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TRABALHO DE PROJECTO Linguística das Variedades e Tradutologia - uma relação a explorar a partir do manual "Varietätenlinguistik"

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Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Tradução de Alemão, realizado sob a orientação

científica de Ana Maria Bernardo

(2)

AGRADECIMENTOS

A redacção desta memória e a realização do projecto respectivo beneficiou do

apoio inestimável de algumas pessoas e instituições.

Em primeiro lugar, gostaríamos de exprimir aqui o nosso mais profundo

agradecimento à nossa orientadora, na pessoa da Doutora Ana Maria Bernardo, sem a

qual não teríamos levado a bom porto este trabalho. Constituiu uma honra, um orgulho,

uma satisfação e simultaneamente uma leveza poder contar com o rigor, a credibilidade,

a humanidade e o pragmatismo inigualáveis da Doutora Ana Maria Bernardo,

personalidade cimeira nos estudos tradutológicos e, desde há alguns anos, nossa grande

influência.

Em segundo lugar, estamos extremamente agradecidos ao Professor Carsten

Sinner, por nos ter acolhido em Leipzig, por demonstrar uma afabilidade e uma atenção

raras e por nos ter permitido debruçarmo-nos sobre a sua valiosíssima obra. Contituiu,

de facto, um enorme privilégio termos travado conhecimento com uma figura da

craveira intelectual do Professor Carsten Sinner.

Em terceiro lugar, endereçamos os nossos agradecimentos por um lado à

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que sempre

acorreu às nossas solicitações em tempo útil e de forma atenciosa e, por outro, ao

Institut für Angewandte Linguistik und Translatologie da Universidade de Leipzig, que

revelou uma disponibilidade invulgar na disponibilização de recursos.

Por último, um agradecimento a todos os nossos familiares e amigos que, de

variadíssimas formas, demonstraram o seu apoio e compreensão. Dentre estes, um

muito especial a Jessica Klosa, uma companheira de vida que sempre nos deu força para

(3)

TRABALHO DE PROJECTO

Linguística das Variedades e Tradutologia - uma relação a explorar a partir do manual "Varietätenlinguistik"

PEDRO AUGUSTO FERREIRA

RESUMO

O presente trabalho de projecto pretende explorar a relevância teórica e prática

da variação linguística para a Tradutologia e para a prática da tradução. Pretende

também contribuir para a divulgação na comunidade académica lusófona da

problematização conceptual em torno da variação linguística levada a cabo no meio

germanófono, bem como discutir as suas possibilidades de transposição tradutória para

a língua portuguesa, variedade europeia.

Nele se descreve o processo tradutório da publicação em língua alemã

“Varietätenlinguistik”, em particular a análise do texto de partida relevante para tradução segundo a proposta de Christiane Nord (1988). A análise factorial leva a prever-se a obtenção de uma tradução instrumental de cariz equifuncional com o propósito de cumprir as funções do TP no RC. Problematizando igualmente as traduções como variedade da língua, este trabalho sugere para o TC uma crescente estandardização, conservadorismo e menor criatividade que o TP e outros textos originais comparáveis na

LC, colocando o TC a obter, enquanto variedade, num contínuo variacional hipotético

entre o tradutorês e a invisibilidade do tradutor.

(4)

PROJECT

Variety linguistics and translation studies – the handbook "Varietätenlinguistik" and their possible connections

PEDRO AUGUSTO FERREIRA

ABSTRACT

This project aims at exploring the theoretical and practical relevance of linguistic

variation for translation studies and translation practice. It also aims at raising

awareness of its conceptualization within German-speaking academia and also at

discussing its translation possibilities into Portuguese, European variety.

It describes the translation process of the German handbook

“Varietätenlinguistik”, notably the translation-relevant source-text analysis according to Christiane Nord's (1988) approach. The factor analysis allows for predicting a target text that is an equifunctional, instrumental translation and that intends to transpose source-text functions to the target recipient. It also approaches translations as language varieties and suggests that the target text will exhibit growing standardization, conservatism and

reduced creativity when compared to the source text and other comparable original texts

within the target language. This places the prospective target text, as a variety, on a

hypothetical variational continuum between translationese and the translator's invisibility.

(5)

ÍNDICE

Introdução... 1

I: Descrição do projecto “Varietätenlinguistik”... 2

I. 1. Objectivos e contexto de aplicação ... 3

I. 2. Meios e metodologia adoptados...4

II: A abordagem textual em Tradutologia... 9

II. 1. Enquadramento teórico e a contribuição de Nord... 9

III: Análise do texto de partida relevante para tradução... 17

III. 1. Considerações iniciais... 17

III. 2. Factores extratextuais... 19

III. 3. Factores intratextuais... 36

III. 4. A questão do efeito... 58

IV: As traduções enquanto variedades... 61

Conclusões... 69

Bibliografia ... 73

Anexos ... 76

Anexo A: Glossário de siglas utilizadas ... 78

Anexo B: Glossário terminológico bilingue ... 78

(6)

INTRODUÇÃO

A presente memória de projecto pretende dar conta de parte do processo

tradutório da publicação em língua alemã “Varietätenlinguistik” para português europeu, particularmente da análise de texto relevante para tradução, aplicada ao TP, segundo a proposta de Christiane Nord (1988). Esta, sendo de base funcionalista mas incluindo um olhar renovado sobre esse mesmo TP e somando-lhe o princípio ético da lealdade, pressupõe a análise da situação comunicativa do TP (interrelação entre factores situacionais ou extratextuais e factores intratextuais), a qual é depois contrastada com o

skopos pretendido para a tradução.

Este trabalho escrito desenrola-se em quatro capítulos. O primeiro contém uma descrição do projecto “Varietätenlinguistik”, seus objectivos e contexto de aplicação, bem como os meios e metodologia adoptados. O segundo procura enquadrar teoricamente a abordagem textual em Tradutologia, ressaltando a contribuição de Nord naquele campo. O terceiro constitui o cerne deste trabalho, apresentando uma análise do texto de partida relevante para tradução, com destaque para a função do texto e para a discussão da questão do efeito. O quarto e último apresenta-se como segmento quiçá mais inovador, ao discutir, com base em informações suscitadas pelo TP, o carácter das traduções como variedades da língua e a problemática da variação em tradução, bem como as consequências disso para o nosso próprio TC.

(7)

I - Descrição do projecto “Varietätenlinguistik”

I.1. Contexto de aplicação e objectivos

A memória de projecto que ora se apresenta refere-se a uma empresa que se encontra ainda em fase intermédia de concretização. Isto porque engloba não apenas a “aplicação original dos conhecimentos e competências adquiridas”, como a “satisfação de fins sociais, culturais e/ou económicos identificados”1. A primeira citação diz

respeito à tradução propriamente dita e em sentido restrito, ou, usando a distinção entre diferentes estádio de elaboração que Koller (1979) leva a cabo, a uma tradução de trabalho, uma posição intermédia entre o borrão de tradução e a versão final, em que sobressai uma utilização mais intensiva dos meios auxiliares do tradutor e a não infracção das normas gramaticais e lexicais da LC2, sendo estilisticamente aceitável

(Bernardo 2009: 188). A segunda corresponde ao conceito kolleriano de versão final, a da tradução de longa vida, com um círculo de receptores ilimitado, utilização de todos os meios auxiliares (eventualmente perguntas ao autor ou recurso a peritos, cotejo da versão definitiva com o original, requisitos de qualidade) e adequação da forma linguística à finalidade da tradução (Bernardo 2009: idem).

Quer isto dizer que esta memória se debruça sobre a análise de texto de partida relevante para tradução da obra de 2014, em língua alemã, “Varietaetenlinguistik”, da autoria de Carsten Sinner, director do IALT, Institut für Angewandte Linguistik und Translatologie da Universidade de Leipzig. Essa análise foi o ponto de partida metodológico para a elaboração de uma espécie de tradução de trabalho (cujos trechos julgados relevantes serão apresentados em anexo). A Universidade de Leipzig é reconhecidamente uma das mais antigas e prolíficas instituições no campo da 1

Segundo o Regulamento interno da componente não-lectiva, Trabalho de Projecto, in

https://intranet.fcsh.unl.pt/alunos-informacao-academica/mestrados/normas-regulamentares/regulamento-interno-componente-nao-lectiva-trabalho-de-projecto, consultado a 15/06/2017.

(8)

Tradutologia, com uma contribuição inegável para a autonomia científica dos estudos tradutológicos. Com efeito, foi naquela instituição lipsiana que o conceito de translação foi avançado para melhor descrever o fenómeno tradutório, pois que lhe somaria à função comunicativa e social um carácter teleológico que permitiria ao tradutor produzir um texto com valor comunicativo equivalente. Os princípios fundamentais da escola funcionalista, que se baseou em muitos dos pressupostos da Escola Tradutológica de Leipzig e na qual se baseia a metodologia de análise textual que escolhemos para o nosso projecto, remetem para essas três características fulcrais: acto comunicativo, função social e objectivo da tradução (cf. Bernardo 2010: 52).

Convém acrescentar desde já que este projecto se concretizará plenamente apenas com a edição, em língua portuguesa, variedade europeia, de uma tradução final do mesmo texto, socorrendo-se obrigatoriamente da necessária adequação, em consonância com as directrizes de uma editora interessada, e de um especialista em Linguística, e, mais concretamente, em Variação Linguística, que possa efectuar a revisão científica da obra. Enviamos já e-mails a diversas casas editoriais que julgássemos potencialmente interessadas nessa mesma edição, ainda sem respostas concludentes.

O projecto reveste-se, portanto, de uma intervenção num domínio pertinente para a área de especialidade do nosso mestrado, visando ainda o “desenvolvimento de conteúdos intensivos em conhecimento”3 sob a forma de um manual em Linguística das

Variedades. Além do objectivo editorial principal, foram elencados os seguintes objectivos parcelares:

1 - explorar a relevância teórica e prática da variação linguística para a Tradutologia e para a prática da tradução;

2 - dar a conhecer à comunidade académica e profissional lusófona aspectos

relacionados com a problematização conceptual em torno da variação linguística levada

a cabo no campo germanófono, bem como discutir a sua relação com o correspondente

sistema conceptual português e possibilidades de transposição, por via tradutória, para a

língua portuguesa;

(9)

3 - aprofundamento dos conhecimentos e práticas de tradução de textos

científicos na área da Tradutologia e Linguística (textos LSP), graças também à

possibilidade de retorno, in loco, proporcionado pelo autor do manual a ser traduzido.

Em termos dos potenciais beneficiários ou públicos visados por este projecto de

tradução, julgamos que a função do texto, revelada pela análise textual inicial, a de

divulgação científica, se pode manter no TC. Assim, visará tanto os estudantes (dos três

ciclos de estudos) de universidades do espaço lusófono, matriculados em disciplinas

mais concretamente ligadas à Linguística das Variedades e cursando não só

especificamente Linguística, como também Tradução ou Ensino de Língua Estrangeira,

como também um público mais geral interessado por estas temáticas.

I.2. Meios e metodologia adoptados

A competência tradutória pode ser definida como “um feixe de várias

competências parcelares distintas: competência linguística, competência textual,

competência cultural, competência técnica, competência de investigação e competência

de transfer.” (Bernardo 2001:559). A propósito da competência textual, destacamos a

competência analítica, a capacidade de identificar os factores internos e externos do

texto que condicionarão as escolhas do tradutor ao longo do processo tradutório.

A actividade central neste projecto contemplou a análise relevante para tradução

do TP “Varietätenlinguistik”, focando-se em aspectos que pudessem ser fonte de

problemas de tradução com o intuito de preparar a tradução propriamente dita, após

análise de características sintácticas, semânticas e estilísticas, bem como da situação

comunicativa (cf. Williams 2002: 6). Intentou-se seguir as directrizes elaboradas por

Christiane Nord (1988) apreendidas no âmbito do presente curso de mestrado, e

beneficiando do saber transmitido pela orientadora deste projecto na FCSH, que,

julgamos, continuam a ser sólidas linhas orientadoras de qualquer prática tradutória,

além do mais provenientes do mesmo campo académico germânico.

Tendo em conta a natureza do TP, o trabalho exploratório inicial aflorou

(10)

especialidade, com vista ao traçar de possíveis relações entre os dois sistemas

linguístico-conceptuais em diálogo. Esse trabalho levou à leitura de textos paralelos em

língua portuguesa, que são listados na bibliografia, muitos dos quais recomendados pelo

autor e citados pelo próprio no TP. Destacamos a “Introdução Básica à Linguística do

Português”, tradução de António C. Franco, edição Colibri de 2015 com base num TP

de 2008 editado precisamente pela Narr, a editora alemã do nosso TP4. Foi com base

nestoutro manual, mais especificamente no referido capítulo e no seguinte, sobre

“Evolução do português fora de Portugal” que elaborámos um glossário exploratório

(ver Anexo 2). Este manual da Colibri acabou por constituir uma referência em termos

de normas e escolhas de tradução a seguir, não só em termos lexicais e conceptuais (a

começar pelo título que propomos para o nosso TC), como também de estruturação do

texto, de que é exemplo a opção pela não tradução dos exercícios apresentados no TP. A

leitura de um relatório de estágio decorrido na editora Colibri e que se detém

precisamente sobre esta obra garantiu-nos a credibilidade final do processo de edição da

mesma, mormente atentando na análise textual que é feita quanto aos marcadores de

intenção comunicativa, marcas enunciativas, marcas composicionais e marcas

organizacionais e marcas temáticas (Pereira 2015: 71-72).

Outro domínio que tocamos com o nosso trabalho tem que ver naturalmente com

a formação de tradutores, área sobre a qual o modelo de Christiane Nord também se

debruçou. A propósito da aplicação do seu modelo a este domínio, Nord diferencia

dificuldade de problema, avançando que as dificuldades não são qualidades inerentes a

um texto, mas sim subjectivas e dependentes da formação do tradutor e respectivas

condições de trabalho. Já no caso de um problema, tratar-se-á de uma tarefa de transfer

objectiva que qualquer tradutor terá de resolver, independentemente daquelas condições

referentes às dificuldades, durante um processo de tradução particular (cf. Nord 1987:

5-8).

No âmbito da formação de tradutores, para a especificação do grau de

dificuldade de uma tarefa tradutória, Nord (1991) defende que se devem ter em conta os

seguintes parâmetros, correspondentes a diferentes fases do processo tradutório:

(11)

1 - o grau absoluto de dificuldade do TP, na fase da sua análise;

2 - o nível de conhecimento e competência do tradutor, incluindo conhecimento

factual, competência na LP, competência de transfer, competência na LC, em todas as

três fases;

3 - as instruções de tradução e os problemas pragmáticos, culturais e linguísticos

que envolvem;

4 – as condições técnicas e de trabalho, nas fases de análise do TP e de produção

do TC. E

Estes parâmetros originariam quatro categorias de dificuldades de tradução, as

quais se confirmaram igualmente para o nosso caso, tendo sido igualmente evidenciadas

pela análise ao TP:

a) dificuldades específicas ao texto – o grau de compreensibilidade do TP,

dependente de factores intratextuais e analisável através do cariz do conteúdo,

pressuposições, estruturas sintácticas, clareza da estruturação do texto, traços

supra-segmentais e elementos não-verbais;

b) dificuldades dependentes do tradutor – nível de conhecimento e competência

do tradutor, tendo em conta que mesmo o tradutor mais experiente encontra dificuldades

relacionadas com a inexistência de uma competência total, havendo sempre uma

décalage entre o domínio da LP e o da LC, a nativa;

c) dificuldades pragmáticas – relacionadas com a natureza da tarefa e a

orientação do TP para uma situação que não corresponde à de efectivação do TC,

podendo, contudo, ser reduzidas com as instruções de tradução (as quais, porém, no

nosso caso, foram sendo definidas ao longo do processo);

d) dificuldades técnicas – relacionadas com a diferença de conhecimentos entre a

temática e conteúdo do TP e o nível de conhecimento e competência do tradutor,

podendo ser minoradas com a consulta de textos paralelos, textos modelo, textos

(12)

dicionários (foi o que tentámos fazer com a elaboração do glossário inicial e a consulta

à literatura de apoio).

Nord distingue ainda quatro categorias de problemas:

i. pragmáticos, decorrentes do contraste entre a situação de uso do TP e

aquela para a qual é produzido o TC;

ii. derivados de convenções, que surgem das diferenças de convenções

comportamentais entre CP e CC (convenções de tipo de texto, convenções de tradução,

etc.);

iii. linguísticos, relacionados com as diferenças estruturais entre LP e LC;

iv. próprios do texto, ligados às características do TP (cf. Nord 1991: 167).

Neste cômputo, refira-se, por um lado, que o trabalho teve assistência do

programa de pesquisa assistida da Bibliotheca Albertina da Universidade de Leipzig,

que serve a Faculdade de Filologia onde está albergado o instituto de onde emanou o

TP. Por outro, e fruto igualmente, mas não só, dos contactos tidos com o autor, a

selecção de excertos a traduzir procurou respeitar critérios como a relevância das

temáticas versadas, mormente no campo dos estudos tradutológicos, para as

comunidades de língua portuguesa, beneficiando do contributo e produção académica

particularmente notável do espaço de língua alemã.

De relevar será a ausência de manuais específicos equivalente ao TP na

bibliografia portuguesa, com excepção do sub-capítulo na publicação da editora Colibri

que mencionámos atrás, conforme nos confirmou uma pesquisa em várias bibliotecas

universitárias e sítios de editoras. Assim, para a consideração de textos paralelos,

baseámo-nos em artigos em língua portuguesa (tanto na variedade europeia, como

brasileira) sobre variação linguística, em que predomina a perspectiva dialectológica5 e

se verifica já consciência para os campos de estudo da variação (diacronia, diatopia,

diastratia e diafasia), ainda que a visão meramente diacrónica e diatópica da variação

(13)

seja o tom geral ou uma apresentação predominantemente descritiva da distribuição

sociolinguística de segmentos fonológicos (Rodrigues 2016: 98). Pelo autor do TP

foi-nos sugerido o volume VI, sobre o Português, no Lexikon der Romanistichen Linguistik

(1994), que, efectivamente, contém uma análise aprofundada de temáticas como a

sociolinguística, a variação dialectal, os tecnolectos, as gírias e, inclusive, uma

“linguística variacional”, como correspondente para “Varietätenlinguistik”. O facto de

se nos apresentar como uma obra por vezes causadora de demasiado estranhamento do

ponto de vista sintáctico, o que foi confirmado por Carsten Sinner como indício de

tradução, levou-nos a descurar esta obra como fonte principal de escolhas tradutórias.

Contudo, contém observações valiosíssimas, como o facto de a disciplina da Linguística

das Variedades ainda estar nos seus inícios em Portugal (Holtus 1994: 623), bem como

uma análise à distribuição de marcas diassistemáticas na célebre gramática de

(14)

II: A abordagem textual em Tradutologia

II.1. Enquadramento teórico e a contribuição de Christiane Nord

A valorização do texto traduzido como unidade linguística pode ser isolada

como abordagem própria, dada a especificidade que as suas contribuições indiciam em

termos de visão da tradução, sofrendo influência de disciplinas como a teoria da acção e

cognitiva, além de que, como avança Bernardo (2009), comporta uma forte presença de

tradutólogos de expressão alemã, com perspectivas sólidas e inovadoras. Destaque para

o papel fundador de Hartmann (1964) na descrição da pluralidade de tipos de texto e de

Schmidt (1976) na teoria de texto sob a influência da teoria dos actos de fala e teoria

sistémica. As noções textuais linguísticas mais produtivas para a Tradutologia incluem a

de espécies de texto, cuja análise fornece pistas importantes para o tradutor, as noções

de pragmática textual como a intenção do autor, força ilocucionária do texto e seus

pressupostos, o domínio da temática textual (e a sequência proposicional do tema e

conteúdo que o tradutor deve buscar, bem como coerência interna), e as de semântica e

sintaxe textual. Segundo Bernardo, os estudos de tradução de expressão inglesa

(Snell-Hornby, Pym), apesar de reiterarem a importância de uma visão global do texto, não

auxiliarão o tradutor a lidar com a textualidade com a mesma profundidade que as

abordagens germânicas (Bernardo 2009: 638).

Livro fundacional que enfatiza a vertente pragmática, comunicativa e accional

do texto é Einführung in die Textlinguistik, de Beaugrande e Dressler (1981), que faz

parte de um conjunto de obras que perspectivam o texto como unidade sígnica

empregue numa situação comunicativa, com uma determinada função, espelhando uma

intenção e visando um efeito, visão funcional do texto que virá a ser adoptada pela

perspectiva funcionalista (Bernardo 2009: 640). Nord refere que os autores designam o

texto como ocorrência comunicativa (Nord 1991: 13), um conceito de textualidade de

cariz accional, pois as noções de textualidade centradas no texto, tais como coerência,

coesão e os procedimentos a elas relacionados (recorrência, paralelismo, paráfrase,

(15)

relevância por contraste com situação e função (Nord 1991: 12). Beaugrande e Dressler

tomaram em consideração o facto de haver situações em que mesmo não-textos têm de

ser aceites como textos, tendo adicionado às noções centrais atrás referidas outras

noções centradas no utilizador, como a intencionalidade e a aceitabilidade (atitudes do

falante e do ouvinte) e os factores sociais de situacionalidade e intertextualidade (Nord

1991: 13).

O estabelecimento de tipologias textuais relevantes para tradução remontarão a

Fedorov (1953), destacando-se igualmente Jumpelt (1961) e sua distinção de seis tipos

de texto, também designados por géneros de tradução. Neubert (1968) procede a uma

divisão consoante critérios pragmáticos de contextos de recepção e de potencial

relevância dos textos para os receptores: TP e TC com finalidades idênticas,

dirigindo-se aos leitores de ambas as culturas (texto científico); TP voltado para o contexto de

partida (imprensa, jurídico); texto oriundo de um determinado contexto mas dirigido a

todos os públicos (literário); textos produzidos para serem traduzidos com vista a um

contexto de chegada (Bernardo 2009: 640).

Bernardo considera, contudo, esta tipologia demasiado genérica, mais próxima

de um modelo ideal do que de traduções concretas, apesar de assentar em parâmetros

que o tradutor deve ponderar (distância entre contextos comunicativos e conhecimentos

prévios) (Bernardo 2009: 641). Também Nord, partindo, tal como Neubert, de critérios

pragmáticos da recepção do texto, parece querer ultrapassar este problema de equivaler

um tipo de tradução com um tipo de texto, pois defende que a recepção depende das

expectativas individuais determinadas pela situação e pelos factores sociais,

pressupostos e necessidades comunicativas do receptor, pelo que um texto (que

permanecerá provisório até ser recebido, até ver a situação comunicativa completada e a

sua função definida) pode ter tantas funções quanto receptores. Por isto, Nord sugere

que a solução passa por, primeiro, controlar a recepção do TP por meio de um modelo

de análise exaustivo cobrindo todas as características textuais relevantes e, segundo,

controlar a produção do TC por meio de rigorosas instruções de tradução que governem

a função (prospectiva) do TC (Nord 2009: 17).

Nord critica igualmente as tipologias que reclamam serem “relevantes para a

(16)

publicaria a primeira tipologia textual, depois modificada em 1976, e com base no

“organon” de Bühler sobre as funções da linguagem (Nord 1991: 20). Esta tipologia

engloba não só teorias dos tipos de textos, como também das espécies de texto,

distinguindo classe de texto (formas de textualização em sistemas semióticos diversos),

tipo de texto (resultante da função da linguagem predominante) e género de texto

(representando um conjunto de textos com estruturação fixa, assentes em convenções

históricas e socioculturais de uma comunidade linguística) (Bernardo 2009: 643). Reiß

propôs inicialmente um divisão triádica (informativo, estético, apelativo ou operativo),

acrescentando depois o audio-medial (ou subsidiário), categoria que abandonou em

obras posteriores.

O tipo de texto constituiria um dos fundamentos para, em articulação com a

função da tradução, determinar o método de tradução, como o indica em 1983 na obra

Texttyp und Übersetzungsmethode (Bernardo 2009: 643). Este critério, contudo, é

criticado como insuficiente, mesmo que a autora tenha admitido que uma função não

remeta obrigatoriamente para um tipo de texto e que muitas vezes estamos perante

formas mistas e híbridas. Apesar da inovação da focalização accional sobre a tradução,

que exige do leitor uma acção subsequente ao efeito que o texto tenha nele (Bernardo

2009: 647), e daí ter Reiß adoptado a designação de operativo mais tarde, Bernardo

considera tal pouco pertinente e os métodos de tradução respectivos pouco aplicáveis na

prática (Bernardo 2009: 651), avaliando a abordagem como afastada da materialidade

linguística do texto, da sua “textura física” (Bernardo 2009: 655). Acrescente-se que, ao

identificar o TP com um destes tipos de texto, o tradutor pode decidir sobre a hierarquia

de equivalência na produção do TC, implicando que esta tipologia só fará sentido se o

skopos da tradução requerer equivalência (Nord 1991: 20).

A tipologia avançada por Koller (1979) também se baseia na equivalência e no

critério da relevância tradutória, distinguindo o autor dois tipos de textos, ficcionais e

técnicos, incluindo neste último tipo ainda três categorias: textos de carácter geral no

âmbito da comunicação corrente; textos de carácter geral e técnico no âmbito da

comunicação técnica mas também entre não-peritos; textos técnicos com carácter

técnico, destinados à comunicação entre especialistas, que subdivide ainda mais

(Bernardo 2009: 656). Comportam os dois principais tipos diferenças qualitativas e em

(17)

quatro critérios: sanções/consequências práticas (um pouco à semelhança dos riscos

referidos por Pym e a que faremos alusão no capítulo 4 desta memória), ficcionalidade,

esteticidade e significados intralinguísticos, socioculturais e intertextuais (Bernardo

2009: 657). Segundo Nord, o facto de classificar todos os textos de acordo com cinco

categorias, cada uma com o seu critério, impossibilita o estabelecimento de regras de

tradução sistemáticas (Nord 1991: 21).

Nord refere ainda a proposta de Matt et al. (1978), em que se classifica os textos

de acordo com o número de funções textuais relevantes, no que são seguidos por Thiel

(1980). Nela avança-se uma hierarquia de categorias: primeira, o nível do tipo de texto

com as funções relevantes; segunda, uma subcategoria especificada de acordo com a

relação social típica entre emissor e receptor; terceira, o tipo de texto. Nord, sublinha

aqui a polifuncionalidade dos textos e propõe a possibilidade, por meio de um modelo

global de análise textual que tem em conta factores intratextuais e extratextuais, de o

tradutor estabelecer a função cultural de um TP, podendo depois compará-lo com a

função cultural (prospectiva) do TC requerido pelo iniciador, identificando ou isolando

os elementos do TP que devem ser preservados ou adaptados na tradução (Nord 1991:

21).

Na visão de Bernardo, mesmo esta contribuição não permite uma visão textual

holística, sendo essa lacuna preenchida por Neubert/Shreve (1992), perspectiva que

tentou fornecer uma visão unificadora dentro da Tradutologia de expressão alemã e

maior interdisciplinaridade (Bernardo 2009: 662). Centrados na noção central de

textualidade, os autores vêem a tradução como operação entre textos, o TP, o TC e um

terceiro texto, uma “tradução virtual”. Englobando elementos da ciência da

comunicação e da cognição, analisam os diversos tipos de conhecimento envolvido no

processamento de texto por parte do tradutor, destacando o conhecimento comunicativo

(não foi coincidência terem-se socorrido da teoria dos actos de fala e dos princípios de

cooperação de Grice e máximas associadas) e o textual, que possibilita ao tradutor

conhecer o mundo textual da CC (Bernardo 2009: 664).

O texto neste modelo é visto como detendo uma superstrutura, que é preenchida

com o conceito de protótipo para se encontrar regularidades no processo de tradução.

(18)

interaccional ao somar àquele conceito os de frames, scenarios, schemas, plans e

scripts, numa definição mais flexível. Os protótipos serão estruturas cognitivas que os

falantes usam na produção e recepção textuais, dando forma a textos em contextos

concretos e, na opinião dos autores, seriam vantajosos para a tradução pois integrariam

conteúdo informativo, configuração textual e função social do texto (Bernardo 2009:

666). Ao contrário dos autores de expressão inglesa, como Pym e Snell-Hornby, que

também salientam a importância da textualidade e do transfer mas continuam a preferir

a equivalência face ao protótipo, Neubert/Shreve agem empiricamente e especificam as

facetas da textualidade a partir da perspectiva do tradutor, que passaria por cinco fases:

planeamento, ideação, desenvolvimento, expressão e parsing. Já a textualidade neste

modelo seria enformada por sete parâmetros: intencionalidade, aceitabilidade,

situacionalidade, informatividade, coerência, coesão e intertextualidade (Bernardo 2009:

668).

Julgamos que o método de análise textual relevante para tradução proposto por

Nord, ainda que a abordagem de Neubert/Shreve se nos afigure mais actual e global,

será mais exequível num projecto como o que aqui descrevemos. À altura do início do

mesmo, baseámo-nos na nossa experiência lectiva, nomeadamente nas sessões da

disciplina de Tradução de Texto Científico do corrente Mestrado, em que pudemos

tomar contacto com a abordagem nordiana. Só mais tarde, com o projecto em estado

avançado, nos foi dado a conhecer a proposta de Neubert/Shreve. Num futuro próximo

afigurar-se-nos-ia pertinente poder submeter tal contribuição a uma nova experiência

tradutória.

Debruçando-se sobre o papel e a função da análise textual do TP, Nord (1991)

critica a ambiguidade do conceito de equivalência, afirmando que a discussão sobre a

fidelidade e liberdade na tradução não conduzem senão a impasses, pois equivalência

implica que vários requisitos têm de ser cumpridos em todos os níveis de texto: dizer-se

que TP e TC deverão ter a mesma função e dirigir-se ao mesmo receptor ilustra o

problema pragmático do conceito; dizer-se que o TC deve imitar o TP no seu estilo

remete para as características intratextuais; interpretar-se equivalência com identidade

de sentido remete para a interdependência entre factores intra e extratextuais (cf. Nord

1991: 22). Afirma a autora ainda que, segundo a noção de equivalência funcional, a

(19)

para a determinação de equivalência é algo que tal análise textual do TP não pode

cumprir, já que a equivalência funcional entre TP e TC não é o skopos normal de uma

tradução e sim um caso excepcional em que o factor “alteração de funções” recebe o

valor zero (Nord 1991: 23).

Segundo o seu conceito de texto, cada texto ocupa o seu lugar numa

configuração de elementos particulares e interdependentes (factores), cuja constelação

determina a sua função, pelo que basta um elemento mudar para que a constelação dos

outros elementos na configuração mude também. E existe sempre pelo menos um

elemento que muda: o receptor, com as suas idiossincrasias textuais e culturais. A

adaptação do TP às normas da CC faz parte do quotidiano do tradutor, não havendo um

equivalente normal na LC para uma unidade linguística da CP (Nord 1991: 25).

Nord critica a posição funcionalista de que a tradução se baseie no conceito

dominante da relação entre situação e texto, estando o tradutor unilateralmente

vinculado à situação de destino. Defende, por seu lado, que não pode haver processo de

tradução sem TP e que traduzir é produzir um TC funcional mantendo uma relação com

um dado TP que é especificado de acordo com a função pretendida para o TC (skopos);

a tradução permite dar lugar a um acto comunicativo que não aconteceria sem ela

devido às barreiras linguísticas e culturais (Nord 1991: 28).

No seu livro Translating as a Purposeful Activity (1997), Nord aborda a atitude

crítica que rodeia a teoria funcionalista em geral e a Skopostheorie em concreto em dez

questões controversas, propondo depois a sua noção de função mais lealdade (cf. Nord

1997: 109-122):

nem todas as acções têm uma intenção – que Vermeer contrapõe com a sua

definição de acção como contendo intencionalidade, donde, qualquer

comportamento sem intencionalidade não pode ser visto como acção. Dito

de outra forma, as acções não têm intenção própria, mas são vistas como

intencionais pelos participantes;

nem todas as traduções têm uma finalidade – em todo o caso, dado que cada

(20)

desde que haja mais do que uma possibilidade à escolha, o tradutor nunca

traduz aleatoriamente, e sim consciente ou inconscientemente com base num

receptor, mesmo que o produtor do TP o ignore;

as abordagens funcionalistas extravazam os limites da tradução em sentido

restrito – à crítica de Koller responde Nord com exemplos em que não se

espera da tradução equivalência, privilegiando as relações entre textos,

independentemente de status e estrutura textual, daí que um princípio central

na Skopostheorie seja a liberdade de escolha de skopos;

a Skopostheorie não é uma teoria original – apesar de admitir que é óbvio

que cada acção tenha um propósito, Nord cita Vermeer e distingue a

estaticidade do skopos, que reside na CC, do dinamismo do propósito, que se

radica na CP;

o funcionalismo não se baseia em dados empíricos – terá nascido em

instituições formadoras de tradutores, devendo-se o seu foco nas diferenças

entre TP e TC à sua forte orientação para a prática profissional;

o funcionalismo produz peritos escravos do skopos – deve distinguir-se

skopos (definido pelo iniciador) e estratégia de tradução (como perito, o

tradutor tem aqui liberdade de decisão), além de que a Skopostheorie dá mais

liberdade do que a mera reprodução de características superficiais das teorias

tradicionais;

o funcionalismo não respeita o original – o texto deve ser visto como

conceito sociológico, o produto de diferentes factores situacionais, pelo que

não existe nem TP nem TC sem a recepção correspondente que o complete;

o funcionalismo é uma teoria da adaptação – Nord preconiza a tradução

documental e a instrumental, pelo que esta crítica não tem fundamento;

o funcionalismo não “funciona” em tradução literária – pode ser um skopos

(21)

bastará reproduzir o que está no texto porque cada cultura tem noções

diferentes de originalidade literária;

o funcionalismo está impregnado de relativismo cultural – crítica de Pym

(1992), que Nord aceita, mas que refere ser uma reacção às tendências

universalistas anteriores e com implicações pedagógicas, ao mostrar aos

tradutores que os seus padrões de comportamento têm uma marca cultural

específica, devendo antes falar-se de anti-universalismo cultural.

Assim, a funcionalidade será o mais importante critério tradutório, mas não o

único e o tradutor estará comprometido bilateralmente com o TP e com a situação do

TC, sendo responsável tanto perante o emissor do TP com face ao receptor do TC,

responsabilidade que Nord designa por lealdade (Nord 1991: 29). Será um princípio

moral indispensável nas relações humanas comunicativas, por oposição a fidelidade,

(22)

III: Análise do texto de partida relevante para tradução

III.1. Considerações iniciais

Segundo Christiane Nord (cf. 1989: 96), o processo tradutório é começado por um iniciador que se dirige a um tradutor pois necessita de um texto numa LC, ou seja, um TC, para um receptor da CC. O iniciador contrata o tradutor para produzir tal TC com base num TP pré-existente na LP e usado por um determinado emissor para um receptor específico na CP. Assim, um mesmo indivíduo pode assumir vários papéis neste processo. Contrariamente à visão de inúmeros tradutólogos, que dividem o processo tradutório em duas ou três etapas, geralmente designadas por fase de análise, (possível) fase de transfer e fase de síntese, Nord preconiza um modelo circular. Decorre daí que seja primordial a análise, no TP, dos factores relevantes para o cumprimento de um dado skopos, e que ocorra antes do segundo passo, a análise do TC. O principal enfoque é feito sobre os elementos textuais de particular relevância para a formulação do TC e que estejam de acordo com esse skopos. Segue-se a fase de

transfer, em que características relevantes do TP são tratadas e colocados à disposição e seleccionados os meios a usar no TC. A concepção, ou síntese, final termina o processo (cf. Nord 1991:37). Nord refere que este processo se desenvolve circularmente, dado que cada progresso se relaciona com a feitura de uma constante retrospectiva. Através de cada novo dado assimilado no decorrer do processo de análise e de interpretação, os conhecimentos anteriormente acumulados vão sendo confirmados ou corrigidos (cf. Nord 1989:105). Um TC pode, na acepção nordiana, estabelecer dois tipos de relações funcionais com um TP:

(23)

TP) ou exoticizante (reproduz a forma, conteúdo e situação do TP e foca-se nas unidades textuais do TP).

b) ser um instrumento num novo acto comunicativo da CC, para o qual o TP representa uma espécie de modelo relativamente a determinadas características (Nord 1989: 102). Aqui, o TC pode apresentar a funções referencial, expressiva, apelativa, fática e/ou subfunções. As formas de tradução possíveis são a equifuncional (com o propósito de cumprir funções do TP nos RCs e foco nas unidades funcionais do TP), a heterofuncional (busca funções similares às do TP e foca-se na transferência de funções do TP) e homóloga (com o propósito de atingir efeito homólogo ao do TP e focada no grau de originalidade do TP).

Tal significa que o TC pode informar o seu leitor sobre a forma como o emissor do TP comunicou com o seu leitor ou pode dirigir-se directamente ao leitor de chegada por meio de um novo acto comunicativo. Assim, uma tradução instrumental só é possível, em princípio, quando a intenção comunicativa do autor/emissor do TP não vise exclusivamente os RPs mas também possa incluir receptores da CC, de tal maneira que a proposta de informação do TP se mantenha (cf. Nord 1991: 83).

A seguinte lista de perguntas baseia-se na Fórmula de Lasswell (1948), mais tarde desenvolvida por Mentrup (1982) para “pragmatischen W-Kette” (cadeia pragmática universal) e seguidamente interpretada de forma mais restrita e também reinterpretada por Christiane Nord para a tradução (cf. Nord 1991:40). A cada pergunta equivale o respectivo factor, entre parêntesis, a ter em conta na análise textual:

QUEM (emissor) transmite A QUEM (Receptor) PARA QUÊ (Intenção)

através de QUE MEIO (meio ou canal) ONDE (local)

QUANDO (tempo)

(24)

SOBRE QUÊ (tema)

o emissor diz O QUÊ (conteúdo) (O QUE NÃO DIZ) (pressuposições) por QUE ORDEM (estruturação)

com recurso a que ELEMENTOS NÃO-VERBAIS por QUE PALAVRAS (léxico)

por QUE TIPO DE FRASES (sintaxe)

com QUE TOM (elementos supra-segmentais) com QUE EFEITO? (Nord 1989:106)

II.2. Os factores extratextuais

A primeira linha de questões direcciona-se à situação comunicativa, aos chamados factores extratextuais. Designam estes os factores da situação concreta em que o texto se efectiva como instrumento de comunicação. O segundo grupo, por seu lado, engloba os factores intratextuais, cujas questões se relacionam com o próprio texto e suas características formais e de conteúdo. O último parâmetro de análise, contudo, relativa aos efeitos sobre os receptores, representa um factor global, pois o efeito de um texto advém da interacção entre factores extratextuais e intratextuais (Nord 1989: 107). Realce para o facto de haver uma estreita relação entre os vários factores, sendo possível, em larga medida, inferir ou formular expectativas sobre uns a partir dos outros. Outra nota para o facto de esta análise poder aplicar-se tanto ao TP como ao TC, como Nord o exemplifica (1991) com base em três exemplos de textos.

(25)

facilmente tolerar ou até ignorar eventuais desvios intratextuais a determinadas normas linguísticas (Nord 1991:197).

Assim, iremos debruçar-nos inicialmente sobre aqueles factores situacionais e só depois sobre os intratextuais em detalhe. As categorias fundamentais são as de espaço e tempo, sendo que a categoria de tempo pertence igualmente à identidade histórica de um certo mundo. A primeira questão de base envolve, por conseguinte, essas dimensões espácio-temporais da situação. Uma vez que essa situação se encontra obrigatoriamente marcada culturalmente, a segunda questão de base visa as características culturais específicas. Por fim, a terceira questão de base relaciona-se com a interacção entre situação e função comunicativa do texto (Nord 1991:47). A análise factorial constitui um processo recursivo, no qual a formulação, confirmação e correcção de expectativas são uma constante.

Emissor

O emissor é, no geral, a pessoa ou instituição que se dirige a alguém por meio do texto ou que deseja despertar um efeito no receptor6. Emissor e redactor do texto não

têm obrigatoriamente que coincidir, depreendendo-se isso muitas vezes do ambiente textual. No caso de o emissor ou alguém próximo de si não poderem ser interpelados, o tal ambiente textual (referências ou notas, por exemplo), bem como os factores meio, local, tempo, pretexto e função textual costumam ser fonte de dados e pistas importantes (Nord 1991:49 e 53).

Se seguirmos, na análise do nosso TP, a checklist de questões sugerida por Nord para este factor, começaremos por indagar quem é o emissor. Verificando a publicação, o Professor Carsten Sinner é claramente indicado desde logo como autor na capa e página seguinte, ainda que não haja referência ao mesmo na contra-capa nem presença

(26)

de sinopse. A mera leitura do prefácio, confirmando os primeiros indícios, permite-nos inferir que emissor e produtor textual coincidem, pelo uso da primeira pessoa e da profusão de agradecimentos a entidades e personalidades que assistiram o autor na feitura da obra. Em termos de informação sobre este emissor, a consulta ao sítio pessoal do mesmo revela-nos um académico relativamente jovem, nascido em 1971 no Hesse, com escolaridade feita em Marburg e Berlim, estudos completados na Alemanha e outros países latinos nos domínios da interpretação e tradução de espanhol e português, do catalão, em ciências sociais e no alemão como língua estrangeira. É igualmente docente em institutos de Romanística de várias universidades germânicas desde 1997 e, desde há uns anos, director do célebre Instituto de Linguística Aplicada e Translatologia da Universidade de Leipzig. Intratextualmente, a página 2 da publicação destaca este facto. Caso estas evidências não fossem suficientes para a geração de expectativas sobre a sua relação com o tema, a consulta à extensa lista de publicações (a obra em análise é a mais recente do autor), artigos, apresentações e teses orientadas pelo autor elucidariam desde logo a íntima relação do autor com a temática, onde predominam obras sobre Linguística Românica, leitorados em vários países latinófonos e o destaque cimeiro dado à Linguística das Variedades entre os interesses de investigação.

Estes elementos enformarão alguma informação que se possa pressupor e que

faça parte do conhecimento prévio dos receptores, ou seja, sendo o autor e sua

personalidade conhecidos do meio académico alemão, os seus leitores, que em parte

deste também farão parte (especialistas, alunos), esperarão dele um rigor aliado a

clareza explicativa.

O tom informal com que o autor se descreve no mesmo sítio Web, coadjuvado por um artigo crítico relativamente ao último acordo ortográfico da língua alemã, confirmam as expectactivas de um texto académico mas aqui e acolá pontuado por comentários de boa disposição, indiciados pela postura afável que o prefácio da obra evidencia.

(27)

da obra7, os diálogos tidos com o Professor Sinner revelaram uma pessoa que, apesar de

extremamente ocupada, se mostrava extremamente disponível na hora de atendimento e procurava limar arestas de compreensão e contribuir para uma atmosfera afável.

As pistas a inferir sobre o emissor a partir de outros factores situacionais como o tempo (2014), o local (Tübingen), o meio (edição Narr Verlag “Studienbücher” -manuais de estudo - em papel e electrónica), a função do texto (introdução ao tema, manual universitário, divulgalção científica) e pretexto (não é claro no prefácio, depreendendo-se que resultou de muitas conversas com inúmeros especialistas e de artigos anteriores do autor, conforme consulta ao acervo da biblioteca da universidade; a capa e 2.ª página incluem o subtítulo “Eine Einführung” - uma introdução - e a contra-capa adiciona o adjectivo “umfassende” - abrangente, completa -) apenas confirmam as suspeitas levantadas pela análise inicial.

Estes dados permitem-nos (e permitiram no início da tradução) apontar para uma circunscrição dos receptores ao meio académico: professores universitários de disciplinas da Linguística, especialistas em Linguística das Variedades, alunos de disciplinas abordando a questão das variedades linguísticas, nomeadamente de cursos de Linguística Aplicada ou Tradução, leitores interessados no tema do público em geral. Permitem-nos também esperar um intratexto típico dos conteúdos LSP altamente formatados, estruturas tema-rema em consonância, sintaxe identificável com os textos técnico-científicos académicos germânicos ainda que simultaneamente aligeirado com exemplos da cultura popular (como o próprio autor dá a entender no prefácio).

Intenção do emissor

O factor da intenção do emissor questiona sobre que reacção pretende o emissor causar no receptor com o texto em análise. Os diferentes níveis de intenção correspondem às funções da comunicação que enformam o modelo de Nord. Incluem informar sobre uma temática (intenção referencial), partilhar as suas ideias e atitudes sobre as coisas (intenção expressiva), persuadir o receptor a adoptar uma opinião ou

(28)

acção (intenção operativa) e manter o contacto (intenção fáctica). O nível zero de intenção corresponderia ao caso em que emissor e receptor se identificassem.

Pressupõe-se que o emissor não é imbuído de apenas uma intenção mas que se deve admitir a emergência de várias funções combinadas e de diferentes pesos, mesmo comparando as intenções do TP e as do TC (Nord 1991:55 e seg.).

A intenção reveste-se de particular importância tendo em conta também o princípio da lealdade8. o tradutor, segundo Nord, mesmo em caso de alteração da função

do texto, não deve agir contrariamente à intenção do emissor (cf. Nord 1991:55)

No que toca à checklist de Nord para este factor, primeiro há que determinar se existem afirmações extratextuais e intratextuais do emissor que apontem para as suas intenções com o texto. No prefácio, Carsten Sinner agradece aos numerosos agentes que o ajudaram a perceber as temáticas de outros ângulos, que o assistiram na discussão sobre variedades e tradução e as leituras críticas que recebeu antes da publicação da obra. Pensamos que estes três vectores denunciam uma intenção simultaneamente pluridisciplinar, ainda que partindo do meio da Tradutologia e Linguística Aplicada, intenção essa também crítica de apresentação da temática, centrando-se essa intenção no apelo ao receptor. Estas mesmas preocupações revelou o autor nos encontros preparatórios que com ele tivemos, em que sublinhou, para o TC, a necessidade de se destrinçar os vários termos-charneira da obra para uma tradução leal, assim como a resolução de questões de tradução como a aplicabilidade dos exemplos ao leitor português, o que evidencia um cuidado com o leitor tanto do TC, como do TP. Os fenómenos paralinguísticos intratextuais somam-se a este “caldo” intencional, com dezenas de pontos de exclamação (expressando tanto entusiasmo como espanto e indignação) e momentos humorísticos (revelando-se contador de pequenas histórias).

As intenções associadas convencionalmente ao tipo de texto a que mais aproximadamente se pode atribuir o nosso TC incluem a informativa e a apelativa, mas a própria Christiane Nord afirma que, com Thiel, se abandonou a ideia de textos ligados inequivocamente a um tipo textual (Nord 1991: 21), cabendo mais ao tradutor perceber como funciona culturalmente um TP e um TC. Tal parece confirmar-se aqui com o

(29)

avanço da intenção expressiva e mesmo fática (demonstrada pela pista que nos dá a inserção de numerosas interpelações ao leitor e à conexão sintáctica sistemática entre o final de um capítulo e o início do seguinte) em termos de “carga” intencional9.

Entre as pistas sobre a intenção a inferir de outros factores situacionais, importa fazer referência ao papel comunicativo do emissor, professor prestigiado que quererá decerto transmistir com eficácia o seu conhecimento, que se dirige a receptores estudantes ou colegas de profissão, aspecto em que o valor prestígio não deverá ser descartado. Referência também para o meio, ou a inserção numa colecção académica de manuais por parte de uma editora com provas dadas no mercado e que será sinónimo de credibilidade para o leitor, e o pretexto, a que Sinner alude no final do prefácio (convite de Juergen Freudl e financiamento de Kathrin Heyng e Karin Burger), que reforça as intenções não só informativas, como também operativas (recurso a agentes de créditos firmados).

Receptor

O texto de chegada orienta-se essencialmente para receptores diferentes dos do texto de partida, os quais se diferenciam primeiramente pela pertença a culturas e comunidades linguísticas distintas. Nessa linha, têm de ser convertidos precisamente aqueles elementos que são determinados pelas especificidades do TP referentes ao destinatário e aqueles que o tradutor consegue isolar na sua análise textual (Nord 1991:59). O tradutor elicita os elementos textuais que acha determinantes segundo a sua orientação pelo receptor do TC, que se encontra numa situação comunicativa divergente da do RP. Os conhecimentos prévios, ou background comunicativo, do receptor são de crucial importância para o tradutor, ou seja, o que este consegue pressupor no receptor não depende apenas das suas características (idade, sexo, habilitações, origem geográfica, etc) mas também da actualidade do tema. Tal como os dados do emissor, os dados do receptor podem ser inferidos tanto das características intratextuais, como do

(30)

corpo textual, como ainda das informações sobre o emissor e factores externos como a intenção, o meio, o local, o tempo, o pretexto e a função (Nord 1991:60pp).

Relativamente à informação sobre o receptor que se pode obter do corpo textual da nossa obra, se atentarmos na menção a “Einführung” desde a primeira página, a “Lehrbuch” (manual escolar) no prefácio, à indicação de que existe uma página Web onde as soluções dos exercícios se encontram, bem como a referência directa a “Studierende” no mesmo prefácio, chegamos à conclusão, agora mais afunilada, de que esta obra se dirige essencialmente a estudantes do ensino superior alemão actuais, portanto destinatários jovens (ao que não será estranho o tom por vezes informal) mas com alto grau de literacia. A recomendação, no final do prefácio, de que não será necessário completar os exercícios para a preparação dos capítulos desvenda claramente a quem se dirige em primeiro lugar o Professor Sinner, ainda que, como refere Nord, pode sempre haver segundos receptores e receptores ocasionais (Nord 1991: 52).

Em termos do que se pode saber sobre o receptor com base na informação sobre emissor e sua intenção, a posição de Sinner como decano na Universidade de Leipzig e director do IALT, e respectiva intenção de “fazer escola”, transmitir conhecimentos sólidos inseridos no contexto de uma instituição com um percurso científico autónomo e criadora de linhas de investigação próprias, mas também persuadir alunos de outras instituições das suas posições sobre a Linguística de Variedades, permitirá inferir receptores tanto pertencentes à mesma escola como provenientes de outras universidades noutras regiões da Alemanha.

(31)

Não dispomos de informação suficiente sobre as reacções do receptor do TP que possam influenciar as estratégias de tradução, a qual exigiria investigação mais demorada eventualmente em fóruns alemães online e porque existe apenas uma recensão crítica da obra (por Sebastian Greußlich, 2016). Contudo, apraz-nos registar aqui um pequeno facto: nos vários meses de estadia em Leipzig, apenas por uma vez

conseguimos requisitar um exemplar da obra numa das várias bibliotecas da

universidade, sendo que cada uma dispõe de vários exemplares para requisição, o que

atesta, pelo menos para a segunda cidade da Saxónia, o sucesso do livro em termos de

recepção pela comunidade estudantil. Se considerarmos o tradutor como receptor do TP,

e socorrendo-nos igualmente das conversas com o autor, denota-se uma preocupação

forte de adequação funcional e pragmática dos tópicos ao leitor, patente na sugestão

feita pelo mesmo de questões a reflectir antes de se iniciar a tradução, as quais se

centravam principalmente na compreensibilidade de um possível leitor português.

Mais conclusões se podem aventar destas pistas obtidas para o receptor em

termos de características intratextuais a esperar: o visar-se um público universitário trará

decerto uma estruturação do texto em capítulos temáticos claros, com estruturação

interna coerente, e elementos textuais não verbais relacionados com o didactismo que o

receptor exige, mormente inclusão de gráficos, figuras, exemplos e exercícios. O nível

académico do público-alvo provocará uma sintaxe complexa e léxico rigoroso. A origem

geográfica dos leitores alemães constituirá pressuposto pragmático para exemplos e

referências a dialectos regionais do espaço germanófono.

Meio/canal

Nord entende meio10 como o suporte material através do qual o texto chega ao

receptor, o qual determina as expectativas do receptor sobre a função do texto (Bernardo

2009: 659). Para o tradutor, no que toca ao meio, é relevante a perceptibilidade, as

possibilidades de armazenamento de informação e os pressupostos comunicativos que

aquele encerra.

(32)

Uma distinção primordial será entre meio oral e meio escrito, bem como

correspondente distinção no que toca à forma de apresentação da informação (nível de

explicitude, argumentação, tipos de frases, coesão, elementos não-verbais). Além disso,

o tipo de meio fornece pistas sobre a intenção do emissor e o pretexto da comunicação,

bem como sobre o tempo e local da produção textual, dado que a produção de um meio

está sujeita à evolução histórica e é marcada culturalmente. (Nord 1991:64pp). Dado

que a escolha do meio é assaz determinada por convenções (para determinadas funções

textuais existem para cada cultura suportes preferidos), é importante para o tradutor

elicitar características típicas do meio (conteúdo/forma) e classificá-las como

específicas ou universais (Nord 1991:68).

A obra de Carsten Sinner em análise surge em edição de papel e edição

electrónica, o que lhe permite grande difusão, apesar de não termos encontrado dados

sobre tiragens, nem termos detectado segundas edições. Surge igualmente inserida na

colecção Studienbücher da editora NARR Verlag, sendo coadjuvada não só pelo sítio da

editora na sua distribuição, como do já referido sítio para consulta das soluções dos

exercícios propostos. Na mesma colecção são assuntos principais os estudos anglísticos,

germanísticos e romanísticos, assim como a didáctica do ensino de alemão como língua

estrangeira.

Como tal, o design da publicação segue as orientações da colecção, apresentando

na contra-capa um resumo relativamente neutro dos conteúdos, ainda que contendo

alguns adjectivos enaltecedores (“zahlreiche Daten” - inúmeros dados – e “vielfältige

Arbeitsaufgaben” - exercícios diversificados) com função operativa.

Em termos de outros factores situacionais que possam fornecer pistas sobre o

meio/canal, o emissor e sua intenção apontam para uma clareza e credibilidades só

possíveis com um meio como este manual, editado por uma casa da especialidade. O

pretexto é referido no prefácio, desencadeado por Jürgen Freudl, funcionário da NARR

Verlag11. Na mesma linha, Kathrin Heyng e Karin Burger são consultoras da mesma

editora, sedeadas em Leipzig, cidade de reconhecida actividade livreira, onde se realiza

(33)

a segunda maior feira do sector no país e reforçando a ideia de que haveria

mercado/público-alvo para um manual desta craveira, no caso específico, e pensando na

função do texto, quiça “o” manual universitário na área.

Estes dados e pistas obtidos sobre o meio permitem-nos inferir um desejo de

rigor e clareza de apresentação da informação junto dos receptores. Permite-nos também

inferir, intratextualmente, um nível de explicitude elevado, argumentação coerentemente

desenvolvida, ainda que num nível intermédio entre a discussão teórica e a mera

descrição conceptual, tipos de frases tendencialmente longas, coesão evidenciada por

elementos como índice remissivo e referências, ao longo do texto, para outros locais no

corpo do texto, e, finalmente, e novamente, presença de elementos não-verbais como

gráficos, tabelas, figuras e exercícios.

Local

Nord refere que esta dimensão é abordada apenas nas publicações centradas na

fórmula da nova retórica, ainda que em tradução a questão da cultura ancorada

geograficamente e sua influência nos TPs seja sempre uma preocupação, e que, ao

contrário de outros autores, prefere abordar este factor separadamente (Nord 1991: 60),

em consonância com o seu quadro de análise e categorias básicas.

Referir-se-á esta dimensão não só ao local de emissão e produção, como também

ao de recepção do texto. A determinação da pragmática do local é de crucial importância

principalmente nos conteúdos redigidos numa língua de partida que apresenta

variedades geográficas (ou diatópicas), sendo que o local de produção pode indiciar a

variedade usada no TP e, assim, determinar a variedade utilizada pelo tradutor.

Na dimensão espacial, são de relevância não apenas os elementos linguísticos,

como também as condições culturais e políticas (exemplo de textos redigidos sob

censura e elementos subliminares presentes), indiciando igualmente a filiação cultural

de emissor e receptores. As informações sobre o emissor e os receptores permitem fazer

inferências sobre a pragmática espacial e o meio, bem como elicitar dados sobre o

(34)

Ao analisarmos o local de produção e transmissão do texto em apreço,

verificamos que a resposta não é inequívoca. A informação sobre a dimensão espacial

no ambiente textual aponta-nos para Leipzig, local onde Carsten Sinner lecciona,

segundo a já referida nota na segunda página, e Tuebingen, local de edição. Também se

pode adicionar aqui o espaço mais alargado de inserção cultural a que a menção

obrigatória à Biblioteca Nacional Alemã faz referência (assim como os regulamentos

editorais respeitantes aos direitos de autor, provenientes da jurisprudência germânica),

assim como, se mais quisermos especular, o espaço de pertença cultural europeu

indiciado pela referência “printed in the EU”, evidenciando a filiação numa comunidade

de conhecimento transnacional.

Mais complexa se torna a noção de espaço se atentarmos no prefácio e seus

agradecimentos, em que o autor revela terem os textos também resultado de estadias

académicas suas em locais tão diversos como Telavive (Israel), Concepción (Chile) e

Brasília. Era até agora claro que esta dimensão englobaria o espaço universitário,

tornando-se agora ainda mais claro, porém, que se estende a mais universidades que não

apenas as alemãs (estadias em outras universidades são referidas no mesmo prefácio:

Berlim, Leipzig).

Os locais de produção deste texto pressupõem uma recepção pretendida que

extravasa as fronteiras do espaço germanófono, mesmo que esse espaço seja

directamente referido na primeira linha da introdução, convocando conhecimentos

prévios relacionados com as fronteiras administrativas dos países que o compõem. E

mesmo que, por exemplo, o autor se socorra na mesma introdução de idiomas como

“alter Wein in neuen Schlaeuchen” (vinho novo em odres velhos). Com efeito, as pistas

sobre a dimensão espaço inferidas de outros factores situacionais parecem confirmar

este “piscar de olhos” a públicos externos e um espaço, digamos, dual, ora germânico,

ora internacional. O emissor possui um percurso no estrangeiro, relacionado com a

didáctica de segunda língua, e os receptores universitários, mesmo se considerarmos

aqueles matriculados em universidades alemãs, serão marcados pelo multiculturalismo

próprio encorajado pela sociedade alemã, bem como pelas altas percentagens de

estudantes estrangeiros nos cursos aí ministrados. O factor meio (Tübingen + Leipzig)

representa igualmente um salto nas antigas fronteiras político-culturais alemãs, não

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