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A efetividade da lei 9.605/98 em crimes contra a flora praticados por pessoas jurídicas em Sergipe

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. NÍVEL MESTRADO. ANA LÚCIA OLIVEIRA FILIPIN. A EFETIVIDADE DA LEI 9.605/98 EM CRIMES CONTRA A FLORA PRATICADOS POR PESSOAS JURÍDICAS EM SERGIPE. SÃO CRISTÓVÃO/SE 2015.

(2) ii. ANA LÚCIA OLIVEIRA FILIPIN. A EFETIVIDADE DA LEI 9.605/98 EM CRIMES CONTRA A FLORA PRATICADOS POR PESSOAS JURÍDICAS EM SERGIPE. Trabalho apresentado ao Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientador: Prof.ª Drª. Laura Jane Gomes. SÃO CRISTÓVÃO/SE 2015.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. F483e. Filipin, Ana Lúcia Oliveira A efetividade da lei 9.605/98 em crimes contra a flora praticados por pessoas jurídicas em Sergipe / Ana Lucia Oliveira Filipin ; orientador Laura Jane Gomes. – São Cristóvão, 2015. 118 f. : il.. Dissertação (mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal de Sergipe, 2015.. 1. Direito ambiental. 2. Proteção ambiental. 3. Crime contra o meio ambientel - Sergipe. I. Gomes, Laura Jane, orient. II. Título. CDU 349.6(813.7).

(4) iii.

(5) iv. Dedico este trabalho a Sergio Filipin, companheiro de vida, e que após de 20 anos de convivência ainda me faz questionar: “Pertenceis ao mundo dos anjos ou ao dos homens? Esclarecei-mo, porque minha inteligência é incapaz de compreendê-lo. Vejo uma forma humana, porém, se aguço o entendimento, encontro ser um corpo que procede das altas esferas. Bendito seja o que ponderou a maneira de ser de suas criaturas, e fez com que, por natureza fôsseis uma luz maravilhosa. ” (Bem Hazm, de Córdoba – 994 a 1063)..

(6) v. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus que na sua infinita bondade intercedeu por mim, abençoando-me e amparando-me SEMPRE. À Laura Jane, minha orientadora, que é a materialização de uma dessas intervenções divinas em minha vida. À sua competência, generosidade, humildade, paciência e bom humor, tornaram leve a nossa convivência. À coordenadora do PRODEMA e sua dedicada equipe, sempre nos atendendo de forma solícita. À José Damião de Melo, cujo auxílio e orientações foram cruciais na fase de seleção para o ingresso neste Mestrado. Ao Instituto Federal de Sergipe - IFS pelo apoio e incentivo ao crescimento acadêmico de seus servidores. Ao IBAMA/SE na pessoa de seu Superintendente Manoel Resende e dos servidores Alexis e Pereira. Aos professores que não pouparam esforços para compartilhar seus preciosos conhecimentos. Aos colegas do mestrado, sempre amáveis, generosos e companheiros, em especial a minha prof.ª Carina. À minha fiel e estimada amiga Juliane. Ao meu esposo, mãe, irmãos, filhas, sobrinhos pelo apoio e incentivo sempre. Aos membros da banca examinadora que gentilmente aceitaram o convite para contribuir com este trabalho..

(7) vi. “A natureza não é mais a escrava do homem, ele também não é mais seu mestre. ” (Deviller).

(8) vii. RESUMO. O Estado de Sergipe possui atualmente um déficit significativo em sua vegetação e tal panorama pode ser atribuído a ausência de uma política estadual de florestas que priorize, por exemplo, a recuperação florestal e o plantio de espécies exóticas para suprir a demanda energética. Contribui para este quadro, as agressões contra a Flora ocasionadas por pessoas jurídicas, consideradas pela legislação vigente como crimes ambientais. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo geral avaliar a efetividade da lei 9.605/98, por meio da identificação, nos autos de infração, de crimes cometidos contra Flora por pessoa jurídica, aplicados pelo IBAMA no Estado de Sergipe no período de 2000 a 2011. Como objetivos específicos, buscou-se identificar e analisar o número de processos que foram resolvidos na esfera administrativa e seus desdobramentos, além de verificar o tipo de tratamento jurídico dado aos processos de crimes ambientais contra a Flora. Essa pesquisa é classificada como documental, exploratória, descritiva e qualiquantitativa. Para lograr o propósito requerido, 17 processos foram analisados na sede do IBAMA no período de junho a agosto de 2014, em que foram selecionados os crimes de destruição, desmatamento e incêndio contra a Flora, para avaliar a efetividade da Lei de crimes e infrações ambientais nas esferas administrativa, cível e penal, dando especial ênfase ao tempo de duração do processo e o recolhimento da multa administrativa. De posse das coordenadas geográficas existentes nos processos, foi possível gerar um mapa da degradação ambiental ocasionada por Pessoas Jurídicas no estado de Sergipe, levando-se a conclusão de que a Lei 9.605/98 não tem alcançado, no Estado de Sergipe, os objetivos para os quais foi elaborada, uma vez que constatou-se que na esfera administrativa houve um baixo percentual de multas recolhidas e de áreas recuperadas; que na esfera penal os réus foram absolvidos ou condenados a penas módicas e os crimes considerados como de menor potencial ofensivo e na esfera cível nenhuma ação concreta foi implementada.. PALAVRAS-CHAVE: Crime Ambiental, Direito Difuso, Gestão Florestal..

(9) viii. ABSTRACT. The State of Sergipe currently has a significant deficit in its vegetation and that situation can be attributed to lack of a state policy that prioritizes forests, for example, forest restoration and planting of exotic species to fill the energy demand. Contributes to this framework, the aggressions against Flora caused by legal entities, considered by existing legislation as environmental crimes. In this sense, this research has as main objective to evaluate the effectiveness of the law 9.605 / 98, by identifying, in tax assessments, crimes against Flora by a legal entity, applied by IBAMA in the State of Sergipe in the period 2000 to 2011. the specific objectives aimed to identify the number of cases that were resolved at the administrative level and its consequences, and to identify the type of legal treatment of the processes of environmental crimes against Flora. This research is classified as documentary, exploratory, descriptive and qualitative-quantitative. To achieve the required purpose, 17 cases were analyzed in IBAMA headquarters in the period June-August 2014, which were selected crimes of destruction, deforestation and fire Flora, to evaluate the effectiveness of the Law of environmental crimes at the administrative , civil and criminal, with special emphasis on process duration and the payment of administrative fine. In possession of the existing geographical coordinates processes, it was possible to generate a map of the environmental degradation caused by Legal Entities in the state of Sergipe, leading to the conclusion that the Law 9.605 / 98 does not achieve the aims for which it was developed. Since it was found that at the administrative level there was a low percentage of fines collected and recovered areas, that in criminal cases the defendants were acquitted or sentenced to moved around penalties and crimes considered less offensive potential and in the civil sphere no concrete action was implemented.. KEYWORDS: Environmental Crime, Diffuse Right, Forest Management..

(10) ix. LISTA DE FIGURAS. FIGURA 1 - Localização dos municípios do estado de Sergipe avaliados nesta pesquisa.................................................................................................................................. 43 FIGURA 2 - Fluxograma das etapas de análise de Crimes Ambientais.............................. 48 FIGURA 3 - Localização dos municípios em que ocorreram os danos ambientais e suas respectivas áreas de extensão (ha)......................................................................................... 50 FIGURA 4 - Realização de PRAD nos processos onde ocorreram dano ambiental......... . 52 FIGURA 5 - Tipos penais de crimes ambientais contra flora realizados por pessoas jurídicas analisados nesta pesquisa....................................................................................................... 54 FIGURA 6 - Tipos de pessoa jurídica e respectivas porcentagens dos crimes contra flora em Sergipe................................................................................................................................... 57 FIGURA 7 - Empreendimentos causadores dos crimes ambientais, em porcentagem....... 60 FIGURA 8 - Formas de denúncia dos danos ambientais..................................................... 60 FIGURA 9 - Situação das defesas apresentadas pelos autuados do IBAMA...................... 63 FIGURA 10 - Situação das defesas em relação ao julgamento do auto de infração............. 65 FIGURA 11 - Situação das defesas em segunda instância em relação ao julgamento do auto de infração.............................................................................................................................. 66 FIGURA 12 - Reincidência em crime ambiental praticados pelas pessoas jurídicas............ 67 FIGURA 13 – Situação do recolhimento de multas por crimes ambientais praticados por pessoa jurídica........................................................................................................................ 68.

(11) x. LISTA DE QUADROS. QUADRO 1 - Aspectos da Legislação Ambiental no Brasil do século XVI até os dias de hoje......................................................................................................................................... 23 QUADRO 2 - Descrição dos biomas, ecossistemas e/ou fisionomias afetados de acordo com os autos de infração analisados nesta pesquisa...................................................................... 51 QUADRO 3 - Ano em que ocorreu o dano. Duração em anos e situação em agosto de 2014........................................................................................................................................ 56 QUADRO 4 - Especificação da atividade econômica e respectivos percentuais dos danos nos crimes contra flora em Sergipe.............................................................................................. 58 QUADRO 5 - Valores iniciais das multas aplicadas em pessoas jurídicas em crimes contra a flora em Sergipe..................................................................................................................... 69 QUADRO 6 – Ações penais e sentenças condenatórias em pessoas jurídicas por crimes contra a flora em Sergipe.................................................................................................................. 70 QUADRO 7 - Cobranças judiciais através de execução fiscal em crimes contra a flora para pessoa jurídica em Sergipe..................................................................................................... 72.

(12) xi. LISTA DE SIGLAS. ADEMA. Administração Estadual do Meio Ambiente.. ANA. Agência Nacional de Águas.. CADIN. Cadastro Informativo de Créditos não quitados no setor público federal.. CDC. Código de defesa do Consumidor.. CEP. Comitê de Ética e Pesquisa.. CF. Constituição Federal.. CNPJ. Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica.. CNS. Conselho Nacional de Saúde.. CNUMAD. Conferência das nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.. CP. Código Penal.. CPC. Código de Processo Civil.. CPP. Código de Processo Penal.. IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.. IN. Instrução Normativa.. IOF. Imposto sobre Operações Financeiras.. JFSE. Justiça Federal de Sergipe.. JUCESE. Junta Comercial de Sergipe.. M.P. Ministério Público.. ONU. Organização das Nações Unidas.. PAC. Programa de Aceleração do Crescimento..

(13) xii. PFE. Procuradoria Federal Especializada.. PRAD. Programa de Recuperação de Áreas Degradadas.. PRODEMA. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente.. TAC. Termo de Ajustamento de Conduta..

(14) xiii. SUMÁRIO. 1.0 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1 2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 3 2.1 DIREITO PENAL: BASES CONCEITUAIS ....................................................... 3 2.2 RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS EM MATÉRIA AMBIENTAL.............................................................................................................. 6 2.3 O PARADIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO ................................................................................... 10 2.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ..................................................... 14 2.5 MARCOS LEGISLATIVOS E A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS ................ 22 2.6 INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE COMBATE AO CRIME AMBIENTAL .................................................................................................................................... 32 2.6.1 O Devido Processo Legal e a Defesa Administrativa .......................... 33 2.6.2 Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa ................................... 34 2.6.3 A multa e sua Conversão em Dívida Ativa da Fazenda Pública .......... 35 2.6.4 A execução Fiscal ................................................................................. 37 2.6.5 A Ação Penal em Matéria Ambiental ................................................... 38 2.6.6 A Ação Civil Pública e a Ação Popular como instrumento de processual de proteção ao meio ambiente.......................................................................................39 3.0 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO.................................................................... 42 3.1 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................... 42 3.2 COLETA E ANÁLISE DE INFORMAÇÕES .................................................... 43.

(15) xiv. 4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................................. 49 4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS ....................................... . 49 4.2 ATUAÇÃO DA FISCALIZAÇÃO ..................................................................... 60 4.3 JULGAMENTOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA ...................................... 63 4.4 JULGAMENTOS NA ESFERA JUDICIAL ...................................................... 69 4.5 ERROS EM PROCESSO NA FASE DE INQUÉRITO ADMINISTRATIVO E AÇÃO PENAL PELO M.P ....................................................................................... 73 5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 78 APÊNDICES ........................................................................................................................ 90 ANEXOS .............................................................................................................................. 95.

(16) 1. 1.0 INTRODUÇÃO. A proteção da Flora encontra assento constitucional no Art. 225 §1º, VII, Constituição Federal, a qual determina ao Poder Público o dever de proteger este bem ambiental. Assim, toda e qualquer vegetação está sob a proteção Constitucional - Art. 225, (BRASIL,1998), assim como da legislação infraconstitucional, a exemplo das Leis 9.985 (BRASIL,2000) e 12.651 (BRASIL, 2012), dentre outras. Em especial pode-se destacar a proteção das florestas. Há registros de que as afrontas a esses bens ambientais ocorrem desde a época das grandes navegações, (BOFF, 2010). E atualmente, países com grande biodiversidade como Austrália, México, China e Indonésia lideram os índices de desmatamento (COREY, et al, 2010). No Brasil não é diferente, biomas como Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga, sofrem com a devastação desenfreada, estimulada pelo valor econômico que estas áreas naturais possuem por conta da sua utilização na alimentação, atividade industrial, medicina, habitação e vestuário (GELUDA, 2005). Em Sergipe o Diagnóstico Florestal (Sergipe, 2012) apresentou dados preocupantes no que diz respeito a Flora. Ele mostrou que na área territorial do Estado a cobertura da vegetação nativa existente corresponde a apenas 13,03% da cobertura original. Em 1998, foi elaborada uma Lei Federal para enquadrar as condutas danosas contra a Flora como crimes ambientais, pois até então haviam somente algumas leis esparsas. Nesse contexto, a pesquisa fez uma análise da Lei 9.605 (BRASIL,1998) a partir da sua aplicação em casos concretos, estudados em autuações de infrações e crimes ambientais expedidos em fiscalizações do IBAMA/SE, cujo foco foi direcionado à efetividade da Lei. O estudo voltado às Pessoas Jurídicas como agente causador do dano ambiental foi estimulado pela necessidade de avaliar como tem-se conduzido a prática da Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas nos crimes ambientais, tema de intensa polêmica discutidos por doutrinadores de Direito Penal Ambiental. A presente pesquisa apresenta sua relevância em virtude do seu objeto de estudo envolver matéria de Direito, Meio Ambiente e a sua relação homem natureza, evidenciando a interdisciplinaridade da temática. Em nível acadêmico contribui para o Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), com um tema ainda pouco explorado,.

(17) 2. podendo a partir de então, estimular futuros estudos sobre essa temática. A motivação para realização deste trabalho foi a de demonstrar para a Sociedade, até que ponto a Lei de Crimes e infrações ambientais está atendendo os seus anseios, já que, em tese, o legislador a elaborou como seu representante legítimo, buscando atender as suas expectativas, a partir de uma “procuração” dada através do voto. Para esta pesquisa foi estabelecido como objetivo geral avaliar a efetividade da lei 9.605 (BRASIL,1998), por meio da identificação de crimes cometidos contra Flora por pessoas jurídicas, cujos autos de infração foram aplicados pelo IBAMA no Estado de Sergipe, no período de 2000 a 2011. E como objetivos específicos, buscou-se identificar e analisar o número de processos que foram resolvidos na esfera administrativa e seus desdobramentos, além de verificar o tipo de tratamento jurídico dado aos processos de crimes ambientais contra a Flora, partindo-se da hipótese de que a Lei de Crimes Ambientais no Estado de Sergipe é de difícil efetividade, figurando-se como um diploma legal que não tem sido aplicado satisfatoriamente..

(18) 3. 2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. A contextualização do presente trabalho iniciou discorrendo sobre as bases conceituais do Direito Penal, a questão da responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental, o papel do ambientalismo no Brasil para a institucionalização do Direito Ambiental, a legislação ambiental e Lei de crimes e infrações ambientais com seus marcos legislativos, e por fim, abordou os instrumentos processuais utilizados no combate aos crimes ambientais.. 2.1 Direito Penal: Bases Conceituais. A responsabilidade penal das Pessoas Jurídicas em matéria ambiental suscita o destaque a alguns conceitos inerentes ao Direito Penal para uma melhor compreensão do tema dentro das Ciências Ambientais. Assim, conceitos como: bem jurídico, crime, punibilidade, sujeitos do crime, dentre outros, serão abordados neste trabalho. Com a finalidade de propiciar ao leitor, melhor clareza quando a análise temática de cunho socioambiental. Dentre as funções do Direito Penal, destaca-se a proteção de bens jurídicos mais relevantes, como a vida, a liberdade, a dignidade, o patrimônio. Ele também visa à convivência harmônica em sociedade, atribuindo ao Estado o Poder-dever de regular as relações em sociedade, atuando tão e somente quando tais bens a serem protegidos não possam ser resguardados por outros ramos do Direito (FIORILLO, 2011, p. 74). No Direito Ambiental Penal o “[...] bem jurídico tutelado é o meio ambiente natural, cultural, artificial e do trabalho” que se materializam. No caso do meio ambiente natural, na conservação, limpeza e pureza do solo, da água, do ar, indispensáveis à manutenção da vida das presentes e futuras gerações (SIRVINSKAS, 2011, p.47). Ainda no mesmo sentido LECEY (2010, p.280), ao tratar das Normas Penais em Branco1, afirma que é o Ambiente, o. 1. Normas Penais em Branco são normas cuja descrição da conduta está incompleta, necessitando de complementação por outra disposição legal ou regulamentar (CAPEZ, 2007. p.30)..

(19) 4. bem juridicamente tutelado por essas normas, impondo dessa forma, uma relação estreita entre o Direito Ambiental Penal e o Direito Ambiental Administrativo. Assim, o Direito Penal atua em ultima ratio, é o que a Doutrina denomina de Princípio da Intervenção Mínima, e com base nesse princípio tem-se que: O Direito Penal deve, portanto, interferir o menos possível na vida em sociedade, devendo ser solicitado somente quando os demais ramos do Direito, comprovadamente, não forem capazes de proteger aqueles bens considerados da maior importância. (GRECO, 2007, p. 49).. Para que o bem jurídico possa ser considerado violado, a ação deve estar prescrita na lei (princípio da legalidade) e assim, tipificado como crime. O conceito de crime apresenta algumas controvérsias doutrinárias, que não são objeto deste trabalho, por isso optou-se por destacar o conceito de crime material, por entender que possui uma melhor relação com o tema discutido, no qual crime “[...] é a ação ou omissão que contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição com a ameaça de pena” (BITENCOURT, 2013, p.277). Diante do exposto, faz-se necessário dar especial ênfase a tipificação de crimes praticados contra a Flora, esse bem jurídico essencial à vida das presentes e futuras gerações, conceituada no meio jurídico como: A totalidade das espécies vegetais que compreendem a vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de importância individual. Compreende também algas e fitoplânctons marinhos flutuantes. A flora se organiza geralmente em estratos, que determinam formações específicas como campos e pradarias, savanas e estepes, bosques e florestas, e outros (MILARÉ, 2007, p.1251).. O sujeito ativo do crime em matéria ambiental pode ser a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. Já os sujeitos passivos são o Estado e a coletividade, uma vez que é um bem de natureza difusa (GOMES, 2011, p.181). O direito difuso tutela um número indeterminado e indeterminável de pessoas. E o Direito Ambiental brasileiro possui estas características, por isso a sua importância. A proteção ao meio ambiente deve ser assegurada a todos universalmente, pois os recursos naturais pertencem a um número indeterminado de pessoas. Ainda nesse sentido, Silva enfatiza o meio ambiente como “um direito de natureza difusa, que transcende os limites territoriais da soberania dos Estados e ultrapassa as suas fronteiras físicas” (2010 p.137)..

(20) 5. Sujeito ativo é aquele que pratica a conduta reprovável em uma determinada sociedade e cuja ação está prescrita em Lei. Para Mirabete (2010, p.107) “[...] Sujeito ativo do crime é aquele que pratica a conduta descrita na lei, ou seja, o fato típico”. O fato típico é o tipo penal descrito na Lei como o preceito primário que descreve a conduta. Assim temos que “[...] quanto ao seu conteúdo, a lei penal contém uma norma que pode ter característica proibitiva, permissiva, explicativa ou complementar” (BITENCOURT, 2013, p173). Muito embora haja diferentes classificações das normas penais, essencialmente temos que compreender a existência de normas penais incriminadoras e não incriminadoras. As incriminadoras descrevem os ilícitos penais ao proibir ou impor a prática de determinada conduta, que pode ser um crime comissivo ou omissivo, respectivamente. A partir da descrição tem-se a ciência de que a prática de determinada conduta gera expressamente pena correspondente. Em relação às normas não incriminadoras, estas apenas auxiliam na interpretação e aplicação das normas incriminadoras. Toda essa sistematização tem a finalidade de regular as relações dos indivíduos entre si e perante a sociedade, entretanto, para não que haja afronta aos direitos individuais, essas normas devem ser elaboradas e aplicadas seguindo rígidos requisitos de forma e validade. A doutrina aponta uma série de valoração e princípios que orientam a aplicação e interpretação da norma penal (BITENCOURT, 2013 p. 36-37). A Lei de Crimes e Infrações Ambientais (BRASIL, 1998) pertence a um conjunto de leis penais. Entretanto, dentro do sistema de interpretação desta Lei, repousa o “saber do Direito Penal” ou “Ciência Penal” das quais emergiram diversas críticas aos seus dispositivos. Uma das críticas de maior repercussão no meio jurídico é a que trata da InConstitucionalidade da responsabilização penal de pessoas jurídicas em matéria ambiental, tendo doutrinadores de renome como René Ariel Dotti, Luiz Vicente Cernicchiaro, José Cretella Junior e Luiz Regis Prado que se opõem a esse tipo de responsabilização (ALMEIDA, 2014, p.26). De forma diversa, doutrinadores como Édis Milaré, Paulo Afonso de Leme Machado, Vladimir Passos de Freitas, Ada Pellegrini Grinover, Antonio Evaristo de Moraes Filho, Damásio E. de Jesus, admitem a responsabilidade penal de pessoas jurídicas (GOMES; MACIEL, 2011, p 37)..

(21) 6. 2.2 A RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS EM MATÉRIA AMBIENTAL. As responsabilidades previstas no art. 225 § 3º da Constituição Federal da República do Brasil (BRASIL, 1998) quanto aos danos ambientais são: administrativa, civil e penal. Todo aquele que pratica um ato ilícito possui o dever de repará-lo. Assim, no tocante à responsabilidade administrativa é peculiar a aplicação de pena. Entretanto, não configura essa pena uma infração penal, pois o Estado a aplica no exercício do seu poder administrativo e não jurisdicional (FREITAS, 2010, p.26). A Administração Pública, em virtude de sua competência Administrativa, detém o poder de fiscalizar e orientar a preservação do Meio Ambiente (LECEY, 2010, p.280). A administração exerce vários tipos de poder, a exemplo do Poder Normativo ou Regulamentar, Poder Discricionário, e por fim, o que mais se relaciona com o este estudo, o Poder de Polícia. É através do Poder de Polícia que a Responsabilidade Administrativa em matéria ambiental se concretiza. O Poder de Polícia possui fundamento no Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o privado e pode ser exercido de forma preventiva ou repressiva. De forma preventiva é denominada pela doutrina como Poder de Polícia Negativo, o que significa que a limitação da liberdade ou da propriedade do particular, constitui uma abstenção, uma obrigação de não fazer. Quando o administrado não observando o seu dever pratica ato ilícito, a Administração aplica a Responsabilidade Administrativa com o objetivo de coibir o dano causado, utilizando o seu Poder de Polícia Repressivo. Tal poder é dotado de atributos tais como discricionariedade, autoexecutoriedade e como não poderia deixar de ser, a coercibilidade. O Poder de polícia está previsto no artigo 78 do Código Tributário Nacional - Lei 5.172 (BRASIL, 1966), e é considerado: Atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e os direitos individuais ou coletivos..

(22) 7. Assim, no uso do seu Poder de Polícia, a Administração Pública relativiza determinados direitos individuais em prol de interesses coletivos, agindo de forma coercitiva para alcançar os seus fins. Entretanto, é importante destacar que o Administrador Público investido em tal poder, deve exercê-lo com o devido cuidado, a fim de que não haja abusos ou excessos em suas decisões. Nesse sentido Deviller (2010, p. 46) afirma que “a autoridade investida no poder de polícia deve ser capaz de adaptar a gravidade da medida de polícia à gravidade do atentado [...]”, logo, busca-se uma justa medida em respeito à liberdade dos administrados em face do compromisso de zelar pela ordem, em sentido prático. As infrações administrativas estão previstas no capítulo VI da Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998) e em seu Decreto Regulamentador de Nº 6.514/2008 (BRASIL, 2008). A Lei de Crimes e Infrações Ambientais foi elaborada com o intuito de regulamentar o art. 225 § 3º, C.F. (BRASIL, 1988), mas no que tange a Reponsabilidade da Pessoa Jurídica, criou uma verdadeira celeuma, dividindo os estudiosos do Direito com suas respectivas correntes e posições doutrinárias. Assim, para esse tema tão polêmico nos deparamos com o entendimento de três correntes munidas de argumentos distintos. A primeira corrente denominada de Radical (GOMES; MACIEL, 2011), afirma que a Constituição não prevê a Responsabilidade da Pessoa Jurídica, e sim separa as responsabilidades por categoria, impondo as responsabilidades civis e penais para a Pessoa Física, quando refere-se às condutas, e a Responsabilidade Administrativa para a Pessoa Jurídica, quando refere-se às atividades. A segunda corrente afirma que a Pessoa Jurídica é uma ficção jurídica, abstrações legais desprovidas de vontade e finalidade. Para essa teoria a Pessoa Jurídica não delinque, não pode cometer crime, não age com vontade e consciência, não atua com dolo ou culpa, portanto não pratica crime. Não age com culpabilidade; não tem imputabilidade (capacidade de entender), não possui potencial consciência da ilicitude, dessa forma, não pode dela exigir conduta diversa, já que não pratica conduta. Portanto, não pode responder penalmente. Para.

(23) 8. que isso acontecesse haveria a necessidade de criar uma nova teoria do crime, própria para as pessoas jurídicas2. A principal diferença entre a primeira corrente e a segunda é a de que a primeira, por ser mais radical, defende a inconstitucionalidade da Lei de Crimes Infrações Ambientais, enquanto que a segunda baseia-se principalmente nas teorias de estudiosos do direito civil, acerca da pessoa jurídica, não invocando a inadequada interpretação literal da norma constitucional contida no art. 225 §3º, CF (BRASIL, 1988). Para a terceira corrente, a Pessoa jurídica comete crime. Tal afirmação baseia-se no fato de que Pessoa Jurídica não é uma mera ficção legal, é uma realidade independente das pessoas que a compõem. Na Teoria da Realidade ou personalidade real, defende que a Pessoa Jurídica possui culpabilidade social. Inevitavelmente, tal polêmica doutrinária deixa todo meio jurídico (advogados, defensores, promotores, procuradores, juízes e professores) ávidos para saber como as cortes irão se manifestar diante de casos concretos. Desta forma, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que a pessoa jurídica pode cometer crime. A corte posiciona-se no sentido de que a pessoa jurídica tem vontade autônoma de decisão (não vontade humana), pode ser sujeito ativo de crime e pode ser denunciada por crime ambiental, desde que juntamente com a (s) Pessoa (s) Física (s), responsável (is) pela execução ou decisão do crime. Se a denúncia for genérica3 a ação pode ser trancada, ou a petição ser considerada inepta. (GOMES; MACIEL, 2011). Convém ressaltar que a Responsabilidade Ambiental, é um tema recente, muito embora, já tenha sido objeto de normatização anterior à Constituição e à Lei de Crimes e Infrações Ambientais, através da Lei 6.938/81 (BRASIL, 1981) que trata da Política Nacional do Meio Ambiente. Nesta previu-se a responsabilidade ambiental de pessoas jurídicas de direito privado (Artigos 14 e seguintes), que ganhou mais força a partir da CF/88 (Artigo 225 §3º).. 2. Sobre esse tema (Gomes; Maciel, 2011, p 37) exemplificam o caso da França, que responsabiliza penalmente a Pessoa Jurídica, mas que, através da Lei de Adaptação nº 92-1336, regulamentada pelo Decreto 92-726, de 1993, com a criação de normas penais e processuais condizentes com as pessoas jurídicas. 3. Denúncia Genérica é aquela oferecida contra pessoa jurídica e cujos fatos não indicam com clareza, qual decisão do representante legal ou órgão colegiado ensejou na infração penal e qual o interesse ou benefício a empresa auferiu com a prática criminosa (Gomes; Maciel, 2011)..

(24) 9. É notório, que a responsabilização é de ordem administrativa, civil e penal - art. 225 §3º, CF, (BRASIL,1988). Todas as formas de responsabilidade possuem instrumentos para subsidiar a materialização das cobranças por danos causados ao meio ambiente, seja seu agente causador pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. Assim, preconiza a legislação quanto ao dano ambiental, que aquele que o causou tem o dever de reparar, ressarcir, compensar, buscando, dentro do possível, trazer o bem jurídico afetado ao status quo ante. Nesse sentido danos ou ameaça ao ambiente, seja ele natural, artificial ou cultural, impõe ao poluidor ou potencial poluidor o dever de arcar com as obrigações geradas a partir dos riscos de sua conduta, pois não é admitido a ninguém individualmente gerar prejuízos a bens que pertencem à coletividade. Um exemplo clássico desse entendimento é a relativização do direito de propriedade, quando há interesse ambiental (MILARÉ, 2013). Para que haja uma responsabilidade penal ambiental, necessário se faz a previsão das condutas em Lei, pois só poderá ser considerado crime o que está descrito em Lei – Princípio da Legalidade. Princípio fundamental do direito Penal, sustenta que a norma só é válida e com poderes para incriminar se contiver os requisitos básicos, denominados de preceito primário, definição da conduta, e preceito secundário que é a sanção penal correspondente ao crime descrito (CAPEZ, 2007). Aplicar a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais é um grande desafio, pois a Lei que a prevê deixa lacunas de ordem penal e processual penal, cabendo, ao Código Penal e Código de Processo Penal suprir a omissão. Ocorre que o silêncio da Lei Ambiental Penal, dificulta substancialmente a sua aplicabilidade (GOMES; MACIEL, 2011). As pessoas jurídicas rés nas ações penais se valem das garantias da legislação penal geral para ampliar seus meios de defesa, dificultando a aplicação da Lei de crimes e infrações ambientais, e, assim o fazem no pleno exercício de seus direitos, entretanto, na prática, essas garantias refletem a não efetividade da Lei 9.605 (BRASIL, 1998) e não atingem a finalidade do legislador..

(25) 10. 2.3 O PARADIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO. A expressão Paradigma indica um modelo, padrão, um exemplo. As inovações dão margem a um conceito muito abrangente e divergente do conceito de Paradigma. Kuhn (1995) reduziu essa polissemia em duas teorias. A primeira é a de que Paradigma seria o conjunto de “crenças, valores e técnicas” partilhadas por determinados membros de uma comunidade. A segunda é a de que apenas um tipo desses conjuntos pode ser o modelo, o exemplo suficiente, como uma forma codificada a substituir diversas regras e solucionar os questionamentos da “ciência normal”. Para Leff (2010, p.62), “a crise ambiental problematiza os paradigmas estabelecidos do conhecimento e demanda novas metodologias capazes de orientar um processo de reconstrução do saber”, ou seja, essas novas metodologias possibilitam um outro olhar. O desenvolvimento sustentável se enquadra como o novo paradigma, no qual o modelo de desenvolvimento deve vir atrelado a uma técnica em que a exploração dos recursos naturais possa ser realizada de forma racional e equilibrada. Entretanto, a análise integrada da realidade mostra tão somente que há uma incongruência em conciliar o Direito Ambiental brasileiro, que tem como alicerce o desenvolvimento sustentável, e o modelo de produção vigente. A preocupação com um Meio Ambiente ecologicamente equilibrado teve uma maior ênfase a partir da Conferência das Organizações das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo no ano de 1972. Nela reuniram-se vários Estadistas a fim de buscar estratégias para encontrar um equilíbrio entre meio ambiente e desenvolvimento de forma a não acarretar prejuízos aos ecossistemas4, que geraria drásticas consequências à população mundial (BERTUCCI, 2011, p.05). Nesse cenário o Brasil se apresentava receptivo as ações das Organizações das Nações Unidas e passou a ser signatário dos principais tratados internacionais sobre o meio ambiente, ratificando os mais importantes, antes mesmo da promulgação da Constituição de 1988 e intensificando-se após a sua entrada em vigor (SILVA, 2010, p 126). 4. Ecossistema. Conjunto de organismos juntos incluindo seus ambientes físicos e químicos (RICKLEFS, 2006, p.542)..

(26) 11. O Direito Ambiental Brasileiro se adequa a este Paradigma de desenvolvimento sustentável, quando, por exemplo, no art. 216, CF (BRASIL 1998) determina que constituem patrimônio cultural brasileiro, os sítios de valor ecológicos e científico, quando: determina a preservação e restauração de processos ecológicos e a necessidade de prover o manejo ecológico de espécies e ecossistemas (art. 225, I, CF); e quando estabelece como princípios da Ordem Econômica a função social da propriedade e a defesa do meio ambiente (art.170, III e VI, CF). A Carta Magna apresenta conceitos que demonstram a interdisciplinaridade da temática. Para Silva (2010, p.112) “é inútil buscar a definição desses conceitos na ciência jurídica, pois são conceitos pré-jurídicos, que se hão de procurar nas ciências ecobiológicas”. Lamentavelmente o conteúdo normativo da nossa Constituição não pode ser utilizado como ferramenta de garantia e efetividade do Direito Ambiental Brasileiro. E isso não impediu que o Brasil, sob o legado de desenvolvimento a qualquer custo, priorizasse políticas de crescimento econômico e desenvolvimento do seu parque industrial calcado no uso desordenado dos seus recursos naturais (DEAN, 1996). A busca pelo crescimento econômico diante de uma sociedade consumista criou um padrão de consumo excessivo que relaciona a posse de bens de consumo a uma sensação de prazer e felicidade (ARMADA, 2013). Desta forma depara-se com um incomensurável desafio, como manter o equilíbrio entre meio ambiente e desenvolvimento, diante de recursos naturais e bens ambientais limitados em face a um crescimento exponencial de uma população altamente consumista? O paradigma surge com a intensificação cultural da busca por este equilíbrio. Neste cenário o Direito Ambiental ganha força, com sua função de regular diversas condutas lesivas ao meio ambiente, a partir de uma linguagem única de força universal e sem fronteiras, mas ainda enfrenta obstáculos de regular a apropriação econômica dos recursos naturais, “encontrando-se no coração de toda atividade econômica” (ANTUNES, 2009). O fortalecimento de políticas com vistas ao Desenvolvimento Sustentável tomou maior força na década de 80, a partir do Relatório Brundtland, que apresentou um novo conceito de Desenvolvimento Sustentável. Em 1987 a partir de uma comissão liderada pela Primeira Ministra da Noruega, Gro Brundtland, intitulado o relatório Nosso Futuro Comum foi produzido e considerou que com os recursos naturais limitados é preciso viver de forma a “Satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de.

(27) 12. suprir suas próprias necessidades”. Esse entendimento justifica o fato do Direito Ambiental ser classificado como intergeracional (ARMADA,2013). Para Boff, (2012), adepto de uma linha filosófica, “sustentabilidade é o conjunto dos processos e ações que se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Mãe Terra”. Mas, se alcançar o desenvolvimento é um caminho “espinhoso” para os países periféricos, muito mais distante e utópico é alcançar o desenvolvimento sustentável, partindo de um conceito ancorado nas premissas de manter a vitalidade dos ecossistemas, assegurar condições digna de sobrevivência da espécie humana e ainda, controlar o crescimento da população. Para se alcançar algumas dessas premissas é crucial compreender que: “A sustentabilidade social vem na frente, por se destacar como própria finalidade do desenvolvimento, sem contar com a probabilidade de que um colapso social ocorra antes da catástrofe ambiental; (...) a sustentabilidade econômica aparece como uma necessidade, mas em hipótese alguma é condição prévia para as anteriores (cultural, ambiental e social), uma vez que um transtorno econômico traz consigo o transtorno social, que, por seu lado, obstrui a sustentabilidade ambiental”(SACHS 2002, p.70).. No Brasil, a busca pelo desenvolvimento a qualquer custo num panorama de pouca visão protecionista contribuiu para grandes interferências negativas sobre o meio ambiente. De fato o argumento de desenvolvimento e combate à miséria é muito envolvente. Entretanto esse desenvolvimento tomou proporções desastrosas sob o aspecto social e ambiental, pela simples inobservância de aspectos de grande importância, em que a ação antrópica causa inúmeros impactos negativos. Para Dean (1996), a realidade brasileira no gerenciamento dos recursos naturais, no período compreendido entre a década de 50 a 70, desencadeou significativos impactos ambientais. Tais consequências foram justificadas pelo intenso desejo de alcançar um desenvolvimento que o colocasse no patamar dos países desenvolvidos. As ações, entretanto, impostas para esse fim, como por exemplo, a construção do parque industrial, de rodovias e hidrelétricas demonstraram que não existe desenvolvimento sem impactos negativos sobre o meio ambiente, a sociedade ou grupos dela. Somente a dimensão econômica é priorizada. Para Leff (2010) estamos diante de uma crise civilizatória em que se questiona a racionalidade econômica e tecnológica dominante e se explica a partir de perspectivas ideológicas na qual a crise:.

(28) 13. É percebida como resultante da pressão exercida pelo crescimento da população sobre limitados recursos do planeta. Por outro, é interpretada como o efeito da acumulação de capital e da maximização da taxa de lucro a curto prazo, que induzem padrões tecnológicos de uso ritmos de exploração da natureza, bem como formas de consumo, que vem esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade dos solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas naturais. (LEFF 2010, p.81).. É notório que a pressão sobre a natureza sempre existirá, e, o meio ambiente natural sempre será alvo de cobiça por aqueles que da sua exploração auferem lucro. Diante desse contexto e da necessidade de se adequar ao novo paradigma, o Brasil, mesmo que sob pressão internacional cria, em 1972, a Secretaria Especial do Meio Ambiente. Com ela busca institucionalizar uma política ambiental, passa a elaborar legislações voltadas à proteção ambiental, inicialmente com a edição da Lei 6.938/81 (BRASIL, 1981), e, posteriormente uma visão mais cidadã expressa em nossa Carta Magna. O art. 24, VI determina que União, Estados e Distrito Federal possuem competência para legislar sobre a proteção ao meio ambiente. A partir de então, temos as Leis, o que significa a materialização das principais fontes formais do Direito Ambiental. Não há como negar que, no Brasil, as leis ambientais contribuíram para o crescimento do Direito Ambiental, pois como adeptos do sistema civil law5, as leis desempenham um papel crucial no fortalecimento desse ramo do direito. Em 1992, realizou-se no Brasil a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) que ficou popularmente conhecida como RIO 92. Sediada no Rio de Janeiro trouxe no princípio 4 (quatro) da declaração do Rio o termo “desenvolvimento sustentável” e que deu ensejo a utilização do termo “sustentabilidade” (BERTUCCI, 2011). Grande contribuição também da RIO 92 foi a reafirmação dos princípios internacionais de proteção ao meio ambiente. Para Mazzioli (2010), nesta conferência deixouse entrever que “a proteção internacional do meio ambiente é uma conquista da humanidade, que deve vencer os antagonismos ideológicos, em prol do bem-estar de todos e da proteção do planeta”.. 5. Civil law: estrutura jurídica oficialmente utilizada no Brasil, onde as principais fontes do direito adotadas são a. lei. Disponível em <http://direitoelegal.com/2008/02/28/common-law-e-civil-law>. Acesso em 24 set 2014..

(29) 14. Há que se destacar que não são somente as Leis que compõem o Direito Ambiental. Ele é multidisciplinar, devido a influência dos Tratados e Convenções, do Direito Constitucional, Penal e Civil. Pesquisas científicas nas áreas de Biologia, Engenharia Florestal, Botânica, Geografia, Ecologia, dentre outras, contribuem para a interpretação das normas legais (FREITAS, 2011). O surgimento como disciplina jurídica e a sua utilização como instrumento de regulação das condutas, intervindo em prol do meio ambiente em face de interesses econômicos, é o que traz um maior reconhecimento da importância do Direito Ambiental no cenário internacional e nacional. Haja vista que a “preocupação com o meio ambiente é irreversível” (ANTUNES,2009). Deviller (2010) sintetiza de forma brilhante a importância do desenvolvimento sustentável quando afirma que ele “lança pontes entre gerações e entre as fronteiras”. Somente através do desenvolvimento sustentável é possível resguardar o direito a um ambiente sadio e equilibrado para os seres vivos.. 2.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL. No tocante a proteção legislativa no período republicano pode-se verificar que o Brasil dispõe de um arcabouço jurídico abrangente. Diversos Códigos como o Código da Caça - Lei 5.197 (BRASIL 1967), Código Florestal Lei 4.771 (BRASIL/1965), (revogado pela Lei 12.651, BRASIL/2012) e Código de Pesca -Decreto-Lei 221 (BRASIL/1967) datam da década de 60. Posteriormente a Lei 6.938 (BRASIL, 1981) que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiental e foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. A Carta Magna evocou a defesa do meio ambiente como princípio da Ordem Econômica e Financeira (Art. 170, VI, CF) (BRASIL, 1988) que veio a se coadunar perfeitamente com o termo sustentabilidade, assim o art. 170, VI, dispõe que: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente;.

(30) 15. Toda essa preocupação elevou o direito ambiental à categoria de direito fundamental, uma vez que preservando o meio ambiente estará se preservando a manutenção da vida, pois no dizer de Silva: A proteção ambiental, abrangendo a preservação da Natureza em todos os seus elementos essenciais à vida humana e à manutenção do equilíbrio ecológico, visa tutelar a qualidade do meio ambiente em função da qualidade de vida, como uma forma de direito fundamental da pessoa humana (SILVA, 2010, p. 58).. Segundo Pessoa “[...] ínsito ao conceito dos direitos fundamentais está o seu reconhecimento pelo Estado tendo em vista sua fixação na Constituição” (2009, p.18). Tal afirmativa pode ser constatada ao se verificar que o legislador constituinte dispensou na atual Constituição um capítulo inteiro à proteção ambiental, além de inserir a temática em outros capítulos, a exemplo do capítulo II Meio Ambiente Artificial e Capítulo III Meio Ambiente Cultural. Portanto, Não se pode, assim, negar ao meio ambiente o caráter de direito fundamental, tendo em vista que um dos objetivos do estado brasileiro é a realização da dignidade humana, que somente será alcançada com a efetivação dos direitos fundamentais, não se podendo, pois, falar em vida digna fora de um ambiente sadio” (OLIVEIRA et al,2004, p.79).. O desenvolvimento sustentável requer a proteção ambiental como parte intrínseca ao processo de desenvolvimento, pois não há desenvolvimento sem uma sadia qualidade de vida, sem que sejam considerados aspectos com viabilidade econômica, desenvolvimento social justo e ecologicamente correto. Muito embora a Legislação pátria esteja, indubitavelmente, voltada a proteção ambiental, percebe-se na política governamental certa incongruência com a realidade legislativa. Constata-se claramente o incentivo ao desenvolvimento sem buscar a difícil conciliação com a proteção ambiental. Programas de Aceleração do Crescimento (PAC), redução de Imposto sobre Operação Financeira (IOF) para aquisição de veículos, são alguns exemplos de medidas que contribuem significativamente para causar impactos ambientais negativos, pois fomentam o consumo de recursos naturais, a poluição, desmatamento, entre outros. A Lei 6.938 (BRASIL, 1981) que institui a Política Nacional do Meio Ambiente é a Lei mãe do Direito Ambiental Brasileiro e visa nortear a aplicação de outros diplomas legais de igual finalidade, tendo como objetivo: “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade.

(31) 16. ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico [...] e à proteção a dignidade da vida humana”. Esse objetivo introduz os princípios que a Lei visa atender, sendo o primeiro a atuação governamental na gestão e manutenção do equilíbrio ecológico, reconhecendo o meio ambiente como bem público de caráter e coletivo que necessita ser resguardado. Ou seja, o desenvolvimento é importante, entretanto não se justifica, por exemplo, a supressão de mangues para dar lugar a Indústria da Construção Civil, nem o aterro de um rio, ou a omissão do Estado no tratamento dos efluentes. A Lei 6.938 (BRASIL, 1981) é um marco no que diz respeito a Legislação Ambiental. Após esta, outras legislações de grande relevância a proteção do meio ambiente natural foram elaboradas, tais como a Lei 7.347 (BRASIL, 1985) que trata da Ação Civil Pública, a 7.661/85 (BRASIL, 1985) que regula o Gerenciamento Costeiro, a 7.802 (BRASIL, 1989) sobre os Agrotóxicos, a 9.433 (BRASIL, 1997) que criou a Política Nacional de Recursos Hídricos, a Lei 9.795 (BRASIL, 1999) que contempla a Política Nacional de Educação Ambiental, a Lei 9.985 (BRASIL, 2000) sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a Lei 12.305 (BRASIL, 2010) que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Lei 9.605 (BRASIL, 1998) sobre os Crimes e Infrações Ambientais que será mais adiante, amplamente discutida neste Trabalho. Obviamente que este rol é apenas exemplificativo, as legislações supracitadas não esgotam todo arcabouço normativo pátrio sobre a proteção ao meio ambiente que é considerado como de vanguarda (SIRVINSKAS, 2011). Para que toda essa legislação pudesse ser aplicada e sistematizada de forma eficaz, a Constituição Federal realizou a distribuição das competências tanto na esfera legislativa quanto administrativa em matéria ambiental, distribuindo-as entre União, Distrito Federal, Estados e Municípios conforme arts. 22, 23 e 24 da C.F (BRASIL,1988). Na Constituição de 1988 diz-se que em matéria ambiental “encontramos competência material exclusiva, competência material comum, competência legislativa exclusiva e competência legislativa concorrente” (SILVA, 2010, p.118). Isso vem a reforçar que a distribuição dessas competências de forma tão ampla possibilita uma maior proteção ambiental..

(32) 17. Além dos dispositivos constitucionais e legais, temos a jurisprudências das principais cortes do Poder Judiciário que já se manifestaram quanto à matéria, estabelecendo que, em caso de interesse direto e específico da União Federal, a competência é da União, no caso de atingir interesse indireto e genérico a competência é da Justiça Estadual (GOMES; MACIEL, 2011). Em caso de contravenção penal ambiental, a competência é da justiça estadual ainda que atinja interesse direto e específico da União (art. 109, IV, CF). A justiça Federal só julga contravenção se o réu tiver foro privilegiado, pois o critério em razão da pessoa sobressai sobre o da matéria. (GOMES; MACIEL, 2011). Como exemplo de contravenção penal têm-se o crime do art. 42, III do Decreto-Lei 3.688 (BRASIL, 1941), cujo tipo se concretiza com o ato de perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios, abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos. Competência no sentido jurídico significa a atuação do juízo adequado à modalidade da causa, a grosso modo, a competência pode ser em razão da matéria, da pessoa, e do local onde os fatos objeto do julgamento se realiza. “A competência é o espaço dentro do qual determinada autoridade judiciária poderá aplicar o direito aos litígios que lhe forem submetidos” (DINAMARCO, 2008, p.123). O que há em comum em todas essas legislações é que majoritariamente a sua elaboração está pautada em algum princípio do Direito Ambiental, e as legislações os trazem de forma explícita, como é o caso da Lei que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos art.6º, I e II da Lei 12.305 (BRASIL,2010), principalmente daqueles que são típicos do próprio Direito Ambiental em si. Além de constar como fundamento e justificativa nas legislações infraconstitucionais, os princípios do Direito Ambiental estão contemplados no Capítulo VI da Constituição Federal, alguns implicitamente outros de forma explícita, como por exemplo, o Princípio da Educação Ambiental (Art.225 §1º, VI). O Princípio do Poluidor Pagador é um princípio que fundamenta a elaboração de diversas leis. É pertinente e esclarecedor, abordar na análise desse princípio, o fator poluição. Existem diversos conceitos de poluição, de base legal, técnica e literal e, oportunamente D’Isep (2010), os apresenta de maneira a identificar inclusive a sua classificação, situação em pode se distinguir quando é o caso de atuação do Princípio do Poluidor Pagador e quando é relativo ao Princípio do Usuário pagador..

(33) 18. Em seu sentido literal, poluição advém do latim “pollutione” e significa “ato ou efeito de poluir” enquanto que o verbo poluir é proveniente de “polluere” que significa “sujar, corromper, tornar prejudicial à saúde” (D’Isep, 2010, P. 291-292). Independentemente das fontes dos conceitos, o que se percebe é que o ponto comum de todos esses conceitos está calcado na interferência antrópica nos processos naturais, gerando, paradoxalmente, malefícios ao próprio homem e ao meio ambiente. Entretanto, as classificações apresentadas distinguem a autuação dos princípios. Assim, para D’Isep, (2010), tem-se a poluição risco e a poluição uso. A poluição risco é aquela que requer monitoramento e fiscalização permanente para a prevenção do dano ambiental, ações estas, exercida pelo Estado (Administração Pública) no exercício de seu Poder de Polícia, visando o exercício do desenvolvimento sustentável. Já a poluição uso é aquela proveniente de qualquer atividade humana, a qual pode ser tolerada, uma vez que a intervenção do homem na natureza sempre gera algum tipo de modificação, mas que não seja, necessariamente, tão prejudicial à saúde humana e justificável em decorrência da necessidade de desenvolvimento. O Princípio do Poluidor Pagador existe para combater a poluição risco. Funda-se na premissa de que todo dano causado ao meio ambiente deve ser reparado integralmente, tendo em vista a relevância desse bem jurídico para o homem. Possui um caráter pedagógico que desestimula outras ações que venham comprometer a proteção ao meio ambiente, prevê a tripla responsabilização, pois aos danos causados ao meio ambiente pode ser atribuída a responsabilidade cível, administrativa e penal - art. 225 §3º, CF, (BRASIL, 1988). Partindo da premissa da economia do meio ambiente de que se deve internalizar as externalidades, ou seja, as contribuições negativas são consideradas externalidades, ao internalizá-las passa-se a adotar medidas corretivas, de forma a absorver essas contribuições e transformá-las em soluções dentro do próprio processo de produção. O princípio do poluidor pagador imputa ao poluidor as responsabilidades pelos danos causados ao meio ambiente6, e “(...) tem por proposta a inserção na cadeia produtiva das externalidades negativas, ou seja, dos custos da degradação ambiental” (D’ISEP, 2010, p.294).. 6. “Meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química, e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. ” (Artigo 3º, I da lei 6938 de 1981)..

(34) 19. Busca-se, no caso, imputar ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada, engendrando um mecanismo de responsabilidade por dano ecológico abrangente dos efeitos da poluição não somente sobre os bens e pessoas, mas sobre a natureza. Em termos econômicos é a internalização dos custos externos (MILARÉ, 2005, p.164).. Além desses aspectos, importante destacar o alerta trazido pelo doutrinador Fiorillo (2010), de que este princípio não configura uma chancela para poluir, de modo que se possa equivocadamente supor que pode-se deliberadamente poluir ou degradar para depois indenizar os danos causados. O princípio preza inicialmente o caráter preventivo, de forma a intimidar o poluidor a adotar condutas que possam trazer prejuízo ao meio ambiente e, uma vez já tendo ocorrido o dano, impor o seu caráter repressivo de se cobrar as responsabilidades previstas em lei, assim: [...] é correto afirmar que o princípio do poluidor pagador determina a incidência e aplicação de alguns aspectos do regime jurídico da responsabilidade civil aos danos ambientais a) responsabilidade civil; b) prioridade da reparação específica do dano e c) solidariedade para suportar os danos causados ao meio ambiente. (FIORILLO, 2010 p.96).. Este princípio subsidia toda e qualquer ação que impute a responsabilidade ao causador do dano ambiental. Com base no princípio do poluidor pagador justifica-se a responsabilidade objetiva que requer apenas identificar o dano e o nexo de causalidade que o ligue ao autor. Não havendo assim, a necessidade de se avaliar a existência de dolo ou culpa. Outro princípio em destaque é o princípio do Usuário-pagador. Ele se baseia no entendimento de que o uso contínuo dos recursos naturais deva ser contabilizado e seus custos distribuídos a fim de que possa haver um melhor gerenciamento destes recursos e que o seu usufruto, enquanto patrimônio ambiental seja utilizado com racionalidade. Para isso, cogita a inclusão dos custos ambientais nos preços dos produtos finais, como uma forma de investir na manutenção das fontes dos recursos naturais. O clássico exemplo desse princípio é a cobrança de taxa pelo uso da água, que estimula a sua conservação. Inicialmente justificada pelo princípio do usuário- pagador, na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente - Lei 6.938, (BRASIL, 1981). Posteriormente o art. 1º, inciso II da Lei 9.433/97, estabeleceu que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, sendo este, um dos motivos pelos quais se justifica a sua cobrança. Isto legitima o Estado a cobrar o usuário pelo valor da água utilizada. A cobrança, por consequência, acaba que estimulando o uso racional desse bem e por fim.

(35) 20. fomenta a elaboração de programas de revitalização das bacias hidrográficas (BENJAMIN et al, 2010). Entende-se que a inclusão dos custos ambientais de bens e serviços devam ser cobrados daqueles que utilizam recursos naturais para fins econômicos. É imperativo que a classe empresarial que aufere lucros a partir da exploração econômica desses recursos, paguem o preço para tal. Os consumidores de água, com base no princípio do usuário-pagador pagam a taxa de água que, na verdade, representa as despesas que a empresa estatal despreende para o tratamento e transporte da água dos mananciais até as suas casas. Entretanto a ANA (Agencia Nacional de Águas) já regulamenta a implantação da cobrança pela água bruta, ou seja, a cobrança da água efetivamente utilizada para fins econômicos. Tal procedimento estimulou a classe empresarial a implantação de sistemas de reuso de água. A cobrança da água bruta surtiu um efeito muito positivo em termos de economia deste recurso. Considerando ser a água um bem dotado de valor econômico a Política Nacional de Recursos Hídricos estabelece que os objetivos que se pretende atingir com a cobrança são: i) dar ao usuário uma indicação do real valor da água; ii) incentivar o uso racional da água; e iii) obter recursos financeiros para recuperação das bacias hidrográficas do País. (ANA)”.. O mais importante da cobrança é o direcionamento dos recursos gerados. De acordo com a Lei das Águas - Lei 9.433, (BRASIL, 1997), esses recursos serão direcionados para a proteção das bacias hidrográficas, reflorestamento e conservação florestal (YOUNG; STEFFEN, 2006). A taxa de lixo futuramente será mais uma taxa ambiental a ser diretamente cobrada, assim como a conta de água, com base neste princípio. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305 (BRASIL, 2010) estabelece que até 2014 todos os municípios tiveram que erradicar os lixões e implantar aterros sanitários para uma forma adequada de destinação final dos resíduos sólidos. Ocorre que aterros sanitários requerem manutenção e monitoramento constantes, o que inevitavelmente recairá em taxa de lixo para os usuários deste serviço, ou seja, toda a população dos municípios. A exemplo do que já acontece em países da Europa, a taxa de lixo será uma tendência nesta conjuntura. Haja vista que muitos municípios brasileiros possuem uma arrecadação.

(36) 21. insignificante ou até inexistente, dependendo apenas do repasse constitucional do Governo Federal, não tendo condições financeiras de arcar com a administração dos aterros, sem que isso não recaia sobre o gerador do lixo doméstico. Temos também o Princípio da Prevenção que se coaduna perfeitamente com as premissas do Direito Ambiental, tem assento no art. 225 §1º, IV e V, CF, e visa evitar o dano ao meio ambiente, partindo-se do entendimento de que os danos ao meio ambiente são sempre irreversíveis, pois, como compensar o desmatamento de uma floresta, a contaminação de um rio, uma poluição atmosférica ou oceânica que toma proporções interfronteiriças? O princípio da prevenção também é chamado de princípio da cautela e no sentindo etimológico é utilizado como sinônimo de precaução. Entretanto alguns doutrinadores do Direito estabelecem uma diferenciação entre as duas expressões, de forma que se entende que a precaução é utilizada mesmo quando não existe certeza científica de que determinada conduta pode ser ou não lesiva ao meio ambiente, enquanto que a prevenção é utilizada para quando já existe uma certeza científica consolidada sobre determinadas condutas ao meio ambiente. Sobre o princípio da precaução, temos que: “A incerteza científica milita em favor do ambiente, carregando-se ao interessado o ônus de provar que as intervenções pretendidas não trarão consequências indesejadas ao meio considerado. O motivo para a adoção de um posicionamento dessa natureza é simples: em muitas situações torna-se verdadeiramente imperativa a cessação de atividade potencialmente degradadoras do meio ambiente, mesmo diante de controvérsias científicas em relação aos seus efeitos nocivos” (MILARÉ, 2005, p.167).. Oportunamente, o princípio da precaução, passou a ser inserido na legislação a partir da Conferência sobre mudanças climáticas (Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - Protocolo de Quioto/1997) promovida pela Organização das Nações Unidas e ratificada pelo Congresso Nacional. Assim há uma grande relevância na distinção dos dois conceitos, conforme esclarece a autora D’ISEP: “O princípio da precaução se diferencia do princípio da prevenção, uma vez que este lida com elementos que viabilizam o diagnóstico do risco ambiental e apontam elementos e meios de sua gestão, contrariamente, ao princípio da precaução que não os identifica, uma vez que a margem de segurança ambiental está na abstenção da prática pretendida. A abstenção é decorrente da obrigação de não causar dano ambiental, logo, advém de obrigação negativa. O princípio da precaução, combate à poluição-incerteza científica; o princípio da prevenção é a resposta jurídica a poluição-risco ambiental. ” (D’ISEP, 2010, p.297).. Para D’isep (2010) há que se levar em consideração, para se diferenciar os casos de aplicação destes dois princípios de conotação sinônima, que com base no princípio da.

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