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Levantamento sócio-ambiental do acampamento Elisabete Teixeira, Limeira - SP: subsídio ao incentivo de práticas agroecológicas

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO. ECOLOGIA. RAFAELA APARECIDA DA SILVA. LEVANTAMENTO SÓCIO-AMBIENTAL DO ACAMPAMENTO ELISABETE TEIXEIRA, LIMEIRA/SP: SUBSÍDIO AO INCENTIVO DE PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS. Rio Claro 2008.

(2) RAFAELA APARECIDA DA SILVA. LEVANTAMENTO SÓCIO-AMBIENTAL DO ACAMPAMENTO ELISABETE TEIXEIRA, LIMEIRA/SP: SUBSÍDIOS AO INCENTIVO DE PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS. Orientador: BERNADETE AP. C. C. OLIVEIRA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Ecólogo.. Rio Claro 2008.

(3) 630 S586L. Silva, Rafaela Aparecida da Levantamento sócio-ambiental do acampamento Elisabete Teixeira, Limeira – SP / Rafaela Aparecida da Silva. – Rio Claro: [s.n.], 2008 104 f. : il., figs., tabs. Trabalho de conclusão (Ecologia) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro Orientador: Bernadete Aparecida C.C. Oliveira 1. Agricultura. 2. Agroecologia. 3. Assentamento e acampamento rural. 4. Conhecimento local. 5. Preservação da natureza. I. Título.. Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP.

(4) AGRADECIMENTOS. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à professora Bernadete Castro pela sua orientação neste trabalho. Mais do que isso, agradecê-la pela amizade, conselhos, incentivos, oportunidades e cafés durante todo este tempo em que trabalhamos juntas. Ela sempre foi paciente e sempre esteve disposta a me ajudar. Bernadete, muito obrigado de coração! E que o trabalho não pare por aqui... Sou eternamente grata também à professora Dalva Bonotto, que foi minha primeira orientadora na universidade. Dalva, você foi essencial à minha formação como ecóloga. Porém, nada disso estaria acontecendo se não fosse pelos meus pais. Foram eles que sempre me apoiaram e incentivaram durante toda a graduação, tornando este sonho possível. Agradeço também a minha irmã, que é a IRMÃ e a Aninha, que é a SOBRINHA. Agradeço à turma de 2004. Meu, vocês foram incríveis, e vou levá-los pela vida. Por isso que eu digo: “vamo lá, vamo lá, vamo lá galera vamo lá. Força, coragem e fé!!!!” e logicamente: “1, 2, 3, quaaaaaaaatro, 4, 4, 4, 4...2004!” Meus queridos amigos, obrigado por existirem: But (Príncipe!), Julia (Julião), Claudia, Jana, Mari (Japa), Pacífico, Yuri, Sayuri, Lika, Pavão, Savana, Monique, Maria Alice, Juliana, Natália (Ingrates), Soraya, Chewbaquinha, Hélio Hermínio, EEEEEElson, Nativo, Marina, Pablo, Déa, Pituxa, Zeca, Capote, Ivo, Meire, Dedê, e todos os outros que eu não coloquei o nome. Com vocês, a UNESP é muito mais legal! E como poderia ficar sem falar do Fórum: Jane, a amiga mais louca que já tive nesta vida e acho que em outras também, te adoro menina! Manu, a carioca que já está falando o rioclarense melhor do que eu, você sabe que mesmo a gente não pensando igual em quase nada, eu adoro você! Thaís, a minha irmã gêmea (segundo alguns loucos), você é muito especial, gosto de você para mais de metro, até porque você é uma das únicas que acredita nos meus dotes como goleira. Carla, a mais centrada das 7, no entanto, tão louca quanto, mas com o agravante de transmitir muita segurança. E é amiga, e não é pouco não, é muito!.

(5) Carol RA, filha minha, sem palavras para falar de você, amiga de danças esquisitas, a minha co-orientadora não oficial, e amiga para toda a hora, e o melhor: besta como eu, no melhor sentido da palavra. Limps, (Letícia), eu sempre pude contar com você. Até quando estava na Alemanha! Você sabe, eu adoro a sua pessoa, porque além de minha amiga do coração, é a mamis que você escolheu para mim. E já está sabendo, filho a gente nunca abandona. Meninas vocês são para sempre!!!!!!!!!!! Faço também um agradecimento a uma pessoa que foi muito importante para a conclusão deste trabalho, dando força nos momentos em que eu achava que nada iria dar certo, que me mandava parar de enrolar e me concentrar e também pelas correções, que não foram poucas: Helena, muito obrigada! Você tem me dado muita força. Ah, você sabe...Valeu mesmo! Pessoas que me ajudaram nas entrevistas, agradeço muito a vocês. Não só pela ajuda, mas, principalmente, por serem meus amigos: Caramelo, Frei, Biz, Issa, Say, Natasha, Xena, Tertúlio, Beraba... Gente, sem vocês eu nunca teria feito esse TCC em um ano, talvez em dez, vinte, mas em um jamais!!!! Além destas pessoas, tiveram outras três que, na verdade, nem sei como expressar a importância que tiveram nesse trabalho: Marina (Japa), mas que para mim é a Rédea, Thaisão, minha seguidora (até parece!) e Baiano. Vocês foram muito importantes e tiveram participação essencial, especial, inenarrável!!!! Em todo o processo, gente, eu estou falando da graduação toda. Para vocês o meu muito obrigado e aquele abraço! Agradeço também a Bete, do Deplan, que sempre está disposta a ajudar a todos os desesperados. E por fim, agradeço a todos os acampados do Acampamento Elisabete Teixeira, sem o apoio e a colaboração de vocês esse projeto seria inviável. Espero, realmente, que nosso trabalho não se limite a esse TCC! Vocês foram os personagens principais disso tudo..

(6) SUMÁRIO. Página RESUMO....................................................................................................................................6 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 7 1.1. Agricultura convencional ou moderna............................................................................7 1.2. Agroecologia ................................................................................................................11 1.3. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) .......................................13 1.4. O Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) .....................................................15 1.5. Experiências do MST com a agroecologia ..................................................................17. 2. OBJETIVOS........................................................................................................................ 18. 3. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................................ 19 3.1. Área de Estudo............................................................................................................ 19 3.2. Acampamento Elisabete Teixeira................................................................................ 20 3.3. Levantamento Sócio-Ambiental.................................................................................. 23 3.4. Público alvo................................................................................................................. 25. 4. RESULTADOS OBTIDOS................................................................................................. 26 4.1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa e dos moradores do Elisabete Teixeira........ 26 4.2. O sustento atual........................................................................................................... 34 4.3. Problemas.................................................................................................................... 35 4.4. Vantagens e/ou facilidades.......................................................................................... 38 4.5. Culturas e criações....................................................................................................... 39 4.6. O sustento e a propriedade no futuro.......................................................................... 43 4.7. Agroecologia e agricultura.......................................................................................... 46.

(7) 4.8. Natureza e meio ambiente........................................................................................... 47 4.9. “Lixão”: o aterro sanitário de Limeira......................................................................... 56 4.10. Solos...........................................................................................................................57 4.11. Pragas e Doenças....................................................................................................... 62 4.12. Agrotóxicos ...............................................................................................................63 4.13. Algumas práticas agroecológicas ..............................................................................63 4.14. Sonho ........................................................................................................................67. 5. OFICINAS REALIZADAS NO ACAMPAMENTO ELISABETE TEIXEIRA ................68 5.1. A mulher na zona rural ...............................................................................................72. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................74. 7. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................76. 8. ANEXOS............................................................................................................................ 81 8.1 Anexo A - Roteiro das entrevistas........................................................................... 82 8.2. Anexo B - Cartilha da Oficina 1: Agricultura e Meio Ambiente............................ 94 8.3. Anexo C - Cartilha da Oficina 3: Solos .................................................................100.

(8) 6. RESUMO. Esta pesquisa teve como objetivo o levantamento sócio-ambiental dos moradores do Acampamento Elisabete Teixeira, localizado no município de Limeira (SP), identificando a trajetória de vida, as relações com a terra e com o meio ambiente, as pretensões futuras, entre outros aspectos. Através dos dados obtidos foi possível elaborar oficinas que subsidiaram o incentivo às práticas da agroecologia, valorizando o conhecimento local e a preservação ambiental. Também foram elaboradas cartilhas com a intenção de difundir, entre os acampados, os conhecimentos e os temas abordados nas oficinas. As metodologias utilizadas foram a pesquisa-ação participativa e entrevistas semi-estruturadas. Os resultados deste trabalho mostram que os acampados têm sua origem relacionada ao campo e que antes da vinda para o acampamento residiam em municípios vizinhos à cidade de Limeira. No Elisabete Teixeira as atividades prioritárias estão relacionadas à produção e à criação agrícola, com o intuito da soberania alimentar da família. Com relação aos desejos futuros, o maior deles é a conquista da terra, para a produção e a reprodução familiar. Esta pesquisa também apontou um fato importante durante as oficinas, a participação efetiva das mulheres no acampamento. Nas oficinas também houve um reconhecimento por parte destas mulheres com relação aos seus conhecimentos e práticas na agricultura e no meio ambiente. Esta pesquisa apontou a importância de se investigar os saberes e práticas camponesas, atrelando-os aos conhecimentos científicos advindos dos estudos e pesquisas acadêmicas, e abriu possibilidades para a construção de novas propostas de trabalhos entre acampados e pesquisadores no sentido da consolidação da reforma agrária.. Palavras-chave: agroecologia, assentamento e acampamento rural, conhecimento local, preservação da natureza..

(9) 7. 1. INTRODUÇÃO. 1.1. Agricultura convencional ou moderna. A partir do século XIX a lógica existente em cultivar respeitando as leis da natureza foi deixada de lado em virtude da disseminação dos conhecimentos da química agrícola. Começou-se a pensar, portanto, que a agricultura moderna seria necessária e que a prática de algumas ações conservacionistas poderia contornar o impacto negativo que ela causaria na natureza (ASSIS, 2005). Esse autor afirma que houve um evidente aumento na produção de alimentos e na disponibilidade desses por habitante entre os anos de 1950 e 1984. Porém, a partir daí observou-se um declínio na produtividade agrícola mundial, com o agravante da ocorrência de problemas ambientais. No Brasil, esta agricultura moderna ou convencional acarretou o surgimento e/ou o agravamento de diversos problemas, principalmente de ordem social e ambiental. À medida que tais questões ganharam importância, foram percebidas em toda sua extensão. As estratégias da agricultura convencional, segundo Altieri (2001), são limitantes em sua capacidade de promover um desenvolvimento sustentável. Por isso, não são capazes de atingir os mais pobres e nem de resolver problemas de fome, desnutrição e as questões ambientais. O modelo agrícola convencional visa o lucro e a produção máxima, não se importando com suas conseqüências a médio e longo prazo e desconsiderando a dinâmica ecológica dos agroecossistemas. Para atingir seus objetivos, utiliza práticas que contribuem com a perda da biodiversidade, tornando o ambiente mais susceptível ao ataque de pragas. Acarretando um uso mais intenso de fertilizantes e outras formas de energia externa. Constitui-se assim um “ciclo vicioso”, já que os agricultores tentam remediar os problemas causados, sem perceber que cada vez mais ficam dependentes destes produtos (FERNADES, RIBEIRO e AGUIARMENEZES, 2005; FORNARI, 2002). Dentre as práticas convencionais, merecem destaque:.

(10) 8 Cultivo intensivo do solo Prática que permite uma melhor drenagem do solo, com crescimento rápido das raízes que facilitam a aeração e a semeadura, além de controlar as ervas adventícias. Quando o cultivo intensivo é combinado com rotações de curta duração, as regiões aradas ou cultivadas diversas vezes no ano podem ficar longos períodos sem cobertura. Ocorre então um comprometimento da fertilidade do solo, devido à perda de matéria orgânica. O uso constante de máquinas pesadas acelera a compactação do solo, aumentando a erosão (GLIESSMAN, 2005).. Monocultura Permite ao agricultor plantar a mesma cultura em escalas muito extensas, obtendo economia na compra de sementes, fertilizantes e equipamentos, além de favorecer o uso de máquinas para preparar o solo. O agricultor gasta menos com mão-de-obra, permitindo um maior investimento em tecnologias que potencializem a produção. Por existir apenas uma cultura, a área torna-se mais suscetível aos ataques de pragas e doenças específicas, o que incentiva o uso de agrotóxicos (GLIESSMAN, 2005).. Fertilizantes Sintéticos: A aplicação destes produtos supre as necessidades nutricionais das plantas em curto prazo, já que seus componentes minerais são lixiviados com certa facilidade. Desta forma, os agricultores desconsideram a fertilidade do solo e os processos que o mantém (GLIESSMAN, 2005). Quando a plantação é irrigada, o problema torna-se mais grave, pois os componentes minerais destes fertilizantes podem atingir os corpos d’água (causando a eutrofização) e chegar ao lençol freático.. Irrigação: Quando a quantidade de água disponível é insuficiente para o desenvolvimento máximo da planta, a irrigação é recomendada. A utilização de um sistema de irrigação permite uma produção regular durante o ano, evitando problemas com a sazonalidade das chuvas. Com isso, além da maior garantia de safra, a produtividade da planta aproxima-se de seu máximo potencial e ainda há a melhoria na qualidade dos produtos colhidos (ROQUE, 2007)..

(11) 9 Ainda segundo esse autor, os diversos projetos de irrigação não apresentam planejamento apropriado e, depois de implantados, são conduzidos sem a devida preocupação com o manejo e com as operações adequadas, acarretando numa baixa eficiência, que compromete a expectativa de aumento da produtividade. Assim, se realizada de forma errada, a irrigação, como já explicitado anteriormente, contribui com a lixiviação de fertilizantes da lavoura para os corpos d’água, além de aumentar a taxa de erosão do solo. Também é prejudicial ao se utilizar água subterrânea, já que quando retirada em quantidade maior do que reposta pela chuva, o nível do lençol freático diminui. Conforme Gliessman (2005), a agricultura é uma das maiores consumidoras de água do mundo. Tal fato deve-se ao desperdício, já que grande parte da água utilizada não é absorvida pelas plantas. Em locais com irrigação intensa, há mudanças na hidrografia e no microclima, prejudicando a vida animal.. Uso de agrotóxicos para o controle de pragas e de ervas adventícias: Os agrotóxicos podem baixar a população de pragas que atacam uma lavoura, matando também os predadores naturais dessas. No entanto, as pragas que sobrevivem podem recuperar-se e chegar a uma população maior e mais resistente à anterior, obrigando o agricultor a fazer uso mais intenso do produto em questão. Segundo Gliessman (2005), quando aplicados na plantação, os agrotóxicos são lavados e lixiviados para a água superficial e subterrânea. Entram na cadeia alimentar afetando os animais em todos os níveis tróficos, podendo persistir por décadas. O uso do agrotóxico mantém o desequilíbrio - seja ele causado pelo metabolismo das plantas, pela constituição físico-química e biológica do solo ou pelas cadeias tróficas - que originou o ataque destes organismos. Portanto, mantendo a causa, os efeitos prejudiciais voltarão, exigindo aumento na freqüência e na dose aplicada (FERNANDES, RIBEIRO e AGUIAR-MENEZES, 2005).. Manipulação de genomas de plantas: A manipulação de genomas de plantas gerou sementes híbridas mais produtivas do que suas variedades semelhantes não híbridas. As variedades híbridas são mais exigentes para seu sucesso reprodutivo, necessitando de intensa aplicação de fertilizantes inorgânicos. Em contrapartida, são menos resistentes e exigem maior quantidade de agrotóxicos para protegê-.

(12) 10 las de pragas, além de não produzirem sementes com o mesmo genoma que as plantas que lhe deram origem, fazendo com que os agricultores dependam de produtos comerciais (GLIESSMAN, 2005).. Impacto na biodiversidade Pode-se constatar que a biodiversidade não foi e não é levada em conta em nenhum aspecto no processo produtivo convencional, sendo ignorados também seus aspectos positivos na agricultura. Altieri (2002) afirma que deve-se manter e aumentar a biodiversidade nos agroecossistemas, pois ela desempenha importantes funções ecológicas, como: reciclagem de nutrientes; controle microclimático; controle de processos hidrológicos e da população de organismos indesejáveis. De acordo com esse autor, a biodiversidade é importante nos limites entre as áreas cultivadas, pois possibilita hábitat favorável e alimento à fauna e aos insetos benéficos, além de modificar a velocidade do vento e o microclima local.. Impacto nas relações sociais A desigualdade social também se intensifica neste modelo de produção agrícola, pois os benefícios não são distribuídos igualmente. Os agricultores de subsistência são deslocados pelos grandes produtores de exportação para terras marginais, resultando em desmatamento, erosão e danos sociais e ecológicos severos. De acordo com Gliessman (2005), este sistema de agricultura também é responsável pelo aumento das relações de dependência aos países desenvolvidos. A mão-de-obra humana é trocada por máquinas, levando a população rural para as cidades. Desta forma, a população que antes era capaz de produzir o próprio alimento e ainda vender algum excedente para a população urbana, torna-se dependente de outras fontes de alimentação. E, para suprir as necessidades da crescente população urbana, aumentam as importações de produtos, principalmente de países desenvolvidos. A solução seria o emprego de uma agricultura sustentável que utilizasse práticas agrícolas baseadas nos processos ecológicos (nas áreas produtivas e ao seu redor), gerando lucro e produtividade suficientes para suprir as necessidades dos agricultores (GLIESSMAN, 2005)..

(13) 11. 1.2. Agroecologia. Segundo Gliessman (2005), uma agricultura sustentável é aquela que tem menores efeitos negativos no ambiente; preserva e recompõe a fertilidade do solo (prevenindo-o da erosão e mantendo suas características ecológicas); conserva a biodiversidade e dependa dos recursos internos dos agroecossistemas. Dessa forma, é garantida a igualdade de acesso às práticas, conhecimentos e tecnologias agrícolas adequadas, que possibilitam o controle local dos recursos agrícolas. Ainda segundo esse autor, estes aspectos podem ser encontrados na agroecologia que é a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.. A agroecologia proporciona o. conhecimento e metodologia, necessários para desenvolver uma agricultura que é ambientalmente consistente, altamente produtiva e economicamente viável (...), ela valoriza o conhecimento local e empírico dos agricultores, a socialização desse conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade (pág. 54).. Para Altieri (2002), os modelos de agricultura sustentável devem combinar elementos da agricultura tradicional com o conhecimento científico moderno. É necessário, também, o reconhecimento dos governos de que o conhecimento da população rural é o principal recurso. Esta agricultura deve contribuir com o desenvolvimento rural e com a igualdade social, sendo seu objetivo principal a estabilidade de produção em longo prazo. Conforme Altieri (2001), a agroecologia incentiva os pesquisadores a conhecer as técnicas dos agricultores e a desenvolver agroecossistemas com a mínima dependência de insumos externos. Ela trabalha com as interações entre os componentes biológicos para aumentar a fertilidade do solo e sua produtividade, além da proteção das culturas. No entanto, “as complicações sociais e os preconceitos políticos mais do que os de ordem técnica, são as principais barreiras na transição para sistemas agrícolas de baixo consumo de energia e uso intensivo da mão-de-obra” (ALTIERI, 2002). Um dos obstáculos que pode ser encontrado para a prática agroecológica é que as grandes empresas agrícolas não têm interesse em tecnologias que preservem o meio ambiente e não lhes retornem o lucro estimado após os altos investimentos nas atuais tecnologias. Outros fatores, apontados por Altieri (2002), que agravam este quadro são que as técnicas sustentáveis devem ser específicas para cada local. Durante a fase de transição, a produção e a qualidade do produto podem variar e gerar irregularidades na colheita, inibindo.

(14) 12 os investimentos, comprometendo os lucros dos produtores e suas relações com os atacadistas.. Importância da população rural Altieri (2001) afirma que o conhecimento de grupos locais com relação ao meio ambiente pode ser bastante detalhado, resultando na criação de estratégias produtivas de uso da terra e, dentro de alguns limites ecológicos e técnicos, na auto-suficiência alimentar das comunidades locais. Agroecologia e saber local são propostas de vários movimentos sociais no campo, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e a Via Campesina. Numa agroecologia participativa, os objetivos econômicos, sociais e ambientais devem ser definidos pela comunidade rural local e implementados às tecnologias de baixo uso de insumos externos, para que haja o crescimento econômico, a igualdade social e a preservação ambiental (ALTIERI, 2001). Uma característica dos plantios realizados por agricultores tradicionais é a grande diversidade de culturas, o uso de sistemas agroflorestais (SAF’s) e a prática de rotação de culturas. Esses produtores utilizam seus conhecimentos e os recursos disponíveis para obter uma colheita farta e diversificada e para não correr o risco de perder todo o plantio devido ao ataque de pragas. É uma atividade que exige tecnologia e gasto mínimo, além de garantir uma boa qualidade do solo. Para manter esta diversidade, também realizam trocas de sementes com outros produtores. De forma geral, Altieri (2001) aponta quatro aspectos dos sistemas tradicionais relevantes para a agroecologia: os conhecimentos sobre o meio ambiente local; o nome tradicional de determinada espécie (pode apontar sua importância ou função naquela comunidade); a natureza experimental do conhecimento tradicional (que não é resultado apenas de observações) e o conhecimento de práticas agrícolas.. Policultivo na agroecologia O policultivo contribui com a saúde do solo. A tendência de algumas culturas em gastar todo o nutriente por ele oferecido é compensada pelo cultivo intercalado com outras espécies, o que o enriquece com matéria orgânica e garante uma produção regular e variada. Esta diversidade também pode reduzir a disseminação de pragas e modificar as.

(15) 13 condições ambientais, como temperatura e luminosidade. Dessa forma, torna-as menos favoráveis à proliferação de doenças. O rendimento por hectare é mais alto em policultivos do que em monocultivos, mesmo se a produção individual de cada um dos componentes for reduzida. O consórcio entre leguminosas e outras espécies contribui para a preservação da fertilidade do solo, já que o nitrogênio contido nas leguminosas incrementa o existente no solo. O consórcio de diferentes espécies cria habitats para os inimigos naturais de pragas e patógenos. Há também a manutenção das relações ecológicas entre os seres vivos da lavoura, em virtude da diversidade de funções ecológicas (ALTIERI, 2001; FERNANDES, RIBEIRO e AGUIAR-MENEZES, 2005). Segundo Altieri (2001), o policultivo minimiza a sobreposição de nichos entre as espécies associadas, diminuindo a competição por recursos.. 1.3. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A agricultura convencional favorece principalmente os grandes latifundiários, que monopolizam a produção e concentram a terra. No caso da estrutura fundiária brasileira, herdada do regime de capitanias/sesmarias e pouco alterada durante esses anos, a concentração de terras nas mãos de poucos foi intensificada (OLIVEIRA, 1994). Esse fato deu origem aos movimentos sociais que buscam a reforma agrária, que de acordo com Bittencourt (1998), visa “além da distribuição da terra, necessariamente o acesso a políticas de infra-estrutura básicas e agrícolas, que permitam a implantação de um sistema produtivo viável, e o acesso a benefícios sociais, que promovam a justiça social e a cidadania”. Na luta pela reforma agrária surgiu o MST, que atualmente age em diversos estados brasileiros. Para atingir seu objetivo, enfrenta problemas relacionados ao interesse de grandes proprietários e a sua imagem perante a sociedade (questão existente devido ao favorecimento ocasional dado aos latifundiários pelos meios de comunicação). O MST é a principal forma de organização social na luta pela terra e pela reforma agrária no país (FERNANDES, 1996). Segundo esse autor, a propriedade da terra é uma relação social que envolve trocas, conflitos e movimentos. Caracterizada por processos desiguais e conflitantes, já que em.

(16) 14 contrapartida à dominação, expropriação e exploração realizada pelos latifundiários, há subordinação, resistência e libertação por parte dos trabalhadores rurais. A luta pela reforma agrária não visa apenas à distribuição de terras. Envolve a construção de organizações sociais, que possibilitam a conquista da terra, a propriedade coletiva dos meios de produção e o desenvolvimento de novas experiências (FERNANDES, 1996).. O surgimento dos movimentos sociais no Brasil Durante os governos militares pós-64, houve o incentivo do desenvolvimento capitalista no campo. As condições necessárias para uma política agrária que favorecesse grandes empresas através de incentivos financeiros foram criadas. Segundo Fernandes (1996), a política agrária da ditadura possuía um projeto de reforma agrária que se transformou no Estatuto da Terra. O Estado manteve a questão agrária sob o controle do poder central, e o Estatuto impediu o acesso à terra aos camponeses, sendo ele estratégico para o controle das lutas sociais. Em 1970, o governo militar criou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), fortalecendo grandes grupos econômicos. Iniciaram, também, as campanhas do Projeto Rondon, no qual a sociedade foi fortemente influenciada pelos meios de comunicação em massa, que escondiam em suas propagandas a verdadeira intenção do governo de não interferir no processo de aquisição de terras por estrangeiros e ainda incentivá-la através da política dos projetos agropecuários (FERNANDES, 1996). Os governos ditatoriais reprimiram as lutas pela terra. Assim, o governo militar realizou sua política agrária promovendo a modernização técnica no campo, sem alterar a estrutura fundiária. De acordo com Fernandes (1996), no início dos anos 70, os trabalhadores encontravam-se nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) para se organizar na luta contra as injustiças e por seus direitos. Mesmo tendo apoiado o golpe de 64, a Igreja mudou de posição, e o envolvimento de alguns sacerdotes com a realidade dos trabalhadores (assim como o surgimento das CEB’s como lugar de reflexão), modificou as relações políticas em diversas localidades. As CEB’s tornaram-se um espaço de socialização política, onde as famílias reuniam-se para se conhecerem e pensar sobre o seu papel na sociedade. O crescimento da luta e da organização dos trabalhadores rurais era notado em todo o país. As várias ocupações de terra realizadas resultaram na fundação do MST, em 1984, na.

(17) 15 cidade de Cascavel, no Paraná. Como objetivos principais: o combate a todas as formas de discriminação social e a busca pela participação igualitária da mulher. De acordo com Fernandes (1996, p. 121), a presença da família, durante toda a luta, possibilitava a criação de novas e ricas experiências, especialmente pelo grau de união e de integração da luta, por meio da criação de comissões na organização do acampamento, além da participação das mulheres como lideranças, fortalecendo o movimento.. Os movimentos sociais no Estado de São Paulo Entre 1970 e 1980, a política econômica provocou mudanças no campo paulista. Houve um aumento na taxa de êxodo rural, diminuição do trabalho familiar e crescimento do trabalho assalariado. O aumento do número de posseiros, nos anos 80, relacionou-se ao avanço da luta pela terra e ao crescimento do número de ocupações. Nesse período, as conquistas aconteceram em terras públicas, já que o governo instalou assentamentos rurais em terras do Estado. A maior parte das conquistas resultou da organização dos movimentos sociais, que ocuparam diversas áreas, obrigando os governantes a regularizar suas situações. Em São Paulo pode-se observar uma grande diversidade nas políticas fundiárias, que originaram os assentamentos rurais devido a uma conflituosa origem política (BERGAMASCO e NORDER, 1999). A gênese do MST em São Paulo está registrada na luta dos posseiros da Fazenda Primavera contra a expropriação e a exploração. São características básicas das lutas que contribuíram para a formação do MST no estado: a superação das relações de dependência e a conquista de um espaço próprio.. 1.4. O Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). O PDS é uma modalidade de projeto de assentamento de interesse sócio-econômicoambiental destinado às populações que desenvolvem ou estejam dispostas a desenvolver atividades de baixo impacto ambiental, baseando-se na aptidão da área (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 2008). Nesta modalidade, o assentamento, segundo Goldfarb (2007), é constituído por pessoas que viveram muitos anos em grandes centros urbanos (ou nas cidades vizinhas), não possuindo um passado recente ligado a terra. Além de ser implantado em áreas próximas aos grandes centros urbanos, utiliza a agroecologia e a cooperação como diretrizes na produção..

(18) 16 No PDS, a propriedade permanece sempre com a União, não sendo permitida a sua divisão em títulos individuais. Os beneficiários garantem o direito de acesso a terra através da Concessão de Direito Real de Uso, a qual é sempre firmada de forma coletiva (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 2008; GOLDFARB, 2007). Há também um termo de compromisso ambiental característico para cada PDS. De acordo com seu Plano de Utilização (PU), são estabelecidas as obrigações do assentado relativas ao meio ambiente. De acordo com Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (2008), esta modalidade é planejada através de um processo participativo entre INCRA, assentados e outros parceiros. Os assentados discutem e planejam suas necessidades e prioridades com o apoio e consentimento dos parceiros. Assim, o assentamento não é apenas uma unidade produtiva, mas também um espaço onde é possível unificar as práticas agrícolas ao desenvolvimento social e econômico das famílias, visando também à preservação da natureza. Ainda segundo este autor, o PU é o documento definidor dos rumos do desenvolvimento do PDS, e aborda e define diferentes aspectos, como os prazos e o processo de transição agroecológica na produção do assentamento. Nesse documento serão igualmente estabelecidas as áreas de uso, coletivas e individuais, a serem aprovadas pela comunidade e parceiros. Com relação à legislação, há um contrato de concessão real de uso que será renovado a cada 5 anos, para garantir o cumprimento das atividades previstas no PU; e um termo de compromisso ambiental, assinado pelo coletivo das famílias, responsabilizando-o pelo gerenciamento da área total do PDS (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 2008). Os lotes dos assentamentos do PDS geralmente são menores do que os dos assentamentos convencionais. De acordo com Goldfarb (2007), isso ocorre devido a dois fatores: O primeiro estipula o recebimento das parcelas de uso individual e coletivo pelas famílias; e o segundo, que as áreas serão reduzidas, devido à proximidade dos grandes centros urbanos. Entretanto, esse fato favorece o trabalho com hortifrutigranjeiros, o que permite uma maior agregação de valor aos produtos, compensando a menor área explorada..

(19) 17 1.5. Experiências do MST com a agroecologia. O MST participa ativamente de encontros que abordam a reforma agrária, a agroecologia e a soberania alimentar dos povos. Para alcançar essa última, acredita-se ser necessário realizar a reforma agrária, ter acesso a produtos saudáveis (livres de produtos químicos), sendo fundamental a implementação da agroecologia. (STEFANO, 2007). Além disso, estimula a participação dos assentados nos Encontros Nacionais de Agroecologia e das crianças em eventos que a promovam (MST, 2006). Através desse envolvimento, os assentados notaram a importância das trocas de experiências e o sucesso daqueles que optaram pela produção orgânica (sem agrotóxicos). Além das plenárias, oficinas temáticas e seminários, os participantes organizam a Feira de Saberes e Sabores, onde podem expor a produção realizada por meio de técnicas agrícolas sem o uso de agrotóxicos e organismos geneticamente modificados (MST, 2007). Além dos incentivos do próprio movimento, os agricultores contam com a ajuda de instituições para a realização das práticas agroecológicas. A Embrapa, por exemplo, realiza treinamentos, capacitações e técnicas a fim de desenvolver plantas especiais para a agricultura familiar em assentamentos (EMBRAPA, 2005; EMBRAPA, 2006) e através do Projeto Embrapa Arroz e Feijão (FEIJÕES, 2002); O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) auxilia com o Projeto Café com Floresta (O PROJETO, 2007)..

(20) 18. 2. OBJETIVOS. Este trabalho tem como objetivos: •. Levantamento sócio-ambiental dos acampados, identificando a trajetória de vida, relações com a terra, com o meio ambiente, pretensões futuras, entre outros aspectos;. •. Elaboração de oficinas, através da análise dos dados, que subsidiem o incentivo às práticas da agroecologia, valorizando o conhecimento local e a preservação ambiental;. •. Elaboração de cartilha, com a intenção de difundir, entre os acampados, os conhecimentos e os temas abordados nas oficinas..

(21) 19. 3. MATERIAIS E MÉTODOS. 3.1. Área de Estudo. No estado de São Paulo há muitos assentamentos e acampamentos liderados pelo MST. Entre eles está o acampamento Elisabete Teixeira, no município de Limeira, onde o presente trabalho foi realizado. A área de 602,8676 ha, ocupada desde 21 de abril de 2007, está localizada no imóvel rural próprio da União, denominado Horto Florestal Tatu. O acampamento encontra-se no centro-leste do Estado de São Paulo, a 154 km da capital paulista, entre as coordenadas geográficas 22º27’S e 22º44’S e 47º12’W e 47º30’W. O município de Limeira faz limites com as cidades de Americana, Piracicaba, Santa Bárbara D’Oeste, Iracemápolis, Cordeirópolis, Cosmópolis, Araras e Arthur Nogueira (ROSSINI, 2001). Limeira pertence à região nordeste na Regionalização das Dinâmicas Agropecuárias do Estado de São Paulo, envolvendo as mesorregiões de Campinas e Piracicaba. É altamente industrializada, com elevada densidade demográfica, caracterizando uma população com renda elevada e alto grau de escolaridade. A localização permite o acesso fácil aos mercados consumidores da região metropolitana de Campinas e de São Paulo, assim como as principais vias de exportação, seja aérea ou marítima. Isso permite a prática de atividade de alto valor no mercado, como a produção de orgânicos (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 2008). Ainda segundo esse autor, apesar de ser uma grande região produtora de cana-deaçúcar e laranja, é crescente a diversificação de culturas, principalmente com a fruticultura (tangerina, limão, uva, manga), olericultura e floricultura. Destaca-se o cultivo de produtos orgânicos, hortaliças, caqui, uva, jabuticaba, frutas da mata atlântica (sapoti), leite e produtos processados, como o iogurte orgânico. A produção orgânica é favorecida pelo clima seco (favorece o cultivo de frutas orgânicas) e pela proximidade com a capital, o que não encarece o transporte..

(22) 20 3.2. Acampamento Elisabete Teixeira. Atualmente, o acampamento conta com aproximadamente 80 famílias e é organizado em setores (saúde, educação e alimentação), criados de acordo com a necessidade dos acampados. A coordenação dos setores fica a cargo de um homem e de uma mulher, para que esta também participe das decisões do acampamento. A área é cercada por cana-de-açúcar, existindo alguns fragmentos de mata. Há aproximadamente quatro nascentes no acampamento. A água das nascentes e do córrego é usada em atividades domésticas e de consumo humano, porém é desconhecida a qualidade da mesma. A infra-estrutura das casas é precária (Figura 1). São construídas com lonas, geralmente da cor preta, e madeira. O uso da lona dificulta a permanência nas casas, chamadas por eles de “barracos”, pois esquenta demais durante o dia (devido ao sol intenso), tornando-se muito fria no decorrer da noite. Os barracos de madeira proporcionam um pouco mais de conforto e geralmente pertencem a acampados que, na cidade, trabalhavam na construção civil.. Foto: Rafaela Silva, 2008. Figura 1 - Vista da condição dos barracos. O acampamento é dividido em núcleos. Atualmente existem 5 núcleos, compostos no máximo por 20 casas cada. Entretanto, nem todos possuem o número máximo permitido, pois no decorrer do processo muitas famílias desistiram e deixaram o Elisabete. Todas as casas são identificadas pela letra “N” seguida de um número, representando o núcleo ao qual ela.

(23) 21 pertence; e pela letra “B”, seguida por outro número, que identifica o número do barraco (Figura 2).. Foto: Bernadete Castro, 2008. Figura 2 – Identificação dos barracos. No Elisabete Teixeira há um barracão, onde são realizadas todas as atividades relacionadas à vida social dos acampados, como assembléias, reuniões e cursos. Foi construído em um mutirão, conforme pode ser visto na figura 3.. Foto: Rafaela Silva, 2008. Figura 3 - Mutirão realizado para a construção do barracão. O despejo e a conquista da terra Os acampados do Elisabete Teixeira ocuparam a área até o dia 29 de novembro de 2007, quando foram expulsos de forma violenta pela Polícia Militar, que cumpria uma ordem de reintegração de posse da área requerida pelo prefeito municipal de Limeira. A posse da.

(24) 22 área foi solicitada com base em um "Instrumento Prévio Regulamentador de Intenção de Venda e Compra", de 22 de março de 2005, entre a Prefeitura Municipal de Limeira e a Rede Ferroviária Federal S. A. (RFFSA), proprietária do imóvel. Conforme depoimentos de acampados, durante a ação de despejo algumas pessoas foram feridas. Muitas famílias perderam todos os móveis, roupas e documentos, soterrados pelas máquinas da prefeitura, igualmente responsáveis pela destruição dos barracos. As famílias abrigaram-se em um barracão da Igreja Católica, em Limeira. No dia 11 de dezembro, após estudos sobre o caso e confirmação da não concretização do acordo entre a Prefeitura de Limeira e a RFFSA, as famílias puderam voltar ao Horto Tatu, já que a área era realmente da União (GLASS, 2007). No entanto, os acampados viviam com o medo de novo despejo e com a incerteza da conquista da terra. No dia 21 de agosto de 2008, foi aprovada a proposta de destinação da área do Horto Tatu para o assentamento de agricultores, prevendo a criação de 150 propriedades familiares (PORTARIA, 2008).. Vegetação Segundo o relatório elaborado pelo INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (2008), a vegetação da região do acampamento é uma associação de cerrado com floresta estacional semidecidual e floresta estacional semidecidual. De acordo com Attanasio, Gandolfi e Rodrigues (2007), as florestas estacionais semideciduais possuem uma característica marcante: a queda de parte das folhas, resultado de uma adaptação fisiológica à deficiência hídrica e à queda de temperatura em determinadas épocas do ano. As árvores são altas (20 a 25 metros) e caracterizadas por madeiras de lei, como o cedro (Cedrela sp.), cabreúva (Myrocarpus frondosus) e jequitibá (Cariniana sp). O cerrado, por sua vez, é considerado um complexo de vegetações com fisionomias e composição florística variáveis, solos com alto teor de elementos tóxicos (alumínio) e menor disponibilidade de água. As fisionomias vegetais variam de cerradão, caracterizado por árvores de 10 a 16 metros, como anjico (Anadenanthera falcata), ipê (Tabebuia spp.) e o jatobá-do-campo (Hymenaea stigonocarpa); até campo limpo, dominado por ervas graminóides nativas cespitosas e subarbustos, cuja altura pode chegar a pouco mais de 1,5 metro (ATTANASIO, GANDOLFI e RODRIGUES, 2007; RESOLUÇÃO, 1995). Também há a ocorrência da vegetação de campo úmido, que pode ser natural ou resultante de interferência humana, em virtude do desmatamento da floresta paludosa. Essa.

(25) 23 vegetação ocorre em áreas baixas (próximas aos cursos d’água), onde há encharcamento permanente ou temporário, com o aparecimento somente de arbustos e herbáceas, como taboas (Typha dominguensis) e capins (ATTANASIO, GANDOLFI e RODRIGUES, 2007).. Recursos Hídricos O acampamento está inserido na Bacia Hidrográfica do Piracicaba/ Capivari/ Jundiaí (UGRHI 05), na sub-bacia do Alto Piracicaba. Na porção leste, a propriedade é cortada pelo Ribeirão Tatu, com nascente no município de Cordeirópolis (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 2008). Devido à intensa ocupação, o ribeirão encontra-se bastante poluído, pois é o destino de rejeitos líquidos domésticos e industriais (ROSSINI, 2001).. 3.3. Levantamento Sócio-Ambiental. Foi elaborada uma pesquisa com relação à trajetória de vida dos agricultores. Através dela pôde-se captar o processo de memória e reflexão crítica do pesquisado sobre suas vivências ocorridas em condições e conjunturas sociais específicas; valores e expectativas; ideais de vida; e frustrações e sofrimentos em virtude dos fatos vivenciados pelo assentado (VIERTLER, 2006). Também foram questionados a respeito de pretensões futuras (em relação ao que plantar e ao destino da produção) e aspectos que identificassem alguns conhecimentos e a relação dos acampados com o meio ambiente. Para o levantamento destas informações de suma importância para a pesquisa foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, já que estas representam um dos instrumentos básicos para a coleta de dados, dentro da pesquisa que será desenvolvida. Segundo Lüdke e André (1986, p. 33-34), (...) A entrevista semi-estruturada se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações. (...) Na entrevista a relação que se cria é de interação.(...) O entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo é a verdadeira razão da entrevista. (...) A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. (...) A entrevista semi-estruturada permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas..

(26) 24 O roteiro das entrevistas (Anexo A) foi elaborado com base nos trabalhos de Costa (2004) e Sasaki (2005). Foram realizadas entrevistas piloto, que identificaram a necessidade de alterações na elaboração das perguntas. Para a realização desta pesquisa foi necessária uma significativa aproximação entre pesquisadora e acampados, pois o trabalho foi elaborado de modo participativo e cooperativo entre as partes. Adotou-se a pesquisa-ação participativa, que, segundo Thiollent (2000) é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. De acordo com Oliveira e Oliveira (1988), o objetivo da pesquisa-ação é a aquisição de conhecimento e de consciência crítica do processo de transformação pelo grupo que está vivendo este processo, para que esse assuma seu papel de protagonista e ator social. Pretendeu-se formar novos conhecimentos através de um conjunto entre os dois lados (comunidade local e pesquisadora). Ainda segundo tais autores, o pesquisador deve adotar uma dupla postura: de observador crítico e de participante ativo. Seu objetivo é colocar as ferramentas científicas de que se dispõe a serviço do movimento social com o qual se está comprometido. Porém, devese estar atento, pois há uma tensão permanente entre o risco de identificação excessiva. Ele pode acabar anulando-o como pesquisador, integrando-se ao grupo e saindo do foco do trabalho; e a necessidade de manter certa distância que possibilite uma reflexão crítica sobre a experiência que estará vivenciando. Porém, não se pode recuar muito. Caso isso aconteça, pode-se perder toda a aproximação conquistada, tornando-se apenas um observador não participante. De acordo com Fals Borda (1988, p. 43) pesquisa participante é a pesquisa da ação voltada para as necessidades do indivíduo que responde especialmente as necessidade de populações que compreendem as classes mais carentes nas estruturas sociais, levando em conta sua aspirações e potencialidades de conhecer e agir. É a metodologia que procura incentivar o desenvolvimento autônomo a partir de bases e uma relativa independência do exterior.. Todos estes procedimentos iniciais foram a base de trabalho para a elaboração de oficinas que abordaram temas como a importância de se trabalhar a agricultura de forma conjunta com a natureza, o PDS, solos e outras atividades agroecológicas, assim como discussões a respeito das vantagens destas práticas agrícolas..

(27) 25 Também se utilizou um caderno de anotações para registro de observações pertinentes, que não apareceram nas entrevistas. As entrevistas não foram realizadas apenas pela pesquisadora. Houve ajuda e colaboração de outros estudantes do curso de Ecologia e Geografia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Rio Claro. Essas pessoas seguiram o roteiro com as questões a serem feitas e foram orientadas pela pesquisadora sobre a forma de se conduzir as entrevistas.. 3.4. Público alvo. Na realização das entrevistas, a pessoa a ser entrevistada não precisava ser, necessariamente, aquela considerada responsável pelo barraco ou futura titular do lote. O entrevistado tinha apenas que ser um membro da família e, naquela ocasião, residir no acampamento Elisabete Teixeira. Porém, cabe ressaltar que, devido ao período de incertezas quanto à conquista da terra e algumas ameaças de novos despejos, algumas famílias-alvo dessa pesquisa deixaram o acampamento. O destino geralmente era outros acampamentos (que significariam maiores certezas) ou mesmo o abandono do Movimento. Outras famílias também se viram obrigadas a deixar o acampamento em virtude de problemas referentes às normas internas do acampamento, não sendo, portanto, relevantes para este trabalho..

(28) 26. 4. RESULTADOS OBTIDOS. 4.1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa e dos moradores do Elisabete Teixeira. Foram realizadas 77 entrevistas, sendo que 41 (53,25%) foram com pessoas do sexo masculino e 36 (46.75%) do sexo feminino. A faixa etária média dos respondentes é de 45 anos. Entre os homens a média foi de 47 anos e entre as mulheres, 43. Verificou-se quais são os estados e as regiões brasileiras de origem destas pessoas. Observa-se na tabela 1 que a maior parte dos participantes (38,96%) nasceu no estado de São Paulo, seguido pelos nascidos em Minas Gerais (20,78%) e Paraná (15,58%). Porém, ao se analisar as regiões brasileiras (Tabela 2), constata-se que a região sudeste é a origem de 61,07% e a Nordeste de 18,18%. Nesse caso, a região Sul é representada por 16,88%.. Tabela 1- Estado brasileiro de origem dos entrevistados Nº de Porcentagem Estado Entrevistados (%) 30 38,96 SP 16 20,78 MG 12 15,58 PR 5 6,49 AL 4 5,19 BA 3 3,90 PE 1 1,30 DF 1 1,30 PI 1 1,30 RJ 1 1,30 SC 1 1,30 SE 2 2,60 Sem resposta 77 100 Total.

(29) 27 Tabela 2 - Regiões brasileiras de origem dos entrevistados Região Sudeste Nordeste Sul Centro Oeste Sem resposta Total. Nº de Entrevistados Porcentagem 47 61,04 14 18,18 13 16,88 1 1,30 2 2,60 77 100. A maior parte dos integrantes do Acampamento Elisabete Teixeira é oriunda de cidades da região, como Campinas, Limeira, Cosmópolis, Sumaré e Americana. Fato visualizado na tabela 3.. Tabela 3 - Último município no qual o entrevistado morou antes do acampamento Município Campinas Limeira Cosmópolis Sumaré Americana Araras Ribeirão Preto Outros Total. Nº de Porcentagem Entrevistados (%) 21 17 10 7 6 3. 27,27 22,08 12,99 9,09 7,79 3,9. 2 11 77. 2,6 14,29 100. Quando questionados a respeito de como ficaram sabendo do acampamento, alguns respondentes disseram que freqüentavam as reuniões do escritório regional do MST em Campinas. Outros afirmaram que vieram para o Elisabete devido a um convite feito por amigos que também participam da mobilização de ocupação. Os atos e as reuniões que deram origem à ocupação do Elisabete Teixeira ocorreram, principalmente, nas cidades da região. Por isso a ocorrência de tantos acampados residentes em tais municípios. Antes da vinda para o acampamento, as profissões mais exercidas pelos entrevistados, nestes municípios, eram a de pedreiro e/ou ajudante de pedreiro (19,48%), sendo que dentre estes uma é mulher, e a de doméstica (14,23%), exercida exclusivamente por mulheres. Outras profissões citadas foram: dona de casa, metalúrgico, encanador, ajudante de cozinha,.

(30) 28 lavrador, vendedor, etc. Um acampado afirmou que era assistente administrativo de uma grande rede de supermercados. Mas, após ter conhecido o movimento e seus ideais, e em virtude da participação da mãe no MST, ficou desmotivado em continuar a vida que tinha e decidiu ser militante. Pode-se inferir através desses dados que, a partir do momento em que esses acampados forem assentados (detentores de um pedaço de terra), o assentamento, conforme Bergamasco (1997), será considerado o principal fator de mudança das relações sociais destas pessoas. Elas terão o controle sobre o tempo de trabalho e a forma de uso da terra. Anteriormente, por serem empregados, tal controle não era uma atribuição nas suas relações sociais. A maior parte dos respondentes (36,36%) possui mais de 30 anos da vida trabalhados na zona rural. Das 77 pessoas entrevistadas, somente 25 pessoas têm até 10 anos de trabalho na roça. Em contrapartida, observa-se que também é alto o número de entrevistados em que o primeiro contato com a zona rural coincide com sua permanência no acampamento Elisabete Teixeira. Isto é, 11 entrevistados têm até 1 ano de experiência rural (Tabela 4).. Tabela 4 - Tempo de trabalho dos entrevistados na zona rural Tempo Rural Até 1 ano 2-5 anos 6-10 anos 11-15 anos 16-20 anos 21-25 anos 26-30 anos Mais 30 anos Total. Nº entrevistados 11 9 5 7 7 6 4. Porcentagem (%) 14,28 11,69 6,49 9,1 9,1 7,79 5,19. 28 77. 36,36 100. Mesmo com este elevado índice de trabalhadores rurais, nota-se que os moradores do Elisabete Teixeira residiam fora da zona rural antes de ir para o acampamento. Apenas 10 das 77 famílias entrevistadas moravam efetivamente na zona rural (Tabela 5). Com relação a isso, muitos depoimentos foram sobre a dificuldade que tais famílias de origem rural tiveram no passado em permanecer na roça, seja em virtude de arrendamentos.

(31) 29 que trouxeram prejuízos financeiros, seja pela falta de emprego em fazendas ou por motivos de saúde.. Tabela 5 - Local de residência anterior ao acampamento Zona Nº entrevistados 10 Rural 67 Urbana 77 Total. Porcentagem (%) 12,99 87,01 100. Foram inúmeras as causas motivadoras da ida para a cidade em busca de melhores condições de vida. No entanto, em muitos casos, tal mudança não foi bem sucedida devido à falta de estudo por parte dos acampados e à conseqüente dificuldade em conseguir um emprego. Situação que fez com que a condição de vida piorasse. Além disso, a convivência com a insatisfação por estar em um lugar que não era o de preferência foi citada, já que tais pessoas preferem o campo em virtude da origem rural e das maiores possibilidades de reprodução da vida doméstica e do seu sustento. Dessa forma, os acampados foram motivados a retornar ao campo, tanto para morar como para trabalhar. Eles viram esta oportunidade no MST, o que fez com que aderissem à luta e ao movimento. Depoimentos parecidos também foram encontrados por Leite et al (2004) em assentamentos do sul da Bahia, sertão do Ceará, entorno do Distrito Federal, sudeste do Pará, oeste de Santa Catarina e na zona canavieira do nordeste. Borsatto et al (2007) também encontraram, no Paraná, depoimentos semelhantes, ou seja, independente da região, este é um perfil característico de grande parte dos acampados e assentados do Brasil. Outro fato a ser observado no acampamento Elisabete Teixeira é que 70 sujeitos da pesquisa (90,91%) estão na área desde o início da luta em Limeira (Tabela 6) e destes, 57 (74,03%) participam de sua primeira ocupação, pois o tempo de luta no MST coincide com o tempo de estadia no Elisabete (Tabela 7). Dentre os participantes, somente 14 já participaram de outras ocupações. Do total, 63 estão nesta luta pela primeira vez. Porém, nem todos estão desde o início no acampamento em Limeira..

(32) 30 Tabela 6 - Tempo de acampamento dos entrevistados no Elisabete Teixeira Tempo de Elisabete Nº entrevistados Porcentagem (%) 70 90,91 Desde o início 2 2,60 10 meses 1 1,30 3 meses 1 1,30 5 meses 1 1,30 8 meses 1 1,30 9 meses 1 1,30 Quando saiu do Che Guevara 77 100,00 Total geral Tabela 7 - Tempo de participação dos entrevistados no MST Tempo MST Nº entrevistados Porcentagem (%) 57 74,03 Início do Elisabete 1 1,30 10 anos 1 1,30 8 anos 3 3,90 6 anos 1 1,30 5 anos 2 2,60 4 anos 3 3,90 3 anos 3 3,90 2 anos 2 2,60 10 meses 1 1,30 9 meses 1 1,30 8 meses 1 1,30 5 meses 1 1,30 3 meses 77 100,00 Total geral Praticamente todos os entrevistados participam dos trabalhos considerados coletivos no acampamento. Os moradores participam de mutirões, atos do MST ou de outras instituições que colaboram com o Movimento. Podem trabalhar na horta coletiva, na portaria (controlando quem entra e sai do acampamento, para a própria segurança) e também na coordenação dos núcleos de moradia ou de setores (produção, comunicação e/ou saúde). As práticas coletivas no interior dos assentamentos, mais do que um ideal nos discursos, podem também ser uma arma nas lutas internas, condenando ou excluindo da comunidade aqueles que por oposição ou indiferença recusam-se a se engajar nas atividades coletivas (LEITE et al, 2004). Através dos questionários com estas 77 famílias, foram identificados 166 moradores no acampamento. Em sua maioria, pessoas do sexo masculino (92). Mas com pouca diferença para o número de mulheres (74). A idade média, quando considerado o total de moradores, é.

(33) 31 de 35 anos. Dentre os 166 moradores, 117 são adultos (maiores de 18 anos), sendo 65 homens e 52 mulheres. Com relação à educação, praticamente todas as pessoas em idade escolar estão estudando em colégios de Limeira, já que há um ônibus que busca as crianças e adolescentes na portaria do acampamento. Entre os adultos, a escolaridade identificada encontra-se na tabela 8, a seguir:. Tabela 8 - Escolaridade dos adultos do acampamento Elisabete Teixeira Escolaridade Analfabeto Analfabeto funcional Ensino fundamental Incompleto Ensino fundamental completo Ensino Médio incompleto Ensino médio completo Técnico Superior incompleto Superior completo Total. Nº Porcentagem adultos (%) 3 2,56 11 9,40 80. 68,38. 10 1 7. 8,55 0,85 5,98. 2 1 2 117. 1,71 0,85 1,71 100,00. Pela tabela nota-se que a maior parte dos adultos do Elisabete Teixeira (68,38%) não possui o ensino fundamental completo, além da existência de 11 adultos classificados como analfabetos funcionais (só assinam o nome) e 3 analfabetos. O baixo nível de escolarização é um caso grave entre a população rural em geral e tem sido uma preocupação para os movimentos de trabalhadores, que estão sempre reivindicando escolas e cursos de alfabetização para os adultos no interior dos assentamentos (LEITE et al, 2004; MELO e SABBATO, 2006). Essa questão também é abordada por Bergamasco (1997) e Oliveira et al (2008). Quando questionados a respeito de trabalhos externos ao acampamento, seja como fator principal para a sobrevivência e/ou complementação de renda, a maioria afirmou não possuir nem contar com alguém na família com algum tipo de trabalho. Porém, isso é questionável. Em conversas informais, algumas pessoas afirmaram que uma parte significativa dos acampados trabalha sim externamente ao acampamento. Não se sabe se a omissão de tal situação deve-se a certa insegurança existente, devido à falta de intimidade.

(34) 32 entre acampado e pesquisadora, até então desconhecida. Com relação a isso, Leite et al (2004), também encontraram uma omissão dos dados de trabalho fora do lote em suas pesquisas em assentamentos. Segundo esses autores, os assentados recearam revelar trabalhos externos, devido ao fato de que esse procedimento não é bem visto tanto pelo INCRA, agentes de representação e mediação, como para os sindicatos, o MST e a Igreja. Por outro lado, os que admitiram trabalhar fora, fazendo os chamados “bicos”, disseram que os fazem justamente para melhorar ou para possuir uma renda, mesmo que pequena. Renda destinada à compra de comida, roupa e outros artigos necessários à sua sobrevivência. Os “bicos” mais freqüentes são os de pedreiro, lavrador, doméstica e outros serviços relacionados à construção civil. Vale lembrar que os trabalhos fora do acampamento são predominantemente de caráter eventual ou temporário. Nestes casos, o trabalho no acampamento não mantém a família ao longo do mês. Quanto à participação dos acampados em movimentos sociais ou de associativismo, foi identificada a participação de alguns, principalmente como militantes do MST e em igrejas evangélicas e católicas. Nesta questão, os acampados referiram-se às participações nos cultos das mesmas. Poucos possuem algum vínculo com sindicatos e/ou partidos políticos. Com relação a isto, todas estas organizações envolvidas com o Elisabete Teixeira são importantes e contribuem, sob diferentes perspectivas, para a integração desse grupo, ao mesmo tempo em que dão aos acampados sua identidade social (LEITE et al, 2004). Entre os 77 respondentes da pesquisa, pode-se verificar que 18 moram sozinhos nos barracos. No entanto, a maioria está sozinha para assegurar um lugar para quando for aprovado o assentamento rural, a fim de ter acesso garantido à terra. Nesses casos, os familiares do acampado(a) trabalham nas cidades e, por diversas vezes, enviam mantimentos e outros artigos necessários à permanência da pessoa no acampamento. Dessa forma, os acampados não necessitam sair para trabalhar e podem dedicar-se mais às atividades do MST. Muitos afirmaram que, ao ter acesso a terra (ou seja, assim que for estabelecido o assentamento e emitido os devidos documentos do lote), os familiares, principalmente maridos e esposas, deixarão a cidade para viver e trabalhar na terra conquistada, já que muitos vivem em casas de aluguel. De acordo com Leite et al (2004), a chegada desses familiares indica que os assentamentos representam uma forma de abrigo para as famílias que possuem dificuldades de acesso a terra e emprego. Os assentamentos acabam atuando, também, como um elo entre.

(35) 33 as famílias, aproximando membros antes dispersos. Assim, contribui não só na esfera econômica, mas também na social destes grupos de trabalhadores. Dos 77 entrevistados, 48(62,34%) acreditam que antes do Elisabete, suas vidas estavam em condições piores. Nesses casos, a vinda para o acampamento foi algo positivo. Na medida em que 16 (20,78%) disseram que antes a vida era melhor e para 13 (16,88%) tudo continua exatamente igual (tabela 9).. Tabela 9 - Condição de vida anterior a chegada no acampamento Vida Antes Pior Melhor Igual Total. N. entrevistados 48 16 13 77. Porcentagem (%) 62,34 20,78 16,88 100. Com relação aos acampados que afirmaram que a vida piorou no Elisabete, alegou-se como motivos principais a falta de água; energia elétrica; dinheiro e renda fixa; a precariedade dos barracos; a demora no processo de assentamento. Porém, por saberem da existente possibilidade de conquista da terra, não desistem da luta. Este sentimento mantém a esperança e a luta dessas pessoas. Na ocasião destas entrevistas, ainda não havia a decisão de que o local seria destinado ao PDS. Desta forma, alguns acampados alegaram que a situação ficou mais difícil após o despejo e que a recuperação de tal acontecimento seria improvável, devido à perda de bens em geral. Para as pessoas que alegaram que a vida atualmente é melhor, os principais motivos alegados foram: possibilidade de plantar; liberdade para trabalhar; tranqüilidade proporcionada pelo lugar; inexistência das dificuldades e despesas da vida na cidade, como a falta de emprego. Grande parte destas pessoas se apóia na possibilidade de ganhar a terra. A maior parte destes acampados trabalha e vive da agricultura por gostarem da roça, da liberdade que o trabalho na lavoura proporciona, pela possibilidade de mobilidade de horários de trabalho, diferentemente das cidades. Mas, o principal motivo para estar na agricultura é o fato da maioria deles ter raízes no campo. Eles cresceram na zona rural e sempre trabalharam para outros fazendeiros. Agora é a vez deles de terem a terra e não ser mais explorados por terceiros. Segundo uma acampada, a grande dificuldade da vida na cidade é a falta de oportunidade, principalmente, devido à falta de estudos. Já na roça, segundo ela, só não “dá.

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