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Literatura em tempos de crise ou a escala de richer

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Academic year: 2018

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LITERATURA EM TEMPOS DE CRISE

OU A ESCALA DE RICHTER

Carlos d' Alge

Vamos chegando ao fim do ano com um alentado número de publicações d.e autores cearenses apresentados no Náu-tico, clube que vem promovendo, com sucesso, desde 1971, autógrafos de escritores já consagrados e estreantes, possi-bilitando uma ampla divulgação além fronteiras, através do seu Boletim de Notícias, da produção literária local que as-cende a mais de quatrocentos títulos lançados nestes doze anos.

Certamente nem tudo que se apresenta no Náutico é obra consagrada ou a consagrar. O club-e e seu Departamento cul-tural nunca pretenderam estabelecer uma seleção para auto-res ou expositoauto-res cearenses. O Náutico crê na sua funcão social e como um clube democrático, que representa a classe média fortalezense, acolhe a todos que o procuram para lan-çamento de obras ou mostras de arte. O clube tem até certo orgulho deste procedimento: um dos jovens que expôs pela primeira vez nos seus salões obteve prêmio, mais tarde, na Bienal de São Paulo.

Lançamos muita gente jovem no Náutico, poetas e ficcionis-tas. Com uma média de três a quatro livros apresentados por mês, teríamos os quatrocentos de que falamos acima. Em 83 promovemos cerca de quarenta autores. Para mostrar o que foi feito, selecionamos entre os autores consagrados e estre-antes dez deles para uma ligeira mostra aos leitores.

Assim é curioso que em época de crise e desemprego, recessão e fome, embora haja quem a negue e tente provar que as imagens transmitidas pela TV não passam de ficção, e que os saques são mera conjura comuna-anarquista, a

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poesia continua em alta. Isto é, nunca se escreveram tantos livros de poemas como agora.

Da sua qualidade? Há poetas conhecidos e de ind iscutí-vel valor, como há poemas de jovens estreantes. Não caberia a nós julgá-los porque o nosso juízo poderia incorrer em valo-res discutíveis.

Vamos aos livros: escolhemos dez autores entre os qua-renta que foram lançados no Náutico. São oito livros de poe-sia, um romance e um de ensaios.

OS POETAS

Entre os poetas consagrados está Artur Eduardo B:3ne-vides, que comemorou, em 83, os seus quarenta anos de ati-vidades literárias com dois novos liv ros: Inventário da Tarde e Sonetos de Beira-Mar e Elegias do Espaço Imag inário, e Pedro Lyra, cujos poemas de Decisão mexeram com muitos leitores e críticos. A eles somam-se: Antero Coelho Neto, mé-dico e professor, atual Superintendente Regional do INAMPS,

que se debruça em O Homem e a Poesia, no poético e no prosaico de todos os dias: Reg ine Limaverde, professora do Centro de Ciências Agrárias da UFC, autora de Ressurgên-cias, por nós prefaciado; Costa Matos, professor e funcioná-rio público federal, que consegue concil iar otimismo num mundo de cifras e desesperos econômicos em Na última Curva da Esperança; Gilson Nascimento, com o seu primeiro livro de poemas dedicados às memórias da infância e à famí-lia; Sinésio Cabral, Procurador da Justiça e professor, dos primeiros tempos de CLÃ, autor dos Sonetos e Poemas; e Rogélio Fernandes, diretor do setor de habitação da Caixa Econômica, que estréia com o livro Poemas .

O poeta Artur Eduardo Benevides, multipremiado, ofere-ce-nos dois livros, um deles vencedor do Prêmio Filgueiras Lima. Destes dois livros me recem especial destaque os sone-tos, mais especificamente os "Vinte Sonetos de Amor" do volume Inventário da Tarde . São sonetos estruturalmente per-feitos, com fortes ressonâncias cam onianas, isto é, do Camões

perseguido pela idéia do amor ideal, não realizado mas es-piritualmente consumado na sua visão neoplatônica e ma-neirista.

Bastariam estes versos pa ra tornar o poeta Artur Eduar-do Benevides um digno contin uaEduar-dor Eduar-dos desconcertos Eduar-do mundo e do amor cantados pelo lírico português: "D.e

silên-32

Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2} - jan./dez. 1984

cio se faz a longa espera.

1

Teu amor impossível é tão dis-tante! Repenso em ti de forma delirante

1

E minha dor mo fere e me dilacera" , e um p.J uco ma1s além: " Se longe estás, contudo, és sempre perto:

1

De mim, que incauto sigo um rumo certo,

1

Tentando achar no amor minha verdade." A poesia de Artur Eduardo Benevides reflete a sua mundivivên-cia, as suas alegrias e os seus pesares, a sua solidão e tam-bém a sua indignação, patente nas elegias e nos poemas

po-líticos, com os desacertos das gentes e do mundo.

Em contraste com o tom lírico e elegíaco do poeta de Inventário da Tarde, Pedro Lyra, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, crítico e Doutor em Letras, após um longo período em que os originais dos seus poemas fo-ram zelosamente guardados, alguns deles lidos por amigos fiéis, publica o volume Decisão. Poemas Dialéticos. í: o ter-ceiro livro de poesia do autor. Compõem-se de quatro partes: Poética, Fundamentos, No Inferno de Ouro e Proposições. Estes poemas constituem uma leitura poética dos fundamen-tos da análise marxista sobre a sociedade capitalista

.e

as contradições que a envolvem. Decisão é como um soco: um tiro, como preconizava André Breten no seu manifesto surrea-lista. Um soco no mundo centrado no poder do dinheiro e da usura e, em especial, nos defenso res dos privilégios, pondo a nu as suas mentiras e a sua degradação. Em certos trechos, Pedro Lyra lembra Bretch e Maiacovsqui, na sua justa indig-nação contra o mundo burguês: "Mas eu, meus camaradas, eu estou tentando colocar em vers ifrases o fantasma da dia-lética

1

(E o fantasma da dialética já abriu em cova rasa

I

o túmulo da burguesia mundial.)" Isto é: "até o dia em que

I

o ser burguês

1

cede a vez I a um ser humano."

O médico e prof.essor Antero Coelho Neto é autor de O Homem e a Poesia. Não se trata de livro de estréia; anterior-mente publicara os Poemas do Outro. O méd ico consegue conciliar o exercício da medicina com a reflexão e o senti-mento do poeta. Escrevi certa vez que os médicos seriam, pela natureza do seu trabalho, os melhores humanistas, e, portanto, os mais completos escritores. Há fartos .exemplos: Afrânio Peixoto, Guimarães Rosa, Júlio Dinis, Fernando Na-mora, Somerset Maughan e Robin Cook, para citar épocas e tendências. N.este segundo livro, Antero reflete sobre a medi-cina, a ecologia, o amor, os desconcertos do mundo e a overodose. Ainda bem que escreve, numa época em que se privilegia a ciência em detrimento do humano: "O homem sou

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poesia continua em alta. Isto é, nunca se escreveram tantos livros de poemas como agora.

Da sua qualidade? Há poetas conhecidos e de indiscutf-vel valor, como há poemas de jovens estreantes. Não caberia a nós julgá-los porque o nosso juízo poderia incorrer em valo-res discutíveis.

Vamos aos livros: escolhemos dez autores entre os qua-renta que foram lançados no Náutico. São oito livros de poe-sia, um romance e um de ensaios.

OS POETAS

Entre os poetas consagrados está Artur Eduardo B.::me-vides, que comemorou, em 83, os seus quarenta anos de ati-vidades literárias com dois novos livros: Inventário da Tarde e Sonetos de Beira-Mar e Elegias do Espaço Imaginário, e Pedro Lyra, cujos poemas de Decisão mexeram com muitos leitores e críticos. A eles somam.se: Antero Coelho Neto, mé-dico e professor, atual Superintendente Regional do INAMPS, que se debruça em O Homem e a Poesia, no poético e no prosaico de todos os dias: Regine Limaverde, professora do Centro de Ciências Agrárias da UFC, autora de Ressurgên-cias, por nós prefaciado; Costa Matos, professor e funcioná-rio público federal, que consegue conciliar otimismo num mundo de cifras e desesperos econômicos em Na última Curva da Esperança; Gilson Nascimento, com o seu primeiro livro de poemas dedicados às memórias da infância e à famí-lia; Sinésio Cabral, Procurador da Justiça e professor, dos primeiros tempos de CLÃ, autor dos Sonetos e Poemas; e Rogélio Fernandes, diretor do setor de habitação da Caixa Econômica, que estréia com o livro Poemas.

O poeta Artur Eduardo Benevides, multipremiado, ofere-ce-nos dois livros, um deles vencedor do Prêmio Filgueiras Lima. Destes dois livros merecem especial destaque os sone-tos, mais especificamente os "Vinte Sonetos de Amor" do volume Inventário da Tarde. São sonetos estruturalmente per-feitos, com fortes ressonâncias camonianas, isto é, do Camões perseguido pela idéia do amor ideal, não realizado mas es-piritualmente consumado na sua visão neoplatônica e ma-neirista.

Bastariam estes versos para tornar o poeta Artur Eduar-do Benevides um digno continu aEduar-dor Eduar-dos desconcertos Eduar-do mundo e do amor cantados pelo lírico português: "D.e

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Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984

cio se faz a longa espera.

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Teu amor impossível é tão dis-tante! Repenso em ti de forma delirante

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E minha dor me fere e me dilacera", e um pouco ma1s além: "Se longe estás, contudo, és sempre perto:

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De mim, que incauto sigo um rumo certo,

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Tentando achar no amor minha verdade." A poesia de Artur Eduardo Benevides reflete a sua mundivivên-cia, as suas alegrias e os seus pesares, a sua solidão e tam-bém a sua indignação, patente nas elegias e nos poemas po-líticos, com os desacertos das gentes e do mundo.

Em contraste com o tom lírico e elegíaco do poeta de Inventário da Tarde, Pedro Lyra, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, crítico e Doutor em Letras, após um longo período em que os originais dos seus poemas fo-ram zelosamente guardados, alguns deles lidos por amigos fiéis, publica o volume Decisão. Poemas Dialéticos. セ@ o ter-ceiro livro de poesia do autor. Compõem-se de quatro partes: Poética, Fundamentos, No Inferno de Ouro e Proposições. Estes poemas constituem uma leitura poética dos fundamen-tos da análise marxista sobre a sociedade capitalista

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as contradições que a envolvem. Decisão é como um soco: um tiro, como preconizava André Breten no seu manifesto surrea-lista. Um soco no mundo centrado no poder do dinheiro e da usura e, em especial, nos defensores dos privilégios, pondo a nu as suas mentiras e a sua degradação. Em certos trechos, Pedro Lyra lembra Bretch e Maiacovsqui, na sua justa indig-nação contra o mundo burguês: "Mas eu, meus camaradas, eu estou tentando colocar em versifrases o fantasma da dia-lética

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(E o fantasma da dialética já abriu em cova rasa

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o túmulo da burguesia mundial.)" Isto é: "até o dia em que

I

o ser burguês

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cede a vez I a um ser humano."

O médico e professor Antero Coelho Neto é autor de O Homem e a Poesia. Não se trata de livro de estréia; anterior-mente publicara os Poemas do Outro. O médico consegue conciliar o exercício da medicina com a reflexão e o senti-monto do poeta. Escrevi certa vez que os médicos seriam, pela natureza do seu trabalho, os melhores humanistas, e, portanto, os mais completos escritores. Há fartos .exemplos: 1\frOnio Peixoto, Guimarães Rosa, Júlio Dinis, Fernando Na-moro, Somerset Maughan e Robin Cook, para citar épocas e londôncias. N·este segundo livro, Antero reflete sobre a

medi-lnn, a ecologia, o amor, os desconcertos do mundo e a ovorodoso. Ainda bem que escreve, numa época em que se ptlvlloola a ciência em detrimento do humano: "O homem sou

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Eu

I

e a Poesia

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é a minha Força." Merecem destaque os seguintes poemas: "A Passeata da Fome", "O Dia da Cria-ção" e "A Fila", este último evocador duma situação viven-ciada no dia-a-dia pelo clínico previdenciário: "Mas aqui eu estou

1

atendendo é à fila I de pessoas sem face

I

de gente com fome

1

e que vai voltar

1

amanhã novamente.

1

Diacho de vida. I Diacho de fila

1.

Seu Superintendente!" Agora, con-duz;do à Superintendência Regional do INAMPS, não sei como o poeta irá se entender com o Superintendente do poema ...

Regine Limaverde, depois da primeira experiência poé-tica de Rio em Cheia, deu-nos este ano alguns belos poemas em Ressurgências, livro mais amadurecido e trabalhando com mais vigor textual. No meu prefácio a Ressurgências, apontei os vários aspectos da sua poesia, a influência do seu traba-lho na pesquisa realizada no Laboratório de Ciências do Mar da UFC, e um genuíno sentimento feminino, não feminista, mais próximo a Florbela Espanca, com quem tem algumas afi-nidades. Remeto os leitores ao prefácio e aos poemas para uma leitura mais atenta: que a poetisa merece.

Costa Matos, professor e funcionário público federal, é autor de Na última Curva da Esperança. Que esperança é esta? No prefácio, que confessa modesto, o poeta responde que a esperança está na volta de Deus e propõe-nos uma aná-lise axiológica sobre a reforma do homem e da sociedade. Seus poemas dizem isso: presságios angustiantes, solilóquios sobre os desacertos dos homens, evocação de tipos popula-res mas autênticos como Dona Joana Burra, Seu João Gos-toso e Siá Sebastiana, humilhados e ofendidos, pobres e de-samparados, merecendo um olhar do protetor dos humildes, o Santo de Assis: "Não foi bem vida aquela vida humana!

1

Nosso Senhor perdoe a Dona Joana

1

que ela está por saber que se matou." Costa Matos, no seu habitual comedimento, de contentação e discrição, é capaz de conciliar leituras de Elias Canetti , Teilha rd de Chardin, Dostoievski, com os ver-sos estimulantemente populares de Geraldo Vandré, e também recriar, a partir de leituras do Evangelho, algumas parábolas

de significado profundamente humano e social. ·

Gilson Nascimento, dentista até à década de 60, profsor de Inglês, e agora aposentado como Fiscal do lAPAS, es-tréia como poeta em Caminhos do Tempo. Residindo no Rio de Janeiro, as suas lembranças poéticas são para a sua terra natal, especialmente para Maranguape, onde viveu a sua

infân-34

Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (112) - jan./dez. 1984

cia. Poesia deliberadamente evocativa e celebrativa, fala-nos das lembranças familiares, das descobertas da infância e da juventude, como se estivéssemos a folhear um álbum de famí-lia. Há ainda reflexões sobre a morte e sobre a chuva caindo na terra rachada pela seca. O poeta também se revolta contra a violência urbana, e exemplo disso é o poema "O Gato".

To-davia, é no soneto " A Acácia e a Vida" que encontro o melhor da poesia de Gilson Nascimento quando se debruça sobre a efemeridade das coisas: "Também na vida nos bafeja o riso

1

que nos vem d'alma sempre que é preciso,

1

e afoga, então, a mágoa que tortura."

O procurador e professor Sinésio Cabral, que em tempos da juventude, lá pelos anos quarenta, acompanhou as tertú-lias dos jovens de CLÃ, reuniu em livro os seus versos: 25 alexandrinos e trinta poemas entre os já publicados e alguns inéditos. Os sonetos compõem a maior parte do volume e to-dos estão datato-dos, entre 1940, o primeiro, e 1982, o último. A seleção de Sonetos e Poemas é do próprio autor. Os alexan-drinos são perfeitos; os demais poemas dividem-se em "Rit-mos e Sons", "Mundo Exterior" e "Novos Rit"Rit-mos". Em sín-tese: são poemas de intensa tonalidade lírica e emocional, denotando as vivências do autor preso a imagens resgatadas da infância, da descoberta do amor e do sossego de uma vida familiar bem constituída. Há poemas também circuns-tanciais, como os escritos por ocasião da segunda guerra mundial, e aqueles dedicados a evocações da vida rural cea-rense, como a "Ode ao Vaqueiro" e "Várzea Alegre".

Rogélio Fernandes é o último poeta desta seleção de dez autores. Natural de São Paulo, vive em Fortaleza, há alguns anos, depois de uma estada em Salvador. Dirige, nesta cida-de, o setor de habitação da Caixa Econômica Fed.eral. Os seus Poemas constituem a sua estréia como escritor. Moreira Campos escreveu o prefácio e eu tive o prazer de apresen-tar o livro no Náutico. Como anotou mestre Moreira, Rogélio Fernandes é um poeta legítimo, compromissado com a dor do mundo e com o seu próprio desalento face à degradação atual. Os poemas estão datados de 1965 a 1982. Muitas vi-vências, muito encantamento e muito sortilégio, mesmo nos poemas curiosamente escritos em espanhol, que revelam um apuro lingüístico do poeta e cuja sonoridade nos encanta e nos comove. Rogéiio evoca cenas familiares, des.espera-se com a violência existente nos grandes centros urbanos, ser-vo-se de imagens universais como o Quixote, e exorciza

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Eu

I

e a Poesia

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é a min ha Fo rça ." Merecem destaque os seguintes poemas : " A Passeata da Fome " , " O Dia da Cria-ção"

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"A Fila" , este últim o evocad o r dum a si tu ação vive n-cindo no dia-a-di a pelo c línico previde nc iário: "Mas aqui eu

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de gente ;orn fom e

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e que vai voltar

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amanhã novamente.

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Diacho do vida. I Diacho de f ila 1. Seu Superinte ndente !" Agora, con -dul:do à Superi ntendênc ia Reg io nal do INAMPS, não se i corno o poeta irá se entender com o Superintendente do poomo ...

negine Li maverde, depois da primeira experiência poé-11(:1\ do Rio em Cheia, deu-n os este ano alguns belos poem as 0111 l?ossu rgências, livro mais amad urecido e t rab alhando co m IJllti H vigor textual . No meu prefácio a Ressurgências, apontei

o •; vários aspectos da sua poes ia, a influên c ia do seu traba-lho nn pesqui sa reali zada no Laboratório de Ciências do Mar

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UFC, e um genuíno sentimento femini no, não femini sta,

111 tl i'i próxim o a Florbela Espanca, com quem tem algum as af i-nldrtd os. Remeto os leitores ao prefácio e aos poemas para

lllll ll leitura mais atenta : q ue a poetisa merece.

Costa Matos, professor e funcionári o públi co fed eral , é ulor do Na última Curva da Esperança. Qu e esperanç a é

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No prefácio, que confessa modesto, o poeta re sponde

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Siá Sebastiana, humil hados e ofend idos, pobres e de-•lllllpnrados, merecen do um olh ar do proteto r dos humil des, o セゥ。ョエッ@ de Assis: "Não foi bem vida aquela v ida humana !

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que ela está por sabe r

qut l so matou." Costa Matos, no seu habitual comed imento, do contentação e discri ção, é capaz de concilia r leitu ras de II ns Canetti , Teil ha rd de Chardin, Dostoievski , co m os

ver-.os estimulantemen te populares de Ge rald o Van d ré , e tam bém I OGridr, a parti r de leituras do Evangelho, algu mas pa rábol as do significado profundam ente humano e social.

Gilson Nascimento, dentista até à década de 60, profGor de Inglês, e agora apo sentado como Fi scal do lAPAS, es-lróia com o poeta em Caminh os do Tem po. Residi ndo no Rio do Janeiro, as suas lembranças poét icas são para a su a te rra natal , especialmente para Maranguape, onde viveu a sua in

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Rev. de Letras , Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984

cia. Poesia deliberadamente evocativa e celebrativa, fala-nos das lembranças familiares, das descobertas da infância e da juventude, como se estivéssemos a folhear um álbum de famí-lia. Há ainda reflexões sobre a morte e sobre a chuva caindo na terra rachada pela seca. O poeta também se revolta contra a violência urbana, e exemplo disso é o poema "O Gato". To-davia, é no soneto " A Acácia e a Vida" que encontro o melhor da poesia de Gilson Nascimento quando se debruça sobre a efemeridade das co isas: "Também na vida nos bafeja o riso

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que nos vem d'alma sempre que é preci so,

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e afoga, então, a mágoa que tortura."

O procurador e professor Sinésio Cab ral, que em tempos da juventude, lá pelos anos quarenta, acompanhou as tertú-lias dos jovens de CLÃ, reuniu em livro os seus versos: 25 alexandrinos e trinta poemas entre os já publicados e alguns inéditos. Os sonetos compõem a maior parte do volume e to-dos estão datato-dos, entre 1940, o primeiro, e 1982, o último. A seleção de Sonetos e Poemas é do próprio autor. Os alexan-drinos são perfeitos; os demais poemas dividem-se em "Rit-mos e Sons", "Mundo Exterior" e "Novos Rit"Rit-mos". Em sín-tese: são poemas de intensa tonalidade lírica e emocional, denotando as vivências do autor preso a imagens resgatadas da infância, da descoberta do amor e do sossego de uma vida familiar bem const ituída. Há poemas também circuns-tanciais, como os escritos por ocasião da segunda guerra mundial, e aqueles dedicados a evocações da vida rural cea-rense, como a "Ode ao Vaqueiro" e "Várzea Alegre".

Rogélio Fernandes é o últ imo poeta desta seleção de dez autores . Natural de São Paulo, vive em Fortaleza, há alguns anos, depois de uma estada em Salvado r. Dirige, nesta cida-de, o setor de hab itação da Caixa Econômica Federal. Os seus Poemas constituem a sua estréia como escritor. Moreira Campos escreveu o prefácio e eu t ive o prazer de apresen-tar o livro no Náutico. Como anotou mestre Moreira, Rogélio

Fernandes é um poeta leg ít imo, comprom issado com a dor do mundo e com o seu próprio desalento face à degradação atual. Os poemas estão datados de 1965 a 1982. Muitas vi-vências, muito encantamento e muito so rtilégio, mesmo nos poemas curiosamente escritos em espanhol, que revelam um apuro lingüístico do poeta e cuja sonoridade nos encanta e nos comove. Rogél io evoca cenas fam ili ares, des.espera-se com a violência existente nos grandes centros urbanos, ser-ve-se de imagens unive rsais co mo o Quixote, e exorciza

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mas desilusões e angústias fazendo a sua autocrítica: "Minhas idéias também poderiam ser amassadas como papéis/velhos para serem atiradas ao lixo,/ ( ... ) O que não daria agora para saber alguma coisa j para ter a espontaneidade e a pu-reza daquele operário

1

de mãos sujas, que cava a terra e enxuga o suor do rosto com o braço."

A PROSA: ROMANCE E ENSAIO

Entre os dez livros selecionados para esta retrospectiva literária, dois são escritos em prosa e por mulheres. Trata-se de um romance e de um volume de ensaios. As autoras: Hele-na Cunha e Noemi Elisa Aderaldo. Ambas representam muito bem a sua geração, e às duas dedico estas linhas não só por-que merecem realce pela apresentação correta dos seus tex-tos, mas porque representam ainda e brilhantemente - os alunos das primeiras turmas egressas da Faculdade de Le-tras da UFC, que se destacaram no magistério e. em outros setores da vida profissional. A massificação da Universidade cedeu lugar à falta de talentos, salvando-se pouquíssimas ex-ceções, entre as turmas mais recentes, como os talentosos Paulo Veras, precocemente falecido, Marly Vasconcelos e Carlos Emílio Correia Lima.

Helena Cunha é autora do romance o Grito do Silêncio, e Noemi Elisa dos ensaios Nos Caminhos da Literatura. Helena Cunha oferece-nos no seu primeiro livro uma história real dra-matizada num romance escrito com muita amargura e também com bastante sentimento. Uma história que se lê com interesse, sem apelo a nenhuma fantasia ou concessão a um gênero que faz sucesso. Por outro lado, a autora não tem preocupa-ções literárias e lingüísticas, a não ser a de contar uma his-tória e uma hishis-tória de que ela é agente e testemunha . Assim, O Grito do Silêncio acaba por ser um romance enxuto (com o significado clássico deste termo), sem se tornar artificio-so e hermético, dois defeitos de certos romances brasileiros. O que se deseja num romance é uma boa história para se ler e que seja bem contada, mesmo que não possua o conven-cional final feliz - este fica para as telenovelas, preferenci-almente das sete horas.

Noemi Elisa reuniu em volume doze ensaios de literatu-ra portuguesa, liteliteratu-ratuliteratu-ra bliteratu-rasileiliteratu-ra e uma reflexão sobre a dialética platônica. Nos Caminhos da Literatura é o seu livro

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Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984

de estréia e os ensaios alguns foram publicados na Revista de Letras da UFC, outros são inéditos. Aí o leitor encontrará em vigorosas pinceladas julgamentos sobre Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Cesário Verde, Camilo Pessanha, e os estudos sobre o franciscanismo na obra de Eça de Queiroz, objeto da sua tese de mestrado, sob a orientação do mestre Agostinho da Silva. Caberia destacar neste volume, em par-ticular, dois ensaios: a análise da simbologia do fogo em Sá-Carneiro e o estudo sobre o fantástico em Murilo Rubião.

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mas desilusões e angústias fazendo a sua autocrítica: "Minhas idéias também poderiam ser amassadas como papéis/velhos para serem atiradas ao lixo./ ( ... ) O que não daria agora para saber alguma coisa j para ter a espontaneidade e a pu -reza daquele operário

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de mãos sujas, que cava a terra e enxuga o suor do rosto com o braço."

A PROSA: ROMANCE E ENSAIO

Entre os dez livros selecionados para esta retrospectiva literária, dois são escritos em prosa e por mulheres. Trata-se de um romance e de um volume de ensaios. As autoras: Hele-na Cunha e Noemi Elisa Aderaldo. Ambas representam muito bem a sua geração, e às duas dedico estas linhas não só por-que merecem realce pela apresentação correta dos seus tex-tos, mas porque representam ainda e brilhantemente - os alunos das primeiras turmas egressas da Faculdade de Le-tras da UFC, que se destacaram no magistério e. em outros setores da vida profissional. A massificação da Universidade cedeu lugar à falta de talentos, salvando-se pouquíssimas ex-ceções, entre as turmas mais recentes, como os talentosos Paulo Veras, precocemente falecido, Marly Vasconcelos e Carlos Emílio Correia Lima.

Helena Cunha é autora do romance o Grito do Silêncio, e Noemi Elisa dos ensaios Nos Caminhos da Literatura. Helena Cunha oferece-nos no seu primeiro livro uma história real dra-matizada num romance escrito com muita amargura e também com bastante sentimento. Uma história que se lê com interesse, sem apelo a nenhuma fantasia ou concessão a um gênero que faz sucesso. Por outro lado, a autora não tem preocupa-ções literárias e lingüísticas, a não ser a de contar uma his-tória e uma hishis-tória de que ela é agente e testemunha. Assim,

O Grito do Silêncio acaba por ser um romance enxuto (com o significado clássico deste termo), sem se tornar artificio-so e hermético, dois defeitos de certos romances brasileiros. O que se deseja num romance é uma boa história para se ler e que seja bem contada, mesmo que não possua o conven-cional final feliz - este fica para as telenovelas, preferenci-almente das sete horas.

Noemi Elisa reuniu em volume doze ensaios de literatu-ra portuguesa, liteliteratu-ratuliteratu-ra bliteratu-rasileiliteratu-ra e uma reflexão sobre a dialética platônica. Nos Caminhos da Literatura é o seu livro

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Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.fdez. 1984

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de estréia e os ensaios alguns foram publicados na Revista de Letras da UFC, outros são inéditos. Aí o leitor encontrará em vigorosss pinceladas julgamentos sobre Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Cesário Verde, Camilo Pessanha, e os estudos sobre o franciscanismo na obra de Eça de Queiroz, objeto da sua tese de mestrado, sob a orientação do mestre Agostinho da Silva. Caberia destacar neste volume, em par-ticular, dois ensaios: a análise da simbologia do fogo em Sá-Carneiro e o estudo sobre o fantástico em Murilo Rubião.

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