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Orgânicos - Globo Reporter 25-03-11

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Orgânicos possuem mais nutrientes do que alimentos convencionais

Globo Reporter - 25/03/2011

Pesquisa da UFPR revelou que os orgânicos têm mais fibra alimentar, proteína e minerais como ferro e potássio. Eles tinham também menos nitratos e nitritos, que podem ser cancerígenos e provocar má formação.

São 7h de sábado, e o um grupo de paulistanos já pulou da cama. Eles saem em busca de saúde e encontram alimentos livres de agrotóxicos. Já virou rotina para a tradutora Larissa Loenert, mãe do Gabriel de um ano e nove meses. Ela faz compras na feira de orgânicos toda semana, sem falta. E tem que ser bem cedo antes que os produtos acabem.

“Eu tenho os alimentos sem agrotóxico, tenho uma criança mais saudável, tenho uma alimentação em que eu confio mais. Estou levando muito mais saúde para casa, com certeza”, afirma Larissa.

Esse é o começo de uma mudança de hábitos do consumidor que anda cada vez mais exigente. Já não basta parecer saudável, afinal aparência não é tudo. O consumidor agora também quer saber de onde vem o que ele está comendo e como o que ele põe no prato foi produzido. A busca por alimentos orgânicos é, no fundo, a busca por uma espécie de selo de qualidade, uma garantia de que o que ele come hoje não vai fazer nenhum mal à saúde, nem agora nem no futuro.

Os alimentos orgânicos passaram por um teste na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O mais importante não é só o que eles têm, mas o que eles não têm, e o que eles não têm é contaminação por agrotóxicos. Então, recomendam-se os orgânicos”, aposta a química Sônia Stertz, da UFPR.

A pesquisadora Sônia foi a campo. O que ela colheu nas plantações próximas a Curitiba foi direto para o laboratório. E dez alimentos passaram pelos testes: agrião, alface, batata, couve-flor, espinafre, tomate-cereja, tomate-salada, morango, pepino e cenoura. Conclusão: os orgânicos levaram vantagem em relação aos alimentos cultivados com uso de produtos químicos.

“Apresentavam maior concentração de nutrientes, quando comparados aos convencionais, como fibra alimentar, proteína, açúcares e também alguns minerais como ferro, potássio e selênio”, explica a pesquisadora.

Algumas amostras se destacaram na pesquisa, como é caso da batata e do morango. Não é à toa que o agricultor Isaías José Pereira hoje vive todo orgulhoso. “Os morangos têm uma concentração maior de açúcar com vários minerais como cálcio, sódio, potássio e selênio, com teores mais elevados que os convencionais. Isso é muito positivo”, afirma a química da UFPR.

O alimento orgânico é saudável, bonito e saboroso. Há dez anos, o agricultor mineiro Isaías trocou o plantio convencional pela produção de morangos orgânicos. Foi depois de observar um fenômeno curioso na sua propriedade. O canteiro que recebia agrotóxico estava cheio de ácaro. Em outro terreno meio abandonado, sem veneno, os morangos cresciam bonitos.

“Eu fui vendo aquilo e eu pensei: o quê que está errado? Lá na lavoura abandonada, estava cheinho de predador natural. E na convencional, o predador não chegava porque tinha veneno”, conta Isaías.

O agricultor viu que não precisava mais do agrotóxico. É no que todas as pessoas que vão a uma feira de orgânicos também acreditam.

A pesquisa da Universidade Federal do Paraná também mostrou que os alimentos orgânicos testados em laboratório tinham menos nitratos e nitritos, substâncias que podem ser cancerígenas e provocar má formação genética.

Engenheiro agrônomo ensina como preparar uma horta em casa

Ter uma horta em casa é simples, mas é preciso obedecer regras. O engenheiro agrônomo Marcelo Noronha dá dicas.

Ter uma horta em casa é simples, mas é preciso obedecer algumas regras. O engenheiro agrônomo Marcelo Noronha diz que a primeira delas é escolher o local ideal.

“Tem que ter luminosidade. A luminosidade ideal é face norte. Tem que ter de quatro a cinco horas de sol para a sua hora ter sucesso”, diz Marcelo.

Ele recomenda temperos para se ter em apartamentos. “Principalmente temperos que dão uma colheita com bastante abundancia. Mas também eu entro com hortaliças, principalmente rúcula e espinafre. As pessoas têm muita vontade de ter tomatinho também nos apartamentos, nos pequenos espaços.”

Atenção: a escolha da profundidade do vaso também é importante.

“Principalmente manjericão, alecrim e capim cidreira. Elas gostam de profundidade, então eu trabalho com vasos redondos de no mínimo 30 centímetros. As plantas rasteirinhas, principalmente cebolinha, salsinha e o hortelã, são jardineiras que podem ter até dez centímetros de profundidade”, conta o engenheiro agrônomo.

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“Significa que se você deixar o manjericão em um vaso pequeno, ele não vai se desenvolver. Para ele crescer no porte dele de 80 centímetros, tem que ter a parte embaixo de no mínimo 30 centímetros.”

O vaso deve ter furos embaixo. Na montagem, o engenheiro agrônomo ensina um truque: usar um caco de telha formando uma casinha sobre cada furo.

“Para que a primeira camada, que vai ser de pedrinha, não tampar esse buraco e travar o fluxo de água”, explica Marcelo.

Depois, é só preencher: “Eu venho com uma argila expandida para ter um bom dreno o vaso, uma camada bem fininha.”

Por cima, areia de construção grossa: “Faço uma camada para tampar as argilas expandidas, que serve como filtro. Quando você vai molhar a terra, não desce junto com a água.”

Por último a terra. “Eu venho com a terra adubada. É importante comprar uma terra de boa qualidade, que a gente chama composto orgânico ou terra preta. Não venha com adubo químico, isso é fundamental para uma horta orgânica”, avisa, Marcelo.

É só encher o vaso. “Aí eu faço a primeira camada, coloco a muda e depois eu preencho com a segunda camada.”

Ele recomenda misturar, no máximo, duas espécies no mesmo vaso. “Mas a espécie tem que ser do mesmo tamanho da outra, porque o manjericão com uma rasteirinha vai sombrear e ter problemas no manejo delas. Essa escolha do manjericão com o tomate cereja é uma ótima ideia, elas são do mesmo tamanho”, sugere Marcelo.

Mas atenção: hortelã não deve dividir o vaso com nenhuma outra planta. O sistema das raízes é muito agressivo. Ele invade todas e mata as outras, então hortelã só pode ser plantado em um vaso. Não pode misturar com mais nada, tem que plantar sozinha”, reforça.

Só falta a cobertura. “A última fase do vaso é o que a gente chama de cobertura morta. Vou colocar uma palhadinha para cobrir o seu solo, que é a coisa mais importante que você tem na horta. Tem que proteger seu solo, pode ser com palhada, com pedrinha , o que for. O importante é proteger.”

O vaso está pronto. Agora é saber cuidar. “O principal cuidado que eu vejo é a quantidade de água. Existem dois horários de rega. Ou parte da manhã bem cedo, ou no final do dia. Nunca ao meio-dia, com sol forte. Outra questão é a quantidade. Infelizmente não existe uma receita de bolo, depende de variações”, aponta Marcelo.

Para saber se a planta precisa de água, a dica é perfurar a terra com o dedo.

“Às vezes está seco na superfície e embaixo está úmido. Não precisa molhar novamente”, reforça. Essas plantas não gostam de muita água, e as pessoas pecam não pela falta, mas pelo excesso.

A receita para ter uma boa safra em casa é adubar - com adubo orgânico - a cada quatro meses. Em 15 dias, a hortinha caseira já começa a dar frutos.

É possível plantar horta orgânica no quintal ou na varanda do apartamento

Em poucos metros da varanda, a empresária Bianca Levis tem uma mini plantação com temperos, hortaliças e até frutas. As plantas crescem só com água e adubo orgânico.

É por tudo isso que quase tudo o que se come na casa da nutricionista Neide Rigo, ela sabe exatamente de onde vem. Nem sempre é preciso ir muito longe para trazer para a cozinha de casa alimentos livres de agrotóxicos. Muitas vezes, a dúvida é onde encontrá-los. Mas uma plantação orgânica pode estar bem perto, basta um pouco de terra para poder plantar legumes, verduras e temperos. A horta pode estar no quintal de casa, no meio da cidade grande.

Bem no meio de São Paulo, Neide aproveitou cada centímetro de terra. “No último levantamento que eu fiz, tinha 53 espécies diferentes”, revela a nutricionista.

Se não houver quintal por perto, qualquer espaço serve. Na varanda de um apartamento, por exemplo, também cabe uma horta. Em poucos metros, a empresária Bianca Levis tem uma mini plantação com temperos, hortaliças e até frutas. A horta do apartamento já tem 14 espécies. “Dá para ter uma senhora horta, como você vê. Eu tenho rúcula, romã, pitangueira. Eu tenho todos os meus temperinhos. Não preciso comprar mais”, diz.

Em casa, Neide tem uma horta mais que completa. “Tem pimenta, tem melissa, tem ora pro nobis, tem tomate, mas as coisas vão nascendo assim”, lista a nutricionista. Tem outras plantas com nomes bem diferentes, como o caruru do reino e o mangarito.

Na hortinha do apartamento, já é época de colheita. “A hortelã está boa para colher”, afirma a empresária.

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Bianca e Neide cuidam da terra com dedicação. As plantas crescem só com água e adubo orgânico, e a horta da Neide cresceu tanto que já invadiu a frente da casa. “Eu procurei aproveitar todos os espaços de terra aqui. Então, eu tenho cúrcuma. A gente usa a raizinha. É açafrão da terra, que dá cor”, aponta a nutricionista.

A horta avançou pela rua. Na praça perto de casa, Neide sonha em um dia ver os frutos de uma horta comunitária. “Eu plantei um apimenta mexicana, que é uma pimenta de árvore. Então, ela vai dar pimenta para toda a vizinhança”, explica.

O que Neide planta é a ideia de que é possível ter uma vida um pouco mais saudável na cidade. “Eu acho que podia ter um misto de flores, e podia ter também uns canteiros de couve, de ora pro nobis, depalmas. Acho que ia embelezar a praça e alimentar a vizinhança”, comenta a nutricionista.

No apartamento de Bianca, a horta complementa o cardápio da família, quase todo orgânico. “Faz diferença, é um produto mais gostoso, bem mais saboroso que você está consumindo. É muito bom”, declara a empresária.

O que vem do quintal de Neide vai direto para o fogão. Quando a nutricionista vira cozinheira, transforma qualquer verdura em receitas saborosas.

“Eu posso colocar várias ervas aqui. Tem algumas ervas que nascem espontaneamente no meu quintal, e às vezes não em quantidade suficiente para fazer uma panela de comida para a família toda, mas eu misturo. Então, tem um pouquinho de serralha, um pouquinho de almeirão, ora pro nobis, caruru do reino. Então, eu misturo tudo, aproveito tudo que tem no meu quintal”, destaca a nutricionista.

E pelo jeito, fica bom. “Está pronto, para comer com arroz, com polenta. Tudo simples e direto do quintal”, comenta Neide.

Ana Alice, filha da empresária Bianca, já tem um ano de vida, um ano de alimentação livre de agrotóxicos. A mãe não tem dúvidas de que está oferecendo o melhor para filha.

Nutricionista recomenda verduras, legumes e frutas para imunidade

Segundo Fábio da Silva Gomes, esses alimentos fornecem nutrientes que ajudam na melhora da imunidade do organismo. Eles fortalecem as defesas do corpo e podem atuar diretamente sobre agentes agressores.

O Globo Repórter na última sexta-feira (25) mostrou que cada vez mais brasileiros, em busca de uma alimentação saudável, estão recorrendo aos alimentos orgânicos, produzidos sem contaminação e agrotóxicos. E o programa convidou o nutricionista Fábio da Silva Gomes, do Inca, para um bate-papo com os internautas no site. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Como identificar os alimentos orgânicos

Não existe uma forma fácil de o consumidor saber se o alimento comprado está livre ou não de agrotóxicos. A única maneira é a análise em laboratório mesmo. Existem vários selos que certificam o produto como sendo orgânico. É importante estar atento a esta identificação.

Alimentos hidropônicos

Alimentos hidropônicos tendem a ter mais agrotóxicos do que os orgânicos. São completamente diferentes dos orgânicos. Os hidropônicos são alimentos produzidos sem contato com o solo. Portanto, nutrientes, fertilizantes e agentes químicos são utilizados para fazer com que a planta cresça sem contato com o solo. Esta forma de cultivo, às vezes, requer uma quantidade maior de fertilizantes e agentes químicos do que os alimentos produzidos de forma convencional.

Riscos para a saúde dos alimentos com agrotóxicos

Hoje, não conseguimos afirmar, por exemplo, em relação ao câncer que problemas podem causar em longo prazo. Mas nós sabemos que os agricultores, que têm contato direto com os agrotóxicos, podem desenvolver uma série de doenças. E como conhecemos estes problemas com os agricultores, o que a gente recomenda é que se tenha precaução.

Por outro lado, já sabemos que os alimentos que são ricos em agrotóxicos têm uma capacidade menor de proteção contra o câncer do que os alimentos orgânicos.

Alimentos que fortalecem a imunidade natural do corpo

Frutas, legumes e verduras de um modo geral fornecem nutrientes que ajudam na melhora da imunidade do organismo. Esses alimentos vão tanto fortalecer nossas defesas como eles também podem atuar diretamente sobre agentes agressores.

Diferenças entre os alimentos orgânicos e os transgênicos

Os transgênicos são desenvolvidos através da modificação genética das plantas. É uma engenharia genética para se produzir plantas e espécies de plantas utilizando o cruzamento com um reino diferente do

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vegetal. Já os alimentos orgânicos não têm nada de diferente, eles apenas são cultivados sem a utilização de agrotóxicos.

Minerais

Vários estudos têm comparado a concentração de minerais e outros compostos em diferentes alimentos. E através deles sabemos que existe uma concentração maior destes compostos importantes nas frutas e verduras cultivadas de forma orgânica do que naquelas cultivadas da maneira tradicional.

Antioxidantes

Na verdade é uma função de vitaminas e minerais que encontramos nas frutas, legumes e verduras. É uma ação que evita que alguns compostos cancerígenos, como os radicais livres, agridam o organismo. Esta agressão aos poucos transforma células saudáveis em células precursoras de câncer. Então, o papel dos antioxidantes é esse, evitar que fatores cancerígenos possam transformar estas células saudáveis do organismo.

Higiene para o consumo dos alimentos

De um modo geral, o que a gente recomenda que seja utilizada a água sanitária, na medida de 1 colher de sopa para cada litro de água. Nos supermercados é possível encontrar também pastilhas de cloro ou então cloro em forma líquida que também podem ser utilizados para higienizar estes alimentos.

Curitiba possui o único mercado municipal do país só de orgânicos

O mercado nasceu para incentivar o plantio e o consumo sem agrotóxicos e também para evitar a contaminação dos rios que abastecem a cidade.

Em Curitiba, já existe até uma espécie de shopping center só para essa nova categoria de produtos. No mesmo lugar, você encontra restaurante, mercearia, açougue, roupas, verduras. Tudo sem produtos químicos. É um mercado diferente, o único mercado municipal só de orgânicos do país. Nele, quem vende tem clientes fiéis e quem compra encontra uma variedade de produtos. A experiência que está dando certo é uma aposta para um futuro melhor para a cidade.

O mercado nasceu para incentivar tanto o plantio quanto o consumo sem agrotóxicos e, assim, evitar a contaminação dos rios que abastecem a cidade.

“Ao redor de Curitiba, a gente tem um cinturão verde da onde vem praticamente todas as hortaliças que nós consumimos no município, mas é também o lugar de onde vem praticamente toda a água que nós consumimos. Então, existia sempre uma preocupação muito grande com a qualidade dessa água, não só para hoje, mas uma visão futura”, afirma Marcelo Munaretto, diretor de unidades de abastecimento de Curitiba.

O administrador Marcos Mews vai ao mercado matar a saudade. Para ele, comer um alimento orgânico é resgatar os sabores da infância. “O sabor de antigamente, quando você plantava na sua casa, na sua horta. Isso dá o diferencial, é esse o gosto que você sente”, comenta.

Quem sabe essa volta ao passado não é o caminho para o futuro?

Agrotóxicos podem causar doenças como depressão, câncer e infertilidade

A Anvisa avalia todo ano se os alimentos não têm agrotóxicos demais. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido.

Parece que o agricultor José Gonçalves Durães vai para a guerra, mas ele está indo para o pomar. Toda a roupa e a arma na mão são para enfrentar um inimigo. Há anos, ele trabalha com agrotóxico. O veneno é poderoso. Não mata só a mosca da goiaba, ataca também a saúde do homem.

Quem afirma é o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz, que se dedica a estudar os efeitos dos pesticidas, substâncias das mais agressivas. “Elas têm o efeito bastante diversificado nas populações que estão expostas tanto diretamente, como na população em geral, que, por exemplo, entra em contato através dos alimentos”, alerta.

O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Mas, na hora de fazer compras, passa pela cabeça das pessoas que frutas legumes e verduras podem fazer algum mal para saúde?

“Não, pelo contrário, porque eles têm vitaminas, coisas que são boas”, diz a dona de casa Maria Lambertini. “A gente pega essa fruta aqui. Como é que eu posso saber quanto de agrotóxico ela tem?”, questiona a assistente financeiro Sandra Malheiros.

Como saber se os alimentos que nós consumimos todos os dias não têm agrotóxicos demais? Só mesmo testes em laboratório para dizer, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faz essa avaliação todo ano. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido ou resíduos de produtos químicos não autorizados para aquele tipo de alimento.

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Onde será que o peso dos agrotóxicos foi maior? Em terceiro, foi no pepino. Em segundo, vem a uva. E, em primeiro lugar, está o pimentão. A Anvisa descobriu que 80% das amostras de pimentão apresentavam irregularidades.

A avaliação faz parte de um programa para controlar e reduzir a quantidade de agrotóxicos na alimentação dos brasileiros. No levantamento mais recente, de 2009, em 20 alimentos analisados, quase 30% das amostras tinham agrotóxicos acima do limite ou substâncias não permitidas.

“Em determinadas amostras, tinha mais de cinco tipos diferentes de agrotóxicos não autorizados. E isso é sério. É sinal de que a gente precisa fazer um bom trabalho com esse agricultor, para que ele mude essa prática agrícola e utilize aqueles produtos que estão autorizados”, diz o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.

O agricultor Cristiano Juliatto aprendeu a plantar sem veneno e gostou do resultado. “O consumidor final vai comer um produto de qualidade. Eu também não estou envenenando as pessoas”, destaca.

Na lista da Anvisa, os alimentos com menor índice de contaminação foram a banana, o feijão e a batata. E os consumidores devem cobrar e exigir qualidade do que se compra. Comer frutas, legumes e verduras é uma das recomendações para prevenir o câncer - melhor ainda, se forem livres de agrotóxicos.

O nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (Inca) explica por quê: “os alimentos orgânicos têm uma quantidade de compostos quimiopreventivos, compostos anticancerígenos, que é 15% a 30% maior do que os alimentos que são produzidos com agrotóxicos”, explica o nutricionista Fábio da Silva Gomes, do INCA.

Na casa de Joel, ninguém duvida do poder dos orgânicos. Ele traz os alimentos da horta. E a dona de casa Rose Márcia de Carvalho prepara. Na casa deles, tem refeição orgânica todos os dias. Ela garante que o corpo já sentiu a diferença e se livrou de um tumor no útero. “Eu fiz duas cirurgias, até parei de trabalhar aqui para me cuidar. E o médico falou que eu não tenho mais nada”, conta.

Rose acha que foi a alimentação que ajudou a superar o problema. Ela aposta que a comida orgânica que a curou.

Mas se o que tem na geladeira de casa não é orgânico, o que fazer para, pelo menos, diminuir a carga de agrotóxicos? Os especialistas dão as dicas:

Sônia Stertz, química da UFPR: No caso de frutas, você deve eliminar a casca. Luiz Cláudio Meirelles, gerente geral de toxicologia da Anvisa: Retirar folhas mais externas das hortaliças folhosas. Lavar abundantemente todos os alimentos.

Mas não espere que assim você vai ficar livre do veneno. “Aquilo que está na polpa do alimento não é retirado”, alerta o gerente geral de toxicologia da Anvisa.

A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comparou amostras de alimentos orgânicos, convencionais e hidropônicos (aqueles cultivados em água). Advinha qual delas apresentou maior concentração de agrotóxico? “Os hidropônicos, para nossa surpresa, tem mais de 40% das amostras com algum tipo de contaminação”, revela Sônia.

Mas qual é o mal que os agrotóxicos podem causar? A lista de doenças é enorme. “Depressão, má formações congênitas, alguns tipos de câncer como leucemia e tumores de cérebro, transtornos da imunidade, alterações na qualidade dos espermatozóides”, lista o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz.

Agrotóxicos também podem causar infertilidade, uma revelação para o produtor orgânico José Bassit. “Minha esposa não conseguia engravidar. Aí eu vi que alguma coisa estava errada”, conta.

Após sete anos em contato direto com pesticidas, hoje ele está convencido de que a culpa foi do veneno. José revela que tinha certeza de que era fértil e possuía até uma prova: “tinha um exame. No começo, era normal. Depois de três anos, a fertilidade foi caindo e, depois de sete anos, eu já não tinha mais espermatozóides vivos”, revela.

O agricultor José Gonçalves Durães ainda parece duvidar. “Nós fazemos exame direto, nunca deu problema”, afirma.

Pelo sim, pelo não, ele decidiu diminuir pela metade a quantidade de veneno que usa nas goiabeiras. Agora ele protege a fruta embrulhando cada uma delas. Ele veste uma a uma com saquinhos de papel. Só que ele ainda acha que a lavoura não sobrevive sem veneno.

Rapaz passa infância intoxicado com pesticidas usados na roça dos pais

Só sete anos depois, os médicos descobriram que eram os agrotóxicos que faziam Ivan passar mal. Hoje, as tristezas, as dificuldades e o uso de agrotóxicos fazem parte do passado.

Em uma plantação em Jaguariúna, São Paulo, não existe o medo de por a mão na terra, porque nela não se usa veneno, nenhum tipo de produto químico. O que garante uma boa colheita é simplesmente um cuidado maior. Cada uma das plantas é fruto de muita dedicação.

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É um novo jeito de lidar com a terra. Pensando bem, um jeito muito antigo de lidar com a terra. É como voltar no tempo, quando ainda não existia agrotóxico. Limpar o mato dos canteiros é com a mão mesmo. Dá um trabalho para a trabalhadora rural Marlene Bispo da Silva. E ela revela que passa duas horas por dia agachada tirando mato.

A prevenção das pragas é com remédios naturais à base de plantas, mas o maior segredo está em simplesmente respeitar a lógica da natureza. Não é por acaso que a horta tem tanta variedade.

“Você tendo uma diversidade grande de plantas, você tem uma diversidade grande de insetos que são atraídos por essas plantas. Aí vem o inseto que come a planta, mas também vem o inseto que é predador daquele inseto. Com o passar dos anos, o sistema vai entrando em equilíbrio. Já faz vários anos agora que a gente n ao está precisando usar mais esses produtos permitidos, porque o sistema entrou em equilíbrio total”, afirma o veterinário e agricultor Romeu Mattos Leite.

O sítio não é grande, mas a terra é boa, tratada com respeito e com adubo que vem direto do galinheiro. No local, acredita- se que, assim como o homem, a terra também precisa de um merecido descanso. Depois de três ou quatro anos de uso, o canteiro repousa por um tempo. “Eu acho que esse é o motivo da gente estar aqui, deixar esse mundo saudável para as próximas gerações que vêm”, aposta Romeu.

Orgânico não significa apenas livre de agrotóxico. Essa é só uma das condições para um alimento receber esse nome. Existe também a preocupação com o meio ambiente e com o bem estar de quem lida com a terra. O que nasce na horta é um jeito diferente de cuidar da saúde das pessoas e também do planeta.

É por isso que um alimento orgânico é tão diferente de um alimento convencional. Ele foi cultivado com o máximo de cuidado para não desgastar o solo, não desmatar florestas, não poluir a água nem o ar e respeitar o trabalhador rural, que tem que ter carteira assinada e condições dignas de trabalho. Só assim para receber o selo.

A trabalhadora rural Marlene Bispo da Silva não tem do que se queixar. Ela é registrada e ganha hora extra. E é claro que assim ela trabalha mais feliz. “Tem que fazer com carinho para elas se sentir bem. Então, se você é bem tratada, as verduras da horta também”, diz.

Ivan, Meire e Hatsu são uma família orgânica. Hoje, ninguém mais usa veneno, agrotóxico, nem produto químico. Mas lembrar do passado ainda traz muita tristeza. Ivan que hoje ajuda os pais na roça era um menino que vivia doente. Uma época que traz as lágrimas de volta aos olhos da agricultora Meire Togo Ono.

“Ele tinha um vômito que é uma crise que vinha constante. Se ele estava brincando, de repente vinha uma crise, e ele vomitava, dia e noite sem parar. Acabava o líquido, o potássio, e ele ficava no zero. De um dia para o outro, ele emagrecia sete ou oito quilos”, lembra a mãe do jovem.

Até que um dia um médico veio com a explicação para a doença que parecia inexplicável. “O médico dizia que poderia ser uma hipótese de agrotóxico, se ele tinha contato direto com agrotóxico que realmente a gente tinha, porque a gente plantava uva”, conta Meire.

As tristezas, as dificuldades e o uso de agrotóxicos fazem parte do passado. “A vantagem é, primeiro, saúde. Eu achei muito interessante que freguês que procura essas coisas é gente muito boa. É gostoso de conversar, e o trabalho fica mais gostoso”, destaca o agricultor Hatsu Ono.

Na roça cultivada sem veneno, hoje brota mais saúde e mais satisfação. “A gente consegue viver de uma forma mais digna e saudável, e essa dignidade é respeitando não só o meio ambiente, mas a vida da gente”, ressalta o auxiliar geral Ivan Ryuji Ono.

Criação de galinhas sem estresse produz ovos com mais qualidade

Em vez de serem criadas em gaiolas, como nas granjas convencionais, as galinhas ficam soltas, em um espaço grande. As chamadas "galinhas felizes" botam ovos com o dobro de vitamina E e 40% a mais de vitamina A.

A repórter Mônica Teixeira foi até Jaguariúna, em São Paulo, para conhecer uma criação de galinhas. E é possível perceber uma grande diferença. Em vez de elas serem criadas em gaiolas, como nas granjas convencionais, essas galinhas ficam soltas, em um espaço grande, ciscando sem stress. É por isso que elas são chamadas de galinhas felizes.

“As galinhas são criadas assim com todo o carinho mesmo. A gente procura dar um tratamento individualizado para cada galinha”, explica o veterinário e agricultor Romeu Mattos Leite.

Tudo na criação foi pensado para não deixar as galinhas estressadas. É um galinheiro ideal, onde as moradoras agem como se estivessem livres, agem naturalmente. “Ciscar, namorar, dormir no puleiro e vadiar. Essa área aqui a gente chama de área de vadiagem, porque faz parte da vida da galinha vadiar”, aponta o veterinário.

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Mas será que dá para saber se elas são realmente felizes? “Existem vários parâmetros para avaliarmos isso”, aponta Romeu.

A avaliação é feita todo mês. Penas bonitas já são um sinal. E elas também sabem demonstrar felicidade rolando na terra. “Eu prefiro comer o ovo de uma galinha feliz do que uma galinha estressada, embora visualmente, às vezes, você não consiga ver a diferença, mas o conteúdo é diferente”, destaca o agricultor.

Estudos que compararam os ovos de galinhas orgânicas com os ovos de granja concluíram que as galinhas felizes botam ovos com o dobro de vitamina E, e 40% a mais de vitamina A.

Nem precisa dizer que essas galinhas só comem ração orgânica, uma mistura de milho, farelo de soja, de trigo, linhaça e quinua. Quando ficam doentes, elas são tratadas com homeopatia e remédios a base de plantas.

Romeu, que é veterinário, tem mais uma explicação para a diferença na qualidade dos ovos. “Ela (a galinha) tem tranqüilidade, e o aparelho digestivo dela funciona normalmente, sem indução química. E ele consegue extrair mais nutrientes e agregar mais nutrientes ao ovo”, afirma o agricultor.

Então, estamos diante de verdadeiras fabricantes de vitamina. Essas galinhas põem 200 dúzias de ovos por dia, com todo o conforto. Os aposentos das galinhas são chamados de quartos e têm teto solar e tudo.

Antes de colher os ovos, é preciso sempre pedir licença antes e bater na porta. Tanta educação tem motivo. “O nosso costume de bater, na verdade, tem dois sentidos. Um deles é para não assustar a galinha, para a gente pedir licença para a galinha. Mas nesse momento que a gente bate também é um momento de reflexão, para a gente olhar para si mesmo para ver se eu estou em condições de fazer esse serviço, se eu não estou irritado, se eu não estou bravo, se eu não estou insatisfeito. Então, é um momento de reflexão pessoal também”, explica Romeu.

“O que a gente observa é que o bem estar da galinha depende muito do estado de espírito da gente, porque o criador, a pessoa que vai estar lidando com o animal, é fundamental. Ele é quem determina realmente o bem estar da galinha”, aposta o veterinário.

A trabalhadora rural Rosilene de Jesus Aparecido afirma que para lidar com galinhas felizes as pessoas também têm que estar felizes: “senão elas sentem. Então, a gente tem que deixar o problema para lá e entrar feliz aqui dentro”.

Ela se dedica ao trabalho com o maior prazer. Já descobriu que todo o cuidado com o que vai parar no prato das pessoas faz diferença. Já fez para ela. “Antigamente eu tinha problema de intestino. Comecei a comer verduras e legumes orgânicos e melhorou bastante. É uma coisa que eu vinha sofrendo há bastante tempo”, revela Rosilene.

Referências

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