• Nenhum resultado encontrado

permitem formulada afirmação afirmação PACIENTE PACIENTE SEBASTIÃO PACIENTE PACIENTE PACIENTE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "permitem formulada afirmação afirmação PACIENTE PACIENTE SEBASTIÃO PACIENTE PACIENTE PACIENTE"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 208.576 - SP (2011/0126771-6) RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI

IMPETRANTE : CARLOS ALBERTO TELLES

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : ADRIANA CRISTINA FONSECA

PACIENTE : ADRIANA MEDEIROS DE ANDRADE PACIENTE : JÉSICA CAROLINA SILVA

PACIENTE : SEBASTIÃO LOURENÇO PEREIRA PACIENTE : ZELINA COSTA DE OLIVEIRA

EMENTA

HABEAS CORPUS. FALSO TESTEMUNHO. APONTADA IMPRESCINDIBILIDADE DE INQUÉRITO POLICIAL PARA PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL. DESNECESSIDADE.

DENÚNCIA QUE PODE ESTAR FUNDAMENTADA EM QUAISQUER ELEMENTOS DE CONVICÇÃO OBTIDOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO.

1. O Ministério Público pode iniciar a persecução penal com base em quaisquer elementos hábeis a formar a sua opinio delicti. Doutrina. Jurisprudência.

FALSO TESTEMUNHO. CONSUMAÇÃO NO MOMENTO EM QUE FEITA A AFIRMAÇÃO FALSA. DESNECESSIDADE DE SENTENÇA CONDENATÓRIA DO PROCESSO EM QUE FEITO O FALSO TESTEMUNHO. EIVA NÃO CONFIGURADA.

1. É pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de que o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento, podendo, inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito.

2. Não há exigir sentença condenatória do processo para a configuração do crime do art. 342 do CP, não havendo, por isso mesmo, impedimento ao oferecimento da denúncia antes mesmo da prolatação do édito repressor nos autos em que feita a afirmação falsa, restando apenas condicionada a sua conclusão diante da possibilidade de retratação, nos termos do art. 342, § 2º, do CP.

DENÚNCIA. INÉPCIA. NÃO OCORRÊNCIA. SUFICIENTE NARRATIVA DO CRIME EM TESE PERPETRADO. AMPLA DEFESA PRESERVADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.

1. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados no artigo 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente a conduta típica, cuja autoria é atribuída aos denunciados devidamente qualificados, circunstâncias que permitem o exercício da ampla defesa no seio da persecução penal, na qual se observará o devido processo legal.

(2)

Superior Tribunal de Justiça

TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO. ATIPICIDADE, CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE OU AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA OU PROVA DA MATERIALIDADE DO DELITO.

HIPÓTESE NÃO CONFIGURADA. ORDEM DENEGADA.

1. O trancamento de ação penal é medida excepcional, só admitida quando restar provada, inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, a atipicidade da conduta, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade, ou, ainda, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito.

2. In casu, existem elementos probatórios mínimos indicativos da prática do ilícito descrito na exordial acusatória e, não sendo possível atestar de plano a atipicidade da conduta atribuída aos pacientes, impossível concluir-se pela inexistência de justa causa para a persecução criminal.

3. Para se negar a ocorrência do fato delituoso, seria necessária análise aprofundada de matéria fático-probatória - sequer ainda produzida -, o que é vedado na via estreita do remédio constitucional.

4. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem. Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ), Gilson Dipp e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 04 de outubro de 2011. (Data do Julgamento).

MINISTRO JORGE MUSSI Relator

(3)

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 208.576 - SP (2011/0126771-6)

IMPETRANTE : CARLOS ALBERTO TELLES

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : ADRIANA CRISTINA FONSECA

PACIENTE : ADRIANA MEDEIROS DE ANDRADE PACIENTE : JÉSICA CAROLINA SILVA

PACIENTE : SEBASTIÃO LOURENÇO PEREIRA PACIENTE : ZELINA COSTA DE OLIVEIRA

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Trata-se de habeas corpus com pedido liminar impetrado em favor de ADRIANA CRISTINA FONSECA, ADRIANA MEDEIROS DE ANDRADE, JÉSICA CAROLINA SILVA, SEBASTIÃO LOURENÇO PEREIRA e ZELINA COSTA DE OLIVEIRA, apontando como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou a ordem no julgamento do HC nº 0536838-36.2010.8.26.0000.

Noticiam os autos que os pacientes foram denunciados como incursos nas sanções do art. 342, § 1º, do Código Penal.

Sustenta o impetrante a ocorrência de constrangimento ilegal sob o argumento de que não haveria justa causa para a instauração da persecução penal, uma vez que para a configuração do delito de falso testemunho seria indispensável a prolação da sentença no processo de origem, pois o depoimento poderia ser retratado.

Alega que estaria caracterizado cerceamento de defesa em razão da ausência de inquérito policial, aduzindo que o representante do Ministério Público teria extraído cópia dos autos para iniciar a ação penal, extrapolando, assim, suas atribuições.

Argumenta que a exordial acusatória seria inepta, pois atribuiu aos acusados a prática de supostos fatos ilícitos de forma genérica, sem individualizar a conduta de cada um, malferindo as determinações previstas no art. 41 do CPP.

Requer, liminarmente, a suspensão da ação penal, e, no mérito, pugna pelo seu trancamento, bem como pelo reconhecimento da nulidade processual em

(4)

Superior Tribunal de Justiça

razão da ausência de inquérito policial.

A liminar foi indeferida (e-STJ fls. 223/224).

Informações prestadas (e-STJ fls. 232/302).

A douta Subprocuradoria-Geral da República opinou pela denegação da ordem (e-STJ fls. 306/309).

É o relatório.

(5)

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 208.576 - SP (2011/0126771-6)

VOTO

O SENHOR MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Conforme relatado, com a presente ordem mandamental, pugna o impetrante pelo trancamento da ação penal, bem como pelo reconhecimento da nulidade processual em razão da ausência de inquérito policial.

Na origem, denúncia em desfavor dos pacientes pela suposta prática do crime do art. 342, § 1º, do Código Penal, nos seguintes termos (e-STJ fls.

21/23):

Consta das inclusas cópias que instruem a presente que, no dia 6/7/10, período vespertino, durante audiência realizada neste F´rum, situado na Rua Feres Sadalla, 761, Guariba, Adriana Cristina (...), Adriana Medeiros (...), Jéssica (...), Sebastião (...) e Adelina (...), fizeram afirmação falsa, como testemunha, nos autos do processo-crime 122/10, que tramita nesta Comarca, com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal.

Segundo consta, de forma suficiente das cópias que apresentamos com a inicial, os denunciados foram arrolados como testemunhas de defesa de André da Silva Cardoso, nos autos do processo-crime 122/10, na qual se imputa a prática dos delitos capitulados nos arts. 33, caput, 34 e 35, todos da Lei 11.343/06, art. 16, parágrafo único, IV, e 14, ambos da Lei 10.826/03 e art. 244-B do ECA.

Na data e local dos fatos, os denunciados, mesmo advertidos insistentemente pela Magistrada que presidiu a audiência quanto ao crime de falso testemunho, estando devidamente compromissados a dizerem a verdade, fizeram afirmacao falsa, com o fim de obter prova destinada a produzir efeito nos autos do processo criminal 122/10.

Disseram os denunciados à D. Juíza que André foi detido em via pública, jogando futebol, quando na verdade, conforme se verifica nos documentos que instruem a presente peça de acusação formal, André foi capturado pelo policial Iranildo no interior da residência de Joaquim

(6)

Superior Tribunal de Justiça

Barbosa dos Santos. Tanto não é verdade que André foi preso em via pública que, no momento da captura dele e só por esse motivo, os militares realizaram busca no interior do imóvel em que André se escondeu e lá encontraram duas armas de fogo, sem o devido e necessário registro válido, conforme cópias anexas. Não há dúvidas de que os denunciados mentiram, diante dos depoimentos dos policiais militares Heládio e Iranildo, prestados tanto no processo-crime 122/10 quanto nos autos do Inquérito Policial 416/10 e, em especial, pelo fato de que, se André não tivesse sido preso na residência de Joaquim, os policiais não teriam apreendido as armas de fogo indicadas no auto de exibição e apreensão que segue anexo à presente. A toda evidência, não havia qualquer motivo para que os militares ingressassem na residência de Joaquim se não estivessem perseguindo André da Silva.

Visavam os denunciados enganar a Justiça tentando fazer crer que André não fugiu dos policiais militares, após ser flagrado dentro do imóvel situado na Rua Joaquim de Abreu Sampaio, s/n (próximo ao nº 512), Jd.

Monte Alegre, nesta Comarca, em poder de cerca de 10kg de maconha, uma porção de crack, diversos objetos destinados à preparação de drogas, uma arma de fogo com numeração obliterada e 27 cartuchos de calibre 380..

Pretendiam os denunciados, assim, levar a MM Juíza a erro, fazendo-a acreditar que André, no momento da prisão, apenas "jogava futebol com seus amigos na via pública" e, portanto, não teria qualquer relação com os ilícitos mencionados.

Diante do exposto, denuncio Adriana Cristina (...), Adriana Medeiros (...), Jéssica (...), Sebastião (...) e Adelina (...), como incursos no art. 342, § 1º, do CP (...).

Irresignada, a defesa impetrou habeas corpus no Tribunal de origem, cuja ordem foi denegada (e-STJ fls. 206/215):

2. Inviável o trancamento da ação penal.

Detém-se o impetrante sobre a alegação de que falta justa causa para o recebimento da inicial acusatoria que imputa aos pacientes infração ao artigo 342, §le antes de sentenciada a ação penal no bojo da qual o crime teria se consumado.

Alega que somente com o pronunciamento final do julgador de Primeira Instância é que se poderá aferir se os depoimentos prestados foram inverídicos. Aduz cerceamento de Defesa porque dispensada a prévia instauração de inquérito policial e articula, ainda, que,

(7)

Superior Tribunal de Justiça

diante da possibilidade de retratação até o término da ação penal originária, a denúncia não poderia ser recebida pela autoridade coatora.

Inicialmente, no que tange ao último argumento sustentado pelo impetrante, consigno que a despeito do deferimento da liminar, o entendimento de que é mais custoso e até infrutífero, o movimento de toda a máquina judiciária para a instrução processual penal de um delito que só se tornaria punível pelo inesperado não exercício da retratação, restou superado, em exame mais acurado próprio ao juízo de mérito, pelo de que a existência de eventual causa excludente da punibilidade, porquanto não interfira na existência do fato típico e antijurídico, mas cause reflexos negativos na ocorrência da prescrição penal, não condiciona o exercício da ação penal por perjúrio à prolação de sentença na ação originária.

Com efeito, a evolução do entendimento jurisprudencial e doutrinário é no sentido de se desprezar o reconhecimento virtual ou provável da causa extintiva da punibilidade, seja ela a prescrição, ou, como no caso, a retratação do agente.

A esse respeito, Rogério Sanches Cunha já se pronunciou: "em que pese ficar esta ação norteada pelos princípios da obrigatoriedade e indisponibilidade, encontramos decisões várias não admitindo o início do inquérito policial ou da ação penal contra testemunha (ou perito) mendaz enquanto não ultimado o processo em que o depoimento tachado de falso foi prestado (RT 674/347), fundamentando, em síntese, na possibilidade da retratação. Com o devido respeito, entendemos mais correta a posição daqueles que ensinam não ficar o falso testemunho (ou perícia), para configurar-se, na dependência da oportunidade da retratação, pois não é nula uma causa excludente do crime, e sim extintiva da punibilidade ("o fato de ser punível", reza o §2a do art. 342 do CP), tratando-se, portanto, de condição resolutiva, e não de condição suspensiva (RT 321171)." (Direito Penal- Parte Especial, 3a ed. Coordenação Luiz Flávio Gomes e Rogério Sanches Cunha, Revista dos Tribunais, p. 481).

Ora, a consumação do delito previsto pelo art. 342, §1Q do CP se dá, em audiência, com a prestação do falso testemunho, de modo que a partir de tanto, nasce para o Estado o Poder-Dever de apurar os fatos e dar andamento, até mesmo, à ação penal. Eventual superveniência de causa excludente da punibilidade, como a prescrição ou a retratação não tem o condão de impedir o trâmite da ação penal antes de sua deflagração.

Por outro lado, como sabido, a instauração de inquérito

(8)

Superior Tribunal de Justiça

policial tem natureza inquisitiva, não contraditória, e portanto, sua legítima dispensa pelo dominus litis não pode ser vista como prejudicial aos acusados.

Encontra completa aplicação ao caso, a seguinte jurisprudência do STJ:

CRIMINAL. HC. FALSO TESTEMUNHO.

TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A INVESTIGAÇÃO NÃO-EVIDENCIADA. PRESCINDIBILIDADE DE SENTENÇA, NO FEITO EM QUE COMETIDO, EM TESE, O PERJÚRIO, PARA A INSTAURAÇÃO DA AÇÃO

PENAL POR FALSO TESTEMUNHO. ORDEM

DENEGADA.

I...

II. O inquérito policial é mera peça informativa, destinada a apurar a prática de crimes, cujo trancamento, na via do habeas corpus, somente seria possível se demonstrada, de forma inequívoca e sem necessidade de exame aprofundado de provas, a flagrante e inequívoca atipicidade da conduta imputada ao investigado ou impossibilidade deste ser o autor dos fatos.

III. O delito de falso testemunho consuma-se com o encerramento do depoimento prestado, quando se faz a afirmação falsa, embora o Código de Processo Penal admita que a retratação seja efetivada até a prolação da sentença no feito em que o ilícito teria sido cometido.

IV. A eventual absolvição do réu pelo Tribunal não afasta a consumação do delito, mesmo que tal testemunho não influído no resultado do julgamento, pois a ação que viola a lei é o próprio depoimento prestado com o fim de subverter a verdade dos fatos, causando dano à Justiça.

... (HC 73059 / SP, Rei. Min.: Gilson Dipp, 5a Turma, data do julgamento: 17/05/2007).

3. Por fim, constata-se que a denúncia (fls. 14/15) contém todos os elementos essenciais para o exercício do direito de ação e de defesa. Descreve que os denunciados incorreram em falso testemunho ao declararem que o réu daquela ação, André da Silva Cardoso, foi preso na rua, enquanto jogava bola, ao passo que o auto de prisão em flagrante dá conta de que aquele réu foi encontrado por policiais no interior da casa de Joaquim Barbosa dos Santos. A conduta está devidamente individualizada na exordial acusatória, ainda mais quando consideradas que as provas do crime são documentais e cópias dos testemunhos que motivaram a acusação instruem os autos.

Consignou a acusação que: "Visavam os denunciados enganar a Justiça, tentando fazer crer que André não fugiu dos policiais militares, após ser flagrado dentro do

(9)

Superior Tribunal de Justiça

imóvel situado na rua Joaquim de Abreu Sampaio, si nQ (próximo ao n° 512), Jd. Monte Alegre, nesta Comarca, em poder de cerca de 10 Kg (dez quilos) de "maconha", uma porção de "crack", diversos objetos destinados à preparação de drogas, uma arma de fogo com numeração obliterada e 27 (vinte e sete) cartuchos de calibe 380."

Suficientes, dessa forma, os elementos de convicção para que se formule o juízo de probabilidade necessário à configuração da justa causa para a propositura de ação penal. As circunstâncias que permeiam o fato, dando-lhe contornos de ilicitude, por sua vez, deverão ser aferidas com maior profundidade pelo Juízo impetrado, quando do julgamento de mérito, pois sua apreciação envolve questões de alta indagação, cuja análise se mostra impossível na via estreita do habeas corpus.

Ademais, é entendimento pacificado nos Tribunais pátrios que o recebimento da denúncia não exige prova incontroversa, justificando-se a instauração da ação penal desde que algum elemento de convicção lhe sirva de alicerce.

Nesse sentido:

"O trancamento de Ação Penal por meio de Habeas Corpus, conquanto possível, é medida de todo excepcional, somente admitida nas hipóteses em que se mostrar evidente, de plano, a ausência de justa causa, a inexistência de elementos indiciários demonstrativos da autoria e da materialidade do delito ou, ainda, a presença de alguma causa excludente de punibüidade. (...) havendo indícios mínimos de autoria e sendo controvertidas as teses defensivas, inviável o trancamento da Ação Penal pela via do mandamus."

(STJ, HC n° 102.895/DF, 5â Turma, Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 04.12.08, VU.)

Por assim ser, o reconhecimento da falta de justa causa para o

trancamento pretendido só tem cabimento sob o fundamento de divórcio entre a imputação contida na denúncia e os elementos de convicção em que ela se apoia, isto é, quando a desconformidade entre a acusação feita ao denunciado e os elementos que lhe servem de suporte for incontroversa e evidente, revelando que a pretensão punitiva resulta de pura criação mental de seu titular.

Com efeito, conforme vem decidindo esta Colenda Câmara, só se pode admitir o trancamento da ação penal em casos muito peculiares: quando o fato é atípico; já estiver extinta a punibüidade ou, ainda, quando a inicial acusatoria não encontrar embasamento fático,

(10)

Superior Tribunal de Justiça

emergindo, clara e induvidosamente, a inocência do acusado. Em suma, a denúncia, que se funda em elementos mínimos de autoria e materialidade, está apta ao regular exercício da ampla defesa e do contraditório.

E, inexistindo, no momento, qualquer causa para a extinção da punibilidade dos agentes, não se vislumbra o direito ao trancamento da ação.

4. Em face do exposto, pelo meu voto, denego a ordem impetrada.

Daí o presente writ.

Sem razão, contudo.

De início, como cediço, o Ministério Público pode iniciar a persecução penal com base em quaisquer elementos hábeis a formar a sua opinio delicti.

Nessa ordem de ideias, merece destaque o entendimento já consagrado na doutrina e na jurisprudência no sentido de que o inquérito policial é dispensável para a propositura da ação penal, que pressupõe, apenas, a existência de documentos que forneçam subsídios à atuação do órgão ministerial, como, por exemplo, um procedimento administrativo, tal como sucedeu no caso dos autos.

A propósito, Guilherme de Souza Nucci leciona que "o inquérito não é peça indispensável para o oferecimento de denúncia ou queixa, embora deva ser substituído por prova idônea pré-constituída, evitando-se o ajuizamento de ações penais temerárias e sem justa causa" (Código de Processo Penal Comentado. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 167).

Não é outra a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. (...) TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.

DISPENSABILIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL.

(...)

III - O inquérito policial, por ser peça meramente informativa, não é pressuposto necessário para a propositura da ação penal, podendo essa ser embasada em outros elementos hábeis a formar a opinio delicti de seu titular (Precedentes desta Corte e do c. Pretório Excelso).

Recurso desprovido.

(RHC 27.031/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 20/04/2010, DJe 07/06/2010)

O Supremo Tribunal Federal possui precedente no mesmo sentido:

(11)

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. ART. 171, CAPUT DO CÓDIGO PENAL.

1 - O inquérito policial não é procedimento indispensável à propositura da ação penal (RHC nº 58.743/ES, Min. Moreira Alves, DJ 08/05/1981 e RHC nº 62.300/RJ, Min. Aldir Passarinho).

(...)

4 - "Habeas corpus" indeferido.

(HC 82246, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 15/10/2002, DJ 14-11-2002 PP-00033 EMENT VOL-02091-02 PP-00265)

Por outro lado, é pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de que o crime de falso testemunho é de natureza formal, consumando-se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento, podendo, inclusive, a testemunha ser autuada em flagrante delito.

Nesse aspecto, não há exigir sentença condenatória do processo para a configuração do crime do art. 342 do CP, não havendo, por isso mesmo, impedimento ao oferecimento da denúncia antes mesmo da prolatação do édito repressor nos autos em que feita a afirmação falsa, restando apenas condicionada a sua conclusão diante da possibilidade de retratação, nos termos do art. 342, § 2º, do CP.

A propósito, colhem-se os seguintes julgados do Superior Tribunal de Justiça:

"RESP. PENAL. FALSO TESTEMUNHO. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO RESULTADO DO PROCESSO PRINCIPAL. PENA - FIXAÇÃO.

CRITÉRIOS. ART. 59 CP. SÚMULA 7/STJ.

1. Para configuração do crime de falso testemunho, de natureza formal, que se consuma com o depoimento contrafeito, é irrelevante o resultado do processo principal, porque aquele delito se dirige contra outra objetividade jurídica (a reta administração da Justiça).

(...)

3. Recurso especial não conhecido." (Resp-224.774/SC, Rel. Min.

FERNANDO GONÇALVES, 6ª Turma, DJ de 2/10/00)

"CRIMINAL. HC. FALSO TESTEMUNHO. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A INVESTIGAÇÃO NÃO-EVIDENCIADA. PRESCINDIBILIDADE DE SENTENÇA, NO FEITO EM QUE COMETIDO, EM TESE, O PERJÚRIO, PARA A INSTAURAÇÃO DA AÇÃO PENAL POR FALSO TESTEMUNHO. ORDEM DENEGADA.

I. Hipótese em que o Magistrado requisitou a instauração de inquérito policial para apurar a suposta prática do delito de falso

(12)

Superior Tribunal de Justiça

testemunho pelo paciente, que havia sido ouvido como testemunha de defesa em ação penal instaurada em razão da prática do crime de estupro.

(...)

III. O delito de falso testemunho consuma-se com o encerramento do depoimento prestado, quando se faz a afirmação falsa, embora o Código de Processo Penal admita que a retratação seja efetivada até a prolação da sentença no feito em que o ilícito teria sido cometido.

IV. A eventual absolvição do réu pelo Tribunal não afasta a consumação do delito, mesmo que tal testemunho não tenha influído no resultado do julgamento, pois a ação que viola a lei é o próprio depoimento prestado com o fim de subverter a verdade dos fatos, causando dano à Justiça.

(...)

VII. Ordem denegada." (HC-73.059/SP, Rel. Min. GILSON DIPP, 5ª Turma, DJ de 29/6/07)

Por fim, compulsando-se os autos, especialmente a denúncia ofertada contra os pacientes pela suposta prática do crime previsto no art. 342, § 1º, do CP, não se vislumbra a alegada inépcia da peça vestibular, porquanto se infere que foi formulada em obediência aos requisitos traçados no art. 41 do Código de Processo Penal, pois descrito satisfatoriamente o fato típico denunciado, crime em tese, com todas as circunstâncias, atribuindo-o aos acusados, com base nos elementos coletados na fase informativa, terminando por classificá-los ao indicar o dispositivo legal supostamente infringido.

Sobre o tema, cumpre mencionar que o art. 41 do Código de Processo Penal prescreve que "a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas ", isto é, exatamente como se vê da referida peça em tela, a qual expôs a época, o local e a forma a qual supostamente os acusados teriam cometido o crime, bem como a sua qualificação, estando, portanto, formalmente apresentada e descrevendo com clareza o fato e a conduta dos pacientes que, em tese, configuraria o crime previsto no art. art. 342, § 1º, do CP, razão bastante para afastar a ventilada inépcia da exordial.

A respeito da matéria, Júlio Fabbrini Mirabete assim expõe os pressupostos da denúncia, veja-se:

"Devem estar relatadas na denúncia todas as

(13)

Superior Tribunal de Justiça

circunstâncias do fato que possam interessar à apreciação do crime, sejam elas mencionadas expressamente em lei como qualificadoras, agravantes, atenuantes, causas de aumento ou diminuição de pena etc., como as que se referem ao tempo, lugar, meios e modos de execução, causas, efeitos etc. Devem ser esclarecidas as questões mencionadas nas seguintes expressões latinas: quis (o sujeito ativo do crime);

quibus auxiliis (os autores e meios empregados); quid (o mal produzido); ubi (o lugar do crime); cur (os motivos do crime); quomodo (a maneira pelo qual foi praticado) e quando (o tempo do fato). Mas, se a peça, ainda que concisa, contém os elementos essenciais, a falta ou omissão de circunstância não a invalida [...] Isso porque a deficiência da denúncia que não impede a compreensão da acusação nela formulada não enseja a nulidade do processo" (Código de processo penal interpretado. São Paulo: Atlas, p. 128).

Vicente Greco Filho também traz peculiar lição quanto ao tema, leia-se:

"A falta de descrição de uma elementar provoca a inépcia da denúncia, porque a defesa não pode se defender de fato que não foi imputado. Denúncia inepta deve ser rejeitada [...].

"[...] As circunstâncias identificadoras são as demais circunstâncias de fato que individualizam a infração com relação a outras infrações da mesma natureza. São as circunstâncias de tempo e lugar. O defeito, ou a dúvida, quanto a circunstâncias individualizadoras, se não for de molde a tornar impossível a identificação da infração, não conduz à inépcia da denúncia, mas, ao contrário, facilita a defesa, porque pode dar azo à negativa da autoria mediante, por exemplo, a alegação de um álibi. A deficiência nas circunstâncias individualizadoras não pode, contudo, ser tão grande a ponto de impedir totalmente a identificação da infração" (Manual de processo penal. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, p. 114-5).

Tem-se, assim, que a exordial acusatória em exame apresentou uma narrativa congruente dos fatos a incidir no tipo penal do dispositivo supraticado, permitindo o exercício da ampla defesa pelos pacientes não havendo falar em falta de individualização ou pormenorização das condutas que teriam sido pelos réus praticadas.

(14)

Superior Tribunal de Justiça

Por outro lado, como é cediço, o trancamento de ação penal na via do habeas corpus é medida excepcional, só admitida quando restar provada, inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto fático ou probatório, a atipicidade da conduta, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade, ou, ainda, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito.

Na hipótese vertente, existem elementos probatórios mínimos indicativos da prática do ilícito descrito na exordial acusatória e, não sendo possível atestar de plano a atipicidade da conduta atribuída aos pacientes, impossível concluir-se pela inexistência de justa causa para a persecução criminal.

Assim, para se negar a ocorrência do fato delituoso, seria necessária análise aprofundada de matéria fático-probatória, o que é vedado na via estreita do remédio constitucional.

Nesse sentido é a jurisprudência pacífica desta Corte Superior:

HABEAS CORPUS. CRIMES DE DIFAMAÇÃO E INJÚRIA.

PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. (...) PARECER DO MPF PELO CONHECIMENTO PARCIAL DA ORDEM E, NA EXTENSÃO, PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. HABEAS CORPUS PARCIALMENTE CONHECIDO E, NA EXTENSÃO, ORDEM DENEGADA.

(...)

2. Nos termos de entendimento há muito consolidado nesta Corte Superior, o trancamento de uma ação penal exige que a ausência de comprovação da existência do crime, dos indícios de autoria, de justa causa, bem como a atipicidade da conduta ou a existência de uma causa extintiva da punibilidade esteja evidente, independente de aprofundamento na prova dos autos, situação incompatível com a estreita via cognitiva do Habeas Corpus, tal como se dá na espécie ora em exame, em que há prova da materialidade e, como visto acima, indícios suficientes de autoria.

(...)

4. Habeas Corpus parcialmente conhecido e, na extensão, ordem denegada, em consonância com o parecer ministerial.

(HC 145.249/MS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 22/02/2011, DJe 21/03/2011)

HABEAS CORPUS. INJÚRIA PRATICADA POR ADVOGADO CONTRA JUIZ FEDERAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.

FALTA DE JUSTA CAUSA. INEXISTÊNCIA DE DOLO. EXAME APROFUNDADO DAS PROVAS. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA. (...) ORDEM DENEGADA.

1. Reconhecido que não se trata de hipótese de atipicidade da conduta, de inexistência absoluta de indícios de autoria ou de

(15)

Superior Tribunal de Justiça

extinção da punibilidade, não é de se falar em falta de justa causa para a ação penal, impondo-se notar que a alegação de não ter sido demonstrado o dolo específico demandaria, necessariamente, o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, inviável de se operar na via eleita, a ser realizado, por certo, no recurso já manejado.

(...)

3. Ordem denegada.

(HC 80.646/RJ, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 25/11/2008, DJe 09/02/2009)

Desse modo, deve ser mantido o entendimento firmado na instância ordinária por inexistir constrangimento ilegal apto a fundamentar a concessão da ordem.

Ante o exposto, denego a ordem.

É o voto.

(16)

Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA

Número Registro: 2011/0126771-6 HC 208.576 / SP

MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 5368383620108260000 5712010 990105368387

EM MESA JULGADO: 04/10/2011

Relator

Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO XAVIER PINHEIRO FILHO Secretário

Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO IMPETRANTE : CARLOS ALBERTO TELLES

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : ADRIANA CRISTINA FONSECA

PACIENTE : ADRIANA MEDEIROS DE ANDRADE PACIENTE : JÉSICA CAROLINA SILVA

PACIENTE : SEBASTIÃO LOURENÇO PEREIRA PACIENTE : ZELINA COSTA DE OLIVEIRA

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Contra a Administração da Justiça - Falso testemunho ou falsa perícia

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"A Turma, por unanimidade, denegou a ordem."

Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ), Gilson Dipp e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Referências

Documentos relacionados

4º A direção do serviço de saúde deve constituir o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e nomear a sua composição, conferindo aos membros autoridade, responsabilidade

A equipe irá reconhecer e se preparar efetivamente para o risco de elevada perda de sangue.. A equipe irá evitar induzir qualquer alergia ou reação adversa a

Na quinta-feira do dia 15 de abril de dois mil e dez, estiveram presentes os representantes do setor agrícola; da Fundação Florestal; do Instituto Florestal e Prefeitura Municipal

Como a Cooperativa não visa lucro, parte dos juros pagos no ano poderá voltar para o cooperado , o que na prática reduz ainda mais seus custos... Não há cobrança de nenhum tipo

A investigação se desenvolveu através de quatro fases distintas, quais sejam: (i) pesquisa bibliográfica, para informar a base conceitual do estudo com vistas

Habeas corpus e o trancamento do inquérito policial ou da ação penal .... Intervenção do promotor de justiça na ação de habeas corpus perante o primeiro grau de

Ao buscar descrever o conteúdo argumentativo dos enunciados e identificar a atitude discursiva do locutor e a voz da Pessoa Enunciativa − segundo o método proposto pela fase

1 vaga: quarta-feira noite, quinta-feira noite, sábado tarde 1 vaga: segunda-feira noite, terça-feira noite, sábado manhã Licenciatura em Biologia 1 vaga: sexta-feira tarde,