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A TEOLOGIA SISTEMÁTICA COMO PRESSUPOSTO DA PIEDADE

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Academic year: 2022

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A TEOLOGIA SISTEMÁTICA COMO PRESSUPOSTO DA PIEDADE

Talvez por parecer pouco usual, é necessário esclarecer por que a teologia sistemática serve de pressuposto para a piedade.

Embora muitos identifiquem no teólogo os traços característicos da arrogância, a verdade está no contrário. O verdadeiro teólogo quanto mais se aproxima da revelação de Deus na Bíblia, mais se devota a ele em submissão e humildade.

Por isso, é salutar entender que o conhecimento advindo da pesquisa diligente, redunda inevitavelmente numa vida de reflexão e piedade. Qualquer resultado contrário a este, é decorrente de algum desvio merecedor da devida investigação.

É interessante então esclarecer o porquê da teologia sistemática ser um antecedente necessário para a piedade.

Assim como a piedade tem como pressuposto a teologia, esta tem também seus pressupostos, em especial a teologia sistemática, pois é objeto desta discussão em especial, portanto também, merecedora de algumas observações.

A teologia sistemática é construída no contexto da inspiração e da veracidade do texto bíblico. Não se faz teologia na frieza da razão ou no calor da especulação, se faz teologia à luz do texto bíblico, sabendo que a verdadeira teologia não vem de fora, mas de dentro do texto, em especial do texto original, com qual o autor deve se envolver até encontrar o sentido correto.

Considerando a realidade da revelação progressiva de Deus nas Escrituras, é proveitoso ao teólogo observar a natural pluralidade que este texto traz com todas suas ênfases diferenciadas em cada ocasião e cada mudança de contexto comum ao texto sagrado.

Não é permitido, no entanto, negligenciar a realidade de que, embora haja mudanças de ritmo no desenvolvimento do texto, todo ele é passível de

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ser organizado em um sistema uniforme, com uma ideia comum a todo ele, sem distinção da época em que foi escrito ou vivido.

Sabendo, porém, que o foco de toda a revelação bíblica redunda na pessoa do Cristo, isto implica que todas as unidades, livros e seções da Bíblia são determinantes para o devido conhecimento teológico, não sendo permitido isolar pensamentos ou argumentos, em detrimento de uma conclusão particular.

Feitas tais observações, pode-se partir para o resultado que o estudo diligente da teologia sistemática pode trazer. A principal impressão a que se chega é que o domínio da teologia não pode ser apenas um apêndice no qual a pessoa se vangloria, mas precisa redundar necessariamente em uma ortopraxia viva e autêntica.

Isto quer dizer que o acesso ao saber teológico leva ao conhecimento da revelação divina que redunda em Cristo, destarte, leva também à reflexão e piedade. Se assim não for, a teologia sistemática não estará cumprindo seu papel da forma devida. Isto seria uma ortodoxia morta, sem relevância e sem o cumprimento do sentido real que a teologia precisa ter.

Se é possível admitir que o pressuposto da reflexão e da piedade é o conhecimento teológico, deve-se admitir também que a teologia sistemática deve funcionar a partir dos pressupostos considerados acima.

Todavia, isto não implica que o acesso a teologia se limita aos que se dedicam com exclusividade ao assunto, mas a partir destes há uma natural multiplicação das verdades esclarecidas por aquela, pelo costume amiúde de partilhar com fidelidade na comunidade eclesiástica. Ou seja, a partilha do conhecimento teológico, dinamiza a possibilidade da comunidade, a um viver piedoso à luz da verdade bíblica.

Contudo, nem sempre esta relação ocorre sem sobressaltos ou desvios, porquanto inversões de papeis e digressões são comuns no meio teológico.

Toda vez que a Bíblia deixa de ser o sujeito e o estudioso ou leitor deixa de ser objeto, os desvios se tornam inevitáveis, e consequentemente abusivos.

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Só existe teologia capaz de levar à piedade se a Bíblia for o sujeito, pois é ela que designa a revelação e não a vontade humana, sendo obvio então, toda interpretação deve estar em sujeição ao texto sagrado, por conseguinte, se não concordar com o texto, se incorre em infidelidade a ele.

Assim sendo, é imprescindível que o leitor seja o objeto desta relação, pois sua relação é de complementariedade e não de determinação da verdade revelada no texto. Outro comportamento diferente deste torna a relação leitor e texto sagrado, uma relação estranha, portanto passível de sérios desvios doutrinários. O referencial interno da teologia deve ser sempre o sujeito, a saber, a Bíblia e naturalmente o referencial externo deve ser sempre o objeto, ou seja, o leitor, pesquisador do texto.

Esta relação se faz necessária nesta ordem precisa, exatamente pela cumplicidade que deve haver entre sujeito e objeto, pois somente assim, se dá a devida complementariedade que faz justiça ao texto e portanto, à teologia.

Embora seja incomum pensar nesta ordem, é interessante observar que a função do texto como sujeito sempre leva o ser humano como objeto a um autoconhecimento, cumprindo assim o seu papel literalmente, pois dando uma rápida olhada na gramática se percebe que não há sujeito sem um objeto a ser conhecido e nem um objeto sem um sujeito interessado em conhece-lo.

Tal conclusão já é suficiente para entender que é o pesquisador das Escrituras, seja ele leigo ou o teólogo propriamente dito, quem deve estar em submissão ao texto e nunca o contrário.

Entrementes, no desenvolver da teologia, no sistematizar o pensamento dogmático deve-se desenvolver também a piedade, pois ambos são intrinsecamente relacionados, sendo contraditório se pensar em teologia sem piedade. No entanto, não se deve pensar em piedade aqui, conforme o conceito comum que o limita a um conceito de pobreza, mas primariamente deve se pensar em devoção a Deus e afetividade para com o semelhante.

Mas para isso, todavia, é digno de atenção o cuidado que se deve ter ao examinar os textos sacros, porquanto, a revelação divina nunca pode ser vista

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além do limiar que ela mesmo impõe, a saber, a verdade cristocêntrica que une toda a narrativa de tais textos.

Qualquer um dos ambientes em que a teologia seja explorada, seja bíblica ou sistemática por exemplo, deve ser sempre abordada essencialmente como cristocêntrica para que faça valer sua relevância. Somente quando é considerada nesta perspectiva é que de fato e de verdade a teologia ganha sentido, pois é em Cristo que se resume toda a revelação divina registrada nos textos sagrados.

Sendo Cristo o exemplo por excelência, é razoável que se considere também a teologia sistemática, uma fonte de onde é possível aprender sobre a devoção e a piedade a partir da reflexão que o conhecimento teológico promove naquele que o busca.

Contudo, é válido se aperceber do fato de que este caminho nem sempre anda pelas águas tranquilas do conhecimento, mas por vezes se incorre em dilemas e crises advindas da necessidade de se conhecer os limites que a teologia sistemática requer do seu estudioso.

O dogma por si exige imposições que nem sempre estão claras no texto bíblico, criando desta forma uma séria ameaça ao desenvolvimento da mensagem contida neste. Não obstante, deve-se sempre lidar com a teologia sistemática, não como uma ferramenta de imposição de pensamentos, mas como um meio pelo qual se pode chegar a níveis diferenciados de conhecimento da Palavra de Deus.

A rigidez e a frieza, não servem como elementos salutares da pesquisa teológica, nem a especulação e o êxtase são recursos seguros para se pensar a teologia, entretanto, o conhecimento bíblico e a prática deste no decorrer da vida, refletem bem uma teologia equilibrada e comprovada pelo testemunho.

Contudo, para isto se requer uma vida dirigida pelo Espírito Santo, o que é uma condição sem a qual nenhum argumento exposto até aqui teria sentido.

Antagonismos não cabem, portanto nesta relação.

É perceptível então que não há espaço na teologia saudável, para extremos nem para conclusões que empobreçam o diálogo, entretanto, não se

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pode também incorrer no erro dos relativismos que ora são tão comuns à época em voga.

Por isso, os métodos e os recursos, próprios da teologia sistemática devem sempre ser buscados e utilizados, desde que visem uma teologia que venha reverter-se em reflexão e piedade. Se esta for a percepção sentida, é possível conceber uma relação justa e equilibrada entre conhecimento e prática que leva a uma inefável realidade sobreposta por estas duas condições somadas, a saber, o domínio da sabedoria.

Conhecimento e prática são portanto, pressupostos da sabedoria, capacidade contemplada na teologia, que são evidenciadas na reflexão e na piedade. Isto não é para alguns somente, mas para todos que conhecem o inestimável amor de Deus revelado no texto sacro.

Embora seja consensual que é impossível conhecer toda a verdade contida no texto, pois no interregno entre sua escrita e o leitor atual existem várias barreiras como contexto, língua, história, entre outros, é consolador saber que o que está revelado é suficiente para o crente hodierno.

Esta conclusão não se dá como um auto consolo mas é revelado pela própria Escritura que diz: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Tm 3.16-17).

Pr. Otoniel Gomes Oliveira ICE Cidade Operária

Referências

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