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O Novo Programa Nacional do Livro Didático e Material Didático (PNLD) e a ameaça de retrocesso.

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Anais do V Seminário de Pós-Graduação – V SIMPÓS. V.5, 2018.

O Novo Programa Nacional do Livro Didático e Material Didático (PNLD) e a ameaça de retrocesso.

Dalva Alexandrina CAMILO1; Otaviano José PEREIRA2

RESUMO: Esta comunicação foi instigada pela criação do novo PNLD por meio do Decreto 9.099 de 18/07/2017 e trata-se de um recorte de uma pesquisa mais ampla e em andamento que faz um levantamento histórico da implantação do livro didático por meio dos programas do livro didático no Brasil. A pesquisa em foco estabeleceu-se num levantamento histórico da implantação do livro didático por meio dos programas do livro didático no Brasil. Num primeiro tempo da pesquisa buscamos o recorte temporal pretérito a partir do ano de 1930 até a década de 1980, quando foi implantado o PNLD por meio do Decreto 91.542 de 19 de agosto de 1985.

A partir do ano de 1985 até o ano de 2017 nos foi possibilitado perceber avanços concernentes à melhoria na qualidade do livro didático em função da participação de equipes de avaliadores compostas por especialistas da área de educação, tanto das universidades públicas como da educação básica. Num segundo tempo (da pesquisa) buscamos aproximar as medidas tomadas para obter tais avanços, nos períodos históricos supracitados com a atual implantação do novo PNLD, por meio do Decreto 9.099 de 18/07/2017. A pergunta de pesquisa que nos inquietou sobremaneira foi a de emergir ou não, hoje, a ameaça de um retrocesso que remete ao período de 1945 até a década de 1970. Como se sabe, na ocasião os projetos de educação e dos livros didáticos eram cuidadosamente elaborados sob um forte viés ideológico de um desenvolvimentismo ufanista por meio de convenio entre o MEC e a agencia norte americana USAID. Desta forma, a presente pesquisa estabelece uma comunicação inspirada por uma leitura paralela entre o ontem e o hoje no que diz respeito às propostas de políticas públicas para o livro didático nas escolas do país. Assim, conscientes de que nas políticas públicas sobretudo no Brasil, avanços e retrocessos andam aos pares, ora um, ora outro, nosso objetivo é compartilhar algumas percepções obtidas por meio de um paralelo entre o PNLD, instituído pelo Decreto 91.542 de 19/08/1985 e o atual, instituído pelo Decreto 9.099 de 18/07/2017 que

1) Mestranda. Instituto Federal do Triangulo Mineiro. Mestrado Profissional Em Educação Profissional e Tecnológica.

dalvaacamilo@hotmail.com.

(2) Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFTM, campus Uberaba, MG graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1977), mestrado em Filosofia Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1987) e doutorado em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1992) e pós-doutorado em Educação pela Uninove de São Paulo (2016). otavianopereira@iftm.edu.br.

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cria o novo Programa Nacional do Livro Didático e do Material Didático (PNLD). Objetivamos mostrar prováveis perdas do primeiro (1985) em relação ao segundo (2.017) inclusive com relação a qualidade conquistada por meio de cuidadosas avaliações das obras, e que agora, com este novo programa, passa a ser constituída por equipes escolhidas pelo MEC, vinculadas a partidos políticos, sociedade civil, sindicatos e outros. Outro aspecto preocupante se deve ao fato de a escolha do livro didático, que antes era feita pelos professores, embora não muito satisfatória, permitia certa autonomia ao professor. Contudo, agora, de acordo com o novo PNLD, tal estratégia fere esta autonomia ao delegar a opção de escolha ao responsável pela rede de ensino. Por ora, para efeito dessa comunicação, nos apoiamos apenas no estudo teórico, de cunho bibliográfico.

Palavras-chave: PNLD; PNLD e Material Didático; Autonomia do professor.

The New National Program of Didactic Book and Didactic Material (PNLD) and the threat of retrocession.

ABSTRACT: This communication was instigated by the creation of the new PNLD through Decree 9.099 of 07/18/2017 and it is a cut of a wider and ongoing research that makes a historical survey of the implementation of the textbook through the programs in Brazil. The research in focus was established in a historical survey of the implementation of the didactic book through the textbook programs in Brazil. In the first stage of the research we look for the past temporal cut from the year 1930 to the 1980s, when the PNLD was implemented through Decree 91,542 of August 19, 1985. From the year 1985 until the year 2017 we were able to perceive advances concerning the improvement in the quality of the textbook due to the participation of teams of evaluators composed of specialists in the area of education, both public universities and basic education. In a second time (of the research) we seek to approximate the measures taken to obtain such advances, in the historical periods mentioned above with the current implementation of the new PNLD, through Decree 9.099 of 07/18/2017. The research question that has worried us most has been whether or not the threat of a retrogression that goes back to the period from 1945 to the 1970s has emerged today. As we know, at the time educational projects and textbooks were carefully elaborated under a strong ideological bias of a proud developmentalism through an agreement between the MEC and the US agency USAID.

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In this way, this research establishes a communication inspired by a parallel reading between yesterday and today regarding the public policy proposals for school textbooks in the country.

Thus, aware that in public policies, especially in Brazil, advances and setbacks go hand in hand, now and then, our goal is to share some perceptions obtained through a parallel between PNLD, instituted by Decree 91.542 of 08/19/08, 1985 and the current one, instituted by Decree 9.099 of 07/18/2017 that creates the new National Program of Didactic Book and Didactic Material (PNLD). We aim to show probable losses of the first one (1985) in relation to the second one (2,017), even in relation to the quality achieved through careful evaluations of the works, and now, with this new program, is made up of teams chosen by the MEC, to political parties, civil society, trade unions and others. Another worrying aspect is due to the fact that the choice of the textbook, which was previously made by the teachers, although not very satisfactory, allowed some teacher autonomy. However, now, according to the new PNLD, such a strategy hurts this autonomy by delegating the choice of choice to the head of the school system. For the moment, for the purpose of this communication, we rely only on the theoretical study, of a bibliographic nature.

Keywords: PNLD; PNLD and didactic material; Autonomy of the teacher.

INTRODUÇÃO

Esta comunicação foi instigada pela criação do novo PNLD por meio do Decreto 9.099 de 18/07/2017 e trata-se de um recorte de uma pesquisa mais ampla e em andamento que faz um levantamento histórico da implantação do livro didático por meio dos programas do livro didático no Brasil, com foco na da autonomia do professor na escolha do livro didático no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Para a presente comunicação, num primeiro tempo da pesquisa buscamos o recorte temporal pretérito a partir do ano de 1945 até a década de 1980, quando foi implantado o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) por meio do Decreto 91.542 de 19 de agosto de 1985.

A partir da publicação deste decreto ocorreram avanços com relação a qualidade do livro, em função das avaliações feitas por especialistas da área de educação das universidades públicas e por professores da educação básica assim como avanços no processo de escolha pelo

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professor.

Com relação a qualidade do livro didático, que vem se aprimorando a partir do ano de 1985, no âmbito do PNLD, por meio das avaliações feitas por equipes constituídas por professores especialistas das Universidades públicas e por professores da educação básica que fazem a avaliação das obras, com o novo PNLD, esta qualidade pode estar comprometida passando esta avaliação para equipes escolhidas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) formada por entidades da sociedade civil para elaboração das listas tríplices do Conselho Nacional de Educação configurando assim um retrocesso.

E com relação a autonomia do professor na escolha do livro, com a implantação do Novo PNLD, por meio do Decreto 9.099 de 18/07/2017, percebe-se a ameaça de um retrocesso pois anteriormente os professores tinham uma certa autonomia para a escolha do livro que era feita por eles e nas escolas, agora este processo de escolha passa a ser determinado pelos responsáveis das Secretarias de Educação.

Assim, conscientes de que nas políticas públicas sobretudo no Brasil, avanços e retrocessos andam aos pares, ora um, ora outro, nosso objetivo é compartilhar algumas percepções obtidas por meio de um paralelo entre o PNLD, instituído pelo Decreto 91.542 de 19/08/1985 e o atual, instituído pelo Decreto 9.099 de 18/07/2017 que cria o novo Programa Nacional do Livro Didático e do Material Didático (PNLD).

Para tanto a presente pesquisa estabeleceu também uma comunicação inspirada por uma leitura paralela entre o ontem e o hoje no que diz respeito às propostas de políticas públicas para o livro didático nas escolas do país.

E a pergunta de pesquisa que nos inquietou sobremaneira foi a de emergir ou não, hoje, a ameaça de um retrocesso que remete ao período de 1945 até a década de 1970, período em que tanto os projetos educacionais quando o livro didático do Brasil eram determinados pela agencia americana USAID e na atualidade de forma democrática pelo novo PNLD.

Por ora, para efeito dessa comunicação, nos apoiamos apenas no estudo teórico, de cunho bibliográfico.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa em foco, da qual emergiu esta comunicação, faz um levantamento sobre as políticas do livro didático no Brasil e suas implicações na autonomia do professor buscando nas suas falas, notadamente suas insatisfações no tocante à autonomia de escolha do livro, por meio

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de questionários. Por ora, para efeito dessa comunicação, nos apoiamos apenas no estudo teórico, de cunho bibliográfico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. TRAJETÓRIA DO LIVRO DIDÁTICO DO ANO DE 1945 ATÉ 1985

Até 1945, as ações concernentes ao livro didático, constituíram-se em decretos e leis para importação, circulação, produção e notadamente sobre o conteúdo por ele veiculado. A participação do professor com relação ao livro didático aparece apenas a partir de então, no Decreto-Lei 8.460, de 26/12/19453, restringindo esta participação a escolha do livro a ser utilizado pelo aluno.

Desta forma, não existia a participação do professor em relação a escolha do livro e nem mesmo com relação ao conteúdo vinculado por ele no período compreendido entre 1945 a 1950, mas foi um período em que “os debates sobre a democratização e reorganização do ensino secundário intensificaram-se” (Filgueiras, 2011, p.14-15), sendo que neste período as camadas populares buscavam por melhorias na qualidade de vida por meio da educação escolar visto que

a educação representava, para o indivíduo, a possibilidade de ascensão na hierarquia de prestígio que caracterizava a estrutura piramidal da sociedade e, para a sociedade, uma maior abertura do sistema de estratificação social.( SOBRAL, 2000, p. 3)

Mas, para a camada popular, “a escola deveria oferecer uma educação que os preparasse para o trabalho e para a realidade, diferente da existente na época: livresca, propedêutica e humanística”. (Melo, 2016, p. 67), além do mais, segundo Florestan Fernandes, (1972, apud Sobral, 2000, P. 3) “é um período de passagem de uma ordem social estamental para uma ordem competitiva”. Além disso, segundo o mesmo autor:

é um momento em que as idéias de democracia (mais populista do que liberal no Brasil) eram enfatizadas e através delas, pretendia-se diminuir o poder das oligarquias, fortificarem a burguesia nascente e dar certa participação eleitoral às massas. (FLORESTAN FERNANDES, 1972, apud SOBRAL,

3 DECRETO-LEI Nº 8.460, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1945. Consolida a legislação sobre as condições de produção, importação e utilização do livro didático. CAPÍTULO I. DA ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO. Art. 6º É livre ao professor a escolha do processo de utilização dos livros adotados, desde que seja observada a orientação didática dos programas escolares, ficando vedado, porém, o ditado de lições constantes dos compêndios ou o de notas relativas a pontos dos programas.

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2000, P. 3)

Mas durante este período as ações para concretizar um ensino que atendesse as expectativas para a melhoria de vida da população não foram concretizadas de forma a atender a camada popular e sem que ações fossem concretizadas com relação as políticas do livro didático mas representaram avanços para a abertura dos debates.

Neste cenário surge a Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino (CALDEME), criada por Anísio Teixeira4. Nos dizeres de Oliveira (2011, p. 3), a “Caldeme, busca a superação das deficiências de qualificação dos professores” e desta forma, os livros didáticos eram elaborados para professores e assim, ela teve como objetivo:

avaliar os programas e os compêndios do ensino secundário e elaborar guias didáticos com metodologias inovadoras para orientar os professores secundários, considerados mal preparados, por não possuírem, entre outros motivos, formação adequada nas Faculdades de Filosofia.(FILGUEIRAS, 2011, p. 15).

Desta forma a CALDEME tinha como função “prestar assistência técnica ao professorado fazendo chegar as suas mãos guias e manuais escritos especialmente para a sua orientação” (FILGUEIRAS, 2017, p. 125).

Durante a década de 1950 e 1960, outro grande expoente da educação brasileira foi Paulo Freire, que Segundo Galvão e Pierro (2012),

Paulo Freire criticava as Campanhas de Alfabetização do governo e propunha que as aulas partissem sempre da realidade do aluno. Dessa forma, também propunha que os materiais utilizados na alfabetização de adultos deveriam ser elaborados de acordo com a idade desses alunos, e não uma mera adaptação daqueles que já eram utilizados no ensino das crianças. O adulto deveria ser enxergado como um produtor de cultura e saberes e não como um ser ignorante e imaturo. (Apud SILVA, 2016, p.15).

Desta forma, Anisio Teixeira e Paulo Freire foram educadores importantes no tocante a iniciativas com relação ao livro didático e para educação brasileira, nas décadas de 1950 a 1960.

Em 1966, por meio de um acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a

4 Anísio Teixeira (1900-1971), que está no centro de toda essa história, embora apareça pouco, não é exatamente uma figura desconhecida e sua apresentação talvez seja desnecessária. Basta que se diga que ele, um dos principais expoentes da chamada Escola Nova no Brasil, ao assumir a direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), em 1952, anunciou a necessidade de o governo produzir “guias e manuais de ensino para os professores e diretores de escolas” e também “livro didático, compreendendo o livro de texto e o livro de fontes” (MUNAKATA, 2004, p. 516).

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Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), é criada uma comissão para coordenar as ações referentes à produção, edição e distribuição do livro didático (COLTED), e posteriormente, no ano de 1970 é criado o Instituto Nacional do Livro (INL) e por meio deste instituto é desenvolvido o primeiro programa de Livro do Brasil, o PLIDEF – Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental, subsidiado por verbas de contribuição financeira proveniente dos estados da federação posto que a verba proveniente do convenio MEC/USAID foi extinta, assim como o convênio.

Entre as décadas de 1945 e sobretudo nas décadas de 1960 e 1970 os projetos de educação e dos livros didáticos eram cuidadosamente elaborados sob um forte viés ideológico de um desenvolvimentismo ufanista (O “Brasil grande”) e de neutralidade política “amorosa”, (“Brasil: ame-o, ou deixe-o) por meio do convenio MEC e a agencia norte americana USAID.

Desta forma, a presente pesquisa estabelece uma comunicação inspirada por uma leitura paralela entre o ontem e o hoje no que diz respeito às propostas de políticas públicas para o livro didático nas escolas do país.

A COLTED foi extinta em 1971, quando foi criado o Programa do Livro Didático (PLID) por meio do decreto 68.728, Freitag, (1985, p. 8). Como a Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME) tinha sido criada em 1968, passou para sua competência, a partir de 1976, na gestão do Ministro Ney Braga, a execução dos programas do livro didático e de outros materiais escolares além de cooperar com as instituições educacionais, culturais e científicas, públicas e privadas, situação que persistiu até a década de 1980.

Ainda nesta década, na gestão do Ministro Eduardo Portela, é explicitada a vinculação assistencialista da política de governo e a do livro didático, com a criança carente através do Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF), ao qual foram acrescidos posteriormente outros dois programas, também destinados a dar assistência aos estudantes pobres: o Programa do livro para o Ensino Médio (PLIDEM) e o Programa do Livro Didático para o Supletivo (PLIDESU). (FREITAG, 1985).

A centralidade do assistencialismo é acentuada com a Lei 7.091, de 1983, que cria a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) na qual foi aglutinado o Programa de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa do livro Didático – Ensino Fundamental (PLIDEF), programas editoriais, de material escolar, bolsas de estudo e outros. “A FAE procurou consolidar essas políticas em programas próprios segundo as diferentes áreas de atuação” (CURY, 2009, p. 126).

Em decorrência dessa centralização, problemas como as dificuldades de distribuição de livros dentro dos prazos previstos, lobbies editoriais junto a órgãos do governo, e o

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autoritarismo implícito das delegacias e secretarias de ensino na tomada de decisões com relação a escolha do livro didático suscitaram críticas e alertas, por parte dos críticos da política oficial do livro didático no Brasil, (Oliveira, J.B.A. et alii 1984, Oliveira, J.B.A., 1984a, 1985 apud Freitag, 1985, p. 9).

Com o novo PNLD, (Decreto 9.099 de 18/07/2017) o risco do processo de financiamento da educação brasileira por meio da iniciativa estrangeira, via Programa do Livro pode estar voltando, em um momento de desaparecimento de várias pequenas editoras devido grandes fusões do mercado editorial, concentrando este capital financeiro aliado a um novo capital intelectual típico do “empresariamento” da educação que faz pressão contra o processo de avaliação autônoma do livro didático, construída durante estes últimos 22 anos.

Num olhar mais atento às políticas para o livro didático no passado com vista ao foco da autonomia do professor, quando o INL é extinto, a Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME) assume suas funções. Posteriormente, quando esta é extinta, em 1983, a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) passa a coordenar o programa do livro, o PLIDEF e, a partir de então, a participação do professor na escolha do livro é proposta pelo grupo de trabalho encarregado do exame dos problemas relativos ao livro didático: ideologias subjacentes, neutralidade social, pouco compromisso com as mudanças sociais, pouca atenção aos novos paradigmas de sociabilidade, eventuais equívocos científicos e carência de uma mais cuidadosa revisão, entre outros.

A partir desta proposta um primeiro aceno para a participação do professor na escolha do livro didático é dado e com a edição do Decreto 95.542, de 19/08/1985, ocasião na qual o PLIDEF dá lugar ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) que vem sendo aperfeiçoado por intermédio de avaliações, e se tornando um programa bem estruturado, e contando com a participação dos professores nas avaliações das obras.

Em 2012, por meio da Resolução/CD/FNDE nº 42, de 28 de agosto de 2012, que dispõe sobre o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para a Educação Básica, a revolução comunicacional em expansão internacional, por vias da Web Educação, instaura a gradual disponibilização de materiais digitais (ensino virtual) para a escolha pelos professores, assim como a necessidade de se firmar o termo de adesão, por parte das escolas para participar do programa. O livro didático irá conviver (não necessariamente Competir) numa complementariedade aos avanços da era digital a ponto de o MEC criar o PROINFO, nos anos de 1990.

A partir de 2017, por meio do DECRETO Nº 9.099, de 18 DE julho de 2017 o PNLD

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deixa de ser um programa exclusivo do livro. Assim, livros impressos, incluindo conteúdos multimídia, a partir de objetos educacionais digitais complementares, e também de livros digitais, em meio físico ou ambiente virtual, são disponibilizados ao acesso de professores e alunos e amplia seu escopo com outros materiais.

Assim, numa escola que se expande extramuros, a finalidade é atender também instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, e conveniadas com o Poder Público. Trata-se de um campo ampliado de opções didáticas ao professor com a possibilidade de optar por diferentes tipos de materiais didáticos a que se refere, implicando no amadurecimento de uma nova cultura didática, algo já suficientemente discutido nas propaladas pesquisas, debates e trocas de experiências no país sobre TICs. Entretanto, o referido decreto de 2017 propõe que tal investida didática do professor “será realizada pelo responsável pela rede”, o que aponta para uma estratégia de controle, podendo ferir a autonomia do professor.

Ora, diante de tanto avanço e conjunção de tecnologias, incluindo o livro didático enriquecido com links virtuais, será que estamos diante de um novo retrocesso?

Com a extinção do PNBE para a sua fusão ao PNLD, a última remessa de livros de Literatura foi feita em 2014, e a próxima remessa está prevista para 2019, já no âmbito do novo PNLD.

Diante desse quadro, informamos alguns pontos do Decreto 9.099, que podem prejudicar as conquistas importantes do PNLD dos últimos 22 anos:

Art. 12. A escolha dos integrantes de cada comissão técnica será feita pelo Ministro de Estado da Educação, a partir da indicação das seguintes instituições:

I - Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação;

II - Conselho Nacional de Secretários de Educação;

III - União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação;

IV - União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação;

V - Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação;

VI - Conselho Nacional de Educação;

VII - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior;

VIII - Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica; e

IX - entidades da sociedade civil escolhidas pelo Ministério da Educação para elaboração das listas tríplices do Conselho Nacional de Educação, conforme o disposto no Decreto nº 3.295, de 15 de dezembro de 1999.

Quando o PNLD foi criado 1985 até a década de 1990, as obras não passavam por uma avaliação, eram encontrados erros conceituais, veiculação de preconceitos (entre outros

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problemas) e o professor da Educação Básica não participava das avaliações. A partir de1990 foi instituída uma prática de “controle de qualidade” e de avaliação que foi se aperfeiçoando. A avaliação passou a ser feita por professores das universidades públicas, com a participação de docentes da educação básica pública, sendo portanto:

Um mecanismo visível e democrático envolvendo as universidades, instituições que são governo, mas que também são massa crítica e que, portanto, envolvem um grau de independência extremamente importante para o processo, (Dra. Sonia Miranda, em entrevista ao Contee em 27/07/2017).

No mais, a gestão centralizadora retorna com o novo programa, os professores tinham liberdade para escolher o livro didático que atendesse as suas expectativas de ensino, o novo PNLD atribui agora, esta tarefa para as Secretarias de Educação,

Art. 18. Durante a etapa de escolha, por opção dos responsáveis pela rede, a adoção do material didático será única:

I - para cada escola;

II - para cada grupo de escolas; ou III - para todas as escolas da rede.

§ 1º Na hipótese de que trata o inciso I do caput, serão distribuídos os materiais escolhidos pelo conjunto de professores da escola.

§ 2º Na hipótese de que tratam os incisos II e III do caput, serão distribuídos os materiais escolhidos pelo conjunto de professores do grupo de escolas para o qual o material será destinado.

Não estamos considerando uma disputa intestina entre editoras “poderosas” do mercado no esforço para disponibilizar, cada qual o melhor livro, ocupar as salas de professores na oferta dos livros a cada ano, como um questão de mercado. Há de considerar que, se antes (de 2017) cada escola fazia a escolha do livro, este passo que nem tinha sido amplamente conquistado, implicou numa busca e amadurecimento da autonomia do professor agora esta conquista gradual, no que sugerem as medidas tomadas recentemente ao que parece tendem a ficar ainda mais distante. A pergunta (de pesquisa) que não quer calar é esta: estamos diante de um novo retrocesso na escolha do livro didático pela comunidade escolar? Jose Contreras nos auxilia nesse momento crucial da pesquisa sobre nosso tema:

Quando os processos de decisão do que fazer na escola excluem os professores, ou lhes impõem os limites de suas competências, o que devem decidir ou não, excluindo também a participação social e estabelecendo como únicos interlocutores, os aparelhos da administração, estamos diante de um tipo de relação que só estimula a obediência, ou, ao contrário, o engodo ou a desobediência, mas dificilmente a autonomia, compreendida como busca de

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compreensão, de livre interpretação responsável dos diferentes interesses sociais, pedagogicamente considerados.” (CONTRERAS, 2002, p. 219).

Enfim, quanto a nós professores e demais membros da comunidade escolar, inclusos os alunos, é esperar, não só para assistirmos, mas procurar um modo de interferir no processo como sujeitos da educação escolar.

CONCLUSÕES

Não estamos prevendo como certa uma possível perda da autonomia do professor concernente a escolha do livro didático mas, considerando a atual mudança no PNLD como uma ameaça as conquistas com relação a autonomia já conquistadas nos últimos vinte e dois anos mas, com a edição do Decreto Nº 9.099, de 18 DE julho de 2017, sobretudo no que se refere ao “Capítulo II”, “Art. 18”5 agora, de acordo com o novo PNLD, tal estratégia fere esta autonomia ao delegar a opção de escolha ao responsável pela rede de ensino que passa a determinar como vai ser a escolha do livro.

Assim, conscientes de que nas políticas públicas sobretudo no Brasil, avanços e retrocessos andam aos pares, ora um, ora outro, nosso objetivo é compartilhar algumas percepções obtidas por meio de um paralelo entre o PNLD, instituído pelo Decreto 91.542 de 19/08/1985 e o atual, instituído pelo Decreto 9.099 de 18/07/2017 que cria o novo Programa Nacional do Livro Didático e do Material Didático (PNLD). Objetivamos mostrar prováveis perdas do primeiro (1985) em relação ao segundo (2.017) inclusive com relação a qualidade conquistada por meio de cuidadosas avaliações das obras, e que agora, com este novo programa, passa a ser constituída por equipes escolhidas pelo MEC, vinculadas a partidos políticos, sociedade civil, sindicatos e outros. Outro aspecto preocupante se deve ao fato de a escolha do livro didático, que antes era feita pelos professores, embora não muito satisfatória, permitia certa autonomia ao professor.

Desta forma esta comunicação coloca-se como alerta, sobretudo para professores, para que procuremos acompanhar seus desdobramentos e interferindo para que a ameaça da perda da autonomia não se concretize por meio do novo PNLD.

AGRADECIMENTOS

5DECRETO Nº 9.099, DE 18 DE JULHO DE 2017. CAPÍTULO II. Art. 18. Durante a etapa de escolha, por opção dos responsáveis pela rede, a adoção do material didático será única:

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Ao Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) Campus Parque Tecnológico Uberaba e a Direção do ProfEPT por oportunizar a participação neste evento.

REFERÊNCIAS

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http://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/livro-didatico/historico.

Acesso em 10/05/2018.

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CONTRERAS, Jose. A autonomia de Professores. São Paulo: Cortez, 2002.

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www.snh2011.anpuh.org/.../1300894675_ARQUIVO_Textocompleto-anpuh-Juliana... Acesso em: 23/02/18.

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Anais do V Seminário de Pós-Graduação – V SIMPÓS. V.5, 2018.

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