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Grau de organização entre os feirantes e problemas por eles enfrentados nas feiras livres de Cascavel e de Ocara, no Ceará

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1 GRAU DE ORGANIZAÇÃO ENTRE OS FEIRANTES E PROBLEMAS POR ELES

ENFRENTADOS NAS FEIRAS LIVRES DE CASCAVEL E DE OCARA, NO CEARÁ

jacksondantas@bnb.gov.br

Apresentação Oral-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria

JACKSON DANTAS COÊLHO1; JOSÉ CÉSAR VIEIRA PINHEIRO2.

1.BANCO DO NORDESTE DO BRASIL SA, FORTALEZA - CE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL.

Grau de organização entre os feirantes e problemas por eles enfrentados

nas feiras livres de Cascavel e de Ocara, no Ceará

Grupo de Pesquisa: Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria

Resumo

Analisa a possibilidade de existência de capital social e o grau de organização entre os feirantes de Cascavel e de Ocara, no Ceará, no exercício de sua atividade e os motivos para participarem ou não de associações; investiga a existência ou não de apoio (governamental ou particular) à realização da feira nestes municípios; aborda também a visão de futuro que eles têm da atividade, os problemas enfrentados pelos feirantes em seu trabalho e relaciona algumas soluções.

Palavras-chaves: feira livre, capital social, organização.

Abstract

Analyses the possibility of existence of social capital among the merchants and the organizational level of the merchants of Cascavel and Ocara, in Ceará, in their work and the reasons to participate or not of associations; investigates the existence or not of support (from government or private) in the realization of the open street market in this cities; also broaches the future that they imagine for their activity, the problems faced by the merchants in their work and reports some solutions.

Key Words: open street market, social capital, organization.

1. INTRODUÇÃO

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2 prova) e barganha de preço, além da oferta de produtos a preços mais acessíveis (COLLA

et al., 2007; PINHEIRO; SÁ, 2007).

É um importante ponto para a comercialização da produção da agricultura familiar, já que os feirantes vendem uma produção por vezes ligada à cultura alimentar local, que não alcançaria outros mercados. A relação direta entre o feirante e o consumidor possibilita a diminuição de custos de comercialização, que envolve insumos, transporte, embalagens.

Em municípios pequenos, a feira, quando ocorre, muitas vezes representa o principal mercado existente, para onde converge parte da circulação monetária municipal. Apesar da sua relevância como instrumento de fortalecimento da agricultura familiar e, consequentemente, de desenvolvimento local e de inclusão social, ainda são escassas as análises que exploram outros aspectos da feira livre (além dos sociológicos e dos antropológicos). As ciências agrárias preferem investir em pesquisa e em desenvolvimento para novas técnicas de produção, enquanto a economia trata a feira livre como circuito inferior da economia informal1, com pouca importância para a investigação científica (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005).

O aumento das concentrações urbanas fez com que a feira livre cedesse espaço a outras formas de organização de mercados varejistas permanentes (shopping centers, supermercados), os quais ampliaram a sua oferta de serviços e se relacionam com outros tipos de lojas. Mesmo assim, a feira livre não é menos importante que as formas mais modernas de comercialização, já que a pequena imobilização de capital e a grande facilidade de se adaptar a novos pontos de venda lhes confere um caráter de excepcionalidade ao suprimento do abastecimento in natura às populações de baixa renda, principalmente nas áreas periféricas das grandes metrópoles (CASTRO, 1979 apud

SILVA, 1990).

Essa competição entre os formatos de varejo faz com que os feirantes busquem novas formas de se organizar, sendo recomendável que busquem apoio, público ou não, para a realização da feira. Isto porque se a feira livre existe no município, a população pode até reconhecê-la como tal, como um espaço que vale a pena ser visitado, onde poderá encontrar gêneros alimentícios e outros artigos que necessita comprar. No entanto, com exceções, o que ocorre na grande maioria dos casos é que a feira livre passa despercebida por muitas administrações municipais, que a encaram como um evento tradicional, mais uma paisagem do município, não merecedora de atenção especial na formulação de políticas ou programas públicos de desenvolvimento, desperdiçando, assim, muito de sua potencialidade.

Feitas estas considerações, o objetivo principal deste artigo é verificar o nível de organização dos feirantes de Cascavel e de Ocara, e a existência de apoio, governamental ou particular, na realização da feira livre destes municípios. Especificamente, investigam-se as razões para os feirantes participarem ou não de associações, os motivos para investigam-se apoiar

1 O “circuito superior” engloba as atividades econômicas ditas “modernas”, como as praticadas pelos grandes

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3 a atividade e os problemas apontados pelos feirantes nas respectivas feiras, relacionando eventuais soluções.

2. MARCO TEÓRICO

O Neo-Institucionalismo é uma escola teórica que busca a síntese da economia neoclássica com a economia institucional, introduzindo os custos de informação e de transação, as restrições dos direitos de propriedade na microeconomia tradicional, generalizando a teoria dos preços e aplicando-a às instituições econômicas e políticas, sem alterar o núcleo da análise macroeconômica (EGGERTSSON, 1990 apud SOUZA FILHO, 2000).

Na perspectiva do desenvolvimento regional, os neo-institucionalistas enfatizam que a principal fonte de prosperidade econômica está na mobilização do potencial endógeno das regiões (o capital social e humano, o conhecimento, a pesquisa e o desenvolvimento, a informação e as instituições) e não no exógeno, como era entendido até então (SOUZA FILHO, 2000). Esse potencial, no entanto, pode ser desencadeado por um poder central de caráter estatal, dentro de uma perspectiva territorial, seja local, regional ou nacional.

Capital social é a capacidade de as pessoas trabalharem em conjunto, em grupos e em organizações que constituem a sociedade civil, em prol de causas comuns. É a existência de capacidade de associação, de disposição para partilhar normas e valores e de capacidade de sobrepor interesses coletivos aos individuais (FUKUYAMA, 1996 apud

CUNHA, 2000).

Robert Putnam foi o responsável pela popularização do termo. Ele caracteriza o capital social de uma comunidade como sendo um bem público que facilita a cooperação espontânea. Apresenta-se ele de várias formas: as regras de reciprocidade, as redes de relações sociais e os sistemas de participação e confiança que facilitam a coordenação na consecução de objetivos comuns (IPIRANGA, 2007). O capital social localiza-se, dessa forma, não nos indivíduos, mas nas relações entre eles.

Putnam (1996 apud CUNHA, 2000) considera que a confiança é um componente básico, mas não único, do capital social e que a herança cultural é o fator fundamental na determinação dos níveis de desenvolvimento de uma região ou de um país. Tradições cívicas, capital social e práticas colaborativas, por si só, não desencadeiam o progresso econômico, mas formam a base para as regiões enfrentarem os desafios e se adaptarem a eles, assim como às oportunidades da realidade presente e futura.

DURSTON (1998 citado por SABOURIN; TEIXEIRA, 2002), confirma esse raciocínio de que o capital social não é um simples atributo cultural, cujas raízes só podem ser fincadas ao longo de muitas gerações. Ele pode ser criado, desde que haja organizações suficientemente fortes para sinalizar aos indivíduos alternativas para os comportamentos políticos convencionais. E será tanto mais forte quanto mais ele permitir a ampliação do círculo de relações sociais em que vivem aqueles que participam de sua construção.

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4 3. METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica possibilitou o acesso a várias obras sobre o assunto e artigos científicos relevantes, apresentados em congressos regionais e nacionais. O intercâmbio com outros pesquisadores de feiras livres, em congressos ou por meio de correio eletrônico, também possibilitou a aquisição de material de interesse; há também alguns trabalhos disponíveis na internet, resultados de apresentações em congressos nacionais e regionais.

Foram escolhidos dois municípios para serem pesquisados. O rol para escolha foi montado da seguinte forma: depois de selecionados os 40 municípios do Ceará com maior IDH e os 40 com menor IDH, em 1991, escolheram-se de cada um destes grupos os 20 que tiveram, respectivamente, a maior taxa de crescimento (excluídos os municípios da região metropolitana de Fortaleza) e a menor taxa de crescimento de IDH no período 1991-2000.

Desta lista, resultaram para o grupo de maior crescimento os seguintes municípios: Beberibe, Cascavel, Pindoretama, Campos Sales, Tauá, Independência, Ubajara, Groaíras, Itapipoca, Pacoti, Barro, Jati, Penaforte, Brejo Santo, Ipu, Reriutaba, Quixeré, Tabuleiro do Norte, Alto Santo e Iracema. E, para o grupo de menor crescimento, os municípios foram: Chaval, Quixelô, Irapuan Pinheiro, Croatá, Baixio, Ocara, Aracoiaba, Altaneira, Assaré, Potengi, Aiuaba, Arneiroz, Catarina, Coreaú, Massapê, Martinópole, Moraújo, Senador Sá, Miraíma e Umirim (PNUD, 2003).

Vale ressaltar que nas feiras a serem pesquisadas deveriam existir bancas que comercializassem produtos agropecuários - podendo ou não serem agroecológicos, independente da existência de bancas que vendam outros tipos de produto, como bens industrializados.

Para a escolha dos municípios, realizou-se contato, via correio eletrônico ou telefone, com técnicos de campo do BNB (funcionários que trabalham diretamente no município, realizando vistorias em projetos financiados pela instituição) e com os escritórios da Ematerce, para saber se existia feira livre no município. Onde existia checou-se informações como dia de ocorrência, predominância de comerciantes ou produtores familiares, origem dos produtos, número de bancas, e existência de associação de feirantes ou apoio das lideranças municipais à feira. Segundo as informações fornecidas, havia feira em 32 dos 40 municípios listados, a maioria dos feirantes era comerciante, não produtor rural, e não havia certeza da existência ou não de associação de feirantes ou apoio à realização da feira municipal.

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5 3.1 A origem dos dados

O feirante (produtor da mercadoria ou não) deveria comercializar, de forma regular, com ou sem ponto constituído na feira, animais vivos, carne bovina, suína ou de “criação”, especiarias, frango abatido, hortifrutigranjeiros, grãos, derivados de mandioca e de cana, produtos lácteos de primeira transformação (queijo, nata e creme de leite) e peixe. A procedência dos produtos pode ser a pequena produção familiar ou as grandes plataformas de distribuição de alimentos (agronegócio).

Demonstra-se, na Tabela 1, o total de questionários aplicados em relação ao universo de bancas levantado.

Tabela 1 – Número de bancas de produtos agropecuários e de entrevistas realizadas nas feiras de Cascavel e de Ocara (2008).

Setores Cascavel Ocara (1)

Bancas Entrev. % Bancas Entrev. %

1. Animais vivos (2) - 9 - 3 1 33,3

2. Carne bovina 36 8 22,2 - - -

3. Carne de Criação/Porco 8 3 37,5 - - -

4. Especiarias 14 8 57,1 1 1 100,0

5. Frango abatido 20 7 35,0 - - -

6. Hortifrutigranjeiros 71 33 46,5 17 16 94,1

7. Mercearia 52 17 32,7 1 1 100,0

8. Peixe/frutos do mar 42 15 35,7 3 3 100,0

Total 243 100 41,2 25 22 88,0

Fonte: Pesquisa direta (2008) Notas:

(1) Em Ocara, não havia feirantes de carne bovina, de criação/porco nem de frango abatido.

(2) Não há cadastro destes feirantes em Cascavel. A grande dispersão de pessoas impedia a contagem do número de feirantes, não existia ponto definido nem informação confiável por parte dos freqüentadores.

As amostras, mesmo representando diferentes percentuais em cada grupo de produto agropecuário pesquisado, podem ser boas representações do universo levantado na contagem, já que, à exceção do grupo de animais vivos em Cascavel, nenhuma se apresentou inferior a 20%. Como o número de feirantes em Ocara era muito pequeno, decidiu-se aplicar questionários com todos os que estivessem presentes durante as visitas. Já no caso de Cascavel, seriam entrevistados alguns feirantes de cada grupo definido como alvo.

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6 Utilizou-se também a observação simples em toda a pesquisa de campo, de forma a verificar como é a rotina do feirante em seu local de trabalho, além do registro fotográfico de bancas, produtos, espaços de venda e detalhes de infraestrutura existentes nos locais de realização das feiras.

3.2 Métodos de análise

Os questionários, depois de aplicados, foram revisados, verificando-se a consistência das respostas obtidas. Para as respostas às questões que envolviam os motivos para participar de associação e os motivos para não participar de associação, foi utilizado o programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), empregando-se, para o primeiro caso, o teste estatístico do Qui-quadrado, um tipo não-paramétrico utilizado para comparar amostras de variáveis categóricas (qualitativas).

Para as questões que envolviam os problemas e sugestões, a tabulação foi realizada com auxílio do Excel, pela facilidade de digitação das respostas, que se eventualmente fossem as mesmas, seriam repetidas automaticamente; caso contrário, ou seriam digitadas integralmente ou acrescentadas das palavras que as diferenciassem de outras respostas. Neste caso, a análise foi puramente conceitual, não tendo sido aplicado nenhum teste estatístico, já que os problemas diferem fundamentalmente de uma feira para outra, em razão de serem eventos de portes e estruturas completamente diferentes, em municípios com grau de desenvolvimento distinto.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Comparação do grau organizacional dos feirantes dos dois municípios

Apesar de Ocara e Cascavel serem cidades interioranas (e vizinhas), o nível de organização da estrutura de comercialização local é diferente: Cascavel é um município maior, com uma feira dotada de infraestrutura inexistente em Ocara; há uma grande diversidade de feirantes vendendo, e outra ainda maior de produtos vendidos; e a feira de Cascavel acontece todos os dias (apesar do maior movimento e presença de feirantes ocorrer no sábado), enquanto a de Ocara apenas em um único dia na semana.

O traço mais marcante e comum nas duas feiras é a inexistência de associação de feirantes, fato já percebido nas viagens de reconhecimento aos municípios escolhidos. O perfil básico dos entrevistados era o de comerciante, como foi levantado no contato com as Ematerce e agências do BNB: com raras exceções, havia algum produtor que vendia sua mercadoria na feira, mas isso não seria um fator determinante para a inexistência de uma associação da categoria.

O percentual de feirantes que participa de algum tipo de associação (de moradores, religiosa, agrícola e outros) em Cascavel é de 13% e de 31,8%, em Ocara. Esses números revelam o baixo grau de articulação dos feirantes nos dois municípios, particularmente em Cascavel. E serve de aproximação para indicar, pelo menos a curto prazo, a falta de interesse de os feirantes se organizarem em uma associação na qual possam reivindicar os seus direitos, ainda que haja uma diferença significativa, em termos de participação em associação, entre os dois municípios (o teste Qui quadrado revelou χ2 = 4,659 e sig = 0,031 para essa variável).

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7 mais facilmente quando associados (Tabela 2). Em seguida, vem a necessidade de estarem filiados a alguma entidade representativa (o que, às vezes, é exigência legal para se conseguir algum benefício, como empréstimo do Pronaf), com 23,1% em Cascavel e 28,6% em Ocara.

Tabela 2 – Distribuição de freqüência dos feirantes de Cascavel e Ocara segundo os motivos para participar de associação (%) (2008).

Motivos Municípios

Cascavel Ocara 1. Para conseguir as melhorias mais facilmente 38,5 42,9

2. Por motivos religiosos 23,1 14,3

3. Segurança própria e da família 0,0 14,3

4. Necessidade de filiação a alguma entidade representativa 23,1 28,6

5. Para ajudar os associados/associação 15,4 0,0

Total 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa direta (2008)

A indiferença está entre os motivos mais citados durante as entrevistas para não fazer parte de associação (Tabela 3). Em Ocara, um terço dos feirantes e, em Cascavel, 60,9% dizem não ter nenhum motivo especial para não serem associados. Em Ocara, outro terço alega que nunca teve convite para participar de associação, e a falta de interesse aparece com 13,3% das opiniões entre os que não participam de associação. Entre os não-participantes entrevistados de Cascavel, a falta de convite também aparece em segundo lugar entre os motivos (10,3%), junto com o de não gostar de se envolver. Curiosamente, o percentual de feirantes entrevistados que admitiram não saber o que é associação é bem baixo, não passa de 3% em Cascavel, não tendo sido registrado em Ocara.

Tabela 3 - Distribuição de freqüência dos feirantes de Cascavel e de Ocara segundo os motivos para não participar de associação (%) (2008).

Motivos Municípios

Cascavel Ocara

1. Sem motivo especial 60,9 33,3

2. Não existe associação onde mora 7,0 6,7

3. Nunca teve convite ou oportunidade 10,3 33,3

4. Não gosta de se envolver com isso 10,3 6,7

5. Nunca se interessou 5,7 13,3

6. Não tem tempo 3,4 0,0

7. Nunca precisou 0,0 6,7

8. Não sabe bem o que é 2,3 0,0

Total 100,0 100,0

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8 O grau de articulação é um aspecto importante para se conseguirem melhorias para qualquer movimento classista e, nas feiras, ele é bem baixo. Uma feirante de Cascavel disse que havia proposto a criação de uma associação durante conversa com outros feirantes, mas, na hora de escolher alguém para liderar, ninguém quis assumir essa responsabilidade.

Essa atitude também permeia o comportamento dos feirantes de Ocara e o individualismo ficou visível no processo de relocalização da feira, no final de 2007. Segundo relato do Secretário de Agricultura do município, o processo de realização das audiências públicas para discutir o assunto não foi fácil, porque os feirantes são muito dispersos e, ao mesmo tempo, muito ocupados com sua atividade comercial. Durante a realização dessas audiências, houve a discussão da necessidade de os feirantes se associarem, a fim de melhor se relacionarem com o poder público. Mas não foi feito nenhum avanço nesse sentido.

Em Cascavel, notaram-se casos pontuais em que alguns feirantes têm amizade com outros, principalmente quando trabalham vizinhos ou lidam com a mesma mercadoria, conforme visto entre os que negociam hortifrutigranjeiros, frango abatido, carne, peixe e artigos de mercearia, chegando até a se reunirem para ratear despesas de frete. Algumas vezes, essa relação de amizade se estende aos consumidores, pois alguns feirantes chegam a guardar suas compras já realizadas, para que eles circulem pela feira sem carregar peso, ou mesmo lhes facilitam o pagamento, anotando o “fiado” (despesa a pagar depois da compra) em pequenos cadernos.

Entre fornecedor e feirante é comum o relacionamento informal, mas, em alguns depoimentos, constatou-se que alguns feirantes seguem a lógica de mercado: possuem vários fornecedores, sejam eles do município ou de outro lugar, e compram a mercadoria de quem vender a um preço mais baixo, sem que questões de amizade influenciem na negociação. Já no caso da carne bovina, apurou-se o contrário, ela provém quase que exclusivamente de um só fornecedor.

Tais resultados mostram que, embora o nível de intervenção do poder público seja bem maior em Cascavel, de forma geral, ainda é baixo o nível de capital social existente nas feiras pesquisadas, já que não há confiança entre os feirantes. À exceção dos casos pontuais levantados, a cultura difundida nas feiras livres é a da competição; ainda é baixo o nível de cooperação entre os feirantes para o alcance de metas comuns, o que justifica sua acomodação na atitude de esperar que todas as benesses venham do poder público.

4.2. Pontos de vista em relação à feira: apoio, aspectos legais e problemas

Em Cascavel, 71% dos feirantes entrevistados e em Ocara, 81,8% responderam que existem apoios para a atividade da feira. Mas são distintos: em Ocara, o poder público, segundo afirmação do Secretário de Agricultura, faz a limpeza geral do local onde se realiza a feira, mas a montagem, desmontagem e guarda das bancas (que começa na quinta à tarde e termina na sexta às duas da tarde) são realizadas por particulares, sendo pagas pelos feirantes, e não há vínculo com a prefeitura.

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9 poder público à feira, ainda que em alguns pontos já exista a necessidade de manutenção, pois foi uma iniciativa que melhorou as condições de trabalho de muitos feirantes, que anteriormente vendiam em espaço aberto, sujeitos ao sol e à chuva. Nos galpões de venda de hortifrutigranjeiros, de artigos de mercearia, no mercado do peixe e no de carne bovina (parte externa aos boxes), a prefeitura realiza a limpeza. No galpão de artigos de mercearia, ela tem periodicidade maior (são realizadas limpeza e lavagem de quatro em quatro meses, segundo informações dos feirantes). Já no mercado do peixe, a limpeza é diária, com lavagem dos boxes no fim do dia de venda, devido ao mau cheiro e sujeira produzidos pelo peixe e pela carne comercializados.

Nos dias de sábado, o Departamento Municipal de Trânsito de Cascavel (Demutran) interdita uma das mãos da Avenida Prefeito Vitoriano Antunes para a colocação das bancas de hortifrutigranjeiros (que vendem fora do galpão) e de artefatos de cozinha. Outra via que tem uma mão interditada é a Avenida Padre Valdevino Nogueira, para a montagem das bancas de confecções. O Demutran coordena, por meio de agentes, o trânsito nas mãos livres dessas vias e na Avenida Chanceler Edson Queiroz, a principal via de acesso à feira dentro do município, disciplinando também o posicionamento de taxistas e mototaxistas. No entanto, alguns feirantes se queixam do rigoroso controle no trânsito, seja pelo órgão municipal ou estadual competente, que multa algumas pessoas que estacionam nesta avenida e que inibe o movimento de caminhões que transportam pessoas e animais nas rodovias de acesso ao município, diminuindo, assim, a freguesia e os negócios realizados na feira (Tabela 4).

A Prefeitura de Cascavel disponibiliza vigilância noturna no mercado de abastecimento e no galpão de hortifrutigranjeiros2. E é responsável pelo fornecimento de água encanada e energia elétrica nos boxes de venda de peixe, carne e frango abatido que utilizem freezers, serras, moinhos elétricos, balanças digitais, ventiladores e iluminação. Algumas torneiras podem ser vistas também na parte externa do mercado público e estão disponíveis aos feirantes.

Entre os entrevistados em Cascavel, 82% acreditam que a feira é um negócio que tem futuro, quase a mesma percentagem levantada em Ocara (81,8%). O motivo mais citado entre os feirantes de Cascavel é que a freguesia é boa e que haverá sempre quem compre a mercadoria que vendem; e os de Ocara dizem que há pouca concorrência, favorecendo o lucro. Em Cascavel, a minoria que discorda dessa opinião justifica dizendo que o movimento é pequeno ou que, se tivesse opção, mudaria a atividade. Entre estes, estão alguns feirantes de carne bovina, frango abatido, peixe e especiarias. Em Ocara, os descrentes no futuro da feira queixam-se do pequeno movimento em suas bancas de hortifrutigranjeiros e de artigos de mercearia.

Quanto ao aspecto legal das feiras nos municípios visitados, em Cascavel, a maioria dos feirantes entrevistados (82%) encara a cobrança de taxa semanal pela prefeitura como um tipo de fiscalização. 26% citaram a existência de fiscalização de balanças (cujas taxas anuais variam de R$ 27,00 a R$ 38,70, dependendo do tipo), presentes principalmente entre os feirantes que comercializam carne, frango abatido, hortifrutigranjeiros e artigos de mercearia, enquanto 16% citaram a presença de fiscalização sanitária, que atua

2 Os vigias têm seu salário complementado com uma gorjeta dada pelos feirantes, seja em dinheiro, seja em

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10 principalmente nos boxes de frango abatido, carne e peixe, além do matadouro público municipal.

A cobrança de taxa semanal, segundo os secretários da prefeitura, serve para cobrir os gastos com o apoio à feira (infraestrutura, material de limpeza para os mercados e pagamento de parte de horas extras para o pessoal encarregado da limpeza. Este começa a trabalhar quando os feirantes encerram suas atividades), variando conforme o tamanho da banca e mercadoria vendida (nas entrevistas ouviram-se valores entre R$ 2 e R$ 10), geralmente cobrada aos sábados. Em campo, viu-se que, quando a mercadoria é carne ou peixe, esse valor geralmente é mais alto e os feirantes que vendem no Tamarindo (espaço reservado aos feirantes de fora de Cascavel) pagam um pouco mais por terem bancas maiores.

O questionário também tinha uma pergunta aberta para que o feirante colocasse os principais problemas que ele via na feira em que trabalhava. Entre os entrevistados, 28% afirmaram não existirem problemas, 3% não souberam dizer e 69% citaram pelo menos um problema na feira de Cascavel. Como muitas reclamações foram ouvidas sobre diversos temas, resolveu-se agrupá-los como os relacionados à limpeza, segurança, organização, estrutura, relacionamento e fiscalização.

Detalhando somente as reclamações mais recorrentes, estão a de sujeira no local da feira (5%), presença de insetos (5%) e limpeza precária (5%), dentro do tema limpeza; roubo/insegurança (11%), dentro do tema segurança; falta de organização do fluxo de pessoas/veículos na feira (3%) e exposição constante à chuva ou sol (3%), dentro do tema organização; falta de estrutura para armazenamento de produtos perecíveis (3%), dentro do tema estrutura; pessoal de fora vendendo na feira (2%) no tema relacionamento entre feirantes; excesso de multas de trânsito sobre veículos de transporte de pessoas e animais (3%) no tema fiscalização; e falta de freguesia/movimento (5%) no tema outros problemas (Tabela 4).

Tabela 4 - Principais problemas levantados na feira de Cascavel pelos feirantes3

Problema mencionado na entrevista %

Limpeza 28

Segurança 21

Organização 17

Estrutura 13

Relacionamento entre feirantes 8

Fiscalização 6

Outros problemas 7

Total 100

Fonte: Pesquisa direta (2008)

Entre os setores de feirantes, a presença de insetos (baratas) e roedores foi muito citada pelos feirantes entrevistados na parte de mercearia. Estes também relacionaram problemas como a segurança (roubo de mercadorias e briga de bêbados, pois os bares são

3 As várias reclamações foram agrupadas em grupos temáticos, para facilitar a análise. Este percentual

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11 vizinhos) e o mau cheiro do lixo depositado em um camburão bem em frente ao local de venda. Já os feirantes do mercado do peixe mencionaram a sujeira dos boxes4 e dos banheiros, o mau estado de alguns equipamentos utilizados, a ausência de ventiladores para reduzir o calor e espantar moscas e a proibição, pela Prefeitura, do uso, durante a semana, das caixas de isopor para o congelamento dos peixes, o que os obriga a pagar o transporte e acondicionamento do produto fora do mercado.

Os feirantes de hortifrutigranjeiros se referiram mais à concorrência com os feirantes de fora (principalmente do Tamarindo) e aos problemas de vigilância noturna, pois estava havendo roubo de mercadorias e eles não sabiam quem roubava, o que levou alguns a tomar algumas medidas mais eficazes que confiar nos vigias noturnos.

Quanto ao movimento na feira, 5% dos feirantes queixaram-se de que ele é fraco (Tabela 4). Alguns se arriscaram a fundamentar (logicamente) sua reclamação no fato de o desemprego, de uma forma geral, estar alto e ter atingido importantes indústrias em Cascavel: com menos salários pagos, o consumo é menor, e a feira sente esse impacto. Uma opinião pontual de um feirante consistiu em culpar os empréstimos consignados na folha dos aposentados, que representam um grande público consumidor na feira em Cascavel: “Isso devia ser proibido”; já outro feirante confirmou: “Devia ter pagamento de aposentado todo dia”.

Nos boxes de frango abatido, peixe e carne bovina, alguns entrevistados falaram que se exigia dos feirantes um bom comportamento em relação aos colegas, fornecedores e fregueses e que houve casos pontuais de expulsão de feirantes de seus pontos por faltarem com respeito aos colegas ou por consumirem bebida alcoólica durante o expediente.

Segundo relato dos secretários da Prefeitura de Cascavel, a concorrência com feirantes de fora rendeu alguns conflitos pontuais para os de Cascavel5. Estes passaram a exigir da prefeitura, a partir de 2001, a limitação do número de dias de atividade daqueles, que chegavam às quartas de Baturité e de Pacoti, com caminhões carregados de frutas, vendendo a preços mais baixos. Os feirantes de Cascavel exigiram (e conseguiram, conforme visto em campo) que eles só vendessem na tarde da sexta e no sábado.

Também em 2001, a prefeitura concluiu a construção do galpão de venda de peixe e de hortifrutigranjeiros, padronizando as bancas e estabelecendo boxes individuais no mercado do peixe, ocasião em que a feira passou a ter um desenho mais próximo do atual. Os feirantes nativos que vendiam no Tamarindo e outros que trabalhavam na rua mudaram-se para os galpões, possibilitando o uso do espaço do Tamarindo por feirantes de fora de Cascavel.

Outro problema, não abordado nem dimensionado no questionário (por fugir ao escopo do trabalho), mas observado nas entrevistas aos feirantes, especialmente em Cascavel, onde o movimento é maior em razão da feira ser diária, é o elevado consumo de sacos plásticos para embalagens de mercadorias. Além de representar uma despesa para o feirante (os preços do quilo variam de R$ 1,00 a R$ 7,50, dependendo da qualidade do material), essa forma disseminada de embalagem traz, como é sabido, sérios problemas ambientais, pela lenta decomposição do plástico quando lançado no meio ambiente sob a

4 Apesar da prefeitura realizar serviço de limpeza, muitos feirantes queixam-se da sujeira na feira como um

todo. Não é fácil encontrar depósitos de lixo; há sanitários públicos fechados há anos, e os que funcionam necessitam atenção, em virtude de equipamentos ausentes ou quebrados e do grande movimento aos sábados.

5 Nada relacionado à feira em si, mas problemas pessoais entre os feirantes, que foram resolvidos com

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12 forma de lixo. Muitos feirantes disseram que consomem um quilo de plástico só num sábado, quando, na semana, esse consumo fica em meio quilo por dia.

A Prefeitura de Cascavel tem como projetos futuros para a feira a padronização das bancas de confecção, que passariam a usar um tipo mais fácil de montar e desmontar que as atuais, e a construção de um estacionamento próximo à feira, para facilitar o acesso de consumidores e feirantes. Este serviria também para desafogar um pouco o trânsito, que é complicado aos sábados, pela grande circulação de pessoas e de mercadorias nas vias de acesso à feira. O prazo para implementação desses projetos é de dois anos, e a padronização das bancas ocorreria em duas etapas, contemplando metade do quantitivo em cada uma delas.

A feira em Cascavel também gera externalidades positivas, movimenta outros serviços não relacionados à feira: aos sábados, é grande a concentração de carros de aluguel (sem necessariamente serem táxis) para o transporte às localidades mais próximas, como as praias de Barra Nova, Barra Velha e os municípios de Aquiraz e Pindoretama. O comércio também pode se beneficiar: a grande concentração de estabelecimentos de variados tipos ao redor da feira é um indício de que o local tem bom movimento de consumidores. Três agências de microcrédito também têm seus escritórios próximos à feira, a cerca de dois quarteirões de distância. E, mesmo dentro da feira, há dezenas de pontos com lanchonetes e restaurantes e até uma ala só com barbearia, em um dos mercados mais antigos.

Em Ocara, entre os feirantes entrevistados, 9,1% afirmaram não existirem problemas, 9,1% não souberam dizer e 81,8% citaram pelo menos um problema na feira. A falta de infraestrutura básica para funcionamento é evidente pelo elevado número de reclamações quanto à ausência de banheiro (47%) e pontos de água na feira (33%), que é contornada de forma precária na base da amizade com os moradores ou com os comerciantes do entorno da feira, além do problema da constante exposição dos alimentos à chuva e ao sol (7%) (Tabela 5). Vale lembrar, porém, que existem banheiros fechados numa praça bem próxima à feira.

Tabela 5 – Principais problemas levantados na feira de Ocara pelos feirantes6

Problema mencionado na entrevista %

Falta banheiro na feira 47

Falta ponto d'água na feira 33

Exposição constante à chuva ou sol 7

Desorganização 3

Falta de local adequado para guardar barracas e mercadorias 3 Não existe mercado público onde a feira possa ser realizada 3 Falta indústria para movimentar a economia local 3

Total 100

Fonte: Pesquisa direta (2008)

Em entrevista ao pároco da cidade, um dos vizinhos da feira, ele afirmou que, atualmente, esta não é motivo de estorvo para as atividades da igreja, mas os problemas

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13 eram maiores quando a feira ficava na avenida principal; foram seis anos de luta com problemas de trânsito, barulho e outros transtornos até a realização das três audiências públicas (todas com participação da Igreja Católica) e a conseqüente mudança para o local atual. Mas, na opinião dele, ainda persiste a desorganização, falta fiscalização na venda de produtos alimentícios e o nível de higiene ainda é baixo: produtos que deviam ser vendidos isolados, em melhores condições, como o peixe, são vendidos no meio da rua, e a poluição para os alimentos vendidos a céu aberto ainda é muito grande. O tipo de banca também não é o ideal, pois a montagem e desmontagem deixam muitos pregos soltos, que furam os pneus dos carros que estacionam ao lado da igreja, quando há missa. “Serve de fonte de renda para o borracheiro”, brincou o padre.

O secretário de agricultura e comércio do município acrescentou que a prefeitura dispõe de um projeto para padronizar as barracas e construir um mercado público coberto, com melhor infraestrutura, equipamentos (balança, fardamento para os feirantes) e capacitação, num local próximo àquele onde hoje se realiza a feira, mas isso só será possível num eventual segundo mandato, já que não há mais tempo para fazê-lo no tempo restante do atual.

O mesmo secretário, falando em nome da prefeitura, vê tal feira como algo muito importante, principalmente pelo lado econômico, tanto que o governo municipal iniciou o trabalho de relocalização desse espaço público, que deverá terminar com sua mudança para um local mais bem estruturado. Ele sabe que muitas pessoas das localidades próximas vêm para a feira, que termina sendo um importante ambiente de relacionamento social num município cuja população é 70% rural: “A feira é um importante espaço social, de conversa, onde as pessoas, além de comprar e vender, encontram-se, o que, às vezes, no meio rural não acontece, pelo fato de as casas serem distantes umas das outras”.

A Prefeitura de Ocara também apóia a realização de feiras do produtor, patrocinadas pelo BNB, fazendo com que estas ocorram de forma descentralizada, em regiões rurais mais distantes, para evitar problemas de transporte de pessoas, animais e mercadorias, já que o acesso dessas comunidades à sede do município é mais difícil, pelos custos de transporte e condições das estradas de rodagem, principalmente no inverno.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se, durante toda a pesquisa de campo, o baixo grau de associação entre os feirantes, sejam eles de Cascavel ou de Ocara. O fato de não haver uma entidade representativa da classe dificulta a negociação de melhorias com o poder público, o que é um fator agravante no caso de Ocara, que não possui ainda a infraestrutura desejada para a realização da feira.

Os feirantes, de uma forma geral, ainda têm pouca consciência da necessidade de se organizarem numa associação, e o relacionamento limita-se à formação de grupos para rateio de despesas como frete ou troca de favores (como empréstimo de mercadoria para suprir uma necessidade imediata ou dinheiro trocado). Parece faltar interesse na formação de uma associação para reivindicar seus direitos. Se tal mentalidade mudasse, poderiam conseguir negociar melhorias mais rapidamente com o poder público, evitando a conduta assistencialista de esperarem tudo do governo.

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14 poder público seja bem maior em Cascavel. A cultura difundida nas feiras livres é a da competição; ainda é baixo o nível de cooperação entre os feirantes para o alcance de metas comuns, o que justifica sua acomodação na atitude de esperar que todas as benesses venham do poder público.

O oportunismo é mais patente em Cascavel: feirantes que vendem especiarias acusam os que vendem hortifrutigranjeiros de terem passado a vender parte dos seus produtos (como o colorau), tomando assim uma fatia de seu mercado; feirantes de cheiro verde com ponto fixo queixam-se da concorrência dos que atuam na feira vendendo a mesma mercadoria de forma ambulante; e os nativos queixavam-se da concorrência dos que chegavam de outros municípios para vender (principalmente frutas) a preços mais baixos. Esta é uma característica que impede a formação de redes de confiança entre os feirantes.

A intervenção governamental para gerar o desenvolvimento local é condição necessária, mas não suficiente para a geração de melhorias (vide o caso de Cascavel, onde existe infraestrutura direcionada para uma grande feira). Os feirantes também precisam articular-se no sentido de buscar soluções para seus problemas, que em Cascavel estão mais voltados para a insegurança e a limpeza no local da feira, enquanto em Ocara as reclamações versam sobre a infraestrutura básica (falta de pontos de água e de banheiros).

Apesar de todos os problemas, as feiras visitadas são importantes centros de comercialização de produtos agropecuários, gerando também importantes externalidades positivas para seus municípios.

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Tabela 1 – Número de bancas de produtos agropecuários e de entrevistas realizadas  nas feiras de Cascavel e de Ocara (2008)
Tabela 3 - Distribuição de freqüência dos feirantes de Cascavel e de Ocara segundo os  motivos para não participar de associação (%) (2008)
Tabela 5 – Principais problemas levantados na feira de Ocara pelos feirantes 6

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