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ARRENDAMENTO ALUGUER DE AUTOMÓVEL SEM CONDUTOR

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0423032

Relator: RAPAZOTE FERNANDES Sessão: 06 Dezembro 2005

Número: RP200512060423032 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: REVOGADA.

ARRENDAMENTO ALUGUER DE AUTOMÓVEL SEM CONDUTOR

RESOLUÇÃO

Sumário

I- À resolução do contrato de aluguer de veículo sem condutor, não se aplica o regime dos contratos vinculisticos, designadamente o artº 1047 do C. Civil.

II- A resolução de tal contrato pode ser feito extrajudicialmente, por simples comunicação ao locatário relapso.

Texto Integral

ACORDAM NA RELAÇÃO DO PORTO:

Na ...ª Vara ....ª Secção do Porto, B..., S.A., com sede no Porto move a presente acção com processo ordinário contra C..., residente em São Romão de Aregos, pedindo a condenação deste a pagar-lhe a quantia de

€10.195,98, acrescida de juros à taxa de 17% sobre €1.993,15 e de 12% sobre

€7.809,02, contados desde 13/12/02 e até efectivo pagamento, sendo ainda condenado a considerar resolvido o contrato em causa desde 13/12/02.

Citado o réu, não deduziu contestação nem interveio nos autos, tendo sido considerados confessados os factos articulados.

Foi então proferida sentença que julgou a acção parcialmente procedente, condenando o réu a pagar ao autor a quantia de €2.303, 34 correspondente a seis meses de renda não paga.

Inconformada a autora apresenta este recurso de apelação e nas suas alegações formula as seguintes conclusões:

1.ª- A entrega voluntária da viatura à apelante em 10/01/2003 por iniciativa do

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locatário não implica o mínimo acordo das partes, nem o contrato se extingue nessa data por mero acordo.

2.ª- A resolução operada em 13/12/2002 é válida, não estando ferida de qualquer nulidade.

3.ª- A apelante, por via da resolução, tem direito a receber os alugueres vencidos àquela data e IVA, no montante global de €1.993,15.

4.ª- Tem também direito a receber o montante de €7.809,02 que corresponde ao total de indemnização por perdas e danos a título de cláusula penal de 50%

do valor global dos alugueres que seriam devidos após o início do incumprimento.

5.ª- Tem ainda direito a receber o montante de €393,81 a título de juros vencidos e despesas na recuperação do veículo após o início do

incumprimento.

6.ª- A apelante tem assim direito a receber o montante total global de

€10.195,98.

Pugna pela revogação da sentença e sua substituição por outra que julgue a acção totalmente procedente, condenando o réu no pedido.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Da instância vêm dados como provados os seguintes factos:

-a) A autora exerce a actividade de aluguer de veículos sem condutor.

-b) No exercício desta sua actividade, em 05 de Abril de 2001, celebrou com o Réu o Contrato de Aluguer escrito, junto aos autos, do veículo automóvel de matrícula ..-..-RJ, pelo período de 60 meses, com início naquela data, pelo prazo de 60 meses, contra o pagamento de um aluguer mensal no valor de

€383,89, IVA incluído, a vencer em cada dia 5 do mês anterior.

-c) Pelo referido contrato, o réu obrigou-se ainda a celebrar e custear um contrato de seguro, bem como a suportar todos os impostos, taxas e acessórios que incidam sobre o veículo alugado.

-d) O réu não pagou o aluguer vencido em 05/07/2002 nem nenhum dos que se venceram posteriormente.

-e) A autora interpelou o Réu por várias vezes para proceder ao pagamento dos alugueres vencidos, acrescidas de juros, sob pena de resolução do contrato, o que este não fez.

-f) A autora, através de carta registada com aviso de recepção datada de 13/12/2002, comunicou ao réu que “uma vez que não procederam ao pagamento dos montantes em dívida, vimos pela presente resolver o

contrato... deve V. Exa. pagar o montante de €1.993,15, referente a alugueres vencidos... €7.809,02 a título de cláusula penal... €393,81 a título de juros vencidos e despesas; bem como os juros vincendos...”

-g) -Em 10/01/03 o Réu procedeu voluntariamente à entrega da viatura locada,

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tendo, então, assinado as declarações junto a fls. 10 e 11, que aqui se dão, na integra, por reproduzidas.

-h) Até hoje o Réu não pagou qualquer quantia à A.

Cumpre agora conhecer do objecto do recurso, delimitado como está pelas conclusões das respectivas alegações (arts. 684.º n.º3 e 690.º n.º1 do CPC).

São-nos colocadas as seguintes questões:

- Resolução do contrato de aluguer de veículo sem condutor;

- Consequências dessa resolução.

*

Resolução do contrato.

A fls. 7 e 8 dos autos encontra-se o contrato escrito celebrado entre as partes.

Sem dúvida que se trata de um contrato de aluguer de veículo automóvel sem condutor. Assentando embora no contrato de locação (art. 1022.º do CC) verificou-se que o mesmo pela sua razão de ser teria certas especialidades, pelo que o legislador decidiu regulamentá-lo. Daí que tenha produzido o DL n.º 354/86 de 23/10, posteriormente alterado pelo DL n.º 373/90 de 27/11 e pelo DL 44/92, de 31.03.

Ora na sentença, optando-se pela aplicação do regime próprio da locação, designadamente nos arts. 1047.º e 1141.º do CC, entendeu-se não só que a resolução do contrato terá de ser judicial, como também que não é possível ser a mora sancionada com indemnização na hipótese de resolução.

A opção é consciente, sabendo-se que este não era então o entendimento

maioritário da jurisprudência. De facto defendendo o mesmo só encontrámos o Acórdão de 13/3/2001 no processo 32/2001, da 2.ª secção.

Mas se a posição contrária à da decisão já era então a maioritária, hoje pode dizer-se que é a uniforme, como se pode ver nas decisões mais recentes:

- Processo 829/05- 2.ª Secção, com data de 19/04/2005;

- Processo 1194/05 – 5.ª Secção, com data de 23/05/2005;

- Processo 2153/05- 5.ª Secção, com data de 23/05/2005;

- Processo 2160/05- 3.ª Secção, com data de05/05/2005, todos acessíveis em www.dgsi.pt.

De acordo com o disposto no nº 4 do art. 17º do citado DL n.º 354/86, “é lícito à empresa de aluguer sem condutor (...) rescindir o contrato nos termos da lei, com fundamento em incumprimento das cláusulas contratuais”. A

jurisprudência dos tribunais superiores vem decidindo, de acordo com o sustentado pela apelante na conclusão 2.ª do recurso, que aquela referência aos “termos da lei” não se reporta ao art. 1047º do CC, mas antes aos arts.

432º e segs. do mesmo Código, que se reportam à resolução do contrato, maxime ao art. 436º.

Como contrato especial que é, não pode ser regulado nos apertados limites da

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locação vinculística, nomeadamente para efeitos de resolução. Ou seja, tem sido entendimento quase uniforme que a resolução de contratos desta natureza pode ser feita extrajudicialmente, por simples comunicação ao

locatário relapso, nos termos do aludido art. 436º - v., entre outros, Ac. do STJ, de 16-04-2002, no proc. 02A532, os Acs. da RP, de 08.07.2004, 14.06.2004 e 04.05.2004, nos processos nºs 0433202, 0453206 e 0421774,

respectivamente, todos em www.dgsi.pt, os Acs. Desta Relação de 04.12.2001, 21.11.2002 e 07.10.2004, nas CJ, 2001, V, pág 204, 2002, V, pág. 180, e 2004, IV, pág. 183, e ainda os Acs. da RL, de 27.09.2001, CJ, 2001, IV, pág. 112, e de 14.01.99 e 29.01.98, nos processos nºs 0064456 e 0051212, em www.dgsi.pt.

O direito de resolução tanto pode resultar da lei como da convenção das partes – art. 432º, n.º 1, do CC. A maior parte das vezes a resolução assenta num poder vinculado, obrigando-se o seu autor a alegar e provar o

fundamento, previsto na convenção das partes ou na lei, que justifique a destruição unilateral do contrato.

Assim, a resolução do contrato dos autos operou-se validamente pela comunicação feita ao réu em 13 de Dezembro de 2002.

*

Consequências da resolução.

Entendida válida a resolução e com ela o n.º2 da cláusula 8.ª do contrato escrito de fls.8, pelas mesmas razões serão válidos os n.º1 e 3 da mesma.

Assim, o pedido da autora em relação aos juros e à cláusula penal têm cabimento no disposto no art. 406.º do CC.

Resolvido o contrato entre as partes, desde logo a ré terá direito às rendas vencidas e não pagas (arts. 433.º, 286.º e 289.º n.º1 do CPC), sendo que a tal respeito se apurou o montante de €1993,15. Acrescerá a quantia de €393,81 relativa a juros e despesas, conforme o estipulado pelas partes na cláusula 8.ª O total vencido será, então de €2.386,96.

Nos termos já esclarecidos, igualmente acrescerá a cláusula penal no

montante de €7.809,02. Assim será, quer se considere a mesma como simples medida coerciva ou antes uma pré-fixação de indemnização, uma liquidação prévia de danos sem necessidade de os especificar (arts. 810.º e 812.º do CC).

Os pedidos de resolução do contrato e da indemnização são legalmente cumuláveis (arts, 798.º e 801.º n.º2 do CC).

Chega-se, pois, à conclusão que a apelante tem direito a tudo quanto pede, face à matéria de facto tida como assente.

Procedem integralmente todas as conclusões das alegações:

DECISÃO:

Nestes termos se decide julgar totalmente procedente a apelação, revogando- se a sentença dos autos, julgando-se a acção totalmente procedente,

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condenando-se o réu no pedido formulado pela autora.

Custas em ambas as instâncias pelo réu.

Porto, 6 de Dezembro de 2005

Manuel António Gonçalves Rapazote Fernandes António de Antas de Barros

Cândido Pelágio Castro de Lemos

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