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Posição na ocupação e rendimento da população ocupada em atividades não agrícolas no Brasil: 1981-2001

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Academic year: 2021

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Posição na ocupação e rendimento da população ocupada em

atividades não agrícolas no Brasil: 1981-2001

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Paulo Baltar ♣♣

Palavras-Chave: Ocupação; Rendimento; Posição na Ocupação.

Resumo

O desempenho da economia brasileira, desde 1980, tem sido desfavorável à geração de oportunidades para ocupar e proporcionar renda à população ativa residente no país. De um lado, o Produto Interno Bruto aumentou em ritmo próximo do crescimento da população, de modo que pouco aumentou o produto por habitante e, de outro, ampliou-se a fração desempregada da população ativa e modificou-se a composição das ocupações na direção de precarização. O artigo examina as mudanças na distribuição de renda dos ocupados com rendimento positivo em atividades não agrícolas do conjunto do país. A análise contempla as posições na ocupação (empregados de estabelecimento, trabalhador por conta própria, empregador e serviço doméstico remunerado), destacando os efeitos sobre a distribuição de renda do trabalho das mudanças na estrutura da ocupação não agrícola por posição na ocupação e dos diferentes comportamentos dos rendimentos do trabalho em cada uma das posições na ocupação. A fonte de dados é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para os anos 1981 e 2001.

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Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú - MG - Brasil, 20-24 de setembro de 2004.

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Posição na ocupaç ão e rendimento da população ocupada em

atividades não agrícolas no Brasil: 1981-2001*

Paulo Baltar♣♣

Introdução

O desempenho da economia brasileira desde 1980 tem sido desfavorável à geração de oportunidades para ocupar e proporcionar renda para a população ativa residente no país (Belluzzo e Almeida, 2002; Carneiro, 2002; Baltar, 2003). Uma das principais manifestações deste fato expressa-se no Produto Interno Bruto por habitante que atualmente é só um pouco maior do que o verificado em 1980. É de enorme gravidade, para um país subdesenvolvido como o Brasil, apresentar praticamente o mesmo produto por habitante, depois de um período de 24 anos. O produto da economia brasileira não deixou de aumentar, embora com fortes oscilações e momentos de diminuição em termos absolutos mas, no conjunto do período, o ritmo médio de crescimento do produto pouco superou o da ampliação da população.

As implicações deste mal desempenho da economia brasileira sobre a absorção da população ativa aparecem nos indicadores que sinalizam o estado do mercado de trabalho assalariado. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostra que aumentou expressivamente o desemprego, medido pela relação entre o número de desempregados e a população ativa, ao mesmo tempo em que diminuiu, substancialmente, a proporção dos ocupados entre os homens com 15 a 20 anos de idade, acusando a má performance do mercado de trabalho. Não obstante, foi expressivo o aumento da ocupação em atividades não agrícolas. Assim, comparando os anos 1981 e 2001, o número de pessoas ocupadas, com rendimento positivo, em atividades não agrícolas aumentou de 31,4 para 56,8 milhões, 81,1%, eqüivalendo a um crescimento médio anual no elevado ritmo de 3,0%, frente a um crescimento do PIB de cerca de 2% ao ano. Na verdade, durante o período examinado, a PEA continuou aumentando em ritmo significativo, apesar da redução na taxa de participação na atividade econômica da população juvenil, devido a continuidade do aumento da participação feminina (Leone, 2000; Wajnman e Rios Netto, 2000) e o intenso aumento da ocupação em atividades não agrícolas foi acompanhado de diminuição da ocupação na atividade agrícola. O ritmo médio de crescimento da ocupação total, que foi menor do que o da população ativa, resultou semelhante ao da ampliação do Produto Interno Bruto. Em todo caso, foi expressivo o aumento do número de pessoas ocupadas em atividades não agrícolas, contrastando com o mau desempenho da economia, principalmente no que diz respeito à produção de bens em atividades não agrícolas.

Antes de mais nada, a elevada intensidade do aumento da ocupação de pessoas em atividades não agrícolas reflete principalmente a proliferação de pequenos empreendimentos urbanos, alguns deles com alguns poucos empregados, a maioria sem carteira de trabalho, bem como o aumento do trabalho por conta própria e do serviço doméstico remunerado que acompanharam o mau desempenho do mercado de trabalho propriamente dito, expressado pelo número de empregados de estabelecimento dedicado à atividade não agrícola com um mínimo de estruturação (Cacciamali, 2000). Em todo caso, o aumento dos empregados em todo tipo de estabelecimentos de atividades não agrícolas foi expressivo, no conjunto do

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período 1981-2001, ao passar de 21,2 para 36,6 milhões, num ritmo médio anual de 2,6%. O rendimento médio desses empregados de estabelecimento, no entanto, foi em 2001, 14,5% menor do que o verificado em 1981, de modo que a massa total de salários dos empregados de estabelecimentos de todo tipo aumentou 42%, nos 20 anos, eqüivalendo a um ritmo médio anual de 1,8%, número não desprezível mas compatível com o parco aumento do produto por habitante. Os números são mais expressivos em outras posições na ocupação (empregadores, trabalhadores por conta própria e do serviço doméstico remunerado). O total de pessoas envolvidas nessas outras posições na ocupação mais do que dobrou entre 1981 e 2001, passando de 9,7 para 20,8 milhões e o rendimento médio no final do período foi 3,2% maior do que o verificado no início, fazendo a participação dos salários dos empregados de estabelecimento no rendimento total do trabalho em atividades não agrícolas, diminuir de 72,4% para 62,7%.

Os dados anteriores sobre ocupação e rendimento do trabalho, extraídos da PNAD, contrastam com a evolução do produto, segundo as Contas Nacionais, sugerindo que muito embora o desempenho da produção agrícola tenha sido mais substancial que o da produção industrial, deve ter aumentado, desde 1980, a apropriação urbana do rendimento total da atividade econômica, como indica a queda da ocupação agrícola e o forte aumento da ocupação e da massa total de rendimentos do trabalho em atividades não agrícolas. Efetivamente, segundo os dados da PNAD, a massa total dos rendimentos do trabalho em atividades não agrícolas aumentou 63,7% ou 2,5% ao ano, com um aumento de ocupação total no ritmo de 3,0% ao ano e uma queda de rendimento médio, no conjunto do período de 9,6%. O aumento da massa total de rendimentos do trabalho em atividades não agrícolas aconteceu num ritmo médio ligeiramente maior do que o do Produto Interno Bruto.

As medições convencionais do grau geral de desigualdade das rendas indicam que continua muito elevado e estudos específicos das diferenças de rendimento por tipo de ocupação, posição na ocupação, setor de atividade e região mostram que não diminuiu com a baixa atividade da economia mesmo quando diminuiu a inflação (Dedecca, 2003). O propósito deste artigo é examinar como se modificou, no conjunto do período, a distribuição dos ocupados por faixa de rendimento, distinguindo as diferentes posições na ocupação e contrastando as mudanças na distribuição dos salários dos empregados de estabelecimento com as dos rendimentos dos empregadores, trabalhadores por conta própria e do serviço doméstico remunerado. O crescimento menor do número de empregados de estabelecimento (2,6% ao ano contra 5,0% dos empregadores, 3,9% do serviço doméstico remunerado e 3,7% do trabalho por conta própria) foi acompanhado de maior queda do salário médio (14,5% contra 7,9% do rendimento médio dos empregadores, 3,1% do rendimento médio dos trabalhadores por conta própria e aumento de 31,5% no rendimento médio do serviço doméstico remunerado). Esse desempenho diferenciado da ocupação e do rendimento modificou significativamente o perfil por posição na ocupação das pessoas localizadas em cada uma das faixas de rendimento, especialmente nos extremos inferior e superior da distribuição.

1. Distribuição das pessoas ocupadas por faixas de rendimento segundo a

posição na ocupação

Uma proxy do desempenho do mercado de trabalho assalariado urbano é proporcionada pelo comportamento do número e da remuneração dos empregados em estabelecimentos de atividades não agrícolas. A massa total de salários desses empregados, como mencionado, diminuiu como fração do rendimento total do trabalho de pessoas em todas as posições na ocupação, tendo passado de 72,4%, em 1981, para 62,7%, em 2001,

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tanto porque o emprego cresceu menos como por causa do salário médio ter diminuído mais do que, respectivamente, a ocupação e o rendimento médio das outras posições na ocupação. Não obstante, o aumento do emprego em estabelecimento foi expressivo tendo sido acompanhado de mudanças significativas na distribuição desses empregados por faixa de salário, destacando-se a diminuição da proporção dos empregados de estabelecimento que ganham mais do que 2400 reais mensais que passou de 6,1% para 3,8%, entre 1981 e 2001 (Tabela 1). O número de empregados de estabelecimento nessa faixa de remuneração relativamente elevada é praticamente o mesmo nos dois anos mencionados, cerca de um milhão e trezentos e cinqüenta mil empregados. Ou seja, todo o significativo acréscimo do emprego em estabelecimento, verificado entre 1981 e 2001, correspondeu a remunerações menores do que 2400 reais mensais. Foi um acréscimo de 14 milhões e 350 mil empregados de estabelecimento e 80,8% correspondeu a remunerações entre 150 e 600 mil reais mensais. Os empregados com remuneração nesta faixa duplicou e como proporção do total que já era de 49,8% em 1981, aumentou para 62,1% em 2001. Já o número de empregados ganhando de 600 a 1200 reais aumentou 30,8%, algo menos que a elevação proporcional do número total de empregados.

Vale dizer, que a expressiva ampliação do emprego em estabelecimento aumentou a concentração desses empregados numa faixa de remuneração relativamente baixa, comparado com o salário mínimo legal, cujo poder de compra em 2001 é muito menor do que o vigente em 1981. No momento da Pesquisa de 2001, o salário mínimo legal teve um valor que eqüivaleu a 2/3 do vigente no momento da Pesquisa de 1981. Têm remuneração menor que o salário mínimo de cada momento 20,7% dos empregados de estabelecimento em 1981 (o maior salário mínimo do país sendo esse valor menor nas outras regiões) e 11,0% em 2001 (quando o valor do salário mínimo é o mesmo em todas as regiões). Ganham entre 1 e 2 salários mínimos 30% dos empregados em 1981 e 27,9% em 2001. O valor 600 reais significa 2,2 salários mínimos em 1981 e 3,3 salários mínimos em 2001. A proporção de empregados de estabelecimento ganhando menos que 600 reais passou de 57,5% em 1981

Faixas de rendimento ( 1 ) 1981 2001 1981 2001 1981 2001 1981 2001 1981 2001 0 - 150 7,7 5,4 19,6 19,8 0,1 0,9 51,1 33,0 13,4 11,2 150 - 300 16,4 25,5 15,8 22,9 0,7 3,8 35,2 46,9 17,5 26,1 300 - 600 33,4 36,6 25,2 28,8 6,5 16,0 12,6 17,9 29,2 32,0 600 - 1200 24,8 20,2 24,4 17,4 24,4 27,8 1,1 2,1 22,7 18,1 1.200 - 2.400 11,6 8,5 10,7 7,7 33,9 26,8 0,0 0,1 11,1 8,3 2.400 - 4.800 4,5 2,8 3,6 2,5 24,1 15,8 - - 4,5 3,0 4.800 e mais 1,6 1,0 0,7 0,9 10,3 8,9 - - 1,6 1,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNAD - IBGE.

Distribuição das pessoas ocupadas por faixas de rendimentos segundo a posição na ocupação. Brasil 1981 e 2001.

Tabela 1

Conta

Total Empregado

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Reais com poder de compra de Janeiro de 2003. Deflator utilizado INPC corrigido em Julho de 1994 pelo IESP.

Empregador Doméstico

Própria

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para 67,5% Esta concentração de empregados numa faixa de baixo nível de remuneração reflete simultaneamente, de um lado, uma queda do patamar dos salários (devido a aumentos de preços maiores do que o nível nominal dos salários, para o qual contribuiu uma sucessão de reajustamentos nominais de salário menor do que a inflação medida pelo índice de custo de vida e o próprio declínio do valor do salário mínimo legal que, entretanto, já era pequeno em 1981 e diminuiu mais ainda posteriormente) e, de outro lado, mudanças na estrutura do emprego, com a eliminação de postos de trabalho relativamente bem remunerados e a criação de postos de trabalho mal remunerados. Em conseqüência, os empregados ganhando mais do que o baixo salário mínimo aumentou, ao sofrer uma redução de poder de compra menor do que a verificada com o salário mínimo mas a concentração desses trabalhadores com baixa remuneração também ampliou-se, devido principalmente à eliminação de empregos relativamente bem remunerados e a criação de empregos mal remunerados, como indica a constância do número de empregados ganhando mais que 2400 reais e o forte aumento dos que ganham entre 150 e 600 reais.

O crescimento do emprego e a evolução do poder de compra dos salários tiveram três momentos diferentes depois de 1980. Quanto aos preços e o poder de compra dos salários, na década de 80 a desvalorização da moeda nacional que contribuiu para induzir um superávit de comercio exterior que proporcionou as divisas necessárias para pagar uma parte do juros da dívida externa, diante do colapso do crédito internacional para os países subdesenvolvidos endividados, foi o pivô de um rebaixamento do poder de compra dos salários não somente por causa da elevação que provocou no custo geral do sistema de produção mas também através de aumentos nas margens de lucro nas vendas locais, principalmente dos produtos passíveis de importação e exportação. Não obstante, a resistência dos trabalhadores à queda no poder de compra dos salários, ampliada com a reativação do movimento sindical facilitada pela democratização do país, ajudou a manter a indexação dos salários aos preços, impedindo que fosse maior a diminuição do poder de compra dos salários, contribuindo junto com outros acontecimentos como o aumento da dívida pública e a elevação do nível das taxas de juros para fazer com que a desvalorização da moeda envolvesse uma elevada inflação. Já nos anos 90, o fim do colapso do crédito internacional para os países subdesenvolvidos endividados ajudou a reverter a desvalorização da moeda e a baixar a inflação mas o poder de compra dos salários não aumentou porque terminou sua indexação e o mal desempenho do emprego, decorrência da reestruturação da economia com pouca atividade e sem o apoio de uma intervenção pública mais forte em favor do desenvolvimento da produção local, debilitou o poder de barganha dos trabalhadores, em condições de intensificação da concorrência entre as empresas e descaso do poder público para com o bem estar dos trabalhadores. Alem disso, a privatização dos serviços de utilidade pública provocou aumento de preço relativo desses serviços, compensando estatisticamente a diminuição do preço relativo dos produtos passíveis de importação e/ou exportação. Finalmente, no terceiro momento, depois da desvalorização do Real em 1999, acentuou-se o aumento de preço relativo dos serviços de utilidade pública que com a privatização foram indexados ao dólar devido à participação do capital estrangeiro, e voltou a aumentar o preço relativo dos produtos passíveis de importação e exportação, provocando expressiva queda no poder de compra dos salários, talvez superior à verificada nos anos 80, apesar da baixa inflação, devido à deficiência da indexação dos salários, associado ao descaso do governo e à debilidade dos sindicatos com a dificuldade de retomada do crescimento do produto e a manutenção ou mesmo aumento do desemprego.

Quanto ao emprego, cresceu na década de 80 apesar do mal desempenho do produto, por causa do aumento do emprego público, especialmente nos estados e municípios em educação, saúde e outras atividades sociais. Não obstante, o crescimento da PEA urbana foi muito intenso e diminuiu o peso na ocupação total, do emprego assalariado em estabelecimentos minimamente estruturados, elevando-se a participação do emprego em

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pequenos estabelecimento pouco estruturados que contratam empregados sem carteira de trabalho, principalmente em atividades do comércio e da prestação de serviços. Em todo caso, o desemprego não aumentou como proporção da população ativa, salvo em momentos de queda da produção, retornando ao nível prévio com a retomada da produção. Já nos anos 90, diminuiu o ritmo de crescimento do emprego público e a restruturação da economia provocou forte eliminação de empregos em estabelecimentos estruturados. O crescimento da ocupação urbana total tornou-se mais lento e a taxa de desemprego aumentou mesmo sem queda na produção. A situação modificou-se com a desvalorização do Real, em 1999, mas as dificuldades de retomada do crescimento do produto prejudicou uma maior geração de empregos, mantendo-se elevada a taxa de desemprego. No conjunto do período examinado, o emprego nas grandes empresas diminuiu e nas empresas pequenas aumentou. Essa mudança na estrutura do emprego favoreceu a proliferação de trabalhos por conta própria e de emprego sem carteira de trabalho, contribuindo para uma maior concentração de empregos nas faixas de baixa remuneração.

A concentração na faixa de 150 a 600 reais (0,56 a 2,2 salários mínimos de 1981 e 0,82 a 3,3 salários mínimos de 2001), entretanto, também se verificou com o trabalho por conta própria. Nesta posição na ocupação, a proporção dos localizados na faixa de baixa remuneração aumentou de 41,0% para 51,7%, no período examinado. No caso dos trabalhadores por conta própria, porém, é maior e permanece muito alta a proporção dos que ganham menos de 150 reais (no entorno de 20%) e aumentou bastante expressivamente (ao contrario do verificado com os empregados de estabelecimentos) o número dos que ganham mais de 2400 reais (61,1% ou 2,4% ao ano) que passou de 263 mil para 423 mil, entre 1981 e 2001. Foi também relativamente intenso o aumento do número de trabalhadores por conta própria ganhando entre 600 e 2400 reais que passou de 2,1 para 3,1 milhões, num aumento de 47,2% ou 2,0% ao ano. Esses aumentos no número de trabalhadores por conta própria com remuneração relativamente alta, entretanto, não se comparam com a intensidade do aumento do número de trabalhadores por conta própria com remuneração relativamente baixa, ganhando menos que 600 reais (2,2 salários mínimos de 1981 ou 3,3 salários mínimos de 2001) que multiplicou por 2,4 (4,5% ao ano), tendo passado de 3,7 para 8,9 milhões.

A comparação dos formatos e das mudanças nas distribuições de salários e rendimentos do trabalho por conta própria indicam modificações importantes, sucedidas entre 1981 e 2001, na natureza das oportunidades para obter renda mais elevada, proporcionadas pela economia brasileira. Em 1981, a proporção de trabalhadores por conta própria de baixa remuneração já era bem maior do que a dos empregados de estabelecimento. A fração dos conta próprias que ganhavam menos de 150 Reais (0,56 salário mínimo da época) era muito maior enquanto que não diferia muito entre assalariados e trabalhadores por conta própria, a parcela dos que ganhavam de 150 a 300 Reais (0,56 a 2,2 salários mínimos). Em contrapartida, eram menores as proporções de conta próprias em todas as outras faixas de rendimento, acima de 300 Reais.

As diferenças de formato das distribuições por faixa de rendimento indicam, antes de mais nada, que o nível dos salários era maior que o dos rendimentos do trabalho por conta própria. Ou seja, a posição da curva representativa da distribuição dos salários situa-se mais a direita do que a da distribuição dos rendimentos do trabalho por conta própria. Medindo essas posições pela média, observa-se que os salários parecem muito maiores que o rendimento dos trabalhadores por conta própria (849 Reais ou 3,2 salários mínimos comparado com 687 Reais ou 2,5 salários mínimos). Medindo a posição das distribuições através da mediana, a diferença não é tão grande, embora ainda seja não desprezível (533 Reais ou 2,0 salários mínimos comparado com 474 Reais ou 1,8 salário mínimo).

A maior diferença entre a média e a mediana no caso da distribuição dos salários parece traduzir uma maior assimetria da curva representativa dessa distribuição, comparado

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com a dos rendimentos dos trabalhadores por conta própria. Essa impressão é confirmada pela maior proporção de assalariados com remuneração inferior à média (67,8%) comparado com a dos trabalhadores por conta própria (64,1%). Ou seja, o nível dos salários era um pouco maior do que o dos rendimentos do trabalho por conta própria mas a diferença de médias exagera o resultado da comparação, devido à maior assimetria da distribuição de salários. Vale dizer que menores proporções no caso dos assalariados do que no dos trabalhadores por conta própria têm remunerações muito baixas mas proporções maiores de assalariados têm rendimento elevado e essas elevadas remunerações afetam o salário médio bem mais do que as dos trabalhadores por conta própria, levando a uma super estimação da diferença entre os níveis de salário e rendimento do trabalho por conta própria. O nível dos salários é algo maior mas as diferenças de salário também são maiores que as dos rendimentos dos trabalhadores por conta própria, manifestados numa assimetria maior da distribuição dos salários.

Entre 1981 e 2001, a mediana dos salários perdeu 14,2% de seu poder de compra (passou de 533 para 457 Reais). A queda do valor do salário mínimo legal foi ainda maior (32,1%) de modo que a mediana dos salários passou de 2,0 para 2,5 salários mínimos. A diminuição da mediana dos rendimentos do trabalho por conta própria foi maior (20,6%, passando de 474 para 376 Reais, 1,8 para 2,0 salários mínimos). De modo que a diminuição, em termos de poder de compra, do nível dos rendimentos do trabalho por conta própria foi maior do que o dos salários. A comparação através da média, entretanto, não sinaliza na mesma direção, pois o rendimento médio do trabalho por conta própria diminuiu somente 3,0% (passou de 687 para 666 Reais, 2,5 para 3,6 salários mínimos) enquanto a queda da média dos salários foi de 14,5% (de 849 para 725 Reais, 3,2 para 4,0 salários mínimos). Na verdade, a expressiva queda do nível dos rendimentos do trabalho por conta própria foi acompanhada de um aumento substancial na assimetria da distribuição, muito maior do que a que se verificou com a distribuição dos salários. A proporção de empregados ganhando menos que a média aumentou de 67,8% para 71,7% enquanto que a parcela dos trabalhadores por conta própria ganhando menos que a média aumentou de 64,1% para 73,4%.

O crescimento do emprego assalariado e do trabalho por conta própria com pouco aumento do Produto Interno Bruto da economia brasileira foi acompanhado de sensível rebaixamento do nível de remunerações, principalmente do trabalho por conta própria cujo número cresceu mais do que o do emprego assalariado em estabelecimento. Assim, o rendimento mediano diminuiu mais na posição na ocupação que teve maior crescimento do número de pessoas ocupadas. O parco crescimento do Produto Interno Bruto, entretanto, foi acompanhado de mudanças expressivas na estrutura da economia brasileira, ao longo dos anos 90 que estreitaram a capacidade de geração de empregos da grande empresa, provocando uma redução na proporção de salários relativamente altos. Não obstante, a geração de empregos de baixa remuneração foi tão expressiva que aumentou a assimetria da distribuição de salários, ampliando a proporção de assalariados ganhando menos que a média, apesar de ter havido uma redução no poder de compra do salário médio praticamente idêntico ao da mediana (14%). A redução do emprego nas grandes empresas expressou a combinação de três fenômenos: o aumento das importações, a elevação da produtividade do trabalho e a terceirização de atividades antes realizadas dentro da grande empresa. A terceirização de atividades significou a transferência de ocupações para empresas de tamanho menor e a criação de oportunidades para o trabalho por conta própria e algumas dessas oportunidades são relativamente bem remuneradas. Em conseqüência, simultaneamente à redução relativa de empregos assalariados bem remunerados aumentou a possibilidade de trabalhos por conta própria bem remunerados. O grosso das oportunidades de trabalho por conta própria, entretanto, foram de baixa remuneração, de modo que aumentou intensamente a assimetria da distribuição dos rendimentos do trabalho por conta própria. Assim, a mediana dos

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rendimentos dos conta próprias perdeu poder de compra em intensidade maior que a dos salários mas o rendimento médio dos conta próprias teve ligeira perda de poder de compra, não sinalizando adequadamente a queda do nível de remuneração e aumentou substancialmente a parcela dos conta próprias ganhando menos que a média de suas remunerações.

De modo que o nível dos rendimentos do trabalho por conta própria perdeu maior poder de compra que o dos salários mais ampliou-se mais a assimetria dos rendimentos do trabalho por conta própria, tornando-se maior do que a dos salários. Esses contrastes na evolução da distribuição de salários e rendimentos do trabalho por conta própria transparecem nas mudanças das proporções de pessoas com essas posições na ocupação por faixa de rendimento. Assim, ao contrario do ocorrido com os assalariados, não diminuiu a proporção de conta próprias com rendimento inferior a 150 Reais e ao mesmo tempo foi maior o aumento da proporção de trabalhadores por conta própria ganhando menos que 600 Reais (elevação de 10,6 pontos percentuais comparado com 9,0 pontos no caso dos assalariados). Em contrapartida diminuiu mais a proporção de conta próprias ganhando de 600 a 1200 Reais mas foi menor a diminuição na parcela de conta próprias ganhando mais que 2400 Reais (0,9 pontos percentuais comparado com 2,3 pontos no caso dos assalariados) e, também ao contrario do sucedido com os assalariados, não diminuiu a proporção de conta próprias ganhando mais de 4800 Reais. A grande maioria das novas oportunidades de trabalho por conta própria é muito mal remunerada, mais ainda que a dos empregos assalariados, mais uma proporção maior dessas novas oportunidades de trabalho por conta própria proporcionaram remuneração elevada, ampliando as diferenças de remuneração do trabalho por conta própria, mais do que o verificado com os salários dos empregados de estabelecimento.

O rendimento dos empregadores, por sua vez, é muito maior que os salários dos empregados de estabelecimento e que o rendimento dos trabalhadores por conta própria. Em 1981 somente 7,3% dos empregadores ganhavam menos que 600 reais (2,2 salários mínimos da época) e 34,4% tinha rendimento superior a 2400 reais (8,9 salários mínimos da época). O forte aumento do número de empregadores entre 1981 e 2001 (5,0% ao ano), num período de parco aumento do produto das atividades não agrícolas, reduziu a proporção dos empregadores que ganham mais que 1200 reais (4,5 salários mínimos de 1981 ou 6,6 salários mínimos de 2001) que passou de 68,3% para 51,5%, tendo aumentado a dos que ganham menos do que este valor que passou de menos de 1/3 para quase metade dos empregadores. Não obstante, foi muito expressivo o aumento do número de empregadores ganhando mais que 1200 reais pois este número praticamente dobrou no período examinado, passando de 663 mil para 1,3 milhão, num ritmo de 3,5% ao ano. Já os empregadores que ganham menos de 1200 reais multiplicou por 4, ao passar de 309 mil para 1,2 milhão. De modo análogo ao verificado com os trabalhadores por conta própria e com intensidade ainda maior, a proliferação de pequenos empregadores rebaixou o nível médio dos rendimentos desta posição na ocupação mas a queda do rendimento médio dos empregadores (7,9%) foi menor do que a redução observada no salário médio dos empregados de estabelecimento (14,5%), cujo número aumentou bem menos que o dos empregadores, traduzindo a significativa redução no tamanho médio dos estabelecimentos, fenômeno que já vinha acontecendo nos anos 80 com a proliferação de pequenos estabelecimentos mas que se agravou na década de 90 com a intensificação da terceirização das atividades antes realizadas dentro das grandes empresas. A mediana dos rendimentos dos empregadores diminuiu 31,4%% (de 1848 para 1267 Reais, mantendo-se em 6,9 salários mínimos), proporção bem maior que a da queda do poder de compra da média dos rendimentos desta posição na ocupação (2517 para 2317 Reais ou de 9,3 para 12,7 salários mínimos) e a proporção de empregadores ganhando menos que a média aumentou de 66,8% para 73,4%.

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A evolução do rendimento dos trabalhadores do serviço doméstico remunerado, principalmente na década de 90, foi uma exceção. O intenso aumento do número de empregados domésticos (3,7% ao ano) foi acompanhado de aumento no nível de remunerações (31,5% na média e 363% na mediana e todo ele concentrado na década de 90). A mediana aumentou de 150 para 204 Reais (0,56 para 1,1 salário mínimo) enquanto a média passou de 174 para 229 Reais (0,65 para 1,2 salário mínimo). A proporção de empregados domésticos ganhando menos que 150 reais (0,56 salário mínimo de 1981 ou 0,82 salário mínimo de 2001) diminuiu de 51,1% para 33,0%. Não obstante, o número de empregados domésticos com tão baixa remuneração aumentou 40,1% ou 1,7% ao ano, passando de 1,4 para 1,9 milhão, no período examinado. Já o número de empregados domésticos ganhando mais que 150 reais praticamente triplicou, ao passar de 1,3 para 3,9 milhões. A elevação do nível da remuneração do emprego doméstico não afetou a assimetria da distribuição dessas remunerações que continuou muito menor do que as das remunerações das outras posições na ocupação, mantendo-se em 57% a proporção dos empregados domésticos que ganham menos do que a média de suas remunerações. Em suma, continua muito grande o número de empregados domésticos com remuneração abaixo do salário mínimo mas houve uma profissionalização e monetização da remuneração dos empregados domésticos o que elevou a proporção desses trabalhadores com remuneração na faixa de 150 a 600 reais (0,56 a 2,2 salários mínimos de 1981 ou 0,82 a 3,3 salários mínimos de 2001), tal como o sucedido com os empregados de estabelecimento e os trabalhadores por conta própria, embora entre os empregados domésticos seja maior a fração dos que estão mais próximos do salário mínimo legal e muito menor a assimetria das remunerações.

O mau desempenho da economia brasileira depois de 1980 manifesto na constância do produto por habitante não somente ajudou a reduzir a proporção de jovens com ocupação na atividade econômica e a aumentar a taxa de desemprego aberto mas diminuiu a ocupação em atividades agrícolas e aumentou a ocupação mal remunerada em atividades não agrícolas. Como mostrado com os dados da PNAD, foi muito expressivo o aumento do número de pessoas ocupadas em atividades não agrícolas mas a maioria dessas oportunidades para ocupar as pessoas ativas proporcionou uma baixa remuneração apesar de ter ocorrido uma restruturação de atividades de prestação de serviços pessoais que provocou uma relativa elevação da remuneração nessas ocupações que são particularmente baixas. A proporção de pessoas ocupadas em atividades não agrícolas com remuneração entre 150 e 600 reais (0,53 e 2,2 salários mínimos de 1981 ou 0,82 e 3,3 salários mínimos de 2001) aumentou de 46.7% para 58,1%, enquanto a fração dos que ganham mais de 600 reais diminuiu de 39,9% para 30,7%,no período 1981-2001. O nível das remunerações dos ocupados não agrícolas, medido pela mediana, diminuiu 15,5% (passando de 496 para 419 reais, 1,8 para 2,3 salários mínimos) e a assimetria dessas remunerações aumentou, ampliando de 68,1% para 73,3%, a proporção de ocupados em atividades não agrícolas que ganham menos que a média dessas remunerações que, como mencionado, diminuiu 9,6% (passando de 811 para 733 reais ou de 3,0 para 4,0 salários mínimos).

2. Distribuição das pessoas ocupadas por posição na ocupação segundo

faixas de rendimento.

A composição das ocupações em atividades não agrícolas segundo posição na ocupação mudou bastante entre 1981 e 2001, tendo diminuído em 5,6 pontos percentuais o peso dos empregados em estabelecimentos. Não obstante, a proporção de empregados de

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estabelecimento na ocupação não agrícola total ainda é de 63,4% e do aumento de 25,4 milhões de pessoas ocupadas no conjunto dos 20 anos do período examinado, 56,3% (14,3 milhões) correspondeu ao aumento do emprego em estabelecimento (66,1% ou 2,6% ao ano no caso do emprego em estabelecimento contra 81,1% ou 3,0% no caso do número total de pessoas ocupadas).

A diminuição do peso do emprego em estabelecimento atingiu todas as faixas de rendimento, tendo sido particularmente grande nos dois extremos da distribuição, na faixa de menos de 150 reais e nas três de rendimentos superiores a 1200 reais (Tabela 2). Na faixa dos rendimentos muito baixos (0,56 salário mínimo de 1981 ou 0,82 salário mínimo de 2001) a redução do peso do emprego em estabelecimento foi acompanhado do aumento da participação do trabalho por conta própria que passou a ser a principal posição na ocupação na absorção de pessoas com tão baixa remuneração. Já nas faixas de rendimento superiores o declínio do peso do emprego em estabelecimento foi acompanhado do aumento da participação do trabalho por conta própria e principalmente dos empregadores mas os empregados de estabelecimento continuam sendo a maioria desses trabalhadores de elevada remuneração embora na faixa de mais de 4800 reais (17,8 salário mínimos de 1981 ou 26,2 salários mínimos de 2001) a participação dos empregados de estabelecimento tenha diminuído de 71,1% para 52,2%. O total de pessoas ocupadas com esses rendimentos tão elevados aumentou 43,9% ou 1,8% ao ano, comparando os anos extremos do período examinado mas, como mencionado, o total de empregados de estabelecimento nesta faixa de remuneração praticamente não aumentou (somente 5,6% no conjunto dos 20 anos) enquanto que os números de empregadores e de trabalhadores por conta própria aumentaram bastante, tendo multiplicado por 3,0 e por 2,5, respectivamente. Em 1981, dos 500 mil ocupados em atividades não agrícolas ganhando mais de 4800 reais mensais, 356 mil eram empregados de estabelecimento e somente 100 mil e 45 mil eram empregadores e trabalhadores por conta própria, respectivamente. Já em 2001, dos 720 mil ocupados em atividades não agrícolas ganhando mais de 4800 reais, 376 mil eram empregados de estabelecimento , 230 mil eram empregadores e 115 mil trabalhadores por conta própr ia.

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Modificações semelhantes, de menor intensidade, na composição dos ocupados em atividades não agrícolas por posição na ocupação, ocorreram também nas faixas de 2400 a 4800 reais e de 1200 a 2400 reais. Diminuiu o peso do emprego em estabelecimento e aumentou a participação dos empregadores e secundariamente dos trabalhadores por conta própria. A menor intensidade do aumento do emprego em estabelecimento e o forte aumento do número de empregadores e trabalhadores por conta própria afetou principalmente o perfil das posições na ocupação das faixas de maior remuneração. Entre os trabalhadores melhor remunerados, se em 1981 existiam mais de 2 empregados de estabelecimento por cada empregador ou trabalhador por conta própria, em 2001, a cada empregado de estabelecimento de alta remuneração corresponde um trabalhador que tem negocio por conta própria, com ou sem empregado, mostrando uma significativa alteração da posição na ocupação dos que estão entre os 1,5% mais ricos dos ocupados em atividades não agrícolas.

No outro extremo da distribuição dos rendimentos das pessoas ocupadas em atividades não agrícolas, formado pelos que ganham menos de 150 reais (0,56 salário mínimo de 1981 ou 0,82 salário mínimo de 2001), o número de trabalhadores por conta própria dobrou nos 20 anos do período examinado, ajudando a manter a elevada fração desses trabalhadores muito mal remunerados ( que passou de 13,4% para 11,2% dos ocupados em atividades não agrícolas), ampliando de 28,1% para 38,7% a participação dos trabalhadores por conta própria (que se dedicam fundamentalmente às atividades de comércio) nesta faixa de rendimento muito baixo. O número de empregados de estabelecimento com remuneração tão baixa pouco aumentou (17% nos 20 anos ou 0,8% ao ano), reduzindo sua participação de 39,4% para 30,6%. Esse pequeno crescimento do emprego em estabelecimento de baixíssima remuneração reflete uma relativa estruturação dos estabelecimentos dedicados ao comércio e à prestação de serviços, processo que foi acompanhado da elevação do rendimento nominal

Posição na Ocupação 1981 2001 1981 2001 1981 2001 1981 2001 Empregado 39,4 30,6 65,1 61,9 79,0 72,3 75,6 70,9 Conta Própria 28,1 38,7 17,5 19,1 16,6 19,7 20,7 21,0 Empregador 0,0 0,4 0,1 0,7 0,7 2,3 3,3 6,9 Serviço Doméstico 32,5 30,3 17,3 18,3 3,7 5,7 0,4 1,2 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 (continuação) Posição na Ocupação 1981 2001 1981 2001 1981 2001 1981 2001 Empregado 72,1 64,9 68,2 58,1 71,1 52,2 69,0 63,4 Conta Própria 18,5 20,3 15,3 18,1 9,0 15,9 19,3 21,9 Empregador 9,4 14,6 16,5 23,8 19,9 31,9 3,1 4,5 Serviço Doméstico 0,0 0,2 - - - - 8,6 10,2 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNAD - IBGE.

(1) Ver Tabela 1. 1.200 a 2.400 2.400 a 4.800 4.800 e mais Total Faixas de Rendimento (1) Faixas de Rendimento (1) Tabela 2

Distribuição das pessoas ocupadas por posição na ocupação, segundo faixas de rendimento. Brasil 1981 e 2001.

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dos empregados desses estabelecimentos, ocorrendo com os empregados desses pequenos estabelecimentos do comércio e prestação de serviços algo análogo ao já apontado no emprego domestico remunerado, em que a estruturação dessas ocupações resultou na elevação do rendimento monetário. No caso do serviço doméstico remunerado continuou muito intenso o aumento do emprego de baixíssima remuneração, tendo diminuído muito pouco a participação desta posição na ocupação entre as pessoas ocupadas que ganham menos de 150 reais mensais (que passou de 32,5% para 30,3%).

A relativa estruturação dos pequenos estabelecimentos do comércio e prestação de serviços, acarretando maior remuneração nominal dos empregados, fez com que fosse relativamente pequena a redução da participação dos empregados de estabelecimento no total de ocupados da faixa de 150 a 300 reais mensais que diminuiu de 65,1% para 61,9%. O número de empregados de estabelecimento nesta faixa de baixa remuneração multiplicou por 2,6, no conjunto do período examinado, contribuindo junto com o aumento dos trabalhadores por conta própria (que multiplicou por 3,0) e do emprego doméstico remunerado (que multiplicou por 2,9) para elevar a proporção das pessoas ocupadas em atividades não agrícolas que ganham de 150 a 300 reais (0,56 a 1,1 salário mínimo de 1981 ou 0,82 a 1,6 salário mínimo de 2001) que aumentou de 17,5% para 26,1%. Do aumento de 9,4 milhões de pessoas ocupadas nesta faixa de remuneração, 5,6 milhões corresponderam a empregados de estabele cimento, 1,9 milhão a trabalhadores por conta própria e 1,8 milhão a empregados domésticos remunerados.

A participação do emprego em estabelecimento na absorção do total de pessoas ocupadas em atividades não agrícolas diminuiu de 69,0% para 63,4% mas nas faixas de remuneração de 300 a 600 reais mensais e de 600 a 1200 reais mensais o peso do emprego em estabelecimento embora também tenha diminuído, continua acima de 70%. O crescimento do emprego em estabelecimento com remuneração na faixa de 300 a 600 reais foi muito intenso (3,0% ao ano) de forma que essa faixa de remuneração, em conjunto com a de 150 a 300 reais que, em 1981, abrangiam metade do emprego em estabelecimento, responderam por 80,8% do aumento total do emprego em estabelecimento (11,6 milhões no total de 14,3 milhões), elevando a participação dessas faixas de baixa remuneração (no conjunto das duas abrangendo os empregados que ganham de 0,56 a 2,2 salários mínimos de 1981 ou de 0,82 a 3,3 salários mínimos de 2001), ao passar de 49,8% para 62,1% do total do emprego em estabelecimento.

3.

Conclusão

O Produto Interno Bruto da economia brasileira aumentou muito pouco, desde 1980. A ampliação da produção de bens de uso final, principalmente os de consumo, não foi desprezível mas verificou-se um importante aumento da importação de bens de capital e de bens de uso intermediário, insumos e componentes de elevado grau de sofisticação tecnológica e valor agregado. O preço relativo dos bens de consumo diminuiu, tendo aumentado o dos serviços, especialmente os de utilidade pública, com efeitos contrapostos sobre o poder de compra e o nível de bem estar da população. Neste contexto, a geração de emprego e renda tem se mostrado insuficiente para absorver o aumento da população ativa, notando-se redução na ocupação de jovens e aumento da taxa de desemprego em todas as idades mas principalmente entre os jovens e as mulheres adultas.

A ocupação total aumentou de modo coerente com o Produto Interno Bruto. A ocupação e renda agrícola diminuíram ao mesmo tempo em que aumentaram significativamente a ocupação e renda das atividades não agrícolas. O mercado de trabalho urbano teve um fraco desempenho expresso na redução das participações do emprego em

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estabelecimento e dos salários na ocupação e na renda totais das atividades não agrícolas. Dentro do emprego em estabelecimento, diminuiu a parcela dos gerados pelas grandes empresas, com implicações no sentido de diminuir o grau de formalização das relações de trabalho, explicitado pela fração de empregos celetistas e estatutários no total do emprego em estabelecimento e de reduzir o nível dos salários.

Uma parcela da redução do emprego nas grandes empresas correspondeu a terceirização de atividades que contribuiu para aumentar as oportunidades de negócios para pequenas empresas e trabalho por conta própria. O aumento do emprego nas pequenas empresas manteve um significativo crescimento do emprego em estabelecimento mas o baixo nível de remuneração desses empregos foi parte da redução do nível dos salários. O crescimento do número de empregadores e de trabalhadores por conta própria foi acompanhado de queda do nível e aumento da assimetria das remunerações dessas duas posições na ocupação.

O intenso crescimento do emprego assalariado em atividades de comercio e prestação de serviços foi acompanhado do envelhecimento das pessoas ocupadas e de uma maior estruturação dos estabelecimentos e das ocupações, com elevação da remuneração monetária. Dentre essas ocupações de prestação de serviços que sendo muito mal remuneradas, se estruturaram na década de 90 e elevaram o salário monetário, destaca-se o serviço doméstico remunerado. A participação desses empregos na absorção de população ativa com nível de remuneração muito baixo ainda é elevada mas tem diminuído, notando-se um aumento do peso na geração dessas ocupações mal remuneradas, do trabalho por conta própria, principalmente o do comércio.

A diminuição do peso do emprego em estabelecimento na absorção da população ativa atingiu todos os níveis de rendimento mais foi particularmente intensa nas faixas de maior remuneração nas quais ampliaram-se as participações do trabalho por conta própria e principalmente dos empregadores. Este aumento da participação do trabalho por conta própria e dos empregadores nas faixas de maior nível de remuneração esta associada à crescente assimetria da distribuição dos rendimentos nessas duas posições na ocupação. O nível de rendimento dos empregadores e dos trabalhadores por conta própria, medido pela mediana, diminuiu mais do que o dos salários dos empregados de estabelecimento. Isto não se verifica com o rendimento médio porque aumentou a diferença entre média e mediana, entre os empregadores e os trabalhadores por conta própria, traduzindo a ampliação da assimetria de suas remunerações que provocou uma intensa elevação na proporção dos que ganham menos do que a média, muito maior no caso dos empregadores e dos trabalhadores por conta própria do que no dos empregados de estabelecimento.

Em conseqüência da queda generalizada do nível dos rendimentos em todas posições na ocupação, salvo o serviço doméstico remunerado, e da ampliação da assimetria de rendimentos de empregadores e trabalhadores por conta própria, a distribuição dos rendimentos dos ocupados em atividades não agrícolas mostrou redução do nível e ampliação da assimetria. Essas modificações na distribuição dos rendimentos dos ocupados em atividades não agrícolas são outras manifestações do mal desempenho da economia e do mercado de trabalho urbano, ao lado da redução na participação dos jovens na atividade econômica e do aumento das taxas de desemprego para pessoas ativas de todas as idades.

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Referências

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