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Academic year: 2021

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(1)138. CONCLUSÃO A questão central desta pesquisa partiu da constatação de que, com freqüência, os livros, que são adaptados para o cinema ou para a televisão, trazem em suas capas referências a essas adaptações. E que essa relação ficava mais evidente na capa do livro. Assim, parecia que o estudo iria ser trabalhar a capa como um todo. Até aquele momento havia uma percepção, uma intuição que somente se confirmou quando se buscou o conceito de paratexto, para melhor compreender uma capa, uma vez que, havia naquele conceito dois aspectos que se conectavam ao que parecia ser, naquele instante, o objeto de análise. O primeiro foi precisamente a percepção que Genette trouxe de que um livro não é somente o seu texto principal e que, nele mesmo ou fora, há textos que comunicam. Portanto, a capa atendia a essa necessidade. Depois se percebeu que, ao explicar esse conceito e como ele pode ser reconhecido, Genette traçava como que um método de trabalho. Daí, o objeto foi se estreitando até se concentrar nos enunciados que, marcadamente, evidenciam aquela relação entre o livro e outros veículos de comunicação. Ao falar em enunciado, já se revela, de certa forma, que a análise de discurso seria, ao lado do paratexto, outra aliada naquela tarefa. Uma terceira se juntou: a análise retórica, uma vez que os enunciados – quaisquer enunciados – possuem um substrato persuasivo. Nesse percurso, uma palavra foi o farol da pesquisa: função. Desde o começo ela estava presente, mas não se materializava. Às vezes, se pergunta para que serve alguma coisa, mas não se tem consciência de que, nesse perguntar, quer se saber como algo funciona. E as funções da linguagem foram incorporadas à pesquisa. Assim, daquele olhar mais de surpresa que de pesquisador que se tinha antes, a palavra função passou a nortear e se revelar na questão central, uma vez que, perguntar se um determinado enunciado é ou não um paratexto, é o mesmo que perguntar para que servem os textos que transitam nas proximidades de um livro. Para Genette, o paratexto deve servir ao texto principal de um livro. Os enunciados que se encontravam pareciam dizer o contrário. Mas apenas afirmar isso é cair no vazio. Era necessário que algumas hipóteses fornecessem pistas que poderiam ou não ser confirmadas. A primeira delas partiu do próprio conceito. Desconfiou-se de que aqueles enunciados não mantinham estreita relação com o texto principal. A segunda decorreu do fato de que se não fossem paratexto, o que seriam? Será que haveria alguma forma de classificá- los? A mais próxima surgiu quando se entende que a capa de um livro é atraente, chama atenção e que, por ela, muitas vezes, se chega até um livro. E.

(2) 139. isso tinha relação com a publicidade. Um desejo de vender aquele produto. E, por fim, se confirmada, como entender essa relação entre livro e publicidade, já que, quando se fala em publicidade associada a livros, isso é visto com certo preconceito. Mas ainda não era suficiente tudo isso. Quando se tem um livro nas mãos, não se tem idéia de quanta tradição ele carrega – tradição aqui não tem sentido conservador. Tem o sentido de um objeto que se construiu por meio de muitas ações e de técnicas e conhecimentos que possibilitaram o seu formato, a sua normalização, e, aí sim, num sentido conservador, uma tradição. A ponto de muitos não aceitarem mudanças nessa área. Porém, o que se queria dizer é que foi preciso conhecer essa trajetória para melhor analisar. Daí os objetivos colocados procuraram dar conta dessa busca de conhecimento. Como é um livro, sua história e, em particular, a história de seu revestimento – o nome mais técnico que é dado à capa de livro. E saber, surpreendentemente, que a capa como se conhece atualmente – a capa flexível, da brochura – é algo muito próximo de nossos tempos. Descobrir o colofão e verificar que, de tão importante no passado, hoje, muitas vezes é desprezado ou sequer utilizado. Outro objetivo dizia respeito a conhecer o livro em sua estrutura e, para isso, desenvolveu-se, com base na análise do discurso, idéia de que o livro é um objeto que possui textos que, a rigor, são manifestações de um discurso. Como os textos a analisar estavam no próprio livro, foi preciso traçar as características do discurso editorial como um dos tipos de discurso que circulam na sociedade. E que as partes que estruturam um livro compõem os gêneros discursivos presentes no discurso editorial. A partir daí, foi necessário começar a estabelecer relações entre discurso editorial e publicitário, já que uma das hipóteses indicava isso. E, por extensão, como o paratexto se fazia presente no livro, com base nas propriedades que o caracterizam. Dessa forma, o passo seguinte foi, enfim, analisar os enunciados para verificar se eram ou não paratextuais. E os resultados apontaram que quase todos não poderiam ser reconhecidos como paratexto, ou seja, eles não atendiam à propriedade essencial de um paratexto: a de fazer com que o leitor possa fazer uma leitura mais pertinente. Porém, se o trabalho parasse por aí, ficaria mera constatação. Para que, então, serviu descobrir que quase todos os enunciados analisados não se constituíam em paratexto e sim em enunciados típicos do discurso publicitário? Primeiro para evidenciar que o livro, de fato, e principalmente após o século XVIII com a crescente industrialização e o conseqüente aumento da urbanização, é uma mercadoria. É um objeto que se oferece à venda. E, em razão disso, torna-se necessário encontrar recursos que façam com que ele alcance o público. Se.

(3) 140. isso já é difícil num Brasil com poucas livrarias e com problemas de distribuição que, apesar das ações inovadoras de Monteiro Lobato, no começo do século XX, ainda hoje é possível encontrar editores que se queixam disso, recorrer ao próprio objeto, por meio de sua capa, como força persuasiva, parece ser um caminho. Até porque, por ser a parte que, de início se oferece do produto, a capa se assemelha a uma embalagem, para usar um termo que é mais comum aos demais produtos. Porém, enquanto os demais produtos, embora diversificados, em cada especificidade e com poucas diferenças, a concorrência é pequena entre eles. Assim, há várias marcas de sabão em pó, porém a finalidade desse produto é sempre a mesma. Já com o livro não ocorre isso. Mas há romances, não há? Sim, mas a leitura de cada um deles resulta. quase sempre, em uma nova experiência, aliás, se o leitor ler o mesmo romance em momentos diferentes, sabe-se que o resultado dessa leitura será diferente, ou seja, o “produto” é o mesmo mas quanto aos resultados... quanta diferença! Pela análise apresentada, evidenciou-se que o livro necessita do apoio do discurso publicitário para que possa alcançar o público e agir persuasivamente sobre ele com a finalidade de que ele se interesse por esse produto e, quem sabe, o compre. Verificou-se que, para fazer isso por meio da capa do livro, o editor pode optar por dois caminhos: buscar, no próprio texto principal do livro e em seu autor, suas qualidades e, a partir delas, elaborar enunciados que poderão cumprir com aquela finalidade. Outra possibilidade é recorrer às qualidades de elementos externos ao texto principal e ao autor, produzindo enunciados que, associados ao livro, também poderão atender àquele objetivo. Conforme se viu na análise, optando pelo primeiro caminho, os enunciados produzidos serão reconhecidos como paratexto; enquanto, optando pelo segundo, os enunciados não se configuram como paratextuais. Cabe ressaltar que, nesse reconhecimento, não se está fazendo qualquer julgamento. Não se está dizendo que o primeiro caminho é melhor do que o segundo. Tampouco se pretendeu afirmar que um será mais eficiente do que outro. Porém, não há como negar que a diferença de procedimento pode revelar que, no segundo caminho, em que o discurso publicitário se torna explícito, os enunciados revelam estratégias comuns aos demais veículos da indústria cultural. Assim, de certa forma, acredita-se que este trabalho caminhou de acordo com o que Eco propõe: analisar a linguagem, os enunciados enfim, a própria substância da comunicação para ver o que ela mostra e como pode ser entendida. Por isso, vislumbra-se que essa mesma relação aqui pesquisada poderia ser feita com profissionais da área editorial para confirmar ou ampliar o estudo aqui feito. Outra possibilidade diz respeito à própria substância dos enunciados semelhantes aos aqui.

(4) 141. analisados, procurando verificar se predomina o uso do verbal ou do não-verbal. Se há diferenças de enunciados nos livros adaptados para o cinema e para a televisão. Será que os adaptados para a televisão são não-verbais? Poder-se-ia ainda estudar que livros são adaptados. São os best-sellers, não são? O cinema utiliza mais obras recentes ou antigas. Enfim, as possibilidades são grandes e viriam, como se afirmou, alargar o conhecimento que se tem da relação entre o livro e outras mídias. Cabe ainda falar do que se vivenciou nesta pesquisa. Talvez seja idêntico, mas para quem está no processo, ele sempre será único. Momentos de paixão pelo tema em meio a sentimentos de ódio profundo. A certeza de que se estava no caminho certo e, perceber que era uma armadilha. A briga com as palavras. Sentir que quando se está longe do computador, o texto passeia à frente, oferece-se, só falta cair em forma de páginas impressas. E, ao inicializar a máquina, o que cai são apenas páginas em branco. Foram empregadas, neste trabalho, as análises do discurso e a retórica e se tem a certeza de que, aqueles enunciados foram descritos e interpretados, o discurso presente neste trabalho também se desvela. Analista e objeto mostram-se mutuamente. O segundo pelo empenho do próprio analista e o primeiro no próprio empenho de analisar.. O autor , o editor e o paratexo – 3ª parte Ah! E o Autor? Pois é. Olha como são as coisas. A gente pensa que só acontece em novela. E vai ver acontece na vida. Algum tempo depois, o Autor havia lançado mais um livro. E, de novo, palestras, encontros. E voltou àquela mesma escola em que conhecera o professor do paratexto. E se encontraram na sala dos professores. O Autor achou que ele parecia mais magro, mais cabelos brancos. Enfim... Desta vez, foi o Autor quem puxou a conversa. “E, então, acabou a pesquisa das capas?” O professor levantou e o cumprimentou. “Acabei há umas semanas atrás. Estou preparando a defesa.” “É uma tese?” “É sim.” O Autor desejou-lhe boa sorte. “Você sabia que por causa daquela coisa de você me dizer que aquela frase... aquela do O livro que... Então, aquela história me rendeu um romance?” “Um romance? Como assim?” “Eu fiquei curioso e fui pesquisar na internet o que era aquilo de paratexto. E depois de ter entendido alguma coisa, resolvi inventar uma história.” “E já publicou?” “Deve sair daqui a uns três meses”. O professor ficou curioso. Queria saber da história. “Vou te contar uma parte, se não você não compra meu livro.” O Autor sorria. “O ponto de partida vai ser a história de uma professora que está fazendo uma pesquisa sobre paratexto. Aliás, no começo era um professor. Daí, achei que era melhor colocar uma mulher e casada. Sabe, personagem feminino sempre atrai mais.” O professor concordou, lembrou-se de Monteiro Lobato. “E depois que ela lê o Genette e outros...” “Você pesquisou mesmo! Até Genette!!” “E foi mesmo. Em francês e tudo! Bom, o que essa professora... casada.... resolve fazer? Quando ela entra num chat... na internet... usa um nome de.

(5) 142. escritora para filtrar as pessoas com quem conversar.” “E que nome ela usa?” “Florbela Espanca. Daí entra um sujeito que faz gracinha. Ela rejeita. Outro também é recusado. Até que num dia um homem responde: ‘Salve, grande poeta portuguesa... vamos tc? E ela o aceita e começam a se encontrar pela internet durante algum tempo.” O professor está curioso. “E daí?” “Daí, vai ter uma complicação, mas eu não vou contar, se não...” O professor tenta mais um pouco e nada de o Autor lhe contar mais alguma coisa. Por fim, o professor quer saber do título. “E como vai se chamar o romance?” “Ah! Isso posso te falar: Joana e os perigos do paratexto.” Foi o Autor falar o título e os dois deram uma boa gargalhada. “E o editor gostou?” O Autor balançou a cabeça. “Ele está muito relutante. Vou ver se o convenço.” “E você já tem o capista? Se não eu tenho um filho que desenha muito bem. Ele poderia fazer pra você.” “Ah! A editora tem lá os capistas dela. Fala pro teu filho mandar um currículo”. “Tá, vou falar pra ele.” Então, começaram a se despedir. Mas antes, o Autor pediu ao professor “Aliás, escreve teu nome completo aqui na minha agenda, porque eu vou fazer uma dedicatória para você. Naquela parte do pré-textual”. Riu o Autor. “Você está entendendo bem mesmo, hein. Olha, me faz o seguinte, coloca o teu endereço na minha agenda que vou te enviar uma cópia da minha tese. Quer ler?”.

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Referências

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