CAPÍTULO 1
LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO
QUESTÕES
1. (DPE/RJ – DEFENSOR PÚBLICO – RJ – 2010)
MARIANA, empresária, ofereceu queixa-crime contra JoÃo no dia 28/04/2008, imputando-lhe a seguinte conduta: “No dia 23/03/2008, no interior da residência lo-calizada na Rua do Socorro, nº 27, cobertura 01, Tijuca, Rio de Janeiro, por volta de 22h00min, ao final de um churrasco oferecido pela querelante em comemoração ao seu aniversário, o querelado, consciente e voluntariamente, aproveitado-se da impos-sibilidade de resistência, manteve com a querelante conjunção carnal e ainda prati-cou diversos outros atos libidinosos. Para conseguir seu intento, o querelado coloprati-cou substância sonífera na bebida da querelante, levado-a a sono profundo, oportuni-dade em que aproveitou para satisfazer a sua libido e seus instintos bestiais. Ante o exposto, encontra-se o mesmo incurso nas penas dos artigos 213 e 214 c/c 224, alí-nea ‘c’, a forma do artigo 69, todos do Código Penal.” Recebida a exordial, o MM. Juiz ordenou a citação do querelado, que só foi efetivada em fevereiro de 2010, oportu-nidade em que ele ofereceu a resposta e arrolou testemunhas. o juiz designou audi-ência de instrução e julgamento para o dia 20 de março de 2010, que não se realizou porque as testemunhas de acusação não compareceram. Remarcada a audiência para o dia 20 de abril, a mesma também não se realizou porque a querelante não compa-receu ao ato, atravessando, posteriormente, uma petição por seu advogado, na qual fazia representação para que o Ministério Público retomasse a ação como parte prin-cipal em face das mudanças ocorridas nos crimes contra a dignidade sexual. os autos foram encaminhados a você, Defensor Público nomeado para a defesa do querelado. MANIFESTE-SE JUSTIFICADAMENTE EM FAVoR Do SEU ASSISTIDo.
◉ ESPAÇO EM BRANCO PARA RESPOSTA (10 LIMHAS)
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QUESTÕES COMENTADAS
1. (DEFENSOR PÚBLICO – DPE/RJ – 2010)
MARIANA, empresária, ofereceu queixa-crime contra JoÃo no dia 28/04/2008, imputando-lhe a seguinte conduta: “No dia 23/03/2008, no interior da residência lo-calizada na Rua do Socorro, nº 27, cobertura 01, Tijuca, Rio de Janeiro, por volta de 22h00min, ao final de um churrasco oferecido pela querelante em comemoração ao seu aniversário, o querelado, consciente e voluntariamente, aproveitado-se da impos-sibilidade de resistência, manteve com a querelante conjunção carnal e ainda prati-cou diversos outros atos libidinosos. Para conseguir seu intento, o querelado coloprati-cou substância sonífera na bebida da querelante, levado-a a sono profundo, oportuni-dade em que aproveitou para satisfazer a sua libido e seus instintos bestiais. Ante o exposto, encontra-se o mesmo incurso nas penas dos artigos 213 e 214 c/c 224, alí-nea ‘c’, a forma do artigo 69, todos do Código Penal.” Recebida a exordial, o MM. Juiz ordenou a citação do querelado, que só foi efetivada em fevereiro de 2010, oportu-nidade em que ele ofereceu a resposta e arrolou testemunhas. o juiz designou audi-ência de instrução e julgamento para o dia 20 de março de 2010, que não se realizou porque as testemunhas de acusação não compareceram. Remarcada a audiência para o dia 20 de abril, a mesma também não se realizou porque a querelante não compa-receu ao ato, atravessando, posteriormente, uma petição por seu advogado, na qual fazia representação para que o Ministério Público retomasse a ação como parte prin-cipal em face das mudanças ocorridas nos crimes contra a dignidade sexual. os autos foram encaminhados a você, Defensor Público nomeado para a defesa do querelado. MANIFESTE-SE JUSTIFICADAMENTE EM FAVoR Do SEU ASSISTIDo.
W I L L I A M A K E R M A N G O M E S
◉ RESPOSTA
Antes do advento da Lei nº 12.015/2009, os crimes contra a liberdade sexual eram
delitos de ação penal privada, na forma do art. 225, caput, do CP. Com a alteração
le-gislativa levada a efeito, a ação penal dos crimes em questão passou a ser, em regra,
pública condicionada à representação, na forma do mesmo dispositivo do Estatuto
Repressor, com a redação atual.
Como a Lei nº 12.015/2009, no ponto, ostenta natureza híbrida (processual e
ma-terial) e constitui novatio legis in pejus, não pode ser aplicada a fatos anteriores à sua
vigência, sob pena de malferir o postulado da irretroatividade da lei penal que não
beneficie o réu (art. 5º, XL, da CF e art. 2º, parágrafo único, do CP).
Na hipótese, como o crime fora cometido, segundo a denúncia, em 23/03/2008,
antes, portanto, da alteração promovida pela Lei nº 12.015/2009, a natureza da ação
penal não se alterará, devendo-se reconhecer a ocorrência da perempção, diante da
ausência da querelante à AIJ designada para o dia 20 de abril, nos termos do art. 60,
III, do CPP, extinguindo-se, por conseguinte, a punibilidade, na forma do art. 107, IV,
última figura, do CP, com a improcedência da pretensão punitiva.
◉ DOUTRINA TEMÁTICA
“No entanto, se a entendermos como de natureza material, deverá ser aplicado o prin-cípio da retroatividade benéfica, previsto tanto no parágrafo único do art. 2º do Código Penal quanto no inciso XL do art. 5º da Constituição Federal, que diz que a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Poderá, ainda, como defendem alguns
processu-alistas, ser entendida como norma híbrida ou mista, ou seja, uma norma processual
com reflexos penais, posição com a qual concordamos.” (GRECo, 2013, p. 733) –
gri-fado pelo autor
“ora, uma norma que passou a exigir a representação para o exercício da ação penal em relação a alguns crimes tem um aspecto material, visto que o não oferecimento da representação acarretará a decadência e a extinção da punibilidade, matéria do Direito Penal (art. 107 do Código Penal); mas é também norma processual, pois é uma condição de procedibilidade da ação penal (art. 38 do Código de Processo Penal). Destarte, nos
processos em andamento, cuja ação penal se iniciou mediante queixa não existe providência a ser tomada pelo Juiz de Direito, senão a marcha normal do procedi-mento, observando-se o principio do tempus regit actum, pois a nova disposição não aproveitaria ao réu: uma ação penal de iniciativa privada ‘é mais benéfica’ (em tese) para o acusado que a ação penal pública, seja condicionada ou não (do ponto de vista da iniciativa). Basta lembrar que a ação penal de iniciativa privada é disponível, sendo possível, em favor do querelado, o perdão e a perempção. o
mesmo raciocínio serve para aqueles casos em que o processo iniciou-se por denúncia (independentemente de representação) e a nova lei também não a exige.” (MoREIRA, Rômulo de Andrade. Ação penal nos crimes contra a liberdade sexual e nos delitos sexuais contra vulnerável – a Lei 12.015/09. Disponível em http://www.ambito-juridico. com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6762&revista_caderno=22. Aces-sado em: 07 mai. 2009)
◉ JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA
` STJ
HABEAS CoRPUS SUBSTITUTIVo DE RECURSo oRDINáRIo. DESCABIMENTo. CoMPE-TÊNCIA Do SUPREMo TRIBUNAL FEDERAL E DESTE SUPERIoR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. MATÉRIA DE DIREITo ESTRITo. MoDIFICAÇÃo DE ENTENDIMENTo Do STJ, EM CoNSo-NÂNCIA CoM o Do STF. CRIMES PREVISToS NoS ARTS. 213 E 214 Do CÓDIGo PENAL.
FATOS ANTERIORES À LEI Nº 12.015/09. LEGITIMIDADE DOS REPRESENTANTES LEGAIS DA OFENDIDA. VÍTIMA, À ÉPoCA, CoM 10 ANoS DE IDADE. DECADÊNCIA E
PEREMPÇÃo NÃo CoNFIGURADAS. AUSÊNCIA DE CoNSTRANGIMENTo ILEGAL. oR-DEM DE HABEAS CoRPUS NÃo CoNHECIDA. 1. o Excelso Supremo Tribunal Federal, em recente alteração jurisprudencial, retomou o curso regular do processo penal, ao não mais admitir o habeas corpus substitutivo do recurso ordinário. Precedentes: HC 109.956/PR, 1.ª Turma, Rel. Min. MARCo AURÉLIo, julgado em 07/08/2012, DJe de 10/09/2012; HC 104.045/RJ, 1.ª Turma, Rel. Min. RoSA WEBER, julgado em 28/08/2012, DJe de 05/09/2012. Decisões monocráticas dos ministros LUIZ FUX e DIAS ToFFoLI, res-pectivamente, nos autos do HC 114.550/AC (DJe de 27/08/2012) e HC 114.924/RJ (DJe
de 27/08/2012). 2. Sem embargo, mostra-se precisa a ponderação lançada pelo Ministro MARCo AURÉLIo, no sentido de que, "no tocante a habeas já formalizado sob a óptica da substituição do recurso constitucional, não ocorrerá prejuízo para o paciente, ante a possibilidade de vir-se a conceder, se for o caso, a ordem de ofício." 3. Na hipótese
em apreço, os representantes legais da ofendida (à época dos fatos com 10 anos de idade) ofereceram queixa-crime contra o Paciente, pela prática, em tese, dos delitos tipificados nos arts. 213 e 214 do Código Penal. Em razão da entrada em vi-gor da Lei nº 12.015/09, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o Paciente pelos mesmos fatos. O Juízo Processante recebeu a denúncia e habilitou a ofendi-da como assistente ofendi-da acusação, sob o entendimento de que a nova lei alterou a natureza da ação penal em caso de crimes sexuais cometidos contra vítima menor de idade, passando de privada para ação penal pública incondicionada. 4. Por sua vez, o Tribunal de origem, em decisão benéfica ao Paciente, determinou o tranca-mento da ação penal pública oferecida pelo Parquet, e, acertadamente, permitiu a continuidade da ação penal privada, que havia sido intentada dentro do prazo de 06 (seis) meses, não havendo que se falar em decadência. 5. Na espécie, o Juízo
de primeira instância sequer havia recebido a queixa-crime inicialmente apresentada, o que afasta, também, a configuração da perempção, nos termos da jurisprudência desta Corte. 6. Assim, não resta configurada ilegalidade manifesta que permita a concessão da ordem de ofício. 7. ordem de habeas corpus não conhecida. (HC 180.479/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe 02/10/2013) – gri-fado pelo autor
◉ QUESTÕES DE CONCURSO RELACIONADAS
01. (FCC – Defensor Público – DPE/MA – 2009) Sobre a aplicação da lei penal e da lei
proces-sual penal no tempo, desde que não sejam de natureza mista: – vigoram princípios diferentes em relação a cada uma das leis.