UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI ´ ARIDO - UFERSA CURSO DE BACHARELADO EM CI ˆ ENCIA E TECNOLOGIA Trabalho de Conclus˜ ao de Curso (2018)
AN ´ ALISE DIFERENCIAL DA VIBRAC ¸ ˜ AO LIVRE COM AMORTECIMENTO VISCOSO DE UM SISTEMA
MASSA-MOLA PARA DIFERENTES FLUIDOS
Igor R. B. de Freitas, Matheus da Silva Menezes (Orientador)
Neste trabalho pretende-se abordar os estudos te´ oricos referentes as equa¸ c˜ oes diferencias e uti- lizar o m´ etodo de resolu¸ c˜ ao dos coeficientes constantes para encontrar a fun¸ c˜ ao que descreve o comportamento vibrat´ orio do sistema massa-mola quando imerso em diferentes fluidos. Na an´ alise te´ orica foi usado o m´ etodo dos coeficientes constantes para obter as fun¸ c˜ oes dos sis- temas: superamortecido, criticamente amortecido e subamortecido, seguido da resolu¸ c˜ ao de problemas te´ oricos. Na an´ alise experimental foi realizado uma videoan´ alise com o aux´ılio do software Tracker, com o objetivo de averiguar o comportamento do sistema quando imerso em trˆ es diferentes fluidos. Os resultados obtidos nos problemas propostos foram semelhantes aqueles vistos em teoria, comprovando assim a eficiˆ encia do m´ etodo. Na an´ alise compor- tamental, os gr´ aficos n˜ ao foram iguais a teoria, por´ em conseguiu-se uma boa descri¸ c˜ ao do fenˆ omeno.
Palavras-chave: equa¸ c˜ oes diferenciais; sistema massa-mola; superamortecido; criticamente amortecido; subamortecido
1 Introdu¸ c˜ ao
Nas ciˆ encias e na engenharia, modelos matem´ aticos s˜ ao desenvolvidos para auxiliar na compreens˜ ao de fenˆ omenos f´ısicos. Estes modelos frequentemente geram uma equa¸ c˜ ao que cont´ em algumas derivadas de uma fun¸ c˜ ao desconhecida. Tal equa¸ c˜ ao ´ e chamada de equa¸ c˜ ao diferencial [1]. Existem in´ umeras aplica¸ c˜ oes em que esses modelos podem ser usados, algumas s˜ ao: dinˆ amica populacional, decaimento radioativo, lei do movimento de Newton, dissemina¸ c˜ ao de doen¸ cas, entre outras.
Uma importante aplica¸ c˜ ao na engenharia, ´ e a an´ alise de vibra¸ c˜ oes. Mais recentemente, com o avan¸ co da tecnologia e, consequentemente da ind´ ustria, diversos problemas surgiram decorrentes desse fenˆ omeno, levando m´ aquinas e estruturas ` a falhas repentinas ou a sua inutiliza¸ c˜ ao, um exemplo disso ocorreu com a ponte de Tacoma Narrows (1940). Apesar de seus efeitos danosos, a vibra¸ c˜ ao pode ser utilizada a favor em v´ arias aplica¸ c˜ oes industriais e de consumo [2].
Diante de sua vasta aplica¸ c˜ ao ´ e importante conhecer as equa¸ c˜ oes diferenciais e saber desenvolver os m´ etodos para encontrar a fun¸ c˜ ao desconhecida de um fenˆ omeno. Vamos estudar a teoria matem´ atica relacionada as equa¸ c˜ oes diferenciais e desenvolver um dos m´ etodos utilizados para encontrar a fun¸ c˜ ao que descreve o comportamento vibrat´ orio de um sistema. O sistema em an´ alise ´ e o massa-mola com amortecimento viscoso, para qual teremos trˆ es casos distintos e poss´ıveis.
Com isso, tra¸ camos alguns objetivos: descrever a equa¸ c˜ ao diferencial, sua classifica¸ c˜ ao e teoria ma- tem´ atica relacionada; demonstrar a resolu¸ c˜ ao anal´ıtico-matem´ atica do modelo diferencial do sistema massa-mola amortecido para os diferentes casos; realizar experimento pr´ atico e com o auxilio de um software computacional verificar o comportamento gr´ afico em diferentes fluidos.
2 Fundamenta¸ c˜ ao Te´ orica
2.1 Equa¸ c˜ oes Diferenciais
Para o melhor entendimento dos estudos desenvolvidos neste trabalho, apresentaremos um breve
resumo da teoria fundamental relacionada ` as equa¸ c˜ oes diferenciais. As demonstra¸ c˜ oes dos teoremas mais
gerais fogem do escopo do presente trabalho e ser˜ ao omitidas em seu texto, podendo serem vistas na bibliografia b´ asica dos cursos de equa¸ c˜ oes diferenciais. Para darmos inicio ao estudo, faz-se necess´ ario entender o que ´ e uma equa¸ c˜ ao diferencial. Entre outros autores, [3] vem mostrar que:
Defini¸ c˜ ao 2.1 Uma equa¸ c˜ ao que cont´ em as derivadas (ou diferencias) de uma ou mais vari´ aveis depen- dentes em rela¸ c˜ ao a uma ou mais vari´ aveis independentes ´ e chamada de equa¸ c˜ ao diferencial (ED).
Essas equa¸c˜ oes, por sua vez, podem ser classificadas por tipo, ordem e linearidade. Quanto ao tipo podem ser ordin´ aria ou parcial, onde a equa¸ c˜ ao que apresenta derivadas com rela¸ c˜ ao a uma ´ unica vari´ avel independente ´ e chamada de equa¸ c˜ ao diferencial ordin´ aria (EDO), todavia, se a equa¸ c˜ ao apresenta derivadas com rela¸ c˜ ao a duas ou mais vari´ aveis independentes ´ e denominada de equa¸ c˜ ao diferencial parcial (EDP). A classifica¸ c˜ ao por ordem, corresponde a derivada de maior ordem na equa¸ c˜ ao. Quanto
`
a linearidade, dada a EDO de n-´ esima ordem por:
a
n(x) d
ny
dx
n+ a
n−1(x) d
n−1y
dx
n−1+ a
n−2(x) d
n−2y
dx
n−2+ ... + a
1(x) dy
dx + a
0(x)y = g(x). (1) A equa¸ c˜ ao acima ´ e dita linear se a vari´ avel dependente y e todas as suas derivadas y
0, y
00, ..., y
ns˜ ao do primeiro grau e os coeficientes a
0, a
1, a
2, ..., a
nde y, y
0, y
00, ..., y
n, s˜ ao constantes ou dependem de fun¸ c˜ oes cuja vari´ avel ´ e independente.
2.1.1 Equa¸ c˜ ao Linear de Segunda Ordem
A equa¸ c˜ ao linear em (1) est´ a escrita em sua forma geral de n-´ esima ordem ou de ordem n. Fazendo n = 2, obtemos a equa¸ c˜ ao linear de segunda ordem na forma:
a
2(x) d
2y
dx
2+ a
1(x) dy
dx + a
0(x)y = g(x), (2)
no qual o coeficiente a
2(x) deve ser diferente de zero. ´ E importante ressaltar dois casos em que a equa¸ c˜ ao acima pode ser apresentada, o primeiro para g(x) = 0, dizemos que a equa¸ c˜ ao ´ e homogˆ enea, caso contr´ ario, quando g(x) 6= 0, a equa¸ c˜ ao ´ e dita heterogˆ enea. Frequentemente, problemas que envolvem o sistema massa-mola resultam em uma equa¸ c˜ ao linear de segunda ordem, motivo pelo qual nossa fundamenta¸ c˜ ao te´ orica ´ e voltada para esse tipo de equa¸ c˜ ao diferencial.
2.1.2 Dependˆ encia e Independˆ encia Linear
Para entendermos a solu¸ c˜ ao geral de uma equa¸ c˜ ao homogˆ enea, precisamos definir alguns conceitos auxiliares como dependˆ encia e independˆ encia linear. Um conjunto de duas fun¸ c˜ oes c
1f
1(x) e c
2f
2(x) ´ e dito linearmente dependente (LD) em um intervalo I, se houver constantes c
1e c
2n˜ ao todas nulas para todo x nesse intervalo, que satisfa¸ ca a seguinte condi¸ c˜ ao:
c
1f
1(x) + c
2f
2(x) = 0, (3)
entretanto, se para a rela¸ c˜ ao ser satisfeita, c
1= c
2= 0, ent˜ ao o conjunto ´ e linearmente independente (LI). Sempre que necess´ ario podemos recorrer a esse conceito para saber se um conjunto de fun¸ c˜ oes ´ e LD ou LI, mas nem sempre aplic´ a-lo ´ e o mais vi´ avel, para isso foi desenvolvido uma ferramenta chamada wronskiano. Supondo que cada uma das fun¸ c˜ oes f
1, f
2tenham pelo menos uma derivada, ent˜ ao o wronskiano pode ser calculado como o determinante da matriz:
W (f
1, f
2) =
f
1f
2f
10f
20. (4)
Teorema 2.2 Sejam y
1e y
2duas solu¸ c˜ oes da equa¸ c˜ ao diferencial linear homogˆ enea de ordem 2 em um intervalo I. Ent˜ ao, o conjunto de solu¸ c˜ oes ser´ a linearmente independente em I se e somente se W (y
1, y
2) 6= 0 para todo x no intervalo I.
2.1.3 Equa¸ c˜ ao Homogˆ enea de 2
aOrdem - Solu¸ c˜ ao Geral
A equa¸ c˜ ao homogˆ enea de segunda ordem, possui a forma:
a
2(x) d
2y
dx
2+ a
1(x) dy
dx + a
0(x)y = 0. (5)
Segundo [4], a solu¸ c˜ ao de uma equa¸ c˜ ao pode ser definida da seguinte maneira:
Defini¸ c˜ ao 2.3 A solu¸ c˜ ao de uma equa¸ c˜ ao diferencial de ordem n em um intervalo I ´ e toda fun¸ c˜ ao f que est´ a definida em I, possui pelo menos n derivadas continuas em I e que quando substitu´ıdas na equa¸ c˜ ao diferencial, reduzam a mesma a uma identidade.
A solu¸ c˜ ao geral de uma equa¸ c˜ ao diferencial de ordem n em um intervalo I ´ e formada por uma fam´ılia de n solu¸ c˜ oes y
k(x), 1 ≤ k ≤ n no mesmo intervalo I dependendo de n constantes. Sendo assim, a solu¸ c˜ ao geral de uma equa¸c˜ ao linear homogˆ enea de 2
aordem, ´ e tal que:
y(x) = c
1y
1(x) + c
2y
2(x), (6)
qualquer solu¸ c˜ ao particular pode ser obtida atribuindo-se valores as constantes c
1e c
2, e que as fun¸ c˜ oes y
1(x) e y
2(x) s˜ ao solu¸ c˜ oes conhecidas e linearmente independentes. Quaisquer duas solu¸ c˜ oes da equa¸ c˜ ao linear homogˆ enea de 2
aordem, que sejam linearmente independentes, formam o que chamamos de con- junto fundamental de solu¸ c˜ oes (CFS), respons´ avel por gerar todas as demais solu¸ c˜ oes a partir da combina¸ c˜ ao linear em (6).
2.1.4 Problema de Valor Inicial (PVI)
Em geral, os m´ etodos matem´ aticos utilizados para resolver uma EDO fornecem como resultado uma solu¸ c˜ ao geral, por´ em, na pr´ atica estamos interessados em uma solu¸ c˜ ao particular, ou seja, uma fun¸ c˜ ao y(x) que satisfa¸ ca determinadas condi¸ c˜ oes de contorno que s˜ ao impostas sobre ela e suas derivadas, e o problema para encontrar tal fun¸ c˜ ao dada as condi¸ c˜ oes iniciais sobre x
0, ´ e chamado de problema de valor inicial (PVI). Sendo assim, o problema de valor inicial de segunda ordem, possui as seguintes condi¸ c˜ oes inicias:
d
2y
dx
2= f (x, y, y
0) y(x
0) = y
0, y
0(x
0) = y
1,
onde x
0, y
0e y
1s˜ ao dados conhecidos. Outro tipo de problema que consiste em encontrar a solu¸ c˜ ao de uma EDO dado as condi¸ c˜ oes iniciais em pontos diferentes ´ e denominado de problema de valor de contorno (PVC). Para sabermos se um PVI possui uma solu¸ c˜ ao ´ unica, devemos fazer uso do teorema a seguir.
Teorema 2.4 Sejam a
2(x), a
1(x), a
0(x) e g(x) cont´ınuas no intervalo I e seja a
2(x) 6= 0 para todo x nesse intervalo. Se x = x
0for um ponto qualquer nesse intervalo, ent˜ ao existe uma ´ unica solu¸ c˜ ao y(x) do problema de valor inicial nesse intervalo.
2.1.5 Equa¸ c˜ oes Diferenciais com Coeficientes Constantes
As equa¸ c˜ oes lineares homogˆ eneas de 2
aordem com coeficientes constantes, s˜ ao equa¸ c˜ oes na forma de:
a d
2y dx
2+ b dy
dx + cy = 0, (7)
sendo a, b e c constantes. Para encontrar a solu¸ c˜ ao geral de equa¸ c˜ oes diferenciais que possuem essa estrutura, dentre os m´ etodos dispon´ıveis utilizamos o dos coeficientes constantes, esse m´ etodo constitui em supor que uma das solu¸ c˜ oes da equa¸ c˜ ao acima ´ e y(x) = e
sx, onde s ´ e constante. Essa suposi¸ c˜ ao ´ e interessante pois e
sx´ e a ´ unica fun¸ c˜ ao cuja derivada ´ e um m´ ultiplo de si mesma. Partindo dessa suposi¸ c˜ ao inicial, temos que suas derivadas s˜ ao:
y
0(x) = se
sxy
00(x) = s
2e
sx, (8)
dessa forma, substituindo (8) em (7) e deixando o termo repetitivo e
sxem evidˆ encia, temos:
a(s
2e
sx) + b(se
sx) + c(e
sx) = 0 e
sx(as
2+ bs + c) = 0,
sabendo que e
sx6= 0, ent˜ ao para a igualdade ser satisfeita a express˜ ao reduz-se em:
as
2+ bs + c = 0. (9)
A Equa¸ c˜ ao (9) ´ e denominada de equa¸c˜ ao auxiliar ou caracter´ıstica, para encontrar a solu¸ c˜ ao geral da
equa¸ c˜ ao diferencial associada devemos encontrar o valor de s, sendo assim teremos que considerar trˆ es
casos poss´ıveis para suas ra´ızes:
1. Quando ∆ > 0, duas ra´ızes reais e distintas;
2. Quando ∆ = 0, duas ra´ızes iguais;
3. Quando ∆ < 0, duas ra´ızes complexas;
Caso I: ra´ ızes reais e distintas
Para o caso em que ∆ > 0, aplicando a f´ ormula de Bhaskara encontramos as ra´ızes:
s
1,2= −b ± √
b
2− 4ac
2a ,
como as ra´ızes s
1e s
2s˜ ao reais e distintas, a solu¸ c˜ ao geral torna-se:
y(x) = c
1e
s1x+ c
2e
s2x. (10) Caso II: ra´ ızes reais e iguais
Para o caso em que ∆ = 0, temos duas ra´ızes iguais como:
s
1,2= − b 2a ,
por´ em, duas solu¸c˜ oes iguais n˜ ao formam o CFS e assim n˜ ao podemos descrever a solu¸ c˜ ao geral para esse caso. Para resolvermos esse problema, recorreremos a outro m´ etodo para solu¸ c˜ oes de EDs: redu¸ c˜ ao de ordem
1. Por meio desse m´ etodo ´ e poss´ıvel encontrar outra solu¸ c˜ ao, de tal maneira que, ambas sejam linearmente independentes. Pela redu¸ c˜ ao de ordem, obtemos:
y
2(x) = y
1(x)
Z e
−RP(x)dxy
21(x) dx ∴ P (x) = b a
= e
−2abxZ e
−R abdx(e
−2abx)
2dx
= e
−2abxZ e
−abxe
−abxdx y
2(x) = xe
−2abx.
Agora, a solu¸ c˜ ao geral pode ser formulada:
y(x) = c
1e
−2abx+ c
2xe
−2abx. (11) Caso III: ra´ ızes complexas
Para ∆ < 0, temos duas ra´ızes conjugadas e complexas, de maneira que:
s
1,2= −b ± i √
4ac − b
22a ,
reorganizando, temos:
s
1,2= α ± βi.
Aplicando as ra´ızes complexas, podemos obter a solu¸ c˜ ao geral:
y(x) = c
1e
(α+βi)x+ c
2e
(α−βi)x,
mas o uso dessa solu¸ c˜ ao geral n˜ ao ´ e pr´ atico, pois apresenta fun¸ c˜ oes exponenciais complexas, sendo assim
´
e prefer´ıvel trabalhar com fun¸ c˜ oes reais. Para isso, usamos a f´ ormula de Euler:
e
iθ= cos θ + i sen θ, substituindo θ por βx e −βx, tem-se:
( e
iβx= cos βx + i sen βx e
−iβx= cos βx − i sen βx ,
1A redu¸c˜ao de ordem constitui outro m´etodo para resolu¸c˜ao de EDs, motivo esse de n˜ao abordamos seus conceitos e demonstra¸c˜ao matem´atica, pois divergem dos objetivos pretendidos neste artigo.
somando e subtraindo os termos obtemos as seguintes express˜ oes:
e
iβx+ e
−iβx= 2 cos βx e
iβx− e
−iβx= 2i sen βx.
Vamos montar duas solu¸ c˜ oes y
1(x) e y
2(x), fazendo c
1= c
2= 1 para y
1(x) e c
1= 1, c
2= −1 para y
2(x).
Portanto:
y
1(x) = e
(α+βi)x+ e
(α−βi)xy
2(x) = e
(α+βi)x− e
(α−βi)x. Mas:
y
1(x) = e
αx(e
iβx+ e
−iβx) = 2e
αxcos βx y
2(x) = e
αx(e
iβx− e
−iβx) = 2ie
αxsen βx,
e como consequˆ encia do conjunto fundamental de solu¸ c˜ oes, y
1(x) e y
2(x) podem ser escritos como com- bina¸ c˜ ao linear para obtermos a solu¸ c˜ ao geral:
y(x) = c
1e
αxcos βx + c
2e
αxsen βx. (12)
2.2 Vibra¸ c˜ ao Livre com Amortecimento Viscoso
A vibra¸ c˜ ao livre ´ e compreendida como a vibra¸ c˜ ao que um sistema exerce como resultado de uma perturba¸ c˜ ao inicial. O sistema escolhido em nossa an´ alise ´ e o massa-mola, que ap´ os uma perturba¸ c˜ ao inicial por meio de uma distens˜ ao em sua mola, vibra livremente em meio viscoso. Na Figura 1 temos a representa¸ c˜ ao do sistema em estudo.
Figura 1: Sistema massa-mola em diferentes estados. (a) mola n˜ ao estendida, (b) posi¸ c˜ ao de equil´ıbrio e (c) movimento amortecido. (Adaptado) [3]
Para encontrarmos o modelo matem´ atico que descreve o comportamento vibrat´ orio do sistema apre- sentado, antes ´ e necess´ ario fazermos algumas considera¸ c˜ oes relevantes. Primeiro, vamos considerar que a mola possui massa suficientemente pequena, de modo que, os efeitos de seu peso sobre o bloco sejam desprez´ıveis e que a for¸ ca restauradora que exerce ´ e oposta ao seu alongamento e ´ e dado pela lei de Hooke na forma F
r= −kx, onde k ´ e a constante da mola e x representa o alongamento da mola a partir da posi¸ c˜ ao n˜ ao estendida; segundo, o sistema sofre deslocamento somente no eixo vertical x; e terceiro, o fluido que envolve a haste ou bloco, dependendo da configura¸ c˜ ao do sistema, exerce uma for¸ ca contr´ aria ao seu deslocamento e possui magnitude diretamente proporcional a sua velocidade, sendo expressa por:
F = −c dx
dt , (13)
onde c ´ e a constante de amortecimento. Essa for¸ ca ´ e a respons´ avel por dissipar a energia mecˆ anica
do sistema e o seu valor depende de v´ arios fatores como: tamanho e forma do corpo em vibra¸ c˜ ao,
viscosidade, frequˆ encia de vibra¸ c˜ ao, velocidade, entre outros. Aplicando a segunda lei de Newton ao bloco e considerando o sentido positivo do eixo x para baixo, temos:
X F
x= m d
2x dt
2m d
2x
dt
2= mg − k(x + s) − c dx dt m d
2x
dt
2= mg − ks − kx − c dx dt ,
por meio da condi¸ c˜ ao de equil´ıbrio mostrada na Figura 1(b), onde mg = ks, encontramos o modelo matem´ atico que descreve a vibra¸ c˜ ao livre com amortecimento viscoso:
m d
2x dt
2+ c dx
dt + kx = 0. (14)
A solu¸ c˜ ao dessa equa¸ c˜ ao diferencial ´ e obtida utilizando o m´ etodo dos coeficientes constantes, como ex- plicado em 2.1.5. Sua equa¸ c˜ ao auxiliar ´ e expressa:
ms
2+ cs + k = 0, cujas ra´ızes s˜ ao:
s
1,2= −c ± √
c
2− 4mk 2m
= −c 2m ±
r c
2m
2− k
m , (15)
antes de encontrarmos as poss´ıveis solu¸ c˜ oes, vamos reescrever essas ra´ızes em termos da constante de amortecimento cr´ıtico e o fator de amortecimento.
Segundo [2], o amortecimento cr´ıtico c
c´ e definido como o valor da constante de amortecimento c para o qual o radicando da Equa¸ c˜ ao (15) torne-se zero:
c
c2m
2− k m = 0 c
c= 2m
r k
m = 2mω
n, (16)
onde ω
n= q
km
, ´ e a frequˆ encia natural de vibra¸ c˜ ao do sistema.
O fator de amortecimento ζ ´ e definido pela raz˜ ao entre a constante de amortecimento do sistema c e o amortecimento cr´ıtico c
c, da seguinte maneira:
ζ = c c
c. (17)
Podemos reescrever:
c 2m = c
c
c· c
c2m = ζω
n, e como consequˆ encia as ra´ızes tornam-se:
s
1,2= (−ζ ± p
ζ
2− 1)ω
n,
admitindo 0 ≤ ζ ≤ ∞, o radicando do termo acima pode ser positivo, negativo ou zero. Vejamos os trˆ es casos poss´ıveis para o comportamento do fenˆ omeno.
2.2.1 Caso I: sistema superamortecido
Para ζ > 1 as ra´ızes s˜ ao reais e distintas, e sua solu¸ c˜ ao geral conforme a Equa¸ c˜ ao (10) ´ e:
x(t) = c
1e
(−ζ+√
ζ2−1)ωnt
+ c
2e
(−ζ−√
ζ2−1)ωnt
. (18)
Para as condi¸ c˜ oes iniciais em que x(0) = x
0e x
0(0) = x
00, substituindo na solu¸ c˜ ao geral encontrada e resolvendo o sistema formado, encontramos:
c
1= x
00+ x
0ω
n(ζ + p ζ
2− 1) 2ω
np ζ
2− 1 e c
2= −x
00− x
0ω
n(ζ − p ζ
2− 1) 2ω
np ζ
2− 1 , (19)
visto que as ra´ızes s
1e s
2s˜ ao ambas negativas, a Equa¸ c˜ ao (18) descreve um movimento aperi´ odico, que
para t → ∞, diminuir´ a at´ e zero.
2.2.2 Caso II: sistema criticamente amortecido
Para ζ = 1 as ra´ızes s˜ ao reais e iguais, que pela Equa¸ c˜ ao (11) sua solu¸ c˜ ao geral ´ e:
x(t) = c
1e
−ωnt+ c
2te
−ωnt, (20) aplicando as condi¸ c˜ oes inicias x(0) = x
0e x
0(0) = x
00, obtemos:
c
1= x
0e c
2= x
00+ ω
nx
0. (21) A fun¸ c˜ ao do movimento desse sistema tamb´ em ´ e aperi´ odico, por´ em diferente do sistema superamorte- cido, a fun¸ c˜ ao tende a zero em um intervalo de tempo muito menor, sendo este o princ´ıpio b´ asico de funcionamento de um amortecedor.
2.2.3 Caso III: sistema subamortecido
Para ζ < 1, as ra´ızes s˜ ao complexas e distintas e a solu¸ c˜ ao geral possui a forma da Equa¸ c˜ ao (12), como:
x(t) = c
1e
αtcos βt + c
2e
αtsen βt x(t) = c
1e
−ζωntcos( p
1 − ζ
2ω
nt) + c
2e
−ζωntsen( p
1 − ζ
2ω
nt), (22) mas a express˜ ao acima pode ser reescrita em uma forma alternativa com a introdu¸ c˜ ao de uma nota¸ c˜ ao, fazendo:
c
1= A sen φ e c
2= A cos φ,
que utilizando a rela¸c˜ ao trigonom´ etrica do sen(φ+θ) = sen φ cos θ +sen θ cos φ, e substituindo na Equa¸c˜ ao (22) encontramos a solu¸c˜ ao geral na forma:
x(t) = e
−ζωnt(c
1cos( p
1 − ζ
2ω
nt) + c
2sen( p
1 − ζ
2ω
nt))
= Ae
−ζωnt(sen φ cos( p
1 − ζ
2ω
nt) + cos φ sen( p
1 − ζ
2ω
nt)) x(t) = Ae
−ζωntsen( p
1 − ζ
2ω
nt + φ). (23)
Onde a frequˆ encia angular ω
d= p
1 − ζ
2ω
n´ e denominado de frequˆ encia de vibra¸ c˜ ao amortecida. A constante A ´ e a amplitude de vibra¸ c˜ ao livre e φ ´ e o ˆ angulo de fase, que atrav´ es das rela¸ c˜ oes seguintes ´ e poss´ıvel encontrarmos seus valores:
A = q
c
21+ c
22e φ = tg
−1c
1c
2. (24)
Para as condi¸ c˜ oes iniciais x(0) = x
0e x
0(0) = x
00, aplicados na solu¸ c˜ ao geral da Equa¸ c˜ ao (22) chegamos em:
c
1= x
0e c
2= x
00+ ζω
nx
0p 1 − ζ
2ω
n. (25)
Analisando a Equa¸ c˜ ao (23) percebemos que o movimento desse sistema ´ e oscilat´ orio, por´ em devido ao fator e
−ζωnt, sua amplitude diminui exponencialmente com o tempo, levando o sistema ` a posi¸ c˜ ao zero.
A Figura 2 mostra a diferen¸ ca do comportamento gr´ afico de cada caso que discutimos anteriormente.
Figura 2: Compara¸ c˜ ao entre os movimentos com tipos diferentes de amortecimento. [2]
Notamos que, somente ´ e poss´ıvel encontrar a solu¸ c˜ ao particular do sistema subamortecido se sou- bermos o fator de amortecimento ζ, entretanto, na pr´ atica seu valor ´ e desconhecido. Pensando nisso foram desenvolvidos v´ arios m´ etodos para determina¸ c˜ ao
2desse fator, aqui discutiremos apenas o m´ etodo de decremento logar´ıtmico.
2Para mais informa¸c˜oes sobre os m´etodos de determina¸c˜ao do fator de amortecimento, recomendamos `a leitura de [5].