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CONFLITO DE COMPETÊNCIA COMPETÊNCIA TERRITORIAL

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 0009462

Relator: SANTOS BERNARDINO Sessão: 12 Junho 1996

Número: RL199606120009462 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: CONFLITO COMPETÊNCIA.

Decisão: DECLARAÇÃO DE COMPETÊNCIA.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Sumário

I - Para haver conflito de competência, é necessário estarmos perante duas decisões transitadas em julgado no mesmo processo, constituindo uma e outra caso julgado formal, ou seja, impondo-se cada uma apenas no processo em que foi proferida, sem ter força de caso julgado material de sorte a poder impor-se fora desse processo.

II - A decisão sobre incompetência absoluta do tribunal, embora transite em julgado, não tem valor fora do processo em que foi proferida, ao passo que a decisão proferida em matéria de incompetência relativa, transitando em julgado, resolve definitivamente a questão da competência.

III - Assim, o caso julgado sobre a incompetência absoluta vale como simples caso julgado formal, ao passo que o caso julgado sobre incompetência relativa tem força de caso julgado material, não podendo o tribunal declarado

competente por esta última decisão transitada recusar o processo que lhe foi remetido.

IV - Por isso, no domínio da competência relativa ou entre esta e matéria de competência absoluta, não pode haver conflito de competência verdadeiro e próprio.

V - Se, porém, no mesmo processo, forem proferidas duas decisões

contraditórias sobre incompetência territorial, tal caso foge à regra genérica dos conflitos de competência, encontrando-nos perante um conflito aparente entre as duas decisões e prevalecendo a que tenha transitado em julgado em primeiro lugar.

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Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

I O Exmo. Magistrado do MP junto desta Relação veio requerer a resolução do conflito negativo de competência suscitado entre o 4. Juízo (2. secção) do Tribunal Cível da comarca de Lisboa e o 2.

Juízo (1. secção) do Tribunal Judicial da comarca de Loures, alegando que os respectivos Magistrados Judiciais, em decisões transitadas, se atribuem mutuamente competência, negando a própria, para conhecer do processo em que é autora (M), nos autos de acção sumária n. 5961.

Juntou certidão contendo as decisões conflituantes.

Notificadas as autoridades em conflito para responder, apenas o fez o Mmo.

Juiz do 4. Juízo Cível de Lisboa, que veio sustentar que, no caso vertente, não existe um vero conflito negativo de competência, visto que o Tribunal de Loures não podia já discutir a questão da competência, depois desta ter sido apreciada no Tribunal onde a acção foi proposta. Por isso - conclui o referido Magistrado - há que ter por irrelevante o decidido, sobre a questão, no

Tribunal de Loures.

Nesta Relação, o MP emitiu parecer defendendo a atribuição da competência ao Tribunal de Loures.

Corridos os vistos legais, cumpre decidir.

II São os seguintes os factos a ter em conta, com relevo para a decisão:

I- No Tribunal Cível de Lisboa, em acção com processo sumário que veio a ser distribuída ao 4.

Juízo (2. secção), (M) demandou (C) e outros;

II- A autora, invocando a sua qualidade de legítima proprietária de uma

fracção autónoma, com garagem privativa na cave, do prédio (X), concelho de Loures, veio pedir se declare ineficaz a deliberação da assembleia de

condóminos do dito prédio, de 14-4-89. que vedou a utilização da dita garagem por um não residente a quem a autora havia dado de arrendamento, e a

condenação dos réus (condóminos que votaram a deliberação) a pagar-lhe uma determinada indemnização;

III- Dois dos demandados - os réus (L) e mulher - deduziram a excepção de incompetência relativa do tribunal da comarca de Loures, por o prédio sobre que caíu a deliberação se situar na área desta comarca;

IV- Pronunciando-se sobre a questão, o Mmo. Juiz do

4. Juízo Cível de Lisboa proferiu despacho julgando procedente a deduzida excepção e decidindo ser o Tribunal da comarca de Loures o competente para a presente acção;

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V- Determinou, por isso, que, logo que transitado o seu despacho, fossem os autos remetidos à comarca de Loures;

VI- Sem que se achassem notificados todos os réus, foram os autos remetidos ao tribunal da comarca de Loures;

VII- Presentes os Autos ao Mmo. Juiz do 2. Juízo desta comarca, proferiu este Magistrado despacho em que declarou incompetente o tribunal de Loures e competente o de Lisboa, determinando a remessa dos autos ao 4. Juízo Cível após o trânsito em julgado de tal decisão.

VIII- Após o trânsito em julgado do mencionado despacho, foram os autos devolvidos ao 4. Juízo Cível de Lisboa;

IX- Ambas as decisões transitaram em julgado, sendo que, relativamente à primeira (do 4. Juízo Cível de Lisboa) - e em consequência do facto referido em VI - tal só aconteceu após o trânsito da segunda (do 2. Juízo de Loures).

III Sustenta o Mmo. Juiz do 4. Juízo Cível de Lisboa que não estamos perante um verdadeiro conflito negativo de competência, por isso que, em seu

entendimento, uma vez apreciada a questão no tribunal onde a acção foi proposta não poderia já o juiz da comarca de Loures pronunciar-se sobre ela.

E, na verdade, a situação vertente não retrata um vero conflito de

competência, não obstante ela, pelo menos aparentemente, se afeiçoar ao disposto no n. 2 do art. 115 do CPC: dois tribunais da mesma espécie

(tribunais judiciais) consideram-se incompetentes para conhecer da mesma questão.

É que para que pudesse falar-se de conflito de competência era necessário que

"estivéssemos perante duas decisões transitadas e que uma e outra

constituíssem caso julgado formal, ou seja, que cada uma se impusesse no processo em que fora proferida, mas não tivesse força de caso julgado

material, de sorte a poder impor-se fora do processo" (Ac. STJ de 2-7-92, BMJ 419/626).

Ora, a lei (o CPC) trata diversamente as questões da incompetência absoluta e da incompetência relativa.

Enquanto, nos termos do art. 106, a decisão sobre incompetência absoluta do tribunal, embora transite em julgado, não tem valor algum fora do processo em que foi proferida, já em matéria de incompetência relativa, por força do preceituado no art. 111 n. 1

(2. parte), a decisão que transite em julgado resolve definitivamente a questão da competência. É dizer: o caso julgado sobre a incompetência absoluta vale como simples caso julgado formal - não tem o alcance de caso julgado

material; ao invés, a decisão (transitada) sobre a incompetência relativa tem força de caso julgado material, pelo que o tribunal declarado competente por decisão transitada não pode recusar o processo que lhe foi remetido (cfr. Prof.

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A. Reis, "Comentário", vol. I, págs. 323 e 349). Daí, como sustenta o Prof.

Anselmo de Castro, no domínio da competência relativa não possa haver conflito de competência, ou melhor, "o conflito é resolvido através da

eliminação da causa que lhe dá origem" (Dto. Proc Civil Declaratório, vol. II, pág. 89).

No caso em apreço estamos perante duas decisões, proferidas no mesmo processo, sobre incompetência relativa (incompetência territorial), pelo que tal caso foge à regra genérica dos conflitos de competência; na verdade, estamos perante um conflito aparente entre as duas decisões, uma das quais tem de ceder face à outra.

E qual é que terá de ceder?

Ambas as decisões transitaram em julgado.

Ora, de harmonia com o disposto no n. 1 do art.

675 do CPC, havendo duas decisões contraditórias sobre a mesma pretensão, cumprir-se-à a que passou em julgado em primeiro lugar. E este princípio é, por força do n. 2 do mesmo normativo, aplicável à contradição existente entre duas decisões que, dentro do processo, versem sobre a mesma questão

concreta da relação processual.

Como a decisão transitada em primeiro lugar foi a do tribunal de Loures, é esta que deve prevalecer.

Dir-se-á que aquilo que o Mmo. Juiz do tribunal de Loures deveria ter feito - quando recebeu o processo com o despacho do seu colega do 4. Juízo Cível de Lisboa - era devolver os autos ao Juízo lisboeta, assinalando a falta de trânsito em julgado da decisão aí proferida, antes de pronunciar-se sobre uma questão (de competência territorial) de que, oficiosamente, não podia conhecer (a questão não é nenhuma daquelas a que alude o art. 109 n.

2 do CPC, ao contrário do que pensam os Magistrados conflituantes).

Como, porém, o não fez e, ao invés, proferiu despacho - que veio a transitar em julgado - sobre tal questão parece evidente que não pode fazer-se tábua- rasa de tal despacho, considerando-o ineficaz como pretende o Mmo. Juiz do 4.

Juízo Cível de Lisboa. Independentemente da oportunidade da sua prolação e do seu mérito intrínseco, tal despacho

(do Mmo. Juiz de Loures) existe e produz efeitos, não podendo considerar-se como se não tivesse sido proferido. E como foi o primeiro a transitar em

julgado, não cabe a esta Relação senão verificar e acentuar esse facto, e trazer a terreiro o disposto no já aludido art. 675 do CPC para remover o "impasse"

processual que ainda se verifica.

IV Face ao que se deixa exposto, os Juízes desta Relação acordam em declarar territorialmente competente para conhecer da acção sumária em causa o 4.

Juízo Cível de Lisboa.

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Custas pela parte vencida a final, digo, sem custas por delas estar isento o MP.

Lisboa, 12 de Junho de 1996.

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