31 DESAFIOS
AUTORES:
Carlos Abre u,João Sobrinho Teixeira, Teres¿ Alvarez, António Ma¡uelValente de An-clrade, Amélia Augttsto, Gernrano Borges, Irma da Silv¿ Brito, Ricardo Cabral, Hugo Carvalho, Car-los AlbinoVeiga da Costa,João Falcão e Cunha, Diana Dias, Hugo Dionísio, Elísiã Estanque, paulo Ferraz,António Fragoso,Joana Mira Goclinho, Davicl Gomes,João Castel-Branco Gor-rlão,À¡a Carla Madeira, Rosa Marchena Gómez, Helena Águeda Marujo, óaniel Monteiro, LuísValentim per-eiraMonteiro, CésarAugusto Lima Morais, Natália Pacheco, Paulo Peixoto, Henrique pereira,José L.ís Rodrigues, Liliana Rodrigues, Catarina Sales Oliveira, Rafael Santana HernáncJez, patrícia Sa¡tos, Idalina Sardinha,Arrnando Manuel Marques Silva, Margarida Mano, Marlene Conceição Ilatista Tei-xeira, Gonçalo Cardoso LeiteVelho, CarlosVieira, IsabélVieira,João Pedro MendonçaVieira, Maria Manuel Vieira, Sílvio Fer-nandes
Uma ediçâo da
IA
COORDENAÇÃO: Ricar-do Martins e Andreia Micaela Nascimento
EDITOR:
Luís Eduardo NicolauREVISÃO: Cer.los Diogo pereiru eJosé Luís Sotrs:r
EDIçÃO, PAGINAçÃO
EDESIôN:
Imprensa Acaclémica IMPRESSAO: Tipografia Lousanense, Lda. - LousãISBN: 978-989 -54361 -2-5 Depósito legal:- 45 4300 / 1.9
1." Edição: Funchal, abril de 2019.
Edição O Associação Acaclémica cla lJniversiclacle da Macleira
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Esta edição contou conl o apoio da Secretaria Regional de Eclucação, clo Instituto português da Juventude e do Desporto, a1r1v{ do ?rograrna de Apoio Estudantii, além clo mecenaro
.ii
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Ficarn proibidos a r-eprodução, total ou parcial, desta obra pol qualquer meio or-r pl.ocedimento, o seu ârnìazenamento, em qualquer clispositivo, e a suà transmissão, por qualquer foìma eletrónica,
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.
do(s) autor-(e$.APOIO INSTITUCIONAL
REPÚBTICA
PORTUGUESA
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íruorce
9-Nota
de Aplesentação11-PleÍÌício
14-Sobre
os atltores 17 Frrcrinc|
.NOS
BASTIDORES DAS INSTITUIçÖES
DEENSINO
SUPERIOR19-Reflexões
Sobre a Iglralclacle entre Mltlheres e Homens: Conhecimento, Eclucação e Formação25 - - -
-
AExcelência na Universidade31-.--'.-..'.*Praxe e Tradição
Estudantil
em Coimbra39-Comportametìtos
Aditivos no Ensiuo Sr'tperior 47-O
Desafio da Igualdade de Génelo uo Ensino Srtperior
55-
-=-.Autonomia61-Balreiras
Iufortnais
de Acesso ao Eusino Superior e à Mobilidacle Social2
O ENSINO:
A
NOVA ORDEM
MUNDIAL
DA
EDUCAçÃO
SUPERIOR67-Mobilidade
Interttacioual e o Ensino Superior75.. --_--..A
Importância
da Universidacle na Promoção de tturaCultnra
de Honestidacle
B1*Como
Avaliar Qttem nos Avalia?B9-Desafíos
cle la Eclucación Inclusiva97-Ensino
Doutoral: Arnpliação, Diversi{ìcação e Maleabilidade3,
O ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
1os_*Integrâção
no Ensino Sttperior: Reciclagem do Ofício doAluno
11l^^_Da
Educação ao Tlabalho: O Estatuto do TraballlaclorEstudante119_Estudantes
NãorTradicionais no Ensino superior:urna
Qttestãocle Responsabiliclacle Social? 127
-Evolttções
Receutes na Iuserção Profissional clos Joveus Diplornaclos do Ensino Superior em Portugal: Convergências e Dispariclades entre Resiclentes na Região Autónoma cla Madeira e no Contineute'
143-
^A
Sexualidade dos Jovens Universitários Poltngueses 15S._._Saírde no Ensino Superior161-Sucesso,
Insucesso e Desistência no Ensino Superior-
Conceitos, Percursos e Sr.rbjetividades4
.PARA ALÉM DO ENSINO
SUPERIOR167
-
^ATecnologia
no Ensino Sr.rperior175-Direito
ao Presente181- ^-A
Sustentabiliclade e as Instituições de Ensino Superior19l-Bern-Estar
na Univelsidade: oContribnto
da Psicologia Positivae da Educação para a Paz
199..-.-_O Desporto ao Serviço clo Desenvolvimento
Hnmano
(Tambérn no Ensino Superior)203--ACiência
e a Fé213-Uma
Universiclade para o SéculoXXL
de lrma Universidade Encalada corno Projeto Civilizacional a uma Univelsidade Virada para Projetos Civilizacionais Ancoraclos nas Comunidades Que lhe são mais Próximas221.*-Cldadania:
da Acaclernia às Recles Sociais5.POLíTICAS
DO ENSINO
SUPERIOR227
--O
(Sub)Financianento do Ensino Superior ern Portugal237
----Quais
as Estratégias de Ação Social Adequadas àContemporauei
dade clo Ensino Superior Português?245--
AJuventude
na União Europeia, Os Jovens na Madeirae os Desafios do
Futulo
249-Desnovelar
o Acesso ao Conhecimento da Política do Medo251-Tendências
do (Sub)Financianlento Português259-Posf;ício
2 6
5-Referências
Bibliográfi casA estrutura da obra teve por base uma ordenação alfabética do sobrenome dos autores. Os ensaios foram agrupados em cinco eixos temáticos.
SOBRE OS AUTORES
Teresa Alvarez: Técnica Supelior da Comissão para a Ciclaclania e a Igualclacle cle Género. António Manuel Valente de Andrade: Universiclacle Católica Poltugucsa - Católica Porto Bttsiness School - Centr-o cle Estttclos eln Gestão e Econouria.
Amélia Augusto: ISCTE-IUL
-
Centlo clc Investigação cle Estuclos cle Sociologia c Univelsiclacle cla BeilaIntelior'-
Faculclade cle Ciências Sociais e Humanas-
Departarìrento de Sociologia. Germano Borgesr Uliversiclacle clo Minho - Centlo cle Invcstigação em Eclttc.rçào.Irma
daSilv¡
lìrito:
Escola Stqrerior cle Enfermagern de Coimbt'a, UCP cle Enfelrnagen deSaricle Priblica, Farriliar e Comunitár'ia.
Ricardo Cabral: Universiclacle cla Maclcira
-
Faculclacle cle Ciências Sociais-
Departaureuto cle Gestão e Ecouotnia.Hugo Carvalho: Plesiclcntc da Dii-ecção clo Conselho Nacional cla Juvetrtttcle.
Carlos Albino
Veþ
cla Cost¡: Univelsiclacle clo Porto-
F'aculclaclc cle Engenharia-
Departa-mento cle Engenharia Química-
LEPABE-
Lal¡oratór'io cle Engenhalia de Proccssos, Aurbien-te, Biotecnologia c Energia.João Falcão e Cunha: Univcrsiclacle clo Porto
-
Faculclacle clc Engenharia-
Departatnento clc Engenharia e Gestão Inclustlial-
INESC TEC-
Instituto cle Engcnharia cle Sistemas e CotnpttI ¡rlolcs, Tccrroìogi.r e Ciônci.r. Diana Dias: Univelsiclacle Europeia.
Hugo Dionísio: Jurista no Gabinetc cle Estuclos Jur'íclico-econórnicos cla CGTP-IN.
Elísio Estanque: Univelsidacle cle Coimbi-a - Faculclacle cle Economia - Centlo cle Estuclos Sociais. Paulo Ferraz: Aclministlaclol clos Serviços cle Acção Social clo Politécnico clo Polto entrc Seteur-blo cle 2015 e
Ablil
c{e 2018.António Fragoso: Universidaclc clo Algarvc - Faculclade cle Ciências Httt.nanas e Sociais - CeÌìtro
cle Investigação soìrle o Espaço e as Orgalizaçõcs.
Joana Mira Godinho: Directola cla Agência Nacional Erasmus+ Eclucação e Folmação. David Gomes: I)irector cla Dirccção Rcgional cle Jtlentucle e Despor:to.
João Castel-Branco Goulão: Dircctor'Gelal clo Serviço cle Intclvcnção
los
Cornportalììclìtos Aclitivos e nas l)epenclências (SICAD).Ana Carla Madeira: Universiclaclc clo Por-to
-
Faculclacle cle Engenhalia-
Gabinete cle Estuclos e Apoio à Gestão.Rosa Marchena Gómez: Univelsiclacl clc Las Palmas cle Gran Cal-ralia - Facultacl cle Ciencias cle la llclucación - Dcpartarnento de Eclucación.
Helena Águeda Marujo: Instituto Superior clc Ciências Sociais e Políticas; Coorclenaclola cla
Cá-tech'a UNESCO cn.r Eclucation fol Global Peace Sustainability; Universiclacle cle Lisboa - Centro
cle Ach.ninistlação c Políticas Pírblicas.
14
Daniel Monteiro: Presiclentc cla Feclelação Acaclémica clo Despolto Universitário.
Luís Valentim Pereira Monteiro: Deputaclo à Asscmblcia cla Repirblica pelo Bloco cle Esclue rcla.
CésarAugustoLimaMorais:
Univelsiclacle Nova clc Lisl¡oa-
Faculclacle clc Ciências Sociais eHumanas
-
Ccntl'o Intclclisciplinar cle Ciências Sociais. Nat ília Paclrcco: Univelsiclacle cla Beira Interior'.p¡ulo
Peixoto: Univelsiclacle cle Coimbra-
Faculclacle cle Econor.r.ria-
Ceutlo cle Estuclos So-ciais.Henrique Pereira: Universiclacle cla Beira Interior', Faculclacle cle Ciências Sociais e Htturauas, Depaltameuto cle Psicologia e Eclucação.
José Luís Rodrigues: Pároco cle São José e São Roquc, Diocese clo Funchal.
Liliana Rodrigues: Dcputacla ao Par'lamento Etttopett 2074 2O'L9 e Univelsiclacle cla Macleila
-Faculclacle cle Ciências Sociais
-
Ccntro cle Investigação em Eclttcação.Catarina Sales Olivcira: ISCTE-IUL
-
Centro cle Investigação cle Estuclos clc Sociologia c Uni-ver.siclacle cla BeiraInterior'-
Faculclacle cle Ciências Sociais e Httmanas-
Departameuto clc Sociologia.Rafael Santana Hernánclez: Universiclacl cle Las Palmas cle Glan Cauaria - Facultacl clc Cicncias
cle la Eclucación - Depal'tâmento clc Eclttcación.
Patrícia Santos: ISCTE{UL
-
Centro cle Investigação e Estttclos cle Sociologia.Idalina Sardinha: Universiclacle cla Macleila
*
Faculclacle cle Artes e Hurraniclacles (Professora aposentâclâ).Arrnando Manuel Marques Silva: Escola Super:iol cle Eufermagcm cle Coimlrra; Uniclacle Cicntifico-Peclagógica Enfcrrnagem cle Saúrcle Púrl¡lica,
Farrilial
e Comturitár'ia; Investigador da UICISA: E - Health Sciences Research Unit.Margarida Mano: Universiclacle clc Coimbra
-
Facuiclacle cle Ecouotnia.Marlene Conceição Batista Teixeira: Licenciacla
en
Economia pela Universiclaclc cla Macleila. Gonçalo Cardoso Leite Velho: Plesicleltc cla Dilecção clo Sinclicato Nacional clo Ensino Supe-rior'.Carlos Vieira: Univelsiclacle cle Éuora
-
Centlo cle Estuclos e Foltnação Avançacia eur Gcstão eEconomia.
Isabel Vieira: Universiclacle cle Érrora - Centlo cle Estttclos c Foruração Avançacla etu Gestão c Economia.
João Peclro Mendonça Vieira: Vcreaclor ua Câurara Municipal clo Ftlnchal' Maria Manuel Vieira: Univelsiclacle cle Lisboa
-
Instituto cle Ciências Sociais.SUCESSO, INSUCESSO E
DESISTÊNCIA
NO
ENSINO
SUPERIOR
-
CONCEITOS,
PERCURSOS
E
SUBJETIVIDADES
MARIAMANUELVIEIRA
o
fenómeno do insucesso noensino superior:
danaturalização
aoalarme social
Os
nírmeros
darevista
Analise Socialde
1968
e
1969
dedicaclos à Universida-de Portuglresaconstituem
tun
lnarco inquestionável
nabibliografia nacio¡al
sobreo ensino superior. Ao longo
dosvários
altigos,
proerninentes cientistas sociais
daépoca escalpelizarn o sistetna
nniversitário
português
-
omodo
defu¡cio¡apre¡to
institucional,
a pedagogia exercitada, a investigação
científica produzida,
ospro-blelnas que afetam
os docentes-
não
sem sedeter, com
particular
ate¡ção,
sobre apopulação
estudantil
que
à épocafi'equenta
astrês
úrnicasuniversidades do
país(Coirnbra, Lisboa
e Porto).Sedas Nunes
(1968),
em particular', assinarlnì
extensoartþ
sobr-e a populaçãouniversitária
portuguesa. Entre. outras corìstatações, desvenda abaixíssi¡ra
eficiênciaatingida por
estegrau
de eusino:em
1966,
apenas 33% dos estudantes universitários portugueses terrninara a licenciatura no prazo institucionalmente previsto. O i¡sucesso (crrostomento dos estudos) e/ou o abanclono (desistêncio) parecemp..u
le."r,
o que não deixa de ser paracloxal, tendo errr conta a fortíssirna seletividade social noreclltamento
estudantil registado à época. Ora, sendo o insucesso e o abandono uma realidade genera-lizada, a sua noturolizaçõo parece exercer efeitos de incorporação social e
contribùr
para que tais fenómenos não constituarnlun
problema social.Cinco décadas mais tarde, justamente no
rnonerìto
erìl que os valor-es do insucesso e do abandono no ensino sttperior alcançam proporções rnais modestas (Engrácia eBap-tista,
2018),
estes fenómenos assttlnem paradoxahnente a forma de problema social-
ou mesmo de alarme social, alirnentado pelos ntedio. O que ter'á provocado esta mudança de paradigma? Vários fatores explicativos podem ser referidos: a centmlidade q11e a escolari-zação-
e a escolarização superior-
adquire na contemporaneidade, decorrente da¡raior
democratização no acesso ao ensino superior; a crescente regulação das políticas educa-tivas pelos sistemas de comparação à escala global (estatísticas internaciãnais, prolifera-ção de ronkings de universidades, europeização de rnetas e objetivos educativos cacla vez mais arnbiciosos, etc.); a afirmação do paradigma da eficácia na gestão pírblica, contr.ária à ideia de desperdício, eutre outros.A
combinação destes ingredientes terá certarnente contribuíclo para associar o insucesso auma
situação doravante intolerável e reforçar o sucesso educativo colÌlo rìol'rna-
e não exceção-
do sistema (Vieira, zooT).Mas... do que se fala quando se fala em (in)sucesso e abandono no ensino superior.?
Sucesso, insucesso e desistência no
ensino superior:
dos conceitos àcontabilização
estatÍsticaNos
írltimos
anos têm proliferado na academia estudos sobre o ensino superior.,c¡r
160
geral, e sobre o fenólneuo do (in)sucesso e abandono neste nível de ensino, em particqlar. Para alérn de estudos sociográficos de natureza
institucional
desenvolvidos por.Obserya-tórios ou Gabinetes proprios inseridos nas IES, visando a monitorização do percurso clos seus esttlclantes, o terì14 tem inspirado várias pesquisas e dissertações, desta feitaco¡ì
Lltìì recorte lnais analítico.Do conjunto destes estudos sobressai o
caúcter
complexo de que se revestern os fe-Itótnenos do sttcesso, iusucesso e abandono no ensino superior: por detrás dos núrrneros, escondem-se realidades cotì1 cotltor'nos diferenciados e sentidos distintos (Costa, Lopes eCaetano,
2014;
Mendes, Caetano e Ferreira,2016;Vieira, zol7).Tanro
mais qrle,co¡ì
a democratização relativa que este nível de ensino tem vindo a assistir', à qual se sonìaq¡ra
crescente interuacionalização, os seus protagonistas-
a populaçãoestudantil
que hoje fi'equenta o superior-
apresentaperfis
maisplulais,
expectativas rnais diversificadas edesempenhos lnais distintos.
Pala descortinar tnelhor seurelhante complexidade,
importa
clesde logo clar.ificar os couceitos. A clefiniçãoinstitucional
cle sucesso no sistema eclucativo tem estado tradicio-nalmente associada aulna
conceção linear dos percursos escolares. Durante alguns anos, o stlcesso no ensiuo superior foi rneclido pelas estatísticas internacionais (OCDE), atr.avés cletttn
processo clecross
cohort, utilizanclo-seo
indicaclorsulviyol
rqte para aprlrar aproporção de estudantes cliplomaclos cle
um
cursonulìr
clado ano(Ð,
.1" elìtre o total cle entradosXt
antes, sendo n o n.o cle anos cle clulação do curso. Por defeito, os per.cur.sos clissouatttescom
a linearidacle prevista-
o
alonganÌelìto clo tempo-paclrão estipulaclo para a couclttsão de ttur curso, ott meslìro a desistência clos estndos-
eranl sinónimos cle irrstrcesso (Vieila, 20 07).Contudo, as trausfomrações eclttcativas entletanto ocolriclas e, sobretuclo, o processo de Bolonha e a rnaior flexibilização
funcional
que ao longo dos anos2000
ele veio in-dttzir nas institttições de ensiuosttperior'-
nomeaclarnente, alterações aos RegulamelÌtos Gerais de Avaliação de Conhecirnelìtos e Competências-
alterouo
moclo cle captar eentender o stlcesso neste nível cle ensino, alargando o seu escopo à possibilidacle cle este assumil colltorllos e temporaliclades variaclas, rnais adaptaclas às situações específicas cle
frequência cle cacla estudante.
Reflexo disso são os ajttstaurentos lealizaclos, quer
em
2006,
qrler em2OI7,
pelo Sisterna cle Meta Informação (SMÐ-
responsável pela produção cle conceitos, classifica-ções e variáveis com aplicação noâmbito
clo Sistelna Estatístico Nacional-
no conjunto cle cotlceitos relativos às tlajetórias clos estudantes no ensino superior.. Se a noção cle Du-rnçã.o normol deum
cllrso se mantém noSMI,
a verdacle é que este tambérn reco¡hece moclalidaclesplurais
de frecluênciâ, para além do modelo paclrão (a tempointeiro
e em regirne presencial) associado a essa duraçãonormal.
Os conceitos em vigor de regime de tempo parcialdo
aluno do ensino supelior e de trnnsfer êncio de curso sugereln clinâmi-cas e temPolalidades cliversificaclas coexistentes neste nível cle ensino e que, clissociaclas cla carga negativa da retenção, apresentaln-se todas elas passíveis cle desembocar rìa con-clusõo com êxito dos estttclos. Pol slra vez, o conceito de obandono
escolan é,e¡r
bo¡r
ri
gor, exclttsivamente aplicável à escolariclacle obrigatória; o ensino superior, clc frequôncia pós-obrigatória, clever'á apenas contemplar a desistência entendida como "situøçõo qt,e ocorre ent consequéncia
do
Qbandono tentporario de alwtoou
forntondosda fi-eçtêncio
162clas atividades letivos de um curso, de umperíodo de formoçõ.o ou de umø or¿ mois disci-ulirras no decurso de ttnl r¡no letívo"6'
'
T^i,
dinâmicas, maisplulais
e complexas, são agola igualmente conternplaclas uas esratísticas oficiais.A
Direcção-Geral cle Estatísticas da Educação e Ciência, órgão res-ponsável pela prodr.rção das Estatísticas cla Edr.rcação, adotott recentenlelìte o métoclo da¡tte
cohort, ou seja, o seguilnentoinclividual
clo percttlso clos estuclantes através do Re-gisto de alnnos inscritos e cliplomaclos clo ensino snperior (RAIDES). Esta rnuclança cleparadigma
no modo
de apuramento clas conchtsões e clesistênciasno
ensiuo sttperiorpernritiu
ultrapassar os constrangimentos associados ao tnétoclo cla cro.ss cohort, qlre im-pediam a contabilização das sitttações cle transferência de curso (Banha,2017).
Os claclos rnais recentes, captados a
partir
cleste métoclo de captaçãolongituclinal
clos percursos da população
estudantil
nacionâÌ, revela justamentetlma
paisageur cou-trastante. Seguindo indiviclualmente os alunos qrle,mnìì
dado ano letivo (201,1,112), sei¡screveram
no
1.o ano, pela 1.4 vez, enÌ cttrsos cle licenciatura com chtlação teórica cle três anos, constata-se,quatro
anos depois (201-4115), que estes se clistribuemporuma
diversiclacle cle situações: cliplornaclo rlo ctlrso cl1-r qtle se havia
insclito
inicialmente; não cl\rlomaclo, masinscrito
no lìresrììo cnrso; não diplomado ueur iuscrito no ctlrsoinicial,
rlas
inscrito noutro cnlso
sr.rperior' (situação cle transferência cle curso); não cliplomaclo r1o cllrsoinicial
neminscrito
no ensino superior portugttês (configttrancloulìÌa
sitnação cle clesistência, pelo menos cle urna instituição cle eusiuo portuguesa) (Engr'ácia e Baptis-ta,2018).
Passíveis doravante cle ser rnais rigorosamente contabilizadas, estas situações desvendatntuìÌ
retrato, a nível naciottal, queirnporta
clestacar.Por
nm
laclo, observa-serllna
taxa cle cliplomação no terììpo previsto ainda relativa-rnente baixa. Embora a percelìtagem dosjá
cliplomados no período em análise-
46%-
seja consicleravelmente supelior à verificada na clécacla de1960,
a verclacle é que ela continuaaqllélìr
clo clne seria clesejável, na óptica cla gestãopolítica
cla eficiência deste nível cle ensino. Assinale-se qrle as transferências de cttrso sãouma
situação pouco fi'e-quente (1,2,3Tò,protagonizacla sobretuclo no ensiuo universitár'io (15,5yò.Por
ontro
laclo,a
situação cle desistênciaatinge
proporções elevaclas-
abar-cauclo clnâse urìr terço dos estnclantes (31,3yò, comparticular
incidênciajunto
dos alttnos clo ensino snperior politécnico.Mais
clo qlte o subsisterna de ensino superior freclttentaclo é, no erìtanto, a qualiclade acaclérnica clo alttno meclicla atrâvés cla nota de ingresso, que cletermina substantivarnente otipo
de perculso no ensino sltperior: os daclos relativos ao ensino superior pírblico clemonstram qlle, quatro anos clepois da entrada uo sttperior, apercentâgem de alunos clesistentes varia ern função cla uota cle eutracla: a clesistôncia é
tanto maior quanto rrrelìot foi a nota cle ingresso (Engrácia e Baptista, 2O1B).
Certamente clue o retrâto ora traçaclo terá irnplicações
distintas
Para caclalttn
clos participantes-
poclerpolítico, institnições
cle ensino superior, docentes e esttlclantes' Neste texto celÌtrarnos-elttos apellas na perspectiva dos estttdautes, ltas suas trajetórias e os senticlos clue elas poderãotralÌsportar,
questiorÌanclo a uoçãoinstitucional
de(irì
sucesso e os clesafios qtte ele coloca,////
6eVerhttps://bit.ly/2HAKlonPara além dos
números: trajetórias
esubiectividades
O sucesso no ensino superior', entendido como êxito académico, corrreça a fabricar-se
muito
antes do ingresso.Sabe-se
colno o
tipo
de cttrso frequentado alìlorìtante
-
ensino secundário cie.-tífico-httmanístico ou ensino secundário profissional-
transportaconsþ
perspectivasdistintas
de prosseguimerÌto dos estudos: os dados demonstram que oprimeiro
é fre-quentadopor
alunos que esmagadoramente (cerca de 807o) acedern ao ensino sllperior no ano lectivo seguinte à conclusão do secundário; ao passo que o segundo abrange alu-rÌos quemaioritariamente
(847o) não se inscrevem em instituições de ensino superior no ano subsequente à conclusão do secundário (Domingos e Baprista,2018
pp.
1-2). Tais percursos não estão, aliás, dissociados dos diferentes recrlrsos econórnicos e culturais de que cadaurn
dispõe (Vieira,2017).
Foi
também
atrás sublinhado o forte impacto que a classificação obtida pelo aluno no ensino secundário, e conì a qual se candidata no concurso nacional de acesso, tenì no seu Percllrsoulterior:
de ttma forma geral, quanto rnais elevada é a nota de candidatura, mais alargada é a possibilidade de escolha (de curso, deinstituição
de ensino), maisdi-minui
a probabilidade de desistência e mais favorece a rápida conclusão do curso. Contudo, o que escolarmente ésinónimo
de inquestionável qualidade académica-uma nota de ingresso igual ou sttperior a 14 valores, patarnar
mínimo
das classificações qualitativas de bom, muíto bomou
excelente-
pode não corresponder a sucesso, dopon-to
de vista do aluno.Com
efeito, a consagração do mecanismo de numerus clousus no acesso ao ensino superior em Portugal (Rodrigues eHeitor, 2015)
eos constranginentos que ele irnpõe-
a combinação doum
núrmero de vagas disponibilizadas comum
valormínimo
de nota de candidatura, variável anualmente e,por
isso, bastante imprevisível quanto ao seu desfecho-
tem provocado situações de exclusão, ou seja, de insucesso na entrada no curso ouinstituição
de ensino superior de preferênciajunto
de alunos com elevadoêxito
académico.Um
exemplo destes desencontros éjustamente
apresentadonum
estudo recente sobre os caloiros da Universidade da Madeira (Vieira e Nascimento,2018). Definição institttcional
e experiência subjectiva de sucesso no acesso ao ensino superior podem, pois, não ser necessariamente coincidentes.Uma vez entrado no ensino
superio¡
tmta-se agora de ultrapassar os desafios que ele coloca. Como aliteratura
nacional einternacional indica,
oprimeiro
anoconstitui,
de facto,utn
período crucial de adaptação e de integração-
aum
espaço significativamente maior e a Llrrra organização rnais complexa do que as instituições de ensino previamen-te frequentadas; a outros métodos pedagógicos e auma
rnaior autonomia no estudo; aritmos
mais intensos e Llrrra calendarização académica rnais condensada; a novos cole-gas e, no caso dos estudantes deslocados, aunì
novo contexto local, a uma liberdade de movimentos sttbstantivamente arnpliada e a Llmaexþnte
organizaçãodo quotidiano
por força da autonomização residencial. As mudanças são sentidas corno esnÌagadoras e rnuitos esttldantes senten-se perdidos perante estímulos tão diversos. Por esse motivo, alguns autoressublinharn
aimportância
de se ser bem-sucedido na integraçãoformal
(propriamente académica) einformal
(relacional) como condição para o não abandono do ensino superior (Ferreira e Fernandes, 2O1S).rt
y^
Não obstante, ontros fatores são
igualmente
decisivos nesteprimeiro
contacto com o superior. Paraalguns
estudantes, afrequência
deum
ensino que envolve ctlstos fi-nanceiros signifìcativamente mais elevados do que a escolaridade obrigatóriaconstittli
u111 teste
-
fatal,
emalguns
casos-
ao orçarnentofamiliar
disponível. Confrontados sem despesas não comportáveis(propinas, livros e rnateriais
de estudo, transportes, alirnentação, alojamento e despesas pessoais,tlo
caso de frequência deinstituição
de ensinosuperior fora
do
local
de residência) eirnpedidos
de aceder a bolsas e outros apoios pírblicos à educação,por
constrangimentos legais ottpor
motivos de quebra do valor dos apoios concedidos-
como ocorreu recentemente na sequência das medidas de austeridade impostas pelas repercussões que a crise económica efinanceira
tevelìo
país(Ribeiro
eVieira, 2016)
-
alguns estudantes que acederam, com êxito, ao ensino superior, vêem-se na contingência de insuceder no desígnio de o frequentar, acabando por ter de desistir dos estudos.Dificuldades de conciliação da vida acadérnica com outras esferas da vida
(familiar,
profissional ou olrtras) podern também estar na base da desistência ou conclusãotardia
dos estttdos(Almeida,
2013;
Costa, Lopes e Caetano,2014;
Alves et o1.,2011). Com efeito, a irnpossibilidade de cornpatibilizar os vários cotnpromissos assumidos pode ori-ginar a necessidade de se rever o ternpo dedicado aos estudos e se optâr por frequentar, passo a passo, as disciplinas possíveis para as poder realizar com êxito. C) atrasoinstittr
cional na conclusão do curso pode não
significar
insucesso, paraquen
o protagonizou; pelo contrário, podetraduzir
o inegável êxito na capacidade deequilibrar
vários projetos ou comptomissosindividuais,
sem tertido
de abdicar de qualquerum.
A
entrada no ensino superior representa ainda o momento etn que as expectativas há maisoll
ûrerlostenpo
acalentadas se confrontarnfinalmente
corn a realidade.A
ex-periência subjectiva da frequência deum
dado curso ou institttição de ensino pode des-vanecer a irnagem positiva que sobre elesinicialmente
se construiu eoriginar
desilusão ou desmotivação. A ética da realização de si, acoplada ao desígnio de se serfiel
a si pró-prio-
valornormativanente
perseguido noimaginário
social da modernidade ocidental (Taylor,2OlO)
-
podedeterminar
a revisão dos planosiniciais
e suscitar a exploração activa deuna
alternativa mais ajustada aos gostos e anseiosindividuais. A
transferên-cia de curso pode ser a solução, mesmo que acarretando o alongamento da duração dos estudos, repr€sentando esta reviravoltainstitncional
protagonizada peloaluno
a busca bem-sucedida parâ encontrar o seu lugar no ensino superior.Concluir
com êxitoum
dado curso implica, para o estudante, investir no seu desem-penho.Produzir
srlcesso envolve, frequentemente, a ambição de potenciar, ao máximo,a sua capacidade intelectual e de aprendizagem. Ora, sabe-se colno a performance como ideologia ou o culto da performance parecenì
constituir
traços câracterísticos da moder-nidade (Pegado, 2O76,p.32).
Neste caso, e considerando especificamente a população juvenil, os vários estudos sobre culturas juvenis contemporâneas evidencianì a consagra-ção do presentismo e da ética da experimerfação corno valores dominantes nesta fase da vida, o que não deixa de ter impacto naforma
como os jovens estudantes gerem o seLl desempenho.A
aposta no presente âponta parao
desejo de obter resultados rápidos e irnediatos, o que pode conduzir aos charnados consumos de performance (Pegado,2016,
p. 33) para ter sucesso académico.Urn cstuclo recente inciclinclo soble nura alÌrostra cle âmbito nacior.ral clc jovens - ss-tr-rclatrtes clo Ensino Sr.rpelior olt não, clos
18
aos29
attos - clemonstrava jtrstanrerìte clrìc 65,8% clos joveus inc¡tiriclos játinham
alguma vez usaclo nrn fármaco ou pl'ochltor1atrl-lal
para a gestão clo clese mpenho físico ou intelectual (Pegaclo,2016,
p. 40). A pescluisa eviclenciava aincla afortc
naturalização/legitimação clo corÌsrlnlo cle certas substâncias, clcscle que associaclas poutualmentc a fturçõcs ticlas como justificáveis, como é a situação colocacla rìo cltlestionário "em épocas cle fi'equêncícrs e erc¿rnes,iustrf
ccr-se o corlsumo cle nrerliccnrerrtos ot¿ ot¿tros proclutospora
melhorar o concentrd çã.o ouc
menrória", aceitepor
66,7% clos incluiriclos (Pegaclo, 201,6, ¡>.36). Esta refer'ência a consumos pote¡cia-clorcs clo cleseurpenho e beur-estar erìcontra-setambém llunìa
pesqnisa inciclinclo es¡re-cificarrrente sobrc os estuclantes cla Univcrsiclacle cle Lisboa (Silva et o1.,2015), que corì-fir'ma a tenclência internacional cle que é entre os estuclantes clo cnsino superiol clue seelìcontra o
maiol
núrmelo cle consumicloles cle l.neclicamentos não plescritos (Silva et.ol., 2015,p.
12s).Estcs claclos não cleixal.n também cle questionar os basticlores clo sucesso acaclémico e as eventuais cousccluências cle
rula
conclcnsação acrescicla closritmos
e tempos(se-urestlais,
triurestrais ou
moclulares) clasclisc\rlinas
incluziclas pclas transformaçõcs¡a
estrututa cle funcionamcnto clo EnsinoSlqteriol
sobrc os estuclantes.Em síntcse
Este lrreve ensaio plctcnclett mostral
ullìa
outra faccta clo fènómeno clo (in)sucesso eclesistência no Ensino Snpelior': a pelspetiva clos cstuclantes.
Etnbora nos
ítltiuros
alros se tenha assisticlo anm
leconhecimento(institucional
c estatístico) cla aìrrangência clestes conceitos, alarganclo-se o lec¡re potcncial cìe conclições etììqtle
se l.natcrializaur, a velclacle é clue a análise clo ponto clc vista clo estlrclantepel-mite
clesvcuclâr lrovas climensões-
subjectivas e experienciais-
c¡-re lhes aportam novos significaclos, pluralizanclo assiur os tnoclos clefabricar
e elìtenclelo
srlcessono
cnsino supelior.O clesafio colocaclo às instituições clc ensino superior é, justarneute, apleencler estas situações plurais, para pocler ofercccr respostas mais acleclnaclas.