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A Cidade e (é) o Palco

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Academic year: 2022

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A Cidade e (é) o Palco

HIGOR ROMILDO VALENTINI

SÃO PAULO 2022

Trabalho Final de Graduação apresentado à faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu como requisito para validação/aprovação na Unidade Curricular de Trabalho de Graduação: Abordagens.

Orientação: Prof. Me. Danilo Firbida de Paula Croqui à mão livre do objeto de intervenção. Elaborado pelo autor, abr 2022.

(3)

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por ter me dado força e coragem durante toda esta caminhada.

À minha mãe Rose, pelo amor e ensinamentos e por depositar toda confiança em mim e não medir esforços para que eu pudesse ter a oportunidade de estudar, como ela nunca teve.

Ao meu pai Ilidio, que mesmo não estando mais presente fisicamente aqui, cuida de mim do céu. Ele com quem eu ia

“viver a cidade” de São Paulo, sem mesmo conhecer esse termo, a quem espero encher de orgulho.

À minha querida tia Marli, por todo o incentivo, amor e confiança em mim.

Ela quem me levou pela primeira vez ao Teatro Renault (na época ainda Teatro Abril) para assistir ao musical A Bela e Fera sem saber que aquilo mudaria minha vida para sempre.

À Mariana e Alexandre, por toda compreensão e apoio que me dão.

Além da paciência em trilhar comigo nessa primeira etapa da minha carreira profissional.

Aos meus amigos, que tiveram paciência comigo durante todos esses anos, principalmente nos finais de semestre e, em especial, à Tainara, à Thais (minha pessoa) e Lucas, com quem eu dividia todas as minhas angústias e me faziam acreditar em mim mesmo

#continueanadar.

A todos os professores, em especial ao Danilo, meu orientador, André Luiz, Mara Machado, Hebe Olga, Nereide Mosolino, pelos ensinamentos e trocas que, mesmo durante o período mais terrível que vivemos durante a formação acadêmica, a pandemia da Covid-19, mantiveram a determinação em ensinar.

E, por fim, a todos que de alguma forma contribuíram nesse processo.

Afinal, foram noites viradas, horas na faculdade fazendo maquete, levan- tamentos de campo, experiências as quais não vivi sozinho e guardo todos comigo, no meu coração.

(4)

The present work aims to establish a dialogue between the preexistence and the new, in one of the so-called urban scars of the city, the former Cine Piratininga. Through the promotion and dissemination of one of the genres that have been growing exponentially in the cultural scene in São Paulo, the Musical Theater, the project will respond to their demands and intervene in a transforming way in the situation of conflicts of interest,

underutilization, and abandonment in the court of the intervention site. In order to do so, the theoretical references that support the project proposal were listed, as well as the surveys regarding the constraints that resulted in the choice of such an area so that, with this, a new architecture provides a new stage for the city, in the sense literal word, but also a stage for new relationships of conviviality between people in a new open space for the region.

O presente trabalho tem como objetivo estabelecer um diálogo entre a preexistência e o novo, em uma das chamadas“cicatrizes urbanas”da cidade, o antigo Cine Piratininga. Através do fomento e difusão de um dos gêneros que vem crescendo exponencialmente na cena cultural paulistana, o Teatro Musical, o projeto vai responder às suas demandas e intervir de maneira transformadora na situação de conflitos de interesses, subutilização e abandono na quadra do

local de intervenção. Para tanto, elencou- se os referenciais teóricos que embasam a proposição projetual, assim como os levantamentos a respeito das condi- cionantes que resultaram na escolha de tal área para que com isso, uma nova arquitetura promova um novo palco para a cidade, no sentido literal da palavra, como também um palco de novas relações de convívio entre as pessoas em um novo espaço livre para a região.

Palavras Chaves: Preexistência, Reabilitação, Arquitetura, Teatro Musical Keywords: Preexistence, Rehabilitation, Architecture, Musical Theater

Resumo Abstract

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Figura 01 - Piso original no saguão do antigo Cine Piratinga que vem resistindo ao descaso...11 Figura 02 - Situação atual do saguão do antigo Cine Piratinga ...14 Figura 03 - Casarão Joaquim Franco de Melo, no nobre endereço da Av. Paulista que, atualmente encontra-se vazio...19 Figura 04 - Imóveis notificados por não cumprirem sua função social em São Paulo... ... ... ... ... ... ... .... . ...22 Figura 05 – Valor venal do m² do solo urbano em São Paulo ...22 Figura 06 - Detalhe interno da Pinacoteca do Estado de São Paulo...26 Figura 07 - Cena do musical “A Bela e a Fera”no Teatro Abril ... ... ...28 Figura 08 - Bibi Ferreira em “Minha QueridaLady”...29 Figura 09 - Espacialização dos teatros de grande porte e escolas especializadas no gênero em São Paulo...32 Figura 10 - Mapa dos distritos de São Paulo...38 Figura 11 - Estrada da Penha em 1862, atual Av. Rangel Pestana (logradouro do Cine Piratininga)...39 Figura 12 - Linha do tempo do bairro do Brás...40 Figura 13 - Sinalização pública do Largo do Brás...41

Figura 14 - Levantamento das antigas salas de cinema e teatro do Brás no tecido urbano atual...42 Figura 15 - Cine Piratininga...43 Figura 16 - Divulgação da inauguração do Cine Piratininga, em 1943...44 Figura 17 - Mapa histórico da cidade de São Paulo de 1890...45 Figura 18 - Mapa Sara Brasil da cidade de São Paulo de 1930...45 Figura 19 - Foto aérea com a quadra do Cine Piratininga em vermelho, 1958 ...46 Figura 20 - Foto de satélite com a quadra do Cine Piratininga e tracejado da possível rua...46 Figura 21 - Diagrama da situação original do edifício...47 Figura 22 - Perspectiva de Rino Levi para o foyer do Cine Piratininga...48 Figura 23 - Planta Original - Pavimento Térreo...49 Figura 24 - Planta Original - Primeiro Pavimento...49 Figura 25 - Planta Original – Pav. Tipo Comercial (3º e 4º pav.)...50 Figura 26 - Planta Original – Pav. Tipo – Residencial (5ª ao 14º pav.)...50 Figura 27 – Anúncio no jornal “Folha da Manhã”,em 1943...51

Figura 28 – Cobertura em madeira em construção entre 1941-1942...51 Figura 29 –Fachada do Cine Piratininga na época da inauguração, na década de 1960...51 Figura 30 – Bilheteria no foyer do Cinema...51 Figura 31–Plateia sendo utilizada como estacionamento, na década de 1970 52 Figura 32 – Fachada com tapumes e letreiro ainda preservado após a desativação, anos 70... ...52 Figura 33–Placa de Estacionamento na fachada do Cine Piratininga, anos 00 52 Figura 34 – Detalhe para “PIRATIN A”

após queda de uma das letras do letreiro ... ...52 Figuras 35 a 37 - Situação da fachada atual...55 Figuras 38 a 40 - Acesso Lateral pela Rua Martin Burchard...56 Figuras 41 a 45 - Área comercial atualmente desativada...57 Figuras 46 a 48 - Entrada do cinema e antiga Bilheteria...58 Figuras 49 a 51 - Espaço do antigo foyer, bar e banheiro masculino...50 Figuras 52 a 56 - Foyer superior e escadas que acessam ao balcão...60 Figuras 57 a 61 - Espaço do antigo foyer, bar e banheiro masculino... ...61 Figuras 62 a 66 - Balcão e frisas...62 Figuras 67 a 69 - Espaço do antigo foyer, bar e banheiro masculino...63

Figuras 70 a 72 - Balcão e frisas. 64 Figura 73 - Primeiro croqui de estudo da área... ...66 Figura 74 - Antiga fábrica da COPAG que encontra-se abandonada...69 Figura 75 – Lote sendo utilizado como estacionamento... ...69 Figura 76–Residências térreas que terão seus lotes englobados à área... .69 Figura 77 – Edificação abandonada vizinha ao acesso lateral do antigo Cine Piratininga... ...69 Figura 78–Lotes a remembrar... ....70 Figuras 79 a 81 - Situação da calçada no acesso pela Av. Rangel Pestana 71 Figuras 82 a 84 - Situação da calçada no acesso pela Av. Rangel Pestana ...72 Figuras 85 a 87 - Situação da calçada no acesso pela Av. Rangel Pestana...73 Figuras 88 a 90 - Acesso lateral ... ....74 Figuras 91 a 93 - Interior da Rua Maurício Salomão Nahas ... ...75 Figuras 94 a 96 - Entrada da pequena Rua Maurício S. Nahas e calçada da quadra na Rua Piratininga 76 Figuras 97 a 99 - Situação da antiga

fábrica da COPAG 77

Figuras 100 a 102 - Esquina entre as rua Piratininga e Av. Rangel Pestana e Paróquia Bom Jesus do Brás 78 Figura 103 -Skylineda região 81 Figura 104: Área da Operação Urbana Centro... ..89

Lista de Figuras

(6)

Tabela 01 - Relação de imóveis ociosos ou subutilizados notificados por

subprefeitura 21

Tabela 02 - Relação dos lotes a serem remembrados e formar a área de

intervenção 69

Tabela 03 - Índices urbanísticos da Zona

de Centralidade 89

Tabela 04 - Distribuição do programa do edifício elencado por pavimento 110 Tabela 05 – Índices urbanísticos referenciais e atingidos no projeto 156 Figura 105 - Área de intervenção no

contexto do entorno 90

Figura 106 - Praça Josie Robertson com os prédios que compõem o Complexo 95 Figura 107 - Implantação do Lincoln

Center na quadra 96

Figura 108 - Fachada do Teatro Renault e

bilheteria 97

Figura 109 - Planta do pavimento térreo e Corte transversal do atual Teatro Renault 98 Figura 110 a 112 - Foyer do atual Teatro

Renault 99

Figura 113 a 116 – Foyer do atual Teatro

Renault 100

Figura 117 - Teatro Erotídes de Campos 101 Figura 118 – Concreto aparente e vidro

dominam a fachada 102

Figura 119 – Sesc Pompeia 103 Figura 120 – Planta esquemática do Sesc

Pompeia 104

Figura 121 - Croqui preliminar inspirado

na referência 104

Figura 122 - Sala de espetáculos do antigo Cine Piratininga vista do balcão 105 Figura 123 - Malha estrutural do Cine

Piratininga 106

Figura 124 - Fachada da SP Escola de

Teatro, unidade Brás 108

Figura 125–Croqui sobre a setorização da

escola 108

Figura 126 - Planta do pavimento térreo com a intervenção do escritório Faccio

Arquitetura 109

Figura 127 - Corte Esquemático transversal do edifício 109 ... ...109109

Figura 128 - Croqui a mão realizado na

visita 110

Figura 129 – Sala de aula de Teatro, piso com linóleo e janelas com cortinas blackout

111

Figura 130–Acervo de Figurinos 111 Figura 131 – Biblioteca com mesas e notebooks disponíveis para acesso 111 Figura 132–Ateliê de marcenaria 112 Figura 133–Ateliê geral 112 Figura 134 – Auditório, visto do fundo da

plateia 112

Figura 135 - Entrada da Praça das Artes pela Rua Conselheiro Crispiniano 114 Figura 136 - Inserção da Praça das Artes

no contexto urbano 114

Figura 137 - Croqui da implantação na

quadra 115

Figura 138 - Diagrama dos Usos nos

volumes 115

Figura 139 - Croqui à mão realizado na

visita 116

Figura 140–Acesso pela Rua Conselheiro

Crispiniano 117

Figura 141–Vista de dentro do lote para a

Avenida São João 117

Figura 142–Fachada na Avenida São João 117

Figura 143–Sala de aula com destaque para as aberturas ao fundo 118 Figura 144 – Centro de Documentação 118 Figura 145 – Sala de Concertos do

Conservatório 118

Figura 146–Plano de massas preliminar 124 Figura 147 – Croqui do primeiro estudo

preliminar 125

Figura 148 – Perspectiva do primeiro

estudo preliminar 125

Figura 149 – Perspectiva do segundo

estudo preliminar 126

Figura 150 – Croqui da implantação do segundo estudo preliminar 126

Figura 151 – Croqui da proposta 127 Figura 152 e 153 – Croqui da proposta

final 128

Figura 154 a 159 – Perspectivas desenvolvidas no TFG1 131 Figura 160 – Perspectiva 3D do estudo

preliminar 132

Figura 161 - Proposta inserida no

contexto urbano 136

Figura 162 – Estudo a mão livre sobre intervenções no Cine Piratininga 164 Figura 163 – Corte diagramático com

setorização 172

Figura 164 – Pilares “resistentes” do antigo Cine Piratininga 181

Lista de Gráficos

Gráfico 01 - Impacto econômico total do Teatro Musical em São Paulo entre produtores e espectadores 30 Gráfico 02 - Segmentos abrangidos no impacto econômico do Teatro Musical em São Paulo entre espectadores 31

Gráfico 03 - Segmentos abrangidos no impacto econômico do Teatro Musical em São Paulo entre produtoras 31

Lista de Tabelas

(7)

Agradecimentos ... ... 04

Lista de Figuras ... ... 07

Lista de Tabela e Gráficos ... ... 10

Prólogo – Introdução ... .... 13

Ato I – Referencial Teórico ... ... 16

1.1. Cicatrizes urbanas e vazios especulativos no centro paulistano ...18

1.2. Reabilitação de edifícios sob a perspectiva do Restauro e do Retrofit...24

1.3. Teatro Musical: em paralelo, um gênero em ascensão ...28

1.4. A cidade e (é) o palco ...34

Ato II – O território ... ... . 36

2.1. Território e Identidade ...38

2.1.1. Breve histórico do bairro do Brás ...39

2.1.2. As antigas salas de cinema e a cultura na região ...41

2.2. O antigo Cine Piratininga ...44

2.2.1. A escala da quadra...44

2.2.2. O projeto original, de Rino Levi ...48

2.2.3. Situação atual ...54

2.3. A área de intervenção ...66

2.3.1. Análise do lugar ...71

2.3.2. Legislação ...89

Entreato – Obras análogas ... ... 92

- Referências projetuais ...95

- Visitas técnicas ...107

Ato III – Estudo Preliminar ... ... ... .... 120

3.1. Estudo Preliminar .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... 122

3.1.1. Diretrizes e estratégias projetuais .... ... ... ... ... ... ... ... 123

3.1.2. Desenvolvimento do partido... ... ... ... ... ... ... ... 125

3.1.3. Resumo: partido & conceitos .... ... ... ... ... ... ... ... 130

3.1.4. Projeto Preliminar (TFG 1) ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... .. 131

Ato IV – Anteprojeto de Arquitetura ... ... ... .... 134

4.1. Anteprojeto de Arquitetura... ... ... ... ... ... ... .... ... 136

4.1.1 Programa de Necessidades .... ... ... ... ... ... ... ... .. 137

4.1.2. Peças gráficas 139

4.1.3. Perspectivas 3D 175

Epílogo – Considerações Finais ... ... .... 182

Referências ... ... .. 184

Sumário

Figura 01: Piso original no saguão do antigo Cine Piratinga que vem resistindo ao descaso.

Foto: acervo do autor, mar 2022.

(8)

Figura 02: Situação atual do saguão do antigoCine Piratinga. Foto: Acervo do autor, abr2022.

Prólogo

Dada a abrangência e comple- xidade se tratando das inúmeras razões as quais levam propriedades a não cumprirem sua função social na cidade de São Paulo, frente às obrigações tributárias, muitas vezes a alternativa para mitigar prejuízos é utilizar o lote como estacionamento. O presente Trabalho Final de Graduação tem como objeto de estudo uma edificação preexistente, subutilizada e em precário estado de conservação (DAL MASO, 2017, p. 11), porém que é repleto de potencial urbanístico e valor cultural: o antigo Cine Piratininga, localizado no distrito do Brás.

Concomitante a isso, nos últimos vinte anos o gênero do Teatro Musical vem ascendendo de forma exponencial na capital paulista, de modo a aumentar a necessidade por espaços que comportem e atendam seus espetáculos e espectadores. Na cena cultural, segundo Adorno (2013, s.p.), chega-se a apontar o Brasil como o terceiro maior produtor de musicais no mundo, embora seja uma arte ainda considerada por muitos como

“de elite” (ESTEVES, 2014, p. 74), tanto

para o corpo artístico quanto para o público em geral.

Com o objetivo de promover a difusão do gênero acima citado em São Paulo e contribuir com o caso das construções que não cumprem sua função social na cidade, a proposição deste trabalho parte da reabilitação somado ao resgate histórico do antigo Cine Piratininga e de um plano de intervenções para a quadra à qual o mesmo está inserido, com a implantação de um projeto de um Centro Artístico de referência para o Teatro Musical que abrange desde uma nova sala de espetáculos para o ramo, como espaços para ensaios e preservação da memória e fomento da arte dos musicais.

Aproximando de um texto teatral, os capítulos desta pesquisa se dão por Atos, partindo de um Prólogo onde são evidenciadas as motivações e encerrando com um Epílogo, sugerindo as considerações finais a respeito da proposta.

(9)

Ato I

(10)

No urbanismo, de modo geral, o crescimento e desenvolvimento das cidades apontam as constantes mudanças das atividades regionais de uma população e de seu modo de vida, vinculados com a integração e consequente influência de seu entorno, do meio ambiente e de todas as relações de forças que compõe um território (SOUZA, 2019, p. 135).

Essas mudanças geram vazios que passam a receber novos usos de interesse especulativo, quando não são alvos do abandono e deterioração gradativa, cujo autores Soukef Jr., Busnardo-Filho e Degreas (2019, p. 157) batizam de cicatrizes urbanas, marcas na paisagem construída, onde as memórias são deixadas de lado ou, dependendo do valor do terreno, demolidas de forma irreversível.

As propriedades que se enqua- dram nesse contexto, em suma, são pertencentes a um território potencial de transformação devido suas implantações em regiões privilegiadas na cidade. Este fato instiga inquietações acerca de como

o desenvolvimento do espaço urbano no tempo pode também levar à degradação do mesmo.

Com o antigo Cine Piratininga, na região do Brás, não acontece diferente, assim como o centro de São Paulo.

Durante os três primeiros séculos de sua fundação, o tecido urbano se resumia ao triângulo histórico e suas adjacências, até que no século XIX a cidade e, consequentemente, o centro, começaram a desenvolver-se. (NOBRE, 2019, p.

219). Importante ressaltar que, com isso, a segregação espacial também ganha força no processo de produção da cidade (VILLAÇA, 1997).

A partir da década de 1920, São Paulo se consolida como cidade industrial e o centro começa a verticalizar-se e a possuir uma predominância do uso comercial em suas edificações, mas é somente mais tarde que, como nas palavras de Villaça, “progressivamente abandonado pelas camadas de alta renda desde a década de 1960”(VILLAÇA, 1997, p. 282) os centros tradicionais começam a deteriorar.

1.1. Cicatrizes urbanas e vazios especulativos no centro paulistano

“As cicatrizes contam histórias. São marcas deixadas na pele muitas vezes por consequência de algum acidente [...]. Algumas vezes, procuram-se por cirurgias para corrigi-las. Outras vezes, por

carregarem histórias de superação, são assumidas em sua natureza, como motivo de orgulho e força. Ou ainda assumem-nas, mas na

ressignificação como tatuagens. No contexto urbano, essa história se repete. As cidades também

carregam cicatrizes geradas por estruturas que contam histórias e que muitas vezes trazem um impacto.”

(11)

No final dos anos 60 e início da década de 70, coincidindo com o considerável desenvolvimento econômico e fortes investimentos por parte do poder público em infraestrutura urbana (como a inauguração do metrô, marginais, pontes e viadutos), o surgimento de novas centralidades no quadrante sudoeste começa a disputar com a, até então região central, os recursos imobiliários. E é a partir daí que começam a surgir as cicatrizes na cidade, com o esvaziamento do agora“centro velho”.

A evolução das cidades é um fenômeno que não pode ser impedido e faz parte da formação de uma sociedade a sua memória. Por isso a preocupação e o

dever do Estado em se preservar os patrimônios de interesse histórico, artístico e cultural acontece desde 1937 com a criação da legislação que vai regulamentar a proteção dos mesmos, o Decreto-Lei nº 25.

Devido as restrições de inter- venção no imóvel que o tombamento implica e a falta de recursos financeiros ou instrucionais, diversos imóveis encontram-se abandonados espalhados pela cidade, alguns até em áreas nobres, como pode-se ver na Figura 03, reiterando o conceito das cicatrizes apresentado por Soukef Jr., Busnardo-Filho e Degreas.

Qualquer que seja a razão que

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou

inadequados em

¹ Neste texto, a região central é constituída pelos distritos Sé e República, embora os distritos Bela Vista, Liberdade, Consolação, Bom Retiro, Santa Cecília, Pari e Brás.

levou a propriedade a sua não ocupação, dada às obrigações legais, os proprietários veem como alternativa de mitigar prejuízos, utilizar o lote como estacionamento.

É com a lei federal n.º 10.257 de 2001, mais comumente conhecida como Estatuto da Cidade, que o Estado vai regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988 que discorrem sobre a política de desenvolvimento urbano e sobre a função social da propriedade.

O cumprimento desta função está previsto desde a Constituição de 1934, porém só com o Estatuto da Cidade em 2001, quando caracterizou no artigo 2º do Capítulo I quais as diretrizes para que ocorra o pleno desenvolvimento da mesma, é que de fato se obteve os parâmetros legais estabelecidos para que uma propriedade realize a função social.

O Art. 2º, inciso VI, determina quais as características das propriedades urbanas que não estão se enquadram nos critérios de função social, sendo eles:

relação à infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental (BRASIL, 2001).

Nesse contexto, o antigo Cine Piratininga se enquadra como cicatriz urbana em meio à uma região central¹ da cidade, pois desde que seu uso como equipamento cultural deixa de ser ativo na década de 1970, conforme será abordado no capítulo 02, um esta- cionamento de escala surpreendente tomou conta do espaço.

Outro fato que percola concomitante a esse cenário, é o déficit habitacional na cidade de São Paulo.

Apesar de não ser o foco principal deste trabalho, é uma realidade que encontra nesses prédios vazios, uma oportunidade de moradia para quem não tem em meio ao caos urbano.

A cidade é palco das relações interpessoais do cotidiano, cujo ideia embasará a proposição projetual do capítulo 04, e garantir o adequado interesse da propriedade é dever do arquiteto urbanista.

Figura 03: Casarão Joaquim Franco de Melo, no nobre

endereço da Av. Paulista que, atual- mente encontra- se vazio.

Foto:

Tiago Queiroz, 2020.

(12)

Figura 04 e 05 Espacialização dos imóveis ociosos ou subutilizados notificados em São Paulo X Valor venal médio (R$/m²) por quadra fiscal

Como o objeto de estudo, o antigo Cine Piratininga, não possui seu valor histórico e cultural reconhecido por nenhum órgão de preservação, não se deve associar seu estado de conservação atual com a falta de incentivos para manutenção do mesmo, mas como uma propriedade privada de grande relevância na memória do bairro e da cidade que vem tentando resistir à passagem do tempo com um programa de caráter

especulativo em uma localização privilegiada na cidade.

Essa cicatriz urbana que, com o passar dos anos se agrava cada vez mais devido à falta de manutenção, não cumpre sua função social para a cidade e valida a relevância e necessidade de um projeto de intervenção para a mesma que traga benefícios para todo o entorno, o meio ambiente e para a comunidade que frequenta a região.

A Secretaria Municipal de Desen- volvimento Urbano (SMDU), por intermédio da Coordenadoria de Controle da Função Social da Propriedade (CEPEUC) notifica os imóveis que não se enquadram nos critérios apresentados anteriormente e, de acordo com o relatório realizado pela mesma, até o dia 14 de março de 2022, um total de 1762 imóveis foram notificados por não cumprirem sua função social.

A figura 04 e a Tabela 01 a seguir apresentam a espacialização de tais imóveis no mapa da capital, sendo possível observar sua grande concentração nos distritos centrais e somando ao mapa da Figura 05, que representa o valor do metro quadrado (m²) do solo urbano em São Paulo, constata-se que, ao mesmo tempo, também são os distritos mais valorizados no âmbito do mercado imobiliário.

Tabela 01: Relação de imóveis ociosos ou subutilizados em São Paulo notificados pela CEPEUC por subprefeitura

Tabela 01: Relação de imóveis ociosos ou subutilizados notificados por subprefeitura. Elaborado pelo autor a partir dos dados disponíveis na SMDU, março de 2022.

Figura 04: (esquerda) Elaborado pelo autor com base nos dados disponíveis na plataforma GeoSampa, 2022.

Figura 05: (direita) Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, 2005.

Sigla Subprefeitura Nº de imóveis notificados

SPBT Butantã 14

SPCL Campo Limpo 14

SPCV Casa Verde / Cachoeirinha 5

SPAD Cidade Ademar 7

SPEM Ermelino Matarazzo 18

SPFO Freguesia do Ó / Brasilândia 5

SPG Guaianazes 5

SPIP Ipiranga 197

SPIQ Itaquera 3

SPJA Jabaquara 4

SPJT Jaçanã / Tremembé 1

SPLA Lapa 92

SPMO Mooca 279

SPPE Penha 6

SPPI Pinheiros 3

SPPJ Pirituba / Jaraguá 16

SPST Santana / Tucuruvi 6

SPSA Santo Amaro 13

SPSM São Matheus 18

SPSP Sapopemba 1

SPSE Sé 1037

SPMG Vila Maria / Vila Guilherme 4

SPVM Vila Mariana 2

SPVP Vila Prudente 12

TOTAL 1762

até 55,00 de 55,01 a 215,00 de 215,01 a 485,00 de 485,01 a 800,00 de 800,01 a 1.200,00 de 1.200,00 a mais

0 5 10km 0 5 10km

Imóvel notificado

(13)

A partir dos dados apresentados no item anterior a respeito das condicionantes e potencialidades das chamadas cicatrizes urbanas, as intervenções em edifícios preexistentes trazem consigo termos como restauro, reforma, retrofit, requalificação e reabilitação que, aparentemente sinônimos, necessitam alguns esclare- cimentos sobre suas aplicações.

Todas essas perspectivas pressupõem projeto, ou seja, todas estão ligadas à prática arquitetônica uma vez que demandam uma abordagem ligada ao pensamento do desenho para intervenção (DAUDÉN, 2020, s.p.).

Restauro é uma disciplina no campo da Arquitetura, que discute a preservação do patrimônio cultural, enquanto as demais palavras são usadas essencialmente como variações para "reforma".

A definição do termo retrofit pode ser considerada como um conceito mais recente advindo da modernização das edificações deterioradas visando sua reinserção às dinâmicas urbanas (ALVES, 2019, p. 33). Sendo assim, seu projeto é

acerca da valorização através da atualização tecnológica e manutenção de algumas características estéticas das edificações, prolongando sua vida útil, conforto e funcionalidade através até da incorporação de novos usos e trazendo benfeitorias para o espaço público. (VALE, 2006, p. 10).

O valor cultural atribuído e reconhecido pelos órgãos de preservação é o que diferencia as demais termino- logias do"restauro“. Daudén ainda reitera que o objetivo de uma intervenção de restauração em geral está relacionada à preservação desse valor, e a forma como isso ocorre varia caso a caso, sempre lançadas ao campo do debate crítico, como a definição de um projeto por analogia ou contraste.

A figura 06 apresenta um detalhe da intervenção no prédio da Pinacoteca do Estado de São Paulo que foi reabilitado para receber o uso de museu. Através do contraste entre o novo e a preexistência é perceptível que o pergolado não pertence ao mesmo período histórico da edificação que lhe atribui seu valor cultural.

1.2. A Reabilitação de edifícios sob a perspectiva do Restauro e Retrofit

“A degradação e o envelhecimento de edificações em centros

históricos urbanos, são objetos de discussões principalmente no âmbito das reabilitações e

revitalizações [...]. A partir disso, dois conceitos conduzem esse

debate: Restauro e o Retrofit, ambos com o mesmo objetivo: recuperar edifícios degradados ou

abandonados, porém com algumas diferenças entre si.”

(14)

A Carta de Lisboa (1995) vem tratar tanto sobre a intervenção no edificado, quanto no tecido social urbano, na intenção de habitá-lo e define o conceito de reabilitação do edifício como obras que visam a recuperação e a reintegração física de uma construção, uma vez resolvidas todas as anomalias construtivas, funcionais, de higiene e de segurança acumuladas ao longo dos anos, procurando uma modernização para melhorar o desempenho das suas funções, aproximando-se dos atuais níveis de exigência, reorganizando espaços interiores, mantendo o esquema estrutural e o aspecto exterior original.

Tal processo, fundamentado pela Carta de Lisboa, torna-se apropriado à aplicação no antigo Cine Piratininga, por se enquadrar como um vazio urbano que está sendo usado de acordo com interesses especulativos do proprietário, como um estacionamento e uma

intervenção projetual arquitetônica dará uma nova utilidade ao edifício, aproveitando a infraestrutura que a região já possui, pois vale ressaltar que ao reabilitar um edifício não se pode ter como foco apenas sua mudança, mas também a requalificação do entorno a qual o mesmo está inserido (ZMITROWICZ e BOMFIM, 2007, p.10).

e) Reabilitação de um edifício:

obras que tem por finalidade a recuperação e beneficiação de uma construção, resolvendo as anomalias construtivas, funcionais, higiênicas e de segurança acumuladas ao longo dos anos, procedendo a uma modernização que melhore o seu

desempenho até

próximo dos atuais níveis de exigência (CARTA DE LISBOA, 1995).

Figura 06: Detalhe interno da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foto: Nelson Kon, 2015.

(15)

Em paralelo ao caso apresentado das cicatrizes urbanas no centro da cidade de São Paulo, nos últimos anos vem crescendo exponencialmente uma indústria da cultura que relaciona a harmonia entre o movimento dos corpos na dança, com a atuação na intenção de representar uma história a qual está sendo contada e quando as palavras já não se fazem mais suficientes, a música vem preencher os silêncios, compondo assim, o Teatro Musical.

1.3. Teatro Musical: em paralelo, um gênero em ascensão

O gênero está cada vez mais presente nos palcos brasileiros, sendo o Brasil o terceiro maior produtor mundial de teatro musical, ficando atrás dos Estados Unidos (Broadway) e Inglaterra (West End), os maiores produtores e criadores do gênero (ADORNO, 2013, s.p.).

A montagem de Rent, em 1999, aponta o início do que seria o ressurgimento do Teatro Musical em São Paulo, mas é com a estreia de Les Misérables, seguido de A Bela e a Fera (Figura 07)

“Entram as alegorias da expressão cultural e do povo paulista. Em seguida, entram os outros

personagens. Todos cantam para fazer conhecer a história e utilizá-la a nosso favor. Passado e presente misturam-se: há novas tecnologias estruturas antigas mostradas no mesmo cenário.”

No espetáculo musical vê-se o homem em estado de liberdade, em estado de independência. Vemos o homem que está em cena dançando, cantando e entregue à uma energia vital absoluta, como não encontramos em um homem em seu dia-a-dia na rua, preso as aparências do cotidiano.(BERGAMO, 2014, p. 09)

Figura 07: Cena do musical “A Bela e a Fera” no Teatro Abril. Foto: autor

desconhecido, 2002.

(16)

Investir no Teatro Musical atualmente gera um impacto relevante para a economia e isso sem contar a influência que a cultura provoca na formação do indivíduo enquanto ser

humano. O mercado atrai pessoas de outras cidades e estados que se deslocam até São Paulo para prestigiar as montagens ou se mudam definitivamente para investir e se especializar como artista do gênero. Com base nessa realidade, a Sociedade Brasileira de Teatro Musical (SBTM) no ano de 2018, realizou junto com a Fundação Getúlio Vargas uma pesquisa (gráfico 01) traçando um panorama completo da força significativa dos musicais, incluindo o impacto total na economia, o retorno sobre investimento via leis de incentivo à cultura, a criação de empregos diretos e indiretos e a geração e arrecadação de impostos.

reinaugurando o antigo Cine-Theatro Paramount (que seria rebatizado de Abril e, atualmente, chamado de Renault), que o Teatro Musical começa definitivamente a ganhar força.

Embora ainda não muito difundido, o gênero há muito faz parte da cultura brasileira. Adorno (2013, s.p.) faz um breve recorte temporário evidenciando que já no século XIX, o teatro de revista influenciaria o futuro teatro musical pois utilizava de ações curtas e sátiras para criticar os costumes da época, atingindo o grande público e tinha como principal característica a intercalação de números musicais entre os esquetes.

O formato de musical moldado nos padrões Broadway como se têm conhecimento atualmente, chega ao Brasil na década de 1960, com a montagem de Minha Querida Lady (My Fair Lady), protagonizada por Bibi Ferreira (Figura 08). Ainda nesse período, durante a ditadura militar, musicais com temas no interesse nacional dominam as temporadas, como “Roda-Viva” (1968),

“Arena Conta Zumbi” (1965), “Gota D’Água” (1975), e “Ópera do Malandro”

(1978).

Na década de 1980, de acordo com a historiadora e crítica teatral Tânia Brandão (2010, p. 30), o cenário começa a mudar vertiginosamente, a favor da recuperação e novas tentativas de importações de musicais da Broadway, como “A Chorus Line” (1983), “Evita”

(1983) e“Cabaret”(1989).

Adorno (2013, s.p.) também reitera que o principal motivo pelo qual o gênero não se consolidou no país até o início dos anos 2000 foi a falta de investimentos, de leis de incentivo, de teatros com estrutura adequada e de elencos preparados para interpretar, cantar e dançar ao mesmo tempo, sendo este cenário a problemática potencial do objetivo deste trabalho que responderá com arquitetura a essas necessidades, no capítulo 04.

Figura 08:

Bibi Ferreira em “Minha Querida Lady”.

Foto: Carlos Rio, 1963.

O mercado está crescendo significativamente ano a ano. O público aceitou o formato, que está bem adaptado para nossa língua. O que precisamos é de uma melhora dos teatros. Uma produção de alto custo como Shrek precisa de uma estrutura que dê conta do volume. Há também uma maior oferta de mão de obra artística. Precisamos de mais gente. Estamos trabalhando para desenvolver mais o setor de musicais e espetáculos. Uma de nossas ideias é sermos produtores e exportadores. (AFFONSECA, João. O melhor anos dos musicais. Meio e Mensagem, 2012, s.p.).

Gráfico 01: Impacto econômico total do Teatro Musical em São Paulo entre produtores e espectadores

Produtores 19,4%

R$ 196 milhões

Direto: R$ 122 milhões Indireto: R$ 74 milhões

Espectadores 80,6%

R$ 813 milhões

Direto: R$ 511 milhões Indireto: R$ 302 milhões

TOTAL= R$ 1,01 BILHÃO

80,6%

19,4%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa sobre o Impacto Econômico do Teatro Musical pela Fundação Getúlio Vargas e Sociedade Brasileira de Teatro Musical no ano de 2018.

(17)

Teatros

Quando as cortinas se abrem, muitas vidas entram em cena. Ainda sobre o total de 1,01 bilhão de reais que o Teatro Musical movimenta, a pesquisa categorizou entre espectadores e produtoras as destinações do capital abrangido nesse número (gráficos 02 e 03), corroborando com a tese de que esta indústria é rentável e sua estimulação é

promissora. Afinal, em números, foram gerados 12.824 empregos, 200.000 ingressos doados, R$131,3 milhões contribuídos em tributos de forma que a cada R$1,00 investido através de dinheiro público pelas leis de incentivo, R$1,92 retornou aos cofres através de impostos e 1.091.673 espectadores foram encantados por essa arte, segundo a pesquisa.

Gráfico 02: Segmentos abrangidos no impacto econômico do Teatro Musical em São Paulo entre espectadores

Outros

Alimentação R$ 277,9 34%

milhões

Hospedagem 16%

R$ 132,5 milhões

Compras 14%

R$ 116,4 milhões

Passeios e Atrações

13%

R$ 102,8 milhões

Transporte Local

13%

R$ 102,8 milhões

Outros R$ 98,012%

milhões

Corpo Artístico e Criativo

33%

R$ 64,7 milhões

Tributos e Direitos Autorais

18,5%

R$ 36,3 milhões

Administração de Espaços

13,4%

R$ 26,3 milhões

Gestão e Marketing

22,7%

R$ 44,5 milhões

Formação e Prestação

Técnica R$ 13,77%

milhões

Logística e Estrutura

5,4%

R$ 10,5 milhões

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa sobre o Impacto Econômico do Teatro Musical pela Fundação Getúlio Vargas e Sociedade Brasileira de Teatro Musical no ano de 2018.

Gráfico 03: Segmentos abrangidos no impacto econômico do Teatro Musical em São Paulo entre produtoras

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa sobre o Impacto Econômico do Teatro Musical pela Fundação Getúlio Vargas e Sociedade Brasileira de Teatro Musical no ano de 2018.

Ainda sobre esta pesquisa, do total de espectadores entrevistados, 16,1% eram brasileiros não residentes na cidade do evento; 24,2% eram excursionistas (não dormem na cidade do evento) e 58,7%

eram brasileiros residentes na cidade do evento. Dos não residentes da cidade, 88,4% manifestam interesse de voltar a São Paulo para assistir a outro musical.

Se antes as produções ficavam restritas aos poucos espaços que comportavam o gênero, atualmente a quantidade de teatros que são adequados e atendem às produções em São Paulo e

pelo número, ainda pequeno se tratando da escala da cidade, de escolas especializadas no gênero, mostram que o mercado está sendo consolidado conforme a Figura 09.

Para tal foram considerados apenas os “teatros Broadway” conforme classificação americana que estabelece que os mesmos são aqueles com capacidade para 500 ou mais pessoas, os

“off-Broadway” possuem entre 100 e 499 lugares, enquanto os de até 99 lugares ficam chamados de“Off-offBroadway”.

Figura 09: Espacialização dos teatros de grande porte e escolas especializadas no gênero em São Paulo

Fonte: Elaborado pelo autor, 2022.

0 5 10km

Escolas especializadas

0 5 10km

(18)

Que a região central da cidade de São Paulo é a mais privilegiada em oferta de infraestrutura já efetiva na malha urbana já se é sabido e que ao mesmo tempo devido a especulação imobiliária, possui inúmeras propriedades que se encontram à mercê do abandono e da deterioração também é um fato. Em meio a isso, um lugar ligado majoritariamente à zona leste, considerado uma cicatriz que vem sobrevivendo como um esta- cionamento há 50 anos, se destaca em meio à paisagem.

Concomitante a isso, a indústria do Teatro Musical se mostra bastante promissora quanto a implementação de seu uso na cidade. Ela gera empregos, educação, inspirações e muitas emoções.

Ela democratiza o acesso à cultura e é o sustento de várias famílias brasileiras, e para que aconteça de fato, são necessários profissionais especializados nas três artes (canto, dança e interpretação), uma infraestrutura que permita a arte criativa se manifestar de maneira física e um espaço que convide a todos a usufruírem de suas instalações.

Sendo assim, elaborar uma proposição projetual e encontrar nas cicatrizes urbanas um espaço para reabilitação, revelou o anseio de tornar a cidade palco, não apenas no sentido urbanístico do termo através da estimulação das relações interpessoais e criativas, mas também no sentido literal como um Centro Artístico de referência para o Teatro Musical em todas as suas necessidades, com uma arquitetura que democratize, difunda e relacione o público específico do gênero e todos os usuários de seu entorno, estabelecendo uma ordem que garante segurança e liberdade na cidade, como a autora Jane Jacobs cita em seu livro“Mortee Vida das Grandes Cidades” e compara essa dinâmica com o movimento da dança, um dos três pilares do Teatro Musical.

1.4. A cidade e (é) o palco

“Sob a aparente desordem da cidade tradicional existe, nos lugares em que ela funciona a contento, uma ordem surpreendente que garante a manutenção da segurança e a

liberdade. [...] Essa ordem compõe- se de movimento e mudança e, embora se trate de vida, não de arte, podemos chamá-la, na fantasia, de forma artística da cidade e

compará-la à dança –não a uma dança mecânica, com os figurantes erguendo a perna ao mesmo tempo, rodopiando em sincronia,

curvando-se juntos, mas a um balé complexo, em que cada indivíduo e os grupos têm todos os papéis distintos, que por milagre se

reforçam mutuamente e compõem um todo ordenado.

(19)

Ato II

(20)

Dentre as inúmeras cicatrizes urbanas presentes em São Paulo, uma delas se destaca devido ao seu valor histórico latente em suas paredes e sua localização estratégica em um bairro da cidade que Dal Maso (2017, p. 16) define como uma “área de transição entre o centro e a zonaleste”,o Brás (Figura 10).

O bairro mantém uma grande quantidade de patrimônios industriais de importante relevância histórica e abrigou

importantes salas de cinema, que serão apresentadas neste capítulo, onde ambos acabaram fechando suas portas com a desindustrialização da cidade.

Uma dessas salas se destaca na paisagem e embora não tenha seu valor cultural reconhecido por nenhum órgão de preservação, vem tentando resistir à passagem do tempo como um estacionamento há mais de 50 anos: o antigo Cine Piratininga.

2.1. Território e identidade

0 5 10km

Figura 10: Mapa dos distritos de São Paulo. Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados disponíveis na plataforma GeoSampa, 2022.

“Mas indiscutivelmente, o centro da zona leste –comercial, industrial e cultural –é o Brás, cujo coração se situa a dois quilômetros, mais ou menos, do centro de São Paulo, com duas radiais –de um lado a

tradicional estrada da Penha, antiga rua do brás, transformada em Av.

Rangel Pestana –Celso Garcia, com seu moderno viaduto Alberto Marinho, de outro, a moderna e ampla Radial Leste, radiais que cortando a região, ligam o Parque Dom Pedro II à Penha, ou melhor, ligam as duas colinas históricas, São Paulo de Piratininga e Nossa Senhora da Penha de França”.

(21)

Andar pelas ruas do Brás nos dias de hoje, consolidado pelos remanescentes das indústrias e o forte comércio, torna difícil acreditar que a região já foi um dos grandes centros de cultura da cidade, principalmente para o cinema (SIMÕES, 1990, p. 22).

No início, segundo Torres (1985, p.

44) a região era conhecida como

“paragemdoBrás”, pois a capela de Bom Jesus dos Matozinhos, fundada por José Brás, servia de parada para os que se dirigiam em direção à freguesia de Nossa Senhora da Penha.

Embora próximo da Sé, o bairro tinha certa independência do centro de São Paulo e Dal Maso (2017, p. 16) o define como “uma transição entre

o centro e a zona leste da cidade”, pois sua localização tinha uma difícil transposição pela várzea do Carmo que alagava a região e barateava o valor dos terrenos.

Somado a isso, com a chegada da linha do trem em 1867, o setor industrial via na região uma boa oportunidade para seu desenvolvimento e com a chegada dos imigrantes que chegavam à São Paulo pela estação do Brás, o bairro começa a crescer e a polarizar a cultura e o comércio que, mais tarde na década de 1970, vai se consolidar.

2.1.1. Breve histórico do bairro do Brás

Desindustrialização da cidade e concentração comercial na região Mudança na paisagem e dinâmica no bairro do Brás.

Década

1970

Sucesso das salas de cinema Em 1943 é inaugurado o Cine Piratininga na Av. Rangel Pestana, considerado o maior cinema do Brasil na época

Inauguração do Teatro Colombo Marca o surgimento de locais para o lazer no Brás.

Inauguração da estação de trem Brás Aumento do número de imigrantes e indústrias devido ao preço baixo dos terrenos alagadiços e à ferrovia.

1803

Fundação da capela de Bom Jesus de Matosinhos

Ponto conhecido como

“Paragem do Brás”

1867

1908

1943

Figura 12: Linha do tempo do bairro do Brás. Elaborado pelo autor, 2022.

Figura 11: Estrada da Penha em 1862, atual Av.

Rangel Pestana (logradouro do Cine Piratininga) Foto: Militão Augusto de Azevedo.

(22)

2 1

3 4

5 6

7 8

1. Cine Piratininga. Av. Rangel Pestana, 1554. Inauguração 1943. 4300 assentos 2. Cine Glória. Rua do Gasômetro, 235. Inauguração 1935. 1375 assentos

3. Cine Brás. Av. Rangel Pestana, 2076. 2400 assentos.

4. Cine Oberdan. Rua Ministro Firmino Whithaker, 63. Inauguração 1927. 1260 assentos.

5. Cine Brás Polytheama. Av. Celso Garcia, 223. Inauguração 1923. 2015 assentos.

6. Cine Universo. Av. Celso Garcia, 378. Inauguração 1939. 4365 assentos.

7. Cine Roma. Rua da Mooca, 617. Inauguração 1952. 1898 assentos.

8. Cine Santo Antônio. Rua da Mooca, 2519. Inauguração 1952. 1100 assentos.

9. Teatro Colombo. Largo da Concórdia, 211. Inauguração 1908. 1968 assentos.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa de mestrado de Paula Freire Santoro,“Arelação da sala de cinema com o espaço urbano em São Paulo: do provinciano ao cosmopolita, 2004.

0 250 500m

2.1.2. As antigas salas de cinema e a cultura na região

O Brás era uma região que concentrava muitas atividades cinematográficas e teatrais na cidade, chegando a possuir as maiores salas, sendo o segundo território de importância para a cidade no segmento, ficando atrás apenas para a região central (SIMÕES, 1990, p. 22).

O mapeamento gráfico (Figura 14) regionaliza no tecido urbano atual do Brás onde um dia foram essas salas de tamanha relevância. Ele foi retirado a partir da pesquisa de Dal Maso (2017, p.

19) e adaptado pelo autor. Atualmente nenhum desses cinemas estão em funcionamento. Foram demolidos ou readaptados para receber novos usos.

Tal fato aconteceu devido à drástica redução do público de cinema em 620% (SIMÕES, 1990, p. 106) na década de 1950 quando acontece o surgimento da televisão e da difusão do seu acesso. É nesse contexto que o Cine

Piratininga fecha suas portas no ano de 1967 e passa a ser utilizado como um estacionamento.

Atualmente a região do Brás é consolidada como um grande polo do comércio têxtil, apesar de muitas industrias permanecerem ativas convivendo ao lado de galpões abandonados e subutilizados em traçado urbano denso com poucas praças e espaços livres em seu entorno (DAL MASO, 2017, p. 22).

Durante mais de trinta anos, o cinema reinou absoluto em São Paulo enquanto forma de recreação coletiva, atraindo crianças, jovens homens, mulheres, velhos indistintamente.(SIMÕES, 1990, p. 10).

Salvo honrosas exceções, a atmosfera é úmida e depressiva e o ar de empobrecimento é nítido até nos uniformes poluídos dos funcionários, que não aparentam mais o garbo da época de ouro do cinema, quando este reinava absoluto como a grande diversão para todas as idades(SIMÕES, 1990, p. 172).

A falta de planejamento faz do Brás um bairro sem praças públicas. (...) De fato, a única praça do bairro é a conhecida como Largo do Brás (...) que, em 1865, passa a denominar-se de Praça da Concórdia.(TORRES, 1985, p. 93).

Figura 13: Sinalização pública do Largo do Brás.

Fonte: Acervo do autor, abr 2022.

9

Figura 14: Levantamento das antigas salas de cinema e teatro do Brás no tecido urbano atual

(23)

Figura 15: Cine Piratininga. Foto: Caio Cesar Infantini, 2021.

2.2. O antigo Cine Piratininga

A compreensão da preexistência como um todo, sua implantação, seu projeto, sistema estrutural, a distribuição do programa e as condições que levaram o edifício até sua situação atual, são fatores essenciais para a elaboração de uma proposição arquitetônica efetiva.

Nesse capítulo será abordada, de maneira sintética e objetiva, uma descrição acerca do projeto do arquiteto Rino Levi e uma análise da condição atual do edifício e sua inserção urbana que fundamentará as decisões projetuais posteriores.

2.2. 1 A escala da quadra

A edificação está inserida em um contexto urbano denso no bairro do Brás (Figura 15). Sua quadra possui cerca de 40.000m² (200m x 200m, aproxi- madamente) e ao analisar os mapas antigos da cidade, percebe-se um vazio intra-quadra residual da urbanização que ocorreu na região (DAL MASO, 2017, p. 22).

Comparando diretamente o adensamento e o traçado das vias entre os anos de 1890 até 2022 (Figuras 17 a 20) constata-se que tais vazios acontecem exatamente onde passavam antigas vias e, mais tarde, onde a área era pertencente ao terreno do Cine Piratininga.

Figura 16:

Divulgação da inauguração do Cine Piratininga, em 1943. Fonte: DAL MASO, 2017, p. 36.

Ficha Técnica

Cine Piratininga

Arquitetura: Rino Levi

Endereço: Avenida Rangel Pestana, 1554 Brás, Subprefeitura da Mooca, SP

Acesso Lateral: Rua Martin Burchard s/n Ano Projeto: 1941-1942

Ano Construção: 1944

Sistema estrutural: Concreto armado

(24)

Figura 18: Mapa Sara Brasil da cidade de São Paulo de 1930 com a quadra do Cine Piratininga em vermelho.

1930

Figura 19: Foto aérea com a quadra do Cine Piratininga em vermelho, 1958. Fonte: Geoportal Memória Paulista.

1958

Figura 17: Mapa histórico da cidade de São Paulo de 1890. Quadra do Cine Piratininga em vermelho.

1890

0 100 200m

Figura 20: Foto de satélite com a quadra do Cine Piratininga e tracejado da possível rua. Fonte: Google Earth, 2022.

0 100 200m

2022

0 100 200m

0 100 200m

(25)

2.2.2. O projeto original, de Rino Levi

O projeto original de Rino Levi (Figura 21 e 22) contemplava além do cinema, comércios com fachadas ativas na testada frontal do lote, na Av. Rangel Pestana, e uma torre residencial, a qual permanece em uso até os dias atuais.

Cinema: O programa do cinema era composto pela plateia, balcão, palco, fosso, camarins, bar, foyer e sanitários.

O acesso principal acontecia pela Av. Rangel Pestana, um foyer linear com cerca de 30 metros e pé direito duplo, ritmado por pilares de seção circular e dois elípticos. O balcão e frisas, com 1706 assentos, eram acessados por duas escadas no foyer que levavam o público ao nível superior que contava com um bar e dois sanitários.

A plateia possuía 2607 assentos e foi desenhada com uma inclinação para garantir uma boa visão de todos os espectadores em qualquer assento.

Comércio: O programa comercial era formado por dois conjuntos com lojas, cada um com um núcleo de circulação vertical independente até o quarto andar.

As lojas na testada da Av. Rangel Pestana

possuíam fachadas ativas e pé direito duplo de 8,15m. As demais eram estreitas e compridas (uma com 7x40m e a outra 10x40m), ambas com pé direito de 5,00m.

Residência: A torre residencial inicia-se a partir do 5º pavimento e ainda está em uso, tendo seu acesso pela Av.

Rangel Pestana e é composta por dez andares, com quatro apartamentos cada.

Figura 22: Perspectiva à mão livre do arquiteto Rino Levi para o foyer do Cine Piratininga.

Fonte: DAL MASO, 2017, p. 37.

Figura 21: Diagrama da situação original do edifício, sem escala. Elaborado pelo autor a partir do levantamento Dal Maso, 2017.

(26)

Fonte: Levantamento realizado por Paula Dal Maso, 2017.

Figura 23: Planta Original - Pavimento Térreo

Figura 24: Planta Original - Primeiro Pavimento Fonte: Levantamento realizado por Paula Dal Maso, 2017.

Figura 25: Planta Original –Pav. Tipo Comercial (3º e 4º pav.) Fonte: Levantamento realizado por Paula Dal Maso, 2017.

0 10 20m

0 10 20m

0 10 20m

0 10 20m

Figura 26: Planta Original –Pav. Tipo –Residencial (5ª ao 14º pav) Fonte: Levantamento realizado por Paula Dal Maso, 2017.

Comercial Cinema

Residencial

Comercial Cinema

Residencial

Comercial Cinema

Residencial

Comercial Cinema

Residencial

(27)

Nesta página é apresentado um compilado de imagens históricas da época de ouro do Cine Piratininga, quando o mesmo ainda funcionava como

o maior cinema do Brasil. Período que durou entre sua inauguração, em 1943, até sua mudança de uso para um estacionamento no ano de 1968.

Figuras 27 a 30: Cine Piratininga em funcionamento

Depois que o cinema é desativado, o edifício passa a ser usado como um estacionamento para a região do Brás que iniciava seu apogeu como centro de

compras do setor têxtil e atraia diversas pessoas. Porém, sem manutenção o prédio começa a deteriorar-se.

Figuras 31 a 34: Cinema desativado e mudança de uso

27– Anúncio no jornal “Folha da Manhã” no dia da inauguração, em 1943. Fonte: Acervo Folha da Manhã.

28Cobertura em madeira em construção entre 1941-42. Foto: Autor desconhecido. Fonte: DAL MASO, 2017, p. 36.

29Fachada do Cine Piratininga na época da inauguração, na década de 1960. Fonte: Acervo Caio Quintino.

30Bilheteria no foyer do Cinema. Foto: Cristiano Mascaro, década de 1970.

31 –Plateia sendo utilizada como estacionamento, na década de 1970. Fonte: Acervo digital São Paulo Antiga.

32Fachada com tapumes e letreiro ainda preservado após a desativação, anos 70. Foto: Autor desconhecido.

33Placa de Estacionamento na fachada do Cine Piratininga, no ano 2000. Fonte: Acervo Museu da Pessoa.

34– Detalhe para “PIRATIN A” após queda de uma das letras do letreiro. Fonte: Acervo Digital São Paulo Antiga.

27

28

29 30

31

33

32

34

(28)

2.2.3. Situação atual

Elaborar uma proposição projetual de intervenção em uma preexistência requer um vasto entendimento acerca do que foi um dia aquele edifício e qual seu papel na paisagem urbana atual.

Através de visitas ao atual Cine Piratininga foi possível realizar uma leitura da situação atual que se encontra o prédio e, assim, realizar um diagnóstico acerca de sua condição de conservação, potencialidades, emergências e também a respeito do contexto urbano ao qual o mesmo está inserido.

Realizadas nos dias 05 de março, 10 e 14 de abril de 2022, as visitas tiveram como foco revisar o levantamento físico- cadastral realizado com maestria por Paula Dal Maso, em seu trabalho de conclusão de curso em 2017 e a elaboração de um relatório fotográfico a fim de registrar a situação em que o edifício se encontra.

Desde que o cinema encerrou suas atividades na década de 1970, suas instalações passaram a ser utilizadas

como um estacionamento e sua arquitetura acabou se deteriorando com o tempo, gradativamente.

O edifício se encontra com diferentes estados de conservação. A área que abrigou a plateia está descoberta desde a década de 1990, quando a cobertura ruiu e desde então encontra-se exposta às intempéries. Algumas áreas também foram demolidas ou modificadas, seja por falta de manutenção ou para a adaptação do edifício ao uso de estacionamento; o acesso principal e o foyer hoje são a entrada dos automóveis que chegam ao estacionamento e passam sobre o piso original que encontra-se preservado; a área comercial estava sendo limpa no dia da visita, na justificativa de retomada das atividades em breve e a torre residencial não foi visitada, porém sem detrimento ao trabalho, uma vez que a mesma não receberá intervenção e será mantida.

As próximas páginas apresentam o relatório fotográfico realizado pelo autor nas visitas ao Cine Piratininga.

“Esse tipo de implantação no centro da quadra era frequentemente emprega, principalmente nas grandes salas do Brás, graças a grande escala da sala de projeção e porque essa áreas possuíam menor preço. A solução era prevista no Código de Obras, como cinemas no interior do terreno, e para as quais se exigia, pelo menos, dois acesso às vias públicas.”

(29)

A fachada que dava acesso ao cinema na Av. Rangel Pestana encontra-se preservada, porém bastante danificada. O letreiro “PIRATININGA” caiu comple- tamente e a caixilharia na parte comercial possui diversos vidros quebrados, embora a esquadria esteja mantida. Também foi instalado um gradil neste acesso.

Figuras 35 a 37: Situação da fachada atual. Foto: Acervo do autor, abr 2022.

O acesso pela Rua Martin Burchard encontra-se atualmente fechado, mas era utilizado como entrada do estaciona- mento. A escada que era usada como saída para o balcão foi demolida e ainda pode ser vista onde era engastada. As paredes sofrem com umidade, mas o madeiramento da cobertura está em bom estado. Foi construída uma rampa que conecta a plateia com esse acesso.

Acesso Lateral

Figuras 38 a 40: Acesso Lateral pela Rua Martin Burchard. Foto: Acervo do autor, abr 2022.

Fachada

35

36 37

38

39 40

(30)

Comércio

As áreas comerciais encontram-se fechadas, porém no dia do levantamento realizado, haviam funcionários limpando o local pois o mesmo seria reativado em breve. A estrutura e alvenarias estão em bom estado. O piso de caco no térreo está preservado e grande parte do taco nos andares acima também. Alguns vidros dos caixilhos estão quebrados, conforme visto na fachada.

Figuras 41 a 45: Área comercial atualmente desativada. Foto: Acervo do autor, mar 2022.

O grande corredor que abriga a bilheteria e conecta ao foyer tem sua estrutura preservada, porém pintada com sinalização típica de estacionamentos. Há um remanescente do estuque em bom estado. Grande parte do piso original de pastilhas hexagonais está conservado e regularizado em cimento onde se perdeu.

A bilheteria foi convertida em uma sala para o caseiro do espaço.

Entrada/

Bilheteria

Figuras 46 a 48: Entrada do cinema e antiga Bilheteria. Foto: Acervo do autor, abr 2022.

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O foyer teve a parede que o dividia da sala de espetáculos demolida, também o bar, ficando todo o espaço integrado. O banheiro masculino ainda existe, mas em estado ruim, enquanto o feminino foi demolido e criado um acesso à parte comercial. O forro foi removido deixando a estrutura do balcão exposta e, em partes, recebeu chapas metálicas. O piso original também está, em grande parte, mantido.

Figuras 49 a 51: Espaço do antigo foyer, bar e banheiro masculino. Foto: Acervo do autor, mar 2022.

Foyer Plateia

A configuração do espaço não sofreu alterações. O forro sobre o foyer do balcão não existe mais e trecho sob a área de acesso ao balcão está em péssimo estado. O madeiramento da cobertura aparenta estar em boas condições. Os caixilhos também, porém com vidros quebrados. As entradas do balcão estão fechadas com uma mureta em alvenaria.

Figuras 52 a 56: Foyer superior e escadas que acessam ao balcão. Foto: Acervo do autor, abr 2022.

Foyer Balcão

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O espaço está descoberto desde a década de 1990 (DAL MASO, 2017, p. 45). A estrutura permanece estável. O piso original (tacos de madeira) foi removido e substituído por concreto, alterando o desnível da sala. Os pilares estão pintados com a mesma sinalização da entrada. Foi construída uma rampa para o acesso lateral. Apesar do abandono, a configuração do espaço permanece.

Figuras 57 a 61: Espaço do antigo foyer, bar e banheiro masculino. Foto: Acervo do autor, mar 2022.

Plateia

A estrutura de concreto permanece intacta. O guarda corpo que envolve toda a estrutura sofre com crosta negra e infiltrações. O piso de taco foi removido e alguns arbustos e folhagem crescem. Os acessos para os mesmos estão obstruídos, talvez seja para que os clientes do estacionamento não entrem.

Figuras 62 a 66: Balcão e frisas. Foto: Acervo do autor, abr 2022.

Balcão e Frisas

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O palco e o fosso não existem mais e todo o espaço está nivelado com a plateia. A caixa cênica/de exibição em estrutura de concreto e alvenaria aparente encontra-se em bom estado, com um pouco de umidade e crosta negra. As dependências de apoio ao palco (camarins, banheiros, salas) foram demolidas e atualmente essa parte do terreno encontra-se desocupada.

Figuras 67 a 69: Espaço do antigo foyer, bar e banheiro masculino. Foto: Acervo do autor, mar 2022.

Palco e Fosso

A saída do balcão encontra-se sem cobertura e repleta de vegetação que toma o espaço. Os corrimãos que ainda estão lá, ou parte deles, estão corroídos e não possuem mais estabilidade. O final da escadaria possui uma abertura com pé direito muito baixo, o que não seria mais aprovado pelo Corpo de Bombeiros.

Figuras 70 a 72: Balcão e frisas. Foto: Acervo do autor, abr 2022.

Saída Balcão

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2.3. A área de intervenção

Era necessário uma área maior do que apenas o lote do antigo cinema para construir um novo palco para o Teatro Musical em São Paulo, não apenas no sentido literal, mas propondo um novo Centro Artístico de referência para o segmento.

Logo nos primeiros croquis (Figura 73) buscava-se chegar à uma que estabelecesse a quadra mais democrática, a fim de tornar os frequentadores desse espaço, protagonistas no grande palco da

vida que é a cidade e para conseguir poder qualificar o corpo artístico do Teatro Musical para também se tornarem protagonistas em suas carreiras.

Nas próximas páginas serão apresentados os levantamentos realizados pelo autor que resultaram na área de intervenção e também os relatórios fotográficos da situação atual do entorno a qual o território está inserido.

Figura 73: Primeiro croqui de estudo da área. Elaborado pelo autor, 2022.

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“[...] numa cidade entulhada e ofendida, pode, de repente, surgir uma lasca de luz, um sopro de vento [...]”.

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