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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE

Rio de Janeiro 2019

AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS

GOVERNOS MILITARES -1964

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Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE

AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECUROS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS

GOVERNOS MILITARES -1964

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Cel Art MARCOS JOSÉ MARTINS COELHO

Rio de Janeiro 2019

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D946c Duque, João Carlos

As contribuições do Exército relacionadas à defesa, preservação e proteção dos recursos naturais da Amazônia Oriental, a partir dos governos militares – 1964. / João Carlos Duque. 一 2019.

58 f. : il ; 30 cm

Orientação: Marcos José Martins Coelho.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares) 一 Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019.

Bibliografia: fl 56-58.

1. Amazônia Oriental; 2.Ilícitos transnacionais; 3. Recursos minerais; 4. Exército na Amazônia; 5. Garantia da Lei e da Ordem; 6.

Geopolítica da Amazônia I. Título.

CDD 355.309811

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Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE

As contribuições do Exército relacionadas à defesa, preservação e proteção dos recursos naturais da Amazônia Oriental, a partir dos governos militares – 1964

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Aprovado em _____ de_______________ de________.

COMISSÃO AVALIADORA

_________________________________________________

Cel Art Marcos José Martins Coelho - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________

TC Inf José Roberto de Vasconcellos Cruz- 1º Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________

Maj Cav Eduardo Schlup- 2º Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

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À Deus por ter me dado saúde e determinação para executar esta tarefa e a minha amada esposa Ana Paula e meu filho João Lucas, pelo apoio e compreensão durante a execução deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Cel Coelho, meus sinceros agradecimentos pela dedicação e paciência inferidas a minha pessoa durante a elaboração deste trabalho. Agradeço pela orientação firme e objetiva, bem como pelas sugestões que facilitaram a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

A Amazônia Oriental carrega consigo traços que a distingue das demais regiões brasileiras e da própria Amazônia Ocidental. Seu desenvolvimento não acompanhou a média nacional uma vez que, com inexpressivo parque industrial, grandes restrições de logística, produção energética e de serviços, manteve-se dependente de atividades primárias, situando-se à margem das prioridades e ações governamentais até meados do século passado. A partir de 1964, vivenciou significativa mudança de atitude governamental. Influenciada por pensamentos geopolíticos nacionalistas, os governos militares incluíram a Amazônia como uma área de interesse estratégico. Assim, a região passou a receber investimentos, voltados a sua integração e ocupação, e em um segundo momento, passou-se a incentivar e implementar grandes obras de infraestrutura voltadas para o aproveitamento de suas potencialidades mineral, energética e votadas para o agronegócio. Com o progresso, as questões sociais também foram potencializadas ao mesmo tempo em que ilícitos nacionais e transnacionais passaram a constituir o amplo e complexo espectro da fronteira amazônica. Dessa forma, atividades como garimpo, mineração e agricultura passaram a duelar interesses com questões indígenas e de preservação do meio ambiente;

Somam-se ainda, o mapeamento das reservas minerais raras, o potencial de emprego da sua biodiversidade em contraponto com a sua dimensão e consequentemente dificuldade do Estado estabelecer meios eficazes de controle, proteção, coesão, segurança e coerção. Essa lacuna, tem sido comumente utilizada na construção de argumentos tendenciosos de autoridades e representantes de nações estrangeiras interessadas na universalização dessas riquezas em prol do “futuro da humanidade”.

Neste contexto, o Exército Brasileiro é, historicamente, a única instituição nacional com capilaridade, capacidade operacional e aptidão necessárias a contribuir com a preservação das riquezas minerais e reforçar as agências de controle, preservação e monitoramento. Por meio de suas organizações militares exerce a presença do Estado, corrobora com a segurança de estruturas e reservas minerais estratégicas e auxilia, quando solicitado, em atividades subsidiárias de Garantia da Lei e da Ordem.

Palavras-chave: Amazônia Oriental; Ilícitos transnacionais; recursos minerais;

Exército na Amazônia; Garantia da Lei e da Ordem; Geopolítica da Amazônia.

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ABSTRACT

The Eastern Amazon carries traits that distinguish it from other Brazilian regions and from the Western Amazon itself. Its development did not keep up with the national average since, with its inexpressive industrial park, major logistical, energy production and service constraints, it remained dependent on primary activities, and remained outside government priorities and actions until the middle of the last century. From 1964 onwards, he experienced a significant change in government attitude. Influenced by nationalist geopolitical thoughts, military governments included the Amazon as an area of strategic interest. Thus, the region began to receive investments, focused on its integration and occupation, and in a second moment, began to encourage and implement large infrastructure works aimed at harnessing its mineral, energy and agribusiness potential. With progress, social issues have also been potentiated as national and transnational illicit have become the broad and complex spectrum of the Amazonian frontier. Thus, activities such as mining, mining and agriculture began to duel interests with indigenous and environmental preservation issues; In addition, the mapping of rare mineral reserves, the potential employment of their biodiversity in contrast to their size and consequently the difficulty of the State to establish effective means of control, protection, cohesion, security and coercion. This gap has been commonly used in constructing biased arguments by foreign officials and representatives interested in universalizing these riches for the "future of humanity." In this context, the Brazilian Army is historically the only national institution with the necessary capillarity, operational capacity and aptitude to contribute to the preservation of mineral wealth and to strengthen control, preservation and monitoring agencies. Through its military organizations, it exercises the presence of the State, corroborates the security of strategic mineral structures and reserves and assists, upon request, in subsidiary Law and Order Guarantee activities.

Keywords: Eastern Amazon; Transnational illicit acts; mineral resources; Army in the Amazon; Guarantee of Law and Order; Geopolitics of the Amazon.

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 - Caracterização da Amazônia Oriental... 12

Figura 2 – Levantamento de recursos minerais da Amazônia Oriental... 25

Figura 3 –Demonstrativo dos modais de transporte na Amazônia Oriental... 28

Figura 4 – Quadro Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas... 30

Figura 5 – Distribuição das Terras Indígenas na Amazônia Oriental... 32

Figura 6 – Focos de Tensão na Amazônia Oriental... 33

Figura 7 - Garimpos de ouro na Amazônia na década de 90... 34

Figura 8 - Estrutura do Comando Militar do Norte... 40

Figura 9 - Estruturas Estratégicas terrestres... 43

Figura 10 - Subsistemas do SISFRON... 44

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 11

1.1 PROBLEMA... 13

1.2 OBJETIVO... 14

1.2.1 OBJETIVO GERAL... 14

1.2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO... 14

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO... 15

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO... 18

2.1 TEORIAS CLÁSSICAS... 19

2.2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO... 21

3 METODOLOGIA... 23

3.1 DINÂMICA DE PESQUISA... 23

4 OS PRINCIPAIS RECURSOS MINERAIS E NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL E SUAS APLICAÇÕES ECONÔMICAS... 24

4.1 A ATIVIDADE MINERADORA... 24

4.2 QUESTÃO LOGÍSTICA... 26

4.3 QUESTÃO ENERGÉTICA... 29

5 PRINCIPAIS ATORES E QUESTÕES PRESENTES NA AMAZÔNIA ORIENTAL... 31

5.1 QUESTÃO INDÍGENA ... 31

5.2 QUESTÃO DO GARIMPO NA AMAZÔNIA ORIENTAL... 34

5.3 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA ORIENTAL... 35

5.4 QUESTÃO AMBIENTAL ... 37

6 ESTRUTURA, PROJETOS E AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL ...39

6.1 O HISTÓRICO DA FORÇA MILITAR TERRESTRE NA AMAZÔNIA ORIENTAL ... 39

6.2 A ATUAL ESTRUTURA DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL.... 40

6.3 PROJETOS e AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL... 42

6.3.1 O Projeto Estratégico PROTEGER...43

6.3.2 O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – SISFRON.. 44

6.3.3 O Programa Calha Norte... 45

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6.3.4 Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia

(CENSIPAM)... 46

6.3.5 Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (SiGAEB)... 47

7 CONCLUSÃO...49

8 REFERÊNCIAS... 56

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1 INTRODUÇÃO

O tema da Amazônia tem sido estudado por pesquisadores, estadistas, organizações e personalidades de todo o mundo. Ano pós ano, questões sobre sua preservação ou exploração, ganham maior vulto potencializadas por cenários prospectivos, em que se estima uma demanda cada vez maior por recursos naturais, em detrimento da sua previsível escassez.

A Amazônia é caracterizada por ser um bioma que se estende por 8 (oito) Estados Nação e mais a Guiana Francesa. No Brasil, a Região Amazônica compreende seis estados da federação (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima). No entanto, com o intuito de garantir a captação de incentivos fiscais e com o propósito de promover o desenvolvimento regional, além dos estados supracitados, foram incluídas parte dos estados do Mato Grosso, de Tocantins e do Maranhão, totalizando cerca de 61% do território brasileiro e configurando o conceito de Amazônia Legal.

A região como um todo reúne números expressivos: 5.029.322 km2 de área (cerca de 58% do território nacional); faz fronteira com 7 países; considerada a maior floresta tropical e o maior banco genético do mundo; possui riquíssima biodiversidade (30% de todas as espécies vivas do planeta), uma das maiores bacias de água doce do planeta (Bacia Amazônica, Aquíferos Alter do Chão e Guarani, reunindo 20% de toda água doce do planeta) e com grande potencial energético (2/3 do planeta).

Destacam-se ainda, suas riquezas minerais (maior província mineral do mundo), as quais muitas delas, ainda permanecem intactas.

Tamanha grandeza associada a constante e crescente demanda da sociedade humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em um cenário dicotômico.

Segundo Bento (2017), aqueles que a detém, incumbe a preocupação com a preservação da soberania sobre suas riquezas, exploração em benefício do desenvolvimento social e econômico de suas populações; aos demais, verifica-se a inquietação contínua e progressiva de atores governamentais e não governamentais, em sua maioria estrangeiros, traduzida na forma de bandeiras voltadas para a universalização e proteção dos recursos lá existentes.

O General de Exército Osvaldo de Jesus Ferreira (2013), primeiro comandante do Comando Militar do Norte, responsável pela área que engloba a Amazônia Oriental,

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objeto desta pesquisa, resumiu: “A Amazônia Brasileira é uma área de dados superlativos em todos os sentidos”.

Verifica-se, nesse ínterim, o valor estratégico do acesso aos recursos naturais e o seu vínculo com o conceito de defesa, bem como da necessidade de proteção. A Política Nacional de Defesa (2016) abordou o tema ratificando que os recursos naturais são parte integrante do patrimônio nacional, cuja defesa constitui-se em ato de preservação dos próprios interesses nacionais e da soberania.

Em se tratando de valor estratégico, é mister destacar que a região foi e tem sido objeto de estudo de grandes pensadores geopolíticos nacionais e teóricos internacionais. Destaco no âmbito nacional os generais Golbery Silva e Mário Travassos, precursores da geopolítica brasileira, os quais observaram e esmiuçaram a importância e o valor geopolítico da região. Seus estudos formaram a base das políticas nacionais contemporâneas implementadas a partir dos governos militares e que fomentaram o desenvolvimento e integração da Região Amazônica, segundo Becker (1993), até então praticamente ilhada do cenário nacional.

Figura 1 – Caracterização da Amazônia Oriental1

Fonte: http://www.cmn.eb.mil.br/institucional.html, adaptado pelo autor, acessado em 09 de maio de 2019

A Figura 1, reitera as denominações e divisões da Amazônia Legal. Sua denominação é um conceito moderno e de amplitude nacional, utilizado para definição de políticas voltadas ao desenvolvimento da região. Esse conceito pode ser desmembrado em outros dois mais antigos, porém ainda usados, através dos quais as políticas aplicadas ao desenvolvimento regional amazônico foram concebidas:

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Amazônia Ocidental e Oriental1 (foco deste trabalho). Essa subdivisão também foi utilizada pelo Exército Brasileiro para delimitar atribuições dos grandes comandos militares do Exército Brasileiro para defesa e proteção da soberania nacional, bem como sua participação e contribuição para o desenvolvimento e progresso das regiões em que estão sediados.

Do ponto de vista militar, cabe especial atenção ao seu enorme arco fronteiriço e a proteção de áreas estratégicas, o que impôs ao Exército a instalação de dois Comandos Militares de Área. Com responsabilidades distintas, o Comando Militar da Amazônia (CMA) na porção ocidental, com missão precípua de fronteira; e o Comando Militar do Norte (CMN) na porção oriental, foco deste trabalho, com a missão de proteção da fronteira Norte e de recobrir militarmente as grandes vias de acesso e estruturas estratégicas no interior da imensa área da Amazônica Oriental.

Nesse ínterim, verifica-se que, no âmbito da Amazônia Oriental, os desafios possuem uma dinâmica que requer especial atenção da Força Terrestre: problemas fundiários e ambientais na área de influência das BR 230 – Transamazônica e 163 – Cuiabá/Santarém; questões relativas à colossal Província Mineral de Carajás e a cobiça internacional por recursos naturais estratégicos; questão energética (presença de grandes hidrelétricas) e sua importância para o desenvolvimento nacional;

questões das demarcações de terras indígenas; a presença de movimentos sociais que se voltam contra decisões soberanas exigindo o emprego da Força, dentre outros.

Desta forma, constata-se que o estudo do tema é amplo, contemporâneo e geoestratégico. Infere ao Estado a formulação de políticas voltadas para o desenvolvimento e integração regional e impõe às Forças Armadas um estado de prontidão, para que, em função das oportunidades e ameaças internas e externas elencadas, promovam ações voltadas para a manutenção da soberania e o desenvolvimento de tão expressiva faixa territorial.

1.1 PROBLEMA

Diante do cenário anteriormente elencado, é necessário destacar que, durante

1 A Amazônia Ocidental, de acordo com o decreto-lei 291, de 18 de fevereiro de 1967, abrange os seguintes estados: Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Já a Amazônia Oriental é definida por exclusão, restando ser constituída pelo Tocantins, Pará e Amapá e as áreas amazônicas do Maranhão.

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o período dos Governos Militares, houve um alinhamento das estratégias política e militar, traduzidas no direcionamento das expressões do poder para fomentar a integração da Amazônia ao contexto nacional.

Essa “nova onda” voltada para a interiorização, ocupação e desenvolvimento, teve como válvula motriz o Exército, Instituição Nacional presente e com atuação efetiva em toda a Amazônia. Sua capilaridade tem permitido exercer, ao longo da história do Brasil, sua missão de proteção de nossas fronteiras e riquezas e, conjuntamente com as demais Instituições públicas e privadas, contribuir com o desenvolvimento regional. Diante de tamanha responsabilidade, essa pesquisa se depara com a seguinte questão problema:

Qual a atual contribuição do Exército Brasileiro, a partir de 1964, para as questões de proteção e defesa dos recursos naturais na Amazônia Oriental?

1.2 OBJETIVOS

Como forma de ajudar a elucidar o problema proposto, foi definido o objetivo geral e três objetivos específicos.

1.2.1 Objetivo geral

Face ao aumento da cobiça internacional e a necessidade de fomentar o desenvolvimento nacional, utilizando-se do banco de riquezas e potencialidades existentes na Amazônia Oriental, quais foram as ações do Exército, a partir de 1964, para garantia e manutenção da soberania sobre esse patrimônio? Ao responder essa pergunta, esse trabalho encontrou o seguinte objetivo, conforme descrito a seguir:

Identificar as ações desenvolvidas pelo Exército relacionadas com a defesa e proteção dos recursos naturais estratégicos da Amazônia Oriental, tendo como marco temporal o período dos governos militares (1964).

1.2.2 Objetivos específicos

A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral deste trabalho foram formulados alguns objetivos específicos a serem atingidos que permitiram o encadeamento lógico do raciocínio descritivo apresentado neste estudo:

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a. Identificar os pressupostos de Teorias Geopolíticas Clássicas e Contemporâneas que possam influenciar os cenários que envolvem a região da Amazônica Oriental.

b. Caracterizar a Amazônia Oriental, destacando suas possibilidades, enfatizando as suas riquezas minerais estratégicas e seu potencial de exploração econômica.

c. Apresentar as estruturas do Exército na Amazônia Oriental e suas ações voltadas para a integração, defesa e proteção de nossas riquezas minerais, a partir dos governos militares.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A delimitação no tempo (a partir dos governos militares) e espaço (Amazônia Oriental) possui um caráter restritivo à amplitude do tema. Contudo, a intenção é estabelecer um paralelo entre a Política Nacional e as Estratégias Militares definidas à partir de 1964, e os seus reflexos para o desenvolvimento regional2.

Segundo Franchi (2013), a política de ocupação e adensamento militar tinha múltiplos propósitos: aumentar a presença militar nas fronteiras (dissuasão);

estabelecer a presença do Estado no entorno de grandes jazidas minerais e estruturas energéticas implementadas; fomentar o desenvolvimento regional através da engenharia militar, com destaque para a construção de grandes obras de infraestrutura voltadas para realização das ligações terrestres, fluviais e aéreas; conter ideologias patrocinadas por países comunistas e focos de guerrilha que se instalaram na região; e finalmente, integrar a Região Amazônica ao restante do território nacional.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A relevância desta proposta de pesquisa está evidenciada na constante discussão do tema Amazônia no âmbito internacional. Dessa forma, a abordagem nacional deve identificar-se com a preservação dos objetivos nacionais (soberania),

2Como forma de ilustrar a mudança de atitude do Exército para com a região ressalta-se que, no primeiro ano do regime militar, 22 municípios amazônicos receberam algum tipo de Organização Militar permanente, sem contar os que já possuíam até então.

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fazendo uso de suas Instituições Nacionais. Tal assertiva pode ser encontrada no primeiro escalão de políticas públicas, através da Política Nacional de Defesa, 2016:

(...) A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias.

A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região O adensamento da presença do Estado, e em particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia (PND, 2016, p 23, grifo nosso).

Da análise do texto, depreende-se a relevância nacional do desenvolvimento da Amazônia e a concepção estratégica da atuação das Forças Armadas (FA) para a consecução desse objetivo.

A despeito do texto destacar as FA como atores do processo, neste trabalho o enfoque foi atribuído em torno das ações do Exército Brasileiro. Não desmerecendo a importância das demais forças, a presença do Exército na Amazônia é mais representativa, e principalmente a partir do Séc XIX, se tornou mais efetiva, atuando nas diversas expressões do poder, como destaca Franchi:

Chama a atenção o papel de apoio às atividades de colonização e desenvolvimento da região levado a cabo pelo Exército, embora sejam atividades subsidiárias e não a atividade-fim da instituição, que é a defesa. A continuidade, atesta a importância histórica de tais atividades, em paralelo com as atividades de defesa. Estas duas lógicas, a de defesa e a de suporte ao desenvolvimento da região, eram cooperativas e não concorrentes, e parecem ter orientado conjuntamente a dinâmica de implantação de organizações militares. (FRANCHI, 2013, grifo nosso)

Nos últimos seis anos, o Exército aumentou sua presença militar na região da Amazônia Oriental (criação do Comando Militar do Norte em 2013). Uma outra demonstração de prioridade pode ser abstraída do Plano Estratégico de Reestruturação do Exército (2016-2019) com a efetivação da Brigada da Foz em Macapá e a inclusão da Brigada da Transamazônica (sediada em Marabá), como Força de Emprego Estratégico do Exército, aumentando ainda mais a expressão do poder militar na região. (BRASIL, P.,2017)

Como contribuição de ordem prática, além do já descrito acima, observa-se um grande número de estudos voltados para a Amazônia Ocidental e um pequeno número de trabalhos que descrevam as peculiaridades da Amazônia Oriental, exemplificadas por: abrigar as duas maiores hidrelétricas nacionais (Tucuruí e Belo

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Monte) e outras tantas com potencial energético vital para a matriz energética brasileira; possuir a maior jazida de minério de ferro do país (Carajás) e uma das maiores reservas de minerais nobres e terras raras do mundo; compor o tronco logístico por onde escoa boa parte da produção de grãos com destino a exportação (por meio da BR 163 - porto de Santarém – Hidrovia do Amazonas), havendo a possibilidade de aumento da capacidade de transporte por meio da hidrovia do Tocantins; guardar potencial para o agronegócio e a exploração sustentável das florestas existentes.

Por outro lado, a região também reúne uma lista de desafios que direta ou indiretamente impactam no cumprimento da missão constitucional do Exército, quais sejam: 1) a presença de muitas etnias silvícolas, as quais exercem pressão pela demarcação de terras indígenas e seus reflexos para sua inclusão social bem como para a soberania do país (possibilidade de reivindicações separatistas); 2) a exploração do garimpo ilegal, a degradação social por ele provocada e a associação com outros ilícitos transfronteiriços que implicam no uso da Força em missões subsidiárias; 3) a existência de movimentos sociais com viés ideológico os quais se utilizam de ações coordenadas voltadas para invasões de propriedade, depredação de estruturas públicas e outras práticas subversivas para o alcance de seus objetivos, evocando a necessidade de acompanhamento de inteligência e desencadeamento de Operações de Garantia da Lei e da Ordem; 4) por fim, a questão ambiental, imposta pela adesão do Brasil aos termos dos Tratados Internacionais, levam a Força ao desencadeamento de inúmeras missões interagências voltadas para a preservação ambiental e uma necessidade de adaptação organizacional voltada para a regulação de seus campos de instrução e atividades de adestramento.

Assim, dentro deste escopo, verifica-se a importância da região no cenário nacional e evidencia-se a participação efetiva do Exército em todos os campos do poder, principalmente, no pós década de 60.

De tudo o que foi exposto, o trabalho enseja mostrar a sinergia existente nas ações da componente militar na Amazônia Oriental, suas capacidades, possibilidades e limitações para que, em conjunto com as outras expressões do poder nacional e demais instituições público-privadas, possa fazer valer a vontade nacional de desenvolver e integrar a região, além de explorar os recursos necessários para posicionar o Brasil dentre os países mais importantes do globo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para fins de fundamentação do trabalho no tocante ao assunto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca das principais teorias geopolíticas que, de alguma forma, influenciaram a estratégia de ocupação e integração da Amazônia ao território brasileiro.

A construção do pensamento geopolítico no Brasil remonta o período imperial, quando José Bonifácio de Andrada e Silva, ainda no século XIX, foi capaz de sugerir a ideia de mudança da capital para o coração do Brasil, além de participar do processo de compra do Acre da Bolívia, o que praticamente definiu os limites do Brasil atual.

Segundo Castro (1984),na vertente militar, organizou a ação contra os focos de resistência à separação de Portugal, permitindo a manutenção do vasto território conquistado em três séculos de colonização. Na origem da pátria, uma forte cisão com nossas origens nacionais, muito provavelmente – como se deu na América espanhola – teria dividido profundamente os brasileiros no nascedouro da nação, causando efeito centrípeto sobre o território.

Criado o espírito Nacional, delimitadas as fronteiras e atenuados os regionalismos no curso da história brasileira, o Brasil passou por vários ciclos de desenvolvimento econômico calcados na produção agrícola e extração mineral. Com os reflexos da crise econômica mundial (1929) e das duas grandes Guerras Mundiais, o mundo foi reconfigurado e o Brasil passou a ser considerado também um ator regional no contexto da América do Sul. (CASTRO, 1984). É oportuno destacar que o pensamento geopolítico no Brasil, em meio a tantos conflitos e crises, passou a ser discutido e organizado com mais frequência e profundidade no âmbito militar, com destaque para o General Golbery do Couto e Silva e o coronel Mário Travassos.

Feita essa breve contextualização e aproximando do contexto histórico deste trabalho, na década de 1950, estando os militares próximos do centro político brasileiro, parte da produção de conhecimento dos geopolíticos brasileiros supracitados começou a ser colocada em prática: interiorização da capital federal, estabelecimento de ligações terrestres entre as regiões (política interna), e a aproximação com países da América do Sul (Política Externa). (FRANCHI, 2013)

Assim, a partir de 1964, durante os governos militares, o Brasil iniciou um esforço para integrar as regiões através de grandes obras de infraestrutura e programas nacionais voltados para a ocupação de vazios populacionais e

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desenvolvimento dessas áreas ainda não produtivas (Centro-oeste e Região Amazônica).

Paralelo a isso, nos grandes centros, o desenvolvimentismo dado pela onda de industrialização e transformação mostrou a necessidade de ampliar a capacidade energética e de infraestrutura do país. Novos projetos de hidrelétricas, ferrovias e rodovias foram implementados, fomentando a economia, a criação de empregos e atraindo investimentos estrangeiros, fazendo com que o Brasil passasse de destaque regional a um ator de relevância no plano internacional. (FRANCHI, 2013).

Com a Nova Ordem Mundial, o Estado Nação passa a dividir espaço com novos atores supranacionais, não governamentais e questões de interesse internacional.

Neste contexto, novos geopolíticos passam a protagonizar os pensamentos que conduzirão a nação para as próximas décadas, dentre os quais destacam-se: o General Carlos de Meira Mattos e Therezinha de Castro. (FRANCHI, 2013).

Do acima exposto e identificadas algumas teorias que deram suporte a toda essa transformação nacional, será feita uma abordagem das principais teorias e pensamentos geopolíticos que influenciaram as políticas nacionais à partir de 1964, bem como a influência delas em assuntos que remetem à região alvo, a soberania brasileira sobre a Amazônia e seus recursos e as possibilidades de conflitos envolvendo o tema.

2.1 TEORIAS CLÁSSICAS

A influência da Teoria Organicista de Ratzel foi generalizada sobre pensadores brasileiros tais como Mário Travassos e Golbery do Couto e Silva. Para Ratzel, os Estados eram organismos vivos que deviam ser pensados e geridos em íntima conexão com o espaço onde estavam inseridos. Segundo ele, o que caracteriza um Estado é a área “ocupada” por ele, ou seja, a não ocupação pode resultar na contração do Estado. Em sua teoria, ele estabelece leis que favorecem o crescimento dos estados, dentre as quais uma em especial faz um paralelo interessante com a situação da Região Amazônica: (FRANCHI, 2013)

"Em seu crescimento os Estados tendem a absorver valiosos setores políticos: litorais, leitos de rios, planícies, regiões ricas em recursos."RATZEL, apud in: FRANCHI, p. 22"

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A Teoria do Poder Terrestre de Halford J. Mackinder, também influenciou o pensador brasileiro Mário Travassos. No escopo da Teoria, Mackinder postula que quem dominar a Eurásia (Heartland), seria capaz de acumular poder a ponto de contrapor o poder marítimo. Mário Travassos adaptou essa teoria ao identificar um possível Heartland sul americano, próximo ao que chamou de triângulo boliviano. Ao estudar as bacias Platina e Amazônica e verificados os pontos de passagem da Cordilheira dos Andes, Travassos percebeu a possibilidade de integração das duas bacias com uma possível rota com saída para o Pacífico, atestando o valor geopolítico desta região. É interessante ressaltar que as regiões da Amazônica Ocidental e Oriental dividem a Bacia Amazônica, principal via de acesso ao triângulo boliviano.

Neste contexto, a instalação do poder militar nas margens dessa via de acesso que corta o Brasil de Leste a Oeste pode ser justificada a luz dessa teoria.

Com a análise de Travassos sobre a importância das bacias e a possível integração leste oeste sul-americana, é possível fazer um paralelo com a Teoria do Poder Marítimo, de Alfred T. Mahan o qual define que "uma nação capaz de controlar a planície marítima, por meio do poder naval, e que ao mesmo tempo consiga manter uma grande marinha mercante, pode explorar as riquezas do mundo.” Desse ponto de vista, a capilaridade da Bacia Amazônica com outros estados da América do Sul, passa a ser um caso a ser aprofundado. Ainda dentro desse enfoque, a teoria reforça a potencialidade da Bacia do Tocantins Araguaia no tocante ao seu aproveitamento econômico.

Na visão de Mafra (2006), a Teoria do Poder Perceptível de Ray S. Cline postula sobre a capacidade de um Estado fazer guerra, tendo como fatores preponderantes a massa crítica (população e território), a capacidade econômica (economia e riquezas) e a capacidade militar. Assim, a Região Amazônica tem grande importância devido ao seu potencial econômico ainda não explorado. O General Meira Mattos aprofundou sua análise e acabou contribuindo com a inclusão de mais um fator a ser observado: o poder de persuasão, utilizado até os dias atuais pelo Exército na forma da sua Estratégia da Dissuasão.

A Teoria da Incerteza ou Turbulência de Pierre Lellouche (1992) formulou um cenário em que, com o término da Guerra Fria, os EUA não seriam capazes, como potência hegemônica, de conduzir a nova Ordem Mundial, criando um espectro generalizado de turbulência. Contudo, Mafra (2006) destaca que Lellouche excluiu o Brasil dessa zona de turbulência e apontou essa exclusão como uma oportunidade

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para o desenvolvimento, muito ligado a exploração de suas riquezas ainda não exploradas na Amazônia.

Por fim, a teoria da Tríade é a que, atualmente, mais impacta a Região Amazônica. Após o encontro de grandes empresários, representantes estatais e não estatais (Clube do Roma), resultou na confecção de um relatório cujo o título escolhido fora: “Os limites do crescimento”. o trabalho relatou o esgotamento dos recursos naturais face ao crescimento desordenado do mundo. Mafra (2006) postulou a necessidade de reorganização do mundo, no formato de três grandes empresas multinacionais (bloco americano, europeu e asiático). Desde então, bandeiras de preservação dos ecossistemas têm sido levantadas, narrativas de universalização de áreas preservadas tem sido difundidas e proclamadas por personalidades em todo o mundo. Estas ações vão de encontro a intenção brasileira de integrar e promover o desenvolvimento da Amazônia.

2.2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO

O coronel Mário Travassos, autor das Obras: Aspectos Geográficos Sul- americanos – 1931 e Projeção Continental do Brasil – 1938, postulou fruto da sua análise do triângulo boliviano já citado nesse trabalho, algumas contribuições para a Região Amazônica que já se materializaram (interiorização da capital federal, ligações com o interior e seu povoamento) ou estão em vias de consecução (política de articulação interna com a América Latina (transportes e corredores bi-oceânicos, e ainda na Política Externa o conceito de que o Brasil assumiria o papel de articulador da América do Sul por sua conformação territorial, extensão e número de fronteiras terrestres projeção continental.

O General Golbery do Couto e Silva foi um dos formuladores da Doutrina de Segurança Nacional (DSN) e ainda comandou o Serviço Nacional de Informações (SNI). Como principais pressupostos de seus pensamentos geopolíticos destacam-se:

o povoamento da Amazônia (face ao vazio demográfico) e a ocupação das fronteiras, fruto da sua permeabilidade e devido ao vazio demográfico regional também nos demais países fronteiriços. Destacava a necessidade de se realizar uma manobra de integração geopolítica interna a partir da Calha do Rio Amazonas com apoio no Centro-Oeste que deveria ser realizada em etapas. A última etapa

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culminaria com a integração e o desenvolvimento da Amazônia. (SILVA, 1981) (grifos nossos)

O General Carlos de Meira Mattos (1913-2007) iniciou seus escritos na década de 1960. Em sua obra “Geopolítica e modernidade”, no ano de 2003, formulou as diretrizes estratégicas da geopolítica brasileira: “interiorização, integração territorial, fortalecimento da presença estratégica no Atlântico Sul, desenvolvimento econômico e social (da mais alta prioridade porque é o suporte indispensável das três anteriores), segurança externa e interna. (grifos nossos)

Já Therezinha de Castro, geógrafa, única das pesquisadoras não militares, abordou o tema amazônico de forma direta, sinalizando a necessidade de sua ocupação geográfica e humana. Segundo a autora, com a Nova Ordem Mundial – se é que existe ordem – decorrente do fim da ‘guerra fria’ e da bipolaridade nos apresenta um quadro paradoxal. No campo político e militar há uma concentração de poder numa única potência, ao passo que no campo econômico identificamos uma multipolaridade onde mega potências econômicas de magnitude semelhante, por sua ação catalisadora, atraem outros países para sua esfera de influência. (CASTRO, 1984)

Assim, segundo sua teoria, a Amazônia seria alvo de investidas de interesse por parte das megapotências. Em sua obra, ela utiliza o paradoxo sobre a Região Amazônica: “integrar para não entregar”. Essa teoria tem sido inserida nas políticas de integração amazônica, em que o Exército protagonizou, a partir da década de 60 do século passado, diversos projetos estratégicos.

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3. METODOLOGIA

A metodologia desenvolvida para solução do problema de pesquisa, foi organizada com o objetivo de conduzir os procedimentos necessários para alcançar os objetivos (geral e específicos) apresentados. Desta forma, pautando-se numa sequência lógica, o mesmo foi estruturado da seguinte maneira: 1) Delimitação da Pesquisa; 2) Concepção Metodológica; 3) Limitações do Método.

Essa pesquisa teve caráter qualitativo, uma vez que privilegiou a história e a análise de documentos para a compreensão do papel do Exército na Amazônia Oriental. Assim, seguindo a Taxionomia de Vergara (2009), adotou-se o enfoque descritivo e explicativo, uma vez que foram evidenciadas as características da região e população Amazônica que, por sua especificidade, demandou estudo para tornar inteligível as peculiaridades, diferenças e potencialidades voltadas para o desenvolvimento nacional.

Por fim, o trabalho se baseou na pesquisa documental e bibliográfica, uma vez que foram estudadas publicações em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas de acesso ao público em geral.

3.1 DINÂMICA DA PESQUISA

A dinâmica da pesquisa foi conduzida por meio de uma pesquisa bibliográfica, pois baseou-se na fundamentação teórico-metodológica de investigação sobre os assuntos relacionados a presença do Exército Brasileiro na Amazônia Oriental e as questões que o envolvem, através de publicações existentes.

A metodologia em questão possui limitações, particularmente, quanto à profundidade do estudo a ser realizado, pois não contemplou, dentre outros aspectos, o estudo de campo e a entrevista com pessoas diretamente ligadas aos processos em estudo. Porém, devido ao fato de se tratar de um trabalho de término de curso, a ser realizado em aproximadamente seis meses, o método escolhido foi adequado e possibilitou o alcance dos objetivos propostos no presente Projeto de Pesquisa.

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4 OS PRINCIPAIS RECURSOS MINERAIS E NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL E SUAS APLICAÇÕES ECONÔMICAS

O acesso aos recursos naturais é um fator importante, dentro do conceito de segurança, por permitir, exatamente como dispõe a Política Nacional de Defesa (PND), que “a sociedade ou os indivíduos se [sintam,] livres de riscos, pressões ou ameaças, inclusive de necessidades externas”, por permitir que gozem de direitos fundamentais ligados à vida, ao trabalho e à saúde, dentre outros. Ademais, recursos naturais são parte integrante do patrimônio nacional, cuja defesa constitui-se em ato de preservação dos próprios interesses nacionais e da soberania (PADECEME, 2016).

A presença de unidades militares próximas aos locais de mineração, dos principais modais de escoamento e das grandes estruturas de energia existentes na Amazônia Oriental são estratégicas. Constituem a componente dissuasória voltadas às ameaças internas e externas, favorecem atividades de inteligência, defesa e proteção aproximada e permitem, através da utilização dos modais existentes, o fluxo logístico operacional da Força. Grandes Projetos Estratégicos foram criados para dar suporte às Organizações Militares fruto da destinação subsidiária de proteger estas estruturas, bem como garantir o seu funcionamento. Estes projetos serão abordados nos capítulos subsequentes.

4.1 A ATIVIDADE MINERADORA

As pesquisas da geologia no Brasil remontam o período imperial, quando os portugueses e espanhóis faziam a corrida do ouro para acumulação de divisas e fomento do mercantilismo. O mapa abaixo, com base nos dados do Serviço Geológico do Brasil, adaptado pelo autor, mostra as potencialidades de extração de riquezas minerais na região geográfica que compõe a Amazônia Oriental. Reúne o conhecimento de um século de levantamentos geológicos no país e de cinco décadas de pesquisas acadêmicas:

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Figura 2 - Levantamento de recursos minerais da Amazônia Oriental

Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/Recursos-Minerais/Projetos-Especiais-e-Minerais- Estrategicos-203, acesso em 16 de março de 2019, modificado pelo autor

No Brasil, o estado do Pará é o segundo que mais recebe investimentos do ramo, representando 21,93% do total. Em números, gera 287.882 de empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva local e responde por 20% do PIB paraense3.

Da análise dos dados do Geobank, em contraponto com os emitidos pelo sindicato da mineração, verifica-se que o setor da mineração tem sido um dos principais vetores de crescimento da Região Norte, especialmente no Pará, onde se encontram as duas maiores jazidas da região: a de Oriximiná, que lavra bauxita, com maior parte da produção destinada à exportação; e a de Serra dos Carajás, uma das maiores do planeta e produz o minério de ferro mais puro do mundo.

Localizada, no sudeste do estado, Carajás concentra, ainda, uma diversidade de outros minerais, quais sejam: manganês, cobre, bauxita, ouro, níquel, estanho e

3 Disponível em < http://simineral.org.br/mineracao/mineracao-para> acessado em 15/03/2019.

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outros. Em 2015, 84,3% das exportações do Pará correspondiam às indústrias de mineração e transformação mineral.

Tratando-se da questão mineral âmbito nacional, cabe destacar que, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM) o minério de ferro é o “carro-chefe” da indústria mineral brasileira, gerando 63% do valor total da produção nacional. Mas, além do ferro, o Brasil é o maior exportador de nióbio (maior reserva), exporta manganês, tantalita e bauxita (segundo maior exportador), grafite (terceiro maior exportador) e rochas ornamentais (quarto maior exportador)4.

Nesse contexto, o Exército posicionou Organizações Militares (OM), estrategicamente instaladas próximas aos locais de extração, e no curso dos modais de transporte (ferroviário, rodoviário e hidroviário). No caso da Amazônia Oriental, verifica-se as OM da 23a Brigada de Infantaria de Selva nas Localidades de Itaituba (extração de ouro), Marabá (próximo a Carajás) e Santarém (bauxita), principais regiões de extração.

Cabe destacar a atribuição subsidiária do Exército definida pela Lei 136, de 25 de agosto de 2010, conferindo poder de polícia (voltados para coerção de ilícitos transfronteiriços) na faixa de fronteira. Assim, o monitoramento das fronteiras e de possíveis violações da soberania de nossos recursos naturais (contrabando e descaminho) e da biodiversidade da floresta Amazônica (biopirataria) passam a compor o escopo de missões da Força.

Infere-se ainda que, devido a larga aplicação na indústria de defesa, a segurança da inviolabilidade, da exploração e da importação de terras-raras e outros metais, tem importância ainda maior, por se tratar de insumo destinados à atividade bélica, tornando o seu controle, uma questão não só de soberania e mercado, mas também de defesa nacional.

4.2 QUESTÃO LOGÍSTICA

A questão logística é fundamental para a integração nacional e base para o desencadeamento de Operações Militares. No caso específico da Força Terrestre, os modais de transporte fazem a ligação entre as Organizações Militares, constituem eixos de suprimento e vias de acesso para o cumprimento de suas missões

4 Disponível em <http://www.anm.gov.br/acesso-a-informacao/estatisticas > acessado em 15/03/2019.

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constitucionais, provendo mobilidade e permitindo flexibilidade para o deslocamento de meios.

Na década de 60 do século passado, durante os governos militares, muitos projetos foram desencadeados visando criar alternativas e possibilidades de integração da região com o restante do país (BR-230, Ferrovia Carajás, BR-163). No entanto, o esforço de duas décadas passou por uma verdadeira solução de continuidade devido a difusão de interesses que levaram a não conclusão ou ao sucateamento dos empreendimentos.

Atualmente, a Amazônia Oriental possui um déficit no setor que impacta não só as demandas do Exército, como também a demanda de escoamento da produção regional e nacional. A falta de conexão multimodal, a pequena e limitada malha ferroviária e a precariedade da pavimentação das estradas contribuem para a ineficiência logística e para o aumento do custo de produção.

Assim, uma maior exploração e integração das bacias amazônicas como meio modal de transporte voltados para a logística regional poderiam ampliar as capacidades e ligações necessárias ao desenvolvimento regional. O leito dos rios, historicamente aproveitado pela população regional como meio de transporte, passaria a ter um valor estratégico, devido ao potencial hidroviário das bacias do Amazonas e Tocantins.

Segundo José Fernando Coura, Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), a questão da logística pode ser considerada um dos principais gargalos do processo. O Brasil investe um baixo percentual de seu PIB em infraestrutura: 2,1%, ante 7,3% da China, 6,2% do Chile e 5,6% da Índia.

O baixo investimento faz com que o País enfrente, atualmente, uma crise no setor de transportes de cargas. Os principais problemas identificados foram: a) o baixo volume de investimentos no setor; b) a elevada deterioração da rede viária; c) a dificuldade de acesso aos portos, seja por via terrestre ou marítima; d) um modelo de gestão já ultrapassado do setor de transportes e; e) a subutilização do sistema aquaviário nacional. A baixa qualidade da infraestrutura, lembrou ele, não só encarece produtos, como afeta a capacidade da indústria nacional de se integrar às cadeias globais de produção. 5 (grifo nosso).

5 Disponível em http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento/download/0373b58c-34b8-419c- 92c0-f40d46907ad0, Forum de “Investimento e Gestão: desatando o nó logístico do País” 3o Ciclo – MINERAÇÃO – Governança e Logística: Gargalos e soluções. Acessado em 15/03/2019.

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No caso específico da mineração, o transporte dos produtos da exploração depende, sobretudo, do investimento em ferrovias (já que 75% da carga transportada por trens é de minério de ferro) e nos modais marítimos (que fazem o escoamento de quase 95% dos produtos que o Brasil exporta). Mas são justamente os portos e as ferrovias apontados como a primeira e a terceira maiores dificuldades de infraestrutura na opinião de industriais, conforme pesquisa do Fórum Nacional da Indústria realizada em 2012. O autor aponta ainda que os projetos como a Hidrovia Tapajós-Teles Pires, a rodovia BR-163, a duplicação da estrada Carajás e as ferrovias norte-sul e leste- oeste são apostas na melhoria do sistema de transporte que impactarão no custo final dos minérios brasileiros, todos com impacto direto na Amazônia Oriental.

Figura 3- Quadro demonstrativo dos modais de transporte na Região da Amazônia Oriental

Disponível em http://web.antaq.gov.br/ Portal/pdf/palestras/Mar0728

SeminariointenBrasilFlanders.pdf modificado pelo autor. Acessado em 15/03/2019

A figura acima, representa um extrato dos modais existentes na região dos Estados do Maranhão, Pará e Amapá. Dele, pode-se extrair a existência de uma malha rodoviária precária e pouco integrada. Uma malha ferroviária vocacionada para o transporte do minério para os portos de Santarém (PA), Itaqui e São Luiz (MA), não havendo interligação com outras ferrovias direcionadas às outras regiões ou a outras atividades econômicas. Já o modal hidroviário, muito utilizado para o transporte local,

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em função da amplitude das bacias existentes, ainda é pouco utilizado para o atendimento de grandes demandas, como por exemplo, no transporte de minérios, uma vez que possui maior capacidade de carga e o fator custo mais compensatório.

Por outro lado, as hidrovias configuram o principal eixo modal da região. A Hidrovia do Amazonas na porção Norte e a Hidrovia do Tocantins, no sentido Sul Norte são ainda pouco exploradas no contexto estratégico por não haver uma interligação multimodal a altura de suas capacidades. A hidrovia do Tocantins, fruto da proximidade das áreas de extração de minério de ferro e bauxita possui grande valor capital e com grande potencial para a execução de logística militar.

Segundo Alex Oliva, superintendente de navegação interior da Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ, a Hidrovia do Tocantins terá uma extensão de 3770 quilômetros. Atualmente, o principal óbice para sua otimização e operação encontra-se próximo a cidade de Marabá-PA, na existência de um Pedral (Lourenço), o qual impede a navegação no período de secas. (ANTAQ, 2007) 6. Na expressão militar, a existência do Pedral inviabiliza a ligação fluvial entre Marabá (sede da 23a Bda inf Sl) e Tucuruí (sede 23o Esquadrão de Cavalaria de Selva). A possibilidade do estabelecimento desta hidrovia, permitirá o desenvolvimento da logística do sudeste paraense, permitindo integração, desenvolvimento e ligações comerciais entre os estados da federação.

4.3 A QUESTÃO ENERGÉTICA

A questão energética é um tema estratégico para qualquer nação. A energia garante o desenvolvimento e a operação dos parques industriais do país, bem como tem sido foco de questionamentos quanto a sustentabilidade da sua fonte. O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, contando em sua maioria com a energia proveniente das hidrelétricas sejam elas nacionais ou binacionais.

Assim, são considerados, do ponto de vista militar, acidentes capitais de defesa. Nesse ínterim, a Amazônia Oriental é protagonista no cenário nacional. Nela estão instaladas hidrelétricas com grande capacidade de geração que distribuem de forma integrada, energia para boa parte do país.

6 Disponível em <http://web.antaq.gov.br/Portal/pdf/palestras/Mar0728SeminarioIntenBrasilFlanders.

pdf> acessado em 15/03/2019

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A Região Amazônica, como um todo, está entre os cinco maiores potenciais hidrelétricos do mundo. O País tem 12% da água doce superficial do planeta e condições adequadas para exploração. O potencial hidrelétrico é estimado em cerca de 260 GW, dos quais 40 % estão localizados nas bacias hidrográficas da Região Amazônica.

Figura 4 – Quadro Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas.

Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_usinas_hidrelétricas_do_Brasil> Acessado em 01/06/2019 – adaptado pelo autor

O Exército, de forma estratégica, possui Organizações Militares debruçadas sob as principais estruturas hidrelétricas da região da Amazônia Oriental. Em Tucuruí- PA está desdobrado o 23º Esquadrão de Cavalaria de Selva; Em Imperatriz, próximo a Estreito- MA, está o 50º Batalhão de Infantaria de Selva; Em Altamira-PA, encontra- se o 51º Batalhão de Infantaria de Selva, sob o qual cabe a responsabilidade pela Usina de Belo Monte (a maior em capacidade de geração Nacional). Cumpre assim, a estratégia da presença e, em conjunto com as agências do ramo energético, garantem seu funcionamento e o desenvolvimento regional.

10.905,40; 9% 1696,98;

2%

104.780,62; 89%

Potencial Hidrelétrico integrado ao SIN em MW

Planejada Em construção Potencial instalado

60%

11%

29%

Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas

Outras bacias

Bacia dos rios Araguaia-Tocantins Bacia do rio Amazonas

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5. PRINCIPAIS ATORES E QUESTÕES PRESENTES NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A título de ambientação, e do que podemos observa até aqui, a Amazônia Oriental, apresenta grande complexidade, tanto na dimensão física, quanto na psicossocial, destacando-se ainda, pela presença de diversas estruturas estratégicas (usinas hidrelétricas, províncias minerais, ferrovias e hidrovias de grande extensão, portos de águas profundas), além de atores governamentais, não governamentais, questões indígenas, ambientais, políticas dentre outras tantas que tornam a região um cenário de constante mutação geopolítica.

5.1 QUESTÃO INDÍGENA

As questões indígenas no Brasil são reguladas pelo Conselho Nacional de Política Indigenista – CNPI, criado em 2016, a quem cabe a responsabilidade pela elaboração, acompanhamento e implementação de políticas públicas voltadas aos povos indígenas, definindo prioridades e critérios para sua formulação. (FUNAI, 2019).

A população indígena em todo o Brasil definida pelo Censo Demográfico 2010 com base nas pessoas que se declararam indígenas no quesito cor ou raça e para os residentes em Terras Indígenas que não se declararam, mas se consideraram indígenas revelou que, das 896 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam indígenas, apenas 517 mil, ou 57,5 %, moravam em Terras Indígenas oficialmente reconhecidas.

No que tange ao conceito de reserva indígena, segundo a Lei 6001/73 – Estatuto do Índio e Decreto nº 1775/96:

A União poderá estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas destinadas a posse e ocupação pelos povos indígenas, onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais, garantindo-se as condições de sua reprodução física e cultural.

A foto a seguir retrata a situação das terras indígenas na Amazônia Oriental.

As áreas amarelas representam as terras indígenas regularizadas; as em vermelho, as homologadas; as em verde, as delimitadas; e as riscadas, são aquelas na condição de declaradas. Em conjunto, representam cerca de 25% de toda área, para uma população indígena de cerca de pouco mais de 200 mil índios declarados. (FUNAI, 2019)

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Figura 5- Distribuição das Terras Indígenas na Amazônia Oriental

Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/geoprocessamento. Recorte realizado pelo autor. Acesso em 20/03/2019

Do acima exposto, a questão indígena surge como um ator desestabilizador.

As áreas ocupadas, ou a eles atribuídas são disputadas por outros atores:

fazendeiros, garimpeiros, madeireiros. Os silvícolas argumentam lentidão no processo de demarcação e a ineficiência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para defender seu direito de exploração de suas terras, o que aumenta a tensão e o número de conflitos. Os demais atores questionam as grandes áreas propostas (verdadeiros latifúndios dedicados a uma população pequena), próximo ou sobre grandes reservas minerais já levantadas.

Os governos nas últimas décadas, pressionados por pressões internacionais de preservação da cultura indígena, iniciaram uma série de levantamentos e homologações de terras indígenas por todo o Brasil, com destaque para a Região Amazônica, têm gerado focos de tensão entre os vários seguimentos da sociedade envolvidos e as instituições reguladoras do Estado.

A figura abaixo, concatena a interposição destes interesses e infere a complexidade das relações existentes entre: a questão da mineração, a questão indígena e a preservação das Unidades de Conservação.

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Figura 6 - Focos de Tensão na Amazônia Oriental

Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/geoprocessamento.

Recorte realizado pelo autor. Acesso em 20/04/2019

Nesta conjuntura, o Exército tem sido reivindicado pelo Estado para cumprir ações subsidiárias e ou compor forças tarefas interagências para administração dos mesmos, o que implica no contínuo acompanhamento de inteligência e adequação das operações militares para atuar neste cenário.

O desafio está relacionado à conscientização do índio para com o seu papel na proteção dos recursos naturais existentes no interior de suas reservas, tornando-os vetores do sistema de informação, voltados para dar o alerta quanto as atividades ilegais que possam vir a ocorrer. Um outro ponto, de igual relevância, está em torna- los imunes a ofertas capciosas de pessoas, organizações nacionais ou internacionais, que em troca de favorecimentos, passam a explorar riquezas com o consentimento dos nativos.

Assim, o Exército como Instituição Nacional, estimula a integração do índio em suas fileiras, incorporando indígenas em seus quadros militares, os quais são respeitados e aproveitados pelas suas habilidades e conhecimentos culturais. Um outro ponto é a possibilidade do aproveitamento de serviços básicos, muitas das vezes só ofertados pelas OM próximas às reservas, como saúde, educação, etc. Essa aproximação estabelece vínculos de confiança mútua e contribui para o desenvolvimento do sentimento de nacionalidade e pertencimento a sociedade

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brasileira necessários para impedir a ação dolosa de terceiros que visam apenas o acesso as suas riquezas naturais.

5.2 QUESTÃO DO GARIMPO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A questão do garimpo na Amazônia iniciou no final dos anos 70 do século passado, patrocinado pelos governos militares (criação das Reservas Garimpeiras na Amazônia), promovendo, assim, a migração de trabalhadores para o local, de forma a “pagar a dívida externa”, aumentar reservas monetárias até então consumidas pelo aumento do preço do petróleo, bem como interiorizar e ocupar a Região Amazônica.

Um dos garimpos mais famosos foi o de Serra Pelada, sendo a região do Pará e Amapá as de melhores prospecções. (SILVA A, 1994)

Após anos de garimpagem e o término do ouro de aluvião, bem como a proibição de extração utilizando-se de maquinário no Governo COLLOR (fruto do alinhamento de percepções ambientais - ECO 92), muitos dos garimpos foram abandonados, gerando um entorno de problemas sociais e impactos ambientais.

O impacto social tem potencial ainda mais destrutivo, uma vez que após iniciado o garimpo (descoberta, ondas de imigração e relativa prosperidade econômica), segue-se a exaustão do recurso mineral (material secundário), emigração e decadência econômica regional. (SILVA A, 1994)

Figura 7- Garimpos de ouro na Amazônia na década de 90

Disponível em <http://mineralis.cetem.gov.br:8080/bitstream/cetem/1233/1/extracao- ouro%20cap.11.pdf> Acessado em 20/03/2019

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Fruto deste ciclo envolvendo as questões sociais e ilegais da atividades, o garimpo se tornou uma questão de relevância para o Exército por potencializar outras questões que implicam na sua missão constitucional e subsidiária já abordadas nesse trabalho (LC 97 e 136)7, principalmente na região do Amapá (incluída na faixa de fronteira). Um outro ponto a se destacar, é a coincidência ou proximidade com terras indígenas, o que potencializa conflitos de interesses diversos e os ilícitos diretos e indiretos provenientes da atividade garimpeira (contrabando, descaminho, crimes ambientais).

5.3 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Os movimentos sociais na Amazônia possuem raízes históricas ligadas à terra e a religião. Do ponto de vista histórico, remete a política de interiorização adotada pelos governos militares (obras de infraestrutura e projetos de colonização), exemplificados pelo o anúncio da Operação Amazônia (1965), criação da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM, 1966) e no período de 1969-1974, quando foi lançado o Plano de Integração Nacional (PIN), tendo a Rodovia Transamazônica uma de suas pautas.

Nesse contexto, milhares de trabalhadores foram atraídos para a região em função da expectativa de progresso e oportunidades, correlacionando a terra ao seu sustento e tendo como intermediador estatal o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). (LACERDA, 2013)

Com a perda da impulsão das ações do INCRA nas décadas de 70 e 80, e o aumento das tensões entre grandes proprietários de terra, governo e desassistidos pelos programas de governo referentes à terra, mineração e outras atividades sócio econômicas, foi estimulado um processo de sindicalização e reuniões de lideranças apoiadas por movimentos religiosos ligados `a Igreja Católica. O reconhecimento desses movimentos como sendo de cunho social passou a ser legitimado na Constituição de 1988. (LACERDA, 2013).

7 LC 97, de 9/06/1999, atribuiu por intermédio do seu Art. 15, dentre outras missões, o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, por iniciativa dos poderes constitucionais e por ato do Presidente da República, após esgotada as capacidades dos meios de segurança pública. Em 25/08/2010, a LC 136, por intermédio do seu Art 16-A, foi estabelecida atribuição subsidiária de poder de polícia para atuar na Faixa de Fronteira face a delitos transfronteiriços e ambientais.

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A partir de 1990, algumas organizações (especialmente as da Amazônia) se fortaleceram com relativa profusão de recursos e financiamentos internacionais, fruto de acordos bilaterais obtidos no contexto da ECO-928, os quais recebiam recursos e oriundos de diálogos internacionais. A partir de 2003, o fluxo de financiamentos se reverteria, passando o governo brasileiro a funcionar como maior fonte de proventos dos movimentos sociais. O Estado abandonou a condição de repressor das mobilizações, para assumir papel de financiador de movimentos como Movimentos dos Sem Terra (MST), Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB), dentre outros.

(LACERDA, 2013)

Neste contexto, os movimentos sociais passaram a ter conotação política e figurar como currais eleitorais de políticos e partidos e elementos de manobra para atingir objetivos políticos. Alguns mais organizados (MST) passaram a se armar para seguidos enfrentamentos com a segurança de fazendeiros (como ocorrido em Eldorado do Carajás, 1996), participação em bloqueios de estrada, depredação de patrimônio público e outros crimes.

Um outro movimento de destaque na região da Amazônia Oriental é o Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), atuante a mais de três décadas na região de Tucuruí-PA e Altamira-PA (Belo Monte). Com narrativas embasadas em indenizações devidas e não recebidas, promovem invasões nas Hidrelétricas, articulam-se para manobras políticas e possuem histórico de enfrentamento com as Forças de Segurança Pública.

Apesar destes eventos estarem direcionados a ações de segurança pública, o histórico de emprego do Exército em operações de Garantia da Lei e da Ordem constrói um ambiente de expectativa. Assim, cresce de importância o acompanhamento por meio de atividades de inteligência para emprego em atividades de Garantia da Lei e da Ordem, a presença militar e o adestramento de tropas voltadas para a preservação de estruturas estratégicas (Invasão do Centro de Operações da Usina Hidrelétrica de Tucuruí pelo MAB em 2010) e outras ações voltadas para interoperabilidade dos órgãos de segurança pública.

8 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco- 92, foi uma conferência de chefes de estado organizada pelas Nações Unidas e realizada de 3 a 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Seu objetivo foi debater os problemas ambientais mundiais.

Referências

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