dias para acabar o governo. Nunca vou me esquecer desse um ano e 12 dias que fiquei preso — diz Pezão.

Alvo do Ministério Público estado (MPRJ) e da Lava-Jato — força-tarefa que inclui Ministério Público Federal (MFP) e Polícia Federal —, as obras da Linha 4 do metrô foram as que deram maior prejuízo ao erário, com superfaturamento de R$ 2,6 bilhões, segundo o MPRJ, em valores atualizados. Os desvios na reforma do Maracanã para a Copa de 2014 também foram altos: R$ 300 milhões, em números de hoje. No PAC das favelas, chegou a pelo menos R$ 150 milhões. Já as investigações da Lava-Jato/MPF — várias delas tratando de fatos apurados também pelo MPRJ — se concentram em propinas, evasão fiscal, lavagem de dinheiro e danos morais, não abordando o superfaturamento, explica a procuradora da República Fabiana Schneider. Uma das operações que miravam somas

Outra operação da força-tarefa, em junho deste ano, a Favorito, que contabilizou um desvio de R$ 500 milhões em contratos fraudulentos na Saúde do estado com Organizações Sociais (OSs), trouxe um velho personagem à tona: o empresário Mário Peixoto, que, de acordo com procuradores, abocanharia recursos públicos desde a gestão de Cabral.

Investigação:Esquema denunciado na Operação Catarata II tem secretário, ex-deputada e empresários envolvidos; veja

Com tantos casos de corrupção, o MPRJ lançou plataforma (Radar), em que é possível verificar o superfaturamento de contratos, investigados desde 2017, mas referentes a ocorridos a partir de 2005. Os dados são numéricos, sem especificar o caso em si, mas informam prejuízos em todas as esferas de governo. No estado, o superfaturamento de contratos soma R$ 3,35 bilhões. — A primeira função da plataforma é mostrar o tamanho do problema para a população calcular o impacto desse dano — diz o promotor Rafael Lemos.

O governador afastado Wilson Witzel disse, através de nota, que combateu a corrupção e que reforçou os órgãos de controle e a transparência do Estado. Ele reiterou que “nunca compactuou com qualquer tipo de irregularidade” e que afastou todos os acusados de praticar atos ilícitos quando as suspeitas vieram à tona”. O advogado do ex-governador Sérgio Cabral, Márcio Dalambert, disse que seu cliente “é colaborador da Justiça, com acordo celebrado com a PF e homologado pelo STF”. Nessa condição, devolveu patrimônio e está colaborando na recuperação de ativos. A defesa do casal Rosinha e Anthony Garotinho afirmou que eles não são réus em processos de corrupção como governadores, mas vítimas de “perseguição política”. Alexandre Lopes, que defende Mário Peixoto, disse que as acusações contra seu cliente são “irreais”. Rodrigo Silveirinha não foi localizado.

(4)
(5)
(6)

Referências

Documentos relacionados

A constatação de que a leptina também é um forte modulador dos níveis endocanabinóides no hipotálamo foi um marco importante na identificação do sistema endocanabinóide

Enquanto o IPPC vai concedendo cada vez me- nos verbas para trabalhos de campo, de ano para ano, tais trabalhos 5x0 cada vez mais caros e impli- cam um dispêndio

Os Autores dispõem de 20 dias para submeter a nova versão revista do manuscrito, contemplando as modifica- ções recomendadas pelos peritos e pelo Conselho Editorial. Quando

Este tratamento foi eficaz na maioria dos casos, porém quando não havia melhora clínica, o tratamento era repetido após sete dias e acompanhado por banhos com sulfato de cobre e

Considera que é importante que os professores tenham experiência prática para poderem passar essa vivência aos alunos; os alunos também devem ter contacto com a prática durante

Na Figura 4.7 está representado 5 segundos dos testes realizados à amostra 4, que tem os elétrodos aplicados na parte inferior do tórax (anterior) e à amostra 2 com elétrodos

Considerando as associações entre a vitimização sofrida por jovens de minorias étnicas e LGB e o pior ajustamento demonstrado, quer a nível interno quer a nível

Analisando-se os resultados, observou-se que, logo na primeira avaliação aos 8 dias de armazenamento, em ambiente refrigerado, o tratamento testemunha já