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Tribunal penal internacional e o princípio da complementaridade.

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

CHAYSE MARIA ANDRADE DE ARAÚJO

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O PRINCÍPIO DA

COMPLEMENTARIDADE

SOUSA - PB

2007

(2)

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O PRINCÍPIO DA

COMPLEMENTARIDADE

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS da

Universidade

Federal

de

Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharela em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Profº. Esp. Thiago Marques Vieira.

SOUSA - PB

2007

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T R I B U N A L P E N A L I N T E R N A C I O N A L E O P R I N C I P I O DA C O M P L E M E N T A R I D A D E

T r a b a l h o de C o n c l u s a o a p r e s e n t a d o ao Curso de Ciencias Juridicas e Sociais, d a Universidade Federal de C a m p i n a G r a n d e , e m c u m p r i m e n t o d o s requisitos necessarios para a o b t e n c a o do titulo de Bacharel e m Ciencias Juridicas e Sociais.

A p r o v a d o e m 13 de d e z e m b r o de 2 0 0 7 .

C O M I S S A O E X A M I N A D O R A

Prof. T h i a g o Marques Vieira - U F C G Professor Orientador

Prof, (a) Carla Rocha - U F C G E x a m i n a d o r a

Prof. Leonardo de Figueiredo - U F C G E x a m i n a d o r

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por tudo que r e p r e s e n t a m e m minha vida, pelo a m o r incondicional que m e d e v o t a m , por acreditarem e m m i m e por todo incentivo d a d o .

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A g r a d e g o primeiramente a Deus, por ser o gerador de toda minha forga e obstinagao, por dar o d o m da perseveranga, da vida e da s a u d e .

A o s m e u s pais, Maria da Luz e Benelio, que investiram d e s d e de crianga nos m e u s estudos e no m e u sonho, acreditando sempre e m minha c a p a c i d a d e e e m u m futuro promissor. A eles que sao m e u a m o r maior e m e u alicerce, agradego.

A s minhas irmas, C h u y a m a e C h a y a n n e , que m e s m o a distancia estao s e m p r e c o m i g o e m p e n s a m e n t o s e oragoes, me d e v o t a n d o amor.

A minha avo Cezarina pelo apoio e pelas palavras de carinho.

A s minhas a m i g a s , Grace, Virginia, D a y a n e , S h a y o n a r a e Shanally, que ultrapassam o conceito de a m i z a d e , t o r n a n d o - s e a familia que aqui f o r m e i e escolhi, nao necessitando de lagos s a n g u i n e o s para existir o a m o r sincero e reciproco. Pelas risadas s e m f i m , pela c a m i n h a d a e m conjunto, pelas noites m a l - d o r m i d a s , pelo carinho incondicional, pelos cuidados d e v o t a d o s e por t o d o s os m o m e n t o s vividos e eternizados durante esses cinco anos de curso e por toda u m a trajetoria que esta por vir.

A o s m e u s colegas, pela troca de c o n h e c i m e n t o , pela boa convivencia e carinho no dia a dia, por fazer da minha vida universitaria u m a f a s e inesquecivel e m e m o r a v e l , obrigada a todos de coragao.

A G e r m a n o , hoje bom a m i g o , que ficou ao m e u lado durante q u a s e toda a duragao do m e u curso, d a n d o incentivo para que eu p u d e s s e c h e g a r ate o f i m .

A o m e u orientador e amigo, Thiago M a r q u e s , pela paciencia, seriedade e dedicagao que teve para a feitura d e s s a pesquisa e por nao m e deixar fraquejar.

A o s professores que a m i m lecionaram, e aos funcionarios da Instituigao, que f a z e m c o m que nao sejamos mais u m aluno no C a m p u s , e sim a l g u e m especial.

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r e c o n h e c i m e n t o do sofrimento d a s vitimas. E para o s a f e t a d o s , e m muitos c a s o s , este r e c o n h e c i m e n t o e parte essencial de seu processo de reabilitagao".

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O s primeiros tribunals penais ao i m p l e m e n t a r e m u m a jurisdicao de carater supranacional - c o m o o Tribunal de N u r e m b e r g , d e T o q u i o e os Tribunals ad hoc para a ex-lugoslavia e para R u a n d a - a t u a r a m a p e n a s de m o d o limitado, e m razao do espago e do t e m p o . A s s i m , e m face das n e c e s s i d a d e s de repressao aos crimes humanitarios, cada vez mais frequentes na atualidade, e q u e , no ano de 1998, foi formalizado o Estatuto de R o m a que deu origem ao Tribunal Penal Internacional c o m jurisdigao a m p l a e p e r m a n e n t e , cuja ativagao s o m e n t e ocorreu e m 2 0 0 2 . C o n f o r m e s u a s disposigoes, a p e n a s os cidadaos nascidos nos p a i s e s signatarios ao Estatuto p o d e m sofrer a persecugao penal, assim c o m o individuos de Estados que nao a c e i t a r a m a jurisdigao desta Corte, mas que c o m e t e r a m crime no territorio d e u m Estado-parte. A proposta principal desta pesquisa e abordar c o m o , pela incidencia d o principio da c o m p l e m e n t a r i d a d e , brasileiros natos poderao ser 'entregues' e j u l g a d o s pelo referido Tribunal, e t a m b e m se estes p o d e r a o responder a pena de

carater perpetuo. Para o d e s e n v o l v i m e n t o deste objetivo, mister se fez o estudo de doutrinas e artigos pertinentes ao t e m a , utilizando-se d o s m e t o d o s classicos de interpretagao da n o r m a , c o m o o literal, sistematico e historico, b e m c o m o o exegetico-juridico e dedutivo. Para se ter u m a a b o r d a g e m a d e q u a d a sobre o Tribunal Penal Internacional foi necessario u m l e v a n t a m e n t o historico, sob os a s p e c t o s da evolugao de institutos internacionais c o m p e t e n t e s para solucionar divergencias entre povos de nacionalidades distintas. Foi d e v i d a m e n t e esclarecida t a m b e m toda a estrutura e os p r o c e d i m e n t o s ocorridos no T P I , para que se tenha u m melhor e n t e n d i m e n t o da Entidade julgadora e m q u e s t a o . A g r a n d e c e l e u m a se deu quanto as n o r m a s d a Carta M a g n a brasileira e a l g u m a s n o r m a s do Estatuto de R o m a , que rege o T P I . E j u s t a m e n t e a i o n d e ocorre o conflito maior do presente trabalho, c o m a possibilidade do Brasil, pais s o b e r a n o , ratificar e m sua integralidade o Estatuto de R o m a , que c o n t e m e m seus artigos 77 (adogao de prisao perpetua) e 89 (extradigao) clausulas d e v i d a m e n t e c o m b a t i d a s pela Constituigao. C l a r a m e n t e os direitos h u m a n o s sao feridos, m e s m o q u e , as possibilidades de sangoes supracitadas so o c o r r a m e m crimes de natureza g r a v e . No entanto, os Direitos H u m a n o s internacionais d e v e m prevalecer e m face d o s Direitos H u m a n o s d e s s e s criminosos, por se tratar de tutela a bens juridicos i m p o r t a n t i s s i m o s . A partir deste e n t e n d i m e n t o , concluiu-se q u e , e m virtude dos bens protegidos, nao pode o conceito de soberania ser obstaculo para a sujeigao a c o m p e t e n c i a do T P I , a s s i m c o m o d e t e r m i n a d o pelo proprio Estatuto de R o m a .

Palavras-chave: Tribunal Penal Internacional. Principio da Complementaridade. Direitos Humanos Internacionais.

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T h e first penal tribunals to the they implement a jurisdiction of character supranacional - as the Tribunal of N u r e m b e r g , of T o k y o and the Tribunals ad hoc for to former-Yugoslavia and for R w a n d a - they j u s t acted in a limited w a y , in reason of the space and of the time. T h u s , in f a c e of the repression n e e d s to the humanitarian c r i m e s , m o r e and m o r e frequent at the present time, it is that, in the year of 1998, it w a s formalized the Statute of R o m e that created the International Penal Tribunal with wide and p e r m a n e n t jurisdiction, w h o s e activation only h a p p e n e d in 2 0 0 2 . A c c o r d i n g to its dispositions, the citizens born in the countries signatories to the Statute can just suffer the penal persecucao, as well as individuals of States that didn't accept the jurisdiction of this Court, but that m a d e crime in the territory of a State-part. T h e main proposal of this research is to a p p r o a c h as, for the incidence of the beginning of the complementarity, Brazilian born they can be 1 e n t r e g u e s ' and j u d g e d by the referred

T r i b u n a l , and also if these can a n s w e r to the feather of perpetual character. For the d e v e l o p m e n t of this objectify, occupation m a d e himself the study of doctrines and pertinent g o o d s to the t h e m e , being used of t h e classic m e t h o d s of interpretation of the n o r m , as the literal, systematic and historical, as well as the exegetico-juridical and deductive. T o have an appropriate a b o r d a g e m on the International Penal Tribunal it w a s necessary a historical rising, under the aspects of the evolution of c o m p e t e n t international institutes to solve divergences a m o n g people of different nationalities. T h e w h o l e structure and the procedures h a p p e n e d in T P I w a s illuminated properly also, so that a better understanding of the j u d g i n g Entity is had in subject. T h e great celeuma gave him with relationship to the norms of the Letter Brazilian M a g n a and s o m e norms of the Statute of R o m e , that g o v e r n s T P I . It is exactly there w h e r e it h a p p e n s the larger conflict of the present w o r k , with the possibility of Brazil, sovereign country, to ratify in its integralidade the Statute of R o m e , that contains in its goods 77 (adoption of perpetual prison) and 89 (extradition) clauses properly c o m b a t t e d by the Constitution. Clearly the h u m a n rights are hurt, even if, the possibilities of a b o v e - m e n t i o n e d sanctions only h a p p e n in crimes of serious nature. However, the international H u m a n Rights should prevail in f a c e of the those criminals' Direitos H u m a n o s , for being of it tutors to g o o d s juridical i m p o r t a n t i s s i m o s . Starting f r o m this u n d e r s t a n d i n g , it w a s e n d e d that, by virtue of the protected g o o d s , it cannot the sovereignty concept to be obstacle for the subjection to the c o m p e t e n c e of T P I , as well as having d e t e r m i n e d for the o w n Statute of R o m e .

Word-key: International Penal tribunal. Beginning of the Complementarity. International Human rights.

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A R T - Artigo

C F - Constituicao Federal CPI - Corte Penal Internacional

C P U - Corte Penal Internacional de Justica EC - E m e n d a Constitucional

E U A - Estados Unidos da A m e r i c a

I L A N U D - Instituto Latino A m e r i c a n o das N a c o e s Unidas O N U - O r g a n i z a c a o das N a c o e s Unidas

S T F - S u p r e m o Tribunal Federal T P I - Tribunal Penal Internacional

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I N T R O D U Q A O 10

C A P I T U L O 1 14 1.1 Origens Historicas 14

1.2 O Tribunal Penal Internacional 19

1.3 O Estatuto de R o m a 22 1.4 Organizagao do Tribunal Penal Internacional e seu procedimento 23

1.5 C o m p e t e n c i a do TPI 26

C A P f T U L O 2 29 2.1 Conceito de principio e influencia do pos-positivismo 29

2.2 Jurisdigao 34 2.3 Soberania 36 2.4 Principio d a c o m p l e m e n t a r i d a d e 40

2.5 A t u a g a o do Principio da c o m p l e m e n t a r i d a d e 42

2.6 Outros principios a b o r d a d o s pelo TPI 45

C A P I T U L O 3 47 3.1 Hierarquia d a s normas internacionais no o r d e n a m e n t o j u r i d i c o brasileiro.. 47

3.2 Conflito entre tratados internacionais e n o r m a s internas 49

3.3 N o r m a s internacionais de direitos h u m a n o s 53 3.4 Litigio entre o art. 89 do Estatuto de R o m a e a v e d a g a o da Constituigao

Federal a extradigao 54 3.5 Instituto da prisao perpetua no TPI e m confronto c o m os direitos e

garantias f u n d a m e n t a l s da C F 59 3.6 Direitos H u m a n o s dentro do TPI 61

C O N S I D E R A Q O E S FINAIS 63

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A criagao de Tribunals internacionais tornou-se necessaria para por fim aos conflitos existentes d e s d e os primordios, m a s que so f o r a m evidenciados c o m o s u r g i m e n t o da civilizagao e u m a delimitacao maior de territorio e a concretizagao de Nagoes independentes.

Essas Nagoes s o b e r a n a s a p r e s e n t a m jurisdigao estatal. A jurisdigao nada mais e que u m a atividade constante, por meio da qual o Estado, pelos seus o r g a o s e s p e c i f i c o s , prove a tutela do direito subjetivo, aplicando o direito objetivo a u m a situagao concreta. Isto e, a jurisdigao e a subjetividade no j u l g a m e n t o e m que exista u m litigio nos casos concretos entre particulares. No Brasil, a soberania e exercida atraves de sua jurisdigao e de suas leis internas contidas na Carta M a g n a , d e n o m i n a d a Constituigao Federal.

A premissa que norteia a jurisdigao penal internacional nao se restringe ao d o g m a t i s m o dos e l e m e n t o s de territorialidade e soberania interna. No piano internacional, nao ha hierarquia entre as jurisdigoes nacionais, porquanto nao ha poder verticalizado, as relagoes internacionais sao horizontais, decorrentes d a harmonia do "pacto das soberanias", o n d e n e n h u m Estado deixa de ser mais ou m e n o s s o b e r a n o ao permitir que decisoes estrangeiras p r o d u z a m efeitos e m seus territorios, ja que o ato permissivo e u m exercicio de soberania.

A Corte Internacional de Justiga, principal orgao judicial das Nagoes Unidas, foi destinada a tratar originalmente de disputas entre Estados e nao possui jurisdigao acerca de materias que e n v o l v a m responsabilidade penal individual.

O velho s o n h o do estabelecimento de u m a jurisdigao internacional que persiga os grandes criminosos responsaveis por crimes de proporgoes inimaginaveis c o m e g o u a se fazer realidade no final do seculo X X , m a i s p r e c i s a m e n t e e m 1998, q u a n d o foi a p r o v a d o e m R o m a o Estatuto do Tribunal Penal Internacional, contendo 128 artigos. Delegagoes c o m p o s t a s por varios p a i s e s , inclusive o Brasil, c o l a b o r a r a m c o m a elaboragao de tais artigos que tratam da criagao, estabelecimento e f u n c i o n a m e n t o , entre outros t e m a s , de u m a Corte Criminal p e r m a n e n t e c o m ambito de atuagao internacional.

T a l v e z o respaldo historico mais visivel que t e n h a contribuido para a criagao desta Corte tenha sido a implantagao dos Tribunals Internacionais de T o q u i o e o

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f a m o s o Tribunal de N u r e m b e r g logo a p o s o d e s f e c h o da II G r a n d e G u e r r a M u n d i a l . A ideia foi a criagao de u m tribunal p e r m a n e n t e para q u e nao h o u v e s s e sujeigao a d e t e r m i n a d a jurisdigao de excegao que viola u m a g a m a de principios reconhecidos e protegidos no ambito internacional, a e x e m p l o de u m j u l g a m e n t o imparcial.

O Tribunal Penal Internacional tera jurisdigao compartilhada c o m os tribunals nacionais. P o r e m , o TPI so atuara q u a n d o esses tribunals nacionais nao p o s s a m ou nao q u e i r a m investigar os crimes e as evidencias d o s m e s m o s exigirem a abertura d e processos contra os responsaveis. Essa afirmagao remete ao principio da c o m p l e m e n t a r i d a d e , u m dos objetivos da pesquisa que se iniciara.

A possivel violagao d a soberania brasileira pelas n o r m a s internacionais c o m a adogao do principio m e n c i o n a d o e mais e s p e c i f i c a m e n t e c o m o r e g r a m e n t o do Estatuto de R o m a e materia que sera desenvolvida no estudo cientifico e m q u e s t a o .

O Tribunal Penal Internacional e m seu estatuto abre a possibilidade de haver u m a pena de carater perpetuo e m c o n f o r m i d a d e c o m o crime praticado. No Brasil, a Constituigao Federal veda e s s e tipo de pena. Q u e s t i o n a - s e entao a possibilidade da norma internacional se sobrepor a norma interna, h a v e n d o ou nao u m a usurpagao no sentido de substituigao, de preceito constitucional f u n d a m e n t a l e garantista por lei exterior.

O conflito entre essas normas dentro do TPI a b o r d a t a m b e m outro polemico instituto, o da extradigao, que e autorizado pelo Estatuto de R o m a e t a m b e m v e d a d o pelo Constituigao para os brasileiros natos. Essa e u m a d i s c u s s a o a m p l a m e n t e a b o r d a d a por doutrinadores e juristas por tratar de u m t e m a atual e palpitante.

O b s e r v a - s e t a m b e m a importancia de e s c l a r e c i m e n t o s mais profundos sobre tais questoes diante da g r a n d e repercussao no a m b i t o juridico a respeito d e problematicas c o n c e r n e n t e s ao pilar do Direito brasileiro, que e a Constituigao e possivel violagao de suas regras e da soberania nacional.

Em outro aspecto relevante, sera feita a a b o r d a g e m dos direitos H u m a n o s dentro d e s s e conflito estabelecido, pelo fato dos artigos s u p o s t a m e n t e lesados e s t a r e m inseridos no rol de garantias f u n d a m e n t a l s da C F . Ressaltar-se-a que nao se trata de lesao a qualquer direito H u m a n o , e sim de u m direito H u m a n o internacional, mais a b r a n g e n t e e hierarquicamente superior.

A universalizagao dos direitos h u m a n o s baseia-se e m m e t o d o dedutivo de principios c o m u n s a todos os povos, sobre os quais a c o m u n i d a d e internacional buscou identificar aqueles que representam a d i g n i d a d e d a pessoa h u m a n a .

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Considerar a existencia de valores c o m u n s da h u m a n i d a d e pode parecer ingenuo diante do relativismo etico dos conceitos, mas cuida-se d o s bens f u n d a m e n t a l s do ser h u m a n o , sobre os quais o Direito internacional d e v e efetivar a inviolabilidade.

A teorizacao d e s s e s direitos d e s e n v o l v e u - s e ao longo da historia a s o m b r a das c o n c e p c o e s jusnaturalistas dos direitos f u n d a m e n t a l s da pessoa h u m a n a , de onde p r o v e m a nocao de que tais direitos sao inatos, absolutos, inviolaveis, intransferiveis e imprescritiveis. E por esse angulo que sera analisado este t e m a .

Para a c o n s e c u c a o do desiderato proposto far-se-a o uso dos m e t o d o s classicos de investigagao da norma juridica, c o m o o literal, sistematico, historico. C o m o a investigagao no ambito do Direito g e r a l m e n t e e realizada v i s a n d o a d i s c u s s a o de questoes resolvidas dentro do proprio sistema utilizar-se-a de doutrina e artigos pertinentes a tematica levantada a fim de subsidiar ao quartio juis suscitado.

Neste trabalho foram desenvolvidos tres capitulos, o n d e o primeiro versara sobre os a n t e c e d e n t e s historicos do Tribunal Penal Internacional, a n e c e s s i d a d e de sua criagao, e m que ele consiste e suas caracteristicas. A b o r d a r a t a m b e m o Estatuto de R o m a e s e u s artigos, a organizagao do Tribunal b e m c o m o seu p r o c e d i m e n t o e por fim e nao m e n o s importante, sua c o m p e t e n c i a de jurisdicional.

O s e g u n d o capitulo esbogara u m dos e n f o q u e s d a p e s q u i s a , a p r e s e n t a n d o inicialmente o conceito de principio e a influencia do pos-positivismo nessa conceituagao, u m a dissertagao sobre a Jurisdigao e m s e u s a s p e c t o s gerais, o conceito e o papel da soberania no e n f o q u e do principio d a c o m p l e m e n t a r i d a d e e de materia abordada no capitulo superveniente, conceito do citado principio , finalidade e atuagao dentro do T r i b u n a l , e os outros principios inerentes ao m e s m o t a m b e m de g r a n d e relevancia.

No terceiro e ultimo capitulo, surgira a problematica principal, discutida no decorrer da pesquisa, iniciando-se a analise c o m a hierarquia das normas

internacionais dentro do o r d e n a m e n t o juridico brasileiro, p a s s a n d o pelo conflito entre as normas internas e os tratados internacionais, as normas internacionais de direitos H u m a n o s e sua soberba relevancia no t e m a . E m s e g u i d a , serao a b o r d a d a s as polemicas da possibilidade de pena de prisao perpetua e da extradigao de brasileiros natos o r d e n a d a s pelo Estatuto de R o m a e ratificadas pelo Brasil, a p e s a r da restrigao contida na Constituigao Federal. Finalizar-se-a c o m a explanagao da importancia dos Direitos H u m a n o s dentro do Tribunal.

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0 assunto cerne da pesquisa v e m a ser o q u e de fato o principio d a c o m p l e m e n t a r i d a d e sustenta e a relacao c o m o Tribunal Penal Internacional junto as jurisdicoes estatais e mais especificamente dentro da jurisdigao brasileira.

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C A P I T U L O 1

O estudo do Tribunal Penal Internacional (TPI) esta intimamente ligado a propria historia da h u m a n i d a d e e as inumeras violacoes de direitos h u m a n o s ocorridas no periodo s o m b r i o do Holocausto, que foi o g r a n d e marco de desrespeito e ruptura para c o m a dignidade da pessoa h u m a n a , e m virtude d a s barbaries e das atrocidades c o m e t i d a s a milhares de pessoas (principalmente contra os j u d e u s ) durante a S e g u n d a Guerra Mundial. Portanto, qualquer analise que se queira e m p r e e n d e r e m relagao ao TPI e a problematica dos direitos h u m a n o s d e v e ser precedida de u m a investigagao, ainda que breve, de s u a s o r i g e n s , e, principalmente, da elaboragao e regulamentagao do Estatuto de R o m a , diploma regente do referido Tribunal, e x p o n d o a c o m p e t e n c i a e estrutura do m e s m o .

1.1 Origens Historicas

Desde que o ser h u m a n o c o m e g o u a viver e m s o c i e d a d e surgiram guerras entre os g r u p o s distintos. C o m o passar dos t e m p o s a civilizagao evoluiu e c o m isso, cada v e z mais, a u m e n t a r a m os conflitos. N e s s e interim, era preciso a criagao de Instituigoes c o m p e t e n t e s que p u d e s s e m solucionar estes conflitos no a m b i t o internacional, ja que os m e s m o s ultrapassaram as barreiras d a s Nagoes.

O Tribunal Criminal Internacional mais antigo de que se tern noticia surgiu e m 1474, e m Breisach ( A l e m a n h a ) . Ele era c o m p o s t o por 2 7 j u i z e s do sacro Imperio R o m a n o e julgou e c o n d e n o u , por violagoes a leis h u m a n a s e divinas, Peter v o n H a g e n b a c h . Seu crime constituiu e m autorizar que s u a s t r o p a s e s t u p r a s s e m e m a t a s s e m civis inocentes e s a q u e a s s e m propriedades.

Logo a p o s , e criada a Corte Internacional de Justiga. Esta Corte representou o a u g e de u m longo d e s e n v o l v i m e n t o dos m e t o d o s para a resolugao pacifica d o s conflitos internacionais que existiam e m e p o c a s classicas.

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O artigo 33 d a Carta d a s Nagoes Unidas lista, de f o r m a nao restritiva, os m e t o d o s para a resolugao pacifica d o s conflitos entre Estados. Dentre eles estao: negociagao, inquerito internacional, mediagao, conciliagao, a r b i t r a g e m , solugao judicial, recurso as organizagoes ou a c o r d o s regionais. A l g u n s deles e n v o l v e m apelagao a outros Estados. Historicamente f a l a n d o , a mediagao e a arbitragem p r e c e d e r a m a resolugao judicial. A primeira era c o n h e c i d a na India antiga e no m u n d o Islamico, e n q u a n t o n u m e r o s o s e x e m p l o s d a s e g u n d a e r a m e n c o n t r a d o s na Grecia antiga, na China, entre as tribos a r a b e s , no nascente m u n d o islamico, no direito maritimo costumeiro da Europa medieval e na pratica Papal.

A historia m o d e r n a da arbitragem internacional, entretanto, e reconhecida g e r a l m e n t e c o m o d a t a n d o do assim c h a m a d o "Tratado de J a y " de 1794, entre os Estados Unidos e a Gra Bretanha. Este tratado de A m i z a d e , de C o m e r c i o e de Navegagao estabeleceu a criagao de tres c o m i s s o e s mistas, c o m p o s t a s de u m n u m e r o igual de a m e r i c a n o s e britanicos, cuja tarefa era decidir sobre questoes relevantes entre os dois paises que nao se c o n s e g u i r a m resolver pela negociagao. Nao se falava estritamente e m o r g a o s de j u l g a m e n t o por terceiros, havia a pretensao de que f u n c i o n a s s e m c o m o tribunals. Durante todo o seculo XIX, restabeleceu-se o interesse no processo de a r b i t r a g e m , t e n d o os Estados Unidos e o Reino Unido u s a d o desse recurso, b e m c o m o outros E s t a d o s na Europa e nas A m e r i c a s . Esta e considerada c o m o sendo a primeira f a s e d a historia do d e s e n v o l v i m e n t o d o s T r a t a d o s .

A arbitragem das Reivindicagoes do A l a b a m a , e m 1872, entre o Reino Unido e os Estados Unidos marcou o c o m e g o d a s e g u n d a , e ainda mais decisiva, f a s e . Sob o tratado de W a s h i n g t o n , de 1 8 7 1 , os Estados Unidos e o Reino Unido, e m razao das alegagoes de quebra de neutralidade d e s t e ultimo durante a Guerra Civil A m e r i c a n a , c o n c o r d a r a m e m se s u b m e t e r as exigencias da a r b i t r a g e m . O s dois paises indicaram certas regras que regeriam os d e v e r e s d o s g o v e r n o s neutros, as quais d e v e r i a m ser aplicadas pelo tribunal arbitral, c o n c o r d a n d o - s e que o m e s m o seria c o m p o s t o de cinco m e m b r o s , a s e r e m a p o n t a d o s , r e s p e c t i v a m e n t e , pelos Lideres de Estado dos Estados Unidos, do Reino Unido, do Brasil, d a Italia e da Suiga, e m que os ultimos tres Estados nao f o r a m partes no caso. O p r o s s e g u i m e n t o no uso d e s s e m e t o d o serviu c o m o d e m o n s t r a g a o da eficacia da arbitragem na resolugao d a s principais disputas e l e v o u , durante os ultimos anos do seculo XIX, ao d e s e n v o l v i m e n t o desse recurso.

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A Conferencia de Paz de Haia, e m 1899, marcou o inicio de u m a terceira fase na historia m o d e r n a da arbitragem internacional. O principal objetivo d a conferencia, foi discutir a paz e o d e s a r m a m e n t o . T e r m i n o u a d o t a n d o u m a C o n v e n g a o para Resolugao Pacifica dos Conflitos Internacionais, que tratava nao s o m e n t e da arbitragem, mas t a m b e m de outros m e t o d o s de resolugao pacifica, tais c o m o os bons oficios e a mediagao. C o m respeito a a r b i t r a g e m , a C o n v e n g a o de 1899 fez previsao para a criagao de u m sistema p e r m a n e n t e que permitiria aos tribunals arbitrais se ajustarem c o m o d e s e j a s s e m e que facilitasse a c o n s e c u g a o seus trabalhos.

A Corte P e r m a n e n t e de A r b i t r a g e m foi estabelecida e m 1900 e c o m e g o u a operar e m 1902. A l g u n s anos mais tarde, e m 1907, n u m a s e g u n d a Conferencia de Paz de Haia, a qual os Estados da A m e r i c a Central e do Sul f o r a m t a m b e m c o n v i d a d o s , a C o n v e n g a o foi revisada e as regras que c o n d u z i a m os p r o c e d i m e n t o s arbitrais aperfeigoadas. A Corte P e r m a n e n t e de A r b i t r a g e m que e m 1913 t e v e sua s e d e fixada no "Palacio da Paz" contribuiu positivamente para o d e s e n v o l v i m e n t o do Direito Internacional. Sua existencia independe de t o d a s as organizagoes internacionais restantes.

O trabalho das d u a s Conferencias de Paz de Haia e as ideias que inspiraram os estadistas e os juristas tiveram alguma influencia na criagao da Corte de Justiga Central A m e r i c a n a , que f u n c i o n o u de 1908 a 1918, a s s i m c o m o nos varios pianos e propostas s u b m e t i d o s entre 1911 e 1919, a m b o s por o r g a n i s m o s nacionais e internacionais, para se estabelecer u m Tribunal Internacional de Justiga, culminando na criagao da Corte Penal Internacional de Justiga ( C P U ) dentro d a estrutura do novo sistema internacional surgido apos o fim da Primeira G r a n d e G u e r r a M u n d i a l .

Entre 1922 e 1940 a C P U resolveu 2 9 casos c o n t e n c i o s o s entre E s t a d o s e emitiu 27 pareceres consultivos. Paralelamente u m a c e n t e n a de tratados, c o n v e n g o e s e declaragoes conferiam-lhe jurisdigao sobre classes especificas de conflitos. Dessa f o r m a , qualquer duvida que p u d e s s e existir sobre se u m tribunal judicial internacional permanente poderia funcionar de u m a maneira pratica e efetiva foi, entao, dissipada. D e m o n s t r o u - s e de inicio o valor d a Corte para a c o m u n i d a d e internacional pelo d e s e n v o l v i m e n t o de u m a verdadeira tecnica juridica.

A deflagragao da S e g u n d a Guerra M u n d i a l , e m s e t e m b r o de 1939, o c a s i o n o u , inevitavelmente, c o n s e q u e n c i a s serias para o C P U , que ja c o n h e c i a , durante alguns a n o s , u m declinio de suas atividades, e m razao d a e n o r m e t e n s a o do periodo entre

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guerras e a o r e c r u d e s c i m e n t o das hostilidades entre as nagoes participantes da corrida a r m a m e n t i s t a . Era inevitavel que ate m e s m o s o b r e a tensao d a guerra a l g u m a atengao deveria ser d a d a ao futuro da Corte, c o m o t a m b e m a criagao de u m a nova o r d e m politica internacional.

Foi s o m e n t e c o m a 2a Guerra Mundial que tiveram inicio as jurisdigoes penais

internacionais, c o m a criagao dos Tribunals de N u r e m b e r g e T o q u i o e a partir d a i t a m b e m vieram as opinioes contrarias aos tribunals criminais internacionais, b a s e a d a s principalmente na soberania estatal. Neste m e s m o periodo e m e r g e a n e c e s s i d a d e de proteger os direitos h u m a n o s e c h e g a - s e a c o n c l u s a o de q u e o Estado e o maior transgressor destes direitos e garantias f u n d a m e n t a l s , s e n d o a s s i m nao podera caber u n i c a m e n t e a ele o d e v e r de zelar por estes direitos.

Diferentemente do que existe atualmente e m materia de jurisdigao internacional, N u r e m b e r g , T o q u i o , constituiram Tribunals de Excegao.

Os Tribunals de Excegao sao aqueles que s u r g e m e m situagoes isoladas, e x t r a v a g a n t e s , e j u l g a m o caso c o n c r e t e N e s s e sentido, a c o n d e n a r medida c o m o a decorrente do d e s l o c a m e n t o de c a u s a para o foro f e d e r a l , q u a n d o envolvida violagao a direitos h u m a n o s a s s e g u r a d o s por n o r m a internacional, a repulsa v e e m e n t e do r e n o m a d o Pontes de Miranda, 1970 (apud A l e x a n d r e Nery de Oliveira) q u a n d o e s t a b e l e c e u a premissa de q u e : "o j u i z o ou tribunal de excegao e a q u e l e que e m e r g e para o fato, ainda q u a n d o exercido por autoridade judiciaria pre-constituida

O Tribunal de N u r e m b e r g surgiu e m 1945, c o m a assinatura de u m a c o r d o entre a Inglaterra, Franga, Estados Unidos e a extinta Uniao Sovietica. O seu objetivo era julgar os politicos a l e m a e s a c u s a d o s de f a z e r e m parte d o s crimes politicos e contra a h u m a n i d a d e c o m e t i d o s na Era nazista de Adolf Hitler. Os reus d e s s e j u l g a m e n t o f o r a m a c u s a d o s nao so de t e r e m exterminados milhoes de p e s s o a s , mas t a m b e m p o r t e r e m planejado e e s p a l h a d o a guerra na Europa. O Tribunal Militar Internacional c o m b i n o u e l e m e n t o s do direito A n g l o - A m e r i c a n o e d a s leis civis do continente e u r o p e u .

Em 9 de d e z e m b r o de 1946, j u l g o u vinte e tres p e s s o a s , vinte das quais m e d i c o s , que f o r a m consideradas c o m o criminosos d e guerra , devido aos brutais e x p e r i m e n t o s realizados e m seres h u m a n o s . O Tribunal d e m o r o u oito m e s e s para julga-los. E m 19 de agosto de 1947 o proprio Tribunal divulgou as sentengas, sete de morte, e u m outro d o c u m e n t o , que ficou conhecido c o m o Codigo de N u r e m b e r g . Este d o c u m e n t o e u m marco na historia da h u m a n i d a d e , pois pela primeira vez foi

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estabelecida u m a r e c o m e n d a c a o internacional sobre os a s p e c t o s eticos envolvidos na pesquisa e m seres h u m a n o s .

O Tribunal de Toquio foi criado, a s s i m c o m o o Tribunal de N u r e m b e r g , para julgar crimes cometidos na 2a Guerra Mundial. O estatuto, parecido este c o m o

Tribunal supracitado, foi estabelecido pelo General MacArthur, que atuou c o m o c o m a n d a n t e chefe dos Aliados.

A corte era c o m p o s t a por Australia, C a n a d a , C h i n a , E U A , Filipinas, Franga Gra-B r e t a n h a , Holanda, India, Nova Zelandia e U R S S e j u l g o u ao todo 2 5 a c u s a d o s . C a d a reu teve u m a d v o g a d o norte-americano e u m j a p o n e s o que e ilogico visualizando-se que os E U A e r a m u m dos a c u s a d o r e s . O J a p a o c h e g o u a promulgar u m a lei dizendo que tomaria a responsabilidade pelo j u l g a m e n t o d o s criminosos, pretendia c o m isso abrigar-se no principio de que u m a pessoa nao pode ser j u l g a d a mais de u m a vez pelo m e s m o crime, no entanto, nao o b t e v e o resultado esperado.

Em 1950 a C o m i s s a o c o m e g o u a elaboragao dos principios do direito internacional reconhecidos pelos instrumentos e j u l g a m e n t o s de N u r e m b e r g e o m o d e l o do Codigo de o f e n s a s contra a Paz e Seguranga d a H u m a n i d a d e e e x p o e a A s s e m b l e i a Geral. O projeto de estatuto de uma corte penal internacional foi c o n f e c c i o n a d o e m 1951 e alterado e m 1953. E m 1954 o projeto do Codigo foi tornado inviavel pela Resolugao 8 9 7 , de 4 de d e z e m b r o de 1954, por nao haver a c o r d o sobre o conceito de a g r e s s a o .

Em 1989 e 1990 a A s s e m b l e i a Geral da O N U solicitou a C o m i s s a o que a c o m u n i c a s s e sobre a possibilidade de char u m tribunal criminal internacional para cuidar de crimes de trafico de d r o g a s , ideia que nao se concretizou. Em 1990 a C o m i s s a o d e m o n s t r o u , perante a A s s e m b l e i a G e r a l , apoiar u m tribunal para processar os Crimes contra Paz e Seguranga d a H u m a n i d a d e . Foi mais ou m e n o s nesta epoca que e m e r g i r a m os conflitos da antiga lugoslavia e da R u a n d a .

A A s s e m b l e i a Geral pediu que a c o m i s s a o p e r m a n e c e s s e c o m seus trabalhos, depois disso a m e s m a , e m conferencia, habilitou o projeto de u m estatuto para u m a corte penal internacional e solicitou que f o s s e c h a m a d a u m a Conferencia de Plenipotenciarios para verificar os trabalhos e preparar u m a c o n v e n g a o para implantagao do Tribunal Penal Internacional.

No periodo de 1995 ate 1998 a A s s e m b l e i a Geral f o r m o u dois c o m i t e s que t r a b a l h a r a m por 13 s e m a n a s e m Nova York, na sede da O N U , para dar o r i g e m ao Anteprojeto do Estatuto para o Tribunal Penal Internacional, tarefa esta c o m p l e t a d a

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e m 13 de abril de 1998 q u a n d o c o m e g o u a Conferencia Diplomatica de Plenipotenciarios sobre o estabelecimento de u m Tribunal Penal Internacional.

A s s i m , a partir do d e s e n v o l v i m e n t o de u m a retrospectiva historica sobre os tribunals criminals que ja f o r a m criados, n o t a d a m e n t e , o Tribunal de N u r e m b e r g , T o q u i o , Tribunal Criminal para a Ex-lugoslavia, R u a n d a e Serra Leoa, tern d e se analisar os motivos pelos quais tais tribunals s e m p r e t i v e r a m sua legitimidade questionada e o porque do Tribunal Penal Internacional ser c o n s i d e r a d o a solugao para os conflitos a r m a d o s da Era atual.

1.2 O Tribunal Penal Internacional

0 Tribunal Penal Internacional ou Corte Penal Internacional e o primeiro tribunal penal internacional p e r m a n e n t e . E o principal orgao judiciario da Organizagao d a s Nagoes Unidas. Tern s e d e e m Haia, nos Paises Baixos. Por isso, t a m b e m c o s t u m a ser d e n o m i n a d a c o m o Corte de Haia ou Tribunal de Haia.

S e g u n d o o Estatuto de R o m a , o Tribunal Penal Internacional e u m a pessoa juridica de Direito Internacional c o m c a p a c i d a d e necessaria para o d e s e m p e n h o de s u a s f u n g o e s e de seus objetivos. Foi criado, c o m muitas diferengas e m relagao aos tribunals anteriores. A primeira g r a n d e v a n t a g e m do Tribunal Internacional e que ele e a u t d n o m o , nao vinculado ao C o n s e l h o de Seguranga e c o m o m e s m o status da Corte Internacional de Justiga de Haia, nao s e n d o possivel q u e os v e n c e d o r e s revidem contra os paises derrotados. Sua c o m p e t e n c i a esta definida no artigo 5° do T r a t a d o de R o m a .

Estados que s e j a m ou nao parte nos conflitos p o d e r a o postular j u n t o ao Tribunal Penal Internacional, que tera uma atuagao subsidiaria, s o m e n t e agindo q u a n d o os orgaos judiciarios locais nao p u d e r e m atuar c o m independencia ou s i m p l e s m e n t e nao agirem. Sera ainda criado u m Ministerio Publico internacional. No dizer do secretario executivo do l l a n u d1, e " u m a verdadeira reversao no sentido de

soberania, u m a tentativa de constitucionalizagao da o r d e m internacional".

1 O Instituto Latino-Americano para a Prevengao do Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) e

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Em A g o s t o de 2 0 0 5 , 99 p a i s e s2 haviam ratificado ou acedido ao estatuto de

paises m e m b r o s do T P I . A l e m d e s s e s Estados que ratificaram o T r a t a d o , ha 41 outros que o a s s i n a r a m mas ainda nao o ratificaram. C o m o o simples fato de assinar u m tratado nao tern efeito legal s e m a sua ratificacao, esses Estados nao f a z e m parte do tratado, a m e n o s que o ratifiquem.

O objetivo do TPI e p r o m o v e r o Direito internacional, e sua incubencia e de julgar os individuos e nao os Estados , tarefa essa do Tribunal Internacional de Justiga. Ele e c o m p e t e n t e s o m e n t e para os crimes mais g r a v e s c o m e t i d o s por individuos: g e n o c i d i o s , crimes de guerra, crimes contra a h u m a n i d a d e e talvez os crimes de agressao q u a n d o estes tiverem sido definidos, tais que definidos por diversos a c o r d o s internacionais, principalmente o estatuto de R o m a .

O nascimento de u m a jurisdigao p e r m a n e n t e universal e c o n s i d e r a d a u m g r a n d e passo e m diregao da universalidade dos Direitos H u m a n o s e do respeito ao direito internacional. Nao se deve confundir a Corte penal internacional c o m o Tribunal Internacional de Justiga, t a m b e m c o m sede e m Haia. O Tribunal exerce sua c o m p e t e n c i a e m relagao a crimes c o m e t i d o s a p o s a entrada e m vigor do Estatuto, o que se deu no inicio de julho de 2 0 0 2 . Para os Estados que a d e r i r a m posteriormente, a c o m p e t e n c i a so podera ser exercida sobre os fatos c o m e t i d o s a p o s a entrada e m vigor para e s s e Estado, a nao ser que e s s e Estado aceite a c o m p e t e n c i a retroativa a entrada e m vigor do Estatuto.

J o s e Faria e Costa (2002) entende que:

2 Na Europa: Albania, Andorra, Austria, Belgica, Bosnia-Herzegovina, Bulgaria, Croacia, Chipre,

Dinamarca, Eslovaquia, Eslovenia, Espanha,, Estonia, Finlandia, Franga, Alemanha, Grecia, Hungria, Islandia, Irlanda, Italia, Georgia, Letonia, Liechtenstein, Lituania, Luxemburgo, Macedonia, Malta, Noruega, Paises Baixos, Polonia, Portugal, Romenia, San Marino, Servia e Montenegro, Suecia, Suiga, Reino Unido. Na Africa: Africa do Sul, Benim, Botswana, Burkina Faso, Burundi, Congo, Djibouti, Gabao, Gambia, Gana, Guine, Lesoto, Liberia, Malawi, Mali, Mauricia, Namibia, Niger, Nigeria, Quenia, Republica Centro-Africana, Republica Democratica do Congo, Senegal, Serra Leoa, Tanzania, Uganda, Zambia. Nas Americas: Antigua e Barbuda, Argentina, Barbados, Belize, Bolivia, Brasil, Canada, Colombia, Costa Rica, Dominica, Equador, Guiana, Honduras, Panama, Paraguai, Peru, Republica Dominicana, Sao Vicente e Granadinas, Trindade e Tobago, Uruguai, Venezuela. Na Asia: Afeganistao, Camboja, Coreia do Sul, Jordania, Mongolia, Tajiquistao. Na Oceania: Australia, Fiji, llhas Marshall, Nauru, Nova Zelandia, Samoa, Timor-Leste

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O TPI constituiu uma aspiragao constante, sobretudo depois das experiencias dos Tribunals Penais Internacionais Especiais — todos aqueles que se formaram, especialmente, para aplicar retroactivamente a lei penal —, da comunidade internacional e sobretudo de todos os homens e mulheres que, de maneira sincera, empenhada e convicta, deram ao longo dos seculos testemunho — as vezes com sacrificio da propria vida — de que a "justiga" e um bem que deve ser defendido de maneira tao forte e veemente como as "muralhas da cidade" (Heraclito). Dai que a institucionalizagao do TPI nao possa, a esta luz, deixar de ser vista senao como um passo em frente, como qualquer coisa de bom, como instancia que, em abstracto, pode ser sancionadora dos mais graves atentados (leia-se crimes) as pessoas concretas de came e osso mas tambem as suas representagoes enquanto agregados comunitarios com uma cultura, uma lingua e um patrimonio espiritual comuns.

A i n d a n e s s e liame, Indira M a h u l ( 2 0 0 6 ) :

Um dos aspectos favoraveis que resultam do Estatuto da Corte e a competencia automatica da mesma, pois a sua jurisdigao e aceita pelo Estado Parte, a partir do momento da ratificagao do Estatuto, nao sendo necessaria qualquer outra "autorizagao". Tambem os poderes da promotoria para iniciar investigagoes "proprio motu" (de propria iniciativa) representam um avango. Algumas delegagoes alertavam para o risco de que apenas uns poucos Estados viessem a oferecer denuncias, visto que estas poderiam ser interpretadas como interferencia na soberania do Estado-alvo ou prejudicar as relagoes diplomaticas com o mesmo.

Os E s t a d o s , a o ratificarem o E s t a t u t o , a c e i t a m s u a c o m p e t e n c i a , e s o m e n t e sobre e s t e s o T r i b u n a l podera exercer s u a jurisdigao. E m outras p a l a v r a s , a C o r t e so tern jurisdigao sobre o s c r i m e s c o m e t i d o s no territorio d e s s e s E s t a d o s , o u por u m d e s e u s naturais. C o m o e x c e g a o a regra, o T r i b u n a l p o d e r a e x e r c e r s u a jurisdigao s o b r e q u a l q u e r situagao a ele remetida pelo C o n s e l h o d e S e g u r a n g a da O N U , nao i m p o r t a n d o , n e s s e c a s o , se o crime tiver sido c o m e t i d o e m territorio d e E s t a d o - P a r t e , o u por nacional d e E s t a d o - P a r t e .

A l g u n s p a i s e s s e m o s t r a r a m contrarios a o T P I . S e g u n d o M. Cherif B a s s i o u n i ( a p u d Cristina Caletti, 2 0 0 6 ) :

Os Estados que se opoe ao TPI ou temem que seus funcionarios e mandatarios respondam por violagoes internacionais amparadas pelo TPI, visto que desde a 2a Guerra Mundial grande numero de lideres tern sido

parte na violagao de principios internacionais, ou acreditam que a jurisdigao penal internacional possa criar obstaculo aos Estados por simples questoes

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politicas, problema que pode ser resolvido selecionando-se as garantias que serao provisionadas e desenvolvidas como prevengao.

C o n t u d o a v o n t a d e d e u m p o s s i v e l d e s p o t a nao p o d e no p i a n o internacional s e r o b s t a c u l o a a d o g a o de u m i n s t r u m e n t o tao i m p o r t a n t e c o m o o T P I , para protegao d e a l g u n s d o s mais relvantes bens j u r i d i c o s da h u m a n i d a d e .

1.3 O Estatuto de R o m a

O Estatuto de R o m a divide-se e m treze c a p i t u l o s , q u e v e r s a m sobre a criagao da Corte ( C a p . I), s u a c o m p e t e n c i a , a a d m i s s i b i l i d a d e e o direito aplicavel ( C a p . II), Principios G e r a i s de Direito Penal ( C a p . Ill), c o m p o s i g a o e a d m i n i s t r a g a o do T P I (Cap. IV), inquerito e p r o c e d i m e n t o criminal ( C a p . V ) , j u l g a m e n t o ( C a p . V I ) , p e n a s (Cap. V I I ) , r e c u r s o e revisao ( C a p . VIII), c o o p e r a g a o internacional e auxilio j u d i c i a r i o (Cap. IX), e x e c u g a o da pena ( C a p . X ) , A s s e m b l e i a d o s E s t a d o s - p a r t e s ( C a p . X I ) , f i n a n c i a m e n t o ( C a p . XII), A s s e m b l e i a d o s E s t a d o s - p a r t e s ( C a p . X I ) , f i n a n c i a m e n t o

(Cap. XII) e c l a u s u l a s finais ( C a p . XIII).

O p r e a m b u l o d o Estatuto traz e m seu texto as s e g u i n t e s c o n s i d e r a g o e s :

Os Estados Partes no presente Estatuto.

Conscientes de que todos os povos estao unidos por lagos comuns e de que suas culturas foram construidas sobre uma heranga que partilham, e preocupados com o fato deste delicado mosaico poder vir a quebrar-se a qualquer instante,

Tendo presente que, no decurso deste seculo, milhoes de criangas, homens e mulheres tern sido vitimas de atrocidades inimaginaveis que chocam profundamente a consciencia da humanidade,

Reconhecendo que crimes de uma tal gravidade constituem uma ameaga a paz, a seguranga e ao bem-estar da humanidade,

Afirmando que os crimes de maior gravidade, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto, nao devem ficar impunes e que a sua repressao deve ser efetivamente assegurada atraves da adogao de medidas em nivel nacional e do reforgo da cooperagao internacional,

Decididos a por fim a impunidade dos autores desses crimes e a contribuir assim para a prevengao de tais crimes,

Relembrando que e dever de cada Estado exercer a respectiva jurisdigao penal sobre os responsaveis por crimes internacionais,

Reafirmando os Objetivos e Principios consignados na Carta das Nagoes Unidas e, em particular, que todos os Estados se devem abster de recorrer a ameaga ou ao uso da forga, contra a integridade territorial ou a

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independencia politica de qualquer Estado, ou de atuar por qualquer outra forma incompativel com os Objetivos das Nagoes Unidas,

Salientando, a este proposito, que nada no presente Estatuto devera ser entendido como autorizando qualquer Estado Parte a intervir em um conflito armado ou nos assuntos internos de qualquer Estado.

Determinados em perseguir este objetivo e no interesse das geragoes presentes e vindouras, a criar um Tribunal Penal Internacional com carater permanente e independente, no ambito do sistema das Nagoes Unidas, e com jurisdigao sobre os crimes de maior gravidade que afetem a comunidade internacional no seu conjunto,

Sublinhando que o Tribunal Penal Internacional, criado pelo presente Estatuto, sera complementar as jurisdigoes penais nacionais,

Decididos a garantir o respeito duradouro pela efetivagao da justiga internacional

O Estatuto de R o m a funciona c o m o a base para a realizagao e existencia de j u l g a m e n t o s realizados pelo T P I , nele estao contidas as n o r m a s legais, a fonte formal do referido T r i b u n a l . Funciona c o m o d o g m a s , ou f a z e n d o u m p a r a m e t r o c o m o Brasil, funciona c o m o a Carta M a g n a .

O p r e a m b u l o inicia c o m u m a e x p l a n a c a o do objetivo do Estatuto e do T P I , que e o estreitamento d o s lacos entre a c o m u n i d a d e internacional, para haver u m a maior imparcialidade nas situagoes de conflito externo entre d u a s ou mais nagoes. A b o r d a -se t a m b e m o principio da c o m p l e m e n t a r i d a d e , o n d e e ratificada sua verdadeira fungao, a de c o m p l e m e n t a r as jurisdigoes internas.

Por f i m , vislumbra-se o grau de importancia do Estatuto, e que de fato, s e m sua existencia, o TPI nao teria f o r m a e nem poderia atuar.

1.4 Organizagao do Tribunal Penal Internacional e seu p r o c e d i m e n t o

T e m - s e c o m o necessario uma sucinta explanagao de c o m o o Tribunal Penal Internacional e organizado e c o m o d e s e n v o l v e seu p r o c e d i m e n t o para que haja u m a melhor c o m p r e e n s a o de c o m o ele atua.

O corpo judicial e c o m p o s t o de dezoito j u i z e s . Escolhidos pela A s s e m b l e i a d o s Estados-Partes, d e v e n d o ter, alem de reconhecido valor moral e c o m p e t e n c i a para o c u p a r os mais altos cargos do Poder Judiciario e m s e u s Estados de o r i g e m , f o r m a g a o e m direito penal e processual penal ou e m direito internacional humanitario, a l e m de outros requisitos e l e n c a d o s no Artigo 36.

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O Estatuto exige, ainda, que a c o m p o s i g a o da Corte a s s e g u r e o equilfbrio d a representagao de g e n e r o , a l e m de representagao dos principals sistemas juridicos, e distribuigao geografica equitativa. Estao previstas hipoteses de d i s p e n s a de magistrados, ou de sua recusa, tudo a assegurar a imparcialidade d o s j u l g a m e n t o s . Os j u i z e s tern u m m a n d a t o de nove anos, nao s e n d o permitida a reeleigao.

O Procurador, t a m b e m escolhido pela A s s e m b l e i a d o s Estados-Partes, atuara de f o r m a independente, e podera contar c o m Procuradores Adjuntos. A l e m dos requisitos da idoneidade moral e reconhecida c o m p e t e n c i a , d e v e d e m o n s t r a r experiencia na pratica do exercicio de agoes penais, dentre outros requisitos. S u a s relevantes fungoes v e m elencadas nas diversas alineas do artigo 4 1 .

O Secretario do TPI exerce relevantes fungoes, na medida e m que e responsavel por toda a estrutura administrativa do Tribunal. O Estatuto de R o m a , e s u a s regras de procedimento, e s p e l h a m u m sistema procedimental no qual v e m e x p r e s s o s os direitos internacionalmente reconhecidos c o m o direitos f u n d a m e n t a l s das pessoas submetidas a persecugao penal. Dentre eles, o principio da legalidade d o s delitos e das penas, o da irretroatividade e a impossibilidade de j u l g a m e n t o a revelia. Sao imputaveis a p e n a s os maiores de dezoito anos. Nao se r e c o n h e c e m as i m u n i d a d e s tradicionais do direito internacional e m razao de cargo ou fungao, e a e x i m e n t e de estrita obediencia a ordens superiores hierarquicos, exceto para os crimes de guerra. Em r e s u m o , pode-se afirmar que o Estatuto de R o m a estabelece u m sistema garantista de direito penal e processual penal.

O procedimento d e s d o b r a - s e e m d u a s fases distintas: na primeira fase, uma C a m a r a Preliminar (na tradugao do Estatuto para o portugues, c h a m a d a de " C a m a r a de Juizo de Instrugao", e m b o r a nao se trate de j u i z o de instrugao) a c o m p a n h a a fase de investigagao, na qual a l g u m a s medidas investigatorias, e a protegao de vitimas ou de interesses gerais da defesa sao s u b m e t i d a s a autorizagao ou supervisao da C a m a r a . Nessa fase, as provas coligidas pela acusagao d e v e m ser c o m u n i c a d a s a d e f e s a , a s s i m que u m m a n d a d o de prisao e c u m p r i d o e o a c u s a d o e enviado a Corte.

A o final, realiza-se u m a audiencia na qual as provas da defesa e da acusagao sao s u b m e t i d a s a C a m a r a , que lavrara u m a d e c i s a o sobre a viabilidade da acusagao e determinara a s u b m i s s a o do a c u s a d o a j u l g a m e n t o . Poderia ser tragada u m a t e n u e c o m p a r a g a o entre esta fase e a fase preliminar do nosso procedimento nos crimes de c o m p e t e n c i a do Juri, que culmina c o m a sentenga de pronuncia ou de

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impronuncia.

Na s e g u n d a f a s e , tern lugar o j u l g a m e n t o perante a C a m a r a de J u l g a m e n t o , que se pronunciara sobre a procedencia da a c u s a g a o , sobre a pena a ser imposta, e sobre a reparagao a ser d a d a as vltimas. A s d e c i s o e s proferidas e m t o d a s as etapas do procedimento p o d e m ser objeto de recurso, a ser j u l g a d o pela C a m a r a de A p e l a g o e s . Essa C a m a r a t a m b e m e responsavel pelo j u l g a m e n t o de pedidos de revisao de penas.

O Estatuto preve e x p r e s s a m e n t e o direito a indenizacao por erro judiciario. O Tribunal Penal Internacional nao tern policia propria, e d e p e n d e d a cooperagao internacional para alcangar muitos de seus objetivos. E regra basica do direito internacional a obrigatoriedade de c u m p r i m e n t o , por parte dos Estados-Partes, das obrigagoes a s s u m i d a s c o m a ratificagao de u m tratado (pacta sunt servanda). A s s i m , ao ratificar o Estatuto de R o m a , o Estado a s s u m e a obrigagao de c o m ele cooperar, quer e m atividades investigatorias, quer para entrega do a c u s a d o ao T r i b u n a l , quer para entrega de d o c u m e n t o s , dentre outros. U m a serie de regras de c o o p e r a g a o v e m e l e n c a d a e s p e c i a l m e n t e no Artigo 93 do Estatuto. E m relagao a execugao de p e n a s , as regras de cooperagao v e m previstas no Artigo 103 e seguintes.

A s normas que r e g e m o Tribunal Penal Internacional t r a d u z e m u m modelo proprio, b e m diverso do m o d e l o processual interno d o s Estados. Estao sujeitos a jurisdigao d e s s a Corte crimes que e n v o l v e m c e n t e n a s , por v e z e s milhares de vitimas. O perfil do Tribunal nao e a p e n a s o de u m a Corte punitiva, mas t a m b e m reparativa, e r e c o n h e c e as vitimas u m papel f u n d a m e n t a l , permitindo inclusive a participagao efetiva nas varias fases do procedimento.

E, a toda evidencia, u m modelo novo de justiga penal, q u e e m n e n h u m m o m e n t o d e s p r e z a as conquistas d a d o g m a t i c a penal m o d e r n a , e que agrega as caracteristicas de u m m o d e l o construido a partir de experiencias judiciais internacionais criadas para processo e j u l g a m e n t o de autores de violagoes massivas de direitos h u m a n o s . C o m o reconhecido no P r e a m b u l o do Estatuto de R o m a , os graves crimes cometidos no seculo passado e que c o n t i n u a m a ser c o m e t i d o s neste inicio do terceiro milenio, contra h o m e n s , m u l h e r e s e criangas, constituem u m a a m e a g a a paz, a seguranga e ao bem estar d a h u m a n i d a d e , e nao se pode mais admitir a i m p u n i d a d e de seus autores.

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1.5 C o m p e t e n c i a do TPI

O Tribunal versa sobre os mais graves crimes c o m e t i d o s por individuos: g e n o c i d i o , crimes contra a h u m a n i d a d e e crimes de guerra. Esses crimes f o r a m especificados no Estatuto e c u i d a d o s a m e n t e definidos, a fim de evitar a m b i g u i d a d e ou imprecisao. O crime de agressao, que tambem esta sob a jurisdigao do Tribunal, s o m e n t e podera ser por ele analisado q u a n d o a A s s e m b l e i a dos Estados Partes a c o r d a r e m sobre sua definigao, seus elementos constitutivos e as condigoes sob as quais o Tribunal exercera sua jurisdigao. E importante notar que o Estatuto de R o m a nao criou n e n h u m crime, mas refletiu o direito internacional consuetudinario e convencional ja existente.

O G e n o c i d i o envolve aqueles atos proibidos, que estao e s p e c i f i c a d a m e n t e listados (assassinato, lesoes graves), c o m e t i d o s c o m a intengao de destruir, no todo ou e m parte, um grupo nacional, etnico, racial ou religioso.

Os crimes contra a h u m a n i d a d e e n v o l v e m a q u e l e s atos proibidos, t a m b e m e s p e c i f i c a d a m e n t e listados, q u a n d o c o m e t i d o s c o m o parte de u m a t a q u e sistematico ou generalizado dirigido contra u m a populagao civil. T a i s c o m o o h o m i c i d i o , o e x t e r m i n i o , o estupro, a escravidao sexual, o d e s a p a r e c i m e n t o forgado de pessoas e o crime de apartheid. O genocidio e os crimes contra a humanidade sao puniveis tanto se c o m e t i d o s e m t e m p o de paz quanto e m de guerra.

Os crimes de guerra a b r a n g e m as violagoes graves das C o n v e n g o e s de G e n e b r a de 1949 e outras serias violagoes do direito d o s conflitos a r m a d o s , c o m e t i d o s e m larga escala e m conflitos de carater internacional ou nao. A inclusao de conflitos nao-internacionais esta de a c o r d o c o m o direito internacional consuetudinario e reflete a realidade ocorrida nos ultimos 50 anos, e m que as mais serias violagoes dos direitos h u m a n o s o c o r r e r a m nao e m u m conflito internacional, m a s no interior dos Estados, c o m o vislumbra-se no Iraque, situagao de conflitos internos ditada c o m o uma "guerra" dos povos de u m a m e s m a Nagao.

A tipificagao dos crimes no Estatuto e o produto de a n o s de arduo trabalho, que envolveu muitas delegagoes e seus especialistas. Os j u i z e s do Tribunal estarao limitados a essa estrita c o m p r e e n s a o de tipos penais e nao poderao estende-los por analogia. A intengao e a de estabelecer valores internacionais objetivos, nao d a n d o

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espago para decisoes arbitrarias. Em casos de a m b i g u i d a d e , os tipos serao interpretados e m favor do suspeito ou do a c u s a d o .

0 Estatuto incluiu esse crime de agressao e e s t a b e l e c e n d o que o Tribunal nao podera sobre ele exercer sua c o m p e t e n c i a ate ser feito u m a c o r d o pelos Estados Partes na Conferencia de Revisao, v e r s a n d o sobre a definigao, os e l e m e n t o s constitutivos e as condigoes sob as quais o Tribunal exercera sua c o m p e t e n c i a a respeito desse crime.

De a c o r d o c o m a Carta das Nagoes Unidas, o C o n s e l h o de Seguranga tern c o m p e t e n c i a para determinar se u m ato de a g r e s s a o foi cometido. A s s i m , foi previsto no Estatuto que o texto final sobre o crime de a g r e s s a o d e v e ser coerente c o m as disposigoes da Carta da O N U .

A p e s a r de ter havido g r a n d e interesse e m incluir o terrorismo e o trafico de drogas na c o m p e t e n c i a do Tribunal, os Estados nao a c o r d a r a m e m R o m a sobre a definigao de terrorismo e alguns paises a c r e d i t a v a m que a investigagao do trafico estava a l e m dos recursos do Tribunal. C o n s e n t i r a m entao por u m a resolugao que r e c o m e n d a aos Estados Partes relevar a inclusao d e s s e s crimes e m u m a futura conferencia de revisao.

O Estatuto incluiu crimes de violencia s e x u a l , c o m o o e s t u p r o , escravidao sexual, prostituigao forgada e gravidez a forga, c o m o c r i m e s contra a h u m a n i d a d e q u a n d o sao c o m e t i d o s c o m o parte de u m a t a q u e generalizado ou sistematico dirigido contra u m a populagao civil. Eles t a m b e m serao c o n s i d e r a d o s crimes de guerra q u a n d o c o m e t i d o s e m conflitos a r m a d o s internacionais ou internos.

Nos c a s o s de R u a n d a e na Ex-lugoslavia por e x e m p l o , estupro e violencia f u n d a d a e m genero f o r a m a m p l a m e n t e utilizadas c o m o a r m a s para espalhar o terror e para humilhar e aviltar mulheres de u m grupo etnico particular ou c o m u n i d a d e s inteiras a que eles pertenciam. Ao processar c a s o s de estupro ou violagoes f u n d a d a s no g e n e r o , os Tribunals ad hoc acreditaram que as v i t i m a s f r e q u e n t e m e n t e t e m i a m levar adiante suas historias e ate m e s m o tinham m e d o de s e r e m vitimadas por esse fato.

0 Tribunal Penal Internacional tern u m a Divisao de V i t i m a s e T e s t e m u n h a s para oferecer medidas de protegao e de seguranga, assistencia psicologica ou de outro tipo para as m e s m a s , s e m , c o n t u d o , deixar d e a s s e g u r a r os direitos do a c u s a d o e m sua totalidade. O Tribunal t o m a t o d a s as m e d i d a s necessarias para proteger a privacidade, a d i g n i d a d e , o bem-estar fisico e mental e a seguranga d o s

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tutelados pela Divisao, especialmente q u a n d o os crimes e n v o l v a m violencia sexual ou de g e n e r o .

O Estatuto do Tribunal criou u m verdadeiro sistema de justiga penal internacional. Ele c o n t e m j u i z e s qualificados e imparciais, devido p r o c e s s o legal e j u l g a m e n t o s justos aos individuos a c u s a d o s de crimes s u b m e t i d o s a jurisdigao do Tribunal. O Estatuto reconhece uma serie completa de direitos ao a c u s a d o , inclusive alargando o padrao requerido pela maioria dos instrumentos de direitos h u m a n o s .

Ha a l g u m a s vantagens particulares no Estatuto. U m a delas e o m e c a n i s m o de monitoramento entre o orgao investigativo ou de p r o c e s s a m e n t o e o orgao judicial d o Tribunal, que e designado para proteger individuos inocentes de processos penais ou inqueritos frivolos, vexatorios ou politicamente motivados. A d e m a i s , as pessoas e n c a r r e g a d a s de t o m a r decisoes a respeito de iniciar u m inquerito penal ou julgar d e v e m possuir elevadas qualificagoes de c o m p e t e n c i a , i n d e p e n d e n c i a e

imparcialidade.

O Estatuto t a m b e m c o n t e m elaborados dispositivos sobre principios de direito penal, inquerito, processo, j u l g a m e n t o , cooperagao, assistencia judicial e execugao d a pena. Esses dispositivos representam a harmonizagao de divergentes e por vezes d i a m e t r a l m e n t e opostos procedimentos e direitos penais nacionais.

Diante da analise desenvolvida acerca da historia e do s u r g i m e n t o do Tribunal Internacional e de sua importancia para a C o m u n i d a d e Internacional, faz-se necessario para a a b o r d a g e m que se pretende explanar, elaborar m e s m o que de f o r m a sucinta, u m estudo sobre o principio da c o m p l e m e n t a r i d a d e .

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C A P I T U L O 2

Esbocada a analise inicial do Tribunal Penal Internacional c u m p r e agora observar a atuacao do principio da c o m p l e m e n t a r i d a d e , para subsidiar os conflitos que serao objetos do proximo topico de d e s e n v o l v i m e n t o . Para esta pesquisa entende-se que a a b o r d a g e m deste principio passa obrigatoriamente pelo e s t u d o , m e s m o que superficial, dos conceitos de soberania e jurisdigao, t o d o s a m p a r a d o s pela importancia que o pos-positivismo ofereceu para a d i s c u s s a o do papel dos principios no o r d e n a m e n t o vigente.

2.1 Conceito de principio e influencia do pos-positivismo

No m u n d o do Direito, principios p o d e m ser c o n c e i t u a d o s c o m o alicerces, que f u n c i o n a m c o m o base para qualquer estudo. A s s i m , principio tern fungao de diretriz, de guia. O Direito passa a ser estudado de f o r m a mais profunda e m b a s a d o s nos principios que o r e g e m , que os norteiam. O t e r m o principio possui u m carater multifacetario e polissemico devido a sua amplitude conceitual. Etimologicamente a palavra principio a d v e m do termo latino principium, significa 'aquilo que se t o m a primeiro', d e s i g n a n d o o ponto de partida, o inicio, o c o m e g o . O principio nao esta s o m e n t e na o r i g e m , mas t a m b e m na continuidade.

Canotilho (apud Marcelo Lamy, 2 0 0 6 ) :

Principios sao exigencias de optimizacao abertas a varias concordancias, ponderagoes, compromissos e conflitos, sao normas juridicas impositivas de uma optimizaqao, compativeis com varios graus de concretizagao, consoante os condicionamentos faticos e juridicos", enquanto as regras sao normas que prescrevem imperativamente uma exigencia (impoem, permitem ou proibem) que e ou nao cumprida, constituem exigencias de aplicacao.

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Para Carrazza (2002, p. 33.) principio juridico e:

(...) um enunciado logico, implicito ou explicito, que, por sua grande generalidade, ocupa posicao de preeminencia nos vastos quadrantes do direito e, por isso mesmo, vincula, de modo inexoravel, o entendimento e a aplicacao das normas juridicas que com ele se conectam.

De acordo c o m Martsung F.C.R. A l e n c a r os principios nao p a s s a v a m de mera fonte (e fonte secundaria) do Direito, p o r e m , a p o s c h e g a r e m aos codigos, materializando-se e m regras por eles informadas e, e m sua e s s e n c i a , constituidas c o m o positivacoes daqueles, os principios d e r a m u m verdadeiro salto qualitative e a c a b a r a m aportando nas Constituigoes, a u m e n t a n d o , significativamente, sua importancia.

Por ser u m t e r m o abstrato, Manoel Goncalves Ferreira Filho (2006), salienta que:

Juridicamente, principio, podera possuir tres significados, sendo dois deles de conotagao prescritiva e um deles de conotagao descritiva.O primeiro conceito e que seriam 'supernormas', ou seja, normas que exprimem valores, modelo, para regras que as desdobram. O segundo, seriam standards, que se imporiam para o estabelecimento de normas especificas, disposigoes que preordenem o conteudo da regra legal. O terceiro, seriam generalizagoes, obtidas por indugao a partir das normas vigentes.

A t u a l m e n t e , na f a s e interpretativa-constitucional, os principios juridicos, sob qualquer angulo que seja enfocado, tiveram reconhecido seu e n o r m e grau de juridicidade, deixando de d e s e m p e n h a r papel secundario, para passar a cumprir o

papel principal do o r d e n a m e n t o , sendo reconhecido de seu carater de norma juridica potencializada e predominante.

Paulo B o n a v i d e s ( 1 9 9 7 , p.86) afirmou que: " s e m aprofundar a investigagao acerca da fungao dos principios nos o r d e n a m e n t o s juridicos nao e possivel c o m p r e e n d e r a natureza, a essencia e os rumos do constitucionalismo c o n t e m p o r a n e o " .

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O s principios, p o r e m , nem s e m p r e d e s e m p e n h a r a m o m e s m o papel no decorrer do d e s e n v o l v i m e n t o da ciencia do Direito. Para o positivismo, o principio nao era entendido c o m o n o r m a , mas apenas c o m o criterio interpretative e integrativo d a m e s m a . O positivismo e u m a filosofia determinista que professa o experimentalismo sistematico de u m lado e, de outro, considera anticientffico todo o estudo das causas finais. O trabalho passivo do exegeta era o de buscar, na intengao do legislador, a finalidade da norma e de d e s c o n s i d e r a r qualquer outra f o r m a de produgao do direito que, a epoca do a b s o l u t i s m o m o n a r q u i c o era distribuida aos nobres, aos bispos, universidades, reinos e entidades intermediaries.

E s t a v a m fora do c a m p o de abrangencia d o s interpretes as q u e s t o e s axiologicas da norma, bem c o m o as implicagoes sociais que a sua aplicagao ensejaria. U m a vez que o interprete e mero aplicador d a lei, e esta representa a v o n t a d e do Estado, logo, nada pode fazer, e mero reprodutor da ideologia politica, d a v o n t a d e do legislador, nunca fonte criadora do direito.

A s questoes valorativas d e v e r i a m ficar no c a m p o da filosofia, da psicologia, antropologia, sociologia, ja que nao p o s s u i a m influencia na aplicagao do direito positivo. As causas e c o n s e q u e n c i a s da aplicagao d a lei nao f a z i a m parte do juridico, mas do filosofico, do social, do antropologico.

No Brasil, a principio, o positivismo resultou e m mentalidade cientifica generalizadora, alheia as particularidades sul-americanas. P o r e m , p o u c o a pouco, foi sendo aproveitado c o m o m e t o d o de trabalho. Para os positivistas legalistas tradicionais, pensar o direito parece defeso, na medida e m que a n o r m a positiva traz e m seu bojo, s e g u n d o essa otica, todas as respostas que o interprete precisara para a solugao do litigio no caso c o n c r e t e Nesse contexto nao havia espago para u m a importancia maior dos principios, pois as regras juridicas e r a m por si so suficientes.

O pos-positivismo e m e r g e e m meio a u m quadro teorico adverso para o conjunto das ciencias h u m a n a s . A s ultimas pretensoes da racionalidade cientificista iniciada c o m o R e n a s c i m e n t o , nos seculos XIV, X V e XVI f o r a m d e s t r u i d a s . No correr dos anos 60, u m a nova vaga revolucionaria g a n h a o m u n d o . E m e r g e a politica das minorias t r a z e n d o a f r a g m e n t a g a o d o s discursos e i m p o n d o o r e c o n h e c i m e n t o de diversos pontos de vista e sistemas e p i s t e m o l o g i c o s .

A normatizagao da vida social impoe-se c o m o u m a tarefa intersubjetiva de dialogo e construgao comunicativa. A d e m o c r a c i a nunca foi tao necessaria a

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legitimagao do direito, e m razao da ausencia de essencias t r a n s c e n d e n t e s c a p a z e s de legitimar o exercicio do poder e da jurisdigao.

A concepgao de que u m principio juridico e norma de Direito talhou-se nas analises feitas e m estudos. A metodologia juridica tradicional distinguia os principios das n o r m a s , tratando-as c o m o categorias pertencentes a tipos conceituais distintos. M a s , m e s m o assim, a ideia de norma era sobreposta, d o g m a t i c a e n o r m a t i v a m e n t e , a ideia de principio.

Direito se expressa por meio de n o r m a s . A s n o r m a s se e x p r i m e m por meio de regras ou principios. Para as regras vale a logica do t u d o ou nada ja os principios sao as diretrizes gerais de u m o r d e n a m e n t o juridico ou de parte dele. Seu espectro de incidencia e muito mais amplo que o das regras.

Ronald Dworkin, Na obra Taking Rights Seriously (apud G e o r g e Marmelstein Lima) afirma que:

Os principios "possuem uma dimensao que nao e propria das regras juridicas: a dimensao do peso ou importancia. Assim, quando se entrecruzam varios principios, quern ha de resolver o conflito deve levar em conta o peso relativo de cada um deles (...). As regras nao possuem tal dimensao. Nao podemos afirmar que uma delas, no interior do sistema normative e mais importante do que outra, de modo que, no caso de conflito entre ambas, deve prevalecer uma em virtude de seu peso maior. Se duas regras entram em conflito, uma delas nao e valida".

E f u n d a m e n t a l distinguir principio de regra, para esclarecer o conceito d e principio e explicar de que m o d o a aceitagao do principio c o m o categoria d o t a d a de normatividade e imperatividade relaciona-se ao quadro historico supracitado c o m o p o s - m o d e r n i d a d e .

Canotilho (1998, p. 166-167) aborda a distingao entre regra e principio, a p o n t a n d o cinco criterios diferenciadores, quais s e j a m : grau de abstragao: mais acentuado nos principios que nas regras, que p o s s u e m grau reduzido de abstragao; grau de determinabilidade: a indeterminagao dos principios faz c o m que c a r e g a m da mediagao concretizadora do juiz, e n q u a n t o as regras p o s s u e m aplicabilidade mais imediata; carater de fundamentalidade no sistema: os principios p o s s u e m fungao estruturante dentro do sistema juridico; proximidade da ideia de direito: os principios

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vinculam-se mais direitamente a u m ideal de justiga, e n q u a n t o as regras p o d e m ter conteudo m e r a m e n t e funcional; natureza n o r m o g e n e t i c a : os principios sao f u n d a m e n t o s das regras.

A i n d a s e g u n d o ligao de Canotilho (1998 p. 167-168):

Os principios sao normas juridicas impositivas de uma otimizagao, compativeis com varios graus de concretizacao [...]; as regras sao normas que prescrevem imperativamente uma exigencia que e ou nao cumprida [...]; a convivencia dos principios e conflitual [...]; a convivencia das regras e antinomica. Os principios coexistem; as regras antinomicas excluem-se.

Concluindo, Canotilho afirma que:

Os principios suscitam problemas de validade e peso (importancia, ponderagao, valia); as regras coiocam apenas questoes de validade (se elas nao sao corretas devem ser alteradas)" .Dessa forma, principios e regras coexistem no ordenamento com a mesma forga normativa, ressalvadas as diferengas topicas acima enumeradas.

Os principios, e n q u a n t o normas positivadoras de valores percebidos c o m o f u n d a m e n t a l s , s u r g e m c o m o e n u n c i a d o s imperativos. A normatividade dos principios a p a r e c e e m varias circunstancias, reorientando a racionalidade do interprete, que se desloca dos criterios formais de validade de u m a n o r m a , para o seu substrato axiologico.

Outro conceito que certamente subsidiara as analises futuras e o de jurisdigao, por isso, esta pesquisa nao a rejeitou a uma rapida averiguagao de sua construgao.

Salienta-se, por fim que, no direito p o s - m o d e r n o so e possivel jurisdigao atraves do recurso aos principios, m o d a l i d a d e unica de n o r m a c a p a z d e , s i m u l t a n e a m e n t e , normatizar a conduta do ser h u m a n o .

Referências

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