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Inserção no mercado de trabalho e fatores que afetam o rendimento dos imigrantes em São Paulo com origem em Minas Gerais e nordeste

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Academic year: 2021

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* Doutoranda em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: raquelschneider03@hotmail.com

** Professor e pesquisados do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO E FATORES QUE AFETAM O RENDIMENTO DOS IMIGRANTES EM SÃO PAULO COM ORIGEM EM MINAS

GERAIS E NORDESTE

Raquel Aline Schneider*

Fausto Brito**

Resumo: O trabalho tem como objetivo analisar a inserção no mercado de trabalho e

o comportamento de alguns fatores que afetam o rendimento dos imigrantes do Estado de São Paulo que residiam anteriormente em Minas Gerais e na Região Nordeste do Brasil. Os dados são provenientes da amostra do Censo Demográfico de 2010, a partir deles foi realizado o cálculo do Índice de Dissimilaridade de Duncan & Duncan para mensurar a segregação ocupacional entre homens e mulheres migrantes e regressões quantílicas foram estimadas para demonstrar o comportamento dos fatores que influenciam o rendimento ao longo de sua distribuição. Os resultados, além apontarem considerável segregação ocupacional entre os homens e mulheres migrantes, demonstraram que mulheres, pretos e pardos, pessoas com baixo nível de instrução e aqueles sem carteira de trabalho assinada recebem menos do que seus respectivos antagônicos, além de existir maior dificuldade de inserção de mulheres e de pretos e pardos entre aqueles com maiores rendimentos. A variável tempo de migração também atuou de forma positiva no rendimento, porém seu impacto foi pequeno, principalmente entre aqueles com maior rendimento.

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INTRODUÇÃO

A migração faz parte da cultura brasileira e sua relevância remonta a ocupação do território, demonstrando-se importante mesmo antes da formação do trabalho assalariado. Sua importância se dá, em grande parte, por possibilitar um maior acesso ao mercado de trabalho, o que torna relevante uma maior compreensão da situação dos migrantes. Assim, o objetivo do trabalho é analisar a condição dos migrantes que estavam no mercado de trabalho e os fatores que impactam em seus rendimentos.

A escolha dos fluxos migratórios de Minas Gerais para São Paulo e do Nordeste para São Paulo foi feita por sua relevância nacional, tanto histórica como atual. A estabilidade desses fluxos possibilita que os resultados encontrados sejam analisados com maior segurança visto que tais migrações não são fortemente abaladas com pequenas flutuações do mercado de trabalho.

Essa ideia se apoia nas teorias de autoperpetuação da migração que, simplificadamente, afirmam que, em alguns casos, a migração de um indivíduo pode estimular a de outros, que se sentem mais seguros ao migrar dado as informações e o apoio que podem encontrar dos que migraram anteriormente, o que acaba criando uma dinâmica positiva interna própria da migração, contribuindo para que determinados fluxos migratórios se tornem estáveis e que perdurem ao longo do tempo mesmo que as condições econômicas e sociais já não sejam as mesmas que incentivaram os primeiros a migrar (De Haas, 2010).

Ressalta-se que no presente trabalho são analisadas a situação econômica dos migrantes, tanto que são considerados apenas aqueles que se encontravam no mercado de trabalho, mas que a migração envolve todos os aspectos da vida e questões sociais e familiares exercem considerável peso nas decisões migratórias como discutido por Radu (2008), Haug (2008) e outros.

Para atender ao objetivo foram utilizadas informações do Censo Demográfico de 2010 e, além de uma análise descritiva da situação dos migrantes nesse período foi calculado o Índice de Dissimilaridade de Duncan & Duncan para medir a segregação ocupacional entre homens e mulheres e estimadas regressões quantílicas para identificar o comportamento das variáveis que impactam no rendimento dos migrantes desde os que recebem menos até os com maiores rendimentos.

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DEFINIÇÃO DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS

Para analisar a inserção e remuneração dos migrantes no mercado de trabalho é importante a definição de um fluxo específico, considerando que o Brasil possuí dimensões continentais e inúmeros fluxos migratórios com diferentes características. Assim, a opção feita foi por analisar os fluxos migratórios mais consolidados nacionalmente que, de certo modo, justamente por serem mais estáveis, não seriam tão impactados por menores alterações do mercado de trabalho e produziriam resultados mais confiáveis sobre os fatores que impactam na inserção e remuneração dos migrantes.

Na sequência são destacados alguns pontos importantes da evolução dos fluxos migratórios brasileiros com enfoque nas migrações internas. Como primeiro ponto é colocada a transição do país para uma economia de trabalho assalariado no século XIX, quando a economia brasileira estava fortemente baseada na produção de café. Em um primeiro momento a produção cafeeira se desenvolveu aproveitando as condições já existentes na região, principalmente pela grande disponibilidade de mão de obra escrava de Minas Gerais que sofria com a desagregação de sua economia dada a decadência da mineração e também pela transferência de escravos oriundos das regiões que produziam algodão e que já estavam em decadência, com destaque para o Maranhão e, em menor intensidade das regiões do Nordeste que produziam açúcar (FURTADO, 2004).

Graham e Hollanda Filho (1980) realçam o ano de 1930, pois segundo eles novos padrões migratórios surgiram a partir de então: ocorrendo uma grande redução da imigração internacional e grandes migrações internas se formaram, com destaque para as que se deram do Nordeste e do Leste para São Paulo e Sul do país.

Essa alteração dos padrões migratórios em 1930 se deu, principalmente, pela quebra da bolsa de valores norte-americana em 1929 e a consequente crise econômica mundial que afetou fortemente a produção cafeeira do Brasil. Aliado a isso, o Brasil deparava-se com uma grande dívida externa, tais fatores incentivaram que a produção do país enfocasse em seu mercado, sendo a industrialização via substituição de importações o caminho escolhido. A Segunda Guerra Mundial também contribuiu para a modernização dos processos de produção, apressando as atividades industriais e aumentando a oferta de emprego no setor secundário (MARTINE; MCGRANAHAN, 2010).

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As transformações citadas desencadearam efeitos na população, com destaque para a geração de dois fluxos migratórios importantes entre 1940 e 1950: um formado por pessoas com o objetivo de ocupar a fronteira agrícola no Centro-Oeste, na Amazônia e no Estado do Paraná e o outro grande fluxo migratório foi o das áreas rurais para as urbanas (GARCIA, 2002; MARTINE; MCGRANAHAN, 2010).

Na década de 1940 apenas o Nordeste e Minas Gerais foram responsáveis por 65% da variação da emigração acumulada (sendo considerado como migrantes os que não residiam no estado de nascimento) e, na década seguinte, por 70%, principalmente pelo aumento da emigração nordestina, muito devido a uma grande seca que ocorreu da década de 1950 e por melhorias feitas no sistema de transporte. Considerando São Paulo, o grande centro de atração, verificou-se que entre as décadas de 1940 e 1960, do total de imigrantes, 90% tinham como origem a Região Nordeste e o Estado de Minas Gerais (BRITO, 2000)1.

O período de maior expansão das migrações internas brasileiras se deu entre a década de 1960 até o final da década de 1980, principalmente por conta da forte urbanização e tecnificação da agricultura. Já na década de 1960 São Paulo recebia quase 25% dos imigrantes interestaduais (mais de 2,2 milhões), enquanto isso Minas Gerais deparava-se com uma redução de sua emigração e aumento de imigrantes. Na década de 1970, caracterizada por crescimento econômico e geração de emprego, somente São Paulo concentrava mais de 56% do Produto Interno Bruto (PIB) e 37% do emprego gerado no país e, por conta disso, o Estado aumentou ainda mais sua atratividade e passou a receber um terço dos imigrantes interestaduais (2,7 milhões), sendo que o Nordeste e Minas Gerais foram a origem de 60% deles (BRITO, 2000; BRITO; GARCIA; SOUSA, 2004).

Nos anos 1980 os principais fluxos de deslocamento da população se alteraram e antigos locais de atração de migrantes reduziram sua expressão. Houve redução da atratividade do Estado de São Paulo e elevação da permanência das pessoas na região Nordeste, além de surgimento de novos eixos de movimentos pendulares e grande migração de retorno para o Paraná (OLIVEIRA, 2011).

1 A informação disponível nos censos de 1940, 1950 e 1960 sobre as migrações internas refere-se ao

lugar de nascimento. Essa informação limita os resultados dado que não permite saber o ano de chegada do imigrante e nem se ele efetuou mais de uma etapa migratória. O dado disponível é do estoque de migrantes (sobreviventes e que não reemigraram). Esta informação é imprecisa para se estimar o volume da migração, mas a variação dos estoques de migrantes entre dois períodos pode ser uma razoável aproximação dos movimentos interestaduais na década (BRITO, 2000).

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Nos anos 1990 o destaque está na redução dos fluxos direcionados para as regiões de fronteiras do Centro-Oeste e do Norte. Enquanto isso houve uma diversificação dos movimentos migratórios interestaduais no Nordeste; Bahia e Maranhão depararam-se com grandes perdas populacionais, enquanto o Ceará, a Paraíba e o Pernambuco reduziram as suas. A Região Sul também apresentou queda de sua emigração líquida, principalmente por conta dos fluxos migratórios do Paraná, que teve tanto aumento de imigrantes como redução de seus emigrantes (CUNHA; BAENINGER, 2006)

Baeninger (2012) analisou a migração interna recente brasileira com base nos dados dos censos de 2000 e 2010, por meio das questões de data fixa, portanto cobrindo o período de 1995-2000 e 2005-2010, e também utilizou as Pesquisas Nacionais por Amostra Domiciliar (PNADs) para os períodos de 1999-2004, 2001-2006, 2003-2008 e 2004-2009. Constatou-se que houve queda dos volumes migratórios interestaduais, o que não significou uma estagnação das migrações, mas sim desdobramentos e formações de outros arranjos migratórios.

A autora destacou três espaços migratórios na década de 2000, são eles; i) áreas de retenção migratória nacional e regional (o novo polo das migrações), formado pelo estado de Goiás no Centro-Oeste e pela área de expansão da nova fronteira agropecuária; ii) áreas de retenção migratória regional – Mato Grosso no Centro-Oeste, Pará no Norte, Rio Grande do Norte no Nordeste, Espirito Santo no Sudeste e Santa Catarina na região Sul; iii) área de rotatividade migratória nacional – São Paulo e Rio de Janeiro, com destaque para as regiões metropolitanas dos mesmos.

Em suma, o Brasil apresentou e ainda detém diversas fluxos migratórios internos significativos, porém, como destacado no texto, são os fluxos que envolve Nordeste-São Paulo e Minas Gerais-São Paulo os mais relevantes na história e atualidade do país, com São Paulo em destaque em seu espaço migratória de dimensão nacional estabelecido a décadas e, por conta disso, são esses os fluxos migratórios considerados para a análise da inserção e remuneração dos migrantes na presente pesquisa.

MÉTODOS

Índice de Dissimilaridade de Duncan & Duncan

O Índice de Dissimilaridade de Duncan & Duncan (D) é utilizado para mensurar as diferenças ocupacionais entre dois grupos, assim, ele mede a segregação existente

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entre eles. Aqui ele é utilizado para mensurar a segregação ocupacional entre homens e mulheres por posição na ocupação (Oliveira, 1997). O cálculo do índice se dá pela seguinte fórmula: 𝐷 = 0,5 ∑ |(𝐻𝑖 𝐻) − ( 𝑀𝑖 𝑀)| 𝐼 𝑖=1 (1)

Sendo que: 𝐻𝑖 e 𝑀𝑖 representam, respectivamente, a quantidade de homens e mulheres inseridas em cada ocupação 𝑖; 𝐻 e 𝑀 representam o total de homens e mulheres. As ocupações escolhidas foram: empregado doméstico com carteira de trabalho assinada; empregado doméstico sem carteira de trabalho assinada; empregado com carteira de trabalho assinada; empregado sem carteira de trabalho assinada; empregador; conta própria e; outros.

O valor obtido pelo cálculo do Índice varia de 0 a 1 e indica o percentual, no caso, de homens e mulheres, que deveriam ser realocados para que a razão por sexo, considerando individualmente cada ocupação, fosse igual à razão da força de trabalho como um todo, o que eliminaria a segregação ocupacional (Oliveira, 1997).

Regressão Quantílica

Regressões quantílicas (originalmente introduzidos por Koenker e Bassett em 1978) podem ser apreendidas como uma extensão das regressões de mínimos quadrados que trabalham com o efeito médio de uma variável na distribuição condicional da variável dependente, dado que elas fornecem uma visão mais completa do efeito das variáveis explicativas na localização, dimensão e forma da distribuição da variável explicada.

As regressões quantílicas são uma resposta a situações em que as variáveis explicativas influenciam a distribuição condicional da variável dependente de diferentes maneiras, por exemplo, expandindo sua dispersão (como nos modelos tradicionais com heterocedasticidade), ampliando ou comprimindo uma das caudas da distribuição ou induzindo a multimodalidade (KOENKER; BASSETT, 2001).

Os quantis correspondem a divisão das observações em partes iguais, ou seja, todas com o mesmo número de observações (por exemplo, um quartil divide as observações em quatro partes iguais). O quintil é a generalização da divisão, que pode assumir qualquer valor, assim, uma regressão quantílica utiliza essa ideia para estimar as funções quantis condicionais: modelos em que quantis da distribuição condicional

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da variável dependente são expressos como funções das variáveis explicativas observadas (KOENKER; BASSETT, 2001).

Utilizando a terminologia de Gama e Hermeto (2017) que guiaram a metodologia do presente trabalho, considera-se (𝑦𝑖 𝑥𝑖), 𝑖 = 1, . . . , 𝑛 uma amostra de

determinada população, onde 𝑥𝑖 é um vetor de variáveis explicativas e 𝑦𝑖 é a variável dependente. O θ-ésimo quantil de y é definido como:

𝐹−1= inf {𝑦: 𝐹(𝑦) ≥ 𝜃 (2)

𝐹 é a função de distribuição não condicionada de 𝑦. Dado que se assume no trabalho uma relação linear entre y e x, tem-se que:

𝑦𝑖 = 𝑥𝑖′𝛽 + 𝑢𝑖 (3) Sendo que β representa um vetor de parâmetros. Com isso os quantis condicionais da distribuição de y podem ser definidos pelos quantis da distribuição dos erros:

Pr (𝑦𝑖 ≤ 𝑦

𝑥𝑖) = 𝐹𝜇𝜃(𝑦 −

𝑥𝑖′𝛽𝜃

𝑥𝑖 ) , 𝑖 = 1, … , 𝑛 (4)

Com a equação acima é possível definir a função quantílica como: 𝑄𝜃(𝑦𝑖⁄ ) = 𝑥𝑥𝑖𝛽

𝜃

𝑖 + 𝐹𝜇−1(𝜃) (5)

Na regressão quantílica, os quantis devem ser analisados como incondicionais, como a solução de um problema de maximização. O estimador 𝛽𝜃 é definido pela seguinte função objetivo (dado que os quantis da regressão quantílica são considerados como incondicionais; como solução de um problema de maximização):

𝑚𝑖𝑛1 𝑛∑𝑖:𝑦𝑖≥𝑥𝑖𝛽𝜃|𝑦𝑖 − 𝑥𝑖𝛽|+ ∑𝑖:𝑦𝑖≥𝑥𝑖𝛽1 − 𝜃|𝑦𝑖 − 𝑥𝑖𝛽|= 𝑚𝑖𝑛 1 𝛽∑ 𝜌𝜃 𝑛 𝑖=1 (𝑦𝑖− 𝑥𝑖𝛽) (6)

A utilização da regressão quantílica mediana tem a vantagem de ser mais robusta aos valores atípicos do que a regressão dos mínimos quadrados, mas o principal motivo do uso de regressões quantílicas é que a estimação dos coeficientes considerando apenas a média pode esconder questões importantes da relação entre as variáveis explicativas e dependente. No trabalho os percentis selecionados para a estimação foram os de 10, 25, 50, 75 e 90 e o modelo utilizado foi:

𝑙𝑤 = 𝛽0+ 𝛽1𝑋 + 𝛽2𝑊 + 𝛽3𝑍 + 𝛽4𝑅 + 𝜇 (7) Sendo que: 𝑙𝑤 é o logaritmo do rendimento mensal no trabalho principal; 𝑋 é um vetor de características pessoais (sexo, cor, idade e se reside em região metropolitana), 𝑊 é um vetor com dummies para cada grau de escolaridade, 𝑍 um

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vetor da posição na ocupação e R é uma variável categoria do tempo de migração. Os dados e as variáveis utilizadas são melhores descritos na sequência.

Dados

Para a realização do trabalho foram utilizados os microdados do Censo Demográfico de 2010. Os microdados são o menor nível de desagregação dos dados dessa pesquisa e foram aplicadas a uma amostra significativa da população. As perguntas bases do Censo que conduzem o presente estudo são referentes a migração. Há dois tipos de informações sobre a migração interna na amostra: uma conhecida como data fixa, na qual é determinada uma data no passado, no caso 5 anos atrás, e com base nisso o entrevistado deve responder se residia, naquela época, em outro município ou Unidade da Federação (UF) que não a de residência em 2010; enquanto o outro tipo de informação é denominado de última etapa, sendo que é perguntado para o entrevistado que migrou qual era o seu município ou UF de residência anterior, sem que seja fixada uma data.

Como um dos motivos do trabalho é verificar o impacto do tempo de moradia no município, ou seja, o tempo de migração na remuneração dos migrantes a informação escolhida para definir a migração foi a de última etapa, ou seja, aquela que defini o local de residência anterior. Combinada a informação de última etapa se tem a informação sobre o tempo de residência no município, que varia de 0 até 9 anos, portanto estará sendo considerada migrações tanto que ocorreram no próprio ano de 2010 como até aquelas que foram feitas no ano de 2001.

Assim, são definidos como migrantes nesse trabalho aqueles que não residiam no Estado de São Paulo na data de realização do Censo e que, em algum momento anterior, entre o período de 2001 e 2010, declararam ter residido no Estado de Minas Gerais ou em algum estado da Região Nordeste. Cabe destacar que a informação e resultados obtidos serão referentes apenas aos sobreviventes, no sentido de que não poderão ser feitas considerações sobre aqueles que morreram e também daqueles que imigraram para São Paulo e que tinham como origem Minas Gerais e Nordeste e que acabaram reemigrando para outra localidade antes da realização do Censo.

Alguns recortes sobre a amostra foram realizados no trabalho para analisar a situação dos migrantes no mercado de trabalho. Primeiro foram mantidas apenas as pessoas que, na data de realização do Censo (que teve como referência o dia 1º de agosto de 2010), tinham entre 15 e 65 anos para coincidir com a População em Idade

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Ativa (PIA). Além disso, aqueles que estavam dentro dessa faixa de idade, mas que quando migraram ainda não tinham 15 anos foram excluídos, dado que o foco do trabalho é analisar a relação econômica da migração.

Também foram considerados apenas os com rendimento positivo já que o objetivo é analisar os migrantes no mercado de trabalho. Outro recorte foi a exclusão daqueles que não informaram o nível de instrução, pois essa variável é chave na análise do rendimento, aqueles com menos de 20 anos é que declararam ter concluído o ensino superior também foram retirados por conta da grande probabilidade de serem informações equivocadas. Referente a cor foram mantidos apenas pretos, pardos e brancos, os demais (amarelos, indígenas e que não declararam a cor) foram excluídos por sua baixa representação na amostra. Com isso a amostra utilizada teve 770.368 observações (65.406 sem considerar a expansão da amostra).

A variável de rendimento utilizada foi a do rendimento mensal no trabalho principal em reais e as variáveis controle foram: dummy de sexo, com valor 0 para homens e 1 para mulheres; dummy de cor, com valor 0 para pretos e pardos e 1 para brancos; dummy de região metropolitana, com valor 1 para os que residiam em alguma região metropolitana de São Paulo e 0 para os demais; idade; idade ao quadrado; uma variável categórica do tempo de migração, para a migração que ocorreu entre 0 e 3 anos com relação a 2010, entre 4 e 6 anos e entre 7 e 9 anos; uma variável categórica com relação a posição na ocupação, sendo as categorias empregado doméstico com carteira de trabalho assinada, empregado doméstico com carteira de trabalho assinada, empregado com carteira de trabalho assinada, empregado sem carteira de trabalho assinada, empregador, conta própria ou outros e; uma categórica por nível de instrução dividida entre aqueles sem instrução e fundamental incompleto, fundamental completo e médio incompleto, médio completo e superior incompleto e superior completo.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Os resultados iniciam com a análise das estatísticas descritivas das informações dos imigrantes em São Paulo que anteriormente residiam no Estado de Minas Gerais ou nos estados do Nordeste, na sequência são tratados os resultados do Índice D e as regressões quantílicas. Por fim são traçadas algumas considerações finais.

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Estatísticas Descritivas

As informações da Tabela 1 demonstram que o rendimento no trabalho principal, na média, foi de quase R$ 1.050,00, destacando que não foram incluídos na amostra aqueles que não recebiam nenhum rendimento e que o maior rendimento observado foi de R$ 170.000,00 por mês. Na composição por sexo, as mulheres representam apenas 35% da amostra e, com relação a cor declarada, 41% eram brancos e o restante de cor preta ou parda. A idade média era de 30,9 anos. A princípio pode aparentar ser uma média alta considerando a seletividade etária da migração, no entanto isso deve-se ao recorte de idade adotado, que vai de 15 a 65 anos, sem ele a idade média seria menor.

Do total, 55% moravam em alguma região metropolitana de São Paulo e apenas 7% declararam ter nível superior completo, enquanto que 45% não tinham instrução ou apenas o nível fundamental incompleto, aqueles com nível fundamental completo e médio incompleto representavam 21% do total e os com nível médio completo e superior incompleto eram 27%.

Tabela 1 – Distribuição da amostra de migrantes segundo variáveis – 2010

Variável Média

Rendimento mensal do trabalho principal (R$) 1.049,50

Mulheres 0,35

Brancos 0,41

Idade em anos 30,88

Reside na Região Metropolitana 0,55

Sem Instrução e Fundamental Incompleto 0,45

Fundamental Completo e Médio Incompleto 0,21

Médio Completo e Superior Incompleto 0,27

Superior Completo 0,07

Empregado Doméstico Com Carteira de Trabalho Assinada 0,06 Empregado Doméstico Sem Carteira de Trabalho Assinada 0,05

Empregado Com Carteira de Trabalho Assinada 0,64

Empregado Sem Carteira de Trabalho Assinada 0,12

Empregador 0,01

Conta Própria 0,11

Outros 0,01

Migrou até 3 anos atrás 0,52

Migrou de 4 a 6 anos atrás 0,27

Migrou de 7 a 9 anos atrás 0,21

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

Referente a posição na ocupação, a grande maioria era empregado com carteira de trabalho assinada – 64% do total – seguido pelos empregados sem carteira de trabalho assinada e pelos que eram conta própria, respectivamente 12% e 11% (as demais posições não chegaram a concentrar, individualmente, 10% do total). Com

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relação ao tempo de migração, a maioria dos migrantes, 52%, residiam no município a menos de 3 anos (referente ao ano de 2010), seguido dos que residiam entre 4 e 6 anos e 7 a 9 anos, respectivamente, 27% e 21% do total.

A Tabela 2 dispõe de dados sobre as regiões de origem e o destino dos migrantes, para o total e por sexo. Além de Minas Gerais o Nordeste foi agrupado em três grupos para facilitar a análise: o primeiro é composto por Sergipe (SE) e Bahia (BA); o segundo pelos estados de Ceará (CE), Rio Grande do Norte (RN), Paraíba (PB), Pernambuco (PE) e Alagoas (AL) e; o último formado pelo Maranhão (MA) e Piauí (PI).

Em todos os casos, independente da origem ou do sexo do migrante a maior parcela deles destinaram-se as regiões metropolitanas de São Paulo (tanto a Região Metropolitana (RM) de São Paulo como a RM da Baixada Santista e RM de Campinas). Em todos os casos os migrantes com origem em Minas Gerais foram os menos concentrados nas RMs e, independente da região de origem, as mulheres dirigiram-se mais para as RMs do que os homens: 75,5% contra 67,3%.

Tabela 2 – Origem e destino dos migrantes – 2010

Total Destino

Não Metropolitano % do total Metropolitano % do total Total

Origem MG 78.537 46,26 91.253 53,74 169.790 SE/BA 57.356 23,41 187.687 76,59 245.043 MA/PI 27.973 30,25 64.507 69,75 92.480 CE/RN/PB/PE/AL 64.189 24,40 198.866 75,60 263.055 Total 228.055 29,60 542.313 70,40 770.368 Homens Destino

Não Metropolitano % do total Metropolitano % do total Total

Origem MG 48.565 49,64 49.271 50,36 97.836 SE/BA 39.184 26,16 110.626 73,84 149.810 MA/PI 21.816 35,20 40.165 64,80 61.981 CE/RN/PB/PE/AL 46.414 27,84 120.299 72,16 166.713 Total 155.979 32,75 320.361 67,25 476.340 Mulheres Destino

Não Metropolitano % do total Metropolitano % do total Total

Origem MG 29.972 41,65 41.982 58,35 71.954 SE/BA 18.172 19,08 77.061 80,92 95.233 MA/PI 6.157 20,19 24.342 79,81 30.499 CE/RN/PB/PE/AL 17.775 18,45 78.567 81,55 96.342 Total 72.076 24,51 221.952 75,49 294.028

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

Pelo Gráfico 1, que apresenta a pirâmide etária dos migrantes considerando sua idade em 2010, são realçadas duas questões já comentadas. A primeira é a predominância de homens na migração e, a segunda, a seletividade por idade característica do fenômeno da migração, com uma grande concentração dos

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migrantes nas faixas etárias de 20 a 24 anos e 25 a 29 anos (quase 50% dos migrantes).

A seletividade etária ocorre porque existe uma maior propensão a migração em determinadas etapas do ciclo de vida, como na época da entrada no mercado de trabalho e do casamento, eventos que acontecem geralmente em idades mais jovens (LEE, 1980). Já a menor migração de mulheres pode ser vista como reflexo da sociedade, em que os homens são mais encorajados a migraram, a serem mais independentes e aventureiros, enquanto que as mulheres crescem com laços e responsabilidades maiores com suas famílias (CHAVES, 2004; ASSIS, 2007; PERES E BAENINGER, 2012).

Gráfico 1 – Pirâmide etária dos migrantes referente a idade na data de referência do Censo - 2010

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

Com relação a posição na ocupação (Tabela 3) os resultados mostram uma grande concentração de migrantes empregados com carteira de trabalho assinada, eram 64% do total. Considerando a origem e apenas os homens, chegaram a representar de 68,4% dos originados em Minas Gerais até mais de 81% dos com origem no Maranhão e Piauí, já entre as mulheres a menor concentração das empregadas com carteira assinada é das originadas do Sergipe e Bahia – 49,2%, e vai até as originadas do Maranhão e Piauí, com uma concentração de 55,4%.

A participação dos migrantes com emprego sem carteira assinada foi de 12,35% do total, sem grandes variações por região de origem ou sexo. Os empregadores e com outras posições de ocupação não representaram,

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individualmente, mais de 2% do total, enquanto os de conta própria eram mais de 11% (12,7% considerando os homens e 9,4% as mulheres).

O último comentário é referente as posições de ocupação de trabalhadores domésticos, com 5,6% do total de migrantes no trabalho doméstico com carteira de trabalho assinada em 2010 e 5,1% sem carteira de trabalho. Obviamente tal categoria tem diferenças consideráveis entre os sexos, enquanto representava, entre os migrantes homens, respectivamente 0,9% e 0,5% do total, entre as mulheres era de 13,4% e 12,5%.

Tabela 3 – Distribuição dos migrantes por categoria de ocupação e região de residência anterior Posição na Ocupação Região de Residência Anterior

MG SE/BA MA/PI CE/RN/PB/PE/AL Total

Total de Migrantes

Trab. domésticos com carteira 5,29 7,20 4,57 4,79 5,64 Trab. domésticos sem carteira 4,35 6,09 3,66 5,13 5,09 Empregado com carteira 61,28 62,61 72,59 64,54 64,17 Empregado sem carteira 12,20 12,14 11,08 13,08 12,35

Empregador 1,11 0,42 0,18 0,45 0,55 Conta Própria 13,64 10,96 7,50 11,29 11,25 Outros 2,13 0,59 0,42 0,72 0,96 Total 100 100 100 100 100 Homens Migrantes

Trab. domésticos com carteira 0,78 1,17 0,52 0,80 0,88 Trab. domésticos sem carteira 0,54 0,57 0,15 0,51 0,49 Empregado com carteira 68,39 71,11 81,07 72,19 72,22 Empregado sem carteira 12,85 13,10 10,15 13,12 12,67

Empregador 1,18 0,44 0,16 0,50 0,58 Conta Própria 14,63 13,17 7,67 12,19 12,41 Outros 1,63 0,43 0,28 0,70 0,75 Total 100 100 100 100 100 Mulheres Migrantes

Trab. domésticos com carteira 11,42 16,69 12,79 11,69 13,36 Trab. domésticos sem carteira 9,53 14,76 10,80 13,12 12,53 Empregado com carteira 51,61 49,24 55,35 51,30 51,13 Empregado sem carteira 11,32 10,61 12,98 13,02 11,82

Empregador 1,02 0,38 0,24 0,37 0,52

Conta Própria 12,29 7,47 7,15 9,73 9,36

Outros 2,81 0,84 0,69 0,77 1,28

Total 100 100 100 100 100

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

A Tabela 4 apresenta a distribuição percentual dos migrantes por nível de instrução e por região de residência anterior. Cabe destacar que as mulheres têm, em média, maior nível de instrução do que os homens; 35,7% estavam na categoria de médio completo e superior incompleto e quase 9% com superior completo, sendo que os valores para os homens foram, respectivamente de 22,7% e 5,1%.

Quando analisada a região de residência anterior é possível perceber considerável diferença no nível de instrução, principalmente dos originados em Minas Gerais. A maior diferença está nos migrantes com nível superior completo, são 16,4%

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do total dos originados em Minas Gerais (19,7% considerando apenas as mulheres e 16,4% os homens), enquanto que os das outras regiões variam de 2,8% até 4,2%.

Tabela 4 – Distribuição percentual dos migrantes por nível de instrução e região de residência anterior Nível de Instrução Região de Residência Anterior

MG SE/BA MA/PI CE/RN/PB/PE/AL Total

Total de Migrantes

Sem instrução e fund. incompleto 31,97 46,26 50,80 50,04 44,95 Fund. completo e médio inc. 18,44 21,92 22,93 21,77 21,22 Médio comp. e superior inc. 33,20 28,16 23,49 23,96 27,28

Superior completo 16,39 3.66 2,77 4,23 6,55

Total 100 100 100 100 100

Migrantes Homens

Sem instrução e fund. incompleto 36,47 51,32 57,05 56,46 50,81 Fund. completo e médio inc. 19,34 22,36 22,28 21,27 21,35 Médio comp. e superior inc. 30,23 23,52 18,70 19,04 22,70

Superior completo 13,96 2,80 1,97 3,24 5,13

Total 100 100 100 100 100

Migrantes Mulheres

Sem instrução e fund. incompleto 25,85 38,30 38,08 38,94 35,44 Fund. completo e médio inc. 17,21 21,23 24,25 22,64 21,02 Médio comp. e superior inc. 37,24 35,46 33,24 32,47 34,69

Superior completo 19,70 5,01 4,42 5,95 8,85

Total 100 100 100 100 100

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

A Tabela 5 tem como objetivo principal demonstrar as diferenças na remuneração média por região de residência anterior dos migrantes, além de demonstrar essas diferenças por nível de instrução e sexo. Destaca-se que a remuneração média aumenta conforme maior o nível de instrução dos migrantes e que os homens recebem mais do que as mulheres, independentemente do nível de instrução considerado ou região de residência anterior. Ressalta-se que as mulheres que recebem, na média, remuneração maior do que R$1.000,00 são apenas aquelas com nível superior completo, enquanto que a média salarial dos homens com nível médio completo e superior incompleto já é superior a esse valor em todos os casos.

A remuneração média total foi de R$ 1.119,88, com diferença significativa entre os sexos, enquanto os homens migrantes recebiam R$ 1.242,14, as mulheres recebiam R$ 921,83. Separando por nível de instrução é visível a evolução da remuneração média, tanto dos migrantes homens como das mulheres; os homens com menor nível de instrução recebiam, em média, R$ 906,68 e os com maior nível R$ 5.487,14. Porém, entre as mulheres, os valores foram muito inferiores: R$ 624,02 e R$ 2.973,87, respectivamente. No geral são os migrantes originados de Minas Gerais com maior remuneração média em todos os níveis de instrução.

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Tabela 5 – Remuneração média no trabalho principal (R$ por mês) por nível de instrução e região de residência anterior

Remuneração Média no Trabalho Principal

Região de Residência Anterior

MG SE/BA MA/PI CE/RN

PB/PE/AL Total Total de

Migrantes

Sem instrução e fund. Inc. 878,08 783,19 830,97 828,07 821,61 Fund. completo e médio inc. 975,35 853,80 864,44 857,21 879,65 Médio comp. e superior inc. 1.300,05 975,91 921,28 986,42 1.060,37 Superior completo 4.340,11 4.029,83 3.476,18 4.115,57 4.191,65

Total 1.603,58 971,61 933,26 1.011,41 1.119,88

Homens Migrantes

Sem instrução e fund. Inc. 996,24 856,29 905,79 914,23 906,68 Fund. completo e médio inc. 1.097,85 952,91 967,83 955,63 982,86 Médio comp. e superior inc. 1.601,18 1.170,40 1.057,72 1.172,09 1.276,64 Superior completo 5.510,97 5.414,25 4.521,92 5.701,32 5.487,14 Total 1.828,98 1.079,22 1.019,08 1.127,07 1.242,14 Mulheres

Migrantes

Sem instrução e fund. Inc. 651,42 629,10 603,19 611,94 624,02 Fund. completo e médio inc. 788,18 689,57 671,38 697,18 709,84 Médio comp. e superior inc. 967,64 772,99 765,34 798,05 831,05 Superior completo 3.211,97 2.813,53 2.531,29 2.622,51 2.973,87

Total 1.297,10 802,33 758,85 811,27 921,83

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

Também se analisou do tempo de migração, aqui a ideia é de que o tempo de migração tem comportamento semelhante a variável experiência, quanto maior o tempo de migração maior seria a remuneração, dado que o migrante teve mais tempo para se adaptar ao novo local de moradia e também aumenta a probabilidade de estar empregado por um período maior.

Assim, na Tabela 6 são apresentadas as informações sobre remuneração média no trabalho principal por tempo de migração. De modo geral é possível visualizar um aumente no rendimento médio dos migrantes quanto maior o tempo de migração. Se considerado o total de migrantes houve um aumento da remuneração média de R$ 68,40 daqueles que residem no município a menos de 4 anos comparando com aqueles que já residem no município entre 7 a 9 anos.

Tabela 6 – Remuneração média no trabalho principal (R$ por mês) por tempo de migração Remuneração Média no Trabalho Principal Tempo de Residência no Município

Até 3 anos 4 a 6 anos 7 a 9 anos Total

Total de Migrantes 1.095,11 1.133,87 1.163,51 1.119,88

Homens Migrantes 1.198,65 1.259,40 1.342,36 1.242,14

Mulheres Migrantes 903,40 946,84 929,45 921,83

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

Quando analisada apenas as mulheres não ocorre o mesmo, elas apresentaram um aumento de apenas de R$ 26,05, sendo que o maior salário médio foi daquelas que declararam ter migrado entre 4 e 6 anos e não entre 7 e 9 anos. Por

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outro lado, a média foi puxada pelos homens, que apresentaram uma diferença de R$ 143,71 entre as extremidades.

Já para analisar os diferenciais da inserção dos homens e mulheres migrantes no mercado de trabalho foi utilizado o Índice D, que foi calculado para o total e por região de residência anterior dos migrantes. Aqui o índice informa a segregação ocupacional entre os homens e as mulheres migrantes considerando a posição de ocupação. O valor do índice indica qual o percentual de homens e mulheres que deveria ser realocado para que a razão de sexo de cada ocupação fosse igual a razão de sexo da força de trabalho (dos migrantes) como um todo.

Os resultados indicaram considerável segregação ocupacional, sendo que, na média, 25% dos homens e mulheres migrantes teriam que ser realocados para eliminar a segregação ocupacional, com um valor maior ainda, 30%, entre os originados dos estados de Sergipe e Bahia, seguido pelos originados do Maranhão e Piauí com um valor de 26%, os com origem no restante do Nordeste com 24% e o menor valor, 21%, dos originados de Minas Gerais. Tais valores altos foram puxados, principalmente, pela grande concentração de mulheres trabalhando como empregadas domésticas e, por outro lado, a maior concentração de homens trabalhando como empregados com carteira de trabalho assinada.

Regressão Quantílica

A Tabela 7 traz os resultados das regressões quantílicas para os percentis de 10, 25, 50, 75 e 90, além do resultado da estimação pela média por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). Como o esperado e conhecido da literatura, ser mulher acarreta em um impacto negativo nos rendimentos e, quanto maior o percentil maior é esse impacto. Esse fenômeno é conhecido na literatura como teto de vidro (glass

ceiling) e representa barreiras sociais que as mulheres encontram para ocupar cargos

de maiores rendimentos (ver WEYER, 2007).

A cor apresenta comportamento semelhante, ser migrante de cor branca impacta positivamente na remuneração em comparação com migrantes de cor parda e preta e o diferencial aumenta ao longo dos percentis o que indica maior dificuldade dos pretos e pardos migrantes estarem nas categorias de maior rendimento. Com relação ao nível de instrução do migrante, quanto maior mais impacta positivo é sentido em sua remuneração, também é possível observar que, quando considerados os percentis maiores a educação tem maior impacto do que quando se olha para os

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percentis menores, dado que, em sua maioria, empregos com remunerações menores não exigem altos níveis de instrução e por isso seu efeito é menor.

Tabela 7 – Resultado da regressão quantílica

Variável Percentil MQO

10 25 50 75 90 Sexo -0,208*** (0,0070) -0,261*** (0,0040) -0,302*** (0,0040) -0,357*** (0,0049) -0,412*** (0,0064) -0,332*** (0,0013) Cor 0,038*** (0,0055) 0,034*** (0,0034) 0,042*** (0,0029) 0,061*** (0,0042) 0,115*** (0,0078) 0,095*** (0,0012) Idade 0,023*** (0,0023) 0,025*** (0,0009) 0,025*** (0,0013) 0,030*** (0,0022) 0,042*** (0,0021) 0,036*** (0,0004) Idade² -0,000*** (0,0000) -0,000*** (0,0000) -0,000*** (0,0000) -0,000*** (0,0000) -0,000*** (0,0000) -0,000*** (0,0000) Metropolitano 0,043*** (0,0055) 0,022*** (0,00430 0,011*** (0,0030) 0,000 (0,0052) 0,025*** (0,0069) 0,029*** (0,0013) Nível de instrução (omitida:

sem inst. e fund. Incompleto)

Fund. completo e médio inc. 0,095*** (0,0097) 0,074*** (0,0043) 0,087*** (0,0051) 0,096*** (0,0064) 0,127*** (0,0120) 0,111*** (0,0016) Médio completo e superior inc. 0,1573***

(0,0078) 0,147*** (0,0030) 0,164*** (0,0047) 0,221*** (0,0076) 0,307*** (0,0134) 0,241*** (0,0015) Superior completo 0,5545*** (0,0184) 0,797*** (0,0164) 1,138*** (0,0183) 1,542*** (0,0291) 1,735*** (0,0276) 1,235*** (0,0026) Posição na ocupação (omitida:

trab. doméstico com carteira)

Trab. doméstico sem carteira -0,870*** (0,0170) -0,535*** (0,0087) -0,254*** (0,0162) -0,272*** (0,0165) -0,232*** (0,0217) -0,417*** (0,0035) Trabalhador com carteira 0,016**

(0,0065) 0,050*** (0,0047) 0,061*** (0,0076) 0,016 (0,0147) 0,032* (0,0217) 0,014*** (0,0027) Trabalhador sem carteira -0,402***

(0,0147) -0,202*** (0,0094) -0,126*** (0,0096) -0,126*** (0,0147) -0,090*** (0,0192) -0,198*** (0,0030) Empregador 0,254*** (0,0684) 0,508*** (0,0774) 0,877*** (0,0685) 1,034*** (0,0603) 1,395*** (0,1284) 0,801*** (0,0082) Conta-própria -0,359*** (0,0234) -0,138*** (0,0084) 0,028** (0,0125) 0,129*** (0,0211) 0,290*** (0,0196) -0,016*** (0,0031) Outros 0,134*** (0,0343) 0,243*** (0,0374) 0,372*** (0,0595) 0,457*** (0,0664) 0,553*** (0,0896) 0,299*** (0,0066) Tempo de migração (omitida:

até 3 anos) 4 a 6 anos 0,015** (0,0060) 0,016*** (0,0045) 0,016** (0,0047) 0,013*** (0,0045) 0,001 (0,0080) 0,012*** (0,0014) 7 a 9 anos 0,023** (0,0099) 0,020*** (0,0044) 0,020*** (0,0045) 0,031*** (0,0056) 0,014* (0,0073) 0,013*** (0,0016) Constante 5,843*** (0,0373) 5,988*** (0,0123) 6,151*** (0,0224) 6,293*** (0,0407) 6,237*** (0,0434) 5,957*** (0,0071)

Pseudo R² e R² para MQO 0,1585 0,1409 0,1640 0,2225 0,3145 0,3823

Nota: *** p<0,01, ** p<0,05, * p<0,1. Em parênteses os erros-padrão.

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 (2018).

Como o esperado a idade tem um efeito positivo nos rendimentos que, inclusive, aumenta juntamente com os percentis, porém, a partir de determinada idade também é esperado um efeito negativo da idade, o que é captado pela inclusão da idade ao quadrado no modelo. Tal efeito foi captado e significativo, porém muito pequeno. Residir na região metropolitana tem impacto positivo no rendimento, principalmente para os que se encontravam nos 10% mais inferior da distribuição.

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Com relação a posição na ocupação ser empregado doméstico sem carteira de trabalho assinada afeta negativamente o rendimento quando comparado a mesma posição com carteira de trabalho assinada. O mesmo ocorre para os demais empregados sem carteira, porém o impacto negativo se reduz com o aumentar dos percentis. Ser trabalhador com carteira de trabalho assinada impacta positivamente no rendimento, em especial na mediana, ser empregador também tem forte efeito positivo e aumenta conforme se aumenta os percentis. Enquanto que ser conta própria tem impacto negativo nos rendimentos quando considerados os percentis de 10 e 25 e passa a ter efeito positivo e crescente nos demais.

Por fim, tem-se o tempo de migração como fator determinante do rendimento. Em sua maioria os coeficientes foram significativos e positivos (apenas no percentil 90 com relação aqueles que migraram entre 4 e 6 anos o coeficiente não foi significativo considerando um nível de confiança de 90%). Sendo assim, o tempo de migração é positivamente relacionado ao rendimento, porém seu impacto é pequeno, principalmente considerando os migrantes que estavam na ponta superior da remuneração.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho teve como objetivo analisar a situação dos migrantes de Minas Gerias-São Paulo e Nordeste-São Paulo, no mercado de trabalho, por meio dos dados do Censo Demográfico de 2010. Foram feitos uma análise descritiva dos dados, o cálculo do Índice de Dissimilaridade de Duncan & Duncan (D) para mensurar segregação ocupacional entre os homens e mulheres migrantes e, a aplicação de regressões quantílicas para identificar o comportamento dos fatores que influenciam o rendimento dos migrantes nos diferentes percentis.

O Índice D mostrou que, na média, deveria ocorrer uma realocação de 25% dos homens e mulheres entre as categorias de ocupação para que a segregação ocupacional fosse eliminada, indicando considerável segregação ocupacional entre os homens e as mulheres migrantes. Esse valor considerável foi obtido, principalmente, pela grande concentração de mulheres trabalhando como empregadas domésticas e também pela grande concentração dos homens migrantes trabalhando como empregados com carteira de trabalho assinada.

A diferente inserção das mulheres migrantes no mercado de trabalho pode influenciar a migração das mesmas, já que as mulheres têm maior probabilidade de

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atuarem em categorias de menor remuneração. Questão reforçada quando considerado a distribuição por sexo e por região de origem dos migrantes, já que foram os migrantes originados de Minas Gerais que apresentaram maior equilíbrio na razão de sexo, sendo eles também os com maior nível de instrução o que provavelmente contribui para amenizar a segregação ocupacional (seu Índice D foi de 21%).

Os resultados das regressões quantílicas vão de acordo como esperado, de modo geral, as mulheres recebem menos do que os homens, os pretos e pardos menos do que os brancos e os indivíduos mais instruídos tem maior remuneração. Ser empregado com carteira de trabalho assinada ou empregador teve impacto positivo na remuneração comparando com os empregados domésticos com carteira. De modo geral as variáveis utilizadas tiveram maiores impactos nos maiores percentis o que indica maior dificuldade dos migrantes pretos e pardos e também das mulheres em se inserirem em ocupações de maior remuneração.

Outra contribuição do trabalho foi a inclusão do tempo de migração como uma variável controle do rendimento. O objetivo foi verificar se existe ganho nos rendimentos conforme aumenta o período de residência no local de destino, dado que, quanto maior o tempo de migração, maior assimilação teria o migrante no novo mercado de trabalho e maior seria sua experiência. Os resultados apontaram que a variável tem um efeito positivo no rendimento dos migrantes, porém esse efeito é pequeno e ainda menor entre os que se encontram no topo da distribuição, indicando que o ganho com o tempo de residência no local de destino entre eles é pouco.

Como trabalhos futuros sobre a questão pode-se citar os que analisam os diferenciais entre migrantes e não migrantes, o que poderá trazer informações sobre a seletividade, se os migrantes em questão são ou não mais bem remunerados do que os não migrantes. Outra questão importante é avaliar ao longo de um tempo maior a situação dos migrantes no mercado de trabalho para compreender melhor a relação entre as migrações econômicas e as alterações no mercado de trabalho.

Por fim, deve-se destacar que a análise descritiva dos dados demonstrou que os migrantes originados de Minas Gerais têm um perfil diferenciado dos demais, possuindo, por exemplo, maior nível de instrução e maior percentual de brancos o que contribui para o maior salário médio observado, com isso cabe refletir se uma análise separada dos dois fluxos não seria mais vantajosa.

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