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JEFFERSON CARLOS CARVALHAL DA SILVA ESTUDO DO DESEMPENHO DOS CLUBES PROFISSIONAIS DE FUTEBOL DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE (20082013)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE.

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

JEFFERSON CARLOS CARVALHAL DA SILVA

ESTUDO DO DESEMPENHO DOS CLUBES PROFISSIONAIS DE FUTEBOL DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE (2008/2013)

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2 JEFFERSON CARLOS CARVALHAL DA SILVA

ESTUDO DO DESEMPENHO DOS CLUBES PROFISSIONAIS DE FUTEBOL DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE (2008/2013)

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Fabio Maia Sobral

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade

__________________________________________________________________________________________ S58e SILVA, Jefferson Carlos Carvalhal da.

Estudos do desempenho dos clubes profissionais de futebol da região metropolitana de Fortaleza - CE (2008/2013)/ Jefferson Carlos Carvalhal da Silva . – 2014.

84 f.: il., enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, Curso de Ciências Econômicas, Fortaleza, 2014.

Orientação: Prof. Dr. Fabio Maia Sobral.

1. Clubes de futebol. 2. Desempenho. 3. Indicadores econômicos. I. Título.

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4 JEFFERSON CARLOS CARVALHAL DA SILVA

ESTUDO DO DESEMPENHO DOS CLUBES PROFISSIONAIS DE FUTEBOL DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE (2008/2013)

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Economia.

Aprovada em _____/_______/________

Banca Examinadora

Prof. Dr. Fabio Maia Sobral (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Julio Ramon Teles da Ponte Universidade Federal do Ceará (UFC)

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo amor incondicional.

Aos meus pais, José Gerson Ferreira da Silva e Maria de Fátima Carvalhal da Silva, pela dedicação irrestrita.

A minha esposa Karla Medeiros da Silva pelo apoio e estímulo.

As minhas cunhadas Kelly Cristina Medeiros Ferreira,Caroline de Oliveira Medeiros e Ingrid Sousa da Silva pelas preciosas contribuições.

Aos meus sogros Adália de Oliveira Medeiros e João Carlos de Medeiros. Ao meu tio Joaci Medeiros dos Santos que investiu no meu potencial. Ao meu orientador Fabio Maia Sobral pela confiança em mim depositada.

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RESUMO

O presente trabalho tem por escopo a verificação do desempenho dos times de futebol profissional da Região Metropolitana de Fortaleza no período de 2008 a 2013. Os objetivos específicos são: verificar a evolução do futebol, sobretudo nos últimos cem anos, identificar os clubes que mais cresceram, verificar se houve acréscimo ou decréscimo do número de clubes no período, apontar possíveis causas para o crescimento dos times mais vitoriosos. Desse modo, examinar-se-á as campanhas dos times supramencionados nos campeonatos de 2008 a 2013, observando as seguintes variáveis – classificação, público e renda. Utilizar-se-á a metodologia qualitativa bibliográfica. Encerrar-se-á esta monografia observando a associação existente entre o futebol profissional atual sob o signo do capitalismo, da globalização e a economia, já que o fator econômico tende a favorecer os times com maior valorização mercadológica. Utilizar-se-á, entre outros, o ponto de vista de Pierre Bourdieu, Norbert Elias, E. Hobsbawm, Ronaldo Helal e Aidar e Leoncini.

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ABSTRACT

The following research has the scope to check the development of the Professional soccer teams from the metropolitan area of Fortaleza from 2008 t0 2013. The specific objectives are? Verify the evaluation of soccer in the last hundred years and so the teams which have developed more, to check if there was any increase or decrease in the quantity of these teams; point possible causes for development of the most victorious teams. It will be checked all of these schedules of these mentioned teams in all the championships they have associated during 2008 to 2013, concerning the following variables: classification, audience and income. It will be used the bibliographic quantitative methodology. This monograph will be based on the association between current professional soccer under capitalism mark, globalization and the economy, because the economic factor tends to support the most marketable valuable teams. Pierre Bourdieu’, Norbert Elias’, E. Hobsbawn’s, Ronald Helal’s, Aidar’s and Leoncini’s point of view will be considerate.

Keywords: Soccer, Metropolitan area of Fortaleza, Economy.

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LISTA DE FIGURAS

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Cem anos de futebol (1886 – 1980) ... 28

Quadro 2 - Tradição X Modernidade ... 28

Quadro 3 - Indicadores Socioeconômicos de Fortaleza ... 44

Quadro 4 - Clubes de Futebol Cearenses Profissionais Pertencentes à 1ª Divisão ... 49

Quadro 5 - Clubes de Futebol Cearenses Profissionais Pertencentes à Série B ... 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Crescimento da FIFA ... 32

Tabela 2 - Formação da Região Metropolitana de Fortaleza... 45

Tabela 3 -: Campeonato Cearense Série A - 2008 ... 52

Tabela 4 - Campeonato Cearense Série A - 2009 ... 54

Tabela 5 - Campeonato Cearense Série A - 2010 ... 56

Tabela 6 - Campeonato Cearense Série A – 2011 ... 59

Tabela 7 - Campeonato Cearense Série A – 2012 ... 62

Tabela 8 - Campeonato Cearense Série A 2013 ... 64

Tabela 9 - Pontuação por Competição ... 65

Tabela 10 - Classificação dos Times Cearenses no Ranking ... 66

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

2 DO AMADORISMO AO PROFISSIONALISMO DO FUTEBOL NO BRASIL ... 17

2.1 Origens do Futebol no Mundo... 20

2.2 Origem do Futebol no Brasil ... 23

3 PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL ... 30

3.1 As Leis Econômicas do Futebol... 33

3.2 Aspectos jurídicos e Econômicos do Futebol Profissional ... 37

4 PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA ... 43

4.1 O Futebol da Região Metropolitana de Fortaleza ... 46

4.2 O Desempenho do Futebol Metropolitano Cearense – 2008 / 2013 ... 51

4.2.1 Campeonatos de 2008, 2009 e 2010 ... 51

4.2.2 Campeonatos de 2011, 2012 e 2013 ... 59

4.3 Economia e Futebol Cearense ... 65

5 CONCLUSÃO ... 69

REFERÊNCIAS ... 71 ANEXO A – Borderô 2008 / Fortaleza X Icasa 04 – Maio - 2008

ANEXO B – Borderô 2009 / Fortaleza X Ceará 03 – Maio - 2009

ANEXO C – Borderô 2009 / Ceará X Fortaleza 02 – Maio - 2010

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ANEXO F – Borderô 2011 / Ceará X Guarani(J) 08 - Maio – 2011

ANEXO G – Borderô 2012 / Ceará X Tiradentes 01 – Fev- 2012

ANEXO H – Borderô 2013 / Fortaleza X Ceará 25- Maio - 2012

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1 INTRODUÇÃO

Há pelo menos um século o futebol vem se convertendo em um grande negócio, haja vista a realização de contratos milionários envolvendo jogadores, clubes, mídia, empresários e outros profissionais ligados o esporte. As transações financeiras envolvendo jogadores de futebol representam uma parcela expressiva do montante de recursos deste segmento. Além das receitas procedentes das negociações com atletas, estes impulsionam a venda de itens esportivos e publicidade, em outras palavras, produtos e serviços se vinculam à imagem dos esportistas.

A transformação do futebol em negócio para grande parte dos estudiosos é irrefreável. Ronaldo Helal (1997) trata do conflito advindo de duas visões opostas - moderna versus tradicional. A primeira ocupa-se da racionalização e comercialização do esporte e a segunda centra-se no “amor” à camisa, na paixão do torcedor.Em suma, há a contraposição do futebol-negócio ao futebol-arte, da razão à emoção.

Os clubes de futebol europeus assumiram, ao longo dos últimos trinta anos, posição de destaque no que se refere à profissionalização1, tal postura tende inevitavelmente a refletir-se nos demais clubes espalhados pelo mundo haja vista o processo de globalização no qual refletir-se insere a sociedade moderna. Assim, no Brasil a profissionalização aporta atualmente em todas as regiões do país. Nesse contexto, o presente trabalho tem como temática a evolução dos agentes reguladores (Confederações, federações) e operadores (Clubes) do futebol cearense e especial os clubes da RMF. Um recorte temático, entretanto torna-se necessário, destarte analisaremos o crescimento dos clubes profissionais da Região

Metropolitana de Fortaleza.

Ver-se-á, pois como o futebol dos clubes profissionais da Região Metropolitana de Fortaleza chegou ao atual estágio, para tanto verificou-se seus históricos desde a fundação, passando da fase amadora à profissional em alguns times, como o Ceará, Fortaleza, Ferroviário e Horizonte o que comprova a tendência globalizante mundial supramencionada. A seguinte questão-problema norteará este estudo: Qual o desempenho dos clubes profissionais da Região Metropolitana de Fortaleza no período de 2008 a 2013.

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15 A justificativa da delimitação temática deve-se ao fato de que o futebol dos grandes centros urbanos historicamente desenvolveu-se sempre mais rapidamente do que o futebol dos demais centros. Todavia, com o advento da globalização há uma forte tendência à homogeneização, consequentemente os demais centros sofrem influência dos maiores. Nessa conjuntura, o futebol da região metropolitana tende a acompanhar o desenvolvimento do futebol da capital, tradicionalmente na vanguarda dos acontecimentos que movimentam a sociedade moderna.

Portanto,o objetivo central da pesquisa consiste em analisar o desempenho dos clubes profissionais da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) nos últimos seis anos. Os objetivos específicos são:

I) verificar a evolução do futebol, sobretudo nos últimos cem anos; II) identificar os clubes que mais cresceram economicamente;

III)verificar se houve acréscimo ou decréscimo do número de clubes no período; IV)apontar as possíveis causas do crescimento dos clubes mais vitoriosos.

Para tanto, contextualiza-se o recorte temático na conjuntura em que se insere. Desse modo, o trabalho divide-se em três seções.

A primeira seção versa sobre a origem do futebol no mundo e no Brasil a partir de uma perspectiva sociocultural, ou seja, trata tal desporto como uma atividade cultural que possui alta adaptabilidade para inserir-se na estrutura de uma sociedade. Assim, utilizou-se, sobretudo, o ponto de vista de dois estudiosos proeminentes da sociologia do esporte: Pierre Bourdieu (1983) e Norbert Elias (1995). Para o primeiro, a assimilação e o consumo desse esporte constitui uma expressão simbólica de identificação com as classes de elite. Para o segundo cientista, tal desporto surge como um componente de um processo cultural maior, consequência do processo civilizador dos costumes e da modernização do mundo ocidental.

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16 suas particularidades acompanham os novos rumos da economia local e global. Por sua vez, as leis jurídicas desse esporte sofreram inovações e anacronismos explicados pelo choque de interesse de partes contrárias.

A terceira seção, seguindo a delimitação temática traçada, ocupa-se do desempenho dos clubes profissionais de futebol da Região Metropolitana de Fortaleza nos últimos seis anos. Destarte, verificou-se as campanhas dos times pertencentes a região metropolitana de fortaleza nos campeonatos de 2008 a 2013, observando as seguintes variáveis – classificação, público e renda – referentes ao campeonato cearense de futebol. Encerra-se esta seção com a verificação da associação existente entre o futebol dos times profissionais da RMF atual sob os signos do capitalismo, globalização e economia.

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2 DO AMADORISMO AO PROFISSIONALISMO DO FUTEBOL NO BRASIL

Americanização, globalização, imperialismo cultural, modernidade e espetacularização são questões centrais colocadas no sentido de compreender a dimensão e o significado assumido pelo esporte nos dias de hoje. Estamos falando de continuidades e rupturas de um fenômeno, talvez único, que nos últimos cem anos tem se expandido constante e, talvez, irremediavelmente.

(ADEMIR GEBARA, 1995)

O esporte pode desempenhar papéis variados tanto na formação do homem quanto da sociedade, desse modo, funciona como meio de socialização e difusão de valores e/ou ferramenta de educação e saúde, por conseguinte, constitui-se fenômeno social observável na vida diária. Sob esse prisma, pretende-se nessa seção observá-lo à luz da história e da sociologia, e em especial, a do esporte. Assim sendo, inicia-se o pensamento tecendo considerações, sobretudo, sobre dois aspectos pertinentes à sociologia mencionada – secularização e racionalização. Em seguida, se descreve um breve histórico do esporte – origens no mundo e no Brasil. Todavia, a temática do esporte apresenta-se ampla em demasia, por isso, recorre-se a um recorte, optando pelo enfoque em uma modalidade - o futebol – e em um país específico – o Brasil.

A sociologia do esporte, proposta por Pierre Bourdieu (1983) tem como objetivo compreender as funções das práticas esportivas nas sociedades contemporâneas, assim, ocupa-se do exame dos fenômenos sociais, nesse caso, os jogos competitivos, apreciando-os sob o ponto de vista de dois processos inerentes à modernidade – a secularização e a racionalização.

A secularização versa sobre o desencantamento do mundo, ou seja, sobre a

alteração das explicações de natureza mágica ou religiosa para os mais distintos fenômenos por outras de cunho racional, técnico e científico. Trata-se de um processo próprio da mudança social que consolidou as economias de mercado e as democracias de massa, baseadas em cálculos utilitários e regras escritas e não em mitos e tradições.

Por sua vez, ainda conforme Pierre Bourdieu (1983), a racionalização considera a

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18 emocional. Nesse contexto, eficiência e quantificação tornam-se imprescindíveis, à medida que, transformam-se em valores normativos passíveis de serem medidos, assim, as estatísticas igualam-se em importância aos eventos.

Trazendo tais preceitos para o futebol, pode-se afirmar que no princípio a forma de se conceber essa modalidade esportiva era predominantemente lúdica e de caráter ritual, pois os jogos compunham as festas religiosas e reverenciavam os deuses, além dos corpos dos jogadores (juventude, beleza e força). Apesar de o esporte moderno ter se solidificado profissionalmente através de forças do mercado capitalista e da globalização, sua essência não se desvincula das crenças e rituais religiosos. Tal afirmação pode ser comprovada por meio da observação de dirigentes e torcedores que ao perceberem suas equipes na iminência de perder jogos recorrem aos mais variados rituais religiosos com o intuito de reverterem o quadro.

Dentro desse processo de racionalização perdeu-se o caráter religioso, mas se manteve a idolatria ao corpo e certo conteúdo lúdico.Contudo essa brincadeira tornou-se um negócio profissional deixando de ser uma atividade puramente gratuita e desinteressada para uma regida por normas e regras específicas. Logo a secularização do esporte moderno se caracteriza pela mercantilização do jogo e dos atletas e da perda do saudosismo do espetáculo. A secularização e a racionalização constituem-se processos inerentes à modernidade. A visão moderna pode provocar consequências prejudiciais aos que se interessam pelo futebol de forma emotiva e legítima, destacam-se a dessacralização e a perda de identidade, haja vista, respectivamente, os excessos do merchandising e a imposição de métodos e técnicas característicos do ambiente europeu.

Pierre Bourdieu (1983) teoriza ainda sobre o esporte enquanto reprodutor social da lógica dominante,não necessariamente econômica ao revelar-se como uma arena de conflitos entre dominantes e dominados movido por forças e interesses consolidados pela classe mais poderosa. O sociólogo enuncia que o esporte carrega consigo marcas de origem, como, por exemplo, a ideologia aristocrática que a despeito de apreendê-lo como atividade desinteressada:

Contribui para mascarar a verdade de uma parte crescente das práticas de esporte como o tênis, equitação, o iatismo, o golfe, deve sem duvida uma parte de seu interesse, tanto nos dias de hoje quanto em sua origem, aos lucros de distinção que ela proporciona (PIERRE BOURDIEU, 1983, p 143).

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19 insere uma relação de dominação, tratando-se de uma tentativa de afirmação do grupo social, ou ainda, uma expressão simbólica de identificação com os extintos dominantes.

Ainda dentro da visão sociológica, além do ponto de vista de Pierre Bourdieu(1983), destaca-se o de Norbert Elias (1995) cuja abordagem pauta-se na argumentação comprobatória de que o esporte surge como componente de um processo cultural mais vasto decorrente do processo civilizador dos costumes e a modernização do mundo ocidental - o processo civilizatório - contribuiu para a consagração do esporte como prática social legitima.

Nessa perspectiva, a vontade do ser humano de agir,segundo seus instintos e paixões,e obter resultados impreterivelmente positivos gera certo grau de estresse na vida social, uma vez que por mais que o ser humano se eduque sempre subsiste um resquício de tensão individual e/ou coletiva acarretando uma espécie de mal estar. Assim sendo, o futebol pode funcionar como instrumento de fuga da realidade opressora, capaz de promover a liberação das tensões ocasionadas no âmbito social. Logo, os indivíduos dirigem-se a locais com espaços limitados, caso dos estádios de futebol, para exteriorizarem suas tensões, todavia, de modo regulamentado, pois a existência de regras controla seus impulsos mais violentos. Segundo Elias (1995 p. 64-65):

Dentro de sua cenografia específica, o esporte – como outras atividades recreativas – , graças à maneira como está desenhado, pode evocar uma determinada tensão, uma excitação agradável, permitindo assim que os sentimentos fluam com mais liberdade. Pode servir para afrouxar, liberar talvez, as tensões por sobre-esforço. A cenografia do esporte, como a de muitos outros exercícios recreativos, está desenhada para despertar emoções, evocar tensões em forma de excitação controlada e bem equilibrada, sem os riscos e tensões habitualmente associados com a excitação em outras situações da vida; ou seja, uma emoção “mimética” que pode ser agradável e produzir um efeito liberador e catártico.

Para Elias(1995), o aparecimento do esporte na era moderna não se constitui uma reedição de tradições clássicas - greco-romanas.Antes se trata de um processo cultural de “esportização” de atividades lúdicas que implicam esforço físico, processo cuja dinâmica origina um conjunto de práticas sociais inteiramente diversas de suas possíveis antecessoras.

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20 atingiram o status de desporto na Inglaterra, considerada modelo, através da criação de regras muito claras orientadas pelas idéias de justiça e igualdade aos participantes. O rigor das regras ocasionou um nível de ordem e autodisciplina jamais visto até então proporcionando um equilíbrio de forças e uma razoável proteção contra ferimentos físicos. A “esportização” possui, portanto, o caráter de um impulso civilizador.

O esporte não se dissocia da sociedade, veja-se a origem no mundo e no Brasil da atividade esportiva mais popular da contemporaneidade – o futebol.

2.1Origens do Futebol no Mundo

O esporte é uma manifestação cultural e, portanto, social e esta subseção observará sua origem com o objetivo de descrever o desenvolvimento histórico do futebol desde o início até a fase moderna, destacando a mudança de paradigma do esporte primitivo ao moderno.

Rogério da Cunha Voser (2010) em Futebol: história, técnica e treino de goleiro

oferece um panorama da história do futebol que se inicia ainda na pré-história quando os antepassados chutavam pedras, crânios e pinhas. A literatura trata de jogos com bola já na

Odisséia, de Ulisses. Há ainda relatos desses jogos entre os maias, incas e astecas.

Observem-se os registros relativos à origem desObservem-se jogo na China, Japão, Grécia Antiga, Roma Antiga, França e Itália.

Por volta de 2.600 a. C. o chinês Yang-Tsé criou um jogo, o “kemari”, praticado na China e depois no Japão, para aperfeiçoamento militar que consistia em chutar uma bola feita de fibra de bambu, apesar de não contabilizar pontos, o uso das mãos era vedado e desclassificava-se o jogador que tocasse no cabelo do adversário. Mais tarde essa prática militar foi adotada pela corte imperial como forma de lazer.

Na Grécia Antiga, o “epyskiros”, jogo disputado com bola de bexiga de boi coberta com uma capa de couro assemelhava-se ao futebol por permitir o chute com os pés. Relatos históricos descrevem que as técnicas de passe curto ou longo contavam pontos, assim como a ultrapassagem da linha de meta (linha de fundo). Todavia, não há registros de suas regras.

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21 transversais às linhas laterais e uma linha divisória no meio do campo. Vencia a partida a equipe que trocando passes ultrapasse a linha de meta adversária. Não há certeza quanto ao emprego do pé, mas a posição dos jogadores era bem definida – havia os “locum stadium”, jogadores mais lentos que atuavam na defesa; os “medicurrens”, situavam-se no meio do campo e os ”área pilae praeter-volantis et supriactae”, jogadores ofensivos.

Há divergência sobre a origem do “soule”, alguns historiadores apontam à França e outros a Inglaterra. Todavia, a maior parte situa o aparecimento na França com profunda influência do “haspartum” romano. O jogo consistia “em transpor a bola, através de arremesso, pela linha de meta, demarcada por duas estacas cravadas no chão”, conforme Voser. (2010, p. 19). Dependendo da região o “soule” passava a ser denominado de “shoule”. Na Idade Média, o “soule” encontrou resistências, pois passou a ser considerada uma prática violenta.

Na Itália, o “cálcio”, teria se originado em 17 de fevereiro de 1530, conforme Figueiredo (2003, p.18) em Florença que se encontrava sitiada pelas tropas militares do príncipe Orange. As duas forças resolveram disputar a vitória em um jogo de bola, cada equipe compunha-se de vinte e sete jogadores (cinco goleiros, três defensores, quatro meio de campo e quinze atacantes). Permitia-se o uso das mãos e dos pés, chutes, cabeçadas, bloqueios desleais por se tratar de uma batalha. Os competidores objetivavam levar a bola à barraca adversária, construída sob a linha de meta de cada campo.

Giulianotti (2010) em Sociologia do futebol, dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões afiança que grande parte desses “jogos primitivos” originou conflitos entre as classes dominantes. Na China, durante a dinastia dos Ming, o imperador Zhu Yuanzhando ordenou a amputação das pernas dos que desobedecessem à proibição de jogar futebol. A lei foi decretada em 1389, sendo revogada somente em 1625. Na Inglaterra, em 1314, Edward II proibiu essa modalidade esportiva para que o arco e flecha fossem mais praticados Dando continuidade a essa proibição, James I autorizou os oficiais a multar os infratores. Entre os séculos de XVI e XVII, jovens de cidades escocesas como Aberdden eram acusados de conduta profana no Sabbath por beber, dançar e jogar futebol.

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22 o gol não tinha um tamanho definido, não tinha árbitros, não existia esquema tático ou posicionamento dos jogadores em campo.

Em suma, não havia qualquer controle de fiscalização, por isso a incidência em alto grau de violência. Durante os séculos XIII e XIV era comum jogadores carregarem punhais, ferir os adversários. Socos, pontapés nas canelas e lutas diversas ocorriam, pois os jogadores se vingavam de jogos passados.Mortes eram frequentes. Os jogos também eram disputados entre igrejas de cidades vizinhas, homens casados e solteiros, mulheres casadas e solteiras, escolas contra outras, ou cidades contra campo, segundo Giulianotti (2010, p.17).

Na história moderna, o título de país de origem do futebol coube à Inglaterra através da criação da Football Association, cujas regras remontam ao final século XIX, base desse desporto na atualidade. Apesar da origem elitista, o futebol inglês passou a ser praticado pelas classes populares e, à proporção que o público começou a demonstrar interesse em assistir às partidas, transformou-se em uma atividade lucrativa com a cobrança de ingressos, conforme Giulianotti (2010, p.19-20).

A escalada do futebol inglês que de meio de lazer e socialização rapidamente configurou-se como atividade econômica, verificou-se uma tendência praticamente global e no Brasil não foi diferente. As três fases principais desse esporte desde sua origem até a contemporaneidade podem ser assim esquematizadas, conforme a Figura 1.

Figura 1 - Principais Fases do Futebol

Fonte: A nova gestão do futebol (2002)

Fase ancestral-prática cultural Esporte amador

 Ritual de guerra –Tsü-tsü   Redefinição de significado e função

 Lazer da nobreza –calcio  Conquista simbólica das massas

 Jogo popular –mob football

 Esporte profissional

Redefinição de significado e função  Reinterpretação popular

 Consolidação da indústria do espetáculo esportivo

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2.2 Origem do Futebol no Brasil

Três etapas marcam o desenvolvimento do futebol no Brasil, de esporte amador a negócio altamente rentável, capaz de movimentar bilhões de dólares, segundo Frederico Lustosa da Costa (2000) emFome de bola: desafios da gestão esportiva e o futebol no Brasil.

São elas: evolução do futebol independente do aparelho de Estado; interferência do Estado no crescimento e popularização do futebol; substituição do Estado pelo Mercado (investidores, empresários, empresas de mídia) no processo de transformação do futebol em negócio de entretenimento e lazer. A descrição das etapas iniciais justifica-se, pois este trabalho tem por objeto de estudo a evolução do futebol profissional para a qual se dedicam as próximas seções. Todavia, antes de adentrar-se nessa fase, consideramos relevante historicizá-la, para tanto verificaremos a história amadora e sua transição, predecessoras da profissional.

As divergências sobre a origem do futebol no mundo também se verificam na chegada deste esporte ao Brasil.Todavia, há unanimidade na consideração de que a participação de Charles Miller (1874-1953) foi essencial. Trata-se de um anglo-brasileiro (pai cônsul britânico e mãe brasileira) que em 1894 aos vinte anos, retorna da Inglaterra para o Brasil e em 1895 realiza o primeiro jogo oficial no país na Várzea do Campo (SP) entre os times Gás Company X São Paulo Railway, time de Miller. As duas equipes eram formadas por ingleses e anglo-brasileiros. Miller além de ser o principal responsável por introduzir o esporte em solo brasileiro atuou como jogador, dirigente de clube e árbitro. O futebol brasileiro é, portanto, um desporto importado dos ingleses, há pouco mais de cem anos, atravessou diversas fases até se tornar o esporte da preferência nacional, segundo Aidar e Leoncini (2002, p.86-87)

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Habituada a jogar e não a competir, a sociedade brasileira, construída de favores, hierarquias, clientes, e ainda repleta de ranço escravocrata, reagia ambiguamente ao futebol. Esse estranho jogo que, dando ênfase ao desempenho, democraticamente produzia ganhadores e perdedores sem subtrair de nenhum disputante o nome, a honra ou a vergonha. Foi preciso que essa sociedade fincada por valores tradicionais aprendesse a separar as regras dos homens e da própria partida para que o futebol pudesse ser abertamente apreciado entre nós.

Precisar a transformação do esporte de elite em um esporte de massas não é tarefa fácil. Pode-se apontar, todavia que o surgimento das primeiras indústrias brasileiras contribuiu para tal democratização. Os times formados nas fábricas realizavam seus jogos fora do circuito dos bairros ricos. O primeiro foi o Bangu, em 1904, fundado como The Bangu Athletic Club pelos mestres tecelões ingleses contratados pela Companhia Progresso Industrial do Brasil. Há ainda a formação de equipes suburbanas como o Corinthians Paulista, em 1910, e a chegada de imigrantes europeus que fundaram, por exemplo, o Palestra Itália, em 1914.

As camadas populares, dispensando os campos gramados, as bolas importadas e as balizas, jogavam nas várzeas com bolas de meias improvisando os contornos do campo e do gol. Essa popularização antecedeu ao surgimento dos primeiros grandes clubes – “Fluminense, Botafogo, América, Flamengo, São Cristóvão, quando também nasce a Liga Metropolitana para Sports Athletics (LMSA), para organizar competições e campeonatos do novo esporte que começava a atrair cada vez mais adeptos” (GORDON JUNIOR, 1995, p.79). Nessa mesma época, os campos de futebol se abrem às camadas mais pobres da população e o esporte começa a se consolidar no cenário brasileiro.

A despeito dessa disseminação, um fenômeno curioso retrata o caráter segregacionista das elites e os preconceitos sociais que envolviam a prática do futebol. Havia um distanciamento entre os clubes instalados nos bairros nobres e os dos subúrbios, “As distâncias sociais, com todas as suas graduações, deveriam ser mantidas religiosamente dentro e fora do esporte” (GORDON JUNIOR, 1995, p. 80). Os preconceitos racial e social existiam e até 1918, a Federação Brasileira de Sports, órgão surgido em 1914, regulamentava o futebol em todo o território brasileiro, proibia a inscrição de negros nos times profissionais.

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25 presidente negro Cândido José de Araujo. A equipe cruzmaltina tinha um método diferente pra recrutar os jogadores negros, os comerciantes portugueses empregavam esses jogadores com o pretexto de trabalhar em suas lojas, mas na prática eles serviam apenas para o time,porém,como era um sistema amador ,tinham que estar trabalhando porque só poderiam jogar se estivessem vinculado a algum contrato de trabalho.Com força física e técnica acima dos demais times por causa dos treinamento o Vasco da Gama conseguia ter grande vantagem sobre seus adversários e em 1922 sagrou-se campeão da segunda divisão do campeonato carioca e no ano seguinte em 1923 se tornou campeão carioca provocando a reação dos clubes de elite - Flamengo, Fluminense, Botafogo e América - que culminou em uma onda de denúncias baseadas no fato de que os jogadores recebiam gratificações, “bicho”, e preparavam-se em regime de internato para as partidas. O ápice foi à expulsão do Vasco da Liga sob a alegação de que não possuía estádio próprio, relata Junior (2008).

Mário Rodrigues Filho em O negro no futebol brasileiro (1964, p.128) a esse

respeito escreve que os clubes finos da sociedade estavam diante de um fato consumado, os brancos e ricos não detinham mais a hegemonia, uma verdadeira revolução operava-se nos campos de futebol: “Desaparecera a vantagem de ser de boa família, de ser estudante, de ser branco, o rapaz de boa família, (...) tinha de competir em igualdade de condições, com o pé-rapado, quase analfabeto, o mulato e o preto para ver quem jogava melhor”. Saliente-se que o peso das questões econômicas e sociais nacionais - país recentemente saído da escravidão e entrado no sistema republicano - fez com que negros e pobres entrevissem nesse esporte uma oportunidade de ascensão única. Pode-se apontar assim, um entre outros fatores que concorreram para a crise do modelo amador - a expansão e a popularização do futebol que concorreu para a entrada de atletas pobres nesse circuito.

O futebol brasileiro começa realmente a se profissionalizar e a se internacionalizar a partir da década de trinta. Nesse período, realizaram-se as primeiras copas do mundo que colaborarão para o desenvolvimento do futebol profissional. A profissionalização gerará modificações expressivas. Para Lopes (1999) o aparecimento do futebol como profissão teve o poder de romper com os padrões elitistas dos clubes amadores e com o paternalismo dos clubes semi-amadores, contribuindo ainda para a expansão das formas de recrutamento e a invenção de um estilo nacional, representado pelo vultoso acesso de jogadores de classes populares e negros.

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26 comportamento exibicionista de nossos primeiros jogadores de subúrbio diante de negros e trabalhadores do início do século proferindo que aqueles eram "doidos para experimentar aquela coisa gostosa, o aplauso. Jogavam para a arquibancada" (FILHO, 1964, p.49). Atitude admirada e incentivada pelos torcedores para quem o futebol devia ser alegre, enfeitado. Improvisação e prazer definiam, portanto, o futebol brasileiro, assim como a proximidade da relação entre o jogador e a torcida no momento do jogo.

A partir da popularização do esporte ocorre a intervenção do Estado nos negócios do futebol. Nesse contexto, Getulio Vargas oferece apoio ao escrete nacional na III Copa do Mundo e em 1941 cria o Conselho Nacional de Desportos (CND), ação reveladora da importância atribuída pelo Estado Novo às práticas esportivas. Tais empreendimentos ancoravam-se na idéia de que futebol traduz-se em diversão do povo, escola de democracia e fonte de saúde para as massas.

A partir de então, constroem-se os grandes estádios nacionais, uma vez que a prática do futebol necessitava de instalações físicas imponentes, à altura do espetáculo oferecido às massas. Nesse contexto, em 1941, inaugura-se o estádio do Pacaembu, em São Paulo, palco de aproximação entre sociedade e governo. Ressalte-se que nas comemorações do dia do Trabalho uma partida de futebol era disputada entre os principais times da cidade. O futebol atraía, assim, o povo para eventos políticos. Data dessa época a prática de compra de passes e o aparecimento dos mitos brasileiros, fenômeno verificado até a atualidade(fontes ?).

O profissionalismo trouxe consigo a possibilidade de mobilidade social para os jogadores oriundos das camadas mais baixas. Sobre isso Rosenfeld (1993) - professor alemão que na década de 1920 lecionou na USP, na tentativa de apreender o Brasil, adotou como temas de ensaios três elementos característicos da cultura brasileira: o negro, a macumba e o futebol - explana que a ascensão econômica já existia na época do amadorismo e que hoje é corriqueira. Desse modo, Rosenfield explica que o salário médio de um jogador do time principal de um dos grandes clubes de São Paulo ou Rio, elevasse, no momento [1956], a cerca de 8 até 15 mil cruzeiros mensais, ou seja, maior do que o salário de um professor em ginásios oficiais.

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27 popularidade do futebol.A boa imagem do futebol brasileiro serve de propaganda para o país e para o povo, motivo de orgulho, paixão nacional, catalisador de sentimentos diversos. O estímulo político-institucional conferido pelo governo e suas agências de propaganda tinha o objetivo de demonstrar que a força do povo brasileiro reflete-se no futebol e vice-versa.

Em 1958, o Brasil conhece alguns “heróis” da nação como: Garrincha, Pelé que se tornaria o melhor jogador de todos os tempos, Vavá, Zito, Mazzola, Nilton Santos, Didi, Gilmar, Zagallo, entre outros por conseguirem trazer o título de campeão ganhando de 5 a 2 da Suécia jogo realizado no estádio Rasunda na Suécia. Já na sétima Copa do Mundo, em 1962 realizada no Chile, o Brasil manteve a maioria dos jogadores da copa anterior, portanto tinha um time entrosado e conseguiu vencer na final a equipe da Tchecoslováquia por 3 a 1 sagrando-se bicampeã .Assim, a vitória brasileira na Copa do Mundo, em 1970, convenientemente restaura a confiança e o ufanismo do povo no país incentivado pelo governo.

Na década de 1980, a despeito da seleção canarinho não vencer o principal campeonato mundial, apresenta grandes jogadores e um belo futebol, embora não eficiente, evidenciando a mentalidade tradicional pautada no futebol-arte. Em 1994, a Copa do Mundo foi sediada nos EUA e apesar de pouca tradição no futebol bateu todos os recordes de audiência televisiva, já que o marketing estava amplamente inserido no futebol. Na final, a equipe brasileira comanda pelo “baixinho” Romário vence a Itália nos pênaltis e se converteu na primeira seleção tetracampeã mundial. A copa de 2002 foi a primeira disputada em dois países Japão e Coréia do Sul e teve a participação de 32 times. O Brasil dispunha de “Ronaldinho” que acabara de voltar a jogar após passar por dois anos em inatividade por causa de grave contusão no joelho. Esse jogador foi o comandante de um triunfo de 2 a 0 contra a Alemanha e se tornou o artilheiro da competição que se tornou pentacampeã mundial da copa.

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Quadro 1 - Cem Anos de Futebol (1886 – 1980)

ANO ACONTECIMENTO

1886 Fundação da International Football Association Board.

1894 Charles Miller traz as regras do futebol para o Brasil.

1904 Criação da FIFA (Federação Internacional de Futebol Associados), cujas principais funções são: organizar e fiscalizar o futebol mundial.

1916 Fundação da CBD (Confederação Brasileira de Desportos)

1941 Fundação da Federação Paulista de Futebol (FPF) e do Conselho Nacional de Desportos (CND)

1980 Criação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)

Fonte: Estudo sobre as decisões identificadas na gestão de contrato de jogadores de futebol: O caso do clube Atlético Paranaense(2004).

Desse modo, o mundo futebolístico do amadorismo à profissionalização vê-se em meio às mudanças. Observa-se assim, distintas etapas históricas desse desporto no Brasil: a origem elitista (evolução do futebol independente do aparelho de Estado), a transição ao profissionalismo e a tutela estatal (interferência do Estado no crescimento e popularização do futebol).

Santos (2002,p.73) esquematiza as diferentes visões características da fase amadora que coincide com os valores tradicionais e a fase profissional que reflete os valores modernos para três segmentos: jogadores, dirigentes e espetáculo,conforme mostrado no quadro 2.

Quadro 2 - Tradição X Modernidade

SEGMENTOS TRADIÇÃO MODERNIDADE

Jogadores “Amor à camisa, improvisação, estilo

individual de jogo, dribles”. Mentalidade racionalização do jogo. profissional, êxodo,

Dirigentes Amadorismo e política de favores. Busca pelo modo empresarial,

profissionalização, ética do lucro e marketing.

Espetáculo Baixo grau de comercialização, poucos times no campeonato, regulamento estável e muitas estrelas.

Propaganda nos estádios e uniformes, televisão, mais clubes competindo e menos estrelas.

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3 PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL

[...] e só quem não tem a menor sensibilidade é capaz de dizer que a platéia do futebol é uma platéia de passivos. Porque ninguém me convence de que não fiz junto com Basílio aquele gol que libertou o Corinthians de vinte e dois anos sem titulo [...]; e que eu não estava junto com o Taffarel, na defesa do pênalti, na Copa de 94. [...] Foi num campo de futebol que se abriu, pela primeira vez, na História, uma faixa pela anistia aos presos políticos brasileiros; foi no Morumbi, com cem mil pessoas, num jogo entre Corinthians e Santos. E por que num campo de futebol com cem mil pessoas? Porque não dava pra polícia chegar lá em cima e prender todo mundo; quando a polícia chegou, a faixa já havia desaparecido. [...] o futebol é mais ou menos como a praia, que uniformiza todo mundo. Por mais que o estádio tenha suas divisões, a arquibancada do Maracanã é o único lugar, num país de estratificação tão poderosa como o Brasil, em que ainda se vê um rico abraçar um pobre. Não entender todas essas características, e que o futebol imita a vida, como pouquíssimas áreas da atividade humana, é, no mínimo, uma pena.

(2KFOUR, 1996 apud SANTOS, 2002)

Enfocar-se-á nessa segunda seção do trabalho os aspectos sociais, econômicos e jurídicos inerentes à relação atual entre futebol e sociedade no Brasil. Para tanto, iniciamos o segundo capítulo com a longa e emocionada citação do jornalista Kfour, 1996 apud Santos,

2002 quando indagado sobre a influência do futebol na educação da juventude por compreendê-lo como uma manifestação cultural e que, por conseguinte, reflete irremediavelmente a sociedade. Em seu caráter histórico, o esporte reproduz características a uns só tempo locais e globais. Foi assim nas primeiras décadas no final do século XIX e início do século XX possuindo caráter elitista, proibitivo ou excludente e preconceituoso ou racista, configurava-se mera atividade de lazer, secundária e amadora. Posteriormente, passa a ser atividade principal, remunerada, especializada e aberta a todas as classes sociais e ressalte-se extremamente popular.

Algumas razões podem ser apontadas para levarem o futebol a conquistar tamanha popularidade. Entre elas, três se destacam: permite que seus praticantes possuam biótipos diversos (alto, baixo, magro, etc.); foi introduzido como uma prática da elite europeia, este fato conferia valorização social ou status aos praticantes; possui caráter imprevisível, o que agrega intensa emoção aos praticantes e aos espectadores.

2

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31 Assim, esse fenômeno de popularidade transformou-se em um esporte altamente competitivo, tecnológico, científico, planejado e cada vez mais mercadológico. Hobsbawm (2007) descreve-o como síntese da globalização por ilustrar perfeitamente o mundo contemporâneo. A capacidade de inserção na estrutura social faz do futebol uma potência de esporte universal, originando um extraordinário mercado e se revelando um agente inegável da globalização. Todavia, Hobsbawm aponta três aspectos negativos da globalização em relação ao futebol: o modelo vigente gerou um enfraquecimento da posição de todos os clubes que não são integrantes dos grandes torneios internacionais ou exportadores de craques; a lógica transnacional dos grandes clubes prejudica a identificação nacional; e o aumento do comportamento xenofóbico e racista entre os torcedores dos países europeus como Itália, Espanha e Inglaterra.

A alta adaptabilidade do futebol na estrutura social da sociedade moderna computa aspectos negativos e positivos, entre os primeiros há o forte impacto das pressões internacionais sobre o mercado interno da bola, que pode ser prejudicial para o local. Por outro lado, o futebol institui uma rede global, interligando países, idéias, competições e até comercialização de jogadores. O equilíbrio gerado pela magia do futebol em escala mundial, centrado na paixão local pelos clubes e na identificação com as seleções nacionais pode estar comprometido para Gurgel (2008) que explica que o equilíbrio global dos negócios e paixões, o modelo de globalização que está em marcha conduz a um futuro incerto para uma das

maiores paixões do ser humano. “Na prática, as dúvidas sobre a globalização do futebol não

se diferenciam das dúvidas sobre a globalização no sentido amplo, visto que os perdedores

nos dois casos são os mesmos.” (GURGEL, 2008, p.62)

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Tabela 1 - Crescimento da FIFA

Evolução do número de confederações associadas à FIFA

REGIÃO 1904 1925 1950 1975 1990 2007

EUROPA 8 28 32 35 36 51

AMÉRICA DO SUL 0 6 9 10 10 10

AMÉRICA DO NORTE E CENTRAL 0 3 12 22 27 35

ÁSIA 0 1 13 33 38 46

ÁFRICA 0 1 1 35 48 53

OCEANIA 0 0 1 4 8 12

TOTAL 8 39 68 139 167 208

Fonte: FIFA (2014)

O crescimento da FIFA reflete o interesse do mundo por esse esporte que, inegavelmente, é o mundialmente mais importante em termos econômicos por movimentar quantias de grande vulto quando bem gerido. A gestão desse esporte inserida na contemporaneidade não pode prescindir de valer-se dos recursos dispostos no meio atual. Adaptar-se, modernizar-se pode significar a sobrevivência, o fracasso ou o sucesso. Brunoro e Afif (1997, p.49) conceituando a gestão moderna assim a definem: “Modernidade significa estar a par de tudo aquilo que passa por um processo de transformação: teorias administrativas, avanços tecnológicos – na informática e na medicina esportiva – tendência de mercados de jogadores no Brasil e no exterior, etc.”.

Apesar da modernização e globalização do futebol, o saudosismo persiste. A esse respeito Helal (1997, p.17-18) defende que sua tese era a de que com a chegada da publicidade e da mídia retiraram “muito da aura mística e sagrada do futebol, fazendo com que este universo se transformasse em mero meio comercial, desencantando os torcedores e contribuindo para a queda do público.” Todavia, essa tese não se confirmou. Apesar de haver certa nostalgia pelo tempo "não comercial", mais "romântico" e "amador" do futebol, os torcedores acostumaram-se à mudança e compreenderam que a comercialização foi o meio encontrado para os clubes equilibrarem seus orçamentos.

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3.1 As Leis Econômicas do Futebol

As leis econômicas que regem o futebol-negócio diferem de outros mercados. Desse modo, o sucesso do clube e da liga disputada está interligado, uma vez que o interesse do torcedor incide sobre a incerteza, assim quanto maior a dúvida quanto aos resultados da partida e do grande vencedor maior será o público presente nos estádios. O equilíbrio entre as equipes mobiliza as torcidas e quando dois times similares se encontram a expectativa é de estádio cheio e grande audiência televisiva.O contrário se verifica quando uma equipe forte disputa com uma fraca, por conseguinte quanto mais disputa, maiores as receitas.

Os adversários precisam estar em pé de igualdade, pois a rivalidade é peça fundamental neste mercado esportivo diferenciado,em que os competidores necessitam-se para produzirem o que vendem. A transformação das partidas em eventos constitui outra lei econômica do futebol. “Os times deveriam disputar campeonatos organizados e conectados, em que todos os jogos valham pontos que levem ao título, e, este, a um campeonato mais importante e com maior grau de dificuldade”, segundo Aidar e Leoncini (2002, p. 117). Além disso, os jogos não devem ser excessivos para que o caráter especial não seja retirado.

Decorre dessas leis a importância de uma liga forte e de um bom calendário. A reestruturação dos estádios para garantir maior conforto aos torcedores também influencia os números desse mercado, pois muitos indivíduos pertencentes às classes média e alta deixam de comparecer aos jogos por estes não oferecerem comodidade e/ou segurança. A transformação dos estádios em arenas diversifica os negócios, favorecendo o consumo de alimentos e bebidas alcoólicas, a venda de itens esportivos – bonés, camisas dos clubes, entre outros. Um bom exemplo de obsolescência planejada é a mudança das camisas oficiais que ocorre anualmente. Aidar e Leoncini (2002) comparam a diversificação das fontes de renda dos clubes da atualidade com os do passado:

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34 Na base da geração de receitas estão os milhões de torcedores apaixonados, conforme Aidar e Leoncini (2002, p.121), “mas desde que parte dessa legião se transforme em clientes”. O tamanho da torcida determina o potencial da receita que cada clube pode gerar, logo, o valor de uma equipe sofre influência direta do número de torcedores. Alterar o tamanho da torcida demanda tempo e depende do desempenho dos jogadores em campo, em outras palavras, a torcida relaciona-se com a tradição e com os resultados positivos. Por outro lado, torna-se inviável não se levar em consideração o fator emocional quando se trata do torcedor, pois o mesmo não muda de time, embora este apresente fracassos, o que pode ser alavancado é a formação de futuros torcedores.

O potencial de geração de receitas para os times com maior torcida é enorme, se levarmos em consideração, por exemplo, conforme pesquisa pela Pluri Consultoria em 2012, que o Flamengo conta com uma massa de cerca de 29 milhões de torcedores, o Corinthians possui 25 milhões, o São Paulo 9,7 milhões, o Grêmio 5,8 milhões, o Cruzeiro 4,4 milhões. Em se tratando do campeonato cearense as duas maiores torcidas são a do Ceará com 1 milhão e do Fortaleza com 990 mil. Ainda para Aidar e Leoncini (2002, p.133) o torcedor constitui-se como o consumidor ou cliente final, os clientes intermediários se dividem em duas categorias – mercado de revenda (TV, mídia e empresas licenciadas) e mercado industrial (empresas interessadas em marketing), como demonstra a figura 2 a seguir.

Figura 2 - Mercados do Mundo do Futebol

Fonte:(Adaptado)A nova gestão do futebol (2002)

Os mercados produtor, intermediário e consumidor relacionam-se entre si e geram vários tipos de receitas a partir destes relacionamentos. Adair e Leoncini (2002, p.98) destacam algumas:

1 Mercado produtor

(Organizações de futebol – ligas e clubes)  

2 2

Mercado intermediário de revendaMercado intermediário industrial

(TVs, empresas licenciadas) (Empresas de marketing)  3

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 relacionamento comercial 1 – relacionamento com a TV (direitos de transmissão);

 relacionamento comercial 2 – relacionamento com o patrocinador principal (uso via marketing/co-gestão);

 relacionamento comercial 3 - relacionamento com loterias (exploração de jogos de azar);

 relacionamento comercial 4 – relacionamento com o cliente torcedor / amante do futebol (bilheteria/ merchandising);

 relacionamento comercial 5 – relacionamento com o patrocinador técnico (uso via marketing);

 relacionamento comercial 6 – relacionamento com empresas produtoras de bens (exploração da marca via licenciamento / placas de publicidade);

 relacionamento comercial 7 – relacionamento com outros clubes / federações / empresas patrocinadoras (negociações de jogadores).

Na conjuntura do futebol brasileiro, o papel dos jogadores torna-se essencial, uma vez que se apresenta como a principal fonte de renda de muitos clubes nacionais. Ainda sobre cadeias de relacionamentos no futebol negócio destaca-se o papel da mídia como “instrumento de divulgação, a propaganda como negócio, o comércio de mercadorias esportivas e a construção da logomarca de um produto”, conforme Adair e Leoncini (2002, p. 98).

Ter um produto que não sofra alteração de demanda quando seu preço se modifica e ao mesmo tempo tenha sua demanda incrementada com o crescimento da renda é o ideal para qualquer produtor. Economicamente o produto deve ter baixa elasticidade em relação ao preço e alta elasticidade em relação à renda informam Aidar e Leoncini (2002, p.115). O futebol quando bem gerido pode apresentar as duas condições expostas: baixa elasticidade em relação ao preço e alta elasticidade em relação à renda. A demanda por futebol é considerada inelástica em relação ao preço, já que não se abala fortemente à mudança de preço. Tornar esse segmento sem substituto para o torcedor é tarefa possível para uma gestão eficaz que se valha de todos os recursos e estratégias condizentes com as leis econômicas especiais aplicadas ao futebol.

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36 autor não há ainda certezas sobre tal realidade, todavia hoje a gestão amadora está definitivamente obsoleta. “O capital exige um mínimo de previsibilidade ou, ao menos, condições de calcular o risco do investimento. Para isso é necessário que haja uma gestão profissional que garanta um mínimo de organização.” (2002, p.34)Santos ainda reitera que décadas atrás, exigia-se tão somente a formação de um bom time para o campeonato seguinte uma dose de sorte, poderia definir o campeão. Hoje, até a alimentação dos atletas deve ser controlada e balanceada de acordo com as necessidades de cada jogador durante o ano.

Na história da evolução do futebol moderno, inúmeras batalhas forma travadas: amadorismo versus profissionalismo, esporte-prática versus esporte-espetáculo, esporte de

elite versus esporte popular, clube social versus clube empresa profissional e mais

recentemente gestão amadora versus gestão profissional. Para Aidar e Leoncini (2002, p. 81),

em cada dessas batalhas um sistema esportivo responsável pela oferta de produtos esportivos se posiciona configurando a oferta do setor. Para os autores citados, essa oferta compõe-se por um sistema de instituições e agentes direta ou indiretamente ligados à existência de práticas e de consumos esportivos:

 agrupamentos esportivos (clubes, ligas, CBF e federações estaduais);

 produtores e vendedores de bens necessários à pratica (equipamentos esportivos, exemplo: Nike, Adidas e etc.);

 produtores e vendedores de serviços diretos ( professores, treinadores, médicos especialistas e outros);

 produtores e vendedores de espetáculos esportivos e bens associados ( loterias esportivas, transmissões pelas TV e outros).

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3.2 Aspectos Jurídicos e Econômicos do Futebol Profissional

A Constituição Federal Brasileira de 1988 nos artigos 5º e 217 detalha e sistematiza a matéria relativa à prática esportiva. O primeiro artigo mencionado trata das garantias e direitos fundamentais, como demonstram os incisos XVII e XVIII, conforme Aidar e Leoncini (2000, p 21)

“XVII - é plena a liberdade de associações para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;”

“XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem da autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.”

XXVIII, “a” assegura a proteção à reprodução da imagem e voz humanas nas práticas esportivas:

“a) a proteção a participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e da voz humanas nas individuais inclusive nas atividades coletivas.”

Já a competência para o Estado legislar, está prevista no artigo 24:

“Art. 24. Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre”:

IX –“educação, cultura, ensino e desporto;”.

O artigo 217 destaca que: “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados.” Conforme Aidar e Leoncini (2000, p.22):

I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes de associações, quanto à sua organização e funcionamento;

II – a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;

III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional; IV –a “proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.”.

A leitura dos artigos que versam sobre o desporto revela a clara intenção de minimização da ingerência estatal na gestão do esporte, em contraposição aos documentos anteriores emitidos pelo Estado Novo, o decreto-lei nº. 3199 de 1941, por exemplo, caracterizados pela forte presença estatal na gestão do esporte.

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38 Fernando Collor de Melo. Esta lei serviu de precursora a uma série de conceitos incorporados em 1998 pela Lei nº 9.615, a “Lei Pelé”. Todavia, a “Lei Zico” antes de ser revogado pela “Lei Pelé”, legislou sobre os seguintes pontos:

a) facultou às entidades de prática e às entidades federais de administração do esporte a manutenção da gestão de suas atividades a cargo de sociedades com fins lucrativos;

b) arquitetou a criação das ligas regionais e nacionais;

c) coligou o direito de arena na conjuntura de uma legislação especificamente esportiva;

d) regulamentou a Justiça Desportiva.

A “Lei Zico” objetivava disciplinar as relações do esporte por meio de um projeto de profissionalização que visava à criação do clube-empresa e a regulamentação dos jogos de azar. Contudo, este novo projeto foi desfigurado na Câmara dos Deputados, pois as mudanças não interessavam aos dirigentes esportivos que garantiram através de acordos políticos a manutenção da estrutura vigente. Ao final da votação, na referida Câmara a lei tão somente se converteu numa lei dos bingos que regularizou tal jogo de azar no país. Mais tarde, o projeto do Ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento resgataria pontos importantes vetados. Aidar e Leoncini (2000, p.22-23) esclarecem sobre as motivações da Lei Pelé:

A implementação de medidas moralizadoras: que, sem ferir o princípio constitucional da autonomia das entidades desportivas, colocam o esporte brasileiro na direção do futuro, profissionalizando as relações decorrentes de sua prática e inserindo a iniciativa privada em seu processo de desenvolvimento. Entre essas “medidas moralizadoras” merecem destaque o fim do passe, previsto no art. 28; a democratização dos processos eleitorais das entidades nacionais de administração do desporto, no art.22; e o art. 27, que, no prazo de dois anos da promulgação da lei, passaria a limitar a participação em competições envolvendo atletas profissionais às sociedades civis com fins econômicos, às sociedades comerciais admitidas na legislação em vigor ou às entidades de prática desportiva que constituíssem sociedade comercial para administração de suas atividades esportivas.

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39 desportiva; vedação da participação simultânea de uma mesma empresa na gestão de mais de um clube e representação da sociedade por dirigente com mandato eletivo.

No artigo “Parecer jurídico sobre as alterações na Lei Pelé3” (In: AIDAR e LEONCINI, 2000, p 54-60) os autores defendem que o texto ao tratar sobre a primeira amarra-manutenção do controle obrigatório da entidade de prática desportiva de 51% no mínimo e direito a voto - “há uma clara e desautorizada ingerência na organização e funcionamento dessas entidades e suas confederações, o que é vedado pelo (...) inciso I do art. 217 da Constituição Federal.” Sobre a segunda amarra - vedação da participação simultânea de uma mesma empresa na gestão de mais de um clube – os pareceristas afirmam que a intenção consiste em “vedar a terceiros formas de parceria, contratuais ou societárias, pelas quais estes passariam a exercer o efetivo controle de prática desportiva.”

O artigo supramencionado traz ainda uma nota sobre a Lei nº 9.981 por alterar a nomenclatura de “semiprofissional e amador” para “não profissional”, assim o atleta não mais se define pela idade, mas pela inexistência de contrato de trabalho, ou seja, fica desassistido pela legislação trabalhista. Todavia, o clube caso queira exercer com o atleta não profissional o “contrato de preferência” terá o direito de assinar com este o primeiro contrato de profissional, cujo prazo não poderá ser superior a dois anos.

Por sua vez, o texto “Desmitificando a Lei Pelé” In: Aidar e Leoncini (200, p.61-64) trata do artigo 28 da Lei Pelé previa o fim do passe do atleta profissional para março de 2000, o prazo foi então alterado para o ano seguinte e com a ressalva de que os direitos adquiridos decorrentes dos contratos de trabalho e os vínculos desportivos dos atletas profissionais deveriam ser respeitados. Para Aidar as diversas medidas provisórias que sucederam a “Lei Pelé” representam um retrocesso no que tange às inovações anteriormente asseguradas pela referida lei. Segundo Aidar: “Voltamos aos princípios da Lei Esportiva de 1976, da época do regime militar. A obrigatoriedade da transformação dos clubes em empresas virou opção.” Ainda para o autor as possibilidades abertas pelo clube-empresa, na busca por uma administração profissional e transparente tornou-se mais difícil o que ocasiona a limitação da capacidade de multiplicação de renda e emprego nesse setor. “Enfim, mudaram para pior.”

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40 Ainda sobre as alterações das medidas provisórias, para Aidar (2002) a mais comprometedora do modelo modernizador da Lei Pelé reside em “tratar como amadores os atletas de modalidades esportivas diferentes do futebol. Por isso, somente como exceção a profissionalização vai acontecer nessas modalidades.” (AIDAR, 2002, p.63) O autor ainda ressalta que a Lei nº 9.981 “cria uma forma disfarçada do passe” ao dificultar o cálculo da multa tendo em vista a redação utilizada, pois da forma prevista, o texto legal parte da premissa de que somente o atleta é o causador da rescisão. Logo, na realidade, corre-se o risco de que as indenizações tornem-se objeto de longas batalhas jurídicas.

Logo, o passe extingue-se, ou pelo menos, modifica-se a partir da promulgação da “Lei Pelé”, assim, o clube não mais detém a posse do jogador. Ambas as partes firmam um contrato definidor de prazo, salário, direitos de imagem, premiações. Os direitos de imagem ou de arena referem-se ao uso da imagem do jogador durante as partidas disputadas, em reportagens, reprises, compactos, notas em jornais e revistas. O conceito vigente é que a divulgação do ídolo significa publicidade para o clube o qual deve pagar por tal bônus que gera publicidade. Há um tipo de contrato que vem sendo adotado com maior frequência.Trata-se do contrato por performance que frequência.Trata-se bafrequência.Trata-seia na performance do atleta como parâmetro para seus ganhos. O lado positivo de tal contrato reside no fato de que o jogador depende apenas de si para alcançar as metas desejadas e não do desempenho da equipe, além de estimulá-lo a render mais em campo.

Por outro lado, o fim da lei do passe foi inicialmente bastante questionado por muitos jogadores que argumentavam a perda da segurança de pertencer a um clube e, consequentemente, ter um salário garantido. Atualmente, percebe-se que a profissionalização dos jogadores ainda não alterou significativamente o contexto de administração dos recursos ganhos durante a carreira. De um modo geral, os atletas após a curta carreira gastam o que receberam até o completo esgotamento dos recursos. Para Santos(2002), com relação à forma como os atletas encaram sua profissionalização a maturidade ainda deve ser alcançada:

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A transformação que houve nos anos 1920 e 1930 não foram suficientes para romper com essa estrutura de dominação vigente, que mantém os jogadores numa posição subserviente, sem participar das decisões importantes. Ele apenas treina, joga, recebe o salário e uma bronca ou um afago, dependendo do seu comportamento.

A profissionalização do atleta ainda é um processo que está por concluir. Essa transformação provavelmente só virá quando isso se fizer necessário. Isso só acontecerá quando o sistema finalmente adotar técnicas gerenciais de administração, porque, nesse caso, haverá um aumento das exigências no trato do capital que se estenderá aos jogadores. O risco do investimento tem que ser diminuído ao máximo e, para isso, todas as variáveis controláveis deverá estar em seu nível máximo, o que, em outros termos, significa um atleta na sua melhor forma física e técnica, o que só se consegue com uma postura de seriedade em relação à sua carreira. (SANTOS, 2002, p.88)

Ainda para Santos(2002) as mudanças dos últimos cem anos no mundo do futebol afetaram pouco a ética e a lógica do esporte mais popular brasileiro, com exceção da aceitação de pobres e negros e da profissionalização, o restante se configura “como uma lenta melhoria das condições do esporte” (SANTOS, 2002, p. 104) sujeita em alguns momentos a pioras. Somente nos anos de 1990 as mudanças tornaram-se inevitáveis ocasionadas por determinantes externos, tais como a rápida evolução da telemática que possibilitou a melhoria do acesso à informação e a desregulamentação da economia que criou um ambiente de maior liberdade para a troca à negociação. Santos (2002) ressalta que “o futebol foi o campo onde todo um ethos conservador, oligárquico e ultrapassado se manteve vivo. Não é à toa que a gestão das instituições, principalmente onde se dá a tomada de decisões, se manteve quase intacta em quase cem anos de existência...”(SANTOS 2002, p.108)

Por fim, as leis econômicas e jurídicas que regem o futebol inserem-se numa conjuntura maior e refletem a complexidade de uma dada sociedade com todas as suas contradições e distorções, avanços e retrocessos. Para Edson Arantes do Nascimento em prefácio ao livro A nova gestão do futebol (2002, p.15-16) quando da criação da Lei 9.615

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42 O pensamento de Nascimento4(In: AIDAR E LEONCINI, 2002) encontra respaldo na pesquisa realizada pela Pluri Consultoria em 2011 intitulada “O PIB do esporte brasileiro” baseada na seguinte questão: Qual o peso do esporte na economia brasileira? O estudo projeta um crescimento de 22% do esporte na economia brasileira no período de 2011 a 2016 impulsionados pela Copa do Mundo e Olimpíadas a serem realizadas no país em 2014 e 2016, respectivamente. Todavia, na comparação com o peso dos esportes na economia de outros países, o Brasil está abaixo do esperado para sua condição de país de futebol. Nesse contexto, Nova Zelândia registra 2,8%, Austrália: 2,3%, Estados Unidos: 2,1%, Inglaterra: 1,8%. Já o Brasil alcança 1,6% em 2011 e para 2016 o índice projetado sobe para 1,9%.

Conforme Nascimento (2002, p.15-16) a referida lei “era a estrada e o capital investidor, o veículo, que levariam o futebol e o esporte brasileiro rumo ao mercado.” Tal mercado seria formado por estádios novos, campeonatos racionais e rentáveis, produtos oficiais de qualidade e contratos de trabalhos mais justos. A geração de empregos e renda se daria por meio “da construção de estádios, da organização dos torneios, da produção das linhas de licenciamento e da assessoria aos atletas”. Renda que atingiria as categorias de base, projetos entre clubes e escolas e comunidades carentes, enfim: “Seria a revolução social da alegria, movida pela paixão pelo esporte.” Todavia, a legislação posterior à lei 9.615 tornou esse caminho mais longo, mas “esse caminho é irreversível”.

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Figura 1 - Principais Fases do Futebol
Figura 2 - Mercados do Mundo do Futebol                                 
Tabela 2 - Formação da Região Metropolitana de Fortaleza
Tabela 3 - Campeonato Cearense Série A - 2008
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Referências

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