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Formação de professores em educação especial na perspectiva da educação inclusiva: a deficiência visual no cerne da questão.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO CURRÍCULO, LINGUAGENS E INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS

DEYTIVAN OLIVEIRA CARDOSO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A

DEFICIÊNCIA VISUAL NO CERNE DA QUESTÃO

Salvador 2018

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DEYTIVAN OLIVEIRA CARDOSO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A

DEFICIÊNCIA VISUAL NO CERNE DA QUESTÃO

Projeto de Intervenção apresentado ao curso de Mestrado Profissional em Educação, Currículo, Linguagens e

Inovações Pedagógicas, Faculdade de Educação,

Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Silvia Maria Leite de Almeida

Salvador 2018

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SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira Cardoso, Deytivan Oliveira.

Formação de professores em educação especial na perspectiva da educação inclusiva: a deficiência visual no cerne da questão / Deytivan Oliveira Cardoso– 2018.

Orientadora: Prof. Dra. Silvia Maria Leite de Almeida.

Projeto de intervenção (Mestrado Profissional em Educação, Currículo,

Linguagens e Inovações pedagógicas) - Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, Salvador, 2018.

1. Educação especial. 2. Educação inclusiva. 3. Professores de educação

especial – Formação. 4. Professores de cegos – Formação. 5. Cegos – Educação. I. Almeida, Silvia Maria Leite de. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. Mestrado Profissional em Educação, Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas. III. Título.

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DEYTIVAN OLIVEIRA CARDOSO

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: A DEFICIÊNCIA VISUAL NO CERNE DA QUESTÃO

Projeto de Intervenção apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação Profissional: Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas, Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em 23 de fevereiro de 2018.

Prof. Dra. Silvia Maria Leite de Almeida- – Orientadora Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia

Prof. Dra Alessandra Santos de Assis– Examinadora Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia

Prof. Dr. Euler Moraes Penha– Examinador

Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia

Prof. Dra.Giovana Cristina Zen – Examinadora

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AGRADECIMENTOS

À Deus, Senhor supremo e majestoso que me permitiu chegar até aqui. Por sua grandeza e misericórdia, Ah! Se não fosse o Senhor!

À minha mãe, por ser uma guerreira incansável. Sempre me apoiando e me incentivando a ser o que sou hoje. Devo tudo isso a ela.

À meu filho Luís, pela sensibilidade e inspiração. Você foi a melhor coisa que a vida me trouxe!

À Denize Boaventura, minha co-orientadora informal e também meus olhos nesse projeto, companheira de uma longa jornada. Sem dúvida alguma, foi um percurso de muitos espinhos, mas também de muitas flores!

À minha orientadora Profa. Dra. Silvia Maria Leite de Almeida, obrigada pelo olhar apurado e pelos “pentes finos”. Certamente eles foram necessários para amadurecer melhor as ideias e superar alguns equívocos!

Aos professores e colegas do Mestrado profissional em Educação: Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas. Sou grato por compartilharem seus saberes de forma tão generosa!

À João Batista, presidente da ADEVIR, suas contribuições foram riquíssimas. Obrigado pela parceria.

Aos meus amigos e colegas mestrandos... foi uma caminhada difícil, mas valeu a pena!

Aos professores do Colégio Odete! Que suas vozes sejam sempre ouvidas, em alto e bom som!

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A formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz-se nesse esforço de inovação e de procura dos melhores percursos para a transformação da escola.

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CARDOSO, Deytivan Oliveira. Formação de professores em Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva: A Deficiência Visual no cerne da questão. Projeto de intervenção (Mestrado Profissional em Educação, Currículo, Linguagens e Inovações pedagógicas) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.

RESUMO

Este Projeto de Intervenção-PI enfoca as contribuições do estudo sobre formação continuada de professores em educação especial na perspectiva da educação inclusiva, tendo a deficiência visual no cerne da questão. Aborda a importância da preparação docente dentro da profissão-“in loco”- e suas implicações no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência visual. A investigação teve o caráter de uma abordagem qualitativa e consistiu em analisar se os docentes do Ensino Fundamental- Anos Finais da Escola Municipal Odete Nunes Dourado-EMOND, situada no município de Irecê, no estado da Bahia, estão preparados/capacitados para ensinar alunos com deficiência visual (cegos) na sala regular e de que modo uma formação docente, na área da deficiência visual contribui na promoção de uma escola mais inclusiva. Para isso, foi realizado uma pesquisa de campo, cuja estratégia metodológica consistiu num estudo de caso, no qual utilizei como instrumento: um (01) questionário semiestruturado, respondido por 09 professores do 6º ano vespertino e um(01) formulário Google Forms respondido por 18 professores da EMOND. Nesse âmbito, foi possível apreender através destes questionários impressos e eletrônicos as reais necessidades dos professores de profissão e como seus saberes ou não saberes sobre inclusão, deficiência visual, Sistema Braille, Tecnologia Assistiva-TA e outras especificidades repercutiam nas experiências escolares com alunos cegos. No tocante ao referencial teórico, esse PI tem o aporte de autores como Nóvoa (1992, 2009, 2015) ao defender uma formação dentro da profissão, na qual os professores exerçam papéis importantes na formação de seus colegas e na sua própria formação; Tardif (2014) e a questão dos saberes docentes; Miranda, Galvão Filho e colaboradores (2012) discorrendo sobre o professor e a educação inclusiva; além de outros autores que contribuíram na fundamentação dos dispositivos elementares de uma formação docente. Em relação aos fundamentos legais, o estudo se baseou em documentos e legislações, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB, Nº 9.394/96, da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), entre outros. Para composição desse Projeto de Intervenção e caracterização do lócus da pesquisa, fiz uso de levantamento bibliográfico, análise documental da Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de Irecê (2013) e do Projeto Político Pedagógico da EMOND. A pesquisa interventiva apontou a necessidade de propor um plano de formação continuada em educação especial na perspectiva da educação inclusiva, cujos pressupostos teóricos/metodológicos possibilitam aos professores refletir sobre os desafios e possibilidades frente a escolarização dos alunos com deficiência visual no Colégio Odete, Irecê/Bahia.

Palavras – chave: Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Formação de professores “in loco”. Deficiência visual.

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CARDOSO, Deytivan Oliveira. Formação de professores em Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva: A Deficiência Visual no cerne da questão. Projeto de intervenção (Mestrado Profissional em Educação, Currículo, Linguagens e Inovações pedagógicas) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.

ABSTRACT

This Intervention Project-PI focuses on the contributions of the study on continuing education of teachers in special education from the perspective of inclusive education in the area of visual impairment, addressing the importance of professional preparation "in loco" and its implications in the teaching and learning process of students with visual impairment. The research had the character of a qualitative approach and consisted in analyzing if the teachers of the Elementary School - Final Years of the Municipal School Odete Nunes Dourado-EMOND, located in the municipality of Irecê, in the state of Bahia, are prepared / trained to teach students with visual impairment (blind) in the regular classroom and how a teacher training, with visual impairment at the heart of the issue, contributes to the promotion of a more inclusive school. For that, a field research was carried out, whose methodological strategy consisted of a case study, in which I used semistructured questionnaires as instruments, which were answered by 09 teachers of the 6th grade in the afternoon, and a Google Forms form answered by 18 teachers from EMOND. In this context, it was possible to perceive through these questionnaires printed and electronic the real needs of professors of profession and as their knowledge about continued education, inclusion, visual impairment, Braille System, Assistive Technology, had repercussions in the school experiences with blind students. With regard to the theoretical reference, this PI has the support of authors such as Nóvoa (1992, 2009, 2015) in defending a formation within the profession, in which teachers play important roles in the formation of their colleagues and in their own formation; Tardif (2014) and the question of teacher knowledge, Miranda; Galvão Filho et al. (2012) discussing teacher and inclusive education; besides the discussion of the elementary devices of a teacher formation. Regarding the legal grounds, the study was based on documents and legislation, such as LDB 9394/96, the National Policy on Special Education in the Perspective of Inclusive Education (2008), among others. For the composition of this Project of Intervention and characterization of the locus of the research, I made use of a bibliographical survey, documentary analysis of the Curriculum Proposal of the Municipal Education Network of Irecê (2013) and the Political Educational Project of EMOND. The intervention research pointed out the need to propose a continuous training plan in the perspective of inclusive education, whose theoretical / methodological assumptions make it possible to reflect on the challenges and possibilities faced by students with visual impairment at Odete CollegeIrecê/Bahia.

Key words: Special Education in the perspective of Inclusive Education. Teacher training "in loco". Visual impairment.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01 Evolução da Política de Inclusão nas Classes comuns do Ensino

Regular...39

Figura 01: Integração x inclusão ...43

Gráfico 02 População residente por tipo de deficiência –Brasil-2010...59

Tabela 01 Quantitativo da população brasileira com pelo menos um tipo de deficiência severa...60

Figura 02 Materiais para escrita manual em braile: papel 40 quilos, prancheta e reglete e punção. ...74

Figura 03 Máquina de escrever em braile...74

Figura 04 Sorobã ...74

Figura 05 Território de Identidade de Irecê...79

Figura 06 Layout da 1ª Parada da Educação Especial da Rede Municipal de ensino de Irecê...82

Gráfico 03 Nível de escolaridade dos professores do Colégio Odete ...103

Gráfico 04 Percentual de interesse em construir e participar da proposta de formação de professores no Colégio Odete...104

Gráfico 05 Quantitativo de professores que acreditam na contribuição plena e parcial de uma formação de professores para a inclusão...105

Gráfico 06 Percentual entre os 18 professores que defendem a inclusão da formação continuada "in loco" na perspectiva da educação inclusiva no Projeto Político Pedagógico da escola...101

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADEVIR Associação de deficientes visuais de Irecê e região

AEE Atendimento Educacional Especializado

CENESP Centro Nacional de Educação Especial

CERMULT Centro de Referência Multidisciplinar da Educação Inclusiva de Irecê

CNE Conselho Nacional de Educação

CEB Câmara de Educação Básica

CF Constituição Federal

CONPEDE Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EMOND Escola Municipal Odete Nunes Dourado

EJA Educação de Jovens e Adultos

IBC Instituto Benjamim Constant

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICB Instituto de Cegos da Bahia

IDEB Desenvolvimento da Educação Básica

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LDB Diretrizes e Bases da Educação

MEC Ministério de Educação

NEE Necessidades Educacionais Especiais

PACTO Pacto Nacional pela Alfabetização Na Idade Certa

PI Projeto de Intervenção

PNE Plano Nacional de Educação

PNEE-EI- Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PPP Projeto Político Pedagógico

SEA Sistema de Escrita Alfabético

SEDPAC Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania

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SEM Sala de Recursos Multifuncionais

TA Tecnologia assistiva

UFBA Universidade Federal da Bahia

UCSAL Universidade Católica de Salvador

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ... 20

1.1 IMPLICAÇÕES DO PESQUISADOR ... 20

1.2 A EDUCAÇÃO ESPECIAL E A FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL ... 24

1.2.1 Breve histórico e marcos legais ... 24

1.2.2 Percursos, legislações e políticas afirmativas: Um diálogo sobre educação especial e formação de professores ... 33

1.3 A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O paradigma da inclusão x integração ... 40

1.3.1 Paradigmas integracionistas e inclusivos ... 40

1.3.2 A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e a formação continuada de professores. ... 44

2 DISPOSITIVOS DE UMA FORMAÇÃO “IN LOCO”: APONTAMENTOS E ENTRELAÇAMENTOS SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL ... 49

2.1 DISPOSITIVOS DE UMA FORMAÇÃO DOCENTE”: EXPERIÊNCIAS, PROCESSOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM, AUTOFORMAÇÃO E SUBJETIVIDADE DOS PROFESSORES DE PROFISSÃO ... 49

2.1.1 Elementos de uma formação “in loco” e as implicações dos saberes docentes . 54 2.2 A DEFICIÊNCIA VISUAL NO CERNE DA QUESTÃO ... 56

2.3 O SISTEMA BRAILLE E OS SABERES DOCENTE ... 61

2.3.1 Aprendizagem do aluno com deficiência visual na sala regular ... 63

2.3.2 Saberes pedagógicos sobre leitura e escrita braille ... 65

2.3.3 O uso de Tecnologia Assistiva -TA no processo de ensino/aprendizagem dos alunos com deficiência visual ... 72

3 COMPREENDENDO O ESPAÇO DE AÇÃO: A ESCOLA MUNICIPAL ODETE NUNES DOURADO ... 78

3.1CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO DE IDENTIDADE E DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ENSINO DE IRECÊ ... 78

3.1.1 Perfil da Rede Municipal de ensino de Irecê ... 81

3.1.2 As primeiras iniciativas de formação de professores na rede municipal de ensino de Irecê: A invisibilidade dos anos finais do Ensino Fundamental ... 82

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3.2 O ESPAÇO DE AÇÃO: A ESCOLA MUNICIPAL ODETE NUNES DOURADO

... 86

3.3 A PESQUISA DE CAMPO: DIREÇÕES METODOLÓGICAS ... 89

3.4 DESVELANDO A PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISES E APONTAMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DA INTERVENÇÃO ... 94

3.4.1 Questionário semiestruturado: o que dizem os professores? ... 95

3.4.2 O que diz o Projeto Político Pedagógico do Colégio Odete (2011) sobre formação continuada ... 99

3.4.3 O que diz o questionário (formulário) eletrônico semiestruturado via Google Forms ... 101

3.4.4 Entrevista semiestruturada e levantamento de dados ... 107

4 A INTERVENÇÃO: PLANO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA - DEFICIÊNCIA VISUAL ... 109

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 117

6 REFÊRENCIAS ... 120

(15)

INTRODUÇÃO

Este Projeto de Intervenção-PI analisa as contribuições de uma proposta de formação continuada de professores em educação especial na perspectiva da educação inclusiva,

1abordando a importância da preparação profissional “in loco” e suas implicações no processo

de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência visual no Colégio Odete, Irecê-Bahia. Nesse contexto, é fundamental entender a configuração dos novos e diferenciados cenários sociais, econômicos, políticos e culturais que remontam à paisagem da contemporaneidade2. No âmbito dessa temporalidade, é essencial na pesquisa investigativa ressignificar as formas de se pensar a educação, o processo de escolarização e consequentemente a formação de professores, cujos pressupostos éticos e legais procuram direcionar esses profissionais para atuar na diversidade existente na sala regular, através de uma abordagem inclusiva.

Diante disto, a ressignificação da escola e da formação de professores, parte da premissa da educação como um direito estabelecido em uma sociedade democrática e da necessidade de uma (re)definição de práticas pedagógicas, as quais sejam (re)pensadas com vistas à promoção da aprendizagem e da inclusão (NÓVOA, 2009). De tal modo, as transformações nos processos de aquisição do conhecimento e dos saberes necessários à prática docente, transcendem os muros da escola, imprescindindo que haja por parte dos docentes atualização, formação continuada e uma constante preparação para atender a heterogeneidade de seus alunos.

Pressupõe-se assim, refletir sobre os saberes que servem de base ao oficio do professor, do saber -fazer e da sua relação com o conhecimento científico ou experimental, com as crenças, habilidades adquiridas ao longo da profissão e também com sua própria subjetividade (TARDIF,2014). Nessa perspectiva, urge pensar meios de desenvolver uma cultura inclusiva que perpasse todas as esferas sociais e que repercuta diretamente nos saberes que alicerçam o trabalho e a formação de professores que atuam na Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva.

É nessa conjuntura que situo essa pesquisa, em torno da formação continuada de

1 Em alguns momentos me refiro apenas a “formação continuada na perspectiva inclusiva”, somente a título de

enxugamento de palavras.

2 Do mesmo tempo, da mesma época, referindo-se ao que já existiu e ao que ainda existe. Nosso tempo.

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professores, considerando as implicações dos saberes docentes, o percurso formativo, a insuficiente preparação para atuar na diversidade e os desafios encontrados na inclusão dos alunos com deficiência visual nas classes de ensino regular dos Anos Finais do Ensino Fundamental.

Nas minhas vivências enquanto professor, tenho observado que há uma evidente dificuldade, por parte dos professores dos Anos Finais em “desvelar os conhecimentos e a subjetividade do aluno, subestimando, na maioria das vezes, a sua capacidade de aprender (SILVA, 2012, p.163). Face a essas questões, a promoção da aprendizagem significativa dos alunos cegos fica comprometida, pois os professores não conseguem inseri-los qualitativamente nos contextos de produção e aquisição do conhecimento, nos processos de comunicação social envolvendo o Sistema Braille, a utilização dos recursos de Tecnologia Assistiva e demais contextos próprios a escolaridade desse aluno.

A esse respeito, Nóvoa (2009, p.16) argumenta sobre “a necessidade de construir políticas que reforcem os professores, os seus saberes e os seus campos de actuação, [...]”. Para entender esse processo, considero as contribuições das políticas afirmativas de educação inclusiva e de formação de professores já existentes essenciais. A exemplo disso, debruço-me sobre a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva- PNEE-EI, documento do Ministério da Educação - MEC, que define como estratégias para efetivar a inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais-NEE, a:

● Transversalidade da Educação Especial desde a educação infantil até a educação superior;

● Atendimento educacional especializado;

● Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;

● Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais

profissionais da educação para a inclusão escolar;

● Participação da família e da comunidade;

● Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e

● Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p.10. Grifo meu).

Todos essas estratégias são pontuais, legitimas e necessárias no desenvolvimento de uma cultura inclusiva na escola, no entanto, atenho-me apenas ao quarto tópico, no qual delimito meu objeto de estudo, que é a formação continuada de professores da sala regular (compreendidos como esses “demais profissionais da educação para a inclusão escolar”) e as implicações de uma possível capacitação/preparação docente face às especificidades encontradas no atendimento aos alunos com deficiência visual, matriculados ou que venham a se matricular nas classes de ensino regular dos Anos Finais do Ensino Fundamental, na Escola Municipal Odete Nunes Dourado, Irecê-Bahia.

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Portanto, esta discussão está fundamentada de acordo com os princípios legais estabelecidos através da PNEE-EI (2008), na qual diz que o professor para atuar na Educação Especial deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, “conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área”. Sendo assim proponho uma formação de professores na perspectiva inclusiva dentro da profissão3, caracterizada aqui

também como uma formação “in loco”. Face a esse universo, Pimentel (2012, p.141, grifo meu) discorre que “a inexistência desta formação gera o fenômeno da pseudoinclusão, ou seja, apenas da figuração do estudante com deficiência na escola regular, sem que o mesmo esteja devidamente incluído no processo de aprender”.

Considerando esses aspectos, essa escolha temática se justifica pela dificuldade de efetivação das políticas públicas educacionais, especialmente no que tange a estratégia definida pelo PNEE-EI que indica a formação atuar na educação especial “dos demais profissionais da

educação para a inclusão escolar” (Brasil,2008). Assim, através da minha experiência,

observo que essa repercussão implica diretamente nas ações pedagógicas no cotidiano escolar, pois nesse cenário, encontramos professores que lecionam para alunos com deficiência visual, não tendo nenhuma preparação/capacitação para ensiná-los, ocasionando assim a insuficiente transversalidade da Educação Especial desde a Educação Infantil até a Educação Superior, comprometendo também a continuidade da escolarização desses alunos nos níveis mais elevados do ensino.

De tal modo, cabe aos professores que atuam na educação especial na perspectiva inclusiva mediar qualitativamente o processo de ensino e aprendizagem, utilizando-se de estratégias pedagógicas que possibilitem a participação do aluno com deficiência visual em atividades de leitura e escrita através do Sistema Braille, além do uso de recursos de TA como aliados e facilitadores da inclusão escolar na sala regular.

A preocupação é que a depender da falta de preparação do professor ou mesmo da sua concepção errônea de inclusão, os alunos com deficiência visual ou com outras Necessidades Educativas Especiais- NEE podem se tornar “invisíveis” na sala de aula. Tal realidade poderá refletir diretamente na exclusão ou na aprendizagem defasada e insuficiente, resultando muitas vezes em distorção idade/série e evasão escolar. Nesse entrelaçar, o despreparo dos professores e a ausência de uma formação/capacitação para a efetivação da educação inclusiva, especificamente do atendimento nas classes comuns, é um descumprimento do que determina

3Essa expressão é usada por Nóvoa (2009, 16) para justificar “a necessidade de os professores terem um lugar

predominante na formação dos seus colegas. Não haverá nenhuma mudança significativa se a “comunidade dos formadores de professores” e a “comunidade dos professores” não se tornarem mais permeáveis e imbricadas”.

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a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB quando diz no capítulo V, artigo 59 que é preciso definir o currículo, os métodos, os recursos e uma organização específica para atender os alunos com necessidades educativas especiais, além de professores capacitados.

Nesse viés, a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, instituída pelo Decreto nº. 8752/2016, aponta para a formação do docente para atender às especificidades no exercício de suas atividades e aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica como um princípio norteador. Além do mais, nesse documento a formação é entendida também como “um componente essencial da profissionalização docente, devendo integrar-se ao cotidiano da escola e considerar os diferentes saberes e a experiência docente” (BRASIL,2016, p.2).

Tendo em vista os elementos teóricos e legais descritos acima analiso através de um estudo de caso na Escola Municipal Odete Nunes Dourado, mais conhecida como Colégio Odete, as implicações de uma proposta de formação continuada na perspectiva inclusiva, ao levantar duas questões-chave para o desenvolvimento da pesquisa: Os docentes do Odete estão preparados/capacitados para ensinar alunos com deficiência visual (cegos) na sala de aula regular? E de que modo uma formação de professores na perspectiva da educação inclusiva, tendo a deficiência visual no cerne da questão contribuiria no processo de capacitação/ preparação do professor, com vistas a tornar a sala de aula regular, bem como a própria escola num lugar mais inclusivo?

Com fins a estabelecer parâmetros para a investigação e para construção do Projeto de Intervenção- PI outros questionamentos foram levantados:

- O que sabem os professores dos Anos Finais sobre deficiência visual, inclusão, Sistema Braille e Tecnologias Assistivas- TA?

- A formação de professores na perspectiva da educação inclusiva é uma necessidade e uma prioridade que deverá ser prevista no Projeto Político Pedagógico da escola?

- Como desenvolver um trabalho formativo – colaborativo "in loco", que resultasse na elaboração de um plano de formação continuada "no chão da escola", cujos pressupostos teóricos/metodológicos possibilitassem refletir sobre a educação especial inclusiva e deficiência visual?

- Os saberes sobre Sistema Braille, Tecnologia assistiva (softwares adaptados, máquina braille, reglete; e outros temas específicos resultaria em um melhoramento de sua prática pedagógica no atendimento ao aluno com deficiência visual?

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- Quais às suas reais necessidades frente às questões envolvendo os alunos com deficiência visual e outras especificidades na sala regular?

- De que modo, uma formação continuada na perspectiva da educação inclusiva poderia acontecer no espaço escolar?

Assim, para fins dessa investigação, optei pela abordagem qualitativa, por compreender que através dela posso observar questões particulares, como a necessidade de considerar a formação continuada de professores como um elemento indispensável para uma prática pedagógica que atenda às necessidades específicas de cada aluno e que construa ao mesmo tempo, percursos significativos de aprendizagem que possibilitem ao docente a compreensão da sua realidade, como fruto dela e de seus fenômenos.

Nesse aspecto, a abordagem qualitativa se torna importante, pois ela define alguns procedimentos metodológicos das Ciências Sociais que dialogo sobre um caráter construtivo-interpretativo, dialógico e que volta sua atenção a singularidade dos acontecimentos sociais que não podem ser quantificados (LAKATOS, 2006). Em relação as fontes utilizadas, fiz uso do levantamento bibliográfico, cuja intencionalidade foi a de me familiarizar com o objeto de estudo e com a pesquisa de campo, o estudo de caso. Para Lakatos e Marconi (2017, p.32) “a pesquisa pode ser bibliográfica, de laboratório e de campo”.

No tocante a pesquisa bibliográfica, esse PI tem o aporte de autores como Nóvoa (1992, 2009, 2015), Tardif (2014) Miranda e Galvão Filho colaboradores (2012), outras leituras complementares, além de documentos e legislações oficiais. Dentre os procedimentos metodológicos da pesquisa de campo, optei pelo estudo de caso, pois segundo Merrian (1998, apud BOGDAN e BIKLEN,1994, p.89) esse método “consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico”.

Assim, o estudo de caso se deu na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Anos Finais) Odete Nunes Dourado, da rede pública de ensino de Irecê, por se tratar de uma instituição escolar que tem recebido ao longo da década 2007- 2017 cerca de 13 alunos com deficiência visual-cegueira (dados obtidos com a atual professora de Atendimento Educacional Especializado da instituição), os quais foram matriculados tanto nas salas regulares como na Sala de Recursos Multifuncional- SRM. A SRM do Odete é do tipo II, 4ou seja, ela é equipada

4 Sala de Recursos Multifuncional – Tipo I, na Educação Básica é um atendimento educacional especializado, de

natureza pedagógica que complementa a escolarização de alunos que apresentam deficiência Intelectual, deficiência física neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos funcionais específicos, matriculados na Rede Pública de Ensino.

Disponível em: http://www.educacao.pr.gov.br/arquivos/File/instrucoes/Instrucao162011.pdf. Acesso em 21/10/2017.

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com vários recursos de acessibilidade como impressora braille, globo terrestre com continentes e países em braille, calculadora sonora e outros, a escola também dispõe de uma professora braillista, possibilitando que haja um trabalho de inclusão em parceria com a sala regular. Nesse viés, esse PI compreende que a SRM não pode ser uma via de mão única, um serviço “tamanho único”, visto que é na sala regular que o aluno permanece a maior parte do tempo no seu processo de escolarização (MENDES; MALHEIRO, 2012).

Assim, a escolha do lócus da pesquisa se justificou por esta escola oferecer os Anos Finais do Ensino Fundamental, estar bem centralizada e receber alunos de aproximadamente umas sete (07) escolas do Anos Iniciais do Ensino Fundamental, localizadas nas proximidades. Neste ano, a escola recebeu 04 alunos cegos, desistiu 01 e 03 continuaram sendo que destes 02 também apresentam deficiências múltiplas. Outro fator importante na escolha dessa temática é a minha participação na Associação de Deficientes Visuais de Irecê e Região- ADEVIR, desde a sua fundação em 2000, durante esses 17 anos, encontrei na convivência da instituição alunos egressos e ingressos no Colégio Odete que compartilharam muitas vezes experiências escolares excludentes. A escola e a ADEVIR estão localizadas em bairros vizinhos.

Compreendendo essa realidade, entendo que o fato do Colégio Odete ser uma escola de grande porte, esse PI possibilita (re)pensar através da formação continuada de professores na perspectiva da educação inclusiva “in loco” meios de fomentar ações que viabilizem conforme conta no Projeto Político Pedagógico-PPP da instituição “o desenvolvimento pleno do aluno, a conscientização dos seus direitos e deveres no exercício da vida cidadã, embasada na solidariedade humana, na responsabilidade social e no respeito às diferenças”(IRECÊ, 2017, p.10).

Nesse contexto, o Colégio Odete tem um quadro de professores que não dispõem de um plano de formação continuada, apesar de ser um dos objetivos institucionais previstos em seu PPP que os auxilie no processo de atendimento às especificidades, dos alunos com deficiência visual atualmente matriculados e dos que vinherem a se matricular.

De tal modo, a proposta de intervenção no Colégio Odete em Irecê/Ba consiste na proposição de um plano de formação continuada na perspectiva da educação inclusiva, cujos pressupostos teórico/metodológicos possibilitem aos professores refletir inicialmente sobre os desafios e possibilidades frente a escolarização dos alunos com deficiência visual.

Tal proposição tem o objetivo de sensibilizar ou provocar os professores como autores de suas práticas a promoverem inovações pedagógicas envolvendo os processos de ensino e

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aprendizagem da leitura e da escrita através do Sistema Braille5, associado ao uso de recursos de tecnologia assistiva- TA nas salas regulares. Nesse âmbito, a discussão não pretende esgotar apenas nesses dois pontos, mas englobar outros aspectos referentes à inclusão da pessoa com deficiência visual, a exemplo de continuidade nos estudos, formação para o trabalho, autonomia, emancipação etc.

Esse PI está estruturado em 04 partes posteriores a essa introdução. A primeira está intitulada como “A Educação Especial e a Formação de professores na perspectiva da educação inclusiva”, cujas abordagens trazem as minhas implicações iniciais, o contexto histórico da formação de professores na Educação Especial no Brasil, uma breve discussão sobre os paradigmas integração X inclusão, as legislações (marcos legais) que fundamentam à inclusão e as políticas educacionais afirmativas, face à formação de professores e a escolarização do aluno com deficiência visual.

Na segunda parte intitulada “Dispositivos de uma formação “in loco”: apontamentos e entrelaçamentos sobre a deficiência visual” pondero sobre os entrelaçamentos e dispositivos que envolvem o universo da proposta de formação “in loco”, puxando fios de uma conversa sobre as especificidades da deficiência visual. Essa parte, considero-a como o coração da pesquisa, pois nela trago a sugestão de alguns elementos fundamentais a uma formação “in loco”.

Na terceira parte, “Compreendendo o espaço da ação: A Escola Municipal Odete Nunes Dourado” é realizada a caracterização da cidade de Irecê, do seu Território de Identidade, da Rede municipal de ensino e do Colégio Municipal Odete Nunes Dourado, além de constar a descrição metodológica dos instrumentos da pesquisa, as análises dos materiais investigados e apontamentos para a construção da proposta interventiva.

Na quarta parte, trago a proposta de intervenção, a estruturação do Plano de formação continuada de professores na perspectiva da educação inclusiva, tendo a deficiência visual no cerne da questão. Portanto, propõe-se aqui, um plano de formação continuada que possibilite o sujeito se “autoformar”, no exercício de sua profissão, no diálogo com outros professores, na reflexão de seus saberes, valores éticos e políticos. Importante dizer também que a discussão

5 No âmbito de organizações e serviços ligados ao ensino, à produção e ao uso do Sistema Braille no Brasil vem

utilizando, há 150 (cento e cinquenta) anos, a palavra “braille” em sua grafia original francesa (BRASIL, 2006b, p.92). Usa-se nesse PI as grafias Braille, braille e braile, pois na “Língua Portuguesa, as três formas de grafia [...] estão corretas, dependendo das circunstâncias em que cada uma delas for utilizada. Conforme MARTINS (1990 apud Sassaki (2010), grafa-se Braille quando se referir ao educador francês Louis Braille (ou quando este nome fizer parte de nomes de instituições) e grafa-se braile nos demais casos. A Comissão Brasileira do Braille- CBB manteve a grafia Sistema Braille, como nome próprio e não como termo técnico. Texto adaptado disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1882

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não se exaure no recorte dado aqui à deficiência visual, pois considerar a formação de professores na perspectiva inclusiva “in loco” é englobar todo e qualquer aluno no processo de aprendizagem, considerando suas necessidades e particularidades.

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1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Pensar sobre formação de professores na perspectiva da educação inclusiva tendo como cerne da discussão, a deficiência visual, demanda levantar questões dos saberes dos professores, da natureza desses saberes e dos princípios que fundamentam a prática pedagógica desses profissionais que atuam na escolarização desse público-alvo da Educação Especial. Nessa instância, é importante que entendamos as legislações que a embasam, as políticas educacionais afirmativas de formação de professores e de inclusão escolar, além de entender em que contexto histórico e sócio-político a formação de professores foi/é pensada e construída no Brasil.

1.1 IMPLICAÇÕES DO PESQUISADOR

Como falar em formação de professores, sem o pertencimento, sem contar das minhas implicações, das minhas vivências, ora como professor, ora como aluno com deficiência visual? A escolha do objeto de estudo, decorre então dessas minhas inferências pessoais, profissionais e acadêmicas, que ao meu ver, traz muito do sentimento de identidade a esse projeto de intervenção.

O meu “pertencer a causa” começou aos quatros anos de idade, no ano de 1980 quando tive a minha primeira experiência estudantil na Escola Presbiteriana de Lapão, onde fiz os primeiros rabiscos, vislumbrando o mundo e observando sempre através do olhar a beleza das coisas, das cores e de tudo ao meu redor. Ao completar os sete anos de idade, fui transferido para outra escola, Justiniano de Castro Dourado, onde para mim era tudo muito novo, novos colegas, nova professora e um relacionamento mais intenso com meus estudos. Em 1986, aproximando o final do ano, no mês de outubro, fui vítima de uma grande fatalidade, um acidente drástico me fez perder completamente a visão. Ao brincar com um primo soltando bombinhas (fogos de artificio), uma explodiu junto aos meus olhos.

Em busca de recursos médicos cheguei ao Rio de Janeiro, onde obtive a primeira experiência de voltar a estudar, agora como um cego. Nessa época, conheci então o Instituto Benjamim Constant - IBC, onde os meus sonhos começariam a ser alimentados com grandes possibilidades de realizá-los, lá pude “ver” caminhos se abrindo e obstáculos sendo destruídos, já que era o meu sonho continuar os estudos. A defesa de uma formação de professores na modalidade inclusiva da deficiência visual perpassa então pela minha experiência positiva com professores altamente capacitados que me ajudaram a ver o mundo com “minhas próprias mãos” através de uma mediação significativa na leitura, escrita, cálculo e outros conhecimentos

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utilizando o Sistema Braille.

Assim, enquanto estudante cego experimentei de métodos educacionais especializados por parte de professores bem capacitados e que mediaram de forma prazerosa a minha aprendizagem, de forma a garantir o prosseguimento dos meus estudos, alicerçando qualitativamente minha base profissional e acadêmica. Nesse processo fui alfabetizado com o Sistema Braille e um novo percurso de escolarização foi se construindo, dando ênfase a uma nova história de formação educacional.

Já adolescente fui transferido para o Instituto de Cegos da Bahia - ICB em Salvador, esta instituição era de Regime Integral de Internato e permaneci lá durante nove anos. Neste espaço tive um aprendizado muito significativo através dos cursos de locomoção, música, fisioterapia, terapia ocupacional, natação e outros. Enfim, todas essas atividades me possibilitaram uma maior independência, autonomia e emancipação como sujeito protagonista de uma história a ser construída num horizonte de possibilidades. Pude então observar o diferencial dos professores que atuam nesses espaços, eles estão ali porque são preparados para cada função.

Ao sair do ICB, graduei-me em um curso de Bacharelado e Licenciatura em História pela Universidade Católica de Salvador - UCSAL. Nesse tempo, com diversas dificuldades, experimentei momentos desafiadores para estudar, pois não havia produções em braille e sequer algum tipo de recurso que pudesse auxiliar o meu processo de aquisição/produção do conhecimento. Percebi que apesar das instituições de ensino superior serem espaços de construção do conhecimento, muitas vezes não é possível um diálogo coerente sobre práticas inclusivas por parte de sua comunidade.

Percebo então que a desigualdade e a exclusão nos processos de ensino e aprendizagem perpassam desde a educação infantil até o ensino superior, pois a inclusão ainda não é uma cultura própria das escolas, nem das universidades, muito menos da sociedade, ela ainda não acontece plenamente no dia-a-dia, entre as paredes da sala de aula, nos corredores, nos murais, nas falas e nas metodologias de ensino. Ainda predomina uma cultura heterogênea e reprodutora de práticas excludentes e segregacionistas.

Ao conclui meu curso, ingressei-me no mundo do trabalho, tendo a minha primeira experiência profissional como professor substituto e coordenador da disciplina de História no Colégio Salesiano em Salvador. Nesse posto, coordenei projetos voltados a Educação Especial e a partir daí, tive a oportunidade de passar 04 anos na Itália, na cidade de Bologna, onde pude trabalhar nessa área e experimentar de um convívio social inclusivo que me fez pensar como Carneiro (2007, p.26) que “uma escola inclusiva só existirá na moldura de uma sociedade

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inclusiva”. A Itália é um dos países pioneiros na implantação/implementação das escolas inclusivas, tendo uma legislação própria que regulamenta a inclusão de alunos com deficiência nas salas regulares, desde a década de 1970.

Talvez por isso tenha me sentido tão bem acolhido entre os italianos. Nesse país, as experiências de implantação/implementação de escolas inclusivas e de formação de professores nessa perspectiva, assim como em outros países, como a Espanha e Reino Unido tiveram muitas dificuldades na adaptação, mas sempre iam se reciclando e reformulando novas formas de garantir a inclusão. No entanto, sobre essas ponderações, Carneiro (2007, p.28) pontua que “em todos os casos, prevaleceram a negociação, a preparação dos sistemas, das escolas e dos professores e não a força da lei”. O resultado de uma escola inclusiva perpassa por uma cultura social inclusiva, uma está indissociavelmente atrelada a outra.

Após voltar para o cenário educacional do Território de Identidade de Irecê, enquanto professor efetivo das redes municipais de ensino de Irecê e Lapão, cidades vizinhas venho tentando me constituir enquanto professor e nessa caminhada me deparei com uma oportunidade ímpar que foi a seleção do mestrado profissional realizado através da parceria da Universidade Federal da Bahia - UFBA/ Irecê, Lapão e Ibititá. É nesse movimento, enquanto mestrando que vou me implicando com o tema, reportando-me às primeiras experiências de aproximação com os professores, com os colegas, os grupos de discussão e o cursar das disciplinas. Assim, entre o lembrar e o recordar vou subjetivamente me conduzindo a uma busca por aprofundamentos e amadurecimentos, procurando compreender como posso melhorar minha prática através da formação de professores na perspectiva da educação inclusiva.

Nesse aspecto, entre idas, vindas, práticas e teorias, encontro-me em uma realidade educacional que me despertou algumas reflexões sobre a formação de professores na

perspectiva inclusiva, cujas implicações possibilitam repensar o processo de

ensino/aprendizagem da pessoa com deficiência visual, suas formas de comunicação e como seria possível superar as limitações impostas pela ausência/fragilidade/insuficiência das políticas afirmativas de inclusão no espaço escolar que repercutem também no despreparo do professor frente a diversidade. Tardif (2014) aponta que a formação continuada de professores pressupõe um tempo/espaço onde é possível dialogar, refletir, sensibilizar e olhar o trabalho docente a partir da realidade da sala de aula.

Nesse contexto, enquanto pertencente a uma realidade educacional, a compreensão real da minha deficiência, foi a nível pedagógico, como um dos inúmeros professores espalhados pelo Brasil que não conseguem garantir o acesso de um ensino de qualidade aos alunos com necessidades educativas especiais, por justamente não estar preparado/capacitado para o

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trabalho com as especificidades.

Essas situações experienciadas como professor, fez-me perceber a necessidade de uma “formação dentro da profissão” como defende Nóvoa (2009), de saberes que pudessem auxiliar na construção e utilização de materiais pedagógicos em braille e no valer-se de recurso de TA como possibilitadores de uma aprendizagem mais significativa, enquanto professor cego que poderá ensinar para alunos cegos. O desejo por essa acessibilidade, perpassa a complexidade de desenvolver um planejamento pedagógico coerente e condizente com a realidade dos alunos, tendo em vista que na minha atuação docente, os espaços educativos não dispunham/dispõem de computadores adaptados, nem pistas táteis, nem sinalizadores, nem sequer pessoas que estivessem/estejam a disposição para auxiliar no processo de elaboração das minhas aulas.

Portanto, a observação do meu cotidiano escolar, bem como o discurso presente nas falas dos colegas professores frente aos alunos com deficiência visual e outras NEE,6 também enquanto professor com deficiência visual diante dos alunos “ditos normais”. Essas questões fizeram-me inquietar enquanto pesquisador e sujeito humano, pois ao ouvir as angústias dos professores tornou-se claro que há um pedido de socorro ecoando nos espaços educativos. É como se eles não soubessem o que fazer, nem como emancipar esses alunos, nem ao menos garantir as condições mínimas de escolarização. Na verdade, há todo um despreparo a nível de competências e habilidades no atendimento educacional disponibilizado aos alunos com deficiência visual nas classes de ensino regular e diante disso há uma pergunta importante a se fazer: O que sabem os professores do Colégio Odete sobre deficiência visual?

Assim, o interesse pela temática se deu nessa observação no “chão da escola”, na escuta das “queixas” de alguns professores e seus anseios por uma maior capacitação ou preparação para atender alunos com deficiência visual e outras NEE, ou seja, o desejo de uma “formação dentro da profissão”, como defende Nóvoa (2009). Urge, portanto, dialogar sobre “a importância do professor constituir saberes didáticos para o trato das questões da Educação Especial” (JESUS; EFFGEN, 2012, p.80) no “chão da escola”, procurando assim fomentar

6 NEE - quer dizer Necessidades Educativas Especiais e é um conceito atual em Educação. O conceito de NEE passou a ser

conhecido em 1978 a partir da sua formulação no "Relatório Warnock"[...] A Secretaria de Educação Especial (Seesp) atualmente Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI ao desenvolver programas, projetos e ações a fim de programar no país a Política Nacional de Educação Especial, considera público-alvo da educação especial, os alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação. Texto adaptado, disponível em: https://sites.google.com/site/lucianealvesee/o-que--nee. Acesso em: 12/12/2017.

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práticas formativas e inclusivas que mediem as relações de ensino/aprendizagem entre professores e alunos com deficiência visual em tempos/espaços, com condições humanas e materiais.

Nesse âmbito, esse PI emergiu do desejo de compreender como a ausência/insuficiência de capacitação/preparação docente implica no desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas que melhorem os processos de ensino/aprendizagem e desenvolvam condições de emancipação dos alunos com deficiência visual, tornando-os críticos, autônomos e participativos.

1.2 A EDUCAÇÃO ESPECIAL E A FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL

Não é possível abordar a questão da Educação Especial e da formação docente na perspectiva inclusiva sem marcar temporalmente os aspectos históricos e os marcos legais que influenciaram as políticas e os paradigmas atuais que envolvem esse objeto de estudo. Nesse contexto, pensar em educação inclusiva “dentro da” e “para fora da” formação continuada de professores “dentro da profissão” no Ensino Fundamental (Anos Finais) exige certas observações dos paradigmas educacionais adotados ao longo do surgimento da Educação Especial no país, bem como suas implicações no trato aos alunos com deficiência, a forma como eram vistas, tratadas, aceitas ou segregadas socialmente.

1.2.1 Breve histórico e marcos legais

Nos registros históricos há fortes indícios de que as sociedades primitivas, bem como as primeiras civilizações mantinham relações conturbadas em relação às pessoas com deficiências. Conforme Silva (2012), os diferentes eram muitas vezes exterminados e as causas desse extermínio variavam de acordo com as crenças ou necessidades de sobrevivência de cada grupo ou tribo. Predominavam nessa época os mitos e as crenças, haja vista que elas, muitas vezes, determinavam o comportamento social.

Ao longo da Idade Média, com o advento do Cristianismo e a forte influência exercida nas sociedades ocidentais, foram sendo formuladas concepções e alternativas para lidar com pessoas com deficiências. Uma dessas alternativas, foram os hospitais de caridade (criados no século IV), locais que isolavam ou segregavam crianças, no entanto era uma forma de salvá-las do convívio difícil com a família e outras esferas sociais. Nesse contexto, Silva (2012, p.31) aponta que “as instituições assistencialistas passaram a cumprir o papel de isolar as pessoas com deficiência do convívio social, modelo de exclusão que, guardadas as proporções

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permanecem até os dias atuais”.

Mas adiante no século XVII com o Iluminismo e posteriormente, com a Revolução Industrial, novas concepções, novos modelos de homem e de família foram surgindo como contraponto às concepções místicas que envolviam as pessoas com deficiências (SILVA, 2012). A sociedade passa a procurar na medicina e nas instituições, a forma mais apropriada de cuidar de seus doentes, deixando um pouco de lado as superstições, as crenças e o misticismo.

Nesse aspecto, a institucionalização permaneceu como medida mais aceitável no tratamento as pessoas com deficiência, através de asilos, internatos, escolas especiais etc. A institucionalização, que era, na melhor das hipóteses, superior ao abandono ou a tutela da igreja, ainda não atendia aos interesses das pessoas com deficiências. O fato de estar sujeito ao controle autárquico, de normas e regras faziam com que muitas pessoas não tivessem o privilégio de serem autônomos, de construírem sua emancipação, produto este, necessário no processo de inclusão.

Assim, em decorrência de uma conjuntura social, na qual os valores foram sendo modificados, de acordo com um novo tipo de homem e de sociedade, os períodos de perplexidade e misticismo vão cedendo lugar aos encaminhamentos assistencialistas e educacionais, principalmente no período Pós I Guerra e II Guerra Mundial. Nesse cenário, muitas famílias recebiam seus soldados deformados, cegos, amputados e completamente impossibilitados de exercerem as mesmas atividades que até então vinham executando. De tal modo, através da vivência de como era ser diferente, das dificuldades enfrentadas pela falta de acessibilidade, socialização e comunicação, iniciou-se um processo de lutas e deliberações para a inserção de pessoas com deficiências nos sistemas educacionais e trabalhistas. Acerca disso, Platt (1999, p.7) considera que:

Nas duas grandes guerras mundiais, assim como em outros conflitos que historicamente temos conhecimento (como o do Vietnã, Palestina etc.), o saldo de deficientes sempre foi exorbitante; a depressão e a baixa autoestima destes jovens comprometiam sua vontade de viver e de repensar sua nova condição física diante de suas rearticulações sócio-política-econômica-culturais. A própria sociedade exigiu dos organismos políticos que deliberassem oportunidades de inserção trabalhistas e educacionais a estes indivíduos.

Mediante esses acontecimentos, os movimentos sociais, iniciados no Iluminismo e fortalecidos pelos ideais da Revolução Francesa, pela perplexidade e horror do Pós-guerra intensificaram suas lutas em prol das minorias, defendendo e incorporando os valores de igualdade, inclusão, democracia, etc.

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no século XX, influenciadas pelo fenômeno da globalização7 e iniciam gradativamente acordos e compromissos como requisito a participarem da ONU- Organização das Nações Unidas, cujos princípios exigiam metas e compromissos a serem assumidos pelos líderes de cada país. Nessa conjuntura, temos como marco a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 19488.

Embora, mesmo após esse compromisso firmado pelo Brasil, a realidade educacional para as pessoas com deficiência ainda era bem delicada. Segundo Santos (2007), a partir de 1960 há uma forte tendência no sistema educacional brasileiro pela institucionalização (período marcado pela segregação, isolamento, silenciamento, internações, escolas especiais), seguidos posteriormente dos princípios de integração (normalização, tudo é igual a todos, as diferenças são negadas nesse processo) nas décadas de 70 e 80 do século XX.

A institucionalização estava mais ligada ao atendimento assistencialista clínico especializado, que incluía em seus parâmetros, a educação escolar. Um exemplo dessas instituições tradicionais de assistência às pessoas com deficiências, é o pioneirismo do Instituto dos Meninos Cegos, fundado na cidade do Rio de Janeiro, em fins de 1854 (MANTOAN,2011). Embora essas instituições eram essenciais e importantes na história do país, elas também representavam a segmentação das deficiências, cada uma se preocupando apenas com sua área e limitando seu atendimento a poucos. Acerca disso, Mantoan (2011, p.3) relata que:

Entre a fundação desse Instituto e os dias de hoje, a história da educação especial no Brasil foi se estruturando, seguindo quase sempre modelos que primam pelo assistencialismo, pela visão segregativa e por uma segmentação das deficiências, fato que contribui ainda mais para que a formação escolar e a vida social das crianças e jovens com deficiência aconteçam em um mundo à parte.

Por outro lado, os princípios de integração nasciam timidamente quando a educação especial passa a ser assumida pelo poder público na década de 1960. O termo educação especial aparece legalmente pela primeira vez na LDB 4.024, de 1961 (MANTOAN, 2011). Nesse

7 A globalização é um dos processos de aprofundamento internacional da

integração econômica, social, cultural e política, que teria sido impulsionado pela redução de custos dos meios de transporte e comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI. É tido, como início da globalização moderna, o fim da Segunda Guerra mundial, e a vontade de impedir que uma monstruosidade como ela ocorresse novamente no futuro, sendo que as nações vitoriosas da guerra e as devastadas potências do eixo chegaram a conclusão que era de suma importância, para o futuro da humanidade, a criação de mecanismos diplomáticos e comerciais para aproximar, cada vez mais, as nações uma das outras. Disponível em: https://www.infoescola.com/geografia/globalizacao/. Acesso em: 14/01/2018;

8 A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que delineia os direitos humanos básicos, foi adotada

pela Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Foi esboçada principalmente pelo canadense John Peters Humphrey, contando, também, com a ajuda de várias pessoas de todo o mundo. Considera que o reconhecimento da dignidade é inerente a todos os membros da família humana e seus direitos são iguais e inalienáveis, constituindo o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Disponível em: http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf. Acesso em 12/12/2017.

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contexto, iniciam-se as políticas públicas na educação especial com a criação “das “Campanhas”, destinadas especificamente para atender a cada uma das deficiências”, (MANTOAN, 2011, p, 4) física, visual e auditiva. Estas campanhas tinham o objetivo de promover as medidas necessárias à educação, integração e assistência no mais amplo sentido. Um exemplo claro, disso é o Decreto Nº 44.236, de 1º de agosto de 1958 que Institui a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação dos Deficitários Visuais. No artigo 3º dessa legislação, diz que caberá a campanha:

c) cuidar da integração dos cegos e amblíopes reabilitados em atividades comerciais, industriais, agrárias, científicas, artísticas e educativas, tanto em instituições de natureza privada quanto oficiais;

d) promover a integração dos deficitários visuais nos estabelecimentos de ensino dedicados aos videntes (BRASIL, 1958, p.1, grifo meu);

Observa-se que havia uma grande preocupação com a integração. Embora tenha me referido apenas a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação dos Deficitários Visuais, houveram outras campanhas, voltadas as outras deficiências. Nesse contexto, Mantoan (2011, p.6 grifo meu) diz que:

A evolução dos serviços de educação especial caminhou de uma fase inicial, eminentemente assistencial, visando apenas ao bem-estar da pessoa com deficiência para uma segunda, em que foram priorizados os aspectos médico e psicológico Em

seguida, chegou às instituições de educação escolar e, depois, à integração da educação especial no sistema geral de ensino. Hoje, finalmente, choca-se com a proposta de inclusão total e incondicional desses alunos nas salas de aula do ensino regular.

Como segmento dessa política educacional integrativa, em 1972 foi apresentado o Grupo-Tarefa de educação especial, constituído pelo Ministério de Educação e Cultura – MEC, tendo o objetivo de estruturar a educação especial brasileira e pensar a “educação dos excepcionais” (MANTOAN,2011). Mesmo essas iniciativas não sendo as desejadas, nos parâmetros desejáveis atualmente frente a perspectiva inclusiva, a institucionalização e a integração eram iniciativas e ações direcionadas para que a educação especial brasileira avançasse de alguma forma.

Assim, acerca do surgimento da educação especial no Brasil. Santos (2007, p.11) faz uma síntese desses períodos, ao observando que:

Pode-se observar três momentos na evolução da Educação Especial brasileira que desde o seu início até o momento atual é signatária de tendências europeias e norte-americanas: o primeiro, caracterizado pelas instituições totais predominantes até fins dos anos 60, adotava a prática da segregação do aluno com deficiência para o processo educativo; o segundo, nos anos 70 e 80, com as iniciativas de integração, cujo princípio fundamental era a idéia da normalização, baseado no modelo médico da deficiência enfatizava o aluno e sua capacidade individual de adequar-se à realidade da escola; e o terceiro e atual estágio, é marcado pelo movimento de inclusão, perspectiva que assume um discurso inovador radical tendo como princípio a aceitação da diversidade.

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Mantoan (2002, p.3) por sua vez, organiza a história da educação de pessoas com deficiência no Brasil, a educação especial em três grandes períodos:

De 1854 a 1956 - marcado por iniciativas de caráter privado. Nascem as instituições; de 1957 a 1993 – definido por ações oficiais de âmbito nacional. Período em que o Brasil se torna signatário de acordos internacionais e a partir de 1993 que é caracterizado pelos movimentos em favor da inclusão escolar, destaca-se a participação dos movimentos sociais e emancipação das pessoas com deficiências. Em suma, os dois autores pontuam as mesmas características apresentadas na trajetória de aproximadamente 60 anos de educação especial no Brasil. Nesse contexto processual de caracterização do que é inclusão, superação do silenciamento e da segregação, Mantoan (2002, p.3) pontua que:

Só muito recentemente, a partir da última década de 80 e início dos anos 90 as pessoas com deficiência, elas mesmas, têm se organizado, participando de Comissões, de Coordenações, Fóruns e movimentos, visando assegurar, de alguma forma os direitos que conquistaram de serem reconhecidos e respeitados em suas necessidades básicas de convívio com as demais pessoas. Esses movimentos estão se infiltrando em todos os ambientes relacionados ao trabalho, transporte, arquitetura, urbanismo, segurança previdência social, acessibilidade em geral. As pessoas buscam afirmação e querem ser ouvidos, como outras vozes das minorias, que precisam ser consideradas em uma sociedade democrática, como a que hoje vivemos neste país”.

Vemos assim que, algumas mudanças foram sendo processadas, muitas em virtude das novas leis que entraram em vigor no final do século XX. Nessa época surgiram os primeiros marcos ou fundamentos legais para a educação especial. Listei alguns que também já embasam a formação continuada de professores na perspectiva inclusiva que atuam em salas regulares dos Anos Finais do Ensino Fundamental:

• A Constituição Federal/1988;

• O Decreto 3298/99 que regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989,

dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;

• O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990.; • Declaração de Salamanca, 1994.

• A Lei 9394/96- a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB;

• Portaria MEC nº 1679/99 que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica;

• O Plano Nacional de Educação- PNE, através da lei nº 10.172/01; • LEI 13.146/2015- O Estatuto da Pessoa com Deficiência.

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condições para o acesso e permanência na escola como um direito público subjetivo. Só esse artigo da CF/1988 já seria o suficiente para a defesa da importância dessa intervenção. Como garantir igualdade de condições, sem professores preparados para atender as especificidades do aluno com deficiência visual?

Posteriormente, o Decreto 3298/99 que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência defende que haja um fomento à formação de recursos humanos adequado e eficiente no atendimento a pessoa com deficiência, além do mais, em seu artigo 15, inciso III, ao se referir a equiparação de oportunidades diz que os “órgãos públicos prestarão os serviços de escolarização em estabelecimentos de ensino regular com a provisão dos apoios necessários, ou em estabelecimentos de ensino especial”( BRASIL, a, 1999a, p.1,).

Nesse mesmo parâmetro, o ECA em seu artigo art. 54, inciso III diz que é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente o [...] “- atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1990, p.9, a). Em seguida, a LDB dedica um capítulo exclusivo sobre a educação especial e a entende como uma “modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1994a, p.19).

Além do mais, ela destaca no §2º que “o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos

alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular” (BRASIL,

1994a, p.19, grifo meu). Assim entendo que somente quando não for possível, deve ser recorrer a outras instâncias, mas o empenho para alfabetizar, orientar e acompanhar o processo de aprendizagem do aluno cego deverá ser na sala regular, junto com todos os outros alunos, integrado ao sistema comum, incluso nos procedimentos didáticos do professor, na sua metodologia, no seu planejamento e na execução de suas aulas.

Nessa conjuntura, as contribuições da Declaração de Salamanca 9 já se faziam presentes

nos marcos legais e nas pesquisas educacionais. O referido documento contribuiu na defesa dos direitos das pessoas com NEE, na defesa de uma educação para a diversidade e também na

9 Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994,

com o objetivo de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social. Declaração de Salamanca é considerada um dos principais documentos mundiais que visam a inclusão social, ao lado da Convenção de Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos de 1990. Ela é o resultado de uma tendência mundial que consolidou a educação inclusiva, e cuja origem tem sido atribuída aos movimentos de direitos humanos e de desinstitucionalização manicomial que surgiram a partir das décadas de 60 e 70.Disponível em: http://www.educabrasil.com.br/declaracao-de-salamanca/. Acesso em 12/11/2017;

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