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UNIVERSIDADE SUBMISSA Política de Educação e Ciência no capitalismo dependente

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE SUBMISSA

Política de Educação e Ciência no capitalismo dependente

Viviane de Souza Rodrigues1

RESUMO: A política de educação superior e ciência no Brasil são apreendidas através da relação entre o desenvolvimento do capitalismo dependente e o padrão conservador de desenvolvimento educacional e de produção científica. A partir dos estudos de Fernandes e Marini sobre as particularidades históricas, sociológicas, econômicas e educacionais da América Latina investigamos os traços estruturais que conformam as políticas mais recentes de educação superior brasileira.

Palavras-chave: Capitalismo dependente. Universidade. Produção do Conhecimento.

ABSTRACT: The politics of higher education and science in Brazil are apprehended through the relationship between the development of dependent capitalism and the conservative pattern of educational development and scientific production. From the studies of Fernandes and Marini on the historical, sociological, economic and educational particularities of Latin America, we investigate the structural features that conform the most recent Brazilian higher education policies.

Keywords: Dependent capitalism. University. Knowledge Production.

1 INTRODUÇÃO

A política de educação e ciência voltadas para a universidade pública brasileira historicamente tem se configurado a partir da inserção capitalista subordinada do país. Tal afirmativa parte da análise da particularidade de inserção do Brasil no capitalismo mundial de forma dependente (Fernandes, 1972; 1975; 1981 e Marini, 1973; 1992), resultando na concentração de renda, desigualdade social, exploração da classe trabalhadora e a dominância de processos científicos e educativos voltados para o trabalho subalternizado na divisão internacional do trabalho.

1 Professora, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Doutora. E-mail:

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Sob esse cenário se insere historicamente a condição brasileira de transplantação de conhecimentos dos países de economia capitalista central, sobretudo em função do atraso e compartilhamento assentido pelas frações da burguesia local em relação ao excedente econômico, o que impacta diretamente na configuração das políticas públicas, inclusive voltadas para educação e produção do conhecimento.

Nesse sentido, analisamos como estas determinações da particularidade brasileira incidem nas políticas públicas mais recentes para a educação superior tendo como pressuposto a ampliação do padrão dependente neste nível educacional a partir de uma modernização conservadora.

2 EDUCAÇÃO E CIÊNCIA NO CAPITALISMO DEPENDENTE

A seção que ora se apresenta busca apontar alguns elementos do pensamento social e político de Florestan Fernandes e Ruy Mauro Marini, partindo de suas referências e objetos de estudo para pensar a possibilidade de definição de traços estruturais do desenvolvimento capitalista na periferia. E, para, além disto, desenvolver novas análises sobre a subalternidade conjuntural do Brasil, especialmente das políticas mais recentes voltadas para a educação superior.

2.1 Elementos para interpretação da inserção subalterna do Brasil

A particularidade da inserção do Brasil no capitalismo mundial de forma dependente foi analisada por Fernandes (1972; 1975; 1981) através do estudo dos períodos históricos. Para o autor desde o período colonial na América Latina (AL) até o período de consolidação imperialista do tipo capitalista, nota-se uma questão norteadora que perpassa a história destes países: o padrão de dependência. O autor nos mostra como tal padrão se apresenta nos diferentes modos de produção da vida econômica e social dos países da AL e ainda como e quando este padrão configurou o Brasil como país capitalista dependente. Em sua obra o conceito de capitalismo dependente se apresenta como um sistema econômico que não se integra da mesma forma que sob o capitalismo avançado, visto que coordena e equilibra estruturas econômicas em diferentes estágios de evolução econômica. Tal apreensão se relaciona diretamente com os conceitos de heteronomia cultural e padrão

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compósito de hegemonia burguesa também desenvolvidos por Fernandes em que a

dependência se processa pela associação da classe dominante local com a internacional em diferentes esferas como a economia, a política e a cultura.

Fernandes (1981) aponta duas questões fundamentais que se complementam para compreender a heteronomia na AL seja em termos econômicos como sociocultural. Primeiro, a presença de estruturas internas que absorvem as mudanças capitalistas, porém sem a possibilidade de desenvolvimento autônomo e, em segundo plano, a modernização por cima pela via da influência externa de modo a impossibilitar uma revolução de bases internas do tipo clássico capitalista. Ambos os processos ocorrem historicamente pela combinação de interesses internos das classes dominantes e dos externos das potências de economia avançada num movimento simultâneo de concentração de riqueza internamente e pelo escoamento da riqueza às potências dominantes externas. Este fenômeno Fernandes (1981) conceitua como padrão compósito de hegemonia burguesa em que os países que não experimentaram uma transição clássica para o capitalismo, ou seja, não realizaram uma revolução burguesa clássica, realizaram alterações e processaram o desenvolvimento através da associação/articulação funcional entre o arcaico e o moderno com vínculos entre a oligarquia e o imperialismo.

A partir dessas análises Fernandes aponta as contradições da dominação imperialista e da burguesia nos países latino-americanos em que se processa o aprofundamento da dependência. Tal dominação penetra não somente nas estruturas econômicas bem como nas demais instituições políticas, educacionais e culturais. Por isso, o conceito de capitalismo dependente, inserido na luta de classes, desmascara a

heteronomia cultural, econômica e política oriunda da relação de cooperação assentida

entre a burguesia imperialista e a das nações latino-americanas.

As contribuições de Marini (1973) também nos auxiliam na apreensão da particularidade da dependência através do estudo que este empreendeu acerca da realização da lei do valor na relação entre a produção e circulação e, também, de forma dialética a esta, pelas condições de exploração da força de trabalho.

Em seus estudos localiza que historicamente a dependência se efetivou plenamente quando da inserção dos países da AL na divisão internacional do trabalho e que, portanto, par ele, o período colonial mesmo pautado na subordinação não define a dependência, apenas apresenta elementos de continuidade entre ambos os períodos.

Desenvolvendo melhor as categorias de sua obra partimos do mesmo ponto que o autor apresenta para pensar a dependência: a circulação. Para ele a lei do valor nas relações de troca entre as economias industriais e as da AL se desenvolveu pela troca

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desigual. Num primeiro momento do desenvolvimento industrial mundial tal troca se realizava pela exportação de bens primários dos países da AL, que neste momento já eram oficialmente independentes politicamente, em troca de manufaturas de consumo para sua demanda interna. Nesse aspecto, significou que as exportações incidiam diretamente na acumulação dos países em desenvolvimento industrial já que possibilitavam o deslocamento da mais-valia absoluta para a mais-valia relativa. Para Marini (1973), a efetivação historicamente deste papel no desenvolvimento capitalista terá desdobramentos posteriores em outros períodos econômicos.

Considera que a inserção plena no cenário internacional ocorreu neste período de consolidação da indústria manufatureira nos países europeus e que o papel exercido pelos países da AL incidirá no desenvolvimento dependente destes.

Caracteriza ainda esta troca como desigual na medida em que com aumento da necessidade de matéria-prima, em função do deslocamento da acumulação nas nações industriais para a mais-valia relativa, a queda na taxa de lucro gerada quando considerada a composição do valor do capital (variável e constante) foi grandemente compensada pela baixa no capital constante através da deterioração dos termos de troca dos bens primários. Para ele então a lei do valor é burlada, seja quando os países produtores de bens por seu status na economia mundial vendem seus produtos a preços acima do seu valor, seja quando - em função de sua maior produtividade - vendem seus produtos com preços mais baixos, mas sobre a prerrogativa dos países exportadores de bens primários diminuírem o valor do que produzem nesta troca.

De modo geral, destaca-se na particularidade do ciclo de capital nos países da AL uma cisão na produção e circulação de mercadorias. O autor esclarece que a produção não se originalizou pela demanda interna, mas se direcionou para a acumulação de capital externamente. O consumo do trabalhador não implica necessariamente à produção, já que a mesma efetua sua circulação através das exportações. Para Marini (1973) a especificidade da lei do valor é o primeiro elemento que caracteriza a dependência nos países latino-americanos.

Outro traço decorrente desta relação ainda é a restrição do consumo de subsistência da classe trabalhadora que aliado à reserva de mão de obra para reposição da força de trabalho desdobra-se na ausência de condições necessárias para sua plena reprodução. Nesse sentido, pode-se concluir que a economia pautada na exportação na AL não configura apenas a sua particularidade produtiva de bens primários, mas também alarga a exploração da força de trabalho, o que, por conseguinte, produz maior dependência frente à economia internacional.

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O segundo elemento da dependência desenvolvido por Marini (1973) que se encontra dialeticamente ligado à troca desigual é a superexploração da força de trabalho. Para ele este é o mecanismo de contrapartida desta relação que é operacionalizado no âmbito da produção interna e não na instância do mercado. Assim, analisa que a perda no mercado internacional pelo barateamento das exportações terá como contrapartida a exploração do trabalhador e não uma maior valorização de sua mercadoria.

Para o autor a compensação da troca desigual pela produção interna se realiza pela

superexploração da força de trabalho e esta se configurou pelo aumento do trabalho

excedente, mas especificamente, como assinala, pela redução do consumo do trabalhador no que se refere à sua subsistência. Assim a particularidade da ampliação da mais-valia está no uso de outros mecanismos de extração do trabalho excedente que se difere da exploração pela mais-valia relativa. Avalia ainda que para esta maior exploração corrobora os tipos de atividades produtivas e o inferior grau de desenvolvimento das forças produtivas nos países da AL.

Para Fontes (2010), este mecanismo é uma categoria que trará questionamentos, particularmente quando pensamos a atualidade de ampliação das formas de exploração da força de trabalho mundialmente. Contudo, conforme salienta Carcanholo (2012), a ideia de Marini aponta que o traço estrutural da troca desigual desencadeia, por conseguinte, na

superexploração da força de trabalho como um mecanismo de compensação, que pode

assumir diferentes formas, já que não se verifica a possibilidade de aumento da produtividade semelhante nas economias centrais. Daí considera a singularidade que assume esta forma de maior exploração nos países da AL, ou seja, esta ganha sentido estruturante para ele somente quando interligada dialeticamente à especificidade do plano de circulação de mercadorias. Nesse sentido, o autor defende que a superexploração como mecanismo de compensação é a maneira particular como os países dependentes conseguem se desenvolver no âmbito do capitalismo.

Ambas as contribuições apresentadas trazem aspectos estruturantes fundamentais para analisar a configuração das políticas de educação e ciência no Brasil.

2.2 Política de educação e produção do conhecimento na universidade brasileira

Para Florestan (1975a), as limitações da educação superior e da pesquisa no país são presentes desde sua criação. Em primeiro lugar se refere à limitação estrutural em que

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trata sobre o padrão brasileiro de escola superior que se inicia na história dessas escolas superiores de ensino direcionadas às elites e, por conseguinte, para a transmissão dogmática de conhecimentos voltados para a formação de profissionais liberais. Desta forma, este padrão se configurou a partir da importação de conhecimentos externos esvaziados de qualquer iniciativa/processo criador de conhecimentos. No entanto, elucida que esta situação é oriunda não somente de aspectos externos, mas é limitada também pela própria estrutura da sociedade que colocava a educação superior como um “(...) subprocesso cultural de monopolização do poder pelos setores privilegiados das classes possuidoras (p. 53)”. Portanto, tais limitações somente poderiam se extinguir na medida em que houvesse profundas mudanças na própria estrutura social, sobretudo no que tange ao aspecto político de ligação com a estrutura de poder da sociedade oligárquica.

Através destas ações conservadoras, o padrão brasileiro de escola superior se manteve com suas funções originárias sem qualquer propensão a uma inserção dinâmica de produção de conhecimentos e, portanto, de construção de ideias e saberes críticos de rompimento com a estrutura de poder e com a dependência cultural de nossa sociedade. É interessante também pontuarmos que nas análises de Fernandes a reprodução do padrão

brasileiro de escola superior está associado ao dilema das nações capitalistas dependentes

que se configura pela absorção dos avanços modernizantes tanto nas esferas cultural e institucional sob relativo atraso e de forma passiva. Portanto, o dilema do desenvolvimento educacional dependente e atrasado está circunscrito à totalidade do modo como os fluxos modernizantes ocorrem no âmbito socioeconômico destes países. Ao tratar das conexões entre o papel da universidade e o desenvolvimento nacional clarifica melhor este aspecto no que tange especificamente a situação da educação superior. O autor aponta que a

transplantação de instituições exteriores ocorreu no Brasil de forma muito empobrecida.

Na trajetória histórica brasileira, no campo da produção de conhecimento, podemos dizer que até no decorrer do período desenvolvimentista se processou algumas possibilidades de realização de pesquisas com potencial de produção de tecnologia de base voltada às empresas estatais. Isso em função de uma universidade pública com a constituição de uma pós-graduação e instituições de pesquisa, mesmo sob o horizonte de não superação da condição subalterna, que foi argumentado a partir dos anos de 1980 e 1990.

Cabe aqui lembrar que após o golpe de 1964, objetivou-se a reforma universitária conservadora de 1968 processada pelos militares a partir de diretrizes externas estadunidenses, por meio dos Acordos MEC/USAID. Esta se caracterizou por uma produção

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de conhecimentos, incluindo o âmbito dos processos educacionais, através de uma orientação tecnoburocrática e científica pelos princípios do taylorismo-fordismo.

Nesse momento, o desenvolvimento econômico demandava investimentos na formação técnica para o trabalho profissionalizante, bem como para qualificação de tecnoburocratas e cientistas de ponta.

No cenário mais recente dos anos de 1990 vimos sob o ideário neoliberal a retomada de orientações pautadas em processos gerenciais na administração empresarial, que também se reverberaram nas instituições públicas, sob os princípios de flexibilização do processo produtivo e acumulativo.

Assim chegamos aos anos atuais sob os ditames ultraliberais nas políticas públicas a partir de um cenário de maior expansão do capital mundialmente e de seu processo de financeirização da economia. Em particular, os países dependentes vivenciam densamente de forma refletida e reprodutiva essas implicações através das políticas públicas em curso nos seus diferentes campos, como o educacional e o científico.

Desse modo, consideramos para fins desta análise os governos FHC, Lula da Sila e Dilma, identificando que estes reproduziram por meio de diferentes instrumentos ajustes alinhados ao padrão macroeconômico de vulnerabilidade estrutural com repercussões na universidade e demais instituições de pesquisa de modo a atender aos interesses privados das classes dominantes, mesmo sob o horizonte de não rompimento com a dependência. Tais instituições e seus agentes em geral vêm sendo apropriados por uma organização subordinada ao mercado. As iniciativas progressistas que militam no interior das mesmas lutam cotidianamente frente às estratégias focadas no mercado nas suas atividades laborativas.

Sendo assim, a partir dos anos de 1990, as atividades de desenvolvimento educacional e científico foram altamente afetadas na universidade levando a perda em grande medida de sua qualidade acadêmica e institucional. Podemos perceber isso através da exploração do trabalho acadêmico das universidades, tanto na defasagem salarial que já é de conhecimento público, como na intensificação e flexibilização de suas diferentes atividades laborativas.

No contexto ainda dos anos de 1990, sob o cenário difundido pelos organismos internacionais de uma suposta crise no Estado de bem-estar-social nos países desenvolvidos e do desenvolvimentismo nos países periféricos, como o Brasil, é que o governo de Fernando Henrique Cardoso se apoiará para aplicação de medidas neoliberais em torno da contrarreforma do Estado.

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As bases assentadas pelos governos Fernando Collor de Melo e Itamar foram fundamentais para consolidação dessas medidas que neste novo momento ganhava maior amplitude e sistemática através do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), que foi criado especificamente para direcionar a reforma neoliberal do Estado brasileiro através de um arcabouço de concepções que visavam orientar a política governamental como um todo.

No âmbito do Ministério da Educação (MEC) tais pressupostos originaram uma reestruturação do sistema de educação superior do país a partir da flexibilidade, competitividade e avaliação, que tinham como princípios a expansão, diversificação, avaliação, supervisão, qualificação e modernização.

Um dos aspectos que se destacaram foi o alinhamento desta política com as diretrizes do Banco Mundial, sobretudo no que tange ao fomento à diversificação de instituições e cursos, legitimado pela LDB, em que diferentes instituições não-universitárias foram reconhecidas como integrantes do sistema de educação superior. Ao mesmo tempo, com o repasse pelo Estado de sua atuação direta ao setor privado através do conceito de

público não-estatal, a oferta da educação superior pela iniciativa privada foi ampliada em

detrimento das universidades públicas, mas sempre amparada pelo discurso sobre o aumento da oferta de vagas neste nível educacional. Por conseguinte, a universidade pública além de ter passado dias de miséria com drásticos cortes de verbas, ainda viu-se com a tarefa de captar recursos externos públicos e principalmente privados sob o slogan de autonomia universitária. E por fim, a educação superior passou a ser submetida por um sistema de avaliação que tinha como finalidade promover competitividade em favor dos negócios da fração da burguesia que explorava este mercado. Complementarmente, como destaca Lima (2005), a supervisão deste sistema iria garantir a adequação da formação ao atendimento das novas demandas do mercado de trabalho, o que seria corroborado sob o princípio da modernização operacionalizando alterações didático-curriculares.

A universidade foi cerceada ainda quanto ao seu desenvolvimento científico e tecnológico na medida em que sofreu também forte redução de suas verbas frente ao orçado, bem como passou a ser regulada pelo Estado através da criação do Conselho Nacional para Ciência e Tecnologia que através de outros mecanismos legais direcionou a inserção do financiamento privado retirando em grande parte a participação do fundo público neste setor.

O governo Lula apresentou continuidades e novidades através da reprodução das diretrizes macroeconômicas do governo de Fernando Henrique Cardoso. Na educação, o destacou-se a elevação dos investimentos para ampliação e acesso à educação superior. O

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desenvolvimento deste nível educacional ocorreu sob as diferentes faces: a de caráter privatista e de inserção da educação no mercado econômico; e a face de maior precarização da universidade pública, severamente atacada na sua perspectiva histórica, oriunda da luta dos movimentos a ela vinculada, e de suas ações de ensino, pesquisa e extensão. Este processo foi realizado pelo governo de forma diversificada, também sob o esforço de alianças entre as diferentes classes e frações sociais, no entanto, com caráter marcadamente privatista, mas falseado em grande parte pelo discurso de acessibilidade pública.

Mas, desde o primeiro mandato do governo Lula, as políticas em geral para a educação se pautaram na manutenção de uma visão fiscalista/reguladora notadamente em relação aos investimentos em educação. O que provocou restrições aos investimentos, mas, ao mesmo tempo, uma maior intervenção do Estado e especificamente da União no financiamento e na expansão da educação superior, ainda que com um enfoque gerencialista, nos termos do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), e sem dar conta das necessidades da expansão.

Em geral o governo Lula aprofundou ainda mais os laços de subalternidade da universidade brasileira, sobretudo pela ampliação de uma educação superior voltada para a formação de recursos humanos habilitados a adaptar ciência e tecnologia importadas.

Já o governo Dilma Roussef iniciou em 2011 reafirmando a continuidade do programa de expansão da educação superior do governo Lula. Em geral demonstrava a continuidade da expansão da rede federal e a importância de novos papéis para as universidades consonantes com as demandas econômicas, inclusive, o processo da internacionalização da educação superior.

A finalidade da expansão da educação superior na ótica deste governo, sobretudo em termos de proposta, foi: expandir e interiorizar os institutos e universidades federais, principalmente nos municípios populosos com baixa receita per capita; promover a formação de profissionais para o desenvolvimento regional, bem como estimular a permanência desses profissionais no interior do país; potencializar a função e o engajamento dos institutos e universidades como expressão das políticas do governo na superação da miséria e na redução das iniquidades sociais (BRASIL, 2011).

Vale destacar aqui que as políticas para a educação superior do governo Lula e Dilma assumiram também a perspectiva da equidade social articulada com a concepção de desenvolvimento econômico, da capacitação de mão de obra e da elevação da empregabilidade da população, principalmente quando faz a opção da construção de campi de instituições federais de educação superior no interior do país. As políticas de ações

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compensatórias também ganharam destaque, por exemplo, com o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e da Universidade Aberta do Brasil.

Em geral, a política deste governo para a educação superior enfatizou os seguintes parâmetros a serem incorporados pelas universidades: inovação, empreendedorismo, competitividade, formação e atração de capital humano, mobilidade internacional, universidade como agente de desenvolvimento econômico e social, foco em áreas estratégicas/prioritárias de estudo e de pesquisa, internacionalização da educação superior. Sobre empreendedorismo e inovação, o que se consolidou foi a compreensão de uma correlação positiva e linear entre esses dois fatores e o crescimento econômico no nível local e regional, com foco na criação de novas empresas mediante a transferência de conhecimento, de inovação e de novas tecnologias para a comercialização de serviços e produtos.

Constatamos assim que os governos petistas de Lula e Dilma optaram, como referencial para as reformas sociais propostas, as quais se inclui a educação superior, pela política de estabilidade com crescimento da economia do país. Porém, é interessante observar que o discurso da política para equidade iniciou-se no governo de FHC e ganhou projeção no governo de Lula e Dilma, ao ampliar as áreas de atuação das políticas sociais. Ganhou espaço o discurso da sustentabilidade da economia em detrimento da redistribuição de renda.

3 CONCLUSÃO

Em suma, analisamos que nos últimos governos brasileiros foram desenvolvidas as políticas quanto à educação superior e à ciência, dando às ciências sociais um papel ilustrativo apenas. Isto aponta a integração com os pressupostos neoliberais como um todo, o que não tem se constituído numa trajetória positiva e de estratégias que rompam com a situação de barbárie que invade a sociedade brasileira.

Pensamos que uma das questões em contraposição à perspectiva de uma universidade pública operacional preconizada pelas reformas operadas por estes governos na educação superior e na política nacional de ciência e tecnologia, que cada vez mais se propõe ao atendimento do mercado, é a construção de princípios que possam distinguir os valores próprios que regem a universidade e a empresa. Outra questão é a necessidade de exercício do papel de primazia da universidade voltado ao desenvolvimento do país na

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construção de novos conhecimentos que viabilizem as necessidades do segmento social que compõe a maior parte de nossa população: a classe trabalhadora. Para tanto, a estas questões carece uma posição contraditória à privatização e ao uso da universidade pública como aparelho do capital em atendimento estrito a produção e a as demandas da expansão financeira do capitalismo.

Precisamos deixar a condição de consumidores de conhecimentos transplantados dos países de economia capitalista central. Mas para isso sabemos que seria necessária uma mudança profunda pelas frações da burguesia local frente ao atraso e compartilhamento assentido da inserção dependente ao capitalismo mundial. É claro que esta sinalização diz respeito a alterações mesmo nos limites da ordem burguesa, o que sabemos que não processa de fato a radicalização do modelo societário que temos como horizonte.

Em tempos de políticas ultraconservadoras a apreensão do processo histórico e das alterações mais recentes da contrarreforma da educação superior e nos possibilita inferir sobre as novas formas de ampliação do padrão dependente nas políticas neste nível educacional.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Expansão da educação superior e profissional e tecnológica: mais formação e oportunidades para os brasileiros. Brasília: MEC, 2011. CARCANHOLO, M. (Im)precisões sobre a categoria superexploração da força de trabalho, 2012, mimeo.

FERNANDES, F. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

______________. A revolução burguesa no Brasil - ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.

______________. Universidade brasileira: reforma ou revolução? São Paulo: Alfa-Omega, 1975a.

______________. Capitalismo dependente e as classes sociais na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.

FONTES, V. O Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e história. Rio de Janeiro, EPSJV, UFRJ, 2010.

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LIMA, K. Reforma da educação superior nos anos de contra-revolução neoliberal: de Fernando Henrique Cardoso a Luis Inácio Lula da Silva. Tese de doutoramento apresentada no Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFF, RJ, 2005.

MARINI, R.. Dialética da dependência (1973). Disponível em: < http://www.marxists.org/portugues/marini/1973/mes/dialetica.htm>. Acesso em: 05 jan 2014. _______________, R. América Latina: Dependência e Integração. São Paulo: Editora Brasil Urgente, 1992.

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