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A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios

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(1)Revista de Ciências Gerenciais Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008. A QUESTÃO DO LETRAMENTO NA UNIVERSIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES E DESAFIOS. RESUMO Denise F. Cicaroni Fernandes Centro Universitário Anhanguera unidade Leme denisecica@yahoo.com.br. Marcos A. Paladini dos Santos Faculdade Anhanguera de Limeira marcospaladini@yahoo.com.br. Alessandra C. Hernandes Burin Centro Universitário Anhanguera unidade Leme gelale@ig.com.br. Considerando que a universidade tem o dever de proporcionar ao estudante uma formação que lhe propicie condições de desenvolver a leitura e a escrita de forma eficaz, principalmente no que tange á leitura técnico-científica, que é primordial ao futuro desempenho profissional, discutiremos algumas questões sobre o letramento dos alunos universitários, percorrendo as concepções sobre o conceito de “indivíduo letrado” e refletiremos sobre práticas pedagógicas de instituições de ensino superior que envolvem a prática da leitura e da escrita como eixo norteador das atividades desenvolvidas em sala de aula. A complexidade dessa questão exige um enfrentamento das instituições de ensino, assim como de toda a sociedade, mesmo com toda limitação que esse contexto apresenta. Algumas experiências exitosas foram desenvolvidas e fazem parte da discussão, demonstrando suas possibilidades como avanço nesta importante luta, visando a constituição de um ser crítico e transformador, um novo homem para um novo tempo. Palavras-Chave: Letramento, ensino superior.. ABSTRACT The present article intends to argue some questions on the literacy of the university pupils, covering the conceptions about the concept of “scholar individual” and reflex about the pedagogic practices of college institutions that involve the practice of the reading and the writing as director axis of the activities developed in classroom. The complexity of this question demands a confrontation of education institutions, as well as of all the society, even wit all the limitation that this context presents. Some successful had been tested, and are part of the quarrel, demonstrating its possibilities as advance in this important fight, aiming at the constitution of a critical and transforming being, a new man for a new time. Anhanguera Educacional S.A.. Keywords: Literacy, postsecondary education.. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 29/05/2008 Avaliado em: 04/08/2008 Publicação: 28 de novembro de 2008 75.

(2) 76. A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios. 1.. INTRODUÇÃO Atualmente nossa sociedade assiste à discussão sobre a democratização do ensino nos vários níveis, sobretudo, as questões de condições de acesso e de qualidade. Um dos referencias apontados para a garantia da qualidade da educação básica ao ensino superior é a questão do papel social de todos os envolvidos na formação dos indivíduos, principalmente no tocante a escrita e a leitura. Bens culturais que devem ser acessados por todos os cidadãos, de forma que desenvolvam um grau de letramento que lhes garantam a participação ativa na sociedade em que estão inseridos. Nesse sentido, o papel do ensino superior na questão acima tratada também tem sido discutido, e para muitos estudiosos a universidade deve superar a mera reprodução e repasse de conhecimento e buscar novas alternativas que abram espaço para o novo. Muito contribui Severino (1998) quando coloca a Universidade “como lugar de construção do conhecimento científico, filosófico e artístico”, onde os envolvidos são desafiados a buscar o conhecimento novo de forma crítica, reflexiva e criativa. Enfatiza ainda o mesmo autor que é necessária a reflexão sobre o papel intencional do conhecimento “como a única ferramenta dos homens para a construção do sentido de sua ação individual e coletiva” Severino (1998, p. 25). Devemos levar em consideração que o tipo de ensino que uma universidade adota é resultante de sua leitura de mundo, das necessidades emergentes de seu contexto, que aliada ao seu projeto político pedagógico, vai “desenhar” o tipo de ensino a ser ministrado. Nas discussões que se estabelece em torno dos desafios do ensino superior destacamos a idéia de Romanelli (1994) “quando se fala de educação na universidade, busca-se um novo paradigma que supere as deficiências e lacunas na formação do homem e propicie um ensino que liberte para criar, elaborar e recriar”. Dentre as lacunas uma questão crucial que está no centro das discussões é o nível de letramento dos alunos no ensino superior, considerado um dos problemas mais sérios com que se defrontam professores e alunos, o que traz a estes últimos, dificuldades de acesso ao conhecimento das mais diferentes áreas e suas linguagens. Existem inúmeros fatores que contribuem para a problemática do letramento dos alunos, dentre os quais alguns devem ser objetos de análise e reflexão.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84.

(3) Denise Ferreira Cicaroni Fernandes, Marcos Augusto Paladini dos Santos, Alessandra Cristina Hernandes Burin. Em primeiro lugar, a democratização do acesso á que escola tem acarretado, nas universidades, o ingresso de estudantes nem sempre familiarizados com os tipos e graus de letramento que a vida acadêmica veicula e pressupõe. Em segundo lugar, apontamos a presença de jovens com uma situação sócio-econômica e cultural que possibilita pouco tempo para se dedicar aos estudos, visto que a maioria trabalha em jornada de tempo integral. Por outro lado, a escola de Ensino Fundamental e Médio, de onde normalmente são oriundos esses trabalhadores/alunos não tem conseguido desenvolver adequadamente as competências necessárias para a formação de leitores e produtores de texto. Entendemos que a situação atual indica que devemos superar o momento de culpabilização. É necessário partirmos para uma reflexão e análise das implicações da situação acima apontada, e construirmos efetivamente projetos e ações que contribuam para que o ensino superior não se desligue do contexto social mais amplo no qual nossos alunos se acham inseridos. Um ensino que tenha um olhar prospectivo, que lute pela melhoria na base, democratizando o acesso, como alguns programas de políticas públicas têm oportunizado, e a permanência, o que exige outras transformações; como a manutenção da qualidade, em todas as etapas da educação. Este artigo se propõe a um breve panorama das idéias sobre o letramento, as implicações do nível de letramento na formação das idéias, concepções e crenças dos indivíduos, e apresenta algumas propostas que são desenvolvidas no ensino superior como forma de enfrentamento da problemática do letramento e sua contribuição na formação de indivíduos letrados.. 2.. AS QUESTÕES DO LETRAMENTO E A LEITURA DE MUNDO DOS INDIVÍDUOS Há uma diversidade de conceitos que tentam dar conta dos entendimentos acerca do termo letramento. Kleiman (1995) distingue duas concepções de letramento, o modelo autônomo e o modelo ideológico. O modelo autônomo pressupõe um caminho único de desenvolvimento das habilidades e aprendizagem do sistema, legitima o ensino em massa; já o modelo ideológico associa as práticas de letramento à cultura e às estruturas de poder da sociedade, levando em conta os significados e as práticas culturais. A partir das definições que serão apresentadas pode se perceber que os diferentes entendimentos resgatam o papel do letramento enquanto modificador das práti-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84. 77.

(4) 78. A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios. cas sociais, intimamente relacionado com a inserção do indivíduo na vida social e as implicações que um tem sobre o outro. Sendo assim, parece ser o modelo ideológico que vêm ao encontro do desenvolvimento de cidadãos para a sociedade que se configura, com demandas de sustentabilidade pela crise que se apresenta, exigindo ações individuais para o bem coletivo. O termo letramento derivou da palavra inglesa literacy, e de acordo com a Association for College and Research Libraries (apud BELUZZO, 2001, p. 3) Information Literacy pode ser “definida como a habilidade para reconhecer quando existe a necessidade de se buscar a informação, estiver em condições de identificá-la, localizá-la e utilizá-la efetivamente para um objetivo específico e pré-determinado”, possibilitando a ação dos novos cidadãos frente a sua realidade e buscando transformações para melhor adequação desta as suas necessidades. Soares (1999, p.18) define letramento como “[...] o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo com conseqüência de ter-se apropriado da escrita.” Enquanto Scribner e Cole (apud KLEIMAN, 1995, p.19) escrevem que, “podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Tarapanoff (2004, p.3), ressalta que, “o objetivo da alfabetização em informação é criar aprendizes ao longo da vida, pessoas capazes de encontrar, avaliar e usar a informação eficazmente para resolver problemas ou tomar decisões”. Ao refletir sobre as diversas concepções que tem por objetivo explicitar o conceito de letramento, percebemos que existe um fio condutor que perpassa por todas elas, o da transformação causada na vida de quem se torna “letrado” (no sentido de ter transformado a leitura e a escrita em prática social cotidiana). Soares nos diz que: [...] socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é mais a mesma que era, ela passa a ter uma outra condição social e cultural - não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura - sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferentes (SOARES, 2003, p.37).. O nível de letramento dos alunos, que será construído pelas práticas de leitura e escrita é a ponte para a tomada de consciência e um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender o mundo. As novas visões de mundo, com as experiências possibilitadas pelo letramento, provocam um desequilíbrio nos alunos, que implicará na busca de novas posições,. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84.

(5) Denise Ferreira Cicaroni Fernandes, Marcos Augusto Paladini dos Santos, Alessandra Cristina Hernandes Burin. numa caminhada “passo-a-passo”, adquirindo empoderamento e tomada de posição sobre seu mundo, partindo do cotidiano (local), para a transformação global. Conciliar a qualidade com as turbulências atuais demanda arrojo. A implementação de uma proposta no ensino superior que contribua para integrar a rede complexa do letramento dos alunos, que ensine o aluno aprender a aprender - lendo, apreendendo, compreendendo e interpretando, é mais que um sonho - é querer fazê-lo pensar, auto-determinar-se, visualizar novas perspectivas e possibilidades como ator social responsável pela sociedade e mundo em que está inserido. O letramento possibilita ainda que a pessoa torne-se preparada para a sociedade da informação, permitindo-lhe realizar uma aprendizagem de maneira autônoma em diversos aspectos da vida e ao longo desta. Estas habilidades não são apenas úteis em atividades acadêmicas e escolares, mas aplicáveis a todas as situações de resolução de um problema ligado à necessidade de informação, como também no seu cotidiano, na forma de comunicação que utiliza com seus pares.. 3.. A CULTURA DA ESCRITA NA UNIVERSIDADE O Projeto Político Pedagógico da universidade, alimentando-se do universo de questões que envolvem os educandos, deve contemplar e incentivar para que as práticas educativas e a ações pedagógicas instaurem uma verdadeira “Cultura da Escrita e Leitura”, visando envolver os alunos em reflexões e práticas de leitura e escrita pertinentes, tanto à sua condição de sujeito/cidadão, quanto à de universitário/futuro profissional, e assim contribuir para o nível de letramento mais complexo e amplo para o mundo. No desenvolver do planejamento das ações pedagógicas, alunos e professores devem ser envolvidos em um ambiente de aprendizagem que implique em situações que os mesmos necessitem refletir, analisar, tomar consciência do que sabem, disponham-se a mudar os conceitos que possuam, seja para processar novas informações, seja para substituir conceitos cultivados no passado. Para tanto, o ensino proposto na universidade deve romper com o tradicionalismo, para dar lugar à elaboração e construção do conhecimento em um paradigma inovador de ensino1. Existem vários movimentos dentro das universidades que tentam. 1. Empoderamento e cidadania.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84. 79.

(6) 80. A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios. dar respostas às demandas colocadas pelo nível de letramento dos alunos universitários. As respostas perpassam por mudanças metodológicas, projetos específicos e programas que viabilizem que a leitura e a escrita circulem entre as práticas desenvolvidas nas salas de aula das universidades. Um paradigma que vem sendo discutido como forma de responder às exigências atuais de letramento é o ensino com pesquisa, como lembra Demo (1996, p.15) “o ensino com pesquisa valoriza a ação, a reflexão critica, a curiosidade, o questionamento exigente, a inquietação e a incerteza, pesquisar é elaborar com a própria mão”. A partir do colocado surge o seguinte questionamento - qual a importância do letramento no paradigma do ensino com pesquisa? A resposta a esta pergunta vai cosendo os fios que se interligam e entrelaçam um paradigma fundamentado na pesquisa está estreitamente ligado com a questão da escrita e da leitura e ao aprender a aprender. Quando se fala da metodologia de pesquisa do “aprender a aprender”, surgem os questionamentos: Onde entra o ato de ler e escrever e sua contribuição para o letramento dos alunos universitários? Quais os pontos de aproximação? Qual a importância do letramento no paradigma do ensino com pesquisa? Entendemos que está presente no ato da leitura e da escrita – o apreender, interpretar e compreender - um processo complexo, que pressupõe capacidade de interiorizar, falar e escrever com reelaboração própria - com capacidade de análise, síntese e visão crítica. O letramento é condição para se efetivar a metodologia do aprender a aprender. O aluno que aprende a aprender é aquele que é leitor. O leitor que aprende a aprender é aquele que, primeiro domina a técnica da leitura. Tem diante do texto uma posição de aprendizagem e de pesquisador, como também uma postura de analista, crítico, teórico e filósofo. Em síntese, tornar-se efetivamente protagonista e o ator principal de seu mundo. A metodologia do ensino com pesquisa, como um elemento facilitador e balizador para o letramento, é possível através do trabalho com textos e caracteriza-se como uma proposta fundamentada em três práticas: leitura de textos, análise crítica de textos e produção artística e científica. Além de mudanças metodológicas que contribuam para a complexidade do letramento dos alunos, existem vários relatos de projetos que estão sendo desenvolvi-. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84.

(7) Denise Ferreira Cicaroni Fernandes, Marcos Augusto Paladini dos Santos, Alessandra Cristina Hernandes Burin. dos dentro de universidades que buscam cultuar a leitura e a escrita atreladas ao contexto do ensino superior. Podemos citar o Projeto do Instituto de Pesquisa e Assessoria em Linguagem - LITTERIS2, dentro de uma Universidade da rede privada, que tem como objetivo específico implementar a prática da leitura e escrita como parte fundamental dos currículos de todos os cursos de graduação, como forma de enfretamento dos sérios problemas de letramento dos alunos. Através do LITTERIS, professores e alunos da universidade e comunidade estavam dispostos a refletir sobre questões de linguagem típicas do mundo letrado, assim como formas renovadas de enfrentamento de problemas típicos da escolarização. Para tanto foram desenvolvidas atividades de ensino de leitura e produção de textos, organizadas em três tipos de oficinas (culturais, específicas e temáticas) e um trabalho de formação continuada de professores. As Oficinas Culturais eram desenvolvidas de forma a propiciar a seus participantes um efetivo envolvimento em práticas letradas não escolares, que visavam dar lugar a experiências concretas de leitura e produção de textos culturalmente legitimadas, mas muitas vezes desconhecidas e/ou negadas pela escola, dentre um dos grandes propósitos foi a subjetivação por meio da escrita. Podemos citar como exemplo a Oficina “História da Vida, marcas na escrita”, em que se criou um espaço de reflexão sobre as múltiplas experiências e histórias dos participantes com a linguagem oral e escrita - na infância, na vida familiar, nas experiências cotidianas e em situações mais específicas, como no trabalho, na escola dentre outras. Com base nessas experiências, buscou-se desvendar alguns saberes relevantes sobre a linguagem, particularmente sobre a escrita: sua história, suas funções sociais, suas diversas dimensões, seus usos efetivos e possíveis no cotidiano, vínculos que podem ser estabelecidos entre as experiências já vividas e o desafio de uma inscrição legítima numa sociedade letrada. No trabalho desenvolvido pelas Oficinas Específicas um dos principais objetivos era oportunizar a análise e reflexão sobre a língua através do trabalho com diversas situações comunicacionais que se encontra em uso em um determinado tipo de gênero textual e suas especificidades. A estrutura dessas oficinas é constituída por três etapas inter-relacionadas.. 2. O Instituto Litteris é uma organização não governamental voltada para a assessoria e a pesquisa em linguagem.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84. 81.

(8) 82. A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios. Inicia-se com uma “primeira produção de texto”, para se avaliarem as capacidades iniciais dos alunos e para serem identificados seus problemas. Na segunda etapa, são desenvolvidos “ateliers”, nos quais os alunos realizam diferentes atividades direcionadas para o projeto de apropriação das características do gênero estudado. Finalmente, na terceira, há uma produção final, em que os alunos avaliam e revisam suas produções iniciais, guiados por uma ficha de controle, construída coletivamente durante os “ateliers”. As Oficinas Temáticas foram direcionadas especificamente para o ensino dos gêneros artigo de opinião e resenha crítica de cunho acadêmico. A escolha desses gêneros decorreu da análise que se efetuou nos exames nacionais do MEC, assim como de uma pesquisa dos diversos gêneros mais utilizados por profissionais de diferentes áreas nas respectivas profissões, nas quais buscou-se verificar que capacidades de linguagem deveriam ser desenvolvidas para o domínio desses gêneros, tendo em vista que as questões que estão sendo contempladas pelos Exames Nacionais do MEC exigem capacidades de sumarização, argumentação e de justificação, e um nível de letramento que muitas vezes os alunos não conseguiram construir ao longo dos anos de estudo. Podemos citar um outro programa que vem se destacando dentre as instituições de ensino superior, pois tem como cerne a preocupação com a circulação da leitura e da escrita, e um novo olhar sobre o processo de letramento de seus alunos e a concretização de seus projetos de vida. Tal programa é desenvolvido pelo grupo de instituições de ensino superior da Anhanguera Educacional, intitulado “Programa do Livro Texto”, criado em janeiro de 2005, material didático em forma de livro, com texto de parte de livros de diversos autores consagrados em suas áreas, que possibilitam aos alunos o contato e a apropriação da bibliografia, estimulando a valorização da formação de sua própria biblioteca, viabilizando a compra deste material a preços bastante acessíveis, além de pagamento facilitado, favorecendo a aprendizagem e promovendo o desenvolvimento da capacidade de leitura e mudanças culturais mais profundas. Este projeto está sendo aprimorado, buscando a produção interna dentro do quadro docente de materiais mais ajustados e com proximidade maior a realidade e estímulo aos discentes.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84.

(9) Denise Ferreira Cicaroni Fernandes, Marcos Augusto Paladini dos Santos, Alessandra Cristina Hernandes Burin. 4.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Aproveitamos as palavras de Antonio Joaquim Severino(1998, p. 28) para refletirmos sobre a questão do letramento na Universidade “o conhecimento é a única ferramenta dos homens para a construção do sentido de sua ação individual e coletiva”, uma das ferramentas essenciais é a “posse” da leitura e da escrita. Esta é um instrumento necessário para que os indivíduos efetivamente participem como protagonistas do mundo em que vivem. Ao pensarmos sobre o papel do ensino superior diante das lacunas que os alunos carregam em sua formação, estamos diante não apenas de uma problemática social, mas temos perante nós o que vai delinear o Projeto Político Pedagógico da instituição. Comentamos sobre várias ações e programas que estão sendo desenvolvidos em algumas universidades, que envolvem práticas pedagógicas voltadas para a circulação da leitura e da escrita, e do letramento dos alunos. Isto significa um grande movimento em torno da efetivação de uma missão, de um projeto, pois todo projeto deve ser “alimentado” pelo seu entorno. Centrofanti, Ferreira e Del Tedesco (1997) consideram que as universidades devem dar maior importância à leitura e tornarem o professor universitário coresponsável pela tarefa de orientar seus alunos no aperfeiçoamento dessa habilidade. Witter (1997) lembra que o docente universitário também merece atenção no desenvolvimento de sua própria habilidade de leitura e escrita, posto que é básica para o seu trabalho, quer seja para o seu desenvolvimento pessoal, quer seja como ferramenta de trabalho. Sendo um leitor hábil e apresentando excelência nos mais vários níveis de leitura, o docente - leitor poderá influenciar positivamente o comportamento do alunoleitor. Sabemos que a educação em todas as suas instâncias da Educação Básica ao Ensino Superior é sempre um construir-se, disseminar a leitura e a escrita por todos os “cantos” da universidade é um projeto que acredita na possibilidade da construção de um desejo de letrar a si mesmo, visto como um processo contínuo e sem final.. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAMBERG, R. Como incentivar o hábito da leitura. São Paulo: Bomlivro, 1987. CENTROFANTI, E.M., S.M. & EL TEDESCO, T. Compreensão da leitura por universitários de psicologia. Em G.P. Witter (Org.), Leitura e Universidade . Campinas, SP: Alínea, 1997. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84. 83.

(10) 84. A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios. DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: autores associados, 1996. KLEIMAN, A. Leitura: ensino e pesquisa. Campinas: Pontes, 1989. LAJOLO. M. ZILBERMAN, R. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996. MACHADO, A. R. Uma experiência de assessoria docente e de elaboração de material didático para o ensino de produção de textos na universidade. São Paulo: DELTA, 2000 ROMANELLI, G. O significado da escolarização superior para duas gerações de famílias de camadas médias. 17ª Reunião Anual da ANPED, 1994. SANTOS, B. de S. A Universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade. São Paulo: Cortez, 1994 SEVERINO, A. J. A Universidade, a pós-graduação e a produção de conhecimento. Curitiba: Universidade Tuiuti do Paraná, 1998. SOARES, M.B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.. Revista de Ciências Gerenciais • Vol. XII, Nº. 15, Ano 2008 • p. 75-84.

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