• Nenhum resultado encontrado

O comportamento sedentário e a adiposidade se associam com os níveis de testosterona de meninos pós-púberes com excesso de peso?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O comportamento sedentário e a adiposidade se associam com os níveis de testosterona de meninos pós-púberes com excesso de peso?"

Copied!
49
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

O COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO E A ADIPOSIDADE SE ASSOCIAM COM OS NÍVEIS DE TESTOSTERONA DE MENINOS PÓS-PÚBERES COM EXCESSO

DE PESO?

Júlio Duarte de Oliveira Júnior

Natal-RN 2019

(2)

O COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO E A ADIPOSIDADE SE ASSOCIAM COM OS NÍVEIS DE TESTOSTERONA DE MENINOS PÓS-PÚBERES COM EXCESSO

DE PESO?

Júlio Duarte de Oliveira Júnior

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação Física.

(3)
(4)
(5)

AGRADECIMENTOS

Ao meu PAI CELESTIAL, de graça e misericórdia imensuráveis, que tem diariamente me capacitado para vivenciar da melhor forma as coisas maravilhas que ele tem para a minha vida, dentre as quais, a finalização deste presente trabalho.

À minha FAMÍLIA que desde o princípio me apoiou e continua a me apoiar em todos os projetos que tenho traçado para a minha vida. Agradeço pela compreensão e paciência de todos, sobretudo nos vários momentos de estresse e irritação que passei no decorrer da realização deste presente trabalho.

Agradeço ao meu orientador, o PROFESSOR ARNALDO, por acreditar em meu trabalho. Agradeço pela sua amizade, seu cuidado, sua paciência e atenção em todos os momentos em que precisei da sua ajuda.

Agradeço ao meu parceiro de coletas, o PROFESSOR ELIAS BATISTA, pela lealdade e força em finalizarmos todo o trabalho que decidimos fazer.

Agradeço a todos do departamento de endocrinologia pediátrica do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), sobretudo aos professores RICARDO ARRAIS e VIVIANE CÁSSIA, por terem abraçado o projeto e às queridas residentes KEILA, ALANA, KAROL e ACYNELY.

Agradeço ao IFRN, local de onde vieram a maior parte dos participantes desta pesquisa. Agradeço ao diretor PROFESSOR DR. ARNÓBIO por ter abraçado de uma forma incrível o nosso projeto.

Agradeço ao Departamento de Fisiologia da UFRN, sobretudo à PROFESSORA DRA. NICOLE LEITE GALVÃO e à PROFESSORA RAÍSSA RODRIGUES por ter me orientado a fazer as análises hormonais deste presente trabalho.

Agradeço ao PROFESSOR DR. ARTUR LEMONTE, professor incrível que sempre se mostrou disponível em me orientar quanto aos procedimentos estatísticos deste presente trabalho.

(6)

Agradeço a todos os participantes do grupo de pesquisa GEPEFIC, pessoas em que convivi na maior parte do tempo.

Agradeço aos meus mestres ARNALDO MORTATTI, EDUARDO CALDAS, HASSAN MOHAMED, PAULO DANTAS, TEREZINHA PETRÚCIA, ROSIE MARIE, RODRIGO BROWNE “PAPER”, LUIS FERNANDO DE FARIAS, KENIO COSTA, MARIA ISABEL BRANDÃO, ELISEU ANTUNES e ANA PAULA FAYH que colaboraram grandemente para a minha formação.

Agradeço ao meu querido amigo DIEGO PONTES, secretário do PPGEF, pela sua incansável força de ajudar.

Agradeço a todos os meus amigos que estiveram perto de mim, em especial a ROBERTTHA por ter sido uma pessoa fundamental durante o processo.

Agradeço ao PROFESSOR DR. RICARDO ARRAIS e à PROFESSORA DRA. CLARICE MARTINS por terem se disponibilizado em compor a banca examinadora. Sem dúvidas os julgamentos foram de extrema importância para o desenvolvimento e enriquecimento do trabalho final.

(7)

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 10 2. JUSTIFICATIVA ... 13 3. OBJETIVO ... 14 3.1 Objetivo geral ...14 3.2 Objetivos específicos ...14 4. HIPÓTESES ... 15 5. REVISÃO DA LITERATURA ... 16 5.1 Obesidade ...16

5.2 Inatividade física e comportamento sedentário ...19

5.3 Testosterona ...21

5.3.1 Aspectos gerais ...21

5.3.2 Testosterona, saúde metabólica e obesidade ...23

5.3.3 Testosterona e comportamento sedentário ...25

6. MATERIAIS E MÉTODOS ... 28

6.1 Delineamento da pesquisa ...28

6.2 Contexto da pesquisa ...28

6.3 Participantes ...29

6.4 Aspectos éticos da pesquisa ...29

6.5 Variáveis antropométricas ...30 6.6 Testosterona salivar ...30 6.7 Composição corporal ...31 6.8 Acelerometria ...31 6.9 Maturação somática ...32 7. ESTATÍSTICA ... 33 8. RESULTADOS ... 34 9. DISCUSSÃO ... 35 10. CONCLUSÃO ... 39 11. REFERÊNCIAS ... 40 12. ANEXOS ... 45

(8)

RESUMO

O COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO E A ADIPOSIDADE SE ASSOCIAM COM OS NÍVEIS DE TESTOSTERONA DE MENINOS PÓS-PÚBERES COM EXCESSO

DE PESO?

Autor: Júlio Duarte de Oliveira Júnior Orientador: Dr. Arnaldo Luis Mortatti

INTRODUÇÃO: Alguns fatores relacionados ao estilo de vida, a exemplo da adiposidade, apresentam relação negativa com os níveis de testosterona, entretanto, não está claro se o comportamento sedentário, especialmente de meninos pós-púberes com excesso de peso, pode também ser um fator influenciador dos níveis de testosterona, que está relacionado a importantes funções no processo de crescimento e desenvolvimento. OBJETIVO: Verificar a associação entre o comportamento sedentário e a adiposidade com os níveis de testosterona salivar de meninos pós-púberes com excesso de peso. MÉTODOS: Trata-se de uma pesquisa descritiva, com técnica observacional e com delineamento transversal. Foram incluídos nesta análise 29

meninos pós-púberes (16,5±1,1 anos; 30,1±3,5 kg/m2) com excesso de peso, sem comorbidades

e que já estivessem atingido o pico de velocidade do crescimento. A maturação somática foi utilizada para classificar os participantes quanto à idade do pico de velocidade do crescimento. Os níveis de testosterona foram avaliados através da coleta de saliva seguida de análise pelo método de imunoabsorbância ligado à enzima (ELISA). O comportamento sedentário foi avaliado por acelerômetro triaxial (ActiGraph GT3X+) ao longo de sete dias consecutivos. A adiposidade corporal foi mensurada através da absorciometria por dupla emissão de raios-X (DXA). Foi utilizado um modelo de regressão linear simples para verificar a associação entre as variáveis independentes (comportamento sedentário e adiposidade) de forma isolada sobre os níveis de testosterona e ainda, utilizou-se um modelo de regressão múltipla para verificar se o comportamento sedentário e a adiposidade estão conjuntamente associados com os níveis de testosterona. Adotou-se valor de p<0,05 para significância estatística. RESULTADOS: Foi verificado que não existe associação estatisticamente significante entre o comportamento sedentário com os níveis de testosterona salivar [F(1;27) = 0,171; p = 0,68]. Por outro lado, a adiposidade [F(1;27) = 6,647; p = 0,01] foi estatisticamente significante para explicar os níveis de testosterona. Quando realizada a análise conjunta, verificou-se que não houve associação entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona (T=0,257; p=0,80), enquanto a gordura corporal associou-se negativamente com os níveis de testosterona (T=-2,506; p=0,01). CONCLUSÃO: O comportamento sedentário não apresentou associação com os níveis de testosterona salivar de meninos obesos pós-púberes. Por outro lado, os níveis de testosterona se associaram negativamente com o grau de adiposidade.

PALAVRAS-CHAVE: Obesidade; Hormônio; Estilo de Vida Sedentário; Acelerômetro; Saúde Cardiometabólica; Adolescente.

(9)

ABSTRACT

ARE SEDENTARY BEHAVIOR AND ADIPOSITY ASSOCIATED WITH TESTOSTERONE LEVELS IN POST-PUBERAL OVERWEIGHT BOYS?

Author: Júlio Duarte de Oliveira Júnior Leader: Dr. Arnaldo Luis Mortatti

INTRODUCTION: Some lifestyle factors, such as adiposity, are negatively related to testosterone levels, however it is not clear whether sedentary behavior, especially in overweight post-pubertal boys, can also be a factor influencing testosterone levels, which is related to important functions in the process of growth and development. OBJECTIVE: To verify the association between the sedentary behavior and adiposity with the salivary testosterone levels of post-pubertal boys with overweight and obesity. METHODS: A descriptive research, with an observational technique and a cross-sectional design. Twenty-nine obese boys (16,5±1,1 years old; 30,1±3,5 kg/m2), without comorbidities and that reached the age of peak height velocity were included in this analysis. Somatic maturation was used to classify the subjects regarding the peak height velocity. Salivary testosterone levels were assessed by enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). The sedentary behavior was evaluated by triaxial accelerometer (ActiGraph GT3X+) over seven consecutive days. Adiposity was measured by X-ray absorptiometry (DXA). A simple linear regression was used to verify the association between the independents variables (sedentary behavior and adiposity) in an isolated manner on the testosterone levels. A multivariate linear regression model was used to verify if the sedentary behavior and adiposity are jointly associated with the testosterone levels. A value of p <0.05 was used for statistical significance. RESULTS: It was verified that there isn't statistically significant association between the sedentary behavior with the salivary testosterone levels [F (1,27) = 0,171; p = 0,68]. On the other hand, the adiposity [F(1;27) = 6,647; p = 0,01] was statistically significant to explain the hormonal levels. In addition, in the joint analysis, it was found that there was no association between sedentary behavior and testosterone levels (T = 0.257; p = 0.80), while body fat was negatively associated with testosterone levels (T = -2.506; p = 0.01). CONCLUSION: Sedentary behavior was not associated with salivary testosterone levels in post-pubertal obese boys. On the other hand, testosterone levels were negatively associated with the degree of adiposity.

KEY WORDS: Obesity; Hormone; Sedentary lifestyle; Accelerometer; Cardiometabolic Health; Adolescent.

(10)

LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

CC – Circunferência da cintura CS – Comportamento sedentário

DEXA – Dual-Energy X-ray Absorptiometry IMC – Índice de massa corporal

Pg/ml – Picograma/mililitro

PVC – Pico de velocidade do crescimento

(11)

1. INTRODUÇÃO

A testosterona, além de estar associada com funções anabólicas, é considerada um hormônio chave para a composição corporal e saúde cardiometabólica. Evidências mostram que a deficiência de testosterona é um fator preditor para o desenvolvimento de distúrbios cardiometabólicos (GARVEY e col., 2016; KELLY e JONES, 2013; WANG e col., 2011), de modo que baixas concentrações desse hormônio estão ligadas à resistência à insulina, dislipidemia, aumento da adiposidade central (KELLY e col., 2015), menor atividade lipogênica e maior atividade lipolítica (ALLAN e col., 2010; DE PERGOLA, 2010), maior atividade da lipase lipoproteica (LLP) nos adipócitos bem como redução da atividade da lipase hormônio sensível e da resposta lipolítica às catecolaminas (DE PERGOLA, 2010).

Na outra direção, doenças crônicas se associam negativamente com os níveis de desse hormônio. Estudos mostram que homens com síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e obesidade, apresentam níveis reduzidos de testosterona (GROSSMANN, 2018; KELLY e col., 2015; WANG e col., 2011; ALLAN e col., 2010; DENZER e col., 2007), entretanto, essa relação não está clara em populações pediátricas (VANDEWALLE e col., 2015), fase onde a testosterona é crucial para o crescimento e desenvolvimento (RICHMOND e col., 2007; MALINA e col., 2004).

Sabe-se que, além da adiposidade corporal, outros fatores relacionados ao estilo de vida estão associados com os níveis de testosterona (TRAVISON e col., 2007), a exemplo do estresse físico e mental, tabagismo e consumo de álcool (PONHOLZER e col., 2005). Entretanto, os resultados são controversos quanto à associação entre os níveis de testosterona e o alto comportamento sedentário, que é uma característica crescente do estilo de vida da sociedade moderna (FAIGENBAUM e MACDONALD, 2017; PRISKORN e col., 2016).

O comportamento sedentário é definido como o tempo gasto em atividades de baixo gasto energético (<1,5 MET) em posições sentadas ou reclinadas durante períodos de vigília (SEDENTARY BEHAVIOUR RESEARCH NETWORK, 2012). O elevado tempo gasto em comportamento sedentário gera importantes efeitos deletérios à saúde e tem sido considerado um fator de risco independentemente do nível de atividade física para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis a exemplo da obesidade (BIDDLE e col., 2017; CLIFF e col., 2016; DE REZENDE e col., 2014).

(12)

O comportamento sedentário está intimamente ligado à obesidade, de modo que altos períodos em comportamento sedentário estão associados com o aumento da adiposidade corporal tanto em populações pediátricas (JÚDICE e col., 2017; COOPER e col., 2015; PATE e col., 2011) como em adultas (THYFALT e col., 2015). Evidências mostram que pessoas obesas gastam mais tempo em comportamento sedentário e são fisicamente menos ativas em comparação com sujeitos eutróficos (THYFALT e col., 2015). O mesmo acontece com adolescentes (HILLS e col., 2011). Nessa perspectiva, é coerente pensarmos na existência de um ciclo vicioso entre o comportamento sedentário e a obesidade.

Do ponto de vista metabólico, tanto a obesidade como o alto comportamento sedentário causam efeitos negativos sobre marcadores de risco cardiometabólicos como alterações nos valores de glicose de jejum, triglicerídeos, LDL e HDL-colesterol, hemoglobina glicada e circunferência da cintura, entretanto, ao contrário da obesidade, não se tem clareza sobre a existência de uma associação entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona.

Sabe-se que além dos distúrbios metabólicos, a redução dos níveis de testosterona também pode levar a um estilo de vida menos ativo (KELLY e col., 2015). Ainda, pode desencadear sintomas como fraqueza muscular, fadiga, redução da massa muscular e massa óssea, insônia, redução da energia, motivação e perda de auto-confiança (BAIN, 2007). Ou seja, a testosterona exerce influência sobre fatores que podem se relacionar diretamente com mudanças no estilo de vida (KELLY e col., 2015), e entre os componentes do estilo de vida está o crescente tempo gasto em comportamento sedentário.

Em estudo recente que envolveu 1210 adultos jovens do sexo masculino, Priskorn e colaboradores (2016) investigaram a associação entre o tempo de tela (um dos tipos de comportamento sedentário) com marcadores da função testicular, dentre os quais estão os níveis de testosterona. Os resultados mostraram que várias horas de televisão estão associadas com pobre função testicular, mostrando que, dentre os marcadores avaliados, homens jovens não obesos que passam muito tempo assistindo televisão apresentaram menores níveis de testosterona.

Ao nosso conhecimento, não existe estudo que investigou a existência de alguma associação entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona seja de meninos eutróficos ou com excesso de peso, especialmente em pós púberes, onde os níveis de

(13)

testosterona atingem valores esperados para a idade adulta e o tempo gasto em comportamento sedentário apresentam aumento ao longo da adolescência COOPER e col., 2015.

Dada a importância da testosterona para a saúde global e para o crescimento do adolescente, além de considerar o crescente aumento do excesso de peso junto ao comportamento sedentário e sua provável permanência na fase adulta, é importante identificar se esses fatores modificáveis relacionados ao estilo de vida se associam com os níveis de testosterona. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo verificar a existência de uma possível relação entre comportamento sedentário e os níveis de testosterona de meninos pós-púberes com excesso de peso.

Com base no arcabouço teórico exposto acima, apresentamos a hipótese da existência de uma associação negativa entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona. Adicionalmente, apresentamos a hipótese de que a adiposidade corporal também se associará negativamente com os níveis de testosterona.

(14)

2. JUSTIFICATIVA

A testosterona é um hormônio chave para a saúde cardiometabólica e, especificamente para a população pediátrica, é fundamental para o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. Sabe-se que alguns fatores relacionados ao estilo de vida se associam negativamente com os níveis desse hormônio, a exemplo da adiposidade corporal, consumo de álcool e cigarro. Entretanto, não está claro se o comportamento sedentário, uma característica crescente da sociedade moderna capaz de gerar importantes efeitos deletérios, é um fator que se relaciona com os níveis de testosterona, sobretudo em meninos após a puberdade - fase onde o comportamento sedentário se mostra aumentado.

(15)

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Verificar a associação entre o comportamento sedentário e a adiposidade com os níveis de testosterona de meninos pós-púberes com excesso de peso.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1- Quantificar o comportamento sedentário de meninos pós-púberes com excesso de peso;

(16)

4. HIPÓTESES

Embora a base teórica acerca dos efeitos do comportamento sedentário sobre os níveis de testosterona ainda careça de evidências, sobretudo na população pediátrica, esperamos encontrar uma correlação inversa entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona, com base em inferências baseadas na população adulta. Dessa forma, esperamos que os meninos pós-púberes com excesso de peso que apresentarem maior comportamento sedentário apresentem menores níveis de testosterona salivar. Quanto à relação adiposidade e testosterona, também esperamos encontrar uma correlação inversa, de modo que quanto maior for a adiposidade, menores sejam os níveis de testosterona. Esperamos encontrar associação positiva entre força muscular e os níveis de testosterona.

(17)

5. REVISÃO DA LITERATURA

Este referencial teórico tem como objetivo mostrar e direcionar o leitor à base teórica que fundamenta o raciocínio do trabalho original. Para melhor compreensão, foi dividido em capítulos de acordo com a seguinte sequência: (1) Obesidade; (2) Aspectos gerais da inatividade física e do comportamento sedentário; (3) Aspectos gerais da testosterona; (4) Testosterona, saúde metabólica e obesidade e (5) Testosterona e comportamento sedentário. Dados referentes à população adulta foram utilizados para a construção deste referencial teórico, devido ao limitado corpo de evidências relacionado a associação entre o comportamento sedentário e testosterona, bem como relacionado à associação entre adiposidade e testosterona em populações pediátricas.

5.1 OBESIDADE

A obesidade é uma doença metabólica crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. Sendo uma porta de entrada para muitos problemas de saúde, como o diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, osteoartrite e alguns tipos de câncer (SIMMONDS e col., 2016; YUMUK e col., 2015; GLEESON e col., 2011), o combate à obesidade é um componente importante da prevenção e tratamento das demais doenças crônicas (HEYMSFIELD e WADDEN, 2017).

A obesidade é considerada um dos maiores desafios para a saúde pública do mundo. No Brasil, o cenário também é bastante preocupante, como mostram os dados do VIGITEL BRASIL 2017, onde um conjunto de 27 cidades apresentou frequência de sobrepeso de 54% entre homens e mulheres. Para a obesidade, encontrou-se frequência de 18,9% entre homens e mulheres das mesmas 27 cidades brasileiras.

Não só nos adultos, a prevalência da obesidade em crianças e adolescentes também já se tornou um problema de saúde de países de baixa a alta renda (STEINBECK e col., 2018; DENZER e col., 2007). Em 2014, estimativas da OMS mostraram que 41 milhões de crianças menores de 5 anos de idade estavam com sobrepeso ou obesidade, indicando que a obesidade infantil já é um dos mais sérios problemas de saúde do século 21. No Brasil, a obesidade e o sobrepeso têm passado por aumento gradativo desde a infância (DIRETRIZ BRASILEIRA DE OBESIDADE, 2016). Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE, 2015)

(18)

mostram que 23,7% dos escolares de 13 a 17 anos estão com sobrepeso e 7,8% em estado de obesidade.

Dentre as razões que explicam o crescimento da obesidade, que é influenciada por fatores ambientais e genéticos REY-LOPEZ e col., 2008, destacam-se as mudanças na sociedade moderna ocorrentes nas últimas décadas que favoreceram o balanço energético positivo e ganho de peso. De acordo com revisão (HEYMSFIELD e WADDEN, 2017), esse balanço energético positivo tem sido favorecido pelo aumento da disponibilidade e do consumo de alimentos de alta densidade energética, que apresentam boa palatabilidade e que são frequentemente servidos em grandes porções. Ainda, o uso crescente de medicamentos como antidiabéticos, anti-hipertensivos e psicotrópicos, contribuem por apresentarem o ganho de peso como efeito colateral. Também de acordo com a revisão citada, a inadequação do sono e a redução do nível de atividade física, tanto em ambientes ocupacionais como nos períodos de lazer também são fatores que exercem efeitos sobre o ganho de peso.

Assim como em adultos, a obesidade pediátrica pode estar associada a problemas de saúde imediatos, como sofrimento psicológico, resistência à insulina, doença hepática gordurosa e desordens ortopédicas, bem como problemas de saúde a longo prazo, a exemplo de alguns tipos de cânceres, doença arterial coronariana e mortalidade prematura (BAUR e col., 2011).

É, portanto, um cenário que faz um apelo à prevenção da doença na infância e adolescência. Primeiro, porque perder peso e manter tal redução é uma condição bastante difícil de ser alcançada, dessa forma, o excesso de peso adquirido na infância e adolescência provavelmente continuará na fase adulta (QUEK e col., 2017; SINGH e col., 2008). De acordo com projeções, estima-se que cerca de 55% das crianças obesas serão adolescentes obesos, e adolescentes obesos têm aproximadamente 80% de chances de se tornarem adultos obesos (SIMMONDS e col., 2016). Em segundo lugar, o excesso de peso nessas fases da vida está associado a consequências negativas para a saúde ao longo da vida (ABARCA-GOMEZ e col., 2017; REY-LOPEZ e col., 2008). Em terceiro lugar, a obesidade na infância e adolescência está associada com distúrbios psicossociais como a depressão e sintomas depressivos, que estão associados com comportamentos suicidas e a desfechos negativos para a vida escolar e social (QUEK e col., 2017).

(19)

A obesidade também está intimamente ligada ao comportamento sedentário tanto de adultos como de crianças e adolescentes (REY-LOPEZ e col., 2008). Estudos apontam que obesos são menos ativos e apresentam maior comportamento sedentário em comparação aos seus pares eutróficos (THYFAUT e col., 2015; HILLS e col., 2011). Considerando a população pediátrica, esse é outro ponto que merece atenção, pois a atividade é um componente essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente, além de ser importante na prevenção do sobrepeso e obesidade nessas fases (HILLS e col., 2011). No próximo capítulo discutiremos sobre o impacto do comportamento sedentário e da atividade física na obesidade.

(20)

5.2 INATIVIDADE FÍSICA E COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO

Os avanços nas pesquisas relacionadas ao impacto do comportamento sedentário na saúde criaram a necessidade de melhor conceituar os termos “sedentário”, “fisicamente inativo” e “fisicamente ativo” (Sedentary Behaviour Research Network, 2012). Historicamente, os estudos, sobretudo da área esportiva, classificavam como “sedentários” aqueles sujeitos que não cumpriam com a quantidade recomendada de atividade física de moderada a vigorosa intensidade (AFMVI) proposta por diretrizes de atividade física, enquanto que os sujeitos “fisicamente ativos” eram aqueles que cumpriam com as recomendações (TREMBLAY e col., 2010).

De acordo com o posicionamento da Sedentary Behaviour Research Network (Sedentary Behaviour Research Network, 2012), é considerado sedentário aquele sujeito que passa grandes períodos em comportamento sedentário, isto é, em qualquer atividade de baixo gasto energético (≤1,5 METs), como em posição sentada ou reclinada durante períodos de vigília. Já o termo “fisicamente inativo” se refere ao sujeito que não cumpre com a quantidade mínima de AFMVI.

É importante fazer essa distinção porque um sujeito pode ser fisicamente ativo (cumprir com a quantidade recomendada de AFMVI) mas passar longos períodos do dia em comportamento sedentário (BOUCHARD e col., 2015; TREMBLAY e col., 2010). Da mesma forma, sujeitos fisicamente inativos podem não ser sedentários. A distinção entre esses comportamentos também se faz importante a partir dos dados que mostram que o comportamento sedentário é um fator de risco independentemente do nível de atividade física de moderada a vigorosa intensidade (BIDDLE e col., 2017; CLIFF e col., 2016; BYROM e col., 2016; DE REZENDE e col., 2014), isto é, ser fisicamente ativo não exclui os efeitos deletérios do excessivo tempo gasto em comportamento sedentário.

Nessas perspectivas, o comportamento sedentário e a atividade física devem ser considerados constructos distintos (PATE e col,. 2011). Além de um sujeito fisicamente ativo poder apresentar alto comportamento sedentário, a construção desses dois comportamentos difere quanto à natureza, aos efeitos fisiológicos, à medição e às abordagens (TREMBLAY e col., 2010).

(21)

É bastante clara a importância de altos níveis de atividade física e de aptidão cardiorrespiratória para redução da mortalidade (JÚDICE e col., 2017; BOUCHARD e col., 2015; CHARANSONNEY e DESPRES, 2010). Mesmo as evidências mostrando a importância de ser fisicamente ativo, a inatividade física é considerada o quarto principal fator de risco para morte prematura por doenças não transmissíveis em todo o mundo (WHO, 2010; OMS, 2017), sendo um dos maiores problemas de saúde pública do século 21, com grandes chances de chegar ao topo do ranking dos mais importantes (BLAIR, 2009).

No Brasil, os dados também são preocupantes. Dados nacionais de 2017 coletados pelo VIGITEL mostram que, do total de adultos, há variação de 29,9% a 49,6% que compreende os que praticam atividade física de intensidade moderada por pelo menos 150 minutos durante o tempo livre/lazer. Na média entre as cidades, apenas 37% dos adultos praticam atividade física de intensidade moderada por pelo menos 150 minutos durante o tempo livre/lazer. Mesmo somando a atividade física realizada em deslocamentos para o trabalho/escola, no ambiente de trabalho e no tempo livre/lazer, ainda existe um alto percentual de adultos (46%) que não alcançaram o mínimo de 150 minutos de atividade física moderada. Do total de adultos, em média 13,9% não realizaram nenhum tipo de atividade física nos últimos três meses, seja nos momentos de lazer, seja no ambiente de trabalho, seja em deslocamentos (para o trabalho ou escola) ou em casa fazendo limpeza pesada. A mesma pesquisa mostra que só durante o tempo de lazer, 61% dos adultos passam no mínimo três horas diárias assistindo televisão ou usando computador, celular ou tablet.

Na população pediátrica, estima-se que, em que todo o mundo, três entre quatro adolescentes (idade entre 11-17 anos) não cumprem com as recomendações de atividade física (WHO, 2017). O cenário é ainda mais preocupante ao considerar os jovens obesos, que, além de serem menos ativos, gastam mais tempo em atividades sedentárias quando comparados com seus pares eutróficos (HILLS e col., 2011). No Brasil, dados mostram a existência de alta prevalência (78%) de adolescentes que passam duas horas ou mais assistindo televisão (GUERRA e col., 2016). É importante observar que o tempo assistindo TV é apenas um dos componentes que envolve o tempo de tela (que, além da TV, compreende o tempo gasto em videogames, tablet, celular e computador). Nesse sentido, é razoável projetarmos que adolescentes brasileiros excedem demasiadamente a recomendação da diretriz canadense (TREMBLAY e col., 2016) que limita o comportamento sedentário a não mais que duas horas

(22)

gastas em tempo de tela. Infelizmente, estudos com uso de medidas objetivas do comportamento sedentário de adolescentes brasileiros ainda são escassos (RAMOS e col., 2018).

Dentre os efeitos do comportamento sedentário na saúde, pelo menos 35 doenças crônicas ou condições clínicas estão ligadas ao comportamento sedentário, além do aumento da taxa de mortalidade (THYFAULT e col., 2015). O comportamento sedentário está associado com disfunção metabólica caracterizada pelo aumento de triglicerídeos e LDL-colesterol e redução do HDL-colesterol e da sensibilidade à insulina (TREMBLAY e col., 2010).

Na juventude, grandes quantidades de comportamento sedentário também podem contribuir para o desenvolvimento de fatores de risco cardiometabólicos como o aumento da gordura corporal (COOPER e col., 2015) e prejudicar a aptidão física (JÚDICE e col., 2017). Esse cenário é bastante preocupante, visto que o comportamento sedentário aumenta e a atividade física reduz ao longo da adolescência (COOPER e col., 2015) e esses comportamentos sedentários (JÚDICE e col., 2017) e ativos (ATALLA e col., 2018; COOPER e col., 2015) estabelecidos na juventude possivelmente serão mantidos na fase adulta.

Dessa forma, a intervenção sobre o comportamento sedentário e o nível de atividade física nas fases iniciais da vida é fundamental para prevenir futuros problemas de saúde, que, além dos efeitos metabólicos, fomentar o estilo de vida ativo é fundamental pelo papel da atividade física no crescimento e desenvolvimento da criança e adolescente, sendo, também, um meio para melhorar a força muscular e as habilidades motoras, que parecem ser a base para um estilo de vida mais ativo ao longo da vida (LLOYDE e col., 2014).

5.3 TESTOSTERONA 5.3.1 ASPECTOS GERAIS

A testosterona é um hormônio esteroide derivado do colesterol, sendo produzido mediante ação de enzimas específicas que catalisam uma série de conversões em um processo que dura aproximadamente 20 a 30 minutos (VINGREN e col., 2010). O principal sítio de produção ocorre nas células de Leydig, presentes apenas nos testículos dos homens. Isso explica, em partes, a razão pela qual homens apresentam níveis de testosterona 10 vezes maiores em comparação com mulheres (VINGREN e col., 2010). Nelas, a produção de testosterona ocorre

(23)

nos ovários, no córtex da adrenal e pela conversão periférica dos androgênios (GUYTON e HALL, 2011).

A secreção e controle da testosterona são coordenados pelo eixo hipotálamo-pituitária-gônadas (HOOPER e col., 2017). A partir de impulsos do sistema nervoso central que inerva o hipotálamo, neurônios especializados produzem e secretam o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), o qual induz a secreção pulsátil do hormônio luteinizante (LH) pela adeno-hipósife que, nos homens, estimula as células de Leydig a produzirem e secretarem a testosterona (KELLY, 2015; (VINGREN e col., 2010). Os níveis de androgênios (e estrogênios sintetizados a partir da testosterona) fornecem um biofeedback negativo para interromper a secreção, quando níveis ótimos são atingidos (HOOPER e col., 2017).

A testosterona é considerada o hormônio androgênico mais importante devido a sua quantidade predominante em comparação aos demais androgênios (GUYTON). A maior parte da testosterona (aproximadamente 97%) está na forma ligada, isto é, ou ligada fracamente à albumina plasmática (20-30%) ou à globulina ligada ao hormônio sexual-SHBG (50-70%), enquanto que apenas 1-3% está na sua forma livre, isto é, na forma não ligada (HOOPER e col., 2017). Ao contrário da ligação com a SHBG, a fraca ligação da testosterona com a albumina permite uma fácil dissociação, possibilitando ao hormônio o acesso ao tecido alvo. Esta fração da testosterona ligada à albumina é referida como “biodisponível” (HAYES e ELLIOTT, 2018).

No sangue, a testosterona circula de 30 minutos a várias horas, podendo seguir dois caminhos: ou será entregue para os tecidos ou será degradada para ser excretada (GUYTON). Quando é direcionada para os tecidos, a testosterona exerce uma ampla variedade de efeitos fisiológicos em múltiplos sistemas corporais, desde a vida intrauterina à idade avançada (BAIN, 2007). Em homens, a testosterona é responsável pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias como barba, pelos pubianos, aumento da síntese proteica e aumento da massa livre de gordura (VINGREN e col., 2010).

Alterações em seus níveis podem causar grande impacto sobre o corpo, a exemplo da força muscular e da massa livre de gordura que aumentam sob efeito de níveis supra fisiológicos do hormônio (HOOPER e col., 2017). Por outro lado, a baixa concentração de testosterona está ligada a sarcopenia, perda de massa óssea, fadiga e perda de vigor (DOHLE e col., 2012) e distúrbios metabólicos (KELLY e JONES, 2015), como veremos no capítulo a seguir.

(24)

5.3.2 TESTOSTERONA, SAÚDE METABÓLICA E OBESIDADE

Além de seus conhecidos efeitos anabólicos como mencionados acima, a testosterona desempenha importantes papeis na saúde metabólica. Baixas concentrações desse hormônio estão ligadas à redução da massa muscular e óssea (TRAVISON e col., 2006), resistência à insulina, aumentados níveis de glicose de jejum e hemoglobina glicada (BAIN, 2007), dislipidemia e aumento da adiposidade central (KELLY e JONES, 2015).

Homens com doenças crônicas, a exemplo da síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e obesidade, apresentam níveis reduzidos de testosterona (GROSSMANN, 2018; WANG e col., 2011; DENZER e col., 2007). Da mesma forma, homens com baixos níveis de testosterona apresentam maiores chances de desenvolver distúrbios metabólicos, indicando que o declínio dos níveis de testosterona é um fator preditor para tais distúrbios (GARVEY e col., 2016; WANG e col., 2011), sobretudo, associando-se fortemente com o aumento da massa gorda (KELLY e JONES, 2015; ALLAN, 2010).

Os níveis de testosterona reduzem com o aumento da adiposidade. O hipogonadismo é uma condição clínica caracterizada por baixos níveis de testosterona que é comum em homens obesos (KELLY e JONES, 2015; MOGRI e col., 2013; ALLAN e col., 2010). Homens hipogonádicos apresentam maior quantidade de massa gorda em comparação com seus pares eugonádicos (ALLAN, 2010), bem como importante aumento nas chances de desenvolverem distúrbios metabólicos.

A terapia com testosterona em níveis suprafisiológicos em homens jovens hipogonádicos é capaz de reduzir significantemente a massa gorda total, bem como em homens idosos ou de meia idade com ou sem excesso de peso com valores normal-baixo de testosterona basal (ALLAN, 2010). Além dos efeitos positivos na composição corporal, a melhora da sensibilidade à insulina é vista durante o tratamento com testosterona exógena em homens hipogonádicos (WANG e col., 2011).

Pela ótica do efeito da adiposidade sobre os níveis de testosterona, observa-se que os níveis deste hormônio tendem a aumentar proporcionalmente quando homens obesos experimentam significante redução do peso corporal, seja por dieta, exercício ou cirurgia bariátrica (KELLY e JONES, 2015). Sendo o emagrecimento um importante meio não farmacológico para reestabelecer os níveis de testosterona.

(25)

A relação entre testosterona e obesidade é bastante complexa (WANG e col., 2011). De fato, existe uma relação bidirecional entre os níveis deste hormônio e a doença (KELLY e JONES, 2015; ALLAN e col., 2010), porém ainda não estão claros os mecanismos patogênicos que explicam a redução dos níveis de testosterona em obesos (GARVEY e col., 2016; MOGRI e col., 2013).

Sabe-se que o estado de hiperinsulinemia suprime os níveis séricos de testosterona (GARVEY e col., 2016), provavelmente pela supressão da SHBG (ALLAN, 2010). Os níveis de testosterona de obesos também podem reduzir devido à alta expressão da enzima aromatase. Nos adipócitos, essa enzima converte testosterona em estradiol e a alta concentração de estradiol pode inibir o eixo hipotálamo-pituitária-gônadas (biofeedback negativo) e, portanto, os níveis circulantes de testosterona (GARVEY e col., 2016; KELLY e JONES, 2015; YOU, 2013). Ainda, a alta concentração de leptina presente nos obesos também prejudica o processo de esteroidogênese nos testículos (GARVEY e col., 2016), assim como as citocinas inflamatórias que podem suprimir o eixo hipotálamo-pituitária-gônadas (GROSSMANN, 2018; KELLY e JONES, 2015).

Quanto ao metabolismo da glicose e da insulina, a testosterona melhora a expressão e translocação do GLUT-4, fosforilação da AKT e quantidade de receptores de insulina (KELLY e JONES, 2013). Ainda, a testosterona proporciona maior atividade lipolítica e menor atividade lipogênica (ALLAN e col., 2010; DE PERGOLA, 2010), maior atividade da lipase lipoproteica (LLP) nos adipócitos bem como redução da atividade da lipase hormônio sensível e da resposta lipolítica às catecolaminas (DE PERGOLA, 2010). Evidências também sugerem que a deficiência de testosterona é um fator de risco independente para o desenvolvimento de doenças cardiometabólicas de modo que baixas concentrações desse hormônio têm sido associadas com altos níveis de LDL e triglicerídeos, estando, portanto, associada a um perfil aterogênico (KELLY e JONES, 2013).

Na população pediátrica, a testosterona é um hormônio que conduz o desenvolvimento sexual, exercendo importantes efeitos durante todo o período da puberdade, como no desenvolvimento das características secundárias masculinas (MALINA e col., 2004). A adolescência, em específico, é uma fase do desenvolvimento humano marcada por mudanças físicas, neurais e psicológicas (STEINBECK e col., 2018), sendo também um período crítico

(26)

para desenvolvimento da obesidade (HILLS e col., 2011). Ao contrário do que ocorre em adultos, pouco se conhece sobre os efeitos da obesidade sobre o desenvolvimento gonadal de adolescentes (MORIARTY-KELSEY e col., 2010).

Após o “despertar” do eixo hipotálamo-hipófise, a produção de testosterona nos adolescentes seguirá o mesmo caminho já explicado no capítulo anterior. Em meninos, os níveis de testosterona aumentam consideravelmente entre os estágios G3 e G4 (MALINA e col., 2004). Nessa fase, a testosterona desempenha o papel de desenvolver as características sexuais secundárias, como o estirão do crescimento, aumento dos pelos pubianos, do órgão reprodutor masculino e da massa muscular (BAIN, 2007).

Como mencionado anteriormente, a obesidade tem ocorrido em fases cada vez mais precoces e tem trazido consigo grandes efeitos deletérios à saúde de crianças e adolescentes, no entanto, ainda não está claro o efeito do excesso da adiposidade corporal sobre aspectos do desenvolvimento puberal, como os níveis de hormônios esteroides sexuais (VANDEWALLE e col., 2015).

Sabe-se que, assim como nos adultos, a obesidade e a resistência à insulina parecem alterar a função testicular já na adolescência (SHALITIN e PHILLIP, 2003). No entanto, estudos têm sido discordantes ao demonstrar os níveis de testosterona de meninos obesos, e essas divergências podem estar relacionadas às diferenças na população e nas questões metodológicas relacionadas tanto pela dificuldade prática de avaliar o desenvolvimento puberal como nos métodos de análise hormonal (VANDEWALLE e col., 2015). em crianças e adolescentes mostram que obesos apresentam menores concentrações de testosterona em comparação com seus pares eutróficos (DENZER e col., 2007; VANDEWALLE e col., 2015). Mogri e colaboradores (2013) encontraram que adolescentes obesos apresentavam de 40 a 50% menos testosterona do que seus pares de peso saudável.

5.3.3 TESTOSTERONA E COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO

Como mencionado anteriormente, o exercício físico e o comportamento sedentário estão nas extremidades de um continuum de movimento. Embora devam ser considerados constructos diferentes, parece coerente olhar para a base lógica que considera o exercício físico como uma intervenção não farmacológica para aumentar os níveis de testosterona (HAYES e ELLIOTT,

(27)

2018), e sugerir a hipótese de que o comportamento sedentário pode declinar os níveis deste hormônio.

O estilo de vida tanto de crianças e adolescentes como de adultos tem passado por mudanças no que diz respeito aos comportamentos ativos e sedentários, que, por sua vez, têm trazido uma série de complicações para a saúde (PATE e col., 2011). O aumento do comportamento sedentário pode ser atribuído a mudanças ambientais, econômicas, tecnológicas e sociais (OWEN e col., 2014). Os níveis de testosterona parecem ter relação com o comportamento sedentário, visto que baixos níveis desse hormônio estão associados a maior sensação e fadiga e menor vigor (DOHLE e col., 2012). Ainda, a testosterona desempenha papeis sobre o comportamento social (VAN RIJN, 2018), que é um dos fatores que podem aumentar o comportamento sedentário.

Travison e colaboradores (2007) buscaram investigar a importância relativa do envelhecimento, do estado de saúde e do estilo de vida sobre reduções dos níveis de testosterona de homens de meia idade e demonstraram que embora o envelhecimento, por si só, de fato seja um potente contribuinte para o declínio dos níveis de testosterona, os fatores relacionados à saúde e/ou estilo de vida exibiram considerável influência sobre os níveis hormonais. O comportamento sedentário, à priori, foi considerado dentro dos fatores relacionados ao estilo de vida, no entanto, foi excluído da análise por ter sido uma covariável que não apresentou significância sobre os níveis hormonais. Vale ressaltar que nesse estudo o nível de comportamento sedentário foi medido indiretamente através de recordatório de atividades físicas que considerava a duração e a frequência de atividades nos últimos sete dias. A partir disso, o gasto energético era estimado e classificado quanto à intensidade da atividade (moderada, vigorosa e “pesada”). O comportamento sedentário foi definido por gasto energético menor que 200 kcal/dia em atividades de moderada a vigorosa intensidade.

Um estudo conduzido com 1210 homens adultos jovens mostrou que o comportamento sedentário parece alterar a função testicular (Priskorn e col., 2016). Os autores encontraram associação entre o tempo de tela (um dos tipos de comportamento sedentário) com marcadores da função testicular, dentre os quais estão os níveis de testosterona. Os resultados mostraram que várias horas de televisão estão associadas com pobre função testicular, concluindo que,

(28)

dentre os marcadores avaliados, homens jovens não obesos que passam muito tempo assistindo televisão apresentaram menores níveis de testosterona total.

Com relação à população pediátrica, ao nosso conhecimento, nenhum estudo buscou investigar o efeito do comportamento sedentário sobre os níveis de testosterona, de acordo com pesquisa na base de dados PubMed utilizando os termos “sedentary behaviour” OR “sedentary lifestyle” AND “testosterone” AND “post-pubertal” OR “puberty” OR “adolescent”. Considerando a existência de estudos que demonstraram a influência do estilo de vida homens adultos sobre os níveis de testosterona e sabendo que o alto comportamento sedentário é uma característica do estilo de vida da sociedade moderna, inclusive na juventude, faz-se necessária a investigação de uma possível associação entre o comportamento sedentário de adolescentes e a concentração de testosterona – hormônio fundamental para o pleno crescimento e desenvolvimento durante a puberdade de meninos.

(29)

6. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Esta pesquisa é um recorte de um projeto “guarda-chuva” que tem como objetivo analisar os comportamentos de movimento (sono, comportamento sedentário e atividade física) de crianças e adolescentes com excesso de peso relacionando-os com componentes relacionados à saúde. O presente estudo é caracterizado como uma pesquisa observacional do tipo transversal que buscou investigar a existência de associação entre o nível de comportamento sedentário com os níveis de testosterona de meninos obesos pós-púberes. Cada sujeito compareceu ao laboratório em dois momentos. No primeiro momento, foram apresentadas as etapas da pesquisa e o termo de assentimento do participante e consentimento do seu responsável. Em seguida, realizou-se a coleta de saliva, avaliação antropométrica, da composição corporal e entrega do acelerômetro. Após sete dias, o participante retornava ao laboratório para o segundo encontro a fim de devolver o acelerômetro e receber o laudo referente aos procedimentos de avaliação.

6.2 CONTEXTO DA PESQUISA

O recrutamento dos participantes, as coletas e as análises dos dados foram feitas no departamento de educação física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte durante o período de novembro de 2018 até junho de 2019.

(30)

6.3 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 29 meninos pós-púberes com excesso de peso recrutados através da análise de prontuários de uma instituição educacional federal. Como critérios de inclusão, os participantes deveriam apresentar vínculo ativo na instituição e estar em período letivo escolar; estar com excesso de peso de acordo com a classificação do IMC (ANEXO I) segundo Cole e colaboradores (2000); ausência de doenças cardiometabólicas conhecidas; e estar durante ou após o pico de velocidade do crescimento calculado através das variáveis contidas na fórmula de Mirwald e colaboradores (2002). O gráfico de fluxo abaixo resume o processo de seleção e avaliação dos participantes do presente estudo.

Figura 2 – Fluxograma amostral do estudo.

6.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA

Este estudo foi iniciado após ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (parecer no: 2.690.410; CAAE:

80922117.3.0000.5537), seguindo todas as recomendações para a condução de pesquisa científica em seres humanos. Todos os voluntários foram informados sobre os procedimentos, riscos e benefícios da pesquisa, em seguida, assinaram, por espontânea vontade, o termo de assentimento e levaram aos responsáveis o termo de consentimento livre e esclarecido.

(31)

6.5 VARIÁVEIS ANTROPOMÉTRICAS

Foram mensuradas medidas antropométricas para caracterização da amostra avaliada. Utilizou-se os procedimentos padrão da International Society of Advanced in Kinanthropometry - ISAK (MARFELL-JONES e col., 2012).

A massa corporal (kg) foi medida em balança digital (Welmy®, São Paulo, Brasil) com capacidade de 300 kg e precisão de 50 gramas. Os participantes se mantiveram no centro da plataforma da balança em posição anatômica e olhando para o plano de Frankfurt.

A estatura corporal (cm) foi medida em estadiômetro acoplado à balança digital com precisão de 0,1 cm. Para a medida, os participantes retiraram os calçados e uniram os calcanhares. Ainda, permaneceram em apneia e olhando para o plano de Frankfurt.

A medida da circunferência foi realizada com fita antropométrica (Sanny®, São Paulo, Brasil). A circunferência da cintura consistiu da distância média entre o ultimo arco costal e a crista ilíaca, sendo coletada no momento pós expiração respiratória.

As medidas foram realizadas e analisadas por único avaliador qualificado na técnica. havendo um erro técnico de medida intra-avaliador de 2%, o que é considerado aceitável (PERINI e col., 2005).

6.6 TESTOSTERONA SALIVAR

A utilização da testosterona salivar é um meio não invasivo e de fácil obtenção que apresenta significante correlação com a testosterona sérica de adultos (r = 0,94), de homens hipogonádicos (r = 0,63) e de meninos em desenvolvimento (r = 0,83) com idades entre 11 e 23 anos (VAN RIJN, 2018). Ainda, a testosterona livre é considerada o melhor índice, em comparação com a testosterona total, da atividade androgênica em adolescentes obesos (VANDEWALLE e col., 2015).

A coleta de saliva foi realizada em local e horário (entre 13h e 14h) padronizados para evitar variações influenciadas pela temperatura e ciclo circadiano. Os sujeitos não ingeriram alimentos, bebidas, mascaram chiclete ou escovaram os dentes 30 minutos antes da coleta. Cinco minutos antes do procedimento de coleta, os sujeitos enxaguaram a boca a fim de eliminar resíduos. Em seguida, foi entregue um tubo cônico estéril de 15 ml para que o avaliado, em uma

(32)

posição sentada e com a cabeça ligeiramente inclinada para frente, despejasse pelo menos 2 ml de saliva.

As amostras foram armazenadas em geladeira em -80 oC até que fossem analisadas. A

testosterona salivar foi mensurada em duplicata por kit ELISA da marca DRG (SLV-3013,

United of States of America). Os ensaios foram feitos em duplicata e encontrou-se um

coeficiente de variação de 3,28%, indicando uma variação intra-ensaio aceitável (isto é,

coeficiente de variação ter sido menor que 10%) e R2= 0,98. As análises de testosterona salivar

foram feitas por pesquisadores experientes na técnica e conduzidas em laboratório de análises hormonais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

6.7 COMPOSIÇÃO CORPORAL

A massa livre de gordura, massa gordurosa e densidade e conteúdo mineral ósseo foram os elementos constituintes da composição corporal avaliados. Para isso, foi utilizada a absorciometria por dupla emissão de raios-X (DEXA), considerada um dos métodos de maior acurácia junto com a pesagem hidrostática e a diluição isotópica (NEWTON JR e col., 2005).

Foi utilizado o instrumento de modelo Lunar Prodigy Advance - General Electric Company® - Boston, Massachusetts, EUA. Os pacientes foram orientados sobre o procedimento quanto aos riscos e ao que obteríamos de resultado. Momento antes do exame, solicitou-se que todos os avaliados retirassem os sapatos bem como qualquer tipo de objeto de metal como brincos, cintos e joias. Para o escaneamento do corpo inteiro, os pacientes foram posicionados deitados em decúbito dorsal e com os braços ao longo do corpo dentro dos limites de varredura. Para evitar possíveis movimentações durante o exame, utilizou-se fitas de velcro na altura dos tornozelos e joelhos para imobilizar os membros inferiores. O software utilizado para análise das variáveis foi o Encore 14.1. O exame foi realizado e analisado por único avaliador qualificado na técnica.

6.8 ACELEROMETRIA

O comportamento sedentário foi avaliado de forma objetiva através de acelerometria de 24 horas utilizando acelerômetro Actigraph wGT3X-BT (ActiGraph LLC, Pensacola, FL, EUA) no quadril direito (região suprailíaca).

(33)

Os participantes foram instruídos a usarem o acelerômetro durante 7 dias consecutivos e ao longo de todo o dia, exceto em momentos de banho, atividades aquáticas e em esportes de luta. Associado ao uso do acelerômetro, os participantes preenchiam um diário (Anexo II) a fim de registrar os momentos em que retiraram o dispositivo e informar a hora em que foram dormir e que acordaram.

Para inclusão nas análises, foi considerada a quantidade mínima de 10 horas de tempo de uso em vigília por dia, três dias na semana, sendo pelo menos um dia de final de semana. Os dados foram coletados em uma taxa de amostragem de 60 Hz, baixados em epochs de 1 segundo através do software ActiLife versão 6.13.3 (ActiGraph LLC, Pensacola, FL, EUA) e posteriormente reintegrados em epochs de 60 segundos.

O comportamento sedentário (CS) foi definido como todo período em que a contagem de counts por minuto fosse ≤100 (EVENSON e col., 2008). Utilizou-se o vetor vertical (y) para a análise. A análise foi feita após a exclusão do período de sono e do tempo de não uso acordado (qualquer sequência de ≥60 minutos consecutivos de 0 counts por minuto de atividades).

6.9 MATURAÇÃO SOMÁTICA

A maturação somática foi avaliada pela fórmula de estimativa do pico de velocidade do crescimento (PVC) proposta por Mirwald e colaboradores (2002). Para o cálculo, foram considerados a estatura, o peso, a altura troncocefálica e a idade centesimal. As medidas antropométricas foram realizadas por único avaliador experiente na técnica através da utilização de balança digital e estadiômetro. A idade para o PVC tem sido um método de maturação somática comumente utilizado para indicar o desenvolvimento puberal de adolescentes (GASSER e col., 2013; MOREIRA e col., 2013; MIRWALD e col., 2002).

(34)

7. ESTATÍSTICA

Utilizou-se o teste de Shapiro Wilk para testar a normalidade dos dados descritivos, que estão apresentados em média e desvio padrão. Foi utilizado um modelo de regressão linear simples para verificar a associação entre as variáveis independentes (comportamento sedentário e adiposidade) de forma isolada sobre os níveis de testosterona (variável dependente). Ainda, utilizou-se modelo de regressão múltipla para verificar se o comportamento sedentário e a adiposidade estão conjuntamente associados com os níveis de testosterona.

O modelo ajustado ao presente trabalho pertence à família de modelos lineares generalizado - modelos que não pressupõe a existência de normalidade nos dados de acordo com Nelder e Wedderburn (1972), dessa forma, ajustando-se às variáveis que pertencem à família de distribuições exponenciais (CORDEIRO e DEMÉTRIO, 2008). O poder (power) do teste foi calculado a posteriori a partir do coeficiente de correlação encontrado nas análises de regressão linear múltipla. Adotou-se valor de p<0,05 para significância estatística. Foi utilizado o software SPSS versão 24 para as análises estatísticas.

(35)

8. RESULTADOS

As características da amostra analisada estão apresentadas na tabela 1.

Tabela 1 Caracterização da amostra.

Média (±DP) Intervalo de confiança (95%)

Idade (anos) 16,5 (±1,1) 16,1 - 16,9 Maturação (PVC*) +1,1 (±0,8) 0,7 - 1,4 Massa Corporal (kg) 90,6 (±14,2) 85,2 - 95,9 Estatura (cm) 173,2 (±7,2) 170,2 - 175,9 IMC (km/m2) 30,1 (±3,5) 28,7 - 31,4 Circunferência cintura 100,1 (±9,2) 96,6 - 101,6

Massa livre de gordura (kg) 59,3 (±7,4) 56,5 - 62,1

Adiposidade (% Gordura) 35,8 (±5,1) 33,8 - 37,7

CS (horas/dia)** 9,8 (±2,1) 8,9 - 10,5

Testosterona (pg/ml) 75,3 (±49,8) 56,5 - 94,2

*PVC: pico de velocidade do crescimento; **CS: comportamento sedentário.

O modelo de regressão linear simples mostrou que a associação entre comportamento sedentário e os níveis de testosterona salivar não foi estatisticamente significante [F(1;27) = 0,171; p = 0,68]. Por outro lado, a adiposidade foi estatisticamente significante para explicar os níveis de testosterona salivar [F(1;27) = 6,647; p = 0,01].

Da mesma forma, o modelo de regressão múltipla que analisou de forma conjunta a associação do comportamento sedentário com a adiposidade sobre os níveis de testosterona mostrou que o comportamento sedentário (T=0,257; p=0,80) não tem associação com a testosterona, enquanto que a gordura (T=-2,506; p=0,01), sim. O poder do teste foi de 73%. Ainda de acordo com o modelo, pode-se inferir que o aumento de 1% de gordura reduz em 4,296 pg/ml os níveis de testosterona.

A maturação somática foi uma covariável que não apresentou significância estatística sobre os níveis de testosterona dentro do modelo de análise múltipla, sendo, portanto, não incluída nos resultados.

(36)

9. DISCUSSÃO

A testosterona é um hormônio importante tanto para a saúde cardiometabólica como para o crescimento e maturação de adolescentes. Seus níveis podem estar associados a diversos fatores modificáveis relacionados ao estilo de vida, porém, não há clareza sobre sua relação com o comportamento sedentário que é uma característica crescente da sociedade moderna. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi investigar se o comportamento sedentário se associa com os níveis de testosterona de meninos pós-púberes com excesso de peso. O principal achado deste estudo é que o comportamento sedentário não se associou com os níveis de testosterona. Por outro lado, a nossa hipótese foi confirmada ao verificar que o grau de adiposidade se associou negativamente com níveis de testosterona, independentemente do nível de comportamento sedentário.

O tempo médio gasto em comportamento sedentário dos adolescentes com excesso de peso do presente estudo foi de 9,8 horas, correspondendo a 60,1% do tempo do período de vigília. Esse valor percentual é o mesmo encontrado em pesquisas conduzidas em outros países que indicam que adolescentes acumulam mais de 60% do tempo em comportamento sedentário (RAMOS e col., 2018). Ainda, o tempo gasto em comportamento sedentário encontrado no presente trabalho também está em concordância com os dados mostrados em artigo de revisão sistemática que elegeu estudos com adolescentes obesos e não obesos de diferentes continentes (ELMESMARI e col., 2018). Nessa revisão, o comportamento sedentário de adolescentes obesos (meninos e meninas) variou de um baixo tempo de 5,8 (±2,0) horas por dia a um alto tempo de 12,2 (±1,8) horas por dia.

De acordo com os dados da National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES 2003-2004), meninos entre 16 e 19 anos gastavam em média 7,9 horas por dia. Mais recente, a Canadian Health Measures Survey de 2009 mostrou que a média de comportamento sedentário foi 8,6 horas por dia. Considerando a temporalidade dos estudos e que adolescentes obesos apresentam maior comportamento sedentário em comparação aos seus pares eutróficos (HILLS e col., 2011), a presente pesquisa apresenta valores de comportamento sedentário coerentes com a realidade mundial. Adicionalmente, é importante destacar que o comportamento sedentário aumenta significantemente ao longo da adolescência (COOPER e

(37)

col., 2015), e a amostra do presente estudo foi composta por meninos próximo ao final dessa fase, o que pode ser um aspecto a ser considerado em relação ao tempo de comportamento sedentário encontrado nos sujeitos na nossa pesquisa.

Com relação aos níveis de testosterona, o presente estudo apresenta valores coerentes com estudo prévio que utilizou metodologia de coleta e análise semelhantes (VAN RIJN, 2018). A limitação em mensurar os níveis de testosterona está na ausência de valores de referência que sejam universalmente aceitos para jovens púberes e pós-púberes (MOGRI e col., 2013).

A testosterona livre é considerada o melhor índice, em comparação com a testosterona total, da atividade androgênica em adolescentes obesos (VANDEWALLE e col., 2015). Dentre as técnicas empregadas para coletar material biológico para posterior análise dos níveis de testosterona livre, a coleta da saliva se apresenta como um meio não invasivo e de fácil obtenção que apresenta significante correlação com a testosterona sérica de adultos (r = 0,94), de homens hipogonádicos (r = 0,63) e de meninos em desenvolvimento (r = 0,83) com idades entre 11 e 23 anos (VAN RIJN, 2018).

Quanto à relação entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona, nosso estudo mostrou que não existe associação entre essas duas variáveis, isto é, o comportamento sedentário não é um fator importante para explicar os níveis de testosterona dos meninos pós-púberes com excesso de peso.

Ao nosso conhecimento, não existe estudo, seja com população pediátrica ou adulta, que buscou investigar a associação entre os níveis de testosterona e o comportamento sedentário medido de forma objetiva (exemplo: por meio dos sensores de movimento como ActiPal ou acelerômetros).

Um estudo conduzido com 1210 homens jovens saudáveis buscou investigar se o comportamento sedentário estava associado com a função testicular (que dentre outros parâmetros, avaliou-se os níveis de testosterona) (PRISKORN e col., 2016). Como resultado, encontrou-se que os homens expostos a muitas horas de televisão apresentavam menores níveis de testosterona. Antes de comparar esses resultados com os achados da presente pesquisa, é importante considerar que o trabalho citado avaliou o comportamento sedentário através de questionários que indagavam aos participantes sobre o quanto de tempo eles gastavam assistindo televisão ou usando o computador, dessa forma, é importante ponderar já que esses

(38)

comportamentos compreendem apenas uma parcela das atividades sedentárias diárias (GUERRA e col., 2016).

Em um estudo de coorte, Travison e colaboradores (2007) buscaram investigar a importância do estilo de vida sobre reduções dos níveis de testosterona de homens de meia idade, e demonstraram que o comportamento sedentário não influenciou no declínio dos níveis de testosterona. Embora esse resultado seja concordante com o presente estudo, é importante destacar que o nível de comportamento sedentário foi medido indiretamente através de recordatório de atividades físicas que considerava a duração e a frequência de atividades nos últimos sete dias. A partir disso, o gasto energético era estimado e classificado quanto à intensidade da atividade (moderada, vigorosa e “pesada”), sendo o comportamento sedentário definido por gasto energético menor que 200 kcal/dia em atividades de moderada a vigorosa intensidade.

Quanto à relação entre a adiposidade e os níveis de testosterona, os resultados do presente estudo confirmam a associação negativa existente entre essas duas variáveis. Meninos com maior quantidade de gordura corporal apresentaram menores níveis de testosterona. Ainda, o modelo estatístico demonstrou que para 1% de gordura aumentado, há redução de 4,296 pg/ml nos níveis de testosterona.

Essa relação negativa é bastante clara em homens adultos obesos (GROSSMANN, 2018; KELLY e JONES, 2015; WANG e col., 2011; DENZER e col., 2007), no entanto, a literatura ainda não está clara quanto aos níveis de esteroide sexual em adolescentes obesos (VANDEWALLE e col., 2015), sendo, portanto, mais um estudo para contribuir nesse campo de pesquisa com populações pediátricas.

É importante salientar que a secreção de testosterona sofre importante aumento durante a puberdade. Em meninos, os níveis de testosterona aumentam consideravelmente entre os estágios G3 e G4 de Tanner (MALINA e col., 2004). Embora o estadiamento de Tanner seja o método mais utilizado, ainda não está claro como melhor avaliar o desenvolvimento puberal (SHIRTCLIFF e col., 2009). Considerando algumas desvantagens envolvidas no estadiamento de Tanner, como o desconforto e constrangimento que pode ser gerado para o avaliado bem como a necessidade de um médico especializado e devidamente treinado (FARIA e col., 2013), a avaliação da idade para o pico de velocidade do crescimento (PVC) tem sido uma estratégia

(39)

utilizada para indicar o desenvolvimento puberal de meninos, uma vez que o PVC ocorre entre os estágios G4 e G5 de Tanner.

Nessa perspectiva, o presente estudo avaliou o desenvolvimento puberal através do PVC. Na média, a amostra do presente estudo apresentava-se no PVC, indicando que os adolescentes estavam finalizando o processo de maturação sexual (GASSER e col., 2013). A fim de evitar grandes variações nos níveis de testosterona em decorrência de diferentes estágios puberais, os sujeitos incluídos na análise estavam na idade para o PVC ou após o pico de crescimento.

É importante destacar que o presente estudo apresenta pontos fortes em sua metodologia como a análise da composição corporal avaliada por absorciometria de dupla emissão de raio X (DEXA) e a mensuração objetiva do comportamento sedentário através de acelerometria triaxial. Entretanto, apresenta a limitação da avaliação da maturação não ter sido realizada através da maturação sexual, que, embora não haja clareza quanto ao melhor método para avaliar o desenvolvimento puberal, é a forma mais usual de análise na prática clínica e em estudos científicos.

(40)

10. CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa apontam que não há associação entre o comportamento sedentário e os níveis de testosterona de meninos pós púberes com excesso de peso. Porém, confirma a associação negativa existente entre os níveis de testosterona com o grau de adiposidade.

(41)

11. REFERÊNCIAS

ABARCA-GÓMEZ, Leandra et al. Worldwide trends in body-mass index, underweight, overweight, and obesity from 1975 to 2016: a pooled analysis of 2416 population-based measurement studies in 128· 9 million children, adolescents, and adults. The Lancet, v. 390, n. 10113, p. 2627-2642, 2017.

ALLAN, Carolyn A.; MCLACHLAN, Robert I. Androgens and obesity. Current Opinion in Endocrinology, Diabetes and Obesity, v. 17, n. 3, p. 224-232, 2010.

ATALLA, Marcio et al. Tackling youth inactivity and sedentary behavior in an entire Latin America City. Frontiers in pediatrics, v. 6, p. 298, 2018.

BAIN, Jerald. The many faces of testosterone. Clinical interventions in aging, v. 2, n. 4, p. 567, 2007.

BAUR, Louise A.; HAZELTON, Briony; SHREWSBURY, Vanessa A. Assessment and management of obesity in childhood and adolescence. Nature Reviews Gastroenterology and Hepatology, v. 8, n. 11, p. 635, 2011.

BIDDLE, Stuart JH; BENGOECHEA, Enrique García; WIESNER, Glen. Sedentary behaviour and adiposity in youth: a systematic review of reviews and analysis of causality. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 14, n. 1, p. 43, 2017.

BLAIR, Steven N. Physical inactivity: the biggest public health problem of the 21st century. British journal of sports medicine, v. 43, n. 1, p. 1-2, 2009.

BOUCHARD, Claude; BLAIR, Steven N.; KATZMARZYK, Peter T. Less sitting, more physical activity, or higher fitness?. In: Mayo Clinic Proceedings. Elsevier, 2015. p. 1533-1540.

BYROM, B. et al. Objective measurement of sedentary behaviour using

accelerometers. International Journal of Obesity, v. 40, n. 11, p. 1809, 2016.

CHARANSONNEY, Olivier L.; DESPRÉS, Jean-Pierre. Disease prevention—should we target obesity or sedentary lifestyle?. Nature Reviews Cardiology, v. 7, n. 8, p. 468, 2010.

CLIFF, Dylan P. et al. Objectively measured sedentary behaviour and health and development in children and adolescents: systematic review and meta‐analysis. Obesity Reviews, v. 17, n. 4, p. 330-344, 2016.

COLE, Tim J. et al. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. Bmj, v. 320, n. 7244, p. 1240, 2000.

COOPER, Ashley R. et al. Objectively measured physical activity and sedentary time in youth: the International children’s accelerometry database (ICAD). International journal of behavioral nutrition and physical activity, v. 12, n. 1, p. 113, 2015.

DENZER, C. et al. Pubertal development in obese children and adolescents. International journal of obesity, v. 31, n. 10, p. 1509, 2007.

DE MADDALENA, Chiara et al. Impact of testosterone on body fat composition. Journal of cellular physiology, v. 227, n. 12, p. 3744-3748, 2012.

Referências

Documentos relacionados

A par disso, analisa-se o papel da tecnologia dentro da escola, o potencial dos recursos tecnológicos como instrumento de trabalho articulado ao desenvolvimento do currículo, e

De seguida, vamos adaptar a nossa demonstrac¸ ˜ao da f ´ormula de M ¨untz, partindo de outras transformadas aritm ´eticas diferentes da transformada de M ¨obius, para dedu-

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

3.3 o Município tem caminhão da coleta seletiva, sendo orientado a providenciar a contratação direta da associação para o recolhimento dos resíduos recicláveis,

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem