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ECLI:PT:TRL:2011: YYLSB.B.L1.7

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ECLI:PT:TRL:2011:68208.05.3YYLSB.B.L1.7

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRL:2011:68208.05.3YYLSB.B.L1.7

Relator Nº do Documento

Luís Espírito Santo rl

Apenso Data do Acordão

22/11/2011

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Agravo provido

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

(2)

Sumário:

I - O artº 376º, do Cod. Proc. Civil, referente ao incidente de habilitação, tanto é aplicável às situações de cessão de créditos, previstas no artº 577º, do Cod. Proc. Civil, como às de sub-rogaçãoII - Em ambos os casos, os habilitandos recebem do exequente o direito que aquele era titular - que não se extinguiu pelo pagamento - e que se encontrava incorporado no título dado à execução.

III - Nenhuma razão existe que impeça o avalista sub-rogado - que pagou integralmente o crédito de que o exequente era titular - de prosseguir, com base no disposto nos artsº 32º e 77º, da LULL, na posição processual deste contra a executada subscritora da livrança, a qual passou, enquanto sujeito avalizado, a ser directamente responsável perante o novo credor, que integra a mesma relação jurídica cambiária.

(Sumário do Relator)

Decisão Integral:

Acordam os Juízes do Tribunal da Relação de Lisboa ( 7ª Secção ).

I – RELATÓRIO.

Requereu L., por apenso à acção executiva que lhe é instaurada pelo B. SA, e onde são igualmente executados M. e Mi., incidente de habilitação de cessionário, nos termos dos artsº 372º a 376º, do Cod. Proc. Civil.

Fundamentou a sua pretensão nos seguintes termos :

A livrança dada à execução foi subscrita pelos supra mencionados executados e por si avalizada. Por acordo com o Banco “A” pagou a totalidade da quantia em dívida.

Tendo cumprido a obrigação fica subrogado na posição da Investments 2234LLC, a qual adquiriu os créditos do BCP.

Uma vez que a instância não se encontra extinta conserva o requerente legitimidade para prosseguir os ulteriores termos contra os executados.

Foi proferida decisão de indeferimento liminar com o seguinte teor :

“De harmonia com o disposto no art. 376º, 2, do CPC, a habilitação do adquirente ou cessionário da coisa ou direito em litígio pode ser promovida pelo transmitente ou cedente, mas também pelo adquirente ou cessionário.

No caso dos autos o requerente, nem sequer é cessionário ou adquirente, pois para o ser, previamente, à habilitação, deveria ter efectuado contrato nesse sentido com o B. nos termos e para os efeitos do disposto no art. 577º e ss do CC..

Assim sendo, verifica-se que a habilitação de cessionário requerida terá de ser indeferida por legalmente inadmissível.

Por outro lado desde já se esclarece que o avalista que cumpre a obrigação titulada pela livrança, não tem título executivo contra os demais co-avalistas.

Nos termos do disposto no artigo 32º aplicável ex vi pelo artigo 77º, último parágrafo, ambos da LULL, se o dado do aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra, leia-se no caso dos autos, livrança.

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1966, pág. 207 e ss, “Pagando pelo signatário garantido, o dador do aval, ao mesmo tempo que adquire o direito que o portador tinha contra o avalizado, fica ainda investido nos direitos que da letra resultem para este, dada a sua posição na cadeia cambiária.

Tanto um como outro efeito derivam da natureza da obrigação do dador de aval: obrigação de garantia. Assumindo uma obrigação igual à do avalizado, é justo que o avalista, pagando a letra, adquira uma posição creditória idêntica, além de naturalmente, do direito de regresso contra esse signatário”.

Ora, se dúvidas não existem em relação ao facto do avalista que pagou a livrança ter um direito de regresso contra o subscritor da livrança e contra os demais co-obrigados cambiários, uma vez que fica sub-rogado nos direitos emergentes dessa livrança, daí não resulta necessariamente que tenha imediatamente título executivo contra os co-avalistas no caso de existência de aval colectivo, não encontrando tal questão resposta no referido artigo 32º da LULL.

Conforme refere o Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa, datado de 11/11/2004, disponível in www.dgsi.pt, “(…) o caso dos autos tem a ver, também, com o denominado aval colectivo, ou seja, com o aval dado por mais do que uma pessoa em que todos os avalistas respondem solidariamente e como obrigados autónomos. Estão em causa as relações de dois co-avalistas não só com o avalizado, como também com um terceiro co-avalista, tratando-se de saber dos direitos que assistem aos avalistas que pagaram a livrança contra o avalizado e o co-avalista não pagador. Já vimos que em relação ao avalizado que paga a letra fica investido no próprio direito cambiário garantido. Por isso, nos termos do artigo 49º da LULL, a pessoa que pagou a letra pode reclamar dos seus garantes a soma integral que pagou, acrescida dos juros e despesas.

No tocante aos co-avalistas tem-se entendido que o co-avalista que pagou a livrança não tem contra eles direito a uma acção cambiária, pois que, de contrário, teríamos uma situação que conduziria àquilo a que Gonçalves Dias designa por “sistema de alcatruzes”, ou moto contínuo. De facto, se o avalista que paga pudesse demandar cambiariamente os outros, também estes podiam demandar aquele, repetindo-se esta ofensiva e contra-ofensiva, sem nunca mais terminar.

Não havendo entre os co-avalistas relações cambiárias, mas somente de direito comum, tem de recorrer-se às normas reguladoras do instituto da fiança, como mais afim, em especial ao estatuído no artigo 650º do C.C., sendo que o nº. 1, deste preceito, remete a situação para as regras das obrigações solidárias. E face a estas, é de presumir a comparticipação em partes iguais da divida. De onde se conclui que no caso vertente o co-avalista da livrança, a cujo pagamento procedeu, possui direito de regresso contra a subscritora avalizada (Maria Isabel) pelo montante pago e contra o co-avalista na medida da sua quota de responsabilidade nos avales das livranças.”.

Atentos os fundamentos supra mencionados, facilmente se vislumbra que nas relações entre co-avalistas em sede de aval colectivo, o direito de regresso existente entre esses obrigados

cambiários não consubstancia a existência de uma acção cambiária a favor do co-avalista que pagou a livrança contra os não pagadores da mesma, uma vez que tal situação é regida pelas normas de direito comum, nomeadamente as normas referentes à fiança, podendo inclusivamente ser discutido qual a medida da responsabilidade de cada um dos avalistas no pagamento da livrança, neste sentido leia-se também o Ac. do TRL, datado de 18/01/2006, Ac. TRP, datado de 12/12/2002, Ac. TRL datado de 13/05/1997, Ac. do STJ datado de 24/10/2002 e datado de 21/02/1967, todos disponíveis em www.dgsi.pt.

Tanto é assim que, o avalista que paga voluntariamente a livrança só tem direito de regresso contra os seus co-avalistas, se houver previamente excutido todos os bens do devedor principal, salvo se houver convenção dos co-avalistas que anule tal exigência – conforme Ac. do TRP datado de

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27/02/2007, disponível no mesmo site.

Atento o exposto, carecendo o avalista pagador de direito de acção cambiária contra o co-avalista relapso não configurando a livrança título executivo enquanto documento cambiário, resta saber se a mesma poderá consubstanciar um documento quirógrafo ou documento assinado pelo devedor a reconhecer uma obrigação pecuniária, nos termos do disposto no artigo 46º nº. 1 al. c) do C.P.C.

Com a redacção dada ao mencionado dispositivo legal pelo D.L. nº. 329-A/95 de 12/12 e 180/96 de 25/09, veio a considerar-se título executivo o documento particular, assinado pelo devedor que importe constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias cujo montante seja determinado ou determinável.

Ora, atento o que se expôs relativamente ao regime aplicável ao caso de acções de regresso entre co-avalistas, parece-nos que não é possível considerar que a livrança possa funcionar como

documento particular de constituição ou reconhecimento de dívida do co-avalista, neste caso executado/opoente, para com o co-avalista pagador da mesma, neste caso os exequentes, pois deste documento resulta apenas a obrigação de garantia assumida pelos avalistas face às obrigações do avalizado, mas não resulta a constituição ou o reconhecimento de obrigações pecuniárias entre co-avalistas, uma vez que, não fornecendo a livrança esses elementos indispensáveis de obrigação de pagamento ou de reconhecimento de dívida do co-avalista

executado para o co-avalista exequente, não satisfaz os requisitos previstos no artigo 46º nº. 1 al. c) do C.P.C., não constituindo por isso título executivo, sendo necessário que o direito de sub-rogação do co-avalista que pagou a livrança para com os demais co-avalistas tenha que ser

exercido através de processo declarativo próprio, neste sentido leiam-se os Ac. do TRP datados de 05/01/1999 e 12/11/2002, ambos disponíveis em www.dgsi.pt.

Atento o exposto, facilmente se conclui que o ora requerente nem sequer pode aproveitar o título executivo em seu favor contra o co-avalista.

Por tudo o que ficou dito, não tendo existido qualquer cessão de créditos, mas tão só, eventualmente, um direito de regresso por parte do ora requerente, o presente incidente é manifestamente improcedente, devendo o requerente, querendo, intentar a respectiva acção declarativa.

A manifesta improcedência constitui fundamento de indeferimento liminar do requerimento inicial, nos termos das disposições conjugadas constantes dos arts. 234º, 4, 234º-A,1, 372º, 1, e 376º, 1, a), do CPC.

Face à decisão que se anuncia, o requerente será condenado nas custas devidas, nos termos do art. 446º do CPC e 16º, 1, do CCJ.

Pelo exposto, com fundamento na sua manifesta improcedência, indefiro liminarmente o requerimento inicial do presente incidente de habilitação de cessionário. “.

Apresentou o requerente recurso desta decisão, o qual foi admitido como de agravo ( cfr. 58 ). Juntas as competentes alegações, a fls. 248 a 271, formulou o agravante as seguintes conclusões: A) Na decisão de que ora se recorre, o Tribunal a quo fez uma incorrecta apreciação dos

elementos probatórios juntos aos autos, em específico do documento n.º 1 junto com o requerimento de habilitação como cessionário apresentado pelo ora apelante;

B) Com base nessa incorrecta apreciação, o Tribunal a quo concluiu que não fora celebrado qualquer contrato de cessão de crédito pelo que, nos termos do disposto nos artigos 577.º e seguintes do Código Civil, o pedido do ora apelante era legalmente inadmissível.

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decisão sob censura, tal contrato foi efectivamente celebrado, encontrando-se, inclusivamente junto aos autos com o requerimento de habilitação como cessionário apresentado pelo ora apelante; D) Com efeito, do teor do referido contrato resulta, de forma clara, que as partes que o

subscreveram pretendiam, inequivocamente, operar a transmissão para o ora apelante do crédito que o B., S.A. detinha sobre os executados;

E) Assim, constata-se que – apesar de lhe assistir razão no que concerne à legitimidade do ora apelante para reclamar do seu co-avalista parte das quantias que liquidou – o Tribunal a quo não tinha fundamento algum para indeferir liminarmente o pedido de habilitação do ora apelante como cessionário, pelo menos no que concerne à executada M., a subscritora da livrança que serve de título executivo à presente execução;

F) Deste modo, ao indeferir liminarmente o pedido de habilitação formulado pelo ora apelante com o fundamento de que o requerimento de habilitação de cessionário por si apresentado era manifestamente improcedente, a decisão sob recurso violou o disposto nos artigos 234.º-A, 372.º e 376.º do Código de Processo Civil, bem como o disposto nos artigos 32.º e 77.º da LULL;

G) Consequentemente, a decisão sob recurso deverá ser revogada e substituída por outra que ordene que os autos prossigam os seus termos até final;

Nestes termos, deve ser dado provimento ao presente recurso e, em consequência, revogada a decisão recorrida e substituída por outra que decida nos termos supra expostos.

Não houve resposta.

Foi proferido despacho de sustentação conforme fls. 76. II – FACTOS PROVADOS.

Foi dado como provado em 1ª instância :

O B., SA requereu a extinção da instância, cfr. fls. 21. Os autos foram remetidos à conta.

A livrança dada à execução no montante de € 13.418,61, foi subscrita por M. e avalizada por Mi. e L..

Resulta da análise dos autos que :

O requerente, ora agravante, juntou aos autos os seguintes documentos : “ Acordo.

Entre :

B., S.A. ( … ), de ora em diante designada por PRIMEIRA OUTORGANTE ; E

L. ( … ), de ora adiante designado por SEGUNDO OUTORGANTE ; Considerando que :

A) O B. S.A., instaurou contra o SEGUNDO OUTORGANTE, M. e Mi., uma execução que tem por título uma livrança datada de 19/07/2002, vencida em 22/06/2005, no valor total de € 13.418,61, subscrita por M., a quem o segundo outorgante deu o seu aval, e cujo valor nessa data ascendia a € 13.442,47 e em que foram peticionados juros vincendos contados à taxa legal ;

B) Atento o disposto no artº 32, aplicável por força do disposto no artº 77º, ambos da LULL, logo que se ache integralmente paga a quantia acordada o SEGUNDO ORTORGANTE ficará sub-rogado no direito materializado na mencionada livrança e que dela decorre para todos os legais efeitos ;

É, reciprocamente e de boa fé, celebrado o presente

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Primeira :

Com vista a ser desonerado das responsabilidades da garantia pessoal prestada nos termos supra descritos, o SEGUNDO OUTORGANTE obriga-se a pagar à PRIMEIRA OUTORGANTE a quantia global de € 13.788,84 ( treze mil, setecentos e oitenta e oito euros e oitenta e quatro cêntimos ), sendo € 13.418,61 referente a capital e € 370,23 respeitante a juros e a imposto de selo.

Segunda :

1 - O montante global descrito na cláusula anterior, será liquidado em doze prestações mensais, iguais e sucessivas, no valor de € 1.149,07 ( mil cento e quarenta e nove euros e sete cêntimos ), cada uma.

2 - A data de vencimento da primeira prestação ocorrerá no dia 31 de Agosto de 2005 e da última em 31 de Julho de 2006.

Terceira :

1 - Desde que integralmente paga de todas as prestações previstas no presente acordo, a

PRIMEIRA OUTORGANTE declara nada mais ter a receber quer do SEGUNDO OUTORGANTE, quer da subscritora da livrança, no âmbito da operação acima mencionada.

2 - Com vista a permitir a habilitação do segundo outorgante no processo executivo, a PRIMEIRA OUTORGANTE entregará ao SEGUNDO OUTORGANTE documento comprovativo dos

pagamentos por ele efectuados, declarando que nada mais lhe é devido, considerando efectuada a cedência do crédito exequendo.

Quarta :

Concomitantemente com a assinatura do presente acordo, os aqui OUTORGANTES, assinarão um requerimento conjunto, nos termos e para dos efeitos previstos no artº 882º, do Código de

Processo Civil, a apresentar na acção executiva instaurada pela PRIMEIRA OUTORGANTE a qual foi remetida por correio electrónico à Secretaria-Geral de Execuções de Lisboa em 11 de Julho de 2005, estando-se a aguardar a respectiva distribuição, no qual reproduzirão, com as necessárias adaptações, os supra mencionados termos do acordo a que chegaram.

Feito em Lisboa, aos 25 de Julho de 2005 ( … ). “. ( documento junto a fls. 7 a 8 ).

“ DECLARAÇÃO

J. ( … ) e R. ( … ), em representação da sociedade I. LLC ( … ), com poderes para o acto.

Declaram que L., residente ( … ) efectuou o pagamento da quantia de EUR 13.722,00 ( treze mil, setecentos e vinte e dois euros ) respeitante a um acordo de pagamento de dívida referente à operação identificada pelo número … celebrado entre o B. e L. em 25 de Julho de 2005, sendo emitido o respectivo recibo de quitação.

O B., S.A. cedeu à sociedade I. LLC o seu crédito resultante desse contrato de reestruturação da dívida, por contrato de cessão de créditos celebrado em 30 de Setembro de 2005.

Lisboa, 29 de Novembro de 2006. “. ( documento junto a fls. 24 ).

III – QUESTÕES JURÍDICAS ESSENCIAIS.

São as seguintes as questões jurídicas que importa dilucidar:

Indeferimento liminar do requerimento de habilitação. Legitimidade do requerente para prosseguir a execução contra a subscritora/avalizada. Caracterização do acordo realizado entre este e o

exequente. Sub-rogação. Regime e efeitos. Passemos à sua análise :

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O Banco exequente deu à execução uma livrança no montante de € 13.418,61, que fora subscrita por M. e avalizada por Mi. e L..

Com base no pagamento ( extrajudicial ) do seu crédito, requereu a extinção da execução. Entretanto,

Veio o executado L. requerer a sua habilitação nos termos dos artsº 372º a 376º, do Código de Processo Civil, invocando a celebração do contrato de cessão de créditos em seu favor, nos termos do artº 577º, nº 1, do Código Civil, consubstanciado nos documentos que apresentou em juízo. O juiz a quo indeferiu liminarmente tal requerimento (tanto em relação à executada subscritora como ao executado co-avalista).

Apreciando :

Cumpre, preliminarmente, referir que o agravante, no âmbito do recurso que apresentou,

reconheceu expressamente fundamento e razão ao despacho de indeferimento liminar quanto ao co-avalista da livrança exequenda - Mi.

Isto é,

Aceitou que o requerimento de habilitação não poderá ser contra ele dirigido, uma vez que se trata de um co-avalista na livrança exequenda, tendo em atenção a jurisprudência pacificamente firmada a este respeito.

Insiste, contudo, em que deverá prosseguir o incidente de habilitação relativamente à subscritora do título - M. -, que é devedora do montante por si extrajudicialmente pago ao exequente, em virtude da sub-rogação operada nos termos do artº 32º e 77º, da Lei Uniforme sobre Letras e Livranças.

Assim sendo,

Há que considerar como transitado em julgado o indeferimento liminar proferido relativamente ao co-avalista Mi., cingindo-se o presente agravo à posição da subscritora da livrança, M..

Vejamos :

O incidente de habilitação destina-se a promover a substituição da parte primitiva pelo seu sucessor na situação jurídica litigiosa.[1].

É legalmente destinado a concretizar a substituição da lide de alguma das partes, devido à

alteração na titularidade da relação substantiva em litígio, verificada na pendência da acção e que resulta da transmissão, por via negocial, do respectivo direito.

Tal incidente é extensivo à acção executiva, nos termos gerais do artº 56º, nº 1, do Cod. Proc. Civil, interpretando-se o conceito de “ sucessão “, em sentido amplo[2].

In casu,

A pretensão do ora requerente assenta, basicamente, na transmissão em seu favor – por via sub-rogatória – do direito exequendo incorporado na relação cambiária.

Da análise dos documentos juntos aos autos pelo requerente resulta que o exequente B. e L. consumaram um acordo de pagamento do débito em apreço, através da fixação de um plano de pagamento fraccionado da dívida exequenda.

Não se trata, tecnicamente, de uma cessão de créditos, tal como a figura se encontra prevista no artº 577º, nº 1, do Código Civil, uma vez que a transmissão do direito acontece no preciso momento em o exequente deixa de ser titular do crédito, por via do seu pagamento realizado pelo avalista no título.

A este propósito,

O que do documento relevantemente consta é que : “Atento o disposto no artº 32, aplicável por força do disposto no artº 77º, ambos da LULL, logo que se ache integralmente paga a quantia

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acordada o SEGUNDO ORTORGANTE ficará sub-rogado[3] no direito materializado na mencionada livrança e que dela decorre para todos os legais efeitos. “.

Com efeito,

Estipula o artº 32º, da LULL, aplicável ao regime jurídico das livranças, em conformidade com o artº 77º, do mesmo diploma legal :

“ Se o dador de aval paga a letra ( livrança ), fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra ( livrança ) contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra ( livrança ). “.

Paralelamente, dispõe o artº 644º, do Código Civil : “ O fiador que cumprir a obrigação fica sub-rogado nos direitos do credor, na medida em que foram por ele satisfeitos. “[4].

A figura da sub-rogação, sendo igualmente uma forma de transmissão de créditos (pelo

cumprimento), distingue-se substantivamente da cessão de créditos prevista no artº 577º, nº 1, do Cod. Civil[5].

Conforme refere Antunes Varela in “ Das Obrigações em Geral “, Volume II, pags. 322 a 324 : “ Paredes meias com a cessão de créditos que assente no negócio de disposição celebrado entre o credor ( cedente ) e o terceiro adquirente do crédito ( cessionário ), há uma outra modalidade importante de transmissão do crédito, baseada no cumprimento da obrigação ( ou em acto equivalente ), a que a lei e os autores dão o nome de sub-rogação ( artsº 589º e segs. ) ou a designação menos abreviada de sub-rogação pelo pagamento.

( … ) pode assim definir-se, segundo um critério puramente descritivo, como a substituição do credor, na titularidade do direito a uma prestação fungível, pelo terceiro que cumpre em lugar do devedor ou que faculta a este os meios necessários ao cumprimento.

( … ) A cessão ( de créditos ) serve o interesse da circulação do crédito, enquanto a sub-rogação visa apenas compensar o sacrifício que o terceiro chamou a si com o cumprimento da obrigação alheia. “.

Importa, a este respeito, salientar que

A sub-rogação é havida como uma forma de transmissão do crédito e não como uma forma de extinção da obrigação[6].

Ora,

o artº 376º, do Cod. Proc. Civil referente ao incidente de habilitação, tanto será aplicável às situações de cessão de créditos, previstas no artº 577º, do Cod. Proc. Civil, como às de sub-rogação.

Em ambos os casos, os habilitandos recebem do exequente o direito que aquele era titular - que não se extinguiu pelo pagamento - e que se encontrava incorporado no título dado à execução. Nenhuma razão existe que impeça o avalista sub-rogado - que pagou integralmente o crédito de que o exequente era titular - de prosseguir, com base no disposto nos artsº 32º e 77º, da LULL, na posição processual deste contra a executada subscritora da livrança, a qual passou, enquanto sujeito avalizado, a ser directamente responsável perante o novo credor, que integra a mesma relação cambiária[7].

Com efeito,

Entre o avalista e o avalizado verifica-se uma relação de natureza cambiária que justifica, no plano substantivo, que o direito transmitido por via sub-rogatória possa ser exercido com base no título dado à execução.

Neste mesmo sentido, vide acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 23 de Novembro de 2010 ( relator Fonseca Ramos ), publicado in www.dgsi.pt, no qual o incidente de habilitação só não é

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admitido no âmbito do processo executivo e por via do instituto da sub-rogação, por ter sido dirigida contra os co-avalistas e não contra os subscritores do título[8].

Não há assim fundamento para o indeferimento liminar do requerimento de habilitação quanto à executada M..

O agravo merece, nestes termos, provimento. IV - DECISÃO :

Pelo exposto, acordam os Juízes desta Relação em conceder provimento ao agravo, revogando-se a decisão recorrida, a qual será substituída por outra que, admitindo liminarmente o requerimento de habilitação contra a executada M., dê prosseguimento aos trâmites processuais deste mesmo incidente.

Sem custas.

Lisboa, 22 de Novembro de 2011. Luís Espírito Santo

Gouveia Barros Conceição Saavedra

---[1] Vide Lebre de Freitas in “ Código de Processo Civil Anotado “, Volume I, pag. 631 ; Anselmo de Castro in “ Direito Processual Civil Declaratório “, Volume II, pags. 154 a 156.

[2] Sobre este ponto, vide Lebre de Freitas, in “ A Acção Executiva “, pags. 102 a 103 ; Lopes Cardoso in “ Manual da Acção Executiva “, pags 99 a 100 ; acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 15 de Fevereiro de 2007 ( relator Olindo Geraldes ) que refere diversas decisões jurisprudenciais sobre o tema.

[3]Sublinhado nosso.

[4] Refere, a este propósito, Luís Menezes Leitão, in “ Garantias das Obrigações “, pag. 114 : “ Desta norma resulta que, apesar da existência de uma obrigação do fiador perante o credor ( artº 627º, nº 1 ), o cumprimento da obrigação pelo fiador não é equiparado ao cumprimento pelo devedor solidário, na medida em que não confere apenas um direito de regresso, mas antes

implica, por via da sub-rogação legal ( artº 592º, nº 1 ), uma verdadeira transmissão do crédito para o fiador, com todos os seus acessórios e garantias. “.

[5] Sobre a natureza jurídica da sub-rogação, nomeadamente em confronto com o direito de regresso, vide entre outros, acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 23 de Outubro de 2003 ( relator Lucas Coelho ) ; acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 26 de Março de 2009 ( relatora Teresa Soares ) ; acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 15 de Setembro de 2004 ( relator Fernando Baptista ) todos publicitados in www.jusnet.pt ; acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 27 de Abril de 2006 ( relator José Ferraz ), publicado in Colectânea de Jurisprudência, Ano XXXI, tomo II, pags. 187 a 190.

Outrossim o artº 644º, do Código Civil também contempla a figura da sub-rogação do fiador relativamente à pessoa do afiançado em virtude do pagamento do crédito por essa via garantido, referindo, sobre esta matéria, Antunes Varela, in “ Das Obrigações em Geral “, Volume II, pags. 485 a 486 : “ A forma como a lei se exprime, ao afirmar que o fiador, depois de cumprir a

obrigação, fica sub-rogado nos direitos do credor revela, em termos inequívocos, que o

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gera uma verdadeira transmissão do crédito para o fiador. “. No mesmo sentido, vide Luís Menezes Leitão in “ Direito das Obrigações “, Volume II, pags. 324 e 325.

[6] Vide Pires de Lima e Antunes Varela, in “ Código Civil Anotado “, Volume I, pag. 604 ; Luís Menezes Leitão, in “ Direito das Obrigações “, Volume II, pag. 33, onde refere : “ a sub-rogação consiste na situação que se verifica quando, cumprida uma obrigação por terceiro, o crédito respectivo não se extingue, mas antes se transmite por efeito desse cumprimento para o terceiro que realiza a prestação ou forneceu os meios necessários para o cumprimento. “ ; Inocêncio Galvão Telles, in “ Direito das Obrigações “, pags. 271 a 274 ; Mário Júlio de Almeida Costa, in “ Direito das Obrigações “, pags. 560 a 565.

[7] Vide sobre este ponto, acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 24 de Outubro de 2002 ( relator Silva Salazar ), publicado in Colectânea de Jurisprudência, Ano X, tomo III, pags. 121 a 123. No mesmo sentido, refere Ferrer Correia in “ Lições de Direito Comercial “, pag. 528 : “ Pagando pelo signatário, o dador de aval, ao mesmo tempo que adquire o direito que o portador tinha contra o avalizado, fica ainda investido nos direitos que da letra resultam para este, dada a sua posição na cadeia cambiária. “

[8] Sobre a mesma temática, vide Oliveira Ascensão, in “ Direito Comercial. Volume III. Títulos de crédito. “, pag. 171 ; acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27 de Outubro de 2009 ( relator Azevedo Ramos ) e acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 18 de Janeiro de 2006 ( relator Farinha Alves ), ambos publicados in www.dgsi.pt.

Referências

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