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Contribuição ao estudo da prática de enfermagem

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Academic year: 2021

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CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA PRÁTICA DE ENFERMAGEM ’

D i s s e r t a ç ã o de M e s t r a d o a presentada â E scola N a c ional de Saúde Pública da F u n d a ç ã o O s w a l d o Cruz.

Orientador:

Prof £ A n a m a r i a Testa Tambellini

R io dê J a n e i r o 1987

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à amiga

Êuhiçe kàvier xté L i m a , que cóín seu e stímulo contagiante. e graridè âpOio, sempre acompanhados, de c a r i n h o , iíié incentivòu ão e studo da pr a t i c a da enfermagem.

Ao companheiro Nelson; que cõiii seu a m ò r , carinho e p r o funda a m i zadé má fez crescer e e n x èrgár a vida de uma outra forma.

Ao filhote D a n i e l ,

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- À amiga e o r i e n t a d o r a A n a m a r i a Testa Tambellini, cujo apoio e estímulo foram f u n d a m e n t a i s p a r a a realiz a ç ã o deste trabalho.

- À P rofessora Elsa Ramos Paim, pela d i s c u s s ã o inicial do projeto de disse r t a ç ã o e indic a ç ã o de bibliografia.

- À colega Maria de L o urdes de Souza, pelo estímulo, l e i ­ tura e d i s c u s s ã o de parte de n o s s o trabalho.

- Aos colegas e p r o f e s s o r e s do D e p a r t a m e n t o de Saúde P ú ­ b lica da Unive r s i d a d e Federal de Santa C a t a r i n a por t e r e m a s ­ sumido p a r t e de nossa carga h o r á r i a d i d á t i c a no p e r í o d o de e l a ­ b o r a ç ã o desta dissertação.

- Ao João Inácio Müller, pela r e v i s ã o de português e ã idatilografia da dissertação.

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Página

INTRODUÇÃO ... ... ... ,. . . ... . 1

CAPÍT U L O I - O TRABALHO: CONSID E R A Ç Õ E S TEÓRICAS ... 13

CAPÍTULO II - O PROCESSO DE T R A B A L H O N A E N F E R M A G E M ... 28

CAPÍTULO III - O S URGIMENTO D A E N F E R M A G E M M O D E R N A ________ 41 C A P ÍTULO IV - A ORGANI Z A Ç Ã O E INSTIT U C I O N A L I Z A Ç Ã O D A E N F E R M A G E M N O B R A S I L ... . .... . a ... 59

CAPÍTULO V - A ENFERM A G E M N Ü M C O N T E X T O DE CRISE ... . 78

CO N S IDERAÇÕES FINAIS . . . ... ... ... . . 106

B I B L I O G R A F I A ... ... ... 110 SUMÁRIO

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A chamada "Enfermagem Moder n a " ^ foi implantada no Brasil e m 1923, c o m a criação da Escola de Enferm e i r o s do Depart a m e n t o N a c i o n a l de Saúde pública (BNSP), hoje Escola de E n f e r m a g e m Ana Ne r i (UFRJ). Para sua instalação, Carlos Chagas então diretor deste departamento, solicitou recursos junto â F u n dação Rock- f e ller que trouxe para o país uma equipe de e n f e r m e i r a s a m e r i ­ canas p a r a implan t a r e m a f o r mação d a "Enfermeira de Saúde P ú ­ blica" , tipo de profissional tao n e c e s s á r i o à q u e l e m o m e n t o n a ­ cional.

A saúde no Brasil emerge c o m o q u e s t ã o social no início do século XX, no auge da e c o nomia cafeeira, quando o c o r r e m m u d a n ­ ças fundam e n t a i s e m nossa sociedade. Era de e x t r e m a importância então, o saneamento dos portos e p r i n c i p a i s n ú c l e o s u r b a n o s do p a í s como Rio de Janeiro, São Paulo e Santos, p a r a a c r iação de

"'"Por E n f e r m a g e m Moderna c o m p r e e n d e - s e a quela e x e rcida pelas v á ­ rias categorias de pessoal submetidos a u m p r e p a r o formal, por o p o s i ç ã o à Enfer m a g e m T r a d i c i o n a l e x e r c i d a p o r leigos.

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condições sanitárias mínimas que p o s s i b i l i t a s s e m as relações co­ m e r ciais e p o l í t i c a de m i g r a ç ã o (RAMOS & BLANK, 1982).

O b s e r v a - s e assim que a "enfermagem moder n a " nasceu sob a égide d a ô a ú d e pública, e com o o b j e t i v o implícito d e atender as necessidades econômicas do país (ALMEIDA et alii, 1981).

Para C A S T R O (1977) a criação da E s c o l a de E n fermeiras pode ser e x p l i c a d a "pela tomada dê consci ê n c i a dos s a n i t a r i s t a s , em re l a ç ã o à n e c e s s i d a d e da assistência de enfermagem, d u r a n t e a e p i demia d a g r i p e espanhola, em 1918" (grifos n o s s o s ) .

Ê i m p o r t a n t e salientar q u e d e s d e 1832 o c o r r i a o e nsino de "parteiras" junto às Faculdades d e M e d i c i n a do Rio d e Janeiro e d a Bahia, e q u e à partir de 1890 c o m e ç o u a funcionar a p r i ­ m e i r a E s c o l a de E n f e r m a g e m junto ao H o s p i t a l d e Alienados, f u n ­ d a d a por p s i q u i a t r a s que também eram os r e sponsáveis p e l o trei-^ na mento dos alunos (JORGE, 1975).

Assim, até a c r i a ç ã o da E s c o l a de E nfermeiras do DNSP, a p r á t i c a de e n f e r m a g e m era exerc i d a em suà m a i o r i a por leigos sem nenhum p r e p a r o formal, por religiosas e por uma p e quena p a r c e l a d e indiv í d u o s c o m algum tipo de treinamento, não h a v e n ­ d o uma d i v i s ã o d o t r a b a l h o de e nfermagem nos moldes q u e e n c o n ­ tramos hoje. A t ualmente, a p r ã t i c a d è e n f e r m a g e m no país é d e ­ s e n v o l v i d a por difere n t e s agentes com f o r mação também d i f e r e n ­ ciadas, a saber: a enfermeira, p r o f i s s i o n a l d e nível superior; o t é c n i c o d e enfermagem, com f o r mação p r o f i s s i o n a l i z a n t e de s e g u n d o grau; o auxiliar de enfermagem, com formação à nível de p r i m e i r o ou s e g u n d o grau; e os atendentes de enfermagem, visi- tadores sanitários, agentes de e n f e r m a g e m de saúde publica, e n ­ tre oütros, que não são p reparados p e l o sistema formal d e e n s i ­ no, mas através d e algum treina m e n t o em serviço.

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S a be-se que o c orreu u m a divisão social e técnica d o t r a b a ­ lho de enferm a g e m ao longo de d e s e n v o l v i m e n t o de sua p r á t i c a no pais, e que "coube ao enfermeiro a reprod u ç ã o em s u a área, das relações de d o m i nação é subordinação d o c a pitalismo" (AL­ M E I D A et alii, 1981).

Com a criação d a Escola de Enfermeiros do D N S P nos padrões americanos e p o r t a n t o "nightingaliano" e mais tarde das escolas de auxiliares e técnicos de enfermagem, tivemos a f o r m a l i z a ç ã o do ensino d a enferm e i r a e de seus elementos auxiliares, q u e s e ­ gundo A L M E I D A et alii (1981) possuía duas m e t a s p r incipais:

1. Formar pessoal que continuasse e x e r c e n d o a p r á t i c a de enfermagem anterior, mas c o m a introdução do e l e mento técnico.

2. F ormar p e s s o a l — a enferm e i r a — p a r a s u p e r v i s i o n a r , a d -0

m i n i strar e disci p l i n a r o trabalho d e enfermagem.

Hoje, apesar da formação da enfermeira estar c e n t r a d a no "cuidado d i r e t o ao p a c i e n t e " , onde lhe é ensinado que este ê o objeto d e sua prática, encontramos u m a das grandes c o n t r a d i ç õ e s na relação "ensino formal X prática profissional", uma vez que a sua função primordial continua s endo b a s i c a m e n t e m e s m a a de 59 anos atrás, qual seja: administrar, s u p e r v i s i o n a r e d i s c i ­ plinar a p r ática de enfermagem. M e l h o r dizendo, m o n o p o l i z a r o conhecimento é "controlar" o trabalho dos elementos a uxiliares de sua equipe, isto é, gerenciar este trabalho.

Esta "aparente indefinição" q u a n t o ao p a p e l d a e n f e r m e i r a em r e lação aos o utros elementos da equipe de e n f e r m a g e m levou â uma grande crise na p r ática de enfermagem, e tem sido m o t i v o de grande p r e o c u p a ç ã o e reflexão por p a r t e das e n f e r m e i r a s que passa r a m a questionar a sua posição, tanto d e ntro da e q u i p e de saúde, como d e n t r o dos sistema de saúde e da sociedade em geral.

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N e s t e sentido, no final da d é c a d a de setenta e início da de oitenta, têm s u rgido no país pesquisas e estudos que tentam analisar a p r á t i c a de e n f e r m a g e m e n q uanto uma prática social, porém, a m a i o r i a d estes estudos p r i v i l e g i a m suas análises em r e l a ç ã o aos aspectos técnicos e internos ligados à profissão.

Em u m levantamento da p r o d u ç ã o do c o nhecimento em e n f e r m a ­ g e m através das teses d e pós-graduação, A L M E I D A e c o l . (1981) c h e garam à c o n s t a t a ç ã o de que a g r ande m a i o r i a dos trabalhos estão relaci o n a d o s à área de a s sistência de enfermagem (44,4%), s e guida d a ârea b i o l ó g i c a (20,6%) e por ú ltimo a área de a d m i ­ n i s t r a ç ã o h o s p i t a l a r (19,6%). C o n c X u e m assim que "esta p r o dução tem estado centr a d a nos aspectos internos da prática p r o f i s ­ sional, e n q uanto p r á t i c a t é c n i c a ” . E m um o u t r o estudo, estas autoras c h a m a m a a t e n ç ã o de que as p e s q u i s a s sobre e n f e r m a g e m no país, tanto no que diz r e s peito ao ensino e ã prática, foram e ainda são elaboradas d e n t r o de uma linha funcionalista de análise, vincu l a d a s à Parsons no q u e d i z r e s peito aos sistemas sociais, e à W e b e r e m r e l a ç ã o às instituições burocráticas

(SILVA et alii, 1981).

Os estudos sobre a p r á t i c a d e enfermagem tiveram início no B rasil em 1963 com o t r a balho d e Alcântara, que analisou a p o s i ç ã o d a e n f e r m a g e m na sociedade, os obstáculos para sua e x ­ p a n s ã o e o r e c o n h e c i m e n t o d e uma certa estagnação da enfermagem no país d e v i d o à impor t a ç ã o d e m o d e l o s de ensino de sociedades "industrializadas e u r b a n i z a d a s ” na d é c a d a de vinte, p a r a nossa s o c i e d a d e que p o s s u í a caract e r í s t i c a s p r e d o m i n a n t e m e n t e rurais e economia agro-exportadora. A p o n t a ainda para o fato d e que a i n c o m p r e e n s ã o da p r o f i s s ã o no país, fazia com que não h o u v e s s e u m a p r o c u r a por p a r t e das pessoas para os cursos de enfermagem (OLIVI, .1982). N e s t e s e n t i d o a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e

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Enfer-m a g e Enfer-m (ABEn) realizou uEnfer-m "LevantaEnfer-mento dos Recursos e N e c e s s i ­ dades de Enfermagem no Brasil (ABEn, 1958), onde p r o c u r o u d e ­ m o n s t r a r a posição da enferm a g e m no m e r c a d o de trabalho, f i c a n ­ do e v idenciado o grande d é f i c i t de enfermeiras agravado p e l o de s v i o de sua função, ê os b a i x o s salários pagos a todo o p e s ­ soal de enfermagem. 0 levant a m e n t o m o s t r o u t a m b é m a seguinte dis­ tribuição quantitativa dos e l e m e n t o s da equipe de enfermagem: 8,0% de enfermeiros, 22,8% de auxil i a r e s de enferm a g e m e demais categorias reguladas p o r lei, é 69,2% de atendentes de e n f e r m a ­ gem.

FERRÈIRA-SANTOS (1973) realizou u m Estudo de Caso e m u m hospit a l - e s c o l a onde anali s o u o papel da enfermeira no sistema h o s p i t a l a r e na sociedade (utilizando para tanto o esquema p r o ­ p o s t o por P a r s o n s ) , identi f i c a n d o a sua não integração aos m e s ­ mos. De acordo c o m a autora "a o c u p a ç ã o está e m proce s s o de transição no definir papéis, c o n s e r v a n d o ainda muitas c a r a c t e ­ rísticas da organização t r a d i c i o n a l i s t a v i gente na sociedade inclusive, com reflexos no sistema p a rcial do Hospital".

VE R D ERESE (1979) ao a n a l i s a r a h i s t ó r i a da e n f e r m a g e m na América Latina enfatizou a importância dos fatores sócio-eco- nômicos e políticos na e x p l i c a ç ã o do d e s e n v o l v i m e n t o da prática de saúde, e conseqüentémente na de enfermagem. Conclui e m seu e s tudo que tanto a prática, como o saber na área de saúde e área de educação estão e s t r e i t a m e n t e vincu l a d a s âs t r a n s f o r m a ­ ções históricas do m o d o de p r o d u ç ã o ã qual pertencem. "É, p o r ­ tanto, a estrutura econômica o fator d e t erminante do tipo de prática e de educação em e n f e r m a g e m que se e stabelece e m uma determinada época e em u m a determ i n a d a sociedade. O r e c o n h e c i ­ m ento desse fato facilita a c o m p r e e n s ã o das ações, inovações e recomendações que surgem no campo da e n f e r m a g e m e da educação,

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e remete a uma análise e reflexão a fim de que os planos e p r o ­ p o s i ç õ e s de m u d anças sejam c o mpatíveis c o m a estrutura social global do país".

O L I V E I R A (1979) em seu trabalho, p r o curou relacionar a prá­ t i c a de e n f e r m a g e m c o m a estrutura social do país. Observou que o d e s e n v o l v i m e n t o desta prática a companhou as várias fases da e v o l u ç ã o s ó c i o -política-econômica do B r a s i l , e que ocorreu con- c o m i t a n t e m e n t e ã institucionalização do c u i d a d o ao doente. "Es­ te se deu de modo predominantemente, nas instituições h o s p i t a ­ lares, justamente p orque a ênfase do sistema de saúde t e m sido pa r a a m e d i c i n a c u r a t i v a . . , o que levou ã uma c o ncentração do p e s s o a l de e n f e r m a g e m (80%) nestas instituições.

T a m b é m OLIVI (1982) constatou que a p r á t i c a de enferm a g e m inserida q u e está ao modelo de saúde v i g e n t e no país, portanto ^ v o l t a d o para a m e d icina curativa, "acha-se conce n t r a d a nos h o s ­ p i t a i s e, portanto, distanciada das p r i o r i d a d e s de saúde da p o ­ pulação".

V á r i o s autores são unânimes ao a p o n t a r o e s g o t a m e n t o do m o d e l o de saúde v i g e n t e no país, e suas i m p l i c a ç õ e s para a p r á ­ tica de enfermagem. Implicações estas, que segundo LORENZETTI

(1982), se t r a d u z e m e m crises: de m e r c a d o de traba l h o que se e n c o n t r a saturado, a pesar da carência de p e ssoal de enfermagem a p o n t a d a nas estatísticas oficiais ou não; e crise de caráter profissional, caracterizada pelas c o n d ições de trabalho i n a d e ­ quadas, b a i x o s salários, subemprego, m á d i s t r i b u i ç ã o e má u t i ­ li z a ç ã o dos recursos agravados pelos d e s v i o s de funções, e a frágil o r g a n i z a ç ã o do pessoal de e n f e r m a g e m que, como c a t e g o ­ ria, encon t r a - s e fragmentada, dividida e sem entidades r e p r e ­ sentativas de seus interesses como u m todo.

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Outro fator que t ambém está se tráduzindo em crise para a e n f e r m a g e m e principalmente para a enfermeira, se c a racteriza pela falta de autonomia da profissão, agravada pela s u b o r d i n a ­

ção de seu trabalho ao médico, principalmente em instituições hospitalares.

SANTOS & V IEIRA (1979) ao a n a l i s a r e m a prática de e n f e r m a ­ gem no país a f irmam que: "nos serviços de saúde, p r i n c ipalmente no campo hospitalar, o trabalho é realizado por grupos m u l t i - p r o f i s s i o n a i s cujo p r o d u t o r principal é o médico. Essa c o n dição lhe assegura a hegemonia do controle técnico operacional do cuidado ao doente m e d iante p r e s c r i ç õ e s de atos que serão e x e c u ­ tados p o r outros profis s i o n a i s de m e n o r qualificação", e n t r e elas a enfermagem.

BORGES (1980) refere jjue "a o m i ssão dos e nfermeiros no cuidado direto ao paciente tem sido explicada como conseq ü ê n c i a do grau de organização a l c a n ç a d o pelos serviços de saúde, nos quais a enfermagem está caract e r i z a d a como serviço c o m p l e m e n ­ tar, dependente de p r e s c r i ç õ e s para algumas de suas ativid a d e s e de definições políticas e de normas para outras" (grifos n o s ­ sos) .

A enfermagem, servindo-se de áreas diversas do c o n h e c i m e n ­ to e dos meios de trabalho p r o d u z i d o s pelo complexo m é d i c o - i n - dustrial, construiu e m princípio, u m campo p r óprio do saber, embora seus limites p a r e ç a m ainda estreitos e i m p r e c i o s o s , c o n s ­ tituindo portanto u m saber s u bordinado (ALMEIDA et alii, 1981). GONÇALVES (1979) ao a n a lisar a d i v i s ã o do trabalho médico, t a m ­ b é m fala sobre a divisão do t r a b a l h o na e n f e r m a g e m e sua r e l a ­ ção de subordinação ao t r a balho médico: "todo o trabalho d i r e t o de a ssistência ao doente c o m porta inúmeras funções "manuais", e são essas as primeiras a se s e p a r a r e m s ubordinadamente no

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b a l h o médico, c o n s t i t u i n d o - s e a enfermagem. A própria e n f e r m a ­ g e m é a t i ngida p o s t e r i o r m e n t e pela reiter a ç ã o da mesma divisão, sendo suficiente para c o m p r e e n d e r seu sentido a c o nsideração da apropr i a ç ã o das tarefas de supervisão e controle ao p r o f i s ­ sional com q u a l i f i c a ç ã o formal superior, o enfermeiro".

Ainda com r e l a ç ã o ã d i visão do trabalho em enfermagem, F E R R E I R A - S A N T O S (1973) em sua pesquisa cita dois autores a m e r i ­ canos -— Simmon e H e n d e r s a n — que c o n s i d e r a m que "uma melhora considerável na a d m i n i s t r a ç ã o de enfermagem, pode, talvez p r i ­ meiramente, ser c o n s e g u i d a através de m a i o r c o n h e c i m e n t o e m e ­ lhor controle das d i v i s õ e s de trabalho exist e n t e s na p r ática de e n f e r m a g e m m u i t o desta d i v i s ã o tendo surgido ao acaso e tendo sobrevivido pela tradição, a pesar das.mu d a n ç a s de condições"

(grifos n o s s o s ) .

Já A L M E I D A et alii (1981) sustenta que o d e s e n v o l v i m e n t o técnico aliado a implic a ç õ e s de n a t ureza social, subdividiram.os agentes e n c a r r e g a d o s do c u idado d ireto ao p a c i e n t e e m outras categorias tais como os técnicos, auxiliares e atende n t e s de enfermagem, que se v i r a m destituídos do d o m í n i o do saber e su­ bordin a d o s ao enfermeiro.

Sobre a função que a e n f e r m a g e m exerce nos serviços de saúde e na s o c i e d a d e , v ários autores a p o n t a m para o papel da enferm e i r a como u m a profis s i o n a l que d e s e n v o l v e ativid a d e s p r e ­ d o m i n a n t e m e n t e "burocráticas", possui a função de " c o n t r o l a d o ­ ra" do serviço de seus subalternos, a s s u m i n d o p o r t a n t o a p o s t u ­ ra de dominação. "O papel do e nfermeiro no sistema formal de saúde tem sido b a s i c a m e n t e o de g a r antir o seu f u n cionamento nos moldes d e f i nidos pelos detentores da h e g e m o n i a no setor —

O-os empres á r i o s médicO-os". Desta forma cabe ao e n f e r m e i r o s o r g a ­ nização da a s s i s t ê n c i a de e n f e r m a g e m de tal forma que permita

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v i a b i l i z a r a política de p r i v a t i z a ç ã o ê obtenção de lucros. S e ­ guindo o pensamento do autor, "a análise da prática de e n f e r m a ­ g e m nos serviços de saúde nos permite a f irmar que a tarefa de f iscal i z a ç ã o e controle do pessoal auxil i a r tem a p r e dominância da ocupa ç ã o do seu trabalho, secundada pelas atividades b u r o ­ c r á ticas e gerenciais..." ( LORENZETTI, 1982).

já FERREIRA-SANTOS (1973) acredita que devido ã socieda-o

de p o ssuir determinadas p r e c o n c e i t o s e m relação ao t r a balho m a ­ nual, fez c o m que as enfermeiras b u s c a s s e m m a i o r satisfação e m tarefas. . . que lhe p r o p o r c i o n a s s e m "status" e/ou maior r e n ­ da. "Isto levou-as a refugiarem-se e m funções de supervisoras e administradoras, e delegarem a m a i o r parte das funções b á s i ­ cas e técnicas ao pessoal auxiliar" (grifos n o s s o s ) .

De acordo com o exposto çode-se p e r c e b e r que os estudos sobre a prática de enfermagem são recentes, escassos e e m sua m a i o r i a o p t a r a m por uma análise f u n c i o n a l i s t a . Sob este e n f o ­ que, os problemas existentes na área da saúde são e n c a r a d o s c o ­ mo sendo de o r d e m técnica ou administrativa, e a intervenção estatal é vista como neutra a serviço do b e m estar geral de u m a sociedade pretensamente homogênea (ALMEIDA et alii, 1981).

Assim, os estudos acerca do p e s s o a l de enfermagem, e m g e ­ ral, não tem procurado alcançar os reais d e t erminantes de sua evolução, limitando-se a comparações q u a n t i t a t i v a s e análise de a s p e c t o s qualitativos, tecnicamente, sem levantar ou aprofu n d a r a neces s á r i a articulação e d e p e n d ê n c i a destas questões c o m a o r g a n i z a ç ã o do setor saúde e o m o d o de p r o d u ç ã o estrut u r a d o no país. Decorre daí, que os m e s m o s não p e r m i t e m a a p r e e n s ã o dos determ i n a n t e s reais da evolução da p r á t i c a de e n f e r m a g e m no país, b e m como não possib i l i t a m uma c o m p r e e n s ã o global dos p r o ­ b l e m a s e crises que enfrentou e v e m e n f r e n t a n d o ao longo de

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seu d e s e n volvimento histórico.

E mesmo os estudos que p r o c u r a r a m analisar a p r ática de enfermagem e n q uanto u m a p r ática social de uma forma m a i s a b r a n ­ gente, tentando relaci o n a r o seu d e s e n v olvimento c o m os d e t e r ­ minantes sociais, econômicos e políticos, por questões óbvias de serem os p i o n eiros e e s t a r e m introduzindo este tipo de a n á ­ lise entre nós, não c o n s e g u e m dar conta da totalidade da c o m ­ preensão de seu desenvolvimento, de suas crises e de seus i n ú ­ meros problemas para afirmar-se como profissão no Brasil.

Desta forma, v árias q u e stões são ainda m o t i v o de p r e o c u p a ­ ção e grande p o l ê m i c a entre as p e ssoas que t r a b a l h a m e m e n f e r ­ m a g e m e que se c o n s t i t u i r ã o em o b j e t o de nosso estudo: i d e n t i ­ ficação dos p r i n c i p a i s determ i n a n t e s da divisão do t r a b a l h o de e nfermagem ng> Brasil, as relações que se e s t a b e l e c e r a m a p a r t i r desta divisão entre os vários e l e m e n t o s que c o m p õ e m a e q u i p e de enferm a g e m e o papel que coube ã enfermeira enquanto p l a n e j a - dora a d m i nistradora e supervisora da prática de enfermagem; m e ­ lhor dizendo, c o n t r o l a d o r a e gerenc i a d o r a desta prática.

Uma vez que enten d e m o s a p r á t i c a de e n f e r m a g e m como uma prática histórica, acreditamos que a mesma reflete as m u d anças que ocorrem no m o d o de p r o dução a qual está inserida. E para que possamos dar conta das transformações que p a ssou esta prática até nossos dias, precis a m o s compre e n d e r t ambém as t r a n s f o r m a ­ ções ocorridas na sociedade em geral, no m e s m o período.

As s i m sendo, nosso trabalho procurou anali s a r o d e s e n v o l ­ vimento e o r g a n i z a ç ã o da e n f e r m a g e m m o derna ã luz dos d e t e r ­ minantes sociais, e conômicos e políticos, identi f i c a n d o a e s ­ truturação da d i v i s ã o do trabalho e suas relações c o m o d e s e n ­ volvimento capitalista, o que p e r m i t i u uma c o m p r e e n s ã o mais

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a brang e n t e da prática de e n f e r m a g e m que hoje se desenvolve no país.

Nossa p r e o c u p a ç ã o básica foi a de e s t u d a r o que determinou esta divisão, m o s t rando o papel fundamental que a e nfermeira e- x e r c e u e ainda exerce em relação aos outros agentes da e n f e r m a ­ gem, como a pessoa que ocupa o cargo mais alto na hierarquia profissional, e as relações de poder daí decorrentes.

Desta forma, realizamos u m l e v a n t a m e n t o b i b l i o g r á f i c o a- través de fontes primárias e secundárias (documentos, p e r i ó d i ­ cos, relatórios, livros, legislação, etc.), a fim de -podermos recuperar e reconstruir a história da e n f e r m a g e m moderna de uma forma mais abrangente.

A análise dos dados levantados o b e d e c e u ã uma p e riodização que conseguisse apreender os p r i n c i p a i s m o m e n t o s e especdifici- dades da e n f e r m a g e m inseridos, r e lacionados e articu l a d o s com os momentos e/ou transformações gerais o c o r r i d a s na sociedade. E s ­ ta p e r i o d i z a ç ã o foi de fundamental importância, e forneceu sub­ sídios v a l iosos para que se conseg u i s s e i dentificar os p r i n c i ­ pais d e t e r m i n a n t e s da divisão do t r a b a l h o da e n f e r m a g e m ao lon­ go de seu desenvolvimento.

Este trabalho consta de cinco capítulos a s s i m d i s t r i b u í ­ dos: no p r i meiro capítulo são a b o r d a d o s a l gumas considerações teóricas sobre o trabalho, p r o cesso de t r a balho e divisão so­ cial e técnica do trabalho, que servirão como u m referencial para a análise do processo de t r a balho da enfermagem.

No segundo capítulo, procu r a m o s a n a l i s a r as p r i n c i p a i s c a ­ ra c terísticas que deter m i n a m a o r g a n i z a ç ã o do p r o c e s s o de t r a ­ b a l h o da e n f e r m a g e m atualmente em nosso país, b u s c a n d o a p r e e n ­ der os conflitos existentes entre os agentes da e n f e r m a g e m e a

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função de gerência da enfermeira.

No terceiro e no q u a r t o capítulos analisamos a o r g a n i z a ç ã o e institucionalização da e n f e r m a g e m moderna na Inglaterra e no Brasil respectivamente, onde tentamos levantar as princi p a i s questões relativas ao d e s e n v o l v i m e n t o da prática da e n f e r m a g e m como uma prática h i s t ó r i c a e socialmente determinada.

Finalmente, no q u i n t o capítulo, tentamos a n a l i s a r a p r á t i ­ ca atual-da e n f e r m a g e m no Brasil, que se c a racteriza como uma prática em crise, tanto da e n f e r m a g e m em geral, ou seja, de todos os seus agentes, q u anto a crise específica da enfermeira.

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O trabalho é u m p r o c e s s o realizado pelo h o m e m sobre a n a ­ tureza para p r o d u z i r e u t i l i z a r seus produtos segundo suas n e ­ cessidades. Em si abstrato, é tão somente a u t i l i z a ç ã o da força de trabalho para suprir d e t e r m i n a d a s necessidades. O utras e s p é ­ cies d e s e n v o l v e m a t i v i d a d e s sobre a natureza c o m o sentido de transformá-la, e a s s i m p o d e r e m satisfazer suas n e c e s s i d a d e s de uma melhor forma. Mas o que d i s t ingue o trabalho h umano de o u ­ tros animais não são suas semelhanças, e sim suas diferenças, uma vez que o "trabalho h u m a n o é consciente e proposital, ao passo que o t r a b a l h o dos o utros animais é i n s t i t i ^ o " ( B R A V E R M A N , 1981).

O trabalho h u m a n o portanto, se caract e r i z a p o r u m a c o n c e p ­ ção p r évia a uma a t i v i d a d e p roposital de agir e m o d i f i c a r a natureza para u m d e t e r m i n a d o fim. "... Uma a ranha desemp e n h a operações que se p a r e c e m c o m a de u m tecelão, e a abelha e n v e r ­ gonha m uito a r q u i t e t o na c o n s t r u ç ã o de seu cortiço. Mas o que distingue o pior a r q u i t e t o da m e l h o r das abelhas é que o a r q u i ­ teto figura na m e n t e sua c o n s t r u ç ã o antes de t r a n s f o r m á - l a em

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realidade. No fim do p r o c e s s o do trabalho aparece u m resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador.Ele não transforma apenas o m a t e r i a l sobre o qual opera; ele i m p r i ­ me ao material o p r o jeto que tinha c o n s c ientemente e m mira, o qual constitui a lei d e t e r m i n a n t e do seu modo de o perar e ao qual tem de subordinar sua vontade" (MARX, 1979).

Por processo de trabalho e ntende-se o processo de t r a n s ­ formação de um determ i n a d o o b j e t o (em estado natural ou já t r a ­ balhado) em outro objeto, u m produto, realizado por uma a t i v i ­ dade humana, através da u t i l i z a ç ã o de instrumentos de trabalho. 0 processo de trabalho d e s e m b o c a é se extingue no p r o d u t o do trabalho que se constitui e m u m valor de u s o , "um m a t erial da natureza adaptado às n e c e s s i d a d e s h u manas através da m u dança de forma. O trabalho está i n c o r p o r a d o ao objeto sobre o qual

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ou. Concretizou-se e a m a t é r i a está trabalhada" (MARX, 1979).

Podemos distinguir portanto, três elementos que c o m p õ e m o processo de trabalho: 1) o p r ó p r i o t r a b a l h o , que compre e n d e uma atividade adequada a u m d e t e r m i n a d o fim, deve ser e n t e n d i d o c o ­ mo uma atividade e s p e c i f i c a m e n t é h u m a n a , porta n t o realizada p e ­ los agentes do p r o cesso de trabalho. Este trabalho se expressa em certa quantidade de produtos, e implica necess a r i a m e n t e ã energia humana empregada no p r o c e s s o de trabalho, que MARX denomina "Força de Trabalho; 2) o o bjeto de t r a b a l h o , ou seja, a matéria a que se a plica o p r ó p r i o trabalho e que se t r a n s f o r ­ mará e m outro objeto, é r e p r e s e n t a d a por "todas as c oisas que o trabalho apenas separa de sua c o n e x ã o imediata c o m seu meio natural, ... fornecidos p e l a natureza" (MARX, 1 9 7 9 ) . "Desprender seu objeto de suas conexões n a t u r a i s se apresenta, pois, como o primeiro momento deste trabalho, m o m e n t o duplamente d e t e r m i ­ nado pela finalidade que o t r a b a l h o escolheu e pelos

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instrumen-tos que utilizará; o o bjeto assim desprendido, na m edida em que perde sua n a t u r a l i d a d e e se conforma ao p r o c e s s o e m que entra, d e t ermina-se entáo como objeto de trabalho" (GONÇALVES, 1979); 3) Os meios e i n s t r u m e n t o s de t r a b a l h o , são aqueles objetos ou c o n junto de o b jetos que o trabalhador interpõe entre ele e o objeto que t r a balha e que serve para c a n a lizar sua atividade sobre este objeto. Podemos dizer que os meios de traba l h o são todas as condi ç õ e s m a t e r i a i s necessárias para a r e a l i z a ç ã o do processo de trabalho, e que embora estas c o n d i ç õ e s não p a r t i c i ­ p e m do processo, o m e s m o não pode se reali z a r sem os mesmos. "O que distingue as épocas econômicas umas das o u tras não é o que se faz, mas sim como se faz, c o m que i n s trumentos de trabalho se faz" (MARX, 1979). Assim, os meios de t r a b a l h o s e r v e m para m e d i r o d e s e n v o l v i m e n t o da força humana de t r a balho e a l é m d i s ­ so, i n dicam as c o n d i ç õ e s sociais em que se realiza o trabalho.

Hi s t o r i c a m e n t e o p r o cesso de trabalho t e m sofrido v a r i a ­ ções de uma formação econômica-social para outra, e m f u nção do que, como e para q u e m produzir. Concom i t a n t e m e n t e a este d e s e n ­ volvi m e n t o h i s t ó r i c o do processo de trabalho e v o l u i t a m b é m a divisão técnica e social do trabalho.

Assim, o trabalho, se encarado em sua forma geral é ahis- tõrico, ou seja, sempre se fez presente desde as sociedades mais primitivas. Porém, q u a n d o encarado em sua forma e s p e c í f i c a a s ­

sume u m caráter h i s t ó r i c o e socialmente determinado, assumindo formas própr i a s e d e t e rminantes de um dado m o d o de produção. Se faz então n e c e s s á r i o realizar u m corte na história, e anali s a r a o r ganização do t r a b a l h o inserida no interior do p r o c e s s o de produ ç ã o capitalista, pois é neste m o mento que esta o r g a n i z a ç ã o assume "uma u n i d a d e c o n traditória e indivisível de dois p r o c e s ­ sos: "processo de trabalho, processo no qual as m a t é r i a s p r i ­

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mas são t r a nsformadas e m objetos úteis para satisfazer n e c e s s i ­ dades sociais (ou p r o c e s s o de produzir "valores de uso"); e

"processo de valorização" ou processo de conservar e adicionar v alor âs mercadorias". (VARGAS, 1979). Este corte t a m b é m p e r m i ­ tirá identi f i c a r o m o m e n t o em que a d i visão do trabalho assume c a r a c t e r í s t i c a s peculiares, modifi c a n d o a organ i z a ç ã o do t r a b a ­ lho (e p o r t a n t o a sociedade), transformando-o, moldando-o, a f i m de que possa responder à determinadas necess i d a d e s que se t o r ­ n a m h e g e m ô n i c a s para u m dado modo de produção.

Há que se c o m p r e e n d e r portanto o c a ráter histó r i c o da o r ­ g a n i z a ç ã o do trabalho, mais p r e cisamente o da cooperação, para que p o s s a m o s d i s t i n g u i r e analisar a o r i g e m da divisão do t r a ­ b a l h o na sociedade, a s s unto tão p o l ê m i c o e c o ntroverso para a l ­

guns a u t o r e s .

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Para A D A M SMITH a divisão do trabalho t e m sua o r i g e m na p r o p e n s ã o da natureza h umana ã troca, ou seja, "assim como por negociação, por escambro, ou por compra que conseguimos uns dos outros a maior parte dos serviços recípr o c o s de que n e c e s ­ sitamos, da mesma forma é essa mesma p r o p e n s ã o ou tendência a p e r m u t a r que origin a l m e n t e gera a d i v i s ã o do trabalho" (SMITH, 1983). S e gundo o autor, a divisão do t r a b a l h o já se faz p r e s e n ­ te desde as sociedades mais primitivas, desde que os homens c o ­ m e ç a r a m a p r o d u z i r diferentes merca d o r i a s p a r a atender suas n e ­ cessidades, distin g u i n d o portanto, p e s s o a s c o m "talentos d i f e ­ rentes".

M A R G L I N afirma que "nem a h i e r a r q u i a n e m a divisão do t r a ­ b a l h o n a s c e r a m com o capitalismo... A d i v i s ã o técnica do t r a b a ­ lho, tampouco, é exclusiva do c a p i t a l i s m o ou da indústria m o ­ derna" (MARGLIN, 1980). Para o autor, a d i v i s ã o social do t r a ­ b a l h o e a e s p e c ialização das tarefas sempre foram uma c a r

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acte-rística de todas as sociedades, citando como exemplos a divisão do trabalho e m castas na sociedade H i n d ú , e a p r o d u ç ã o têxtil sob o sistema corporativo.

Para B R A V E R M A N (1981) a d i visão do trabalho no capitalismo possui c a r a c t e r í s t i c a s peculiares, e porta n t o totalmente d i f e ­ rentes da d i s t r i b u i ç ã o de tarefas, ofícios ou e s p e c i a l i d a d e s da produção da sociedade. "Embora todas as sociedades conhecidas t enham d i v i d i d o seu trabalho e m especi a l i d a d e s produtivas, n e ­ nhuma sociedade antes do c apitalismo subdividiu sistematicamen­ te o trabalho de cada e s p e cialidade p r o d utiva e m operações l i ­ mitadas. Esta forma de divisão do t r a balho torna-se g e n e r a l i z a ­ da apenas c o m o capitalismo".

Segundo MARX, a divisão do trabalho caract e r í s t i c a de t o ­ das as sociedades (divisão de tarefas, ofícios ou e s p e c i a l i d a ­ des produtivas) se constitui na d i v isão social do trabalho, que é uma c a r a c t e r í s t i c a inerente de todo t r a balho h u m a n o a s s i m que ele se c o n verte e m trabalho social, ou seja, r e a l izado na s o ­ ciedade e a t ravés dela (MARX, 1979). Porta n t o a divisão social do trabalho (ou geral segundo determ i n a d o s autores) divide a sociedade entre o c u p a ç õ e s segundo suas n e c e s s i d a d e s produtivas.

Nas sociedades p rimitivas e modos de p r o d u ç ã o anteriores ao Modo de P r o d u ç ã o Capitalista, cada t r a b a l h a d o r e x e c utava i n ­ d epend e n t e m e n t e todas as operações de seu p r o c e s s o de t r a b a ­ lho, o que c a r a c t e r i z a v a cada m e r c a d o r i a como u m p r oduto i n d i ­ vidual. Somente c o m o Modo de P r o dução Capitalista, iniciando c om a cooper a ç ã o simples na m a n u f a t u r a e p o s t e r i o r m e n t e c o m a divisão técnica do trabalho nas grandes indústrias, é que a m ercadoria deixa de ser u m produto individual para a s s u m i r o caráter de p r o d u t o social de uma coletividade, onde cada o p e r á ­ rio especializado executa uma o p e ração p a rcial distinta.

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0 trabalho coletivo se torna assim, uma c a r a c t e r í s t i c a fun­ damental da divisão do trabalho no M o d o de Produção Capitalista, na medida em que os trabalhadores de diver s o s ofícios i n d e p e n ­ dentes (como os sapateiros, tecelões, etc.), que antes d e s e n ­ v o l v i a m a elaboração de u m p r o d u t o e m toda a sua extensão, pàs- sgan agora a realizar apenas uma p a r c e l a do trabalho necessária para a elaboração de uma dada mercadoria. Ocorre assim, a c h a ­ mada "cooperação de trabalhadores afins", a t o m i z a n d o seu o f ício individual nas diversas o p e r ações que o integram, isolando-se e fazendo-os independentes até o instante em que cada uma d e s ­ tas operações se converta e m f unção e x c l usiva e especí f i c a de u m operário. "Em vez de fazer que u m m e s m o o p e r á r i o execute, u m a após outra, todas as operações, estas se separam, se i s o ­ lam no espaço, confiando-se cada uma delas a u m t r a b a l h a d o r dis­ tinto, para que todos, e m ^ r egime de cooperação, f a b r i q u e m a mercad o r i a desejada... De p r o d u t o individual de u m a r t e s ã o i n ­ dependente, que o faz todo, a m e r c a d o r i a se conve r t e e m produto social de uma coletividade de artesões, especi a l i z a d o cada u m deles e m uma operação parcial distinta" (MARX, 1979). Portanto, n e n h u m t r abalhador produz u m p r o d u t o final, pois o que converte e m produto final é o produto c o m u m (coletivo) de todos os t r a ­ balhadores.

Somente sob o Modo de P r o d u ç ã o C a p i t a l i s t a fez-se n e c e s s á ­ ria a o rganização de outro tipo de d i v i s ã o de trabalho, onde o p r o cesso de trabalho é dissoc i a d o ou p a r c e l a d o em seus e l e m e n ­ tos mais simples e executados p o r d i f e r e n t e s trabalhadores, c a ­ r acter i z a n d o com isto a d i v i s ã o t é cnica do trabalho na i n d ú s ­ tria. Esta nova forma de o r g a n i z a ç ã o do trabalho destruiu as antigas ocupações c o m a c r iação do t r a b a l h o parcelado. C o n c o r ­ damos pois com BRAVERMAN (1981) ao a f i r m a r que: "A d i v i s ã o do

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traba l h o na sociedade é característica de todas as sociedades conhecidas; a d i visão do trabalho na oficina é p r oduto peculiar da sociedade capitalista. A divisão social do trabalho divide a sociedade entre ocupações, cada qual a p r o p r i a d a a certo ramo de produção; a d i visão pormenorizada do t r a b a l h o destrói o c u p a ­ ções c o n s i d e r a d a s neste sentido, e torna o t r a b a l h a d o r inapto a a c o m p a n h a r q u a l q u e r processo compl e t o de produção. ...Enquan­ to a d i v i s ã o social do trabalho subdivide a sociedade, a d i v i ­ são p a r c e l a d a do trabalho subdivide o homem, e e n q u a n t o a sub­ divisão da sociedade pode fortalecer o i n d i víduo e a espécie, a subdivisão do indivíduo, quando efetuada c o m m e n o s p r e z o das capaci d a d e s e necess i d a d e s humanas, é u m crime c ontra as p e s ­ soas e c ontra a humanidade".

C o m a introdução da maquinaria o p r o c e s s o de trabalho t o r ­ n a-se r e l a t i v a m e n t e independente da força de t r a b a l h o e da p e ­ rícia individual de cada operário, na m edida e m que o caráter e o ritmo deste p r o cesso p a s s a m a ser d e t e r m i n a d o s pelo m e c a ­ n ismo da m á q u i n a (e portanto pelo capital), e o o p e r á r i o c o n ­ verte-se n u m simples apêndice desta, ao m e s m o tempo em que é ex p r o p r i a d o do signif i c a d o e conteúdo de seu trabalho.

O p r i n c í p i o da divisão do trabalho i n s t i t u í d o pelo modo de p r o d u ç ã o c a p i t a l i s t a traz c o nsigo i mportantes conseq ü ê n c i a s tanto para os c a p i t a l i s t a s como para os operários, c o n forme d e s c r e v e r e m o s a seguir.

1. Perda do controle do p r o cesso p r o d u t i v o — l e n t a m e n t e , os o p e r á r i o s vão p e r d e n d o a capacidade de p r o d u z i r e m outra c o i ­

sa que não s e j a m produtos de pormenor, e sua p r o f i s s ã o a n t e ­ r i o r m e n t e c a r a c t e r i z a d a como "multilateral" se t r a n s f o r m a numa o p e r a ç ã o unilateral, mecânica e monótona, p o r perda de seu c o n ­ teúdo.

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2. Perda do controle sobre as relações entre as operações parcelares — Como os operários se limitam apenas a e x e c u t a r sim­ ples manipu l a ç õ e s mecânicas, suas capacidades i n telectuais d e i ­ xam de ser utiliz a d a s e não se desenvolvem, o que faz c o m que p e rcam o c o n trole sobre as relações entre as o p e r ações p a r c e l a ­ res. O conhecimento, a p e r c e p ç ã o do c o n junto e o p l a n e j a m e n t o do processo de trabalho d e i x a m de ser necessários para as o p e ­ rações parcelares, sõ c o ntribuindo para o p r o c e s s o de conjunto.

Desta forma, a parte intelectual do trabalho — i d é i a , c o n ­ cepção, p r o j e t o e p l a n e j a m e n t o — não mais p e r t e n c e m aos o p e ­ rários parcelares, e sim ao capitalista e seus representantes, criando-se c o m isto uma nova divisão do trabalho entre os t r a ­ balhadores m a nuais e os trabalhadores intelectuais.

3. N e c e s s i d a d e de coord e n a ç ã o entr^ as d i v ersas o p e r ações parcelares — Uma vez divid i d o o processo de t r a balho e m várias etapas e e x e c u t a d o por diferentes o p e r á r i o s , é de f undamental importância que se crie uma nova operação, que é a de c o o r d e n a ­ ção deste processo.

Esta o p e r a ç ã o obriga t o r i a m e n t e será e x e c u t a d a e m nome e proveito do capitalista, tanto por ele como por p e s s o a s e s p e ­ cialmente c o n t r a t a d a s para tal fim, como os a d m i n i s t r a d o r e s ,g e ­ rentes, gestores, capatazes, encarregados, etc.

4. C r i a ç ã o de m a i s - v a l i a relativa — Para o c a p i t a l i s t a a principal v a n t a g e m da divisão do trabalho é o a u m e n t o da p r o d u ­ tividade do t r a balho pela d iminuição do tempo n e c e s s á r i o p a r a a produção de u m a mercadoria, dado que os t r a b a l h a d o r e s m a nuais individuais p a s s a m a ser operários parcelares m a i s eficientes.

5. O r g a n i z a ç ã o h i e r á r q u i c a do trabalho — C o m a d i v i s ã o do trabalho na sociedade capitalista, os t r a b a l h a d o r e s a l é m de

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p e r d e r e m a propriedade dos meios de produção, p e r d e m t a m b é m o controle sobre o funcionamento destes meios, que p a s s a m para as mãos dos administradores, gerentes, gestores, capatazes, etc., c a r a c t e r i z a n d o c o m isto a organi z a ç ã o e o desen v o l v i m e n t o do p r o c e s s o de trabalho sob uma forma h i e r á r q u i c a de trabalho. Esta forma de organização do trabalho possui uma função p o l í t i ­ ca que c o n siste e m p e r p e t u a r a d ependência dos operários, sua subordinação, sua separação dos meios e do p r o c e s s o de p r o d u ­ ção. "A função da hierarquia..., em última análise, é subtrair ao controle o p e r á r i o as c o n d ições e a m o d a l i d a d e s do f u n c i o n a ­ m e n t o das máquinas, torna n d o a função de c o n t r o l e uma função s e p a r a d a . Somente desse modo, os meios e o p r o c e s s o de produção p o d e m a p r e s e n t a r - s e como p o t ê n c i a estranha, tornada autônoma, e x i gindo submissão dos trabalhadores" (GORZ, 1980). As relações de t r a balho que se e s t a b e l e c e m são do tipo vertical, isto é, t r a balhadores e chefias imediatas, c a r a c t e r i z a n d o - s e o n o v o pro­ cesso pela hierarquia, autoritarismo, o b j e t i v i d a d e e i m p e s s o a ­ lidade. Para o capitalista, a o r g a n i z a ç ã o h i e r á r q u i c a do t r a ­ b a l h o é i m p r e scindível para que ocorra uma p r o d u t i v i d a d e mais elevada, ou seja, uma m e l h o r eficácia técnica.

Assim, u m a vez d i v i d i d o o p r o c e s s o de t r a b a l h o e m várias etapas elementares, e sendo o m e s m o e x e c u t a d o p o r diferentes tipos de trabalhadores, surgiu a n e c e s s i d a d e de se criar uma nova operação, ou melhor, uma nova d i visão de t r a balho que se concr e t i z o u no surgimento da "figura do coorde n a d o r " deste p r o ­ cesso.

Esta nova figura seria agora o r e s p o n s á v e l pela elabo r a ç ã o do conhecimento, p l a n e j a m e n t o a supervisão do p r o c e s s o de t r a ­ balho, c a r a c t e r i z a n d o c o m isto uma r e o r g a n i z a ç ã o do trabalho no seio das relações c a p i t a l i s t a s de p r o d u ç ã o — "a g e r ê n c i a " .

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Como b e m d e m o n s t r a r a m BRAVE R M A N (1981), CORIAT (1976) e V ARGAS (1979) , a organi z a ç ã o do trabalho passou por várias e t a ­ pas até c h e g a r na fase de "gerência científica" introduzida por - Taylor e m fins do século passado, na medida e m que se tornou necessária a eliminação de traços pertencentes ao modo de p r o ­ dução anterior, b e m como a a d e q u a ç ã o do trabalho ãs novas e fundamentais necessidades de acumul a ç ã o de capital.

Historicamente, a g e r ência do trabalho (mesmo que de forma rudimentar) teve início q u a n d o u m número significativo de t r a ­ balha d o r e s f o r a m empregados p o r u m único capitalista, visto que o p r ó p r i o e x e r c í c i o do t r a b a l h o cooperativo e a u n i ã o de d i f e ­ rentes tipos de trabalho t r o u x e r a m consigo a necessidade de o r ­ ganização e c o ordenação do p r o c e s s o de trabalho.

Desta forma, a função p r i m e i r a da "gerência c a p i t a l i s t a primi t i v a ou rudimentar" foi a de reorganização do t r a balho através de sua centralização, e stabelecimento de h o r á r i o s de trabalho e de seu controle, embora de forma não sistemática.

B R A V ERMAN (1981) chama a a t enção para as formas rígidas e despóticas que a s s u m e m a g e r ência primitiva já no p e r íodo m a n u - fatureiro, "visto que a c r i a ç ã o de uma força de trabalho livre exigia m é todos coercitivos para h a b i t u a r os empregados às suas t a refas e m a n t ê-los trabal h a n d o durante dias e anos".

Esta forma de g e r ência para M A R X é necessariamente d e s p ó ­ tica pela necess i d a d e de r e s p o n d e r à três elementos básicos:

1. O p r o c e s s o de trabalho é antes de mais nada u m p r o c e s s o de e x p l o r a ç ã o do trabalho — Ã m e d i d a que o processo de t r a b a ­

lho passa a servir exclus i v a m e n t e ao capitalista ocorre u m a u ­ m e n t o de r e s i s t ê n c i a por parte dos trabalhadores, sendo então necessária a u t i l i z a ç ã o de p r e s s ã o como forma de vencer esta

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r e s i s t ê n c i a e estabelecer uma deter m i n a d a disciplina.

2. C o m a diversificação das f erramentas o trabal h a d o r é d e s p o j a d o de seu ofício, e c o n s e q ü e n t e m e n t e da capac i d a d e de

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d i m i n u i r o ritmo de seu trabalho, uma vez que a c r i a ç ã o de f e r ­ r a m entas e máquinas mais complexas faz c o m que o m esmo execute cada vez m a i s apenas uma o p e r a ç ã o simples. Assim, os meios de p r o d u ç ã o a t u a m frente ao trabal h a d o r como p r o p r i e d a d e alheia,se a c e n t u a n d o então a n e cessidade de u m m a i o r c o n trole que p e r m i ­ ta a v e r i f i c a ç ã o do emprego c o rreto destes meios.

3. Resolução da c ontradição entre a n e c e s s i d a d e de manter u m c a ráter coope r a t i v o e m a n u t e n ç ã o de u m e n c a d e a m e n t o lógico por parte dos trabalhadores no p r o c e s s o de trabalho. Esta c o n ­ tr a d i ç ã o só será resolvida m e d i a n t e o autoritarismo, na medida e m que os trabalhadores já não p o s s u e m o d o m í n i o sobre a o r g a ­ n i z a ç ã o do trabalho, e sim o capital.

Neste primeiro m o mento portanto, os c a p i t a l i s t a s e s t a v a m b u s c a n d o uma teoria e p r á tica de gerência, uma vez que ao c r i a ­ r e m novas relações sociais de produção, e conseqüentemente trans­ f o r m a r e m o modo de produção, d e f r o n t a r a m - s e c o m novos problemas a d m i n i s t r a t i v o s que se d i f e r e n c i a v a m não a penas e m escopo como t a m b é m em tipo, e m relação às c a r a c t e r í s t i c a s dos processos de p r o d u ç ã o anterior.

Esta nova teoria e p r ática de gerên c i a — a gerência c i e n ­ tífica — só se tornou e x e q ü í v e l á p a r t i r de Taylor e m fins do século X I X e início deste século nos E s tados Unidos, em r e s ­ p osta ás m u d anças ocorridas na produção, que se caract e r i z a r a m por: fase m onopolista do capitalismo, a u mento substancial das empresas, fusão do capital b a n c á r i o ao capital industrial a p l i ­ cação sistemática e intencional da c i ência à p r o d u ç ã o e o sur­ g i mento dos Estados Unidos c o m o p o t ê n c i a m u n d i a l .

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Outro fator importante para a implantação da gerência c i ­ en t ífica neste país, diz respeito â incorporação dos t r a b a l h a ­ dores na indústria, que não se deu de forma passiva. "A i m i g r a ­ ção sindicalizada e politizada, conjuntamente c o m a m ã o - d e - o b r a qualificada, e m p r e e n d e r a m u m combate político importante que b l o q u e a v a m as condições de v a lorização e r eprodução do capital no fim do século XIX. Paralelamente, a mesma i m i g r a ç ã o trazia uma massa de trabalhadores p r o venientes do campo que não p o s ­ suía qualquer h abilitação para trabalhar na indústria. 0 tay- lorismo e posteriormente o fordismo adaptaram o p r o c e s s o de tra­ b a l h o tentando vencer o a n t a g o n i s m o operário" (VARGAS, 1979).

No nosso entender, T aylor pode ser consi d e r a d o como o "grande precursor" da g e r ê n c i a científica, uma vez que foi c a ­ paz de identificar os "principais obstáculos" (no seu parecer)

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que interf e r i a m na produção, e a p artir dos mesmos t entar e l i ­ miná-los, para então r e o r g a n i z a r o processo de t r a balho impri- m i n d o - l h e novas formas de controle.

VARGAS (1979) aponta os principais fatores que c o n d i c i o ­ n a r a m o pensam e n t o de Taylor e que lhe p e r m i t i r a m f o r n e c e r à a dmini s t r a ç ã o da p r o dução meios para submeter os o p e r á r i o s aos novos m é todos e ritmos de trabalho:

1. a o rigem de classe a a sólida formação p r o f i s s i o n a l deram-lhe uma nova visão do p r o blema do controle do trabalho;

2. os métodos de s upervisão a d o tavam uma forma de coerção c om base na capacidade e tenacidade do capataz^, deste modo, de discutível eficiência "devido â atitude cruel que era f o r ­

çado a manter com todos que o r o d e a v a m " ;

3. os incentivos (persuasão), por outro lado, não t i n h a m o efeito desejado pois a a d m i n i s t r a ç ã o não p o ssuía o d o m í n i o

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da-quela pequena parte do c o n hecimento que ainda restava ao o p e r á ­ rio, mas que era fundamental na d e t e r m i n a ç ã o do ritmo de t r a b a ­ lho ;

4. d e veria h a v e r uma nova maneira de estruturar a gerência do trabalho para fazer frente ã ação organi z a d a dos operários, pois "há poucos chefes ou capatazes que p o d e m r e s i s t i r ã p r e s ­ são conjunta de todos os homens duma oficina";

5. e, como conseqüência, alguns traços r e m a n e s c e n t e s das corporações de o f í c i o d e v e r i a m ser eliminados".

Taylor p e r c e b e u t ambém claramente, que o c o n trole sobre os operários não p o deria ser e x e rcido apenas e m questões gerais de ordem e disciplina, permit i n d o que os m esmos p o s s u í s s e m o domínio sobre o c o n h e c i m e n t o do p r o c e s s o de trabalho. Reverteu entSo esta situação, ao colocar nas mãos da gerência o c o n trole real do p r o c e s s o de trabalho, pela fixação e c o n t r o l e de cada fase do p r o c e s s o produtivo.

Assim, e m seus "Princípios de A d m i n i s t r a ç ã o Científica", Taylor c o n s eguiu s i stematizar o trabalho imprim i n d o - l h e uma nova organi z a ç ã o dita "científica" através da ordenação, h i e ­ rarquização e d i s p o s i ç ã o das práticas de trabalho, que a n a l i ­ saremos a seguir:

19 Princípio: Separação entre c o n c epção e e x e c u ç ã o apesar do t r a balho o p e rário já ser p a r c e l a d o e h aver uma s e p a ­

ração entre c o n c e p ç ã o a execução, Taylor identi f i c o u como p r i n ­ cipal problema de controle o d e s c o n h e c i m e n t o da a d m i n i s t r a ç ã o empresarial de como realizar o trabalho, visto que ainda r e s t a ­ va ao t r a b a l h a d o r o comando do ritmo de t r a balho e c o n h e c i m e n t o de frações do ofício. Compr e e n d e u que o p r o c e s s o de trabalho deveria ser i n dependente do ofício, t r a d i ç ã o e c o n h e c i m e n t o do

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trabalhador, e entregue t otalmente ãs p o l í ticas gerenciais. P a ­ ra tal, decompôs o p r o cesso de trabalho em seus mínimos e l e ­ mentos, classificando-os, tabulando-os e reduzindo-os ã normas, leis ou formas, p o s s i b i l i t a n d o c o m isto que a gerência p a s s a s ­ se a ter todo o controle da o r ganização do trabalho.

— 29 Princípio: Seleção e treinamentos c ientíficos — uma vez que o trabalho foi d e c o m p o s t o e m seus e l e m entos mais s i m ­ ples e domin a d o pela gerência, a seleção e treina m e n t o dos t r a ­ b a l h a d o r e s se torna uma tarefa mais fácil, na m e d i d a em que o

interesse se volta agora apenas para as h a b i l i d a d e s pessoais específicas para o a t e n d i m e n t o das necessidades produtivas.

— 39 Princípio: P r o g r a m a ç ã o e controle de cada operação e de cada operá r i o — neste princípio, Taylor p ropôs a r e f o r m u ­ lação do papel da p r o g r a m a ç ã o e controle do trabalho^ através do p r é - p l a n e j a m e n t o e p r é - c á l c u l o de todos os e l e m entos do p r o ­ cesso p r o d u t i v o sob a r e s p o n sabilidade de uma e quipe especial da gerência, c r iada e s p e c i a l m e n t e para tal fim. C o m isto, o controle geral sobre o p r o c e s s o de trabalho, b e m como a c o m p r e ­ ensão de seu funcio n a m e n t o p a s s a m a pertencer ã gerência, a l i ­ jando totalmente o t r a b a l h a d o r do c o nhecimento sobre o que faz.

T aylor conse g u i u então, através destes princípios, v i a b i ­ lizar a p r ática da gerência cientí f i c a e elevar o c o n ceito de controle a u m p lano inteiramente novo na medida e m que impôs ao trabalhador uma m a n e i r a rigorosa de execução do trabalho, a t r a ­ vés do controle das decisões tomadas no curso deste trabalho.

Seu papel, segundo B R A V E R M A N (1981), "era tornar ó o n s c i e n - te e sistemática a t e n d ê n c i a antigamente inconsciente da p r o d u ­ ção capitalista. Era para g a r a n t i r que à m edida que os ofícios declinassem, o t r a b a l h a d o r mergul h a s s e ao nível da força de

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trabalho geral e i n d i f e r e n c i a d o , adaptável a uma vasta gama de tarefas elementares, e à medida que a c i ência progredisse, e s ­ tivesse c o n c e n t r a d a nas mãos da gerência".

Se gundo C O RIAT (1976), os princípios u t i l i z a d o s p o r Taylor se c o n s t i t u e m e m u m "sistema aberto", uma vez que p e rmite a i n ­ trodução de novos elementos que se ordenados e c o m b i n a d o s p o d e ­ rão t r a n s f o r m a r - s e e desenvolver-se, c o n s e r v a n d o p o r é m como sistema, suas c a r a c terísticas constantes. Isto é fundamental para entend e r m o s que as novas escolas de a d m i n i s t r a ç ã o c i e n t í ­ ficas surgidas após o "taylorismo" (principalmente as de R e l a ­ ções H u m a n a s ) , não r e p r e s e n t a m a superação do m o d e l o p r o p o s t o p or Taylor na medida e m que m a n t ê m inalterados seus princípios básicos', . . .de controle imprescindíveis a q u a l q u e r indústria e/ou instit u i ç ã o na sociedade capitalista. Estas novas escolas

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apenas r e p r e s e n t a m uma r eadaptação às m u d a n ç a s econômico-sociais, p r o d u z i n d o uma "falsa imagem" de m o d i f i c a ç ã o nas relaç õ e s de trabalho, imprimindo-lhe u m novo c a ráter de relações abertas, p a r t i c i p a t i v a s e humanas entre os trabalhadores, fazendo c o m que os m e s m o s não se s i ntam tão explorados e d e s p o j a d o s do c o n ­ trole sobre o trabalho que executam.

Referências

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