GT 10 - Informação e Memória Modalidade de apresentação: Pôster
ÍNDICES COMO FONTE DE MEMÓRIA E INFORMAÇÃO:
experiência com os documentos avulsos referentes à Capitania da Paraíba
Maria Vitória Barbosa Lima
Universidade Federal da Paraíba
Laudereida Eliana Marques Morais
Universidade Federal da Paraíba
RESUMO: O governo brasileiro desenvolveu uma efetiva política cultural para resgatar, em arquivos europeus (Espanha, Portugal, Holanda, França), diversos documentos sobre a memória nacional. Nessa perspectiva, o Projeto Resgate “Barão do Rio Branco”, do Ministério da Cultura, realizou parcerias com os governos estaduais e as instituições privadas para organizar os documentos manuscritos referentes às capitanias brasileiras existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), de Lisboa – Portugal. O Projeto Resgate “Barão do Rio Branco” – Paraíba - organizou mais de 10.000 documentos sobre essa Capitania, produzidos no período de 1593 a 1826, e realizou a descrição de 3.523 documentos principais. Cabe agora aos pesquisadores, em geral, utilizarem as
informações que alimentam a memória para (re)construir a História da Paraíba. O presente pôster tem por objetivo relatar as experiências na elaboração dos índices (toponímico, onomástico e temático) do Catálogo da Paraíba, como também expor e discutir possibilidades temáticas oferecidas pelos documentos do AHU – seção Paraíba.
Palavras-chave: Índices. Memória social. Informações memorialísticas. Documentos
históricos.
1 INTRODUÇÃO
O trabalho objetiva relatar uma experiência na elaboração dos índices (toponímico, onomástico e temático) do Catálogo da Paraíba, como também expõe e discute algumas possibilidades temáticas oferecidas pelos documentos do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Lisboa/Portugal - seção Paraíba.
A história da Paraíba Colonial
1necessita, ainda, de muitas pesquisas que nos permitam compreender a construção da memória social para reiterar aspectos identitários. Entre as dificuldades apontadas, encontra-se a dispersão das fontes documentais - muitas estão em arquivos estrangeiros - associada à perda definitiva (destruição), em nossos arquivos, de grande parte dos originais que registraram a memória da Paraíba colonial. Contudo, o governo brasileiro desenvolveu uma efetiva política cultural para resgatar, em arquivos europeus (Espanha, Holanda, França, Portugal), diversos documentos sobre a memória nacional, que permitem perceber a memória social. Foi com essa política que o Projeto Resgate “Barão do Rio Branco”
2, do Ministério da Cultura, realizou parcerias com os governos estaduais e as instituições privadas para organizar os documentos manuscritos referentes às capitanias brasileiras existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), de Lisboa – Portugal.
O Projeto Resgate “Barão do Rio Branco” - Paraíba
3- organizou mais de dez mil documentos sobre essa Capitania, produzidos no período de 1593 a 1826, e realizou a descrição de
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Sobre as lacunas na produção científica da Paraíba colonial, sugerimos a leitura do artigo de Regina Célia Gonçalves (2000).
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Projeto coordenado pela Assessoria Especial do Ministério da Cultura do Brasil, na pessoa da professora Esther Caldas Bertoletti.
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O governo federal e o governo estadual enviaram uma equipe de três professores para a realização desse trabalho.
Foram eles: os professores da UFPB, Elza Régis de Oliveira e Mozart Vergetti de Menezes; e a professora Maria da
Vitória Barbosa Lima.
3.523 resumos dos documentos principais. Cabe, agora, aos pesquisadores, em geral, utilizarem as informações memorialísticas com vistas à (re) construção da História da Paraíba Colonial.
O trabalho da equipe da Paraíba enviada a Portugal para organizar a documentação referente a essa capitania no AHU resultou na elaboração do “Catálogo dos Documentos Manuscritos Avulsos Referentes à Paraíba, existentes no Arquivo Ultramarino de Lisboa”, publicado no ano de 2002. A elaboração dos índices (onomástico, toponímico e temático) é uma atividade complementar ao catálogo e teve os seguintes objetivos:
a) Identificar e uniformizar as palavras-chave adotadas, permitindo a exatidão das informações existentes na documentação;
b) Mapear exaustivamente todas as informações contidas no resumo dos documentos, para tornar os índices mais completos e informativos;
c) Permitir ao pesquisador a localização mais rápida da documentação de que necessita.
Podem nos perguntar: Por que a produção desses instrumentos de pesquisa, quando já existem na tecnologia novos elementos de busca? Por que se a documentação pode ser encontrada no Centro de Memória Digital e em meio digital (suporte cd)? Afirmamos que os índices são instrumentos indispensáveis à recuperação de informações contidas numa publicação (livros, aqui são pensados como documentação secundária) ou documentação primária.
2 OS ÍNDICES
Os índices se constituem de uma listagem de palavras significativas, com indicação da localização das informações no documento. Além disso, eles oferecem uma filtragem e acesso rápido do documento, que um elemento de busca eletrônico, como o Google, por exemplo, não pode oferecer, pois se usarmos essa ferramenta de busca para o termo “escravo”, teremos milhares de possibilidades e, possivelmente, não encontraremos o documento que desejamos.
Podemos demonstrar a importância dos índices, exemplificando com o uso do próprio
Sistema de Documentação (SISDOC) que acompanha os CDs com a documentação digitalizada. O
SISDOC consegue identificar o documento pelos elementos data, local, tipo documental, número do
documento e da caixa. Contudo, por esses elementos o resultado da pesquisa será geral e não
filtrado com apenas o assunto desejado. Mas ele oferece a possibilidade de se pesquisar por palavra.
Para isso, é necessário digitar * e a palavra desejada, que deve constar no resumo. Em outras palavras, significa dizer que o pesquisador terá que ler os resumos para identificar as palavras-chave a serem utilizadas na tela de pesquisa. Exemplo: Ao digitarmos * e a palavra escravo, teremos o resultado da pesquisa com os documentos que se referem a esse assunto, como mostra a figura a seguir.
Resultado da Pesquisa
Data PROJETO RESGATE
1671, setembro, 8 1722, outubro, 12 1724, abril, 10 ant. 1725, fevereiro, 7 1725, julho, 5 1725, julho, 16
Documentos manuscritos avulsos da Capitania da Paraíba
Local
Lisboa 1725, julho, 21
ant. 1725, outubro, 27 Ementa
ant. 1726, fevereiro, 22
CARTA dos lavradores e senhores de engenho da Paraíba, ao príncipe regente [D. Pedro], queixando-se dos oficiais da Câmara pela mudança da balança do açúcar de Tibiri para o passo do Varadouro e a necessidade de se fazer comércio com Pernambuco, pela falta de gêneros e navios do reino e Angola, e escravos da Guiné. Anexo: 4 docs.
Caixa Documento
1 79
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Figura 1: Resultado da Pesquisa sobre escravo Fonte: SISDOC.
Porém, se o pesquisador desconhece as palavras existentes nos resumos dos documentos e
coloca, aleatoriamente, a palavra “escravidão”, por exemplo, na pesquisa, ele terá a seguinte
resposta do SISDOC: “Documentação não encontrada. Verifique se os dados sobre o documento
estão corretos”.
O Centro de Memória Digital
4é para nós um campo ainda pouco explorado. Mas o seu problema é saber quanto tempo ele permanecerá ativo. Acreditamos, por esses e outros motivos, que os índices são importantes, razão por que os construímos. O Índice Onomástico reúne alfabeticamente nomes de personagens, autoridades ou não, que aparecem em cada documento e, quando se trata de autoridades, os nomes são acompanhados do título nobiliárquico e do cargo que ocupa. A listagem dos nomes é acompanhada pelos números dos documentos em que eles aparecem,como mostra o quadro abaixo:
S
Sebastião José de Carvalho Melo, conde de Oeiras;
marquês de Pombal; Ministro e Secretário de Estado do Reino e Mercês; Ministro assistente ao Despacho;
1740, 1761, 1781, 1787, 1792, 1859, 1875, 1876, 1877, 1878, 1879, 1922, 1965, 1984
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar e dos Negócios da Guerra
Figura 2: Resultado da Pesquisa, por códigos, sobre Sebastião José de Carvalho Melo Fonte: SISDOC
O Índice Toponímico tem entradas que registram nomes geográficos com ordenação alfabética. As palavras-chave contemplam: aldeia, arraial, barra, capitania, cidade, comarca, córrego, distrito, engenho, fazenda, fortaleza/forte, freguesia, lago, lagoa, paço, porto, povoação, praia, riacho, ribeira, rio, sertão, sesmaria, sítio, vila. Exemplo:
B
Baía da Traição, forte Bahia, capitania Baía da Traição, aldeia Boa Vista, engenho Bom Sucesso, freguesia Borborema, serra
453
511, 551, 625, 634 513
539 522 522
Figura 3: Resultado da Pesquisa da letra B no índice toponímico Fonte: SISDOC
4
O Centro de Memória Digital contempla todos os catálogos e documentos digitalizados do Projeto Resgate “Barão do
Rio Branco” Brasil. Veja em: http://www.cmd.br/resgate_catalogo.php.
O Índice Temático reúne alfabeticamente assuntos e entidades. Exemplo:
E
Escravos
79, 95, 392, 410, 431, 438, 444, 452, 461, 494, 504, 506, 511, 526, 545, 558, 568, 597, 681, 713, 719, 721, 743, 784, 1027, 1408, 1577, 1878, 1894, 1896, 1952, 1953, 1954, 2067, 2080, 2107, 2117, 2144, 2189, 2257, 2267, 2428, 2460, 2932, 3272, 3345
Figura 4: Resultado da Pesquisa por assunto Fonte: SISDOC
A elaboração dos índices foi possível graças à iniciativa da professora Maria da Vitória Barbosa Lima e alunos da disciplina Paleografia, períodos de 2004.2 e 2005.1, que eram: Cristiane Lourenço da Silva Santos, Danielle Ventura B. de Lima, Marcus Ferreira Soares Junior
5, Sandra Maria Barbosa Lima
6, Suzana Leandro de Melo (índice toponímico); Ingrid Rique da Escóssia Pereira
7(índice onomástico); André Cabral Honor
8e Clécio F. A. Silva (temático).
A partir da experiência na elaboração dos índices, foi possível perceber a importância do instrumento de pesquisa e conhecer melhor o SISDOC. Além disso, esse foi o primeiro contato com a pesquisa documental. A participação nesse primeiro projeto levou a equipe a integrar o Grupo de Pesquisa “Sociedade e Cultura na Paraíba Imperial”, coordenado pelas professoras Ariane Norma de Menezes Sá e Serioja R. Cordeiro Mariano, ambas do Departamento de História/UFPB.
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Atualmente, ele está voltado para a área de Arqueologia, sob a orientação do professor Carlos Xavier de Azevedo Netto (DCI/UFPB), coordenador do NDIHR.
6 Está terminando o Curso de Biblioteconomia (UFPB) e atua na área de Arquivologia e pesquisa histórica,
principalmente na transcrição documental.
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Hoje, é aluna do Curso de Arquivologia (UFPB) e atua em projetos de organização de arquivos.
8 Foi bolsista de iniciação científica no Projeto sobre Almagre, sob a coordenação da professora Carla Mary