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As sequências narrativas em sentença judicial

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA. VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO. AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL. NATAL / RN 2017.

(2) VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO. AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL. Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – PPgEL/UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem, na área de concentração de Estudos Linguísticos do Texto.. Orientador: Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto. NATAL / RN 2017.

(3) VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO. AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL. Relatório de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-graduação em Estudos da linguagem (PPgEL), Departamento de Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como um dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Estudos. da. Linguagem.. Avaliado. em. ___/___/____. pela. seguinte. banca. examinadora:. ___________________________________________________________________ Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto Presidente / Orientador – UFRN. ___________________________________________________________________ Profa Dra Josilete Alves Moreira de Azevedo Examinadora Interna – UFRN. ___________________________________________________________________ Profª Dra Maria Eliete de Queiroz Examinadora Externa – UERN. ___________________________________________________________________ Profa Dra Maria das Graças Soares Rodrigues Examinadora interna (Suplente) – UFRN. ___________________________________________________________________ Profª Drª Rosangela Alves Dos Santos Bernardino Examinadora Externa (Suplente) – UERN.

(4) Dedico este trabalho à maior parte de mim: minha esposa Marília Cardoso.

(5) AGRADECIMENTOS. Toda a minha gratidão ao autor da minha vida e razão do meu viver, Deus.. Ao amor da minha vida, Marília Cardoso, que em todo o tempo está comigo.. À minha família.. Ao professor João Neto pela confiança e incentivo, aliás, por tudo.. Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos que deram apoio e, em especial, ao amigo Geonilson por simplesmente tudo.. Às professoras Josilete Alves e Eliete Queiroz pelas valiosíssimas contribuições nos exames de qualificação e de defesa..

(6) Somos tão adeptos da narrativa que ela parece ser quase tão natural quanto a própria linguagem. Jerome Bruner.

(7) RESUMO. Neste trabalho, à luz da Análise Textual dos Discursos – abordagem desenvolvida por Adam (2011) – propomos estudar a estrutura composicional do gênero sentença judicial com foco na noção de plano de texto e de sequências textuais narrativas que se realizam em seu relatório – parte que contém uma espécie de sinopse do processo. Com o objetivo principal de analisar como essas sequências ocorrem, procuramos identificar quais elementos textuais e discursivos são utilizados em sua tessitura, descrever esses elementos textuais e os seus encadeamentos na organização das sequências narrativas, além de interpretar o papel dessas sequências textuais para a estruturação e a composição do gênero. De forma mais ampla, nossa pesquisa está fundamentada nos pressupostos gerais da Linguística Textual em autores como Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 2013), Marcuschi (2002; 2008; 2012) entre outros. O corpus desta pesquisa é composto por uma sentença de natureza criminal, retirada do Banco de Sentenças do site da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). Metodologicamente, essa pesquisa apresenta aspecto documental e se orienta pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo, apresentando um caráter qualitativo e descritivo. Os resultados mostram que o relatório da sentença não se limita apenas a listar ou enumerar as ações praticadas pelas partes envolvidas no processo, mas possui um alto grau de narrativização, apresentando todos os momentos de uma sequência narrativa e que, em função das narrativas de nível global, existem as narrativas menores, as chamadas. narrativas. encaixadas,. as. quais. desempenham. um. importante. mecanismo de contextualização e detalhamento de ações relatadas.. Palavras-chave: Análise Textual dos Discursos. Discurso jurídico. Sentença Judicial. Sequência Narrativa..

(8) ABSTRACT. In the present work, under the light of the Textual Discourse Analysis – approach developed by Adam (2011) – we propose to study the compositional structure of the genre judicial sentence, with a focus on the notion of text plan and on the narrative textual sequences that materialize in its report – part that contains a kind of synopsis of the process. With the main objective of analyzing how these sequences occur, we try to identify which textual and discursive elements are used in their structure, to describe these textual elements and their threads in the organization of narrative sequences, besides to interpret the function of these textual sequences for structuring and composition. In a broader sense, this research is grounded on the general propositions of the Text Linguistics in authors like Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 2013), Marcuschi (2002; 2008; 2012) among others. The corpus of this research is composed of a single sentence of a criminal nature, extracted from the Sentence Database of the Federal Justice of Rio Grande do Norte (JFRN) website. Regarding the applied methodology, the present research is of documental nature, whilst guided by an inductive-deductive reasoning and being of a qualitative and descriptive character. Methodologically, this research presents a documentary aspect and is guided by the methods of inductive and deductive reasoning, presenting a qualitative and descriptive character. Results indicate that the sentence report does not limit itself only to the listing and enumerating of the actions put into practice by the concerned parties throughout the legal process, but that it possess a high level of narrativization, displaying all components of a narrative sequence. And, because of the narratives at the global level, there are the smaller narratives,. the. so-called. embedded. narratives,. which. play. an. important. contextualization and detailing mechanism of reported actions.. Keywords: Discourse Textual Analysis. Legal discourse. Narrative textual sequence. Judicial sentence..

(9) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. ADF. Análise do Discurso Francesa. ATD. Análise Textual dos Discursos. CPC. Código do Processo Civil. CPP. Código do Processo Penal. GPATD. Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos. JFRN. Justiça Federal do Rio Grande do Norte. L. Linha(s). LT. Linguística de Texto. MPF. Ministério Público Federal. N. Narrativa(s). NE. Narrativa(s) encaixada(s). PF. Polícia Federal. PPgEL. Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem. Pn0. Entrada prefácio. Pn1. Situação inicial (Orientação). Pn2. Nó (Desencadeador). Pn3. Re-ação ou Avaliação. Pn4. Desenlace. Pn5. Situação final. PnΩ. Avaliação final ou Moralidade. UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

(10) LISTA DE FIGURAS E ESQUEMAS. Figura 1. Esquema 4 – Níveis ou planos de análise de discurso e níveis ou planos da análise textual........................................................... 46. Figura 2. Esquema 18 – Limites e núcleo do processo narrativo................. 60. Figura 3. Esquema 19 – Relações simétricas entre as macroproposições narrativas....................................................................................... 64. Figura 4. Esquema 20 – Estrutura narrativa complexa................................. 65. Figura 5. Relações simétricas na NE1.......................................................... 91. Figura 6. Marcadores linguísticos da Pn2 e da Pn4 da N1........................... 96. Esquema 1. Estrutura composicional do relatório da sentença estudada......... 119.

(11) LISTA DE QUADROS. Quadro 1. Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da primeira busca............................................................................................ 72. Quadro 2. Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da segunda busca............................................................................................ 72. Quadro 3. Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da terceira busca............................................................................................ 73. Quadro 4. Plano de texto............................................................................... 79. Quadro 5. Plano de texto e transcrição do relatório da sentença................. 80. Quadro 6. Narrativa global de JGL (N1)........................................................ 84. Quadro 7. Narrativas encaixadas na Situação inicial da narrativa 1............. 86. Quadro 8. Narrativa encaixada 1(NE1) : a primeira condenação de JGL..... 88. Quadro 9. Narrativa encaixada 2 (NE2) : a segunda condenação de JGL... 92. Quadro 10. Resumo da N1.............................................................................. 96. Quadro 11. Narrativa global de GPS (N2)....................................................... 97. Quadro 12. Narrativa encaixada 3 (NE3): a primeira condenação de GPS.... 100. Quadro 13. Narrativa encaixada 4 (NE4): a última prisão e fuga de GPS...... 104. Quadro 14. Resumo da N2.............................................................................. Quadro 15. Narrativa global de WPS (N3)...................................................... 109. Quadro 16. Narrativa encaixada 5 (NE5)........................................................ 112. Quadro 17. Resumo das ocorrências narradas no relatório............................ 108. 117.

(12) SUMÁRIO. CAPÍTULO I............................................................................................. 14. INTRODUÇÃO......................................................................................... 14. CAPÍTULO II ........................................................................................... 19. 2. ESTADO DA ARTE................................................................................. 19. 2.1. ESTUDO SOBRE A SEQUÊNCIA TEXTUAL NARRATIVA.................... 19. 2.2. A SENTENÇA JUDICIAL......................................................................... 25. 2.3. ESTUDOS. 1. LINGUÍSTICOS. SOBRE. O. GÊNERO. SENTENÇA. JUDICIAL................................................................................................. 30. CAPÍTULO III .......................................................................................... 36. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................. 36. 3.1. LINGUÍSTICA TEXTUAL......................................................................... 36. 3.1.1. Estudos da Linguística Textual no Brasil............................................ 42. 3.2. ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS.................................................. 44. 3.2.1. Estrutura composicional: planos de textos........................................ 47. 3.2.2. Noção de sequências textuais.............................................................. 49. 3.2.2.1 A sequência textual narrativa................................................................... 52. CAPÍTULO IV ......................................................................................... 69. 4. METODOLOGIA...................................................................................... 69. 4.1. NATUREZA DA PESQUISA.................................................................... 69. 4.2. SELEÇÃO DO CORPUS......................................................................... 71. 4.3. CATEGORIAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE............................... 74.

(13) CAPÍTULO V .......................................................................................... 77. 5. ANÁLISE................................................................................................. 77. 5.1. O ESTABELECIMENTO DO TEXTO....................................................... 77. 5.2. O PLANO DE TEXTO.............................................................................. 79. 5.3. O RELATÓRIO........................................................................................ 80. 5.4. IDENTIFICAÇÃO,. DESCRIÇÃO. E. INTERPRETAÇÃO. DAS. MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 1 (N1).................................. 83. 5.4.1. Narrativa encaixada 1 (NE1).................................................................. 86. 5.4.2. Narrativa encaixada 2 (NE2).................................................................. 91. 5.4.3. Continuação da análise da narrativa global 1 (N1)............................. 94. 5.5. IDENTIFICAÇÃO,. DESCRIÇÃO. E. INTERPRETAÇÃO. DAS. MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 2 (N2).................................. 97 5.5.1. Narrativa encaixada 3 (NE3).................................................................. 5.5.2. Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Nó e a Re-. 99. ação......................................................................................................... 102. 5.5.3. Narrativa encaixada 4 (NE4).................................................................. 104. 5.5.4. Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Desenlace e a Situação final....................................................................................... 5.6. IDENTIFICAÇÃO,. DESCRIÇÃO. E. INTERPRETAÇÃO. 107. DAS. MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 3 (N3).................................. 109 5.6.1. Narrativa encaixada 5 (NE5).................................................................. 112. 5.7. SÍNTESE.................................................................................................. 114. CAPÍTULO VI.......................................................................................... 120. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 120. 6. REFERÊNCIAS....................................................................................... 126 ANEXO.

(14) 14. CAPITULO I. 1 INTRODUÇÃO. Os textos oriundos da esfera jurídica possuem uma linguagem considerada bastante técnica e de difícil compreensão tanto por parte dos estudantes do Direito, quanto pelos chamados operadores do Direito e, principalmente, por parte daquelas pessoas que não têm familiaridade com tais textos por não fazerem parte de nenhum dos dois grupos anteriores. Uma das principais dificuldades encontradas pelas pessoas que se deparam com textos da esfera jurídica, de um modo geral, está em lidar com determinadas convenções de ordem estrutural e composicional no que se refere, principalmente, ao fator linguístico expresso nesses textos em forma de jargões, linguagem muito rebuscada e uso de arcaísmos, o que os tornam, de certa forma, restritos aos profissionais da área do Direito. Esses e outros fatores também de ordem linguística têm despertado o interesse de estudiosos de diversas áreas e de várias partes do Brasil, sob vários enfoques teóricos e metodológicos diferentes, como veremos mais adiante no capítulo do estado da arte. Esses textos oriundos da esfera jurídica que integram processos judiciais recebem o nome de peça e muitas dessas possuem uma configuração textual bastante prototípica, normatizada por documentos como o Código do Processo Civil (CPC) e o Código do Processo Penal (CPP), como é o caso da estrutura da sentença judicial, por exemplo, que é regulamentada pelos artigos 489 do CPC e 381 do CPP. O gênero sentença judicial é peça integrante de um processo judicial e, como o próprio nome já sugere, pertence à esfera jurídica e sua finalidade específica é a solução de conflitos por parte do Estado. Ela é considerada o ponto máximo do processo decisório, ou seja, é a parte final ou o fechamento de um processo e nela o Estado, representado pela pessoa do juiz, deve expressar o justo (Cf. PISTORI, 2005). Pelo que propõe o CPC e o CPP, a sentença possui, a priori, uma forma padronizada, pré-estabelecida, sendo composta, principalmente, por relatório,.

(15) 15. fundamentação e decisão. E é mais precisamente na parte destinada ao relatório que nos debruçamos nas análises da estrutura composicional através da: identificação de elementos textuais e discursivos que são utilizados em sua tessitura; descrição desses elementos textuais e de seus encadeamentos na organização das sequências textuais narrativas e interpretação do papel dessas sequências textuais para a estruturação e a composição do gênero como um todo. O nosso objetivo nessa pesquisa restringe-se à análise dos aspectos composicionais da sentença judicial, com foco nas sequências narrativas contidas em seu relatório – lugar onde elas se encontram. Esse componente da sentença judicial é a parte destinada à síntese dos principais acontecimentos havidos no processo; é uma espécie de sinopse, na qual o juiz ‘relata’ o que julga relevante relatar para com isso conduzir seus argumentos, na parte destinada a fundamentação e em seguida a sua efetiva decisão no também chamado dispositivo. Analisamos, assim, a complexidade narrativa que se realiza nos relatórios das sentenças, a fim de verificar a importância dessas sequências na composição desse gênero e, com isso, contribuir para o entendimento da organização e estruturação composicional dessa importante peça processual, e também. contribuir com. pesquisas subsequentes no que se refere à abordagem e ao estudo de um gênero textual ainda pouco estudado fora do seu âmbito mais comum. Para tanto, a partir dos estudos do modelo prototípico de análise das macroproposições de base narrativa de Adam (2011), investigamos como ocorrem as sequências textuais narrativas no gênero forense sentença judicial. Ao previamente constatarmos que sequências textuais narrativas se realizam no interior das sentenças judiciais – sobretudo na parte destinada ao relatório, por motivos já explicitados – somos conduzidos a alguns questionamentos que, por sua vez, conduzem a pesquisa aos objetivos. Essa pesquisa é norteada pelas seguintes questões:. •. Como ocorrem as sequências narrativas no gênero sentença judicial?. •. Que elementos textuais e discursivos são utilizados nas estruturas que formam essas sequências narrativas no gênero sentença judicial?. •. Qual o papel da sequência narrativa na composição do gênero sentença judicial?.

(16) 16. Assim, orientados por tais questionamentos, a pesquisa possui três objetivos que visam a dar conta dessas questões.. •. O objetivo principal é investigar como ocorrem as sequências narrativas no gênero sentença judicial, e para isso procuramos, mais especificamente:. •. Identificar e descrever que elementos textuais e discursivos são utilizados nas estruturas dessas sequências narrativas no gênero sentença judicial;. •. Interpretar qual o papel das sequências narrativas para a estruturação e composição do gênero sentença judicial.. Essa pesquisa está fundamentada nos pressupostos gerais da Linguística Textual em autores como Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 2013), Marcuschi (2002; 2006; 2008, 2012), entre outros e, mais precisamente, na Análise Textual dos Discursos (ATD) – uma abordagem teórica proposta pelo linguista francês Jean-Michel Adam (2011) – além dos trabalhos de Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010; 2012) e Passeggi et. al. (2010) dentre outros. Sobre o estudo das sequências textuais narrativas, além de Adam (2011), fundamentamonos também em Adam e Revaz (1997), Adam e Lorda (1999) e Adam e Heidmann (2011). No que se refere à abordagem do gênero sentença judicial, fundamentamonos em obras que tratam especificamente do assunto como Santos (2011), Capez (2012) e Nucci (2014) – da literatura jurídica – Pistori (2005), Pimenta (2007), além do Código do Processo Penal (CPP) e do Código do Processo Civil (CPC). Metodologicamente, essa pesquisa caracteriza-se como documental e se orienta pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo, apresentando um caráter qualitativo e descritivo. O corpus dessa pesquisa é composto por uma única sentença judicial de natureza criminal, coletada do ‘Banco de Sentenças’ do site do Portal da Justiça Federal da 5º Região, mais precisamente, da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). Tal sentença é oriunda da 14º vara, que corresponde ao município de Natal – capital do estado – e trata do processo de três condenados pelo crime previsto no artigo 171 do Código Penal, o qual se refere ao crime de estelionato. Por serem três condenados, temos, nesse documento, três narrativas que ora.

(17) 17. caminham individualmente, ora se entrecruzam para narrar as mesmas diligências e o mesmo fim para todos os criminosos. Acreditamos que uma abordagem dessa natureza em um gênero de tamanha importância na esfera jurídica pode trazer diversas implicações a respeito de sua estrutura composicional, no que se refere, por exemplo, aos encadeamentos das proposições enunciadas, assim como à organização e articulação dessas proposições na construção do todo do qual faz parte, o texto. Vale salientar que por se tratar de um documento de domínio público – que pode ser acessado em sites como o já mencionado e por qualquer pessoa sem a menor restrição – acreditamos que esse estudo pode trazer contribuições: para a compreensão do funcionamento desse documento enquanto peça processual para os interessados no assunto; esse estudo pode trazer mais esclarecimentos a respeito das relações existentes entre a sequência narrativa e a composição desse documento como um todo; pode também trazer esclarecimentos a respeito da função sociocomunicativa dessas sequências na sua construção, de modo que a aplicação dessa proposta de análise fundamentada no modelo de Adam (2011) também pode contribuir para estudos futuros sobre a aplicabilidade desses estudos sobre sequência narrativa em textos não literários, a exemplo do que propomos nessa pesquisa. Nosso trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo corresponde a esta introdução; na primeira seção do capítulo do estado da arte (2.1) fazemos um levantamento de trabalhos resultantes de pesquisas sobre a categoria da sequência narrativa conforme o modelo prototípico de análise das sequências narrativas proposto por Adam (1992; 2008; 2011) e Adam e Lorda1 (1999); na segunda seção (2.2), definimos o gênero sentença e detalhamos sua composição, esclarecendo a sua relevância enquanto peça processual; e na terceira seção (2.3), fazemos um levantamento de trabalhos resultantes de pesquisas e fazemos também um levantamento sobre o gênero sentença judicial na perspectiva dos estudos linguísticos. No capítulo da fundamentação teórica (cap. 3), mostramos um sintético percurso histórico da evolução e consolidação da Linguística Textual como campo de pesquisa dos estudos linguísticos e de seu objeto de estudo (o texto), passando 1 ADAM, J-M; LORDA, Clara Ubaldina. Lingüística de los textos narrativos. Barcelona: Ariel Lingüística, 1999..

(18) 18. para os estudos da Análise Textual dos Discursos até aos estudos da sequência narrativa. No capítulo da metodologia (cap. 4) situamos a nossa pesquisa quanto a sua natureza; detalhamos a seleção do corpus, assim como os procedimentos de análise e as categorias de análise adotados. No capítulo da análise (cap. 5), abordamos a estruturação composicional do gênero sentença judicial através da elaboração de planos de texto e de quadros de análises que evidenciam não só as macroproposições identificadas que formam as sequências textuais narrativas, como também as relações simétricas existentes entre essas macroproposições. Depois disso, apresentamos os resultados obtidos nas análises e tecemos comentários a respeito da abrangência da pesquisa, suas contribuições e seus possíveis desdobramentos em pesquisas subsequentes. Por último, apresentamos as referências utilizadas e citadas na pesquisa e, em anexo, a cópia digitada da sentença judicial selecionada como corpus dessa pesquisa..

(19) 19. CAPÍTULO II. 2 ESTADO DA ARTE. Neste capítulo, iniciamos por conceituar, previamente, a categoria de análise sequência narrativa conforme o modelo prototípico de análise proposto por Adam (2011), situando-a nos estudos da Análise Textual dos Discursos, bem como apresentamos algumas pesquisas já concluídas que abordaram a referida categoria de análise e a suas respectivas contribuições para o estudo do texto. Na seção 2.2, conceituamos o gênero sentença judicial através de contribuições da literatura jurídica, apresentando informações de caráter mais geral que definem o gênero até as especificações das suas partes constitutivas e suas finalidades. Na seção 2.3, elucidamos a crescente abordagem do gênero sentença judicial em pesquisas de cunho linguístico e, em seguida, apresentamos algumas pesquisas já realizadas e suas respectivas contribuições para o estudo desse gênero.. 2.1 ESTUDOS SOBRE A SEQUÊNCIA TEXTUAL NARRATIVA. Inserida no campo mais amplo da Análise do Discurso, a Linguística Textual e, mais precisamente, a Análise Textual dos Discursos, abordagem teórica desenvolvida por Adam (2011), vem se tornando cada vez mais conhecida no Brasil, sobretudo no que se refere às pesquisas realizadas sobre as sequências textuais (BEZERRA, BIASI-RODRIGUES e CAVALCANTE, 2009), que como constatou Passeggi et al. (2010, p. 263): “[...] constituem, hoje, uma categoria de análise consolidada e regularmente utilizada nas descrições de textos, de grande interesse pelas suas aplicações ao ensino de língua portuguesa e de língua estrangeira.”. Sobre as sequências textuais, Adam (2011) afirma que são constituídas por unidades mínimas de composição textual chamadas proposições, e que o conjunto dessas proposições, as macroproposições, que são hierarquicamente relacionadas e relativamente independentes, podem constituir unidades mais complexas de.

(20) 20. análise: as chamadas sequências,. que. podem ser descritivas, dialogais,. argumentativas, explicativas e narrativas. Desse modo, destacamos algumas pesquisas que foram realizadas conforme os pressupostos gerais da Linguística Textual e mais precisamente da Análise Textual dos Discursos, seguindo o modelo prototípico de análise das sequências textuais narrativas proposto por Adam (1992; 2008; 2011) e Adam e Lorda (1999). Silva (2007), em sua dissertação, analisou a ocorrência da sequência narrativa no gênero notícia conforme o protótipo narrativo de Adam (1992), a fim de verificar relações existentes entre a sequência narrativa e o gênero propriamente dito. Com um corpus composto por cinquenta (50) notícias divididas entre vinte e seis (26) policiais e vinte e quatro (24) não policiais – todas retiradas de periódicos dos jornais “O Povo” e “Folha de São Paulo” no período de setembro de 2005 a setembro de 2006 – a autora constatou, em sua análise, que as notícias podiam ser classificadas em ‘narrativas’ (todas as 26 notícias policiais e outras 8 não policiais) e ‘expositivas’ (16 das 24 notícias não policiais), de modo que para esta classificação, ela utilizou-se dos pressupostos teóricos de Bronckart (1999). Nessa pesquisa, Silva (2007) constatou que as sequências narrativas presentes nas notícias apesar de não seguirem, necessariamente, a ordem prototípica proposta por Adam (1992), funcionaram como importantes organizadores textuais das notícias de cunho narrativo. Com essa pesquisa, a autora propôs uma importante reflexão sobre a aplicação do protótipo narrativo de Adam (1992) em um gênero não literário. A organização das sequências narrativas que estruturam os textos narrativos orais e escritos de produções de alunos de 3ª e 7ª séries do ensino fundamental é descrita e analisada com base no esquema prototípico de Adam e Lorda (1999) por Freitas (2009) em sua dissertação. Centrada na organização textual proposta por Adam e Lorda (1999), Freitas (2009) propôs que alunos em idades e níveis diferentes de escolaridade produzissem textos narrativos orais e escritos através de transposição feita pela leitura e compreensão de histórias em quadrinhos (HQs) de Maurício de Souza. Ao todo, a autora analisou trinta e duas (32) produções textuais divididas entre orais e escritas..

(21) 21. Para tratar da relação e da visão “não dicotômica” entre fala e escrita, a autora utilizou-se dos pressupostos de Marcuschi (2007), que considera tais modalidades em um contínuo fundadas nos gêneros textuais. Com base nos estudos de Perroni2 (1992), Freitas (2009) observou o processo de aquisição da narrativa por meio da interação verbal. E para a análise dos tempos verbais utilizados nas produções textuais narrativas, enquanto uma categoria da enunciação, Freitas fundamentou-se em Fiorin3 (2008). Entre as várias conclusões depreendidas ao término dessa pesquisa, Freitas (2009) constatou que o distanciamento entre o texto oral e o escrito mantém relação com o grau de escolaridade dos alunos envolvidos nas produções. Durante as análises, a autora também constatou que muitas das produções (tanto orais quanto escritas) não continham partes dessas cinco macroproposições de base narrativa, sobretudo, constatou a ausência da macroproposição da complicação ou do nó, que é o centro da narrativa. Oliveira (2010), em sua dissertação de mestrado, analisou quarenta e duas (42) produções textuais de cunho narrativo (contos populares) de alunos do 6º ano a fim de constatar se tais produções configuravam uma sequência narrativa conforme o protótipo narrativo proposto por Adam (1992; 2008) ou um script conforme o interacionismo sociodiscursivo (ISD) proposto por Bronckart (2007). A pesquisa teve como objetivo ampliar a compreensão dos alunos acerca da “infraestrutura” do texto narrativo, bem como esclarecer a diferença entre a sequência narrativa proposta por Adam (1992; 2008) e o script descrito por Bronckart (2007) para com isso ampliar a discussão acerca de propostas de produções textuais narrativas por parte de professores e propor uma reflexão teórica e prática capaz de nortear seus trabalhos com os alunos. Para obter os resultados, Oliveira (2010) utilizou-se de três categorias de análise, quais sejam tempos verbais, organizadores temporais e pronomes (BENVENISTE4, 2005; WEINRICH5, 1968; ADAM 1997; 2004; 2008; BRONCKART, 2007). O material para análise (as produções textuais dos alunos) foi recolhido em 2. PERRONI, M. C. O Desenvolvimento do discurso narrativo. São Paulo: Martins Fontes, 1992. FIORIN, J. L. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo.São Paulo: Ed. Ática, 2008. 4 BENVENISTE, Émile. As relações de tempo no verbo francês. In: Problemas de linguística geral I. Tradução Maria Glória Novak, Maria Luisa Neri. 5 ed. Campinas – SP: Pontes, 2005. p. 260-276. 5 WEINRICH, Harald. Mundo comentado e mundo narrado. In: Estructura y función de los tiempos en lenguaje. Madrid: Gredos, 1968. p. 61-94. 3.

(22) 22. três semanas de atividades em formato de oficinas, à luz das sequências didáticas propostas por Schneuwly e Dolz6 (2004), e foi dividido em produção inicial (PI) e produção final (PF). A autora concluiu que embora os alunos tivessem um conhecimento internalizado sobre a estrutura textual narrativa, eles não souberam fazer distinção entre o processo de intriga e o script, o que faz com que algumas de suas produções textuais fossem apenas enumerações de ações. Quanto às categorias adotadas para análise, Oliveira (2010) constatou que, nas produções textuais, os alunos utilizaram o tempo verbal adequado (pretérito perfeito do indicativo), mas que em alguns momentos também ocorreram alguns equívocos. Os organizadores temporais (segunda categoria adotada na análise) auxiliaram os tempos verbais com as locuções adverbiais e tiveram maior incidência nas produções. Na categoria pronome, as anáforas foram utilizadas para evitar repetições de termos; esse processo de retomada evitando repetições demonstrou, segundo a autora, uma noção de estruturação de ideias por parte dos alunos. Em sua dissertação, Santos (2011) investiga, de acordo com Hyland7 (2005a), como ocorrem os recursos metadiscursivos de interação na perspectiva das macrocategorias de engajamento (recurso metadiscursivo de interação que se relaciona ao modo pelo qual o escritor reconhece a presença do leitor, conduzindo-o através de sua argumentação, tendo em vista a interação) e de posicionamento em textos de sequência narrativa, ou seja, como um escritor se apresenta e se compromete por meio de julgamentos e opiniões. Como Hyland8 (2005b) teve como propósito a investigação dos recursos metadiscursivos de interação em textos de sequência argumentativa, a maioria dos estudos do metadiscurso são voltados para textos acadêmicos por ter uma sequência. predominantemente. argumentativa.. Diante. disso. e. partindo. do. pressuposto de que esse fenômeno é constituinte de qualquer texto, em sua pesquisa, Santos (2011) teve como um de seus objetivos principais mostrar que os recursos. metadiscursivos. de. interação. não. ocorrem. somente. em. textos. argumentativos, mas também em textos de sequência predominantemente narrativa. 6. SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2004. 7 HYLAND, Ken. Metadiscourse: exploring interaction in writing. Continuum: Londres, 2005 (a). 8 _______. Stance and engagement: a model of interaction in academic discourse. In Discourse Studies. Vol. 7(2), p.173-192, 2005 (b)..

(23) 23. O corpus dessa pesquisa é composto por dezesseis (16) textos divididos em quatro textos para cada gênero de sequência narrativa dominante, quais sejam: quatro fábulas, quatro lendas, quatro anedotas e quatro contos. Para análise das sequências dominantes, a autora utiliza-se dos pressupostos teóricos abordados em Adam (2008), mais precisamente em seu modelo prototípico de descrição das sequências narrativas de base. Nessa pesquisa, Santos (2011) ainda discute, brevemente, sobre os processos referenciais de anáfora, introdução referencial e dêixis, que se sobrepõem aos recursos metadiscursivos de interação. Após a análise, a autora além de constatar a sequência narrativa como dominante nos gêneros (fábula, lenda, anedota e conto), também percebeu a presença recorrente de recursos metadiscursivos de interação, o que permitiu a autora concluir que esse fenômeno não se manifesta somente em textos da esfera acadêmica,. que. são. predominantemente. argumentativos,. como. expôs. a. pesquisadora, mas em textos narrativos através das macrocategorias de posicionamento e de engajamento. Dentre os trabalhos desenvolvidos sobre a sequência narrativa, destacamos a relevância da pesquisa de Oliveira (2016), na qual a autora verificou a estrutura composicional narrativa em contos de fadas de Marina Colasanti, partindo da hipótese de que os contos de fadas dessa autora possuem regularidade no que se refere à estrutura composicional com planos de texto compostos por sequências narrativas completas, constituídas pelas cinco proposições narrativas de base conforme o modelo prototípico narrativo de Adam (2011). Para caracterizar a organização das sequências textuais narrativas em cada parte do plano de texto, Oliveira (2016) utilizou o conceito de “episódio” de Travaglia (2007a9; 199110), bem como todos os pressupostos da teoria tipológica geral de textos (TRAVAGLIA, 2007b11; 2007c12). Essa pesquisa possui caráter descritivo de. 9. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de categorias de textos: tipos, gêneros e espécies. Alfa: Revista de Linguística, v.51, p. 39-79, 2007a. 10 _______. Um estudo do textual-discursivo do verbo no português do Brasil. Campinas, 1991. 264 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas. 11 _______. Das relações possíveis entre tipos na composição de gêneros. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE GÊNEROS TEXTUAIS, 4., 2007b, Tubarão. Anais... Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina 2007b. v. 1. 1297-1306. 12 _______. Tipelementos e a construção de uma teoria tipológica geral de textos. In: FÁVERO, Leonor Lopes; BASTOS, Neusa M. de O. Barbosa; MARQUESI, Sueli Cristina (Org.). Língua Portuguesa, pesquisa e ensino. São Paulo: Educ/Fapesp, 2007c. v.2..

(24) 24. base interpretativa e seguiu os pressupostos gerais da Linguística Textual e, sobretudo, da Análise Textual dos Discursos. Norteada por essa prévia constatação a respeito da estrutura composicional dos contos de fadas de Marina Colasanti, bem como pelo objetivo maior de sua pesquisa, que foi verificar a estrutura composicional narrativa em tais contos, Oliveira (2016) identificou os planos de texto nesses contos de fadas, considerando como base as sequências textuais narrativas; descreveu a organização dessas sequências em cada parte do plano de texto desses contos; analisou as características dos planos de texto e das sequências textuais narrativas; e caracterizou a estrutura composicional dos contos de fadas de Marina Colasanti. O corpus dessa pesquisa é composto por seis contos de fadas de Marina Colasanti, de modo que dois desses são formados por sequências textuais narrativas completas; dois sem a macroproposição Situação Final e outros dois formados por mais de uma sequência textual narrativa. É importante ressaltar que ao todo, na escolha do corpus para a análise foram lidos e analisados previamente vinte e três contos de fadas da autora, divididos entre duas obras: dez contos no livro “Uma ideia toda azul” (COLASANTI, [1979] 2006b13) e outros treze contos no livro “Doze reis e a moça no labirinto do vento” (COLASANTI, [1982] 2006a14). Em relação às sequências textuais narrativas no nível global do texto conforme a proposta de Adam (1987b; 2011), Oliveira (2016) identificou três tipos de construções nos contos de Marina Colasanti. Em quatorze (14) contos analisados há as cinco macroproposições de base narrativa (Situação Inicial, Nó, Re-ação ou Avaliação, Desenlace e Situação Final). Em outros seis contos, a autora observou as quatro primeiras macroproposições de base narrativa, ou seja, exceto a Situação Final. E em outros três contos, a autora localizou mais de uma sequência textual narrativa no nível global. Desses vinte e três contos, a autora também constatou Entrada Prefácio (Pn0) no conto “Entre as folhas do verde O” e Avaliação Final (PnΩ) no conto “Uma concha à beira-mar”. Oliveira (2016) também observou que os planos de texto dos contos de fadas de Marina Colasanti apresentam sequências textuais narrativas em dois níveis: “global”, que apresenta regularidade nas macroproposições narrativas completas 13 14. COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. 12.ed. São Paulo: Global, 2006a. COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. 23.ed. São Paulo: Global 2006b..

(25) 25. (Situação Inicial, Nó, Re-ação ou Avaliação, Desenlace e Situação Final), e “local”, que apresenta: regularidade de aspectos ligados aos personagens (principalmente as femininas que são sujeitos sempre agentes das narrativas); regularidade na unidade temática, no que diz respeito à presença dos protagonistas em quase todos os episódios, e na maior parte dos contos; regularidade na organização do espaço (dividido sempre em interno e externo) e regularidade na temporalidade no que se refere aos acontecimentos narrados em ordem cronológica. A pesquisa da autora traz uma importante contribuição aos estudos das sequências narrativas ao intercruzar o modelo de Adam (2011) com a proposta de Travaglia (1991; 2007a; 2007b; 2007c) sobre a teoria geral dos textos com a noção de episódio. Até aqui, fizemos uma breve definição do conceito de sequência narrativa conforme Adam (2011), elucidando que esta constitui, atualmente, uma categoria de análise já consolidada e frequentemente utilizada nas descrições de textos de gêneros diversos. Também, como um complemento do que afirmamos inicialmente, destacamos alguns trabalhos (quatro dissertações de mestrado e uma tese de doutorado de diferentes instituições de Ensino Superior) que abordaram o assunto das sequências narrativas com diferentes objetivos e em diferentes gêneros.. 2.2 A SENTENÇA JUDICIAL. Segundo Capez (2012, p. 529), no sentido estrito, ou em sentido próprio, sentença “[...] é a decisão definitiva que um juiz profere solucionando a causa. [...] é o ato pelo qual o juiz encerra o processo no primeiro grau de jurisdição, bem como seu respectivo ofício.”. Ainda para o autor, quanto à natureza jurídica, A sentença é uma manifestação intelectual lógica e formal emitida pelo Estado, por meio de seus órgãos jurisdicionais, com a finalidade de encerrar um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida, mediante a aplicação do ordenamento legal ao caso concreto. (CAPEZ, 2012, p. 528).. Conforme consta no Dicionário Jurídico brasileiro (SANTOS 2011, p. 225), o termo ‘sentença’ é uma “[...] expressão, frase ou mesmo uma palavra que resume ou caracteriza um pensamento moral ou um julgamento de profundo alcance.”..

(26) 26. Abstendo-nos de discussões mais aprofundadas sobre terminologias, conceitos, e definições, explicamos, em linhas gerais, alguns tipos de sentença que constam nos principais manuais que tratam desse assunto, bem como no CPP e no CPC. É importante enfatizar que o nosso objetivo aqui é trazer uma sucinta explanação a respeito desse documento – considerado, na doutrina jurídica, como o ponto máximo do processo decisório. Entendemos que são muitos os fatores que podem ser determinantes na hora de classificar ou tipificar uma sentença judicial, e que na doutrina jurídica, em si, não há total consenso sobre as classificações desse documento. Segundo Santos (2011), a sentença se divide em: absolutória, declaratória, constitutiva, definitiva, terminativa, condenatória e interlocutória. Em seu livro (Dicionário jurídico brasileiro), o autor tece comentários e cita várias autoridades do Direito para definir cada uma delas (Cf. SANTOS, 2011). Já Capez (2011), em consonância com o CPP e o CPC, fala sobre as condenatórias, absolutórias e terminativas de mérito. De um modo geral, podemos dizer que a sentença se divide, em um primeiro momento, em duas classificações maiores: terminativas e definitivas. A sentença terminativa é responsável por encerrar o processo, sem que se tenha decidido a sua importância (consequências), ou seja, ocorre a extinção do processo sem a apreciação do mérito15. Em outras palavras, são as que se limitam a pôr fim ao processo, sem examinar a causa – só fazem coisa julgada formal16. E a sentença definitiva é aquela em que há resolução do mérito, ou seja, as que resolvem o mérito; fazem coisa julgada material17. Podemos dizer, ainda, que há subclassificações nas sentenças definitivas, são elas condenatórias, constitutivas e declaratórias.. 15. Mérito – (Lat. meritu.) S.m. Aquilo que está contido na questão judicial, ou litígio; lastro de conhecimentos da causa. Questão ou questões fundamentais, de fato ou de direito, que constitui o principal objeto da lide. (SANTOS, 2011, p. 162 - Dicionário jurídico brasileiro). 16 A coisa julgada pode ser formal, quando a sentença não pode ser alterada dentro do mesmo processo, porém poderá ser discutida em outra ação, ou material, quando a sentença não pode ser alterada em nenhum outro processo. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1510/Coisa-julgada-Novo-CPC-Lei-n-13105-15>. Acesso em: 15 mai. 2016. (Cf. GUIMARÃES, 2004). 17 Ocorre quando a sentença judicial se torna irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de qualquer recurso. Tem como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os conflitos se perpetuem no tempo. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1510/Coisa-julgada-Novo-CPC-Lei-n-13105-15>. Acesso em: 15 mai. 2016..

(27) 27. As sentenças condenatórias julgam procedentes, total ou parcialmente, a pretensão punitiva, ou seja, declaram a existência de um fato e condenam a parte vencida a uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. É considerada um tipo complexo de sentença, de modo que a doutrina jurídica ainda atribui uma ‘subespécie’, uma chamada de sentença mandamental18, que é a sentença que condena a parte vencida a cumprir, necessariamente, uma obrigação de fazer. As sentenças constitutivas criam, modificam ou extinguem um estado ou relação jurídica; asseguram um direito ao vencedor da ação, em outras palavras, extinguem uma situação jurídica anterior e criam uma nova. Essa sentença também declara a existência de união estável e constitui uma relação jurídica entre os parceiros assemelhada ao casamento. As sentenças declaratórias declaram “[...] a existência ou a inexistência de uma relação jurídica, ou seja, de um determinado direito pretendido pelo autor.” (Cf. SANTOS, 2011, p. 226). É importante ressaltar que todas as sentenças possuem caráter declaratório, mas as chamadas de meramente declaratórias são aquelas que têm na sua parte dispositiva apenas a declaração da existência de uma relação jurídica ou reconhecimento de um direito. Santos (2011, p. 226 apud REZENDE FILHO, 1962) ainda destaca que a sentença interlocutória “anula um processo apenas em parte ou decide questão emergente ou incidente19 de processo, de caráter ordinário, e as exceções de suspeição20 e incompetência [...]”. A sentença judicial é um gênero consolidado no meio jurídico e sua composição, quase sempre, segue um mesmo padrão. Segundo o artigo 381 do CPP, a sentença deverá conter: I – o nome das partes ou, quando não for possível, as indicações necessárias para identificá-las; II – a exposição sucinta da acusação e da defesa;. 18. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/quantas-especies-de-sentenca-existem-quais-saoelas.> Acesso em 15 mai. 2016. 19 Incidente, quando aparece no conflito da questão judicial e é solucionado antes do julgamento da ação principal: detenção pessoal, busca e apreensão. Incidente – Adj. 2g. Que incide; circunstancial. S.m. Circunstância acidental; sucesso de importância secundária que sobrevêm de uma questão ou debate; fato ou questão que coloca obstáculo ou embaraça a sequência normal de um processo. (SANTOS, 2011, p. 23, 121 – respectivamente). 20 Suspeição – S.f. Um dos gêneros de restrição que pode ser contraposto em revide ao juiz da causa, pelo fato de se duvidar de sua imparcialidade, da testemunha ou do perito (CPC, arts. 135 a 138, III e §§, 312 a 314, 405; CPP, arts. 95, I, a 107). (SANTOS, 2011, p. 236)..

(28) 28. III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV – a indicação dos artigos e leis aplicados; V – o dispositivo e VI – a data e assinatura do juiz.. Circunstancialmente, a sentença é dividida em três partes, a saber, relatório, fundamentação e dispositivo ou decisão. O Capítulo XIII (Da sentença e da coisa julgada) do CPC e mais precisamente o art. 489 da segunda seção descreve os elementos essenciais da sentença judicial (as partes e o que deve conter em cada uma delas): I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem.. Essas três partes fundamentais da sentença judicial possuem características linguístico-textuais sempre muito semelhantes, o que a caracteriza e a distingue dos demais gêneros do discurso jurídico. Além destes três componentes, é importante lembrar que a sentença judicial também possui assinatura e/ou autenticação e pode conter ementa que é uma espécie de preâmbulo. De forma mais detalhada, trazemos a definição de relatório que consta no Dicionário jurídico brasileiro. Relatório – S.m. Descrição escrita e minuciosa das atividades administrativas de uma organização pública ou de uma sociedade privada, ou dos trabalhos de um tribunal, turma, câmaras ou de uma assembleia; preâmbulo da sentença, no qual são mencionados: o nome das partes, a respectiva solicitação, a defesa e a fundamentação da solicitação respectiva. Exposição sumária da situação de fato da causa, que é submetida à deliberação do tribunal. Condensação do interrogatório, feito pelo juiz, do processo que vai ser narrado para a devida avaliação do júri. Narração, exposição das questões duvidosas existentes no recurso feitas pelo relator ante o órgão colegiado, escriturando-as nos devidos autos e depois fazendo a respectiva leitura quando do julgamento do recurso (CPC, arts. 458, 549, 554; CPP, art. 466). (SANTOS, 2011, p. 215).. Segundo Pereira (2014, p. 166), o juiz precisa seguir algumas etapas que são obrigatórias antes de proferir o seu posicionamento, isto é, sua decisão propriamente dita. Essas etapas compreendem apresentar “[...] o local social da.

(29) 29. produção, bem como seu redator [...]”; e, no corpo do texto, expor o processo de forma contextualizada de modo a apresentar um resumo dos trâmites. Para Nucci (2014, p. 474), o relatório contém a “[...] descrição sucinta do alegado pela acusação, abrangendo desde a imputação inicial, até o exposto nas alegações finais, com identificação das partes envolvidas [...]”. É importante destacar ainda que o relatório da sentença judicial é um resumo do processo e não, necessariamente, um detalhamento das ações das partes envolvidas que deram origem ao processo. Esse tipo de detalhamento está presente nos depoimentos das partes envolvidas (vítima, testemunha e indiciado) e constam no inquérito policial – que tem por finalidade promover o levantamento de toda a materialidade delitiva que pode dar origem ou não a um determinado processo – e são chamados de termo de declaração e/ou depoimento (no caso da vítima e da testemunha). e. auto. de. qualificação. e. interrogatório. (no. caso. do. indiciado/acusado/suspeito). Quanto à fundamentação, Capez (2012) assevera que O juiz tem liberdade para formar a sua convicção, não estando preso a qualquer critério legal de prefixação de valores probatórios. No entanto, essa liberdade não é absoluta, sendo necessária a devida fundamentação. O juiz, portanto, decide livremente de acordo com a sua consciência, devendo, contudo, explicitar motivadamente as razões de sua opção e obedecer a certos balizamentos legais, ainda que flexíveis. (CAPEZ, 2012, p. 399).. Em outras palavras, a fundamentação é a parte da sentença em que o juiz utiliza-se de argumentos (leis) para justificar e dar base para a decisão ou dispositivo, ou seja, é nesse momento que o juiz evidencia as razões nas quais se baseia para dar o parecer final, sua decisão. Nesse texto há a predominância da sequência argumentativa. Ainda segundo o artigo 155 do CPP O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.. Nucci (2014, p. 474) concebe a fundamentação como a.

(30) 30. [...] motivação do juiz para aplicar o direito ao caso concreto da maneira com o fez, acolhendo ou rejeitando a pretensão de punir do Estado; abrange os motivos de fato, advindos da prova colhida, e os motivos de direito, advindos da lei, interpretada pelo juiz.. A decisão21, na doutrina jurídica – também chamada de conclusão, dispositivo ou dispositivos gerais – é a parte da sentença que contém efetivamente a conclusão do processo22. Nesse momento, o juiz, após ter relatado as principais ações do processo, sobretudo, as informações que considerou relevantes relatar, e após a indicação dos artigos de lei aplicados, ou seus argumentos de uma forma geral (na parte da fundamentação), decide. Para Capez (2012, p. 530 – grifos do autor), “É a parte do decisum em que o magistrado presta a tutela jurisdicional, viabilizando o jus puniendi do Estado.”, ou seja, o direito de punir. A princípio, essa parte da sentença mostra-se predominantemente composta pela sequência injuntiva23.. 2.3 ESTUDOS LINGUÍSTICOS SOBRE O GÊNERO SENTENÇA JUDICIAL. Os gêneros forenses têm se tornado, cada dia mais, objetos de pesquisa e de análise no meio acadêmico, sobretudo no âmbito dos estudos linguísticos. A linguagem jurídica ou o ‘juridiquês’ – como é também conhecida na própria doutrina jurídica – tem intrigado pesquisadores de várias partes do Brasil e sob vários enfoques diferentes, principalmente, nos últimos dez anos. Dentre os gêneros forenses estudados no âmbito dos estudos linguísticos, a sentença judicial tem ocupado cada vez mais papel de destaque. O volume de estudo sobre esse gênero em pesquisas de cunho linguístico ainda é considerado pequeno – dadas às devidas proporções – por se tratar de um gênero pertencente à outra esfera de circulação, mas ainda assim, a sentença judicial tem despertado o interesse de estudiosos e pesquisadores de várias partes do Brasil e sob vários 21. Neste trabalho, optamos por usar o termo decisão por ser um termo mais utilizado pelos operadores do Direito; também porque o termo dispositivo, na doutrina jurídica, indica os artigos da constituição e possui amplo uso, ou seja, não está restrito à parte da sentença judicial que consta a decisão do juiz. 22 No caso de uma decisão proferida por um juiz de primeira instância, cabe recurso, podendo (o processo, a depender também do tipo ou de determinadas circunstâncias) chegar a instâncias superiores. 23 O termo “sequência injuntiva” aqui foi usado com base nos estudos das tipologias textuais, e não com base nos estudos das sequências propostos por Adam (2011), visto que o autor não reconhece esse tipo de sequência..

(31) 31. enfoques teóricos diferentes. Um dos motivos que podem explicar esse crescente interesse dos estudiosos por esse gênero pode ser o fato de este ser um gênero de domínio público e ser disponibilizado na internet através de bancos de sentença dos Tribunais de Justiça de todo o Brasil – o que facilita o seu acesso – e por ser a peça de maior relevância em um processo judicial e, linguisticamente, conter uma estrutura peculiar com uma diversidade de possibilidade de abordagens. Entre as pesquisas mais recentes realizadas sobre o gênero sentença, podemos citar a dissertação de mestrado de Pimenta (2007) na qual a autora investiga e caracteriza linguisticamente várias categorias de textos forenses de natureza criminal presentes nos processos penais, a fim de verificar os possíveis reflexos que esses textos exercem no gênero sentença judicial, por meio de marcas linguísticas. A pesquisa é norteada pelos estudos da Linguística Textual, pelos pressupostos teóricos dos Atos de Fala (AUSTIN24, 1962), da teoria da Ação Comunicativa (HABERMAS, 198325, 200326), das Comunidades Discursivas (SWALES27, 1990) e pelos estudos sobre tipos, gêneros e espécies conforme Travaglia ([2003] 2007a). A pesquisa de Pimenta (2007) é qualitativa e sua metodologia é analíticodescritiva. O corpus é composto por dez processos criminais, os quais são criteriosamente analisados e caracterizados por meio de sua materialidade linguística. Nos resultados, a autora constatou que os gêneros que trazem as mais variadas versões dos fatos – como o boletim de ocorrência, o auto de depoimento e a declaração – interferem/afetam diretamente na decisão do juiz, ou seja, na sentença judicial. Isso é possível, segundo a autora, porque esses gêneros têm a função sócio-comunicativa de trazer a versão das partes para o fato. Para Pimenta (2007, p. 198), “[...] ganha o melhor argumento, o mais articulado, o mais convincente, o que menos dúvida deixa sobre sua veracidade [...]”.. 24. AUSTIN, J. L. How to do things with word. Oxford: Oxford University Press, 1962. HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. 26 _______. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. 27 SWALES, J. English in academy and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. 25.

(32) 32. Os estudos da pesquisa de Pimenta (2007) sugerem uma reflexão sobre a classificação e tipologização de textos – por parte da comunidade discursiva forense – e uma contribuição para a construção de uma teoria tipológica geral de textos. Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (GPATD) coordenado pelos professores Luis Passeggi, João Gomes da Silva Neto e Maria das Graças Soares Rodrigues desenvolve pesquisas em discursos jurídicos e políticos, seguindo os pressupostos gerais da Linguística Textual e, principalmente, dos estudos da Análise Textual dos Discursos que tem como seu principal nome o linguista francês Jean-Michel Adam (2011). A título de ilustração, destacamos algumas das publicações do GPATD sobre o estudo do discurso jurídico como, por exemplo, Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2014); Lopes (2014), Santos e Silva Neto (2014), Lourenço e Rodrigues (2013), Lourenço (2013) entre outros. Nos últimos anos, esse grupo desenvolveu uma quantidade considerável de trabalhos sobre o discurso jurídico, principalmente, sobre o gênero sentença judicial. Dentre as pesquisas já concluídas podemos destacar a tese de doutorado de Gomes (2014), o qual propôs estudar o fenômeno da Responsabilidade Enunciativa (doravante RE) em sentenças judiciais condenatórias a partir dos pressupostos teóricos gerais da Linguística Textual, da Análise Textual dos Discursos com Adam (2011), e da Linguística Enunciativa com Rabatel28 (2010) além de autores que versam sobre os gêneros forenses como Montolío29 (2011), Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2014) entre outros. O corpus dessa tese é formado por treze sentenças condenatórias coletadas até o ano de 2012 da comarca de Currais Novos/RN. O objetivo principal dessa pesquisa foi investigar a RE por meio de uma escala que compreende esse fenômeno a partir de quatro gradações, de modo que cada gradação consiste em um tipo especifico de ponto de vista (doravante PDV) com marcas que podem determinar a assunção ou o distanciamento desse PDV. Os resultados mostraram que o gênero sentença judicial condenatória apresenta uma heterogeneidade de PDV, o que permite, em alguns momentos, a 28. RABATEL. Schémas, techniques argumentatives de justification et figures de l’auteur (théoricien et/ou vulgarisateur). Revue d’antropologie dês connaissances. 2010. 29 MONTOLÍO. (Ed.). Hacia la modernización del discurso jurídico. Barcelona: Publicacions i Edicions de la Universitat de Barcelona, 2011..

(33) 33. não assunção da RE por parte do juiz, ou seja, na análise foi possível identificar o PDV não só do juiz (presente predominante no dispositivo da sentença), mas de várias outras instâncias enunciativas, como Ministério Público, defesa, acusados (mais presentes no relatório da sentença), vítimas e testemunhas (mais presentes na fundamentação) entre outras. Esses PDV foram identificados na dimensão linguística do texto através de verbos, conectores, dêiticos espaciais e temporais, além de marcas de asserção e marcadores do discurso reportado, entre outros. Como foi possível observar diferentes PDV de diferentes instâncias enunciativas em diferentes partes da sentença (relatório, fundamentação e dispositivo), Gomes (2014) também constatou que em determinados momentos, o juiz utiliza-se desses outros PDV e se isenta da responsabilidade sobre o que diz, como se observa no relatório da sentença onde há os PDV da acusação e da defesa, por exemplo. Dessa forma, o autor conclui que “A sentença, portanto, constrói-se nesse jogo de assunção e/ou não assunção dos enunciados de acordo com a orientação argumentativa e com os objetivos do produtor do texto.” (GOMES, 2014, p. 8). Lopes (2014), na sua dissertação de mestrado, propôs identificar e descrever o fenômeno da representação discursiva da vítima e do réu no gênero forense sentença judicial. A pesquisa segue os pressupostos gerais da LT, com foco na ATD – Adam ([2008] 2011) – e também é complementada por estudos do gênero com Bazerman30 (2005), Bakhtin31 (1992) e do discurso jurídico com Capez (2012) e Pimenta (2007), entre outros. Metodologicamente, a pesquisa é documental e apresenta um caráter qualitativo, descritivo e orienta-se pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo. O corpus da pesquisa é composto por uma única sentença judicial com a temática de violência contra a mulher. Essa sentença é de natureza penal e foi coletada no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Antes de identificar e descrever as categorias semânticas da representação discursiva – referenciação, a predicação, a modificação e a localização espacial e temporal (ADAM, 2011) –, Lopes (2014) fez o reconhecimento do gênero (sentença judicial) elaborando o Plano de Texto e constatou que se trata de uma estrutura fixa,. 30. BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Organização de Ângela Paiva Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2005. 31 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal.São Paulo: Martins Fontes, 1992..

(34) 34. prototípica e padronizada – seguindo a regulamentação legal –. Em sua análise, a autora também utilizou o esquema prototípico da sequência textual de Adam (2011) e constatou que além das sequências argumentativa, explicativa e descritiva há uma predominância da sequência textual narrativa. Com foco nas construções das representações discursivas da vítima e do réu a partir de Pontos de vista (PDV) de enunciadores diferentes, a autora constatou que esses PDV – mais presentes na fundamentação por ser um espaço destinado aos motivos e às informações de fato e de direito que norteiam as decisões do magistrado – podem tanto se aproximar quanto se distanciar de acordo com a orientação argumentativa do texto. Ou seja, “[...] os objetos [do discurso] são construídos a partir de um posicionamento do enunciador frente às razões que o motivam.” (LOPES, 2014, p. 94). A pesquisa trouxe uma importante reflexão a respeito da dimensão semântica do texto, sobretudo das representações dos objetos do discurso na sentença judicial, um dos mais importantes gêneros de um processo judicial. Fonseca (2016), em sua dissertação de mestrado, fez um estudo sobre a argumentação em uma sentença judicial de natureza condenatória extraída do site da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN) com o objetivo de descrever e explicar. o. funcionamento. dos. operadores. argumentativos. na. orientação. argumentativa desse gênero. A pesquisa é de caráter documental e bibliográfico, orientada pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo e também se apoia nos constructos teóricos da ATD (ADAM, 2011), além dos estudos da Retórica de Aristóteles32. (1959). entre. outros. autores. que. tratam. especificamente. da. argumentação. Entre os resultados da pesquisa, foi possível constatar que muitos dos operadores argumentativos utilizados, sobretudo na fundamentação, evocam e são evocados por uma determinada Tradição Discursiva própria dos textos e do discurso jurídicos. Os resultados revelaram ainda que esses operadores argumentativos exerceram papéis preponderantes na organização da orientação argumentativa do texto e do discurso, orientando os coenunciadores para a conclusão desejada pelo enunciador, o juiz. Fonseca (2106, p. 7) destaca também “[...] que o uso dos. 32 ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1959. (384-322 a.C)..

Referências

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