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Biblioteconomia clínica: o profissional da informação em equipe multidisciplinar em assistência ao paciente com câncer

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADEFEDERALDORIOGRANDEDONORTE

CENTRODECIÊNCIASSOCIAISAPLICADAS

DEPARTAMENTODECIÊNCIADAINFORMAÇÃO

CURSODEBIBLIOTECONOMIA

LARYSSAMARQUESSILVA

BIBLIOTECONOMIACLÍNICA: OPROFISSIONALDAINFORMAÇÃOEMEQUIPE MULTIDISCIPLINAREMASSISTÊNCIAAOPACIENTECOMCÂNCER

NATAL/RN 2019.1

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LARYSSA MARQUES SILVA

BIBLIOTECONOMIACLÍNICA: OPROFISSIONALDAINFORMAÇÃOEMEQUIPE MULTIDISCIPLINAREMASSISTÊNCIAAOPACIENTECOMCÂNCER

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Biblioteconomia, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharelem Biblioteconomia.

Orientadora: Profª. Drª. Jacqueline Aparecida de Souza

NATAL/RN 2019.1

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LARYSSA MARQUES SILVA

BIBLIOTECONOMIACLÍNICA:OPROFISSIONALDAINFORMAÇÃOEMEQUIPE MULTIDISCIPLINAREMASSISTÊNCIAAOPACIENTECOMCÂNCER

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Biblioteconomia, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharelem Biblioteconomia.

Orientadora: Profª. Drª. Jacqueline Aparecida de Souza

Monografia aprovada em: 25/06/2019.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Profa. Drª Jacqueline Aparecida de Souza (Orientadora)

Departamento de Ciência da Informação Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________

Profa. Drª Gabrielle Francinne De Souza Carvalho Tanus (Membro da banca) Departamento de Ciência da Informação

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ______________________________________

Profa. Meª Carla Beatriz Marques Felipe (Membro da banca) Departamento de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação

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Dedico este trabalho primeiramente а Deus, a razão de tudo, autor da minha vida, mеυ Pai e amigo, socorro bem presente nа hora dа angústia. Eu não seria nada sem a fé que tenho Nele.

Aо mеυ pai Jose Timóteo da Silva Sobrinho, a minha mãе Audenir Maria Gomes de Oliveira Silva e ao meu marido Allyson Pablo Andrade da Silva.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, que me capacitou e me guiou em todos os caminhos da minha vida me permitindo viver vários sonhos, sendo a conclusão desta graduação um deles. Tenho a imensa gratidão pelo meu pai José Timóteo da Silva Sobrinho e minha mãe Audenir Maria Gomes de Oliveira Silva, por serem essenciais em minha vida, acreditando sempre no meu potencial e sempre me aconselhando sobre a importância do estudo. Não poderia deixar de citar o meu marido, Allyson Pablo Andrade da Silva, o qual me deu um grande suporte nesta reta final, sempre com palavras confortantes. Sem estes quatro pilares eu não seria nada.

Aos meus amigos do curso que viveram grandes momentos comigo, em especial a Jackson Matheus de Lima Cruz, Luana Paula Barbosa Avelino e Dariênio Xavier da Silva pela companhia e pela grande amizade cultivada ao longo desses quatro anos, amizade está que levarei para vida toda.

A minha segunda família da Diretoria de Atenção a Saúde do Servidor (DAS-UFRN), onde fui bolsista durante três anos e meio, em especial as minhas meninas do setor de Perícia Médica que me ajudaram em momentos cruciais da minha vida, sempre emanando amor e carinho e me apoiando em minhas decisões.

A todos os professores, por todo o conhecimento compartilhado durante o curso, os conselhos e a ajuda durante a elaboração deste estudo, em especial a minha orientadora Jacqueline Aparecida de Souza por todo apoio e paciência ao longo da elaboração desta monografia.

A todos os funcionários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte por todo apoio e por proporcionarem um ambiente propício para a realização de todo o curso e estágio supervisionado.

Também gostaria de prestar um agradecimento especial a UFRN por me proporcionar vivenciar esta experiência. E a todos os que aceitaram fazer parte desta pesquisa.

É chegado o fim de uma longa jornada e com ele se inicia outros caminhos possíveis para trilhar. Construir esta pesquisa não foi uma tarefa fácil, porém foi gratificante e me proporcionou outra visão sobre o universo das pesquisas científicas e sobre a minha pessoa. Agradeço do fundo do meu coração a todos que participam da minha vida e estiveram comigo nesta jornada. Não acabou por aqui, há muitas conquistas a serem realizadas.

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“Metade do conhecimento consiste em saber onde encontra-lo.” - Samuel Johnson

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RESUMO

Este trabalho trata sobre a importância da atuação do profissional da informação, trabalhando na área da saúde e sobre a interação do bibliotecário com profissionais de outras áreas do conhecimento, assim evidenciando a interdisciplinaridade da Biblioteconomia. Tem como objetivo geral analisar como o bibliotecário, a partir de suas habilidades e competências, pode se inserir em uma equipe multidisciplinar de assistência ao paciente com câncer, considerando que a medicina baseada em evidências (MBE) configura-se como um campo de atuação para este profissional. Objetiva especificamente descrever as ações desempenhadas pelo profissional da informação, juntamente com os benefícios atribuídos tanto a equipe multidisciplinar em oncologia, quanto ao paciente; conhecer como uma equipe multiprofissional em assistência ao paciente com câncer conduz suas pesquisas; apresentar a experiência de um profissional bibliotecário clínico brasileiro com vivência na área de oncologia e verificar a percepção dos profissionais da saúde sobre a atuação do bibliotecário clínico atuando nas equipes multidisciplinares de tratamento do câncer. Utiliza como metodologia a pesquisa bibliográfica, exploratória, descritiva e um estudo de caso. Para coleta de dados, foi realizada uma entrevista online com uma bibliotecária clínica com experiência em oncologia e um questionário virtual aplicado para profissionais de saúde que constituem uma equipe especializada de um hospital de oncologia no estado do Rio Grande do Norte. Evidencia como resultados: um quadro com as principais atividades desenvolvidas pelo bibliotecário clínico em oncologia com atividades relacionadas à Classificação Brasileira de Ocupações; um relato de experiência coletado através da entrevista; a descrição do modo como são realizadas as pesquisas pela equipe, como também o conhecimento e prática da medicina baseada em evidências e o reconhecimento da importância da atuação do bibliotecário clínico pela equipe multidisciplinar. Conclui-se que a MBE não é o único motivo que justifica a atuação do bibliotecário em conjunto com os profissionais de saúde; há a necessidade de ampliar pesquisas sobre o uso da medicina baseada em evidências e a presença da Biblioteconomia Clínica no Brasil, como também realizar estudos sobre os novos cenários de atuação, divulgando o potencial do profissional da informação.

Palavras-chave: Bibliotecário - Atuação. Bibliotecário Clínico. Medicina Baseada em Evidências. Oncologia.

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ABSTRACT

This study discourses the importance of the work of the information professional, working in the health area, on the interaction of the librarian with professionals from other areas of knowledge, thus evidencing an interdisciplinarity of Librarianship. Its main objective to analyze how the librarian can, based on your abilities and competences, be part of a multidisciplinary care team for the cancer patient, considering that evidence-based medicine (EBM) is a field of practice for this professional. It specifically aims to describe the actions performed by the information professional, along with the benefits attributed to both the multidisciplinary oncology team and the patient; knowing how a multiprofessional team assisting the cancer patient conducts their research; to present the experience of a Brazilian clinical librarian with experience in the oncology area and to verify the perception of the health professionals about the clinical librarian acting in the multidisciplinary teams of cancer treatment. For data collection, an online interview was conducted with a clinical librarian with experience in oncology and a virtual survey was applied to health professionals who works in a specialized team of an oncology hospital of the state of Rio Grande do Norte. Its results: a chart with the main activities developed by the clinical librarian in oncology with activities related to the Brazilian Classification of Occupations; the report about the experience in this area collected through the interview; the description of how the research is done by the team, as well as the knowledge and practice of evidence-based medicine and the recognition of the importance of the clinical librarian's performance by the multidisciplinary team. It is concluded that EBM is not the only reason that justifies the work of the librarian with health professionals; there is a need to expand research on the use of evidence-based medicine and the presence of Clinical Library Science in Brazil, as well as to carry out studies on the new performance scenarios, publicising the potential of the information professional.

Keywords: Librarian - Performance. Clinical Librarian. Evidence-Based Medicine. Oncology.

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LISTADEILUSTRAÇÕES

Figura 1- Estratégia PICO 22

Figura 2- Sistema GRADE de classificação 25

Figura 3- Ciclo de busca por informação pelo bibliotecário clínico 39 Figura 4- Fontes informacionais para pesquisas clínicas na área de oncologia 45 Figura 5- Fontes de acesso aberto para pesquisas clínicas na área de oncologia 46

Figura 6- Diretriz HON 46

Gráfico 1- Especialidade dos participantes da pesquisa 63

Gráfico 2- Frequência da realização de pesquisas sobre a especialidade 64 Gráfico 3- Tipos de fontes informacionais mais utilizadas 65 Gráfico 4- Uso de bases de dados e sites específicos da área 66 Gráfico 5- Exemplos de bases de dados e sites específicos 67

Gráfico 6- Tipos de fontes informacionais consultadas 68

Gráfico 7- Dificuldades ou não de ter a necessidade informacional atendida 69

Gráfico 8- Procedimentos para tomadas de decisões 70

Gráfico 9- Conhecimento dos profissionais sobre a MBE 71

Gráfico 10- Conhecimento das atividades, serviços do bibliotecário e auxílio

por este profissional 72

Gráfico 11- Sobre a inserção do bibliotecário clínico nas equipes

multidisciplinares em oncologia 73

Quadro 1- Quadro 2 –

Níveis de evidências

Bases de dados disponibilizadas pelo Portal de Saúde Baseada em Evidências

23 26 Quadro 3- Modos de praticar a medicina baseada em evidências 30

Quadro 4- Roteiro de entrevista 51

Quadro 5- Questionário para equipe multidisciplinar 52

Quadro 6- Atividades realizadas pelo bibliotecário clínico comparadas as

atividades estabelecidas pela CBO 61

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LISTADESIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas APA American Psychological Association AUA American Urological Association BDM Biblioteca Digital de Monografias

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações BVS Biblioteca Virtual em Saúde

CBO Classificação Brasileira de Ocupações CEBM Centre for Evidence-Based Medicine CFB Conselho Federal de Biblioteconomia CRB Conselho Regional de Biblioteconomia

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia INCA Instituto Nacional de Câncer

NCCN The National Comprehensive Cancer Network NCI National Cancer Institute PDQ

MBE Medicina baseada em evidências SBE Saúde Baseada em Evidências

SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde SBOC Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNESP Universidade Estadual Paulista

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

2 A MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E A SUA INTERVENÇÃO

NAS PRÁTICAS CLÍNICAS 18

2.1 Medicina baseada em evidências no âmbito da oncologia 31

3 A BIBLIOTECONOMIA CLÍNICA E A PERFORMANCE DO

BIBLIOTECÁRIO CLÍNICO 35

3.1 Desempenho do bibliotecário clínico em equipes multidisciplinares em

oncologia 41

4 TRAJETO METODOLÓGICO 48

4.1 Natureza da pesquisa 48

4.2 Universo da pesquisa 49

4.3 População e amostra 50

4.4 Instrumento de coleta de dados 50

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 54

5.1 Relato de experiência da bibliotecária clínica sobre sua atuação na área de oncologia

54 5.1.1 Breves reflexões sobre a atuação e atividades desempenhadas do bibliotecário

clínico em oncologia 58

5.2 A equipe multidisciplinar em oncologia e a importância da atuação do

bibliotecário no cenário clínico 63

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 74

REFERÊNCIAS 77

ANEXO A - QUADRODEATIVIDADESDOBIBLIOTECÁRIODE

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1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios a informação sempre teve muito valor para toda a sociedade, pois de informações compartilhadas podem ser produzidos novos conhecimentos e assim gerar benefícios para todos. Neste contexto o avanço da tecnologia proporcionou fácil acesso aos conteúdos e uma autonomia aos usuários, que muitas vezes podem não conseguir usar esta ferramenta a seu favor, por não formularem as estratégias de busca e não possuírem o conhecimento para reconhecer fontes informacionais confiáveis.

Com as habilidades e competências adquiridas ao longo da graduação e de especializações, o profissional da informação atua em diversas áreas (bibliotecas, centros de documentação, arquivos, editoras, livrarias, centros de preservação e restauração de documentos e obras de arte, TV, emissoras de rádio e jornal, organização de bases de dados virtuais, cartórios, museus, fóruns, discotecas, hospitais, etc.), visto que seu perfil tem se caracterizado pela variedade e pela multiplicidade de suas funções, sejam elas tradicionais como em bibliotecas ou emergentes, como em gestão de dados abertos.

O progresso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) contribui para o aumento de pesquisas e publicações na área da saúde, devido ao seu constante processo de evolução para o entendimento das doenças e para a procura incessante por tratamentos e possibilidades de cura para os pacientes.

Atribuindo destaque a área de oncologia que é a especialidade médica que se dedica a investigar o câncer, a formação da doença, os possíveis tratamentos e as possibilidades de cura dos diferentes tipos de neoplasia existentes. Seu surgimento é derivado de uma mutação genética nas células que passam a receber informações erradas para o desenvolvimento de suas atividades, destruindo a imunidade do corpo humano. O encadeamento da formação do câncer é intitulado de carcinogênese ou oncogênese, e na maioria das vezes acontece de forma vagarosa, podendo levar anos para que um tumor fique visível e isto obstaculiza o sucesso do tratamento (INCA1, 2019 s.p.).

A causa do câncer depende de vários fatores, há o fator genético já mencionado, porém existem várias causas externas que também contribuem para o desenvolvimento da neoplasia. Conforme o Instituto Nacional de Câncer, “entre 80% e 90% dos casos de câncer estão associados a causas externas. As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os hábitos e o estilo de vida podem aumentar o risco de diferentes tipos de câncer” (INCA 2018a s.p.). E infelizmente o número de casos de pacientes com esta enfermidade,

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tende a aumentar, de acordo com o INCA (2018b, s.p.) para cada ano 2018 e 2019 é esperado para o Brasil o surgimento de 600 mil novos casos de câncer.

Ter conhecimento das fontes informacionais sobre o desenvolvimento das pesquisas na área de oncologia possibilita a estruturação de condutas que auxiliem na vigilância e no entendimento da doença, assim sendo possível planejar programas de prevenção realmente eficientes. Ou seja, a oncologia é uma área complexa, por isso à necessidade de se estudar a fundo os tipos de neoplasias que possuem características e funcionamentos diferentes.

Biermann et al. (1999, p.381, tradução nossa) destaca que nós vivemos na era da ampliação exponencial do acesso à informação médica, pois antigamente realizar pesquisas nesta área poderia levar horas em uma biblioteca e hoje essas informações, que são de extrema utilidade, podem ser encontradas facilmente através do acesso a internet. Diante desta demanda informacional, é importante inserir um profissional que esteja apto a gerenciar, buscar, selecionar e avaliar a informação adequada para contribuir com o processo de tomada de decisão e para o desenvolvimento das pesquisas científicas em oncologia, sendo este profissional o bibliotecário.

Outro fator que reforça a diversificada atuação do profissional da informação nesta área é a Medicina Baseada em Evidências (MBE). Segundo França (2003 s.p.), a MBE é a utilização da melhor evidência científica disponível para basear as decisões clínicas que contemplaram os cuidados com os pacientes. Ou seja, essa prática requer um profissional adequado para lidar com as fontes de informação. Complementarmente, Ciol e Beraquet (2009, p.225) afirmam que o bibliotecário que atua nas equipes médicas fornece aos médicos e aos outros membros da equipe informações que vão permitir a melhor tomada de decisão, fundamentada na melhor evidência disponível, assim o profissional contribui para o melhor atendimento da população e faz um papel de mediador da informação. É interessante ressaltar que, no quadro de atividades exercidas pelo bibliotecário disponibilizado pela Classificação Brasileira de Ocupações2 (CBO) subsidiar informações para tomada de decisões é uma das principais ações deste profissional.

Lappa (2004, s.p., tradução nossa) defende que o bibliotecário tem total condição de atuar na área da saúde e que o profissional que escolher enveredar neste campo de atuação deve manter-se atualizado devido à tecnologia avançando cada dia mais, pois isso influencia como a informação será acessada, armazenada e disseminada. Destaca que uma das mudanças

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mais importantes na área médica nos últimos dez anos foi o uso das ferramentas tecnológicas para a prática da medicina baseada em evidências.

A Biblioteconomia tem como característica a interdisciplinaridade e, nesse aspecto, o profissional da informação está inserido nas mais diversas áreas, atuando como gestor, organizador, disseminador e mediador de informação. Na área oncológica, este profissional poderá atuar juntamente com a equipe multidisciplinar, levando em consideração, a demanda de conhecimentos, informações e linguagens selecionadas à oncologia e trabalhando com a área de interesse de cada especialista. Conforme Beraquet (1981, p. 38, tradução nossa) a Biblioteconomia possui uma forte interdisciplinaridade, que integra diversas perspectivas sobre o fazer da profissão e que necessita romper as barreiras artificiais entre as disciplinas do conhecimento, mostrando toda a inter-relação entre elas.

Segundo Cirilo; Beraquet, (2008, s.p.), a Biblioteconomia Clínica surgiu com o objetivo de oferecer apoio, atualização e contribuição para o aprendizado contínuo e a tomada de decisão, indicando aos profissionais de saúde as melhores evidências da literatura, permitindo que formulem seu embasamento clínico a partir de publicações científicas e assim construindo possíveis soluções mais adequadas para cada caso. Neste contexto que será utilizado o termo bibliotecário clínico, profissional que de acordo com Winning e Beverley (2003, p.11, tradução nossa) é um membro da equipe de cuidado médico que deve estar prontamente disponível para fornecer a informação para melhorar a qualidade do cuidado ao paciente ou para o desenvolvimento profissional continuado dos clínicos.

Tendo em vista que a área da medicina voltada à oncologia possui um grande volume de pesquisas científicas publicadas e compartilhadas em curto espaço de tempo; o bibliotecário clínico poderá proporcionar o acesso a informações relevantes, de forma rápida e confiável. Tendo como referencial para tal afirmação, a formação deste profissional, seu perfil, suas habilidades e competências.

Para tanto, o problema que norteia esta pesquisa é: como é a atuação do bibliotecário clínico inserido em uma equipe multidisciplinar em oncologia?

A partir disso, o objetivo geral deste trabalho é analisar como o bibliotecário, a partir de suas habilidades e competências, pode se inserir em uma equipe multidisciplinar de assistência ao paciente com câncer, considerando que a Medicina Baseada em Evidência configura-se como um campo de atuação para este profissional. Fundamentado nesta perspectiva, objetiva-se especificamente:

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● Descrever as ações desempenhadas pelo profissional da informação, juntamente com os benefícios atribuídos tanto a equipe multidisciplinar em oncologia, quanto ao paciente;

● Conhecer como uma equipe multiprofissional em assistência ao paciente com câncer conduz suas pesquisas;

● Apresentar a experiência de um profissional bibliotecário clínico brasileiro com vivência na área de oncologia;

● Verificar a percepção dos profissionais da saúde sobre a atuação do bibliotecário clínico atuando nas equipes multidisciplinares de tratamento do câncer.

Para a elaboração do estudo realizou-se um levantamento bibliográfico, em materiais com formatos físicos e digitais. Se caracterizando como uma pesquisa bibliográfica, exploratória, descritiva e um estudo de caso; tendo como finalidade caracterizar o fenômeno e entender o assunto de uma forma mais detalhada. Sendo adotada a aplicação de questionários virtuais aplicados a membros de uma equipe multidisciplinar em oncologia de um hospital especializado e uma entrevista estruturada online aplicada a uma bibliotecária clínica que já atuou na área da oncologia. Desse modo também se caracteriza um estudo quantitativo e qualitativo.

Uma das motivações para o desenvolvimento da pesquisa relaciona-se a uma experiência pessoal da pesquisadora, pois através do tratamento de câncer realizado por sua mãe, pôde utilizar as habilidades e competências que a Biblioteconomia proporcionou para realizar várias buscas sobre a doença e assim compreender melhor a temática, a doença, o tratamento e auxiliar sua mãe durante o tratamento. O termo “bibliotecário clínico” não era conhecido pela pesquisadora, mas após fazer pesquisas foi verificada a existência desse campo e com isso o interesse de um dia poder atuar e contribuir como bibliotecária clínica em uma instituição de assistência a pacientes oncológicos. Diante disto, surgiu à necessidade de desenvolver um trabalho que evidenciasse a atuação do bibliotecário clínico, vislumbrando um campo de trabalho pouco explorado e conhecido, destacando as principais atividades que podem ser realizadas neste cenário. É conveniente ressaltar que, tanto na Biblioteca Digital de Monografias da UFRN quanto na BRAPCI (Base de Dados em Ciência da Informação), não foram encontradas publicações especificamente sobre a temática desta pesquisa.

Portanto, a pesquisa agrega os interesses de estudo da pesquisadora e a possibilidade de contribuição para a Biblioteconomia e a Ciência da Informação, visando apresentar a

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existência de um caminho de atuação pouco explorado, como também estimular novos estudos interdisciplinares de reflexão e questionamento sobre o papel e perfil do bibliotecário na atualidade.

Por fim, esta monografia é composta por seis capítulos. Além desta introdução, segue o segundo capítulo que disserta sobre a MBE, relatando conceitos, definições, histórico e interligando esta prática com o avanço tecnológico e a atuação do bibliotecário, evidenciando sua importância na área de oncologia.

O terceiro capítulo trata da Biblioteconomia Clínica, trazendo conceitos, definições, aspectos preponderantes da prática, o histórico, suas características centrais; o papel do Bibliotecário Clínico e sua atuação em equipes multidisciplinares em oncologia.

Intitulado como Trajeto metodológico, o quarto capítulo desta pesquisa, exibe ao leitor os métodos e procedimentos utilizados, como também os tipos de fontes utilizadas para o desenvolvimento do estudo.

O quinto capítulo apresenta os resultados, a análise e as breves reflexões das respostas obtidas e exibe um quadro de atividades que delineia as possíveis atividades que podem ser desempenhadas pelo bibliotecário clínico no contexto estudado.

Por fim, o sexto capítulo, expõe as considerações finais do trabalho, em seguida são exibidas as referências e o anexo utilizados nesta monografia.

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2 A MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E A SUA INTERVENÇÃO NAS PRÁTICAS CLÍNICAS

O campo da saúde tem a função primordial de oferecer assistência ao paciente, logo o processo que conduz à decisão dos profissionais desta área sobre os tratamentos a seguir é de extrema importância para o cumprimento desta função. As literaturas científicas na área da saúde podem auxiliar nas tomadas de decisões dos profissionais de saúde, e devido às tecnologias disponíveis as literaturas passam a ser bem mais acessíveis que no passado e, é neste contexto que se fortalece a Medicina Baseada em Evidências.

A MBE teve seu conceito definido por Gordon Guyatt3 em 1991, sendo considerado um movimento educacional com origem na Epidemiologia Clínica, adotado previamente por David Sackett4 na Universidade McMaster (Canadá), o qual incentivava os médicos residentes com habilidades de busca e análise crítica da literatura médica. Mas, para que isso fosse possível um logo caminho precisou ser trilhado, na década de 70, Anchibald Cochrane5, Richard Doll6 e Kerr White7, entre outros especialistas, passaram a adotar métodos epidemiológicos associados aos conhecimentos da fisiopatologia, nas situações práticas, iniciando a Epidemiologia Clínica (TSAFRIR, 1996 apud CHEHUEN NETO et al, 2008, p. 34).

Em 1980 houve outro acontecimento, foi criada uma rede internacional constituída por profissionais da medicina, estatística e ciências sociais, com o intuito de dar crescimento ao campo epidemiológico e impulsionar a prática clínica com embasamento em informações seguras. (ATALLAH, 2004 apud CHEHUEN NETO et al, 2008, p.34).

Em 1992 foi fundada a Colaboração Cochrane8 em Oxford, no Brasil foi estabelecida em 1996, sendo ela “uma rede global independente de pesquisadores, profissionais, pacientes, cuidadores e pessoas interessadas em saúde” (COCHRANE BRASIL, [2019?], s.p.), essa organização disponibiliza evidências científicas de todas as partes do mundo, com o intuito de

3 Médico canadense e Professor universitário distinto nos Departamentos de Métodos de Pesquisa em Saúde,

Evidência e Impacto.

4 Foi um médico americano-canadense e pioneiro na medicina baseada em evidências. Ele é conhecido como um

dos pais da MBE.

5 Foi um médico escocês que revolucionou a medicina ao defender o uso do método científico para investigar a

eficiência e eficácia de tratamentos e doenças. Um dos pioneiros e fundadores da MBE.

6 Fisiologista britânico.

7 Médico norte-americano, epidemiologista e pesquisador de serviços.

8 É uma organização internacional que tem por objetivo ajudar as pessoas a tomar decisões baseadas em

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auxiliar os especialistas e pacientes. E assim a medicina baseada em evidências foi ganhando seu espaço internacionalmente e nacionalmente.

Segundo El Dib (2014, p.11), a MBE tem por objetivo principal a realização de pesquisas com qualidade metodológica, livres de conflitos de interesses e tendências, assim possibilita obter uma resposta adequada para auxiliar a tomada de decisão nas questões clínicas, também viabiliza a defesa e a apresentação de novas ideias científicas.

Em conformidade com Sackett et al (1996, p.71, tradução nossa), a medicina baseada em evidências define-se como o uso consciente, explícito e crítico da melhor evidência atual, integrado com experiência clínica, valores e preferências dos pacientes. Portanto não quer dizer que ela deva ser seguida sozinha para proporcionar as decisões, ela vai auxiliar os profissionais, logo as decisões serão tomadas com base na MBE, no conhecimento e experiência clínica do profissional e da realidade do paciente. Utilizando estes três princípios a probabilidade da decisão ter seu resultado esperado é maior, pois diminui a possibilidade da realização de tratamentos que não dariam certo, por exemplo, como também a ingestão de medicamentos que poderiam causar outros efeitos, ou seja, são muitos fatores que podem ser evitados.

De acordo com Bosi ([2011?], p.10), a medicina baseada em evidências não tem o objetivo de vender tecnologias de equipamentos e diagnósticos que substituem o exame físico ao paciente; priorizar o uso de medicamentos novos; desconsiderar a experiência adquirida pelo profissional ao longo de sua carreira; ser um instrumento contra interesses do profissional da saúde.

O conceito apresentado por Cañedo Andalia (2004 s.p.):

Medicina baseada em evidências é o resultado da introdução na esfera do cuidado clínico de modelos de qualidade criados por um novo paradigma de progresso que abrangeu todas as áreas da sociedade e os avanços mais recentes em epidemiologia clínica, instituiu o uso da informação como uma das matérias-primas básicas para a melhoria do atendimento médico; prática médica questionada baseada na experiência pessoal; introduziu um arsenal metodológico para a avaliação de relatórios de pesquisas clínicas de acordo com o tipo e promoveu o desenvolvimento de pesquisa documental, além de tornar a realização de revisões de literatura muito mais objetivas e confiáveis. E pode-se argumentar que as novas abordagens, ferramentas e conhecimentos estão revolucionando o que se espera de bibliotecário clínico, que não deve ser apenas um membro da equipe de atendimento ao paciente, mas também devem participar no desenvolvimento e na gestão de novas ferramentas para a busca de informações e análises médicas, como os chamados filtros metodológicos, revisões sistemáticas e metanálises. (CÃNEDO, 2004, s.p. tradução nossa e grifo nosso).

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O conceito esclarecido por Atallah (2018, p.43) fala sobre a maior probabilidade de acertar com a utilização desta prática: “A MBE veio coroar os conceitos fundamentais da Medicina e da Saúde de requererem evidências de eficácia, efetividade, eficiência e segurança para nortear decisões, tendo-se assim maiores probabilidades de se acertar” (ATALLAH, 2018, p.43).

Os autores Atallah (2018, p.43), Cañedo Andalia (2004 s.p.), Bosi ([2011?], p.10), Sackett et al (1996, p.71, tradução nossa) e El Dib (2014, p.11) concordam que a medicina baseada em evidências veio para complementar e possibilitar mais embasamento para tomadas de decisões; reduzindo as incertezas, auxiliando o médico a evitar sobrecarga de informação e, ao mesmo tempo, a encontrar e colocar em prática a informação mais útil. Sendo assim, esta prática é caracterizada por um movimento científico e médico que condiciona toda prática médica a métodos rigorosos para classificar informações em evidências com a finalidade de responder questões clínicas com mais eficácia, efetividade e eficiência. Cañedo (2004 s.p.) menciona a profissão do bibliotecário clínico, colocando a MBE como um novo desafio para esse profissional.

Quando falamos das evidências que favorecem um tipo de tratamento, consideramos sua eficácia, eficiência, eficácia e segurança. Sua eficácia é uma avaliação de como funciona em condições reais. A eficácia é o quão bem funciona em condições ideais. Sua eficiência é uma medida de quão barata e acessível ela é, para que os usuários possam recorrer a ela. E por último, sua segurança é uma avaliação de se a intervenção é confiável e não leva a efeitos que o paciente não deseja (CD de Mulrow, 1997 apud EL DIB; ATALLAH, 2006, p.51 tradução nossa).

A prática da MBE envolve a superação de alguns desafios relacionados à atualização do profissional tendo em vista as várias informações publicadas na área da saúde que crescem a cada dia, a definição das melhores fontes de informação, a avaliação crítica da informação recuperada e a interligação das evidências com a experiência clínica (SAMPAIO, MANCINI e FONSECA, 2002 apud SAMPAIO e MANCINI, 2007, p.84).

Para alguém ser considerado detentor das competências necessárias para a prática da MBE tem que ser capaz de (GUYATT; SACKETT; COOK, 1993 e LAUPACIS; WELLS; TUGWELL, 1994 apud LOPES 2000, p.285):

 Identificar os problemas relevantes do paciente;

 Converter os problemas em questões que conduzam às respostas necessárias;

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 Avaliar a qualidade da informação e a força da evidência, favorecendo ou negando o valor de uma determinada conduta;

 Chegar a uma conclusão correta quanto ao significado da informação;  Aplicar as conclusões dessa avaliação na melhoria dos cuidados

prestados aos pacientes.

Tendo como base os pontos citados acima, pode-se indicar como seria a aplicação na prática de uma equipe multidisciplinar tendo como membro dela um bibliotecário clínico: os profissionais da saúde identificariam os problemas relevantes do paciente e comunicariam ao profissional da informação, o bibliotecário converteria os problemas para questões com o objetivo de facilitar as pesquisas e escolheria as fontes adequadas para as buscas, fornecendo informações de qualidade para a equipe e assim os especialistas avaliariam as evidências científicas e chegariam a uma conclusão, aplicando o conhecimento adquirido no cuidado do paciente. Em vista disso o profissional da informação realiza um trabalho de referência e, segundo Grogan (1995), o “processo de referência” compreende o problema, a necessidade de informação, a questão inicial, a questão negociada, a estratégia de busca, o processo de busca, a resposta, a solução e a avaliação.

Lappa (2004 s.p.) enfatiza as possibilidades que a MBE proporciona para os profissionais da Biblioteconomia:

A medicina baseada em evidências (MBE) pode ampliar o papel do profissional da informação - bibliotecário clínico - para além da busca da literatura, rumo ao envolvimento com a prática e à capacitação para a seleção da literatura de qualidade e a avaliação crítica dessa literatura (LAPPA, 2004, s.p., tradução nossa).

Segundo Valácio9 (2016 s.p.), a prática de saúde baseada em evidências se tornou um movimento em defesa do paciente, buscando alcançar os benefícios e reduzir os danos nas decisões que são tomadas no dia a dia. E para auxiliar nas pesquisas das evidências podem ser utilizadas perguntas clínicas, pois o processo da MBE inicia-se pela formulação de uma questão clínica de interesse. Uma boa pergunta formulada é o primeiro e mais importante passo para o início de uma pesquisa, pois diminui as possibilidades de ocorrerem erros sistemáticos (vieses) durante a elaboração, o planejamento, a análise estatística e a conclusão de um projeto de pesquisa. As perguntas se constituem no formato PICO:

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Figura 1 – Estratégia PICO

Fonte: Valácio (2016).

Nobre, Bernardo e Jatene (2003, p.445) explicam o sistema PICO da seguinte forma: P é referente ao paciente ou a população (idade, sexo, risco de base, doença principal, comorbidades, presença ou ausência de sintomas, tempo de doença); I representa a intervenção ou indicador (diagnóstico, terapêutica, etiologia, dano ou indicador prognóstico); C quer dizer comparação ou controle (placebo, ou outra intervenção diagnóstica ou terapêutica); O: “outcome”, que na língua inglesa significa desfecho clínico, resultado ou, por fim, a resposta que se espera encontrar nas fontes de informação científica (intermediários, morte, recorrência, prognóstico, qualidade de vida, sinais e sintomas). Sendo esta uma estratégia que pode ser utilizada pelos bibliotecários para auxiliar nas apurações das informações.

Para facilitar a escolha das fontes de informação, pode ser utilizada outra estratégia que é a classificação das evidências, ela proporciona saber qual é o tipo de documento que está sendo selecionado. Há muitas classificações de níveis de evidências, um dos métodos de classificação mais mencionado nas literaturas é o da Universidade de Oxford que determina como os estudos desenvolvidos na ciência possuem mais qualidade do que outros.

Nos níveis de evidência de Oxford a evidência é classificada em 1a, 1b, 1c, 2a, 2b, 2c, 3a, 3b, 4 e 5. No geral os níveis são diferenciados em ordem de importância e de qualidade: revisões sistemáticas com ou sem metanálises; ensaios clínicos randomizados; estudos de coorte; estudos de casos-controle; série de casos; relato de caso; e opinião de especialistas, in vitro e pesquisas em animal (CEBM, [2014?], s.p.). Para interpretar estas categorias é

(23)

necessário consultar frequentemente a classificação para compreender o que cada nível representa.

É considerável destacar que nenhum sistema de classificação de evidência ou ferramenta/ estratégia que auxilie na tomada de decisão pode ser usado sem um pensamento crítico. Por isso, a avaliação das evidências é de responsabilidade dos profissionais da saúde. As classificações propõem uma hierarquia da provável melhor evidência, para que possa ser usada como um atalho para especialistas da saúde e pesquisadores com o intuito de encontrar a melhor evidência provável.

Os níveis não se destinam a fornecer-lhe um julgamento definitivo sobre a qualidade das provas. Haverá inevitavelmente casos em que evidências de 'nível inferior' - digamos de um estudo observacional com um efeito dramático - fornecerão evidências mais fortes do que um estudo de 'nível mais alto' - dizem uma revisão sistemática de poucos estudos que leva a um resultado inconclusivo (HOWICK et al, 2011, s.p. tradução nossa).

Shulze (2016, s.p.) explica os níveis de estudo da MBE de um modo mais claro, eles são apresentados da seguinte forma:

Quadro 1 – Níveis de Evidências NÍVEIS DE EVIDÊNCIAS Nível 1 –

Revisão sistemática e metanálise

Mais alto nível de evidência de efetividade, realizada através de análise de artigos científicos sobre um tema estipulado, sintetizando cientificamente as evidências apresentadas pelas publicações. Nesse nível não há trabalho com os doentes, apenas

com os trabalhos científicos de qualidade.

Nível 2 – O Ensaio Clínico Randomizado Mega

Trial (com elevado número de pacientes)

Nesse nível se encontram os estudos comparativos entre dois grupos de pacientes, distribuídos aleatoriamente, submetidos a diferentes tratamentos para a mesma moléstia. Um dos grupos, geralmente, recebe o novo tratamento, ao passo que o outro grupo recebe um tratamento convencional ou placebo. Nem os pacientes,

tampouco os médicos que realizam a pesquisa sabem quais pacientes receberam o novo medicamento, quais receberam placebo ou o medicamento convencional. Por isso o teste é

conhecido como duplo-cego.

Nível 3 – O Ensaio clínico randomizado com baixo

número de pacientes

Há pelo menos um ensaio clínico randomizado. Em nada destoa do nível anterior de evidência, mas o número reduzido de pacientes deve ser considerado para fins do grau de evidência do resultado

(24)

Nível 4-

Estudos observacionais de Coorte

O estudo observacional de pacientes que possuem características semelhantes, os quais são divididos em grupos segundo sua maior

ou menor exposição a determinados fenômenos, com acompanhamento do prolongado período. O nome coorte é por

vezes usado como sinônimo de estudo longitudinal ou de incidência.

Nível 5 – O Estudo de caso

controle

É um tipo de estudo observacional onde os pacientes que possuem um determinado desfecho são comparados com pacientes sem este desfecho, com o propósito de determinar fatores que possam ter

causado a diferença entre os grupos.

Nível 6 – O Estudo de série de casos ou consecutivos

São relatos de diversos casos envolvendo vários pacientes, com o intuito de informar um aspecto novo ou não amplamente conhecido de uma doença ou terapia. São analisados vários

tratamentos realizados e os resultados obtidos.

Nível 7 –

Opinião de especialistas

Mais baixo grau de evidência, porque se funda exclusivamente na avaliação de um especialista. O baixo grau de evidência decorre da

humanidade do especialista, seja porque este pode errar nas suas avaliações, seja porque ele pode sofrer influências externas ou até mesmo ter interesse no encaminhamento de determinada opinião.

Fonte: Shulze (2016).

Para complementar a utilização da classificação, há graus de recomendação para os níveis de evidências, o mais citado pelas literaturas científicas é o sistema GRADE.

É um sistema desenvolvido por um grupo colaborativo de pesquisadores que visa à criação de um sistema universal, transparente e sensível para graduar a qualidade das evidências e a força das recomendações. Atualmente mais de 80 instituições internacionais utilizam o GRADE, entre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS), o National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE), a SIGN, o Centers for Disease Controland Preventon (CDC) e a colaboração Cochrane. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014, p.19).

Neste sistema, a avaliação da qualidade da evidência é realizada para cada desfecho analisado para uma dada tecnologia, assim utiliza o conjunto disponível de evidência, classificando elas em quatro níveis: alto, moderado, baixo, muito baixo, conforme mostrado na figura abaixo. Esses níveis representam à confiança que podemos atribuir às publicações (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2014, p.19). A figura a seguir explica os níveis, as definições, as implicações e o tipo de fonte de informação descrita pelo Sistema de classificação GRADE:

(25)

Figura 2 – Sistema GRADE de classificação

Fonte: Ministério da Saúde (2014).

Tanto a classificação dos níveis de evidências quanto os graus de evidências, são ferramentas úteis, porém necessitam de um profissional qualificado para utilizá-las, sendo assim, o resultado será satisfatório. O profissional pode adotar estas ferramentas como base e adaptá-las para a realidade e necessidade da instituição.

Para a aplicação das classificações e dos graus das evidências é necessário à busca por informação, sendo assim é preciso saber em quais fontes realizar as pesquisas, quais portais/ plataformas e bases de dados na área da saúde e especializados em evidências; e o desconhecimento de fontes de informações confiáveis pode aumentar o tempo de busca e diminuir a eficiente e eficácia na recuperação da informação.

A prática do uso de evidências já é mencionada na legislação voltada para o Sistema Único de Saúde – SUS na Lei Nº. 12.401, de 28 de Abril de 2011 (art. 19-Q, § 2º, I):

2o O relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS

levará em consideração, necessariamente: I - as evidências científicas sobre a eficácia, a acurácia, a efetividade e a segurança do medicamento, produto ou procedimento objeto do processo, acatadas pelo órgão competente para o registro ou a autorização de uso (BRASIL, 2011, s.p, grifo nosso).

(26)

Sendo o SUS o sistema público de saúde no Brasil que oferece tratamentos, medicamentos e apoio aos cidadãos doentes em geral, em todas as áreas da saúde, é interessante pontuar o reconhecimento das evidências científicas por parte deste sistema. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em parceria com o Ministério da Saúde e outras entidades, possui um Portal de Saúde Baseada em Evidências10, que permite o acesso às seguintes bases de dados: Access - Medicine; BVS-APS; BVS Enfermagem; BVS Odontologia; Bulário Eletrônico; CareNotes; Dynamed; Epistemonikos; Micromedex 20; Nursing Reference Center; Proqualis; Revista Brasileira de Inovação Tecnológica em Saúde; Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde; Rehabilitation Reference Center; Ovid Discovery TRIAL; 5 Minute Clinical Consult TRIAL; Visual DX TRIAL; Health Library TRIAL; Lippincott Nursing Procedures TRIAL; Lippincott Procedimentos TRIAL; BMJ Best Practice TRIAL e BMJ Learning TRIAL. É possível visualizar mais informações sobre estas bases de dados a seguir:

Quadro 2 – Bases de dados sobre Saúde Baseada em Evidências

Bases de dados Informações

Access - Medicine Oferece acesso rápido e direto às informações necessárias para a conclusão de

avaliações, diagnósticos e decisões clínicas, além de auxiliar em pesquisas, educação médica, auto-avaliações e análises gerais. Disponibiliza milhares de

imagens ilustrativas, além de auto-avaliações interativas, casos arquivados e ferramentas diagnósticas. Acesso aos livros: Harrison's Principles of Internal

Medicine, CURRENT Medical Diagnosis & Treatment 2010, The MD Anderson Manual of Medical Oncology, DeGowin's Diagnostic Examination,

Tintinalli's Emergency Medicine, Schwartz's Principles of Surgery, Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine, Williams Obstetrics, e outros.

Oferece livros online, vídeos de procedimentos, calculadoras médicas e imagens.

BVS - APS A BVS APS faz a gestão da informação científica e técnica relacionada à

Atenção Primária à Saúde e às Redes de Atenção além das produções do Programa Telessáude Brasil Redes. É resultado da cooperação técnica entre o

Centro Latino-Amerino e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME; OPAS/OMS) e o Ministério da Saúde através do Departamento de

Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (DEGES/SGTES). Oferece artigos e segundas opiniões

informativas.

BVS Enfermagem A BVS Enfermagem Brasil tem por objetivo contribuir para produção,

organização e disseminação da informação científica e técnica em Enfermagem produzida pelas instituições brasileiras representativas no tema.

Oferece artigos e resumos.

BVS Odontologia A BVS Odontologia Brasil tem por objetivo contribuir para produção,

organização e disseminação da informação científica e técnica em Odontologia

(27)

produzida pelas instituições brasileiras representativas no tema. Oferece

artigos e resumos.

Bulário Eletrônico Desenvolvido para facilitar o acesso rápido e gratuito pela população e

profissional de saúde as bulas de medicamentos. O sistema traz as bulas atualizadas dos medicamentos registrados no Brasil.

CareNotes Base de dados destinada ao paciente contendo informações sobre: a

enfermidade, o uso correto do medicamento, testes de laboratório, cuidados com a saúde, etc. Através de uma linguagem simples, ajuda a informar o

paciente sobre a sua doença, testes de laboratório, tratamento e acompanhamento. É possível editar e adaptar os documentos. Disponível em

Português e em outros idiomas. Oferece cuidados pré-cirúrgicos,

hospitalização, alta e cuidados adicionais, com imagens coloridas e de fácil compreensão. Há documentos em todas as áreas da saúde, como cardiologia, câncer, medicina esportiva, gravidez, dieta, gerontologia, medicina preventiva, reabilitação, terapia intensiva, etc. Os documentos

mais importantes já estão disponíveis na Língua Portuguesa contendo mais de cem doenças e mais de 500 medicamentos, podendo ser impressos e entregues

aos pacientes.

Dynamed É uma ferramenta de referência clínica, para uso no local de tratamento,

contém sumários clinicamente organizados e inclui calculadoras médicas (equações médicas, ferramentas para suporte à decisões clínicas, cálculos estatísticos, ferramenta pra conversão de dosagens e de unidades de medida). Provê resumos com interface organizada por temas. É atualizada diariamente.

Cada publicação é revisada de forma integral e cada artigo é avaliado por relevância clínica e validade científica. Oferece ferramenta de respostas

rápidas, calculadoras medicas e aplicativos para smartphones.

Epistemonikos Providenciar o acesso a revisões sistemáticas de evidência sobre sistemas de

saúde. Combina o melhor da Prática em Saúde Baseada em Evidências e tecnologias da informação para fornecer uma ferramenta única para as pessoas

na tomada de decisões sobre questões clínicas ou política de saúde. Oferece

resumos.

Micromedex Disponibiliza o Diseasedex – General Medicine: que engloba o período

posterior às primeiras horas de uma emergência médica como prevenções, sintomas e complicações, com informações referenciadas; Drug-Reax: que auxilia a monitorar e identificar interações medicamento-medicamento,

medicamento-alimento, medicamento-doenças, medicamento-álcool e medicamento-exames laboratoriais; e CareNotes que contém informações

concisas e fácil de entender relativa aos tratamentos padrão para uma variedade de doenças e condições. Contribui para a precaução dos eventos adversos de drogas e erros médicos ao disponibilizar informações confiáveis sobre os efeitos e severidade destas interações. Oferece calculadoras medicas

e aplicativos para smartphones. Nursing Reference

Center

Proporciona a equipe de enfermagem e estudantes da área, evidências clínicas e conhecimento de condições patológicas, informação ao paciente, e referência

de medicamentos. Uma ferramenta de referência desenvolvida para oferecer relevantes recursos clínicos para área de enfermagem, proporciona acesso para

artigos em texto completo, cobrindo doenças e condições, laboratórios e diagnósticos. Também destaca diretrizes das melhores práticas, módulos de educação continuada, informação ao paciente em Inglês e Espanhol. Oferece

artigos.

PROQUALIS Volta-se para a produção e disseminação de informações e tecnologias em

qualidade e segurança do paciente. Está vinculado ao ICICT/Fiocruz e conta com o financiamento do Ministério da Saúde, através da Secretaria de Atenção

(28)

saúde através da divulgação de conteúdos técnico-científicos selecionados a partir da relevância, qualidade e atualidade. Possui conteúdos próprios como aulas, entrevistas, vídeos, resenhas, notícias, entre outros. Oferece revisões e

vídeos de procedimentos. Revista Brasileira

de Inovação Tecnológica em

Saúde

Mantenha-se informado com as últimas notícias sobre inovação tecnológica em saúde. Oferece artigos.

Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em

Saúde

Busca promover e difundir a área de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) no Brasil. A Rede estabelece a ponte entre pesquisa, política e gestão,

fornecendo subsídios para decisões de incorporação, monitoramento e abandono de tecnologias no contexto de suas utilizações nos sistemas de

saúde. Oferece artigos.

Rehabilitation Reference Center

Ferramenta clínica baseada em evidência utilizada no local de tratamento por clínicos especializados em reabilitação. Provê a fisioterapeutas, médicos especialistas, terapeutas ocupacionais e estudantes de reabilitação a melhor evidência disponível para suas necessidades de informação. O conteúdo inclui

revisões clínicas, instrumentos de pesquisa, informação dos medicamentos e seus fabricantes, imagens de exercícios, guias chaves de referência, guidelines, tópicos relevantes sobre educação de pacientes em inglês e espanhol, e notícias

e atualizações clínicas. Oferece revisões e imagens.

Ovid Discovery TRIAL

O Ovid Discovery é uma interface especializada para a descoberta de conteúdo de pesquisa biomédica. Ele unifica recursos disponíveis de editores, fornecedores e agregadores conduzindo o usuário ao conteúdo em texto completo, e coleções de recursos internos e externos, incluindo bases de dados, integração do sistema de catálogo da biblioteca, sites, mecanismos de pesquisa

e repositórios locais com alta relevância nos resultados de busca. Oferece

artigos. 5 Minute Clinical

Consult TRIAL

Plataforma clínica de suporte à tomada de decisões no ponto de tratamento para profissionais da saúde. A plataforma 5-Minute Consult, é uma solução diferenciada que oferece acesso online a um conteúdo clínico sintetizado, e que permite que profissionais da saúde tomem decisões rápidas e informadas

em situações emergenciais. Baseado no mais renomado conteúdo clínico em medicina familiar há mais de 20 anos, esse portal é a maneira mais rápida de obter o mais provável diagnóstico, tratamento e informações de gestão de

milhares de doenças. Um guia confiável para médicos, assistentes, enfermeiros. Oferece artigos.

Visual DX TRIAL É uma ferramenta médica para referência visual. Inclui mais de 1300

diagnósticos e 29000 imagens para ajudar no diagnóstico e nas tomadas de decisões. Há ainda mais de 90 mil imagens de fontes que foram revisadas por médicos do mundo inteiro. Todas as idades, tipo da pele, variações da doença baseada em severidade e estágio de evolução, estão representadas. As imagens disponíveis no Visual Dx ajudam na identificação de doenças dermatológicas,

infecciosas, genéticas, metabólicas, doenças nutricionais e ocupacionais, tumores benignos e malignos, condições induzidas pelo uso de medicamentos e outros ferimentos. Visual Dx é a única plataforma para profissionais médicos

que mostra variações da doença com múltiplas imagens e auxilia na precisão do diagnóstico. Oferece artigos.

Health Library TRIAL

Portal de acesso a livros, recursos multimídia e estudos de caso mais comuns para uso na medicina, farmácia e outros programas de ciências da saúde. As coleções dentro do portal abrangem várias áreas de estudo como farmácia,

ortopedia, cirurgia, e muitas outras. Oferece artigos.

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Procedures TRIAL Estados Unidos, fornece acesso online às melhores práticas baseadas em evidências, proporcionando às equipes de enfermagem cuidados padronizados

para que possam atingir a excelência médica e melhorar os resultados para os pacientes. Esta plataforma foi concebida por enfermeiros para enfermeiros

para fornecer suporte às respostas no momento da dúvida, antes de tomar conduta frente a um procedimento de enfermagem, e para padronização da

assistência. Oferece Artigos.

Lippincott Procedimentos

TRIAL

Versão BETA em Português da Lippincott Procedimentos que tem como proposta acesso online às melhores práticas baseadas em evidências, proporcionando às equipes de enfermagem cuidados padronizados para que

possam atingir a excelência médica em centros de pesquisa e atendimento clínico no Brasil atendendo as normas estabelecidas pelo COFEN, e totalmente

customizadas aos hospitais de todo o Brazil. Oferece artigos.

BMJ Best Practice TRIAL

Considerada uma das melhores ferramentas de apoio à decisão clínica para profissionais de saúde em todo o mundo. A BMJ Best Practice leva você de forma rápida e precisa às últimas informações baseadas em evidências, sempre

e onde você precisar. Nosso guia passo a passo para diagnósticos, prognósticos, tratamentos e prevenções é atualizado diariamente usando uma metodologia robusta e baseada em evidências e opiniões de especialistas. Nós apoiamos você para implementar boas práticas. *Ler pesquisa "A BMJ Best

Practice é minha referência ao ensinar, treinar, escrever, em dúvidas, emergências e no lazer." Anestesista Consultor, Hospital do Reino Unido.

Oferece artigos. BMJ Learning

TRIAL

É um recurso de aprendizagem online líder no mundo para profissionais e estudantes da área da saúde. O BMJ Learning foi lançado em 2004 e desde então milhões de módulos já foram completados em 10 idiomas diferentes. Atualmente temos mais de 560.000 usuários registrados mundialmente. Foi licenciado pelo Ministério da Saúde em 2012. A partir de então, ofereceu acesso gratuito a todos os profissionais e estudantes da saúde do país. Esse acesso beneficiou mais de 2 milhões de profissionais da saúde por mais de 3

anos, e no meio acadêmico, foi acessado por mais de 2,000 estudantes e professores em 1 ano. Oferece artigos.

Fonte: adaptado de BRASIL (2016, s.p.).

Esse acesso está disponível aos profissionais e estudantes da área da saúde. O acesso é definido pelo vínculo dos profissionais aos seus respectivos Conselhos Profissionais. Têm acesso às bases de dados os profissionais das 15 áreas da saúde, sendo estas: Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Saúde Coletiva e Serviço Social, Técnico em Radiologia.

Iniciado em 2012, o Portal Saúde Baseada em Evidências refere-se a uma iniciativa da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS) em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/MEC) para desenvolvimento de uma biblioteca eletrônica com conteúdos específicos para profissionais de saúde. O Portal SBE reitera o compromisso do governo brasileiro de aprimorar o exercício dos trabalhadores da saúde democratizando as condições de acesso, nas suas áreas de atuação, a conteúdos cientificamente fundamentados, na perspectiva de melhor atender à população. (BRASIL, 2016, s.p.).

(30)

Assim, com a utilização de um metabuscador este site proporciona o acesso a evidências clínicas e artigos científicos, trazendo a prática da MBE para a vivência dos profissionais cadastrados no portal.

Como toda prática possui críticas, com a MBE não seria diferente. Tuche (2017, s.p.) explica que atualmente muitos profissionais dizem que praticam a medicina baseada em evidências, porém exercitam de forma equivocada. No quadro a seguir se pode visualizar o que é MBE e o que não é MBE:

Quadro 3 – Modos de praticar a medicina baseada em evidências

O que é MBE O que NÃO é MBE

Decisão baseada na relação médico-paciente Decisão baseada em análise crítica de estudos

Médico considera valores e preferências dos pacientes nas decisões

Médico considera sua autoridade nas decisões

Metodologia explícita de busca, crítica e contextualização da melhor evidência

disponível

Apenas autointitulado baseado em evidências sem transparência e sem embasamento

científico

Sem conflitos de interesses Baseado em conflito de interesses

Fonte: adaptado de Tuche (2017).

Já França (2003, s.p.) vai abordar sobre a falta de evidências em casos muito específicos e a escolha dos trabalhos para a tomada de decisão:

O risco das ideologias no campo da saúde está no seu caráter reacionário e centralizador por não admitir o pensar ou o agir individual. Sua inclinação é pelas ideias abstratas. E o mais desanimador em medicina baseada em evidências é que quanto mais complexo é o quadro clínico, menos evidências científicas ela dispõe para uma convincente tomada de decisão. Outro risco é a tendência de as conclusões das revisões continuadas serem mantidas pela aceitação de trabalhos que só se reportam aos resultados que se ajustam às esperadas e não àqueles que revelam consequências adversas ou que não se enquadram numa determinada linha de critérios estabelecida na seleção dos artigos de revisão, deixando-os de fora por razões nem sempre justificadas (FRANÇA 2003, s.p.).

Percebe-se que a MBE existe para dar suporte e ser um complemento. As duas críticas citadas acima derivam do mau uso desta prática pelos profissionais e da falta de pesquisas mais específicas para embasar decisões sobre alguns casos clínicos singulares e isto não é determinado pela medicina baseada em evidências, mas pela falta de pesquisas científicas mais aprofundadas, pela falta do cuidado ao escolher as informações e pela não utilização dos critérios: conhecimentos específicos, pesquisas científicas e realidade e valores dos pacientes.

(31)

Com o desenvolvimento da ciência os tratamentos vão se aperfeiçoando, as medicações vão evoluindo, doenças que antes levavam a óbito atualmente não matam mais e esta realidade é graças aos estudos científicos que são desenvolvidos. Portanto os estudos precisam ser registrados, sendo imprescindíveis para auxiliarem outros pacientes. O uso de evidências na área de saúde é fundamental, pois a mídia e a internet bombardeiam com informações sobre esta área, que por muitas vezes podem não possuir fundamentos, pois a quantidade de informações não significa a qualidade delas. A prática clínica baseada em evidências é muito mais do que apenas a leitura de artigos científicos, ela menciona números, proporções, possíveis caminhos a seguir e cabe à equipe multidisciplinar interpretar esses dados e encontrar a melhor fundamentação para as suas deliberações.

2.1 Medicina baseada em evidências no âmbito da Oncologia

Conforme o Instituto Nacional do Câncer (2018b, s.p.), em 2018 no Brasil surgiram 582.590 novos casos de cânceres, sendo 300.140 neoplasias em homens e 282.450 neoplasias em mulheres. Este número engloba vários tipos da doença, pois ela surge em vários órgãos do corpo humano. Diante destas afirmações é possível inferir que há muitas pesquisas sendo publicadas sobre esta temática, como também há muitas pessoas pesquisando sobre o assunto.

Schwartsmann11 (2016, s.p.) menciona alguns pontos sobre a prática clínica baseada em evidências na área de Oncologia:

● O médico precisa estar preparado para encontrar a solução que seja mais favorável ao paciente e a sociedade, tendo eficiência, segurança e que seja dentro dos padrões da realidade de cada país, tendo sobre si uma grande responsabilidade;

● Os avanços científicos veiculados pela imprensa em várias áreas médicas e, sobretudo na área da Oncologia, são oportunidades valiosíssimas de intervenção, com melhorias em tempo e qualidade de sobrevida e curas, também representam um grande dilema, uma vez que o custo das novas tecnologias esbarra-se nas limitações orçamentárias do Sistema Único de Saúde, se tornando um grande desafio;

● Em alguns casos, quando pacientes recorrem à justiça, alguns profissionais (magistrados, juristas, advogados) tornam-se especialistas em oncologia, pois estudam e pesquisam sobre o assunto, com a finalidade de fundamentar suas decisões.

(32)

● A MBE é na realidade usar de uma forma mais judiciosa e consciente o que há de melhor na literatura séria, para que seja possível tomar decisões individualmente para cada paciente. Servir de apoio, tendo um grau de segurança.

● Em medicina os profissionais não têm dúvidas de certas intervenções, são medicamente óbvias, esses estudos vão ser importantes para separar diferenças pequenas em certas intervenções, por exemplo, em tumores comuns, pode haver pequenas diferenças sutis em tumores A e B e as pesquisas podem ajudar a entender o comportamento das doenças. Ou estudos sobre remédios A e B em diferentes países, podem ajudar o profissional a escolher qual deles aplicar a um paciente.

● Há um déficit dos médicos em registrar periodicamente o que eles realizam e suas descobertas e isso poderia auxiliar em decisões médicas e decisões judiciais, por exemplo.

● Dois sites que os médicos oncologistas usam frequentemente é o NCCN12 e o UPDATE13 para pesquisar sobre o assunto, mas a utilização destas ferramentas pode ser perigosa, pode haver armadilhas de significância estatística, que não solucionam o problema.

● A MBE pode auxiliar os judiciários para aprovar ou não a viabilização de um medicamento, por exemplo, e também aos médicos que podem visualizar quais medicamentos são mais eficazes para o caso de determinado paciente.

Schwartsmann (2016, s.p.) reforça ainda mais a questão da MBE servir de apoio na tomada de decisão não só aos profissionais da saúde, como também aos profissionais da área jurídica. Apresenta a importância de registrar as descobertas e realizações, pois assim pode auxiliar nas necessidades informacionais de outros profissionais. Enfatiza que há armadilhas na escolha de evidências, mesmo em sites específicos, sendo preciso estar atento na recuperação de informações. Complementarmente, Grogan (1995) ressalta que o sucesso não depende tanto da especialização em um assunto, mas de ser especialista em localizar as informações sobre qualquer campo do conhecimento e de estar disposto a gastar tempo e suor para consegui-lo. À vista disso é possível ressaltar que como alguns profissionais (magistrados, juristas, advogados) tornam-se especialistas em oncologia ao estudar o assunto profundamente, o bibliotecário pode também se especializar nesta área, devido a sua formação.

12 Site da NCCN: https://www.nccn.org/.

(33)

Stefani (2017, s.p.) aponta os seguintes aspectos sobre as evidências científicas na área da oncologia:

● O câncer até 2030 será a principal causa de morte, ultrapassando doenças cardiovasculares.

● Se não há uma perspectiva científica desenhada é possível achar que determinada decisão não pode fazer mal ao paciente. Então é preciso fazer uma análise científica crítica que permita identificar a literatura pertinente e aplicável ao caso em questão. A internet pode ser uma ferramenta ruim, pois o paciente acaba vendo certos tipos de medicamentos ou tratamentos que podem servir pra ele, mas cabe ao profissional fazer essa análise clínica.

● Não se pode utilizar estudos de grupos diferentes e achar que servirá para todos. Um estudo que fala sobre determinados pacientes, por exemplo, com linfoma de alto grau, pode não servir para outros pacientes com linfoma de baixo grau, sendo importante considerar a condição do paciente.

● As perguntas que devem ser feitas para escolher determinada Evidência Científica, são: os pacientes têm mesma doença? A doença está no mesmo estádio (I, II, III, IV)? É o mesmo caráter de tratamento? Essas perguntas auxiliam na tomada de decisão dos tratamentos do paciente, que pode aumentar a sobrevida global e a qualidade de vida.

● É preciso levar em conta a realidade do paciente e da instituição, pois existem ferramentas, mas é preciso saber usá-las.

Pelo exposto, entende-se que é necessário fazer uma análise crítica da informação que será utilizada, pois a pesquisa na internet proporciona tantos caminhos a seguir que é preciso filtrar e selecionar o que irá conter a melhor informação, além disso, cada paciente vai necessitar de pesquisas específicas e para obter um resultado satisfatório algumas perguntas podem ser seguidas para nortear as buscas e as tomadas de decisões dos profissionais. Quando Stefani (2017, s.p.) cita essas perguntas, podemos fazer a associação com a estratégia PICO, já mencionada anteriormente.

Com base no que foi mencionado sobre a prática da medicina baseada em evidências na oncologia, juntamente com as experiências dos profissionais e a realidade e os valores do paciente; observa-se que a MBE é essencial para auxiliar na tomada de decisão no que se refere aos diversos casos de pacientes com neoplasias, pois diminuirá o tempo de buscas e

(34)

fornecerá informações verídicas e de qualidade visando o bem maior. Caso os estudos sobre esta temática não fossem publicados isto implicaria diretamente na população, pois as pesquisas científicas proporcionam novas alternativas que objetivam fornecer uma melhor qualidade de vida para as pessoas que enfrentam tratamentos oncológicos.

Referências

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