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As significações e as motivações da paternidade adotiva

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Academic year: 2017

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EVILÁSIO ANDRADE DA SILVA

AS SIGNIFICAÇÕES E AS MOTIVAÇÕES DA PATERNIDADE ADOTIVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica, Com requisito parcial para obtenção De Título de Mestre em Psicologia.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Menezes de Oliveira.

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S586s Silva, Evilásio Andrade da

As significações e as motivações da paternidade adotiva. / Evilásio Andrade da Silva. – 2010.

98f. 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2010. Orientação: Roberto Menezes de Oliveira

1. Paternidade. 2. Adoção. 3. Família. 4. Motivação (Psicologia). I. Oliveira, Roberto Menezes de, orient. II. Título.

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DEDICATÓRIA

A minha Família, pelo estímulo e confiança, em especial, amada mãe, que sempre me encorajou e principalmente, pelo amor a mim dispensado.

Ao meu querido pai e ao meu guerreiro irmão que estarão sempre em minha memória, pois os mesmos já faleceram.

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Em primeiro lugar, agradeço a Deus, pela sabedoria que me concedeu. Agradeço também, a todos que de uma forma ou de outra torceram por mim e que me motivam a nunca desistir de tentar dar o melhor de mim, para fazer da minha profissão um modelo de dignidade e eficiência.

Durante todo período do mestrado pude contar o apoio e as orações de todos meus familiares, especialmente que agradecer minha querida mãe Maria Andrade da Silva, bem como, aos meus confrades do convento e paróquia São Francisco de Assis, e de modo particular meu amigo e provincial Frei Norberto de Moura Cruz. Esta minha duas famílias estiveram sempre me incentivando a vencer os desafios de está em um mestrado, pois, como bem sabe, é uma tarefa muito árdua. Neste tempo de ser um pesquisador tive que conciliar como minha vida de pároco do Santuário São Francisco e aos meus atendimentos no consultório. Realmente foi um tempo difícil que foi se tornando suável pelo carinho destes meus familiares.

Também quero agradecer ao Prof. Dr. Robson Coelho do departamento de Letras da Universidade de Brasília, pois se colocou muito disponível em acompanhar nas leituras, correções gramaticais e da estrutura lingüística. Escrever um texto sabe-se que é uma arte. E a leitura da dissertação ficou tão clara e até suável pela colaboração deste grande amigo Professor Robson.

Enfim, quero agradecer a Universidade Católica de Brasília, instituição que fiz a graduação, e agora, termino mais passo importante dentro desta instituição. Nesta Universidade além de adquirir novos conhecimentos, também, tive muitos amigos professores e amigos do mestrado. Muito obrigado de modo particular a diretora do curso a Profa. Dra Marta Helena e ao meu querido amigo orientador Prof. Dr. Roberto Menezes.

Referência: Silva, Evilásio da. Título: As significações e as motivações da paternidade adotiva. 2010, Dissertação de Mestrado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2010.

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Este trabalho teve como foco a paternidade adotiva, visando investigar o que ela significa e quais as motivações que levam os pais a assumi-la. Usou-se a metodologia da pesquisa qualitativa, com a utilização de entrevista. Teve por colaboradores pais que pertencem à classe média de Brasília, com idades entre 39 anos a 50 anos, que proveem de uma boa formação humana e intelectual. É muito importante ressaltar que os mesmos pais nunca tiveram filhos biológicos. Trata-se, pois, de um estudo empírico desenvolvido por meio de (04) perguntas norteadoras, tais como: O que a adoção significa para você? ; O que a paternidade significa para você? ; O que significa para você ter se tornado pai por adoção? ; Quais foram os motivos que o levaram a escolher ser pai por adoção? Inicialmente, estas perguntas foram dirigidas aos referidos pais por adoção, precedido e sucedido de entrevistas onde foram exploradas as experiências acerca da adoção, especialmente, o porquê fizeram tal escolha. Durante todo processo das entrevistas buscou-se uma postura fenomenológica. Sobre o material produzido nas entrevistas (gravadas e transcritas), processou-se análise predominantemente qualitativa. Entretanto, buscando fazer uma leitura crítica das contribuições psicodinâmicas, objetivando contribuir epistemologicamente para uma melhor compreensão de fatores psicológicos nela envolvidos. Finalmente, os resultados apontam para as intenções que estes pais possuem acerca da adoção. Foram identificados nesta pesquisa que estes pais buscaram a adoção para a realização da vida do casal e também para se sentir mais completo como um ser humano. Outro resultado é que estes pais não são mais visto como homens provedores do lar, mas procuram ter uma maior participação dentro do meio familiar. Enfim, como consideração pode-se dizer que esta pesquisa foi uma forma de apresentar quais são as significações de ser pai por adoção por uma determinada classe social. Com isto, ficam as inquietações sobre como seriam as motivações de outros pais que pertencem à outra classe social e como os mesmos pensariam acerca da adoção. Sendo assim, considerou-se que a temática pode ainda contribuir para muitas reflexões sobre os pais por adoção, especialmente de se fazer um estudo comparativo com estes pais pesquisados de uma classe média com outros que vivem em diferentes contextos sócio-culturais no nosso Brasil.

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Reference: Silva, Evilasio da. Title: The meanings and motivations of adoptive fatherthood. 2010, Dissertation of Master's Degree in Psychology at the Catholic University of Brasilia,

Brasilia, 2010.

This study aimed to investigate the meanings and motivations of adoption, focusing on the adoptive fatherhood. For this it was used the methodology of qualitative research, using interview. This study had as employees fathers belonging to middle class in Brasilia, showing a good human and intellectual formation, with ages ranging from 39 to 50 years old, and who never had biological children. Secondly, the structure is an empirical study, using four (04) guiding questions such as: What does adoption mean to you? What fatherhood mean to you? What does it mean for you to have become a father by adoption? What were the motives that led him to choose to be a father by adoption? Initially, these questions were referred to the fathers by adoption, preceded and succeeded by interviews that explored experiences about adoption, especially those that led them to make such a choice. Throughout the process of the interviews we sought a phenomenological stance. On the material produced in the interviews (taped and transcribed), it was processed a predominantly qualitative analysis. However, we attempted to make a critical reading of psychodynamic contributions, epistemologically aimed to contribute to a better understanding of psychological factors involved in it. Finally, the results point to the meanings that these fathers have about the adoption. Were identified in this study they sought to achieve adoption as a way of the couple's life fulfillmentand also a way to feel more complete as a man. Another result is that these parents are no longer seen as home providers, but seek to have greater participation within the family environment. Anyway, as consideration, we can say that this research was a way of presenting what are the meanings of being a father by adoption of a particular social class. Therewith rest the concerns about how would be the motivations of other fathers who belong to a particular community and what they think about adoption. Therefore, it is considered that the issue can still contribute for many reflections on fathers by adoption, especially when doing a comparative study with those fathers surveyed, with other fathers who live in other socio-cultural contexts of our Brazil.

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1. INTRODUÇÃO....07

2. SOBRE A ADOÇÃO...12

3. SOBRE A PATERNIDADE...32

4. SOBRE AS MOTIVAÇÕES...32

1.A MOTIVAÇÃO COMO ATO DE SUBLIMAÇÃO...33

5. OBJETIVOS...35

1. Objetivo geral...35

2. Objeticos específicos...35

7. METODOLOGIA...36

7.1. Considerações sobre a pesquisa qualitativa e a entrevista...36

7.2. O papel do entrevistador em pesquisa qualitativa...38

7.3. Perguntas norteadoras...39

7.4. Colaboradores...39

7.5. Acesso aos colaboradores...39

7.6. Procedimento da Coleta ...40

7.7. Procedimento de Análise das Entrevistas...40

8. RESULTADOS E DISCURSSÃO...42

9. ANÁLISE DAS SIGNIFICAÇÕES...49

10. CONCLUSÃO...59

11.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...67

ANEXO A – A nova lei sobre adoção...67

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende abordar a adoção voltada para a figura do homem que deseja ser pai por esse meio. Sob tal foco, o tema da adoção foi desenvolvido a partir do paradigma psicodinâmico e, nesse sentido, a escolha de realizá-lo surgiu ainda no curso da graduação de Psicologia. Importante notar que tal opção se deu pelo contato e convivência com o Professor Doutor Roberto Menezes seja em sala de aula, bem como também pela sua presença amiga na condição de orientador no término do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC na graduação do curso de Psicologia.

Entende-se que a escolha do tema as motivações da paternidade adotiva possibilita a pesquisa de temática ainda não devidamente explorada e, assim sendo, oferece mais uma colaboração referencialmente técnica para o meio acadêmico. Por fim, e não menos importante, outra situação particular que me motivou fazer essa pesquisa foi quando em um dos meus atendimentos me deparei com um casal que estava querendo ter um filho biológico. Depois, tomaram a decisão de adotar uma criança. Tive o privilégio de acompanhá-los neste processo na minha outra função de sacerdote. Com a chegada da criança no lar, percebi que algo tinha mudado na vida deste casal. Quero, aqui, lembrar que o tema sugerido pelo orientador de pesquisar a figura do pai adotivo só veio a suscitar a compreender a figura deste pai dentro do processo de adoção.

Segundo Weber (2004), observe-se, ainda, as dificuldades de encontrar literatura que fale a respeito da adoção voltada, prioritariamente, para a figura da futura paternidade, o que redunda em uma escassez de trabalhos científicos.

Um dos primeiros trabalhos sobre adoção foi realizado em 1988, com uma tese de doutoramento em antropologia, na UFPR, desenvolvida pela professora Maria Cecília Soleid da Costa. Essa tese, com o título Os filhos de coração: adoção em camadas médias brasileiras é, ainda hoje, um marco de referência para qualquer pessoa que queira estudar a paternidade e o seu papel na adoção.

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sentido de adoção. Weber (1997), diz que a desmistificação de não mais “ajudar”, mas sim de conceder uma família a esta criança, esta mudança faz acontecer a ter verdadeiramente significações parentais dentro desse processo. Assim, é fundamental que os “futuros pais” tenham bem claro que adoção não é somente fazer um bem àquela criança, mas um bem para o casal que ganha um filho que biologicamente era impossível.

Para Santine (1996), a adoção perpassa pelo desejo da procriação e continuidade pela experiência da maternidade e paternidade. Sendo assim, a presença de um filho dá sentido à vida do casal, como uma das metas mais esperadas na relação homem-mulher. Diante disso, o adotado traz em si uma essencial função filial de levar o casal à plena realização familiar e até mesmo equilíbrio matrimonial.

A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, dispõe sobre o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – e, em especial, sobre crianças abandonadas. Antes dessa Lei, adotar um filho era considerado não estar na “regularidade de uma família normal” enquanto sentido parental estabelecido pela sociedade. Entretanto, nos dias atuais, essa prática vem sendo aceita e mesmo melhor compreendida como mais uma maneira de se constituir uma família. Nesse sentido, adotar passa a ser, também, mais uma possibilidade de se aprofundarem os laços afetivos dentro do lar do casal pela paternidade e maternidade.

Com a Nova Lei sobre adoção – 13.010 promulgada pelo Presidente da Lula em julho de 2009, visa acabar com as adoções diretas. Isto significa que adotar só será possível por meio do cadastro. Também melhorar a preparação daqueles que desejam adotar, mas que a prioridade é de que a criança seja amparada pela família bem preparada. Esta Nova lei buscou aprimorar adoção a partir de três pilares: prevenir o afastamento do convívio familiar e comunitário; desburocratizar o processo de adoção e evitar o prolongamento da permanência em abrigos. Também que os irmãos deverão permanecer juntos na adoção, e separação só será possível em situação que justifique tal separação.

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Para Shine (2005), os estudos sobre paternidade adotiva são pautados por uma postura de atuação “prolitária”, ou seja, sob tal postura a adoção visa procurar interrogar seu desejo (da paternidade) e considera suas singularidades antes de assumir, juridicamente, a guarda de uma criança. Ampliando as considerações de Shine, faz-se necessário que o (futuro) pai adotivo seja devidamente ouvido em suas intenções, angústias, planos familiares de futuro. Nesse processo, a própria figura do pai (enquanto cidadão social, indivíduo familiar) é essencial para que melhor se compreendam os aspectos subjetivos que o levam à adoção.

Para Dolto (1998), comenta a história pessoal e familiar pode ajudar a entender a motivação da paternidade adotiva. A dinâmica familiar é importante dentro desse contexto de adotar, pois representa o locus adequado para que a (nova) criança possa se inserir nos laços afetivos já anteriormente estabelecidos entre os familiares e sua rotina de vida.

Weber (2003) relata que recentemente, pesquisas realizadas com famílias, de diferentes localidades do Brasil, apontaram que o principal motivo das adoções é ainda a necessidade de preencher uma carência dos pais causados pela infertilidade. Destaca-se, também, a preferência geral pela adoção por meninas (56,6%), a predominância de adoção por crianças brancas (70,5%) e com até três meses de idade (71,4%).

Com a Nova Lei sobre adoção – 13.010 promulgada pelo Presidente Lula em julho de 2009 esta situação da pesquisa citada acima mudou. Antes, nove entre dez queriam uma menina. Hoje, a preferência pelas meninas, que ainda é marcante, foi reduzida. Hoje é de seis para quatro. Antes, a preferência era por recém-nascido, hoje, a média nacional ultrapassa dois anos. Outro fator identificado nesta nova lei é mudança da concepção da sociedade, isto é, antes as pessoas queriam registrar um filho simular um filho biológico. Hoje a sociedade civil tem outra forma de querer registrar um filho sem ter que ser parecido biologicamente.

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patriarcado era que o pai como que representava uma figura desconhecida e, sob tais considerações, a autora BADINTER (1985), procura desconstruir a idéia do amor materno enquanto instinto (universal e natural), defendendo que ele é um mito construído sócio-historicamente.

Conforme Schettini Filho (1998), para falar do pai adotivo, será necessário entender essa evolução histórica do ser que é pai e mãe e, quanto a isso, o século XX foi propício (dados os avanços em várias ciências) para a manifestação da mudança dessas figuras parentais. Assim, socialmente falando, a mulher começa a reavaliar seu papel sócio-familiar desde quando entra no mercado de trabalho, o que acaba por favorecer uma maior participação paterna nos cuidados infantis. Para Gomes (2004), o surgimento de um “novo pai” que não é mais aquele homem distante do ambiente familiar, além de não mais possuir uma postura de autoritarismo no ambiente familiar. O que se tem, pois, é um homem que compõe uma “nova formação” familiar e que, portanto, representa um outro modelo de paternidade.

Sheehy (1997) mostra a evolução deste “novo pai”, avaliando que tal transformação faz com que ele seja mais dedicado aos filhos, colaborando mais na tarefa de cuidar deles. São pais que buscam ser mais amáveis, confiáveis, não mais fortemente centrados naquela histórica figura autoritária de chefe de família ou de, apenas, provedores. Neste sentido, Lisboa (1996) afirma que há vários relatos dando conta de que o “pai contemporâneo” não busca ser encarado mais só como mero reprodutor ou provedor econômico.

De acordo com Gomes (2004), esse novo pai está mais presente no dia a dia da família e, com isso, acaba tendo outras funções dentro da rotina de uma casa. Aliás, é nesse contexto de contemporaneidade que esta pesquisa visa contribuir com dados e reflexões, no sentido de procurar compreender as motivações da paternidade adotiva. Sob tal foco, e como já foi dito anteriormente, o pai, por muito tempo, ocupou um papel familiar na central família como aquele que tinha a função básica de ser provedor, mantendo-se distante afetivamente da família. Em resumo, pois, pretende-se investigar tal processo de “reordenamento familiar”, considerando-o sob a ótica do pai e quais as significações de paternidade que emergem nesse processo.

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enfim, da busca de um sentido para a própria existência. Ao lado de tais “questões femininas”, o que leva o homem a tal decisão? Sob tal pergunta básica, pode-se, pensar que adoção não só uma frustração da mulher, mas este desejo também faz parte do homem. Daí, a necessidade de compreender melhor a figura de um “novo pai” que emerge dentro desse contexto psico-sócio-familiar.

Apresentadas essas informações iniciais, para o desenvolvimento teórico da pesquisa. O conteúdo deste trabalho está organizado da seguinte maneira:

No primeiro capítulo, procede-se uma reflexão sobre o que á adoção, sua historicidade, implicações para aqueles que buscam adotar um filho.

No segundo capitulo, a intenção será de conceituar historicamente o que significa paternidade, e sua importância para vida familiar.

No terceiro capítulo, são levantados aspectos sobre o que significa motivações, especialmente em relação àqueles homens que escolheram ser pai por adoção.

No quarto capítulo, apresentam-se os objetivos da pesquisa, a descrição dos colaboradores e os instrumentos utilizados;

O quinto capítulo trata da descrição do método da pesquisa;

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2. SOBRE A ADOÇÃO

Esse estudo busca compreender quais significados e motivações se encontram presentes no processo de adoção paternal. Dessa maneira, apresentamos uma revisão bibliográfica acerca dos diferentes temas que envolvem este processo. Dentre eles: a adoção e seus aspectos históricos, sociais e culturais; a paternidade e as significações e motivações da adoção paternal.

Antes de adentrar no sentido do termo – adoção –, é preciso salientar a importância da família, considerada como a célula ou a base fundamental da sociedade. Segundo Minuchin e Fishman (1990), a organização familiar perdura pelos séculos, tornando-se uma das formações mais antigas do mundo. Mesmo que tenham decorrido diferentes épocas, sob a ótica da evolução da sociedade, a família persistiu e permanece plenamente atual, ou seja, por acompanhar o desenvolvimento social, a família vem se adequando aos tempos atuais.

Para Minuchin e Fishman (1990), é inegável que a família é uma “célula social” historicamente em evolução e, nesse sentido, o conceito de família não se fecha em si mesmo. Contemporaneamente, a família é entendida como espaço no qual a pessoa se realiza na sua dignidade e é na plena convivência familiar que a pessoa se torna cidadã, compartilhando de carinho e afeto.

Quanto a isso, Tucherman (2008) considera que

Da família, o lar é o teto, cuja base é o afeto. O lar sem o afeto desmorona, nele a família se decompõe. Por isso, o direito ao afeto constitui – na escala da fundamentalidade – o princípio dos direitos humanos operacionais da família, seguido pelo direito ao lar, cuja essência é o afeto. Assim, mesmo sendo subsidiários do direito de família, o direito ao afeto e o direito ao lar são tão fundamentais quanto ele para os demais direitos operacionais da família.

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Esse contexto amplo de significação familiar justifica as motivações para a adoção que, assim como a própria família passa por um processo de evolução histórica e também legislativa. Mesmo que aqui a intenção básica não seja fazer um estudo referencial das leis, mas avaliar o fenômeno da adoção, vê-se necessário buscar uma história da evolução legislativa do instituto da adoção. Portanto, para compreensão dessa realidade tão complexa que é a adoção serão apresentadas informações sobre sua origem, sentido e evolução, seja sob o aspecto legal ou sob sua concepção psicológica. A palavra adoção vem do latim adoptio, que significa dar seu próprio nome a alguém. Para a língua portuguesa, adotar “é um verbo transitivo direto” ( AURÉLIO, 2004), uma palavra genérica que, de acordo com a situação, pode assumir significados diversos como optar, escolher, assumir, aceitar, acolher, admitir, reconhecer, entre outros.

Segundo Camargo (2006) adotar significa acolher mediante a ação legal e por vontade própria, como filho legítimo, uma pessoa desamparada ou não pelos pais biológicos, conferindo-lhe todos os direitos de um filho consangüíneo. Contudo, para além do significado, está a significância dessa ação, ou seja, o valor que ela representa na vida dos envolvidos; pais e filhos.

Santine (1996) sintetiza bem o conceito de adoção ao estabelecer que se trata de ficção jurídica que cria um parentesco civil. É um ato jurídico bilateral que gera laços de paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste naturalmente. De um ponto de vista não legislativo, pode-se dizer que a adoção transcende qualquer forma da lei de organização, pois, a adoção em suas significações e motivações está pautada de maneira significativa por laços afetivos, sobretudo nessa contemporaneidade que vivemos, em que se percebe ainda um evolução de tal conceito.

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da construção do vinculo afetivo que se assemelha à qualidade do vínculo biológico e suas ressonâncias como apego, afeto e sentido de pertença à família.

Segundo Chaves (1996), considera uma das primeiras codificações jurídicas de que se tem notícia, o Código de Hamurabi, introduzido pelo rei da Babilônia (1728-1686 a.C.) de quem recebeu o nome, traz uma visão da sociedade da época. Apresenta duzentos e oitenta dispositivos, dos quais nove se referem à adoção (arts. 185 a 193), embora, por esse Código, nada se possa dizer sobre as finalidades desse instituto, nem sobre seus procedimentos. Importante transcrever o art. 185 desse Código, que faz surgir a indissolubilidade da relação da adoção, verbis: “Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este adotado não poderá mais ser reclamado.”

O código de Hamurabi trata de uma reforma jurídica, uma tentativa de implantação do estado de direito, consiste em legislar o direito de família e de herança. Também a Bíblia Sagrada relata algumas passagens referentes à adoção entre os hebreus como, por exemplo, a de Moisés, que foi jogado nas águas do Nilo, sendo adotado por Térmulus, filha do Faraó. (Ex. 2, 10) a de Ester, que foi adotada por Mardoqueu. (Est. 2, 7).

Na Idade Média, sob a influência do cristianismo, criaram-se as famosas Rodas dos Enjeitados, nas quais se abandonavam anonimamente as crianças, que ficavam expostas à adoção e, consequentemente, reduziam-se os infanticídios, práticas comuns na época, em que o nascimento de um filho ilegítimo era repudiado, ocasionando abortos, infanticídios ou nascimentos clandestinos e o posterior abandono de crianças.

Marcílio (1998) relata bem como era a roda dos enjeitados:

A Roda dos Expostos ou Enjeitados teve origem na Idade Média, na Itália. O nome “Roda” – dado por extensão à casa dos expostos – provém do dispositivo de madeira onde se depositava o bebê. De forma cilíndrica e com uma divisória no meio, esse dispositivo era fixado no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior da parte externa, o expositor colocava a criança (ainda pequenina) que era enjeitada, girava a “Roda” e puxava um cordão com uma sineta para avisar à vigilante – ou Rodeira – que um bebê acabara de ser abandonado, retirando-se furtivamente do local, sem ser reconhecido. A origem desses cilindros rotatórios vinha dos átrios ou dos vestíbulos de mosteiros e de conventos medievais, usados para outros fins, como o de evitar o contato dos religiosos com o mundo exterior. Na França, era chamada de Tour, na Espanha, de Torno, na Itália, de Ruota ou Torno e,

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Também Camargo (2006) faz um resgate de como foi oficializado a roda dos enjeitados, considerando que o cotidiano social do séc. XVIII expôs a família, que é posta sob vigilância em suas relações de poder e prazer. Assim, constrói-se uma relação de poder entre Estado, a medicina e a família do séc. XVIII e se oficializa o abandono como uma prática social. Nasce, com isso, a roda dos enjeitados, que também serviu para ocultar muitas crianças nascidas de relação dos senhores fora do casamento. Como cita o autor,

A preocupação em unir respeito à vida e respeito à honra familiar provocou, na metade do século XVIII, a invenção de um dispositivo técnico engenhoso: a roda. Trata-se de um cilindro cuja superfície lateral é aberta em um dos lados e que gira em torno do eixo da altura. O lado fechado fica voltado para a rua. Uma campainha exterior é colocada nas proximidades. Se uma mulher deseja expor um recém-nascido, ela avisa a pessoa de plantão acionando a campainha. Imediatamente, o cilindro, girando em torno de si mesmo, apresenta para fora o seu lado aberto, recebe o recém-nascido e, continuando o movimento, leva-o para o interior do hospício. Dessa forma o doador não é visto por nenhum servente da casa. E esse é o objetivo: romper, sem alarde e sem escândalo, o vínculo de origem desses produtos de alianças não desejáveis, depurar as relações sociais das progenitoras não conformes à lei familiar, às suas ambições, à sua reputação (DONZELOT, 1986, apud, CAMARGO,2006, p. 33).

As rodas dos enjeitados, que chegaram ao número de 269 na Europa (CAMARGO, 2006), mostraram grande eficiência em ocultar o resultado das más condutas sexuais, adultérios, uniões não oficiais, violências sexuais dos senhores da época. Note-se, ainda, que foi o conjunto dessas situações que fez aumentar o número de crianças abandonadas, que seriam privadas de um lar e de uma família.

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No Brasil, somente em 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desapareceu todo tipo de discriminação entre filhos adotivos e filhos biológicos, ficando determinada somente um tipo de adoção – adoção plena, que torna a criança filho legítimo dos pais adotivos, com todos os direitos e deveres (idem). Vale lembrar, ainda, que o tratamento dado à questão da adoção, no ECA, foi altamente influenciado pelo artigo 227 da CF/88, denominada “Constituição Cidadã”, o qual apresenta em seu § 6.o: “Os filhos havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”

Ferreira e Carvalho (2002) comentam que o conjunto de assuntos relacionados à adoção é bem antigo no nosso país e, ao se avaliar a evolução histórica da sociedade brasileira, nota-se que a adoção esteve sempre presente, ainda que muito vinculada a uma forma assistencialista. Nesse sentido, as primeiras notícias de que se têm referentes ao assunto datam já do Brasil Colônia, quando se sabe das primeiras preocupações com crianças abandonadas. Quanto a isso, a primeira medida oficial sobre cuidados com a infância carente no Brasil data de 1553, quando o Rei D. João II determinou que as crianças órfãs tivessem alimentação garantida pelos administradores da colônia. Destaque-se que também a prática da roda dos enjeitados foi estabelecida no Brasil, fato que referendou os mesmos resultados da Europa, a saber, o aumento de crianças abandonadas pelas famílias biológicas.

Segundo Ferreira e Carvalho (2002), com a criação das Santas Casas de Misericórdia, o Brasil Colônia importa um outro costume de Portugal: a roda dos expostos. Essa “roda” consistia de uma porta giratória, acoplada ao muro da instituição, com uma gaveta onde as crianças enjeitadas eram depositadas em sigilo, ficando as mães no anonimato. Geralmente, o motivo de tal gesto era uma gravidez indesejada, mas a pobreza também podia levar as mães a se desfazerem do filho dessa maneira. Essas rodas foram instituídas para evitar a prática do aborto e do infanticídio e também para tornar um pouco menos cruel o próprio abandono. Antes delas, os recém-nascidos eram deixados em portas de igrejas ou na frente de casas abastadas e muitas acabaram morrendo antes de serem encontradas.

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acompanhadas pelo fluxo de modificações e conceitos que a família nuclear sofreu ao longo desse tempo. Assim, e como consta no Código Civil, a adoção civil somente poderia se constituir por escritura pública, por meio do que dispunham o art. 134, inciso I, e o art. 375, ou seja, exigia-se a presença de forma rígida, escrita sob instrumento público, o que influenciava na manifestação da vontade de maneira livre e consciente perante o tabelião, para que pudesse ser lavrada a escritura pública.

A adoção simples, disciplinada pelo Código Civil, de natureza consensual e passível de ser revogada, direcionava-se para os adotados maiores de idade, enquanto a adoção plena, disciplinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, atingia apenas os menores com até 18 anos de idade, salvo se já convivessem sob a forma de guarda ou tutela com o(s) adotante(s). Quanto à adoção plena, ao contrário, apagava todos os sinais do parentesco do adotado, que entrava na família do adotante como se fosse filho legítimo. Em sua certidão de nascimento eram alterados os nomes dos progenitores e os dos avós paternos eram substituídos, de modo que, para o mundo, aquele novo parentesco passava a ser o único existente.

A grande modificação trazida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, nas adoções de menores de 18 anos, era a de que não existiria mais adoção simples ou adoção plena, já que todas passaram a ser plenas. Em outras palavras, atualmente só há uma adoção, que gera todos os efeitos da antiga adoção plena. Ainda, a justiça continua a ser o locus central de institucionalização do processo de adoção e, ao menos no Brasil, não há como adotar sem o chancelamento judicial. Mas assim como a sociedade se modifica e cria novas relações/formas de vida em família, a justiça também vem se adaptando a essas transformações, mesmo que em alguns momentos esbarre em entraves culturais e sociológicos.

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processo, parece ser exclusiva dos técnicos que trabalham nos Juizados da Infância e da Juventude.

Segundo Weber (1997) ao se considerar que este tipo de trabalho não é somente técnico, envolvendo aspectos subjetivos, teóricos, arbitrários, políticos e pessoais em relação à escolha da “família adequada”, como ficaria a motivação e os sentimentos dos pais frente à impossibilidade de escolher, quando aconteceria o oposto: aguardar “ser o escolhido” na adoção. Nesse sentido, um dos problemas apontados é que nem sempre os técnicos que trabalham para selecionar as famílias, lembram-se da possibilidade de mudança e de aprendizagem do ser humano, além do que, não fornecem aos adotantes uma proposta de preparação e/ou mudança de atitudes. Assim, seleciona-se tecnicamente e também se note que, dessa maneira, o modelo moralista e alienado em relação à concepção sócio-histórica que a família nuclear sempre teve, ainda vigora fortemente na postura do Estado, mesmo que nos tempos modernos tente-se modificar este quadro.

Refletindo acerca da literatura, percebe-se que os estudos ainda demonstram diferenciações preconceituosas e precipitadas não somente do Estado, mas tanto quanto da sociedade em relação à adoção e à família biológica. Quanto a isso, as distinções entre o filho biológico e o adotivo são percebidas na nossa cultura através da visão que o Estado e a sociedade formulam da família (REPPOLD; HUTZ, 2003). Assim, enquanto a criança biológica é tida como filha legítima, a adotada é vinculada à filantropia, mesmo sua adoção ocorrendo na vida precoce.

Para Weber (1997), o que se percebe é que, de certa maneira, a sociedade desqualifica as motivações presentes tanto nas crianças quanto na figura dos pais quando o assunto é adoção. Atente-se para que a questão, segundo tal análise, a qual também pouco se sabe até o momento qual a extensão dos fatores que relacionam à motivação de pais com a adoção. Observe-se, ainda, que compreender essas motivações – ao nível psicológico, social e até mesmo cultural –, que levam pais a constituírem família via adoção, tem sido considerado um aspecto fundamental entre estudiosos da área.

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familiar, garantido na realidade brasileira pela Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Em consonância com tal direito, vê-se também que muito se debate sobre a necessidade de compreender quais fatores motivam os pais ao processo de adoção (WEBER, 1997).

De acordo com Levinzon (2004) o simples ato de adotar envolve uma série de significados cultural e socialmente construídos, que produzem configurações e desfechos diversificados aos envolvidos. Do ponto de vista psicológico, inúmeras fantasias e preconceitos permeiam a trajetória do processo de adoção, como sentimentos de culpa, fantasias de punição, temor da desaprovação, crítica social, entre outros. De certa maneira, esse é um fator que indica a necessidade de se investigar detalhadamente os significados atribuídos a tal experiência, por parte de pais que adotaram ou que pretendem adotar uma criança.

Maldonado (2001) fala de uma época em que a maior parte da literatura sobre adoção, que era pouca, descrevia casos clínicos e psiquiátricos, criando uma clara distorção que levava à associação da adoção com problemas e fracassos. Se pensarmos na atualidade, mesmo com uma transformação intensa nos últimos dez anos, pós advento da internet, veremos que alguns preconceitos não se modificaram mas, antes, com as exigências da pós-modernidade, acentuaram-se. No mundo da “perfeição”, adotar representa quase que um fracasso do corpo, o fracasso do ciclo “natural” da vida, o nascer, crescer, reproduzir e morrer.

Na pesquisa de Costa e Rosseti-Ferreira (2005), comenta que quanto a uma dada evolução histórica, em que se percebe um melhor interesse pelo desenvolvimento da criança, acentua-se que ele deva ser provido por uma família e não por uma instituição. Portanto, se no passado a adoção era vista como um meio de legitimar necessidades específicas dos adultos ou da sociedade, hoje o foco é outro, com interesse da criança sendo priorizado.

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interesse da criança e, nesse sentido, a adoção deixa de ser meramente um meio ou processo de constituição de família para aqueles ou aquelas inférteis.

Segundo Maldonado (2001), os pais talvez sejam os que mais sofrem frente a esse processo e muitos são vistos como figuras frustradas na vida íntima, seres humanos incapazes à concepção da vida e, assim, adotar acaba sendo um processo mais doloroso que prazeroso. Nesse sentido, a evolução na concepção da adoção elimina a idéia de que ela seja a última possibilidade de constituir uma família com filhos.

Para Levinzon (2004), a adoção representa, de modo geral, uma forma de proporcionar uma família às crianças que não podem, por algum motivo, ser criadas pelos pais que a geraram. Representa, ainda, a possibilidade de ter e criar filhos, para pais que apresentam limitações biológicas ou que optam pelo cuidado de crianças com quem não possuem ligação genética.

No entanto, sabe-se que dilemas e conflitos, até mesmo existenciais, estão presentes na constituição de qualquer família, inclusive na família construída via adoção. Do ponto de vista da paternidade se pretende pesquisar os significados que se concretizam em motivações, dando forças aos sujeitos para superar todos os dilemas e conflitos, e construir uma família, fruto da adoção.

Sudbrack (1992) comenta que não há “harmonia” entre as ações de uma sociedade moderna e um dado processo adotivo, ainda que não se possa negar que existe um movimento que busca reavaliar o processo evolutivo da concepção de adoção. Também se considere que a sociedade, que exige determinadas “posturas sociais” de seus indivíduos, adota preconceitos, cria códigos morais e éticos, dissertando sobre certo e errado. Muitas vezes, desviando de objetivos justos, é a mesma sociedade que não oferece condições dignas de educação para a vida e nesse “contexto social”, como imaginar um mundo diferente para aqueles que optam pelo caminho da adoção.

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Para Maldonado (2001), afirma que tanto cultural, quanto historicamente, a paternidade foi tida como um processo natural e espontâneo em que pouco ou quase nada se programava com relação à devida preparação desse, diga-se, “acontecimento”. Nesse sentido, quando se lê sobre a história humana, nota-se que apenas depois do aparecimento das drogas anticonceptivas é que se passou a cogitar sobre uma programação familiar sobressaindo o fato de que tal preparação nunca passou pelo viés psicológico.

Para Weber (1997) preparar-se para “ter” um filho, seja ele biológico ou não, significa, e de maneira muito resumida, tomar plena consciência dos limites e possibilidades de si mesmo, dos outros e do mundo. Preparar-se não quer dizer apenas “estar apto” para o momento que antecede o nascimento, a adoção de um filho mas, antes de tudo, é a consciência de que esta preparação deve ser contínua, que as coisas e as pessoas interagem constantemente e que, portanto, sempre estarão sujeitas a mudanças. É a compreensão de que todos estamos, continuamente, em um processo dinâmico de construção e reconstrução sócio-psicológica, desde os sentimentos e desejos até os códigos sociais de ética e moral.

Quando o assunto é justiça, percebe-se muito dessas dualidades se confrontando. Muitos técnicos que trabalham nos Serviços de Adoção dos Juizados da Infância e da Juventude, em especial assistentes sociais e psicólogos, ainda adotam uma postura dogmática e estereotipada que, sequer, conseguem perceber em suas atuações WEBER (1997). Termos pejorativos e antiquados a novas funções como “normal” para famílias biológicas ou “natural” são utilizados com frequência. Nesse estrito sentido, urge o questionamento de que, ao se pensar nessas antinomias, não se quer dizer que a família adotiva seria “artificializada?

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psicologia acerca da adoção, visto que essa ciência, com seu arcabouço e potencial epistemológico produtivo, tem muito a oferecer.

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SOBRE A PATERNIDADE

Antes de tecer considerações sobre a paternidade é preciso destacar a evolução do conceito de família e paternidade visto que evoluem, historicamente, em harmonia. Assim, unir-se para coexistir é uma opção que trata, basicamente, do sentido primário da formação de um grupo familiar.

Para Minuchin e Fishaman (1990) a família é um grupo natural que vem, ao longo do tempo, desenvolvendo processos e padrões de interação entre seus indivíduos. Tais processos e padrões estabelecem a estrutura familiar que, por sua vez, delineia os comportamentos dos membros e suas referentes interações.

Na antiguidade a concepção de família se centrava em um fenômeno religioso, ou seja, a família era ligada pela prática do culto religioso. Mais que uma união de indivíduos consangüíneos, a família era um grupo de pessoas que tinham o mesmo culto dos antepassados ( ALBUQUERQUE, 2004)

Nesse contexto a família se reunia, em oração, em torno do altar, construído no interior das casas. Fora de casa existem os túmulos, considerados a segunda morada do lar, onde repousavam agrupados os antepassados, formando a família indissolúvel. A religião foi a base da família antiga, isto é, o que unia os membros da família antiga era algo mais poderoso que o nascimento – era a religião exercida no lar e a dos antepassados que faziam da família um corpo nesta vida e na outra, depois da morte.

Já na Roma antiga a família tinha como princípio a autoridade, a organização familiar, e os membros ficavam sob o comando do pater familia, o qual centrava todo o poder. O pater familia era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz, exercendo seu poder sobre a mulher, os filhos e patrimônio familiar. Sob essa estrutura, o que unia a família da Roma antiga era algo mais poderoso que o nascimento, sentimento ou força física, segundo (SAPKO, 2005).

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irmãos, clientes, libertos, escravos e as pessoas colocadas in mancipio (ALBUQUERQUE, 2004).

Neste entendimento de família no sistema patriarcal o poder do pater familia não era um poder político. Ele era o senhor do lar, no entanto, como os filhos e a esposa não tinham direitos sócio-políticos, era o senhor, o pater família, que o exercia nas assembléias das antigas cidades. Nesse sentido, sob a distinção entre família e a polis, Albuquerque (2004, p.19) observa que:

Esse era o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai, o povo é a dos filhos e, tendo nascido todos igualmente livres, não alienam a sua liberdade senão em proveito da própria utilidade. Esta diferença consiste em que na família, o amor do pai pelos filhos é recompensado com cuidado que estes lhe dedicam, enquanto no Estado, o prazer de mandar substitui este amor que o chefe não sente para com os seus súditos.

Para Albuquerque (2004) considerando ainda a evolução do conceito de família, observa-se que, a partir de muitas transformações sócio-econômicas, sobretudo no século XVIII com surgimento da sociedade industrial, tornou-se emergente o arranjo familiar composto por pai, mãe e filhos. Esta compunha a chamada família tradicional moderna ou conjugal, em que a mãe cuida do lar e dos filhos e o pai exerce trabalhos externos ao lar, especialmente na indústria buscando, com isso, o sustento do lar.

Nesse período se evidencia uma concepção de amor materno em que a mãe passa a significar a mulher abnegada que deve se dedicar inteiramente à educação e cuidado dos filhos, ficando restrita ao âmbito doméstico. Por sua vez, o homem é remetido ao espaço público, ao mundo do trabalho, político e social, dentro de um modelo de relações patriarcais de gênero, com a função primordial de ser o pai, provedor e chefe de família (COSTA, 2005).

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Segundo Gomes e Pereira (2005) no imaginário social a família seria um grupo de indivíduos ligados por laços de sangue e que habitam a mesma casa e, nesse sentido, pode-se entender a família como um grupo social composto de indivíduos que se relacionam cotidianamente, gerando uma complexa trama de emoções. Entretanto, há dificuldade de se definir família, cujo aspecto vai depender do contexto sociocultural em que a mesma está inserida.

Portanto, pode-se considerar o conceito de família como construção social que varia segundo as épocas, permanecendo, no entanto, aquilo que se chama de laços afetivos ou mesmo sentimento familiar, formado a partir de relações permeadas de emoções e sentimentos, em um contexto de relações religiosas e culturais. Essas relações compõem um sentido de família única para cada grupo de indivíduos.

Para Minuchin e Fishman (1990) a família é um espaço propício de proteção para os indivíduos. É ela que propicia relações afetivas, bem como cria recursos necessários para o desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. A família é um grande espaço de educação formal e informal, e é nesse “espaço social” que são absorvidos os valores éticos e morais, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. Sapko (2005) evidencia-se com toda evolução histórica que a família permanece como matriz do processo civilizatório, como condição para a humanização e para a socialização das pessoas.

O estabelecimento de vínculos é próprio do ser humano, e a família, como grupo primário, é o locus para a concretização desta experiência. A confiança que o indivíduo tem de que pode estar no mundo, e estar bem entre os outros, lhe é transmitida pela sua aceitação dentro do grupo familiar. O sentir-se pertencente a um grupo, no caso, à família, possibilita-lhe no decorrer de sua vida pertencer a outros grupos (GOMES; PEREIRA, 2005).

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Entre os rumos das transformações das relações familiares, reestruturação da família do tipo patriarcal para uma organização democrática, igualitária, pluralista permitiu-se a ocorrência de importante fenômeno, a saber, a desbiologização – a substituição do elemento carnal pelo elemento afetivo ou psicológico (GAMA, 2000). Note-se que essa é uma discussão que traz consigo a evolução do conceito de família, tanto em relação aos papéis – mãe e pai –, quanto no que se refere às relações marcadas pela afetividade.

Mas afinal o que é ser pai? Essa é uma pergunta de várias respostas, pois ser pai é experimentar a paternidade, que tem origem muito antes de o filho nascer. Considerando as questões de gênero, sabe-se que o ser pai e o ser mãe se revestem de características diferentes, pois o compromisso da mulher começa com a gravidez, por razões biológicas óbvias. Por sua vez, o ser pai – assumir de corpo e alma a paternidade, para alguns, é condição que só tem início após o nascimento ou até mais tarde (SCHETTINI FILHO, 1998).

Para o autor supracitado, a mãe é reconhecida pelo filho através da relação com o nascimento, o pai precisa aparecer e ocupar seu lugar no psiquismo do filho, rompendo o caráter biológico da relação mãe-filho. É fato, também, que no período de gestação todo desenvolvimento físico da criança está extremante ligado à mãe, circunstância que deixa o pai, de certa forma, apenas como espectador, o que é uma situação difícil.

O pai vem sendo colocado, pelas próprias circunstâncias dadas, às margens do processo de criação, numa posição praticamente de espectador. Assim, nessa situação difícil, e de certo modo muito incômoda, ele termina aceitando e assumindo o comportamento próprio de quem não tem muito a fazer, a não ser acompanhar os acontecimentos e contribuir com alguma espécie de “apoio logístico”, conforme (SCHETTINI FILHO, 1998).

Note-se, ainda, ser inevitável que, a partir da concepção da criança, todas as atenções sejam voltadas para a mãe, além do que se sabe que os acontecimentos mais importantes de desenvolvimento físico e psicológico da criança estão intimamente vinculados a ela, questões que ampliam esse sentido de “marginalização” do pai, como já apontado.

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espontâneo, para o homem há necessidade de esforço no estabelecimento de uma consciência de sua função de pai. Isso, nem sempre, ele consegue satisfatoriamente, talvez por ter se adaptado a um “aprendizado” sócio-histórico, em que seu distanciamento se tornou natural, e nesse processo, o pai acaba sendo apenas considerado como provedor e protetor.

No entanto, aqui se defende que tais funções devem ser imbricadas às relações afetivas, base importante para construção das significações e motivações para a paternidade. Nesse sentido de argumentação, assumir posição de pai implica aprendizagem e desenvolvimento do potencial afetivo humano. Do mesmo modo, pode se dizer que a mulher que gera um filho não é, necessariamente, mãe. Para sê-lo, precisará exercitar suas potencialidades afetivas (SCHETTINI FILHO, 1998).

A fragilidade do caráter biológico da paternidade impõe a necessidade de uma paternidade simbólica. É preciso que se busque uma consciência acerca da paternidade e sua importância perante os filhos, pois, satisfazer-se apenas como mecanismo fisiológico da geração não é suficiente, visto que o homem enquanto pai tem condições excelentes para contribuir de maneira efetiva na formação biológica, psicológica e existencial de uma pessoa (MARCÍLIO, 1998).

Essa questão pode se relacionar com fatores ligados à representação social dos papéis de pai e de mãe. Talvez ainda predomine o modelo tradicional do pai enquanto provedor e da mãe como “cuidadora” dos filhos e da casa, mesmo diante da grande evolução já mencionada, em que se atribuem outras funções ao pai, como: acompanhar, educar e preparar para a vida e para o futuro, além de dar carinho, amor e atenção. A sociedade “cria” o pai, conferindo-lhe certas responsabilidades, mas também lhe impõe limitações, controles à altura daquilo que se espera dele, ou seja, que ele não coloque em perigo o mito paterno que ela criou (NEUBURGER, 1999).

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Nesse sentido, distinguem-se diferentes níveis na função paterna a partir da especificidade do papel desempenhado pelo pai junto à criança e, sobretudo, da natureza dos vínculos afetivos entre ambos.

Quanto a isso, Sudbrack (1992) destaca quatro articulações importantes, entre tantas outras possíveis, no desempenho do papel do pai junto à criança e da natureza dos vínculos estabelecidos: articulação biológica, que resgata e identifica o pai genitor e define o “nascimento natural”; articulações sócio-econômicas e sócio-culturais, que designam respectivamente o pai provedor e o pai educador, definindo o “nascimento social”; articulação patronímica, que designa o pai legal e define o “nascimento legítimo” e - articulações da paternidade simbólica, que introduzem o “nome do pai”, propriamente dito, e define o nascimento psicológico.

Na abordagem da Terapia Conjugal e Familiar, a paternidade é entendida como função do holon parental ou subsistema parental. O termo holon significa todo, também significa parte, ou seja, um holon emprega energia competitiva para autonomia e autopreservação como um todo, mas também transmite energia integradora em sua condição de parte (MINUCHIN E FISHAMAN, 1990).

Assim, conforme autores supracitados, o desenvolvimento da criança, seus afetos e interações acontecem dentro deste holon ou subsistema. O holon parental é local de transações que envolvem a educação dos filhos e funções de socialização. Pode até variar em sua formação, dependendo das relações de afeto e guarda, sendo possível incluir uma avó, tia, ou somente um dos pais. O pai dentro deste subsistema tem a tarefa de cuidar, responsabilizar, proteger e socializar seus filhos.

Segundo Minuchin e Fishaman (1990) pensando em um processo de adoção, em que as motivações percorrem a paternidade, o holon parental busca ter a funcionalidade de possibilitar o processo psico-afetivo da criança adotada, pois o afeto dedicado a ela é que faz com que se sinta pertencente ao seio familiar. Como já foi citado, o novo pai não é mais visto como figura distante e autoritária, atualmente, possuindo uma co-participação na educação dos filhos, e não somente como provedor.

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Weber (2004) comenta que na adoção essa realidade geralmente não existe. O fato de querer ser pai já possui por si só um desejo de estar junto do filho, ou seja, com uma nova postura de ser pai, com um grande afeto, cuidado com este filho adotado.

Para se tornar pai é necessário estabelecer uma relação de afeto. É o afeto dedicado a uma criança que faz dela um filho e constrói a postura de ser pai. É verdade que esse processo se estende por estágios inúmeros, dependendo da estrutura e da formação de cada pessoa que estabelece o seu projeto de paternidade e maternidade (SCHETTINI FILHO, 1998). Note-se que, no subsistema familiar, a relação do pai com a criança adotada deve ser bem entendida e, sem pretensão de generalizar, percebe-se que na adoção as motivações dos pais adotivos nãovisam somente ao melhor interesse para a criança e sim também aos seus próprios.

As motivações para a busca de um filho diferem de pessoa para pessoa. Independentemente dos motivos, no entanto, se estabelece um processo de convívio com o sonho, com a idéia, com a imagem que se cria do filho procurado. A adoção pode mesmo nem chegar a se consumar, mas o processo é imprescindível à construção de uma posição límpida, clara e confortante para que esse filho possa ‘nascer’ na mente e no coração dos pais adotivos. A esse processo se chama de “gestação psicológica” que, nesse sentido, se reveste de uma complexidade, certamente, muito maior do que a fisiológica, pois são inúmeras as variáveis que precisam ser confrontadas (SCHETTINI FILHO, 1998).

Segundo Reppold (2003) na maioria das vezes, o processo de adoção pode ser motivado de maneira contundente pela infertilidade, pela necessidade de preencher uma falta. Tal motivo pode ser algo natural e compreensível em um ser humano no qual se manifesta o desejo de se realizar na maternidade/paternidade, o que pode ser inclusive a busca de um sentido para a existência.

As transformações econômicas e sociais do final do século XX também contribuíram para o questionamento das diferenças de gênero, favorecendo argumentações em prol de maior participação paterna nos cuidados infantis (ARILHA; RIDENTI, 1998).

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Schettini Filho (1998) caracteriza esse novo pai como um homem oriundo da camada social média ou alta das grandes cidades, com nível de escolaridade e renda mais alto que a média, com acesso às informações, inclusive às teorias psicanalíticas e pedagógicas. Esse pai deseja romper com os modelos tradicionais de família, demonstrando mais suas próprias emoções e, em geral, vive com uma mulher também inserida no mercado de trabalho que não pretende ser mãe em tempo integral, fruto também de uma concepção contemporânea.

Para Gomes e Resende (2004) esse “novo fenômeno” de manifestação de paternidade, os pais querem ser encarados como pessoas amáveis, confiáveis, e não como educadores morais distantes, chefes de família ou apenas provedores do lar. Vale ressaltar que o surgimento desse “fenômeno” não tira o valor da maternidade mas, antes, fortalece-o e reflete no bom desenvolvimento dos filhos.

Conforme autor supracitado, o pai contemporâneo não se identifica mais com a figura de mero reprodutor ou provedor econômico, assumindo um novo posicionamento na estrutura e dinâmica do contexto familiar. Assim, dispõe-se a redefinir seu próprio papel, a vivenciar a paternidade e construir sua subjetividade como pai, instrumentalizando-se para melhor enfrentar as novas demandas no contexto familiar.

É preciso considerar, também, que mesmo com tal evolução no conceito de paternidade, a mãe – que na prática cotidiana familiar ainda tem um papel fundamental – tende a continuar sendo a principal “cuidadora”, algo que pode gerar conflitos na divisão do cuidado dos filhos. Tal situação se demonstra face à inevitável ambivalência entre a moderna cultura da paternidade e a tradicional (SCHETTINI FILHO, 1998).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não distingue estado civil, classe social ou preferência sexual do adotante. No entanto, o percurso histórico das definições jurídicas de adoção mostra que no Brasil foi longo o caminho até se chegar ao que está estabelecido no ECA pois, antes de tal definição, para se tornar pai adotivo o interessado devia, dentre outras coisas: ter mais de 30 anos, estar casado por mais de cinco anos, não ter filhos ou possuir atestado de esterilidade de um dos cônjuges. O fato é que esse conjunto de “exigências legais”, sobremaneira, dificultava a adoção (COSTA, 2005).

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como “inferior” à biológica, os casais só recorriam à adoção depois de esgotadas todas as possibilidades de terem um filho de sangue (WEBER, 2003).

No contexto de paternidade adotiva, o pai está extremamente desejoso desta paternidade, visto que a busca ativamente. Nesse sentido, as motivações podem ser inúmeras, questão que será abordada ao longo da argumentação ora apresentada. Em tal contexto, pode-se imaginar que o filho adotivo teria maiores dificuldades, visto a “condição complexa” de filho adotivo e distanciamento do pai biológico.

Todavia, é o contrário do que acontece, tanto na criação como na gestação, de acordo com Schettini Filho (1998, p. 161), ao avaliar que

A experiência mostra uma evidência que nos chama a atenção: tanto o pai quanto a mãe vivem processos semelhantes na ‘gestação do filho adotivo’. Isso significa que o pai adotivo é, quase sempre, mais participante do que o pai que gera o seu próprio filho. É como se não houvesse o conflito referente ao ‘monopólio’ exercido pela mãe em relação ao filho que ela gestou fisiologicamente durante nove meses e que a levou à experiência dolorosa e intransferível do parto.

Sabe-se que as motivações para adoção são inúmeras e particulares, pois diferem de indivíduo para indivíduo. Todavia, independente dessas particularidades, um ponto é comum: a idealização do filho procurado para adotar, o sonho do filho ideal. Tal idealização seria composta pelo nascimento do filho ideal “na cabeça e no coração” dos pais adotivos. A esse processo se dá o nome de gestação psicológica, conforme Schettini Filho (1998), representada pela “gestação” de um filho adotivo que, certamente, e como considera o autor, reveste-se de uma complexidade muito maior do que a fisiológica, pois são inúmeras as variáveis que precisam ser confrontadas.

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SOBRE A MOTIVAÇÃO

Antes de aprofundar a pesquisa sobre a adoção, especialmente as motivações sobre a paternidade adotiva é oportuno neste primeiro capítulo desenvolver uma breve revisão do que seja motivação e suas implicações. Na pesquisa feita no dicionário de latim, entende-se que a palavra motivação de raiz latina “movere”, significa mover. Então, a motivação deve ser entendida como algo que faz mover o indivíduo ou que provoca o mesmo ter determinada ação para atingir um objetivo qualquer.

Malavasi (2005) comenta que a motivação pode ser conceituada como um processo que leva determinada pessoa a uma ação ou inércia em determinadas situações. Assim, Cratty (1984), afirma que a motivação é um processo do ser humano escolher algo. Entretanto, Magaill (1984) diz que a motivação se refere como uma força interior, um impulso ou a até mesmo uma intenção da pessoa e isto leva a mesma a fazer algo ou agir em vista de um sentido. Assim, percebe-se, pelos autores citados acima a importância da motivação para o ser humano. Pois, através com sua escolha para determinado objeto acontece sua realização. Pode-se, então, Freud (1905), quando o mesmo fala do processo sublimatório, pois faz com o ser humano possa investir sua energia em busca de satisfação.

Quanto a esses elementos, Faria (2004), a pulsão é um processo dinâmico e que direciona o organismo ao um dado fim. Para eles, a pulsão deriva de uma “fonte” corpórea e visa purgar a tensão que esse estímulo cria, enquanto o objeto serve como meio pelo qual esse objetivo pode ser alcançado. O pensamento freudiano reformula as relações entre pulsão, objetivo e objeto. Anteriormente, pensava-se que objeto era o estímulo que despertava a pulsão e dirigia seu objetivo de intercurso heterossexual e reprodutivo. Freud tinha uma posição contrária ao pensamento dominante da época, argumentando que o instinto sexual precisava de um objetivo e de um objeto congênito. No dicionário de psicanálise Laplanche Pontalis (2001) o objetivo e o objeto são variáveis contingentes e apenas escolhidos em forma definitiva em decorrência das vicissitudes da história do sujeito, e que se pode assinalar o quão importante é para a psicossexualidade, mesmo nessa formulação clássica, a “história pessoal”.

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tal ação. No caso da paternidade por adoção, onde, as motivações estão envoltas a uma série complexa de pulsões inconscientes, é preciso lembrar que o que garante o sucesso na adoção ou em qualquer relação de paternidade/maternidade são os laços afetivos criados no cotidiano de uma relação que está sempre construção.

1. A MOTIVAÇÃO COMO ATO DE SUBLIMAÇÃO

Como foi dito acima, as motivações estão envoltas em uma série complexa de pulsões inconscientes. A motivação que leva um pai a adotar uma criança provoca uma realização. Diante, deste pensamento, faz-se necessário pensar aqui no conceito de sublimação utilizado por Freud que é de origem latina, “Sublimierung, que indica um movimento de ascensão ou elevação daquilo que se sustenta no ar”. (CRUXÊN, 2004, p.7) Para Chuxên (2004) a sublimação consiste em um destino específico da pulsão. E com isto, a sublimação é bastante plástica, pois de várias formas o ser humano se sente satisfeito ou realizado na sua ação.

Nasio (1970) a sublimação é entendida como uma moção pulsional que tende satisfazer de maneira imediata. Aqui deve ser lembrado que a pulsão mais consegue tomar o caminho de descarga direta e total.

Freud define o objeto da pulsão não exclusivamente sexual, mas como “a coisa na qual ou por meio da qual a pulsão pode alcançar a sua satisfação”. Esta passagem da “pessoa à coisa”, reflete claramente uma evolução no pensamento freudiano, pois esta definição esclarece o fato de não ser o modelo genital de confluência das pulsões o protótipo da vida sexual e pulsional, mas apenas um modelo de um certo momento do desenvolvimento psicossexual. O objeto é o elemento mais variável da pulsão; não está ligado originalmente a ela , mas sim a ela subordinado à medida que serve à busca de satisfação. O objeto não é exterior ao sujeito, podendo ser uma parte de seu próprio corpo, e este é o caso do auto-erostimo.

Sob a fonte da pulsão entende-se aquele processo somático de um parte do corpo ou órgão que o estímulo da vida psíquica é estimulado pela pulsão.

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Para Nasio (1970) pode-se dizer que a sublimação é um caminho da busca inútil de uma satisfação impossível ou de uma total descarga. Assim, o ser humano pelo processo sublimatório possuiu uma satisfação parcial.

Este mesmo autor informa:

A sublimação não é tanto uma satisfação quanto a aptidão para encontrar novas satisfação não sexuais. Sublimação que dizer, acima de tudo, plasticidade, maleabilidade da força pulsional. Freud o escreve com muita precisão: a sublimação é a ‘capacidade de trocar o alvo sexual por um outro que já não é sexual’, ou seja, a capacidade de trocar uma satisfação sexual por outra, dessexualizada. O destino da pulsão a que chamamos sublimação é, estritamente falando, a própria operação de troca, o fato mesmo da substituição. Por isto, mais do que um modo particular de satisfação, a sublimação é, antes de mais nada, a passagem de uma satisfação a outra (NASIO, 1970, p 10).

Diante do pensamento freudiano acerca da sublimação torna-se compreensivo as motivações do homem a ser pai por adoção. Pois, como diz Nasio (1970), a sublimação tem um caráter plástico, criativo e que geram imagens e formas significantes novamente criadas. As obras imaginárias da sublimação são capazes de produzir no ser humano, especialmente no homem que procura ser pai por adoção, um estado de paixão e de desejo fascinante.

Cruxên (2004) afirma: “no processo sublimatório, o eu possui um papel importante por se constituir como instância capaz de reter uma reserva de libido,

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OBJETIVOS

1. OBJETIVO GERAL

Compreender as significações da paternidade por adoção em homens que adotaram uma criança.

2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

* Compreender o que significa adoção de acordo com os pais adotivos;

* Compreender o que significa a paternidade;

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METODOLOGIA

1. Considerações sobre a pesquisa qualitativa e entrevista

Como o objetivo deste trabalho é conhecer as significações da paternidade adotiva, optou-se pela metodologia da pesquisa qualitativa, com a utilização de entrevista.

A terminologia “qualitativa” surgiu no cenário da pesquisa no final do século XX, quando pesquisadores questionavam se o método de investigação das ciências naturais, sobretudo o que se fundamentava em conhecimento positivista, estava atendendo às necessidades de estudos dos fenômenos humanos e sociais. Entretanto, somente por volta dos anos oitenta este método qualitativo tornou-se popular no meio acadêmico. Este método de pesquisa é hoje defendido por Demo (1987), para quem o pesquisador deve contestar as coisas como se apresentam e partir de uma alternativa de composição, acreditando no novo, no inesperado, na virada, no salto qualitativo.

A metodologia qualitativa se refere à interpretação em lugar da mensuração, à descoberta em lugar da constatação André (1995). Nesse aspecto, Martins e Bicudo (1989) comentam, também, que a pesquisa qualitativa em psicologia estabelece uma diferenciação entre a idéia e o fenômeno. Afirmam que, enquanto a pesquisa quantitativa busca os fatos, a pesquisa qualitativa se volta para os fenômenos, e não se preocupa em generalizar, pois busca a compreensão do particular, o que implica afirmar que a pesquisa qualitativa busca sempre a compreensão, ao invés da explicação.

Bauer e Gaskell (2002, p.32) definem a pesquisa qualitativa como: “intrinsecamente uma forma de pesquisa mais crítica e potencialmente antecipatória”. Logo, pode-se dizer que o pesquisador qualitativo é aquele capaz de ver através dos olhos daqueles que estão sendo pesquisados.

Assumindo como um novo paradigma epistemológico de orientação qualitativa, tal método pede a compreensão da realidade como um fenômeno complexo, dinâmico e organizado sistematicamente, segundo Branco e Valsiner (1999). Além disso, tal método visa compreender os significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações dentro de um determinado contexto, o que exige que a metodologia da pesquisa qualitativa deve ser de natureza teórica e prática, conforme Martins e Bicudo (1998).

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