A PESQUISA DE CAMPO: DIREÇÕES METODOLÓGICAS

A pesquisa de campo foi realizada seguindo as diretrizes epistemológicas da pesquisa qualitativa, pois esta possibilitou olhar para a formação continuada na perspectiva da educação inclusiva, tendo a deficiência visual no cerne da questão, como um dos elementos indispensáveis para uma prática pedagógica inclusiva, na qual não se pode mensurar dados, mas sim as implicações subjetivas de uma dada realidade.

Nessa proposta, analisou-se a necessidade de dialogar nos espaços/tempos do Colégio Odete sobre a preparação/qualificação/formação de professores, em vista da carência de atendimentos específicos aos alunos com deficiência visual e outras NEE na sala de aula regular nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Sob essa perspectiva, a pesquisa consistiu em sondar o que os professores sabiam sobre a temática aqui apresentada e como seria possível construir uma proposta de intervenção a partir da realidade estudada.

Para isso, a abordagem metodológica escolhida foi a qualitativa, pois esta permite definir os procedimentos metodológicos das Ciências Sociais, tendo em vista a análise e a interpretação de aspectos profundos e complexos do comportamento e das relações sociais (LAKATOS, 2003) estabelecidas pelos professores no exercício de sua profissionalidade. Entre as categorias da pesquisa qualitativa, fiz a opção pelo estudo de caso, estratégia metodológica que vem sendo embasada através da pesquisa bibliográfica. Esta última deu suporte as fases da pesquisa, proporcionando novos conhecimentos que embasaram a elaboração da proposta interventiva e do texto final (SEVERINO,2000).

A opção pelo estudo de caso como estratégia metodológica, partiu da concepção de que esse método “consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico” (MERRIAN (1998) apud BOGDAN e BIKLEN,1994, p.89). De tal modo, a pesquisa de campo, através do estudo de caso partiu da necessidade inicial de sondar os professores sobre os saberes/preparação/capacitação que dispunham para um atendimento inclusivo aos alunos com deficiência visual. Para isso, algumas questões foram essencialmente levantadas:

- Será que os professores da Escola Municipal Odete Nunes Dourado estavam preparados/capacitados para atender os alunos com deficiência visual matriculados ou que vinhesse a se matricular em suas salas regulares?

- Quais os saberes que os professores dispunham no atendimento aos alunos com deficiência visual? Esses saberes eram suficientes para uma prática realmente inclusiva?

- Quais as reais necessidades do professorado frente às questões envolvendo os alunos com deficiência visual?

- O que pensavam sobre uma formação continuada de professores na perspectiva da educação inclusiva, tendo a deficiência visual como cerne da questão? Como essa formação deveria ser? Em que tempo/espaço?

- Os professores teriam interesse em construir e participar de uma proposta de formação de professores na perspectiva da educação inclusiva, abordando a deficiência visual dentro do seu espaço escolar?

Além dessas questões também foi importante buscar elementos que caracterizassem a rede de ensino e como o Colégio Odete se implicava nisso como lócus da pesquisa. Nesse âmbito, para aproximar-se do objeto de estudo e construir a intervenção, foi importante conhecer a proposta pedagógica da escola, as instalações prediais, quantitativo de professores, de alunos etc. Para chegar a essas respostas, o fazer pesquisa pressupôs algumas etapas que esquematizo no quadro abaixo:

PESQUISA DE CAMPO: ESTUDO DE CASO ETAPAS INSTRUMENTO DESCRIÇÃO

1. Questionário

semiestruturado impresso,

A primeira etapa da pesquisa de campo consistiu na aplicação de um questionário semiestruturado impresso contendo 12(doze) questões abertas e fechadas para um quantitativo de 08(oito) professores do 6º ano vespertino. Antes disso, foi conversado com os professores sobre a importância da pesquisa e solicitado uma autorização para fins reprodutivos, contudo mantendo a identidade dos docentes. O questionário foi entregue e realizado na sala dos professores do Colégio Odete, no dia do planejamento semanal dos professores, seguindo o cronograma de trabalho organizado pela coordenação. Os sujeitos da pesquisa consistiram em 04(quatro) homens e 04(quatro) mulheres, 90% com idade acima de 30 anos, todos efetivos da Rede de ensino. Quanto ao nível de

escolaridade todos os 09(oito) professores são licenciados e com especialização na área de atuação. Em síntese um grupo com uma formação inicial bem satisfatória, no entanto nenhuma especialização voltada a educação especial. 2. Análise documental do Projeto Político Pedagógico do Colégio Odete (2011)

A segunda etapa consistiu na análise do Projeto Político Pedagógico- PPP do Colégio Odete (2011). No tocante ao PPP, não se sabe quando ele foi construído, pois ninguém soube informar. A versão que foi analisada datava de 2001 e foi revisada no início do ano letivo de 2017. O documento foi disponibilizado pelo gestor do Colégio Odete via e-mail, lido e analisado pelo pesquisador. Por ser um documento norteador das práticas pedagógicas e da organização da escola no geral foi um elemento indispensável na construção da proposta interventiva.

3. Questionário

eletrônico semiestruturado via Google Forms

A terceira fase da pesquisa foi a aplicação do Questionário(formulário) eletrônico semiestruturado via

Google Forms, enviado através do link

https://goo.gl/forms/A2025nMlVMpjIwV a 25(vinte e cinco) professores do turno matutino por meio do aplicativo WhatsApp e também via e-mail, conforme lista de contatos disponibilizada por uma colega de profissão. Destes 25 apenas 18 responderam. O questionário continha algumas questões de múltipla escolha e outras abertas, com texto de respostas curtas.

Inicialmente fiz um texto de apresentação seguido de 14 questões, contendo as mesmas perguntas do questionário impresso, com apenas alguns acréscimos e modificações, principalmente após a etapa de qualificação do projeto. Assim, a medida que a pesquisa ia avançando sentia a necessidade de incrementar alguns elementos, a exemplo da pergunta: A formação de professores na perspectiva da

educação inclusiva deverá ser uma prioridade e algo previsto no Projeto Político Pedagógico - PPP?

O tempo estimado de envio e devolutivas das respostas foi de aproximadamente 15 dias. Entre os dias 01/12 e 15/12/2017. A partir desse prazo, o questionário fora encerrado, totalizando um número de 18 respostas. Nesse contexto, essa ferramenta permitiu poupar tempo e possibilitou melhores condições para se fazer as análises comparativas, em relação aos questionários em papel. Os sujeitos participantes desse questionário foram em sua maioria professores com idade entre 30 e 40 anos, 14 professores efetivos e 04 com contratos temporários. Em relação à formação dos sujeitos participantes 10 (dez) são licenciados e com especialização na área de atuação, 03(três) licenciados e com especialização fora da área de atuação, 01(um) mestre, 01 professor com apenas a formação inicial em nível de magistério e 04 (quatro) com formação indefinida por assinalar a opção dada: outros. No tocante a formação na graduação, pós e mestrado, o grupo é bem diverso e carente de formação continuada no que diz respeito a educação especial, apenas duas professoras têm especialização na área. Em relação ao perfil de escolaridade dos sujeitos da pesquisa, sistematizei os dados por áreas de formação:

- 04(quatro) pedagogos (as): 01 com especialização em Ensino da história e da cultura afro-brasileira e Mestrado em educação: currículo, linguagem e inovações pedagógicas, 01 especialista em, psicopedagogia e outro em Séries iniciais e Ed. Infantil.

- 03 licenciados(as) em História: apenas um com especialização e outro informou ter pós, mas não informou o curso.

- 03 licenciados(as) em Letras, 02 com habilitação em espanhol e especialização educação especial e inclusiva e 01 sem especialização nenhuma; - 01 Licenciado(a) em ciências biológicas pela

UNEB, especialista em educação ambiental (IBEPX) e também especialista em gestão escolar (São Tomaz de Aquino)

- 01 Licenciado(a) Ciências biológicas e pós em psicopedagogia.

- 01 Licenciado(a) em química e psicopedagogia; - 01 Licenciado(a) em geografia;

- 01 Licenciado(a) em matemática;

A finalidade desse instrumento foi possibilitar a coleta de dados de um maior número de professores atuantes na instituição. Procurei sondar dos demais professores quais eram os seus posicionamentos acerca de uma proposta de formação continuada na perspectiva inclusiva, tendo como objeto de estudo, a deficiência visual.

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4. Entrevista semi

estruturada

A quinta etapa caracterizou-se em 02 entrevistas semiestruturadas via telefone. As entrevistas foram realizadas com 02(dois) professores, atuantes no AEE, desde 2009 na rede municipal. Essa ação aconteceu via telefone e serviu para entender o modo como a formação de professores para a Educação Especial foi/está sendo desenhada na rede, além de procurar situar as contribuições da Política de Educação Especial na Rede e no Território de Identidade de Irecê.

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5. Levantamento de

dados

Por fim, em última instância fiz um levantamento de dados com o diretor da escola, a exemplo de quantidade

de professores, turnos, dependências, encontros

formativos, etc.com e com a professora da Sala de Recursos Multifuncionais.

O fato de trabalhar na instituição como professor auxiliar na Sala de Recursos Multifuncionais contribuiu significativamente na observação da dinâmica da escola e suas dificuldades no trato a educação especial na perspectiva inclusiva, bem como facilitou o levantamento de dados com o diretor e com a professora da Sala de Recursos Multifuncionais. Após as etapas destrinchadas acima, pude finalmente realizar as análises e estabelecer relações entre a pesquisa teórica e a empírica.

Nesse sentido, a pesquisa buscou contribuir junto ao Colégio Odete e à rede municipal de ensino de Irecê, no intuito de pensar/construir melhores condições de acesso e permanência dos discentes com deficiência visual matriculados na sala regular através de uma proposta de formação continuada para os professores da sala regular dos Anos finais do Ensino Fundamental. Por isso, ao coletar informações sobre os professores e suas vivências/ ausências de formação continuada, ou mesmo a expressão das experiências cotidianas com as relações de aprendizagem envolvendo os alunos com deficiência visual, o estudo de caso foi permitindo analisar as implicações pessoais e subjetivas de como uma formação continuada na perspectiva da educação inclusiva, tendo a deficiência visual no cerne da questão, para os professores do Colégio Odete, poderia refletir na idealização de práticas e posicionamentos inclusivos na instituição.

3.4 DESVELANDO A PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISES E APONTAMENTOS PARA