• Nenhum resultado encontrado

EMPRESAS BRASILEIRAS NO EXTERIOR Desempenho exportador Expatriação para prestação de serviços DEFESA COMERCIAL E CONCORRÊNCIA DOHA PÓS-NAIRÓBI

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "EMPRESAS BRASILEIRAS NO EXTERIOR Desempenho exportador Expatriação para prestação de serviços DEFESA COMERCIAL E CONCORRÊNCIA DOHA PÓS-NAIRÓBI"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

• Desempenho exportador

• Expatriação para prestação de serviços

DEFESA COMERCIAL E CONCORRÊNCIA

(2)

Os temas (agrícolas) de

Doha Pós-Nairóbi

Pedro de Camargo Neto

é Doutor em Engenharia de Produção pela USP, ex-presidente de associações de classe, ex-secretário de Produção e Comércio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2001-2002).

Pedro de Camargo Neto

O equacionamento de um dos três pilares da negociação agrícola da rodada Doha – o dos subsídios à exportação – na reunião ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC) –, realizada em dezembro de 2015, em Nairóbi (Quênia) foi um avanço. Pequeno, pois ainda falta muito, porém um avanço que merece ser valorizado, pois ocorre após décadas de negociação.

A RODADA URUGUAI

O intervalo entre o início da última rodada de negociações comerciais no âmbito do antigo Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT), denominada rodada Uruguai, e o da rodada seguinte, Doha, em 2001, a primeira da OMC, é de 15 anos. Nesse período, o setor agrícola do Brasil ganhou competitividade em virtude de signiicativos avanços estruturais. As exportações agrícolas cresceram, no período, cerca de 400%. Tornamo-nos os principais exportadores de açúcar, carne bovina e de aves, soja em grão e farelo, óleo e fumo. Já éramos os primeiros em café e suco de laranja. Iniciamos um processo que nos levará ao topo para leite, carne suína, milho e arroz. A liderança no comércio internacional tinha de ser acompanhada pela liderança política nos fóruns internacionais de comércio. A participação do Brasil nas negociações agrícolas da rodada Uruguai foi modesta. Historicamente, o Brasil sempre teve seu papel, resultado da qualidade de nossa diplomacia, nas negociações do antigo GATT. Po-rém, não era evidente a percepção de que o avanço na equidade do comércio agrícola, com redução das distorções, era importante para o desenvolvimento nacional. O Brasil participava, levado pela vizinha Argentina, no grupo de países criado e liderado pela Austrália, denominado Cairns.

A rodada Uruguai durou oito anos. Os resultados obtidos para o setor agrícola foram dois: o Acordo sobre Agri-cultura (AsA) e o Acordo sobre Sanidade e Fitossanidade. Embora no lançamento da rodada Uruguai em Punta del Este, em 1986, os EUA tivessem o discurso da eliminação dos subsídios no setor agrícola, este foi abandonado no percurso. O resultado inal foi basicamente consolidar o status quo nesse tema. O Brasil e demais países acabaram aceitando o consenso com a promessa de negociações futuras.

O avanço que representou a rodada foi a obtenção desses dois acordos importantes, que certamente diicultam retrocessos. É importante lembrar, porém, que os níveis de subsídios autorizados formalmente permaneceram os da época. As barreiras alfandegárias foram transformadas em tarifas e muito dos luxos existentes acomodados em quotas tarifárias.

(3)

A rodada Uruguai produziu dois outros grandes acor-dos de enorme interesse para os países desenvolviacor-dos. O Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectu-al Property Rights (TRIPS), acordo sobre propriedade intelectual, e o General Agreement on Trade in Ser-vices (GATS), acordo sobre serviços. Ambos represen-tam ganhos signiicativos para os países desenvolvidos. Longe aqui de não valorizar a questão da propriedade intelectual e a existência de regras multilaterais para ser-viços, mas é preciso registrar que os países em desenvol-vimento obtiveram muito menos em agricultura.

A RODADA DOHA

A rodada Doha iniciada no Qatar em dezembro de 2001 sob o impacto do ato terrorista de 11 de setem-bro sempre caminhou com diiculdades. A produção e exportação agrícola do Brasil continuou a crescer. Des-tacamos que para o milho o Brasil se tornou importante exportador durante a rodada Doha e era um importador signiicativo no período da rodada Uruguai.

Logo no início da rodada ocorreu a tentativa da parte dos EUA e da União Europeia (UE) de manobra para impor uma minuta de acordo que não nos interessava, precipitando a articulação de nova aliança de países cha-mada de G20 agrícola. O fato de o Brasil estar com dis-putas na OMC com os EUA sobre subsídios na produ-ção e exportaprodu-ção de algodão e com a UE sobre subsídios na produção e exportação de açúcar o legitimava ainda mais como líder também nas negociações agrícolas.

A MINISTERIAL DE CANCUN

O avanço agora obtido em Nairóbi poderia ser considerado um avanço histórico houvesse ocorrido em 2003 na reunião ministerial de Cancun, quando o G20 agrícola se reuniu em nível de ministros de Estado pela primeira vez. O G20 tinha um grande denominador comum, que era a eliminação total dos subsídios à exportação. Com a força desse ponto comum e a liderança do Brasil icou claro, no México, que acordos bi-laterais do tipo Blair House – que haviam decidido a rodada anterior – não tinham mais espaço.

Quando icou evidente que existia clara coesão em torno do denominador comum dos subsídios à exportação, refor-çada pela iniciativa de quatro países da África (Benin, Mali, Chad e Burkina Fasso) – chamados de C4, que contava com forte apoio de ONGs europeias – EUA e UE se viram extremamente pressionados. Aglutinados em torno do que se chamou de Iniciativa do Algodão, os africanos chegaram a Cancun mobilizados para eliminar a concorrência preda-tória no comércio internacional desse produto.

A surpresa do G20 aturdiu os EUA e a UE, que imagi-naram seu rápido esfacelamento. Quando, durante a mi-nisterial de Cancun, problemas paralelos em outros te-mas pendentes se agravaram, a reunião foi abortada sem qualquer tipo de acordo e apresentada como fracasso. Longe de ser fracasso, Cancun provocou importante transformação. A ausência de qualquer acordo levou aUE a se reunir na Irlanda poucos meses depois. Em uma clara demonstração de que havia compreendido a força da união desse grupo, anunciou estar preparada a eliminar os subsídios à exportação, porém que não o faria de maneira unilateral. Na época essa política era ainda elemento essencial na solução de seus excedentes de produção. Passou também, cada ano, a utilizar menos este tipo danoso de política agrícola, chegando a Nairóbi não só preparada para a eliminação formal, como foi líder junto com o Brasil na defesa da proposta em Nairóbi.

A MINISTERIAL DE HONG KONG

A incompreensão de que o único denominador co-mum no G20 agrícola eram as distorções no mercado internacional agrícola, resultado de subsídios, levou o Brasil a chegar na próxima ministerial em Hong Kong, em 2005, tendo como prioridade a questão do pilar de acesso a mercados. O Brasil chegou com forte

(4)

posicio-agrícolas dos países desenvolvidos. O confronto com a UE foi evidente. Após dias de debate, a reunião termi-nou com uma declaração que logrou pouco progresso em qualquer dos temas agrícolas. A UE, que já havia declarado estar disposta a, no im da rodada, eliminar seus subsídios à exportação, nada adiantou no tema do acesso a mercados.

A negociação sobre a terceira frente da declaração de Doha – a questão dos subsídios agrícolas de apoio in-terno – tema que pressionaria os EUA, foi também dei-xada de lado pelo Brasil e, portanto, pelo G20, sendo pouco debatida em Hong Kong. A forte mobilização dos países africanos na Iniciativa do Algodão conseguiu colocar em pauta o produto, porém, não foi relaciona-da, nos termos em negociação na rodarelaciona-da, a questão das distorções no mercado internacional com os subsídios internos norte-americanos.

Esse posicionamento exigiria a liderança do Brasil, que op-tou por não utilizar a decisão já obtida naquela data do con-tencioso sobre subsídios oferecidos à produção de algodão pelos norte-americanos, bem como a mobilização africana para avançar nessa terceira frente agrícola de Doha.

O fracasso na obtenção de declaração consensual, em Can-cun, produziu avanço no posicionamento europeu sobre os subsídios à exportação. O suposto sucesso de Hong Kong, obtendo declaração consensual, não produziu qualquer avanço nos outros dois temas da Rodada – acesso a mer-cados e subsídios de apoio interno. O confronto é muitas vezes necessário para avançar. A UE compreendeu, em Cancun, que teria de mudar. Não só estaria no foco das crí-ticas em todas as próximas reuniões da rodada Doha, como amplos setores da sociedade europeia também já criticavam essa política de subsídios, vista como anacrônica. O passo em Hong Kong deveria ser atacar os subsídios norte-ameri-canos, que, embora classiicados como de apoio doméstico, têm importante efeito nas exportações daquele país.

A MINI MINISTERIAL DE GENEBRA

A partir de Hong Kong, as reuniões se multiplicaram. G20, G5, G4, G20 com G33, reuniões e mais reuniões, nas quais o Brasil brilhou. Na última reunião do G4, realizada em Potsdam, icou claro que o Brasil apreciava o destaque de ser um dos quatro, porém, não tinha re-presentatividade para estar lá sozinho.

Houvesse ocorrido este avanço em julho de 2008 por ocasião da ministerial em Genebra, quando a rodada Doha descarrilou, também teria sido muito importante. O Brasil manteve nesta reunião a posição de pretender alcançar avanços nos três pilares da negociação da ro-dada. Logo no início, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, apresentou um texto. Nele incluía seu entendi-mento do que seria um mínimo aceitável por todos. A proposta de Lamy teve como primeiro apoiador o Bra-sil, e a Índia como primeiro opositor. O G20 se fraturou na frente de todos. O texto de Lamy pouco pressionava os EUA na questão dos subsídios de apoio interno. Ao colocar como nível máximo de subsídios aos EUA valor pouco abaixo ao que a negociadora norte-americana ha-via oferecido ao chegar a Genebra, deixou o país muito confortável. A Índia vinha pressionando pela metade do valor proposto. Lamy se equivocara ao deixar os EUA menos infelizes do que os outros.

Na sequência, a rodada Doha perdeu momento, icando cada dia mais evidente que diicilmente chegaria a um i-nal. O Brasil passou a colocar nas reuniões seguintes a ne-cessidade de os EUA avançarem na redução de subsídios de apoio interno. O contencioso do algodão chegou ao inal após todas as postergações possíveis, permanecendo os EUA impassíveis na necessidade de reduzir subsídios. Um acordo de compensação inanceira, de valor signiica-tivo, após o Brasil ameaçar com represálias, inclusive em propriedade intelectual, foi assinado até que uma nova legislação viesse alterar os subsídios do algodão.

A MINISTERIAL DE BALI

Foi lamentável o Brasil ter chegado à reunião ministerial de Bali em 2013 não tendo sequer o objetivo de

elimi-Nas questões agrícolas o Brasil foi omisso deixando a Índia, que tem uma realidade agrícola totalmente diferente da nossa, se tornar a líder no enfrentamento com os

países desenvolvidos

(5)

nar os subsídios à exportação. Dedicou-se na Indonésia a ser um facilitador de um consenso, ou melhor, qualquer consenso. A ideia sobre a importância da obtenção de um consenso era de que a OMC caminhava para a irre-levância. Seria muito importante mostrar a capacidade de voltar a negociar e atingir resultados. A paralisação das negociações da rodada Doha provocara uma inércia per-turbadora em Genebra. Importantes negociações comer-ciais estão em andamento não à revelia, porém em para-lelo à OMC. O consenso de Bali iria trazer novo ânimo à OMC, uma esperança para os temas da rodada Doha, um cronograma para os novos temas. A promessa de avanço futuro icou posteriormente clara de que era equivocada. Nas questões agrícolas o Brasil foi omisso deixando a Ín-dia, que tem uma realidade agrícola totalmente diferente da nossa, se tornar a líder no enfrentamento com os países desenvolvidos. E a Índia venceu obtendo o que pretendia, o inovador tema liberando subsídios para políticas de esto-ques de alimentos com a chancela de segurança alimentar. Em absoluto não se pode deixar de valorizar a obtenção de consensos. O patrimônio das regras multilaterais de comércio incorporadas na OMC foi sempre resultado de consensos. O acordo obtido em Bali sobre facilitação de comércio certamente deve ser comemorado, mesmo que o mirabolante valor anunciado na ocasião mereça ressal-vas,mas abandonar a liderança e temas de interesse que tí-nhamos nas questões agrícolas me pareceu um equívoco. Na questão dos subsídios domésticos agrícolas, porém, o acordo de Bali trouxe retrocesso. Trabalhou-se de ma-neira diversa do que se vinha trabalhando. Em Bali se acordou que para determinadas políticas caracterizadas como de cunho social, maiores volumes de subsídios se-riam aceitos. Não se quer aqui contestar a eventual justiça social do que foi acordado, porém destacar que isto colo-cou a negociação em nova rota. O que antes se restringia a negociar redução de limites de valores de subsídios agora se tornou muito mais complexo.

A MINISTERIAL DE NAIRÓBI

Finalmente na reunião ministerial em Nairóbi foi equa-cionado o pilar subsídios à exportação. Acordaram-se regras para os subsídios ao crédito de exportação, ajuda alimentar, e operação de empresas estatais exportadoras de produtos agrícolas. As regras para o crédito de expor-tação foram na linha do acordo Brasil-EUA que

equa-cionou o contencioso do algodão, mantendo limite de 18 meses de prazo, embora menos restritas com relação aos juros. Para ajuda alimentar também caminhou res-tringindo o campo de ação em especial dos EUA. Para as estatais introduziu regra que impede as empresas de atuarem de maneira divergente com as demais obriga-ções dos acordos na OMC.

É interessante observar a tramitação deste pequeno e importante avanço em Nairóbi. As negociações em tor-no dos três pilares – subsídios à exportação, subsídios domésticos, acesso a mercados – vinham sendo realiza-das há décarealiza-das pois foram assim estruturarealiza-das durante a rodada Uruguai. As divergências mesmo dentro dos diversos grupos de países, em tese com interesses ho-mogêneos, que haviam sido formados no decorrer dos anos, já não encontravam concordância. Com o passar dos anos os luxos comerciais haviam se alterado. A es-trutura de negociação estava esgotada. Havia passado tempo demais.

Os norte-americanos, semanas antes de Nairóbi, pare-ciam não ser contra este avanço. Para eles representaria um enquadramento nas disciplinas de crédito à expor-tação e ajuda alimentar. Eles nunca tiveram neste pilar o cerne de sua política agrícola, utilizando-o subsidiaria-mente. Logo a seguir, passaram a reagir contra um avan-ço neste pilar, talvez para valorizar a eventualidade de cederem no im da reunião. Um passo fundamental foi a união do Brasil com a UE, aliança improvável até recen-temente, propondo na rodada de Nairóbi esta solução. É importante lembrar que durante a rodada Uruguai era a UE quem mais defendia os subsídios à exportação. Foi necessário um quarto de século e duas grandes reformas na Política Agrícola Comum para mudarem de posição aliando-se a países do então chamado Grupo de Cairns, o antípoda nas questões agrícolas. E foi esta nova aliança que catalisou o avanço de Nairóbi.

O BRASIL NO PÓS-NAIRÓBI

Resolvido um dos pilares da negociação iniciada em 1986 ainda sobraram grandes questões no sentido de maior equidade no comércio agrícola. Também icou eviden-te que a rodada Doha como lançada no Qatar não eviden-tem como prosperar. Os temas de Doha, porém permanecem. A partir da reunião ministerial em Genebra em 2008 os EUA compreenderam que não mais conseguiriam

(6)

im-por um consenso como haviam feito em conjunto com a UE na rodada Uruguai. Passaram então a desenvolver estra-tégia alternativa de avanço nas questões comerciais de seu interesse, ignorando, ou quase isso, as reuniões da OMC. Vêm trabalhando com aparente sucesso dois conjuntos de acordos internacionais. O Trans Paciic Partnership (TPP) que reúne 12 países extremamente relevantes na região do Pacíico e o Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP) que desenvolve acordo com a UE.

Esses grandes acordos são mais do que reduções tari-fárias e preferenciais comerciais, pois contemplam um grande conjunto de regras para novos temas como in-vestimentos, relações trabalhistas, propriedade inte-lectual. Conirmando a provável ratiicação, que ainda sofrerá diiculdades nos Poderes Legislativos, deverão oferecer o rumo para as questões comerciais internacio-nais. Certamente estão aqui os novos temas que os nor-te-americanos trarão a Genebra, após insistirem tanto em Nairóbi de que a rodada Doha como anteriormente estruturada estava acabada.

A inluência direta dessas negociações de preferências mega regionais (plurilaterais) para o Brasil é imensa, mesmo que não tenhamos participado até agora dessas negociações. A possibilidade concreta de ocorrer algum tipo de adesão do Brasil, no futuro, a esses grandes pluri-laterais não deve ser descartada, e isso não necessaria-mente deve ser visto como negativo.

Os países desenvolvidos se encarregarão de trazer a Ge-nebra os novos temas. Cumpre aos países em desenvol-vimento manterem vivos os temas ainda importantes da rodada Doha. Cabe ao Brasil liderar a questão agrícola dentro dos nossos interesses comerciais, enfrentando as diiculdades remanescentes dos outros dois pilares – acesso a mercados e subsídios domésticos.

No pilar acesso a mercados enfrentaremos a questão reiteradamente colocada por inúmeros países em senvolvimento, e fortalecida por ter sido incluída na de-claração de Nairóbi, de uma nova regra de salvaguardas especiais para produtos agrícolas. É uma regra para o fechamento de mercados, portanto contra os interesses exportadores do Brasil. A outra e principal vertente, a redução de barreiras tarifárias para produtos agrícolas, certamente permanecerá extremamente difícil, agravada agora pelas negociações plurilaterais em andamento. Embora TPP e TTIP sejam muito mais do que acordos de preferência comercial eles também incluem algumas

importantes preferências em especial para alguns produ-tos agrícolas. Nos EUA os ganhos representados por es-sas preferências comerciais têm sido muito lembrados na articulação política necessária para ver o TPP aprovado pelo Congresso. Diluir esses ganhos com reduções tari-fárias em acordo multilateral se tornou ainda mais difícil. São também essas preferências comerciais em negociação nos acordos plurilaterais que exercerão enorme pressão sobre o Brasil. É preciso destacar que os EUA são o maior concorrente do Brasil nas exportações agrícolas e que vêm obtendo reduções tarifárias neste importante conjunto de países do TPP e TTIP. Será quase impossível o Brasil comercializar para esses mercados quando seu principal concorrente possui uma preferência tarifária.

A negociação do pilar subsídios domésticos é hoje mais complexa do que aquela enfrentada sem sucesso na reunião de Genebra em 2008, quando a rodada Doha descarrilou. Naquela ocasião se negociavam cortes nos limites máximos de subsídios ixados no AsA da roda-da Uruguai, bem como novas regras que diicultassem a transferência de políticas de maneira equivocada entre classiicações com as caixas de cores em especial para a verde em que teoricamente existe maior liberdade, pois de menor distorção nos mercados.

A inclusão da China de maneira efetiva nas negociações multilaterais criou diiculdade, pois tem ampliado signi-icativamente seus subsídios agrícolas com pouquíssima transparência. Os valores históricos de subsídios por oca-sião da sua adesão à OMC estão fora da atual realidade. A Índia tem também ampliado seus subsídios e obteve na reunião ministerial de Bali waiver temporário para am-pliar subsídios em sua política de estoques de alimentos. A reunião de Nairóbi não trouxe solução para esta ques-tão porém ratiicou a quesques-tão, fortalecendo a pendência.

Negociar o pilar subsídios domésticos como vinha sendo tentado na rodada Doha continua muito difícil. Não se pode,

porém, reduzir a pressão. Se não for possível avançar, é inaceitável retroceder como ocorreu em Bali, com a política de estoques de alimentos proposto pela Índia

(7)

Negociar o pilar subsídios domésticos como vinha sendo tentado na rodada Doha continua muito difícil. Não se pode, porém, reduzir a pressão. Se não for possível avan-çar, é inaceitável retroceder como ocorreu em Bali com a política de estoques de alimentos proposto pela Índia. Subsídios domésticos e acesso a mercados podem ser vis-tos como as duas faces de uma mesma moeda. Alguns paí-ses protegem seus agricultores através de tarifas. Outros mantêm as tarifas mais baixas, mas garantem a estabili-dade de seus produtores para concorrer com a produção externa através de subsídios. No primeiro caso são os con-sumidores que pagam pela menor eiciência de seus agri-cultores. No segundo, são os contribuintes de impostos que garantem os valores dos subsídios. Os motivos que le-vam as sociedades a protegem seus agricultores são muitas vezes relevantes e inúmeros. Vem daí toda a diiculdade de negociar liberalização de mercados agrícolas.

Ficou comprovado na reunião de Nairóbi que para os subsídios à exportação não existe a mesma coesão. São na verdade inaceitáveis, tanto que os subsídios à expor-tação diretos icaram proibidos. Sobraram porém os in-diretos, ou melhor, os efeitos no mercado internacional dos subsídios classiicados como domésticos, mas que ampliam a produção tornando o país exportador. É aqui que o Brasil precisa priorizar sua atenção.

A iniquidade no comércio agrícola mais simples de ser compreendida, não a maior ou mais importante, porém uma que há muito já deveria ter sido resolvida, é a questão dos subsídios à exportação. São injustiicáveis. Não existe argumento de segurança alimentar ou de rede de prote-ção a pequenos agricultores que ofereça justiicativa para este tipo de política. Trata-se somente de uma maneira simplista de um país rico despejar no mercado interna-cional excedentes indesejáveis em seu próprio mercado. Este descarte de excedentes agrícolas no mercado inter-nacional distorce os preços, ocupa mercados de maneira injusta, impede a produção, exportação e crescimento dos países mais pobres. Deve ser uma clara prioridade seu equacionamento.

UMA PROPOSTA

A negociação do pilar subsídios domésticos precisa ser radicalmente alterada. Os limites hoje existentes devem ser mantidos, mas as reduções devem ser realizadas não através de cortes sobre os limites estabelecidos no AsA,

porém avaliando os efeitos dos subsídios no aumento da produção que atinge o mercado internacional.

Nesta próxima fase, o país que não for exportador de determinado produto poderia manter seus limites auto-rizados no AsA sem qualquer corte. O país que desejar ser exportador deve ser proibido de utilizar subsídios domésticos que distorçam o comércio dentro das regras do AsA. Os limites para subsídios classiicados como de minimis continuariam permitidos, bem como os da caixa verde. As restrições cairiam sobre os classiicados como caixa amarela e azul do acordo existente. Isso re-presentaria mais um pequeno avanço.

A iniquidade no comércio agrícola permaneceria com os elevados picos tarifários de inúmeros produtos agrí-colas, as quotas tarifárias acomodando luxos comerciais restritos há décadas e os elevados subsídios agrícolas que sempre distorcem o comércio. A história recente mos-trou ser necessário reduzir a ambição e caminhar um passo de cada vez. Em Nairóbi avançamos com os subsí-dios à exportação diretos. Vamos agora para os indiretos que, embora chamados de subsídios domésticos, certa-mente afetam o mercado internacional.

Longe de trivial este próximo passo enfrentará a resis-tência, em especial dos norte-americanos. Já vimos a força dos grupos de pressão agrícola no Congresso em Washington quando mesmo perdendo um contencioso em todas as instâncias continuam a subsidiar a produ-ção de algodão permanecendo exportadores.

É importante lembrar também o amplo apoio recebido pelo Brasil em 2005 por ocasião do primeiro resultado

do contencioso. A imprensa internacional fez

exten-sas matérias sempre favoráveis ao Brasil, inclusive com editoriais. he New York Times, Washington Post, Wall Street Journal, Houston Chronicle, Los Angeles Times, Miami Herald entre tantos se posicionaram a favor do Brasil. Sobrou falando contra o resultado da arbitragem o National Cotton Council, pois até mesmo o United Sta-tes Trade Representative se calou. Os subsídios agrícolas são resultado de um lobby pequeno, mas poderoso.

Mesmo difícil, esse tema terá que ser trabalhado, pois omitir-se aqui signiica deixar em Genebra a liderança dos países em desenvolvimento para países que defen-dem temas que não nos interessam. Regras para salva-guardas especiais e subsídios para estoques agrícolas

(8)

seriam os entraves das próximas reuniões. Precisamos incluir o entrave que nos interessa, bem como uma pro-posta para sua solução. Uma propro-posta nessa linha deve atrair grande parte, se não todos, os países em desenvol-vimento e também alguns desenvolvidos.

Os subsídios domésticos, em especial os dos norte-ame-ricanos, além de nos atrapalharem no algodão, oferecem prejuízo para as exportações de soja e milho do Brasil. A rota de um novo contencioso parece necessária. Ajuda-ria muito construir o ambiente nas salas de negociação da OMC para inalmente obter uma regra que impeça os países desenvolvidos de distorcerem o mercado inter-nacional através de subsídios independentemente de sua classiicação como doméstico ou de exportação.

O Brasil recebeu por meio do Instituto Brasileiro do Al-godão compensação, como resultado de os norte-ameri-canos não alterarem integralmente sua política agrícola. Este entendimento impede o Brasil de iniciar qualquer contestação para o algodão até 2018. Embora o valor seja considerável, vale destacar que este acordo facilitou muito a vida dos negociadores de Washington em Bali e em Nairóbi. Teria sido muito mais difícil ignorar o plei-to do C4 e de países como Brasil com um contencioso pendente de solução.

Agora os setores produtivos de soja e milho se preparam para iniciar contencioso muito parecido ao do algodão. Infelizmente necessário, pois os subsídios da última Farm Bill dão prejuízos ao Brasil superiores a US$ 1 bilhão anuais somente na soja com preços e volumes exportados menores. O Congresso em Washington parece ignorar o acordado em Genebra. As Legislações avançam pouco em questões muito importantes para a agricultura do Brasil.

Para trabalhar essa nova maneira de enfrentar as distor-ções provocadas por subsídios domésticos será preciso construir uma grande aliança. Iniciando com os parcei-ros de praxe é preciso atrair o C4. Esta aliança de países africanos tem sido ignorada em todas as reuniões minis-teriais sendo unicamente contemplada com declarações de boa intenção e pequenos privilégios. Está claro que sozinhos nada se conseguirá. O Brasil que com o acordo com o EUA no contencioso do algodão abandonou o C4, deve agora oferecer esta oportunidade.

Obtida a adesão do C4 será preciso se aproximar dos de-mais países africanos e outros grupos de países em desen-volvimento. China e Índia precisarão ser procurados sem-pre lembrando que defender subsídios para a produção interna sob o argumento de rede de proteção a pequenos agricultores é totalmente diferente do que subsidiar a ex-portação. O último a ser procurado deverá ser a UE, par-ceira de Nairóbi, que certamente enfrentará diiculdades de se aliar à proposta de confronto, principalmente com os EUA priorizando a negociação do TTIP.

Omitir-se aqui signiica deixar em Genebra a liderança dos países em desenvolvimento

para países que defendem temas que não nos interessam. Precisamos incluir o entrave que nos interessa, bem como uma

proposta para sua solução

Referências

Documentos relacionados

(...) o controle da convencionalidade em sede internacional seria um mecanismo processual que a Corte Interamericana de Direitos Humanos teria para averiguar se o direito

Receita de Produtos (Quantidade) Margem de Produtos (Qualidade) Alavancadores de Produtividade Investimento Investimento Processo Processo Mercado Mercado

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Controlador de alto nível (por ex.: PLC) Cabo da válvula Tubo de alimentação do ar de 4 mm Pr essão do fluido Regulador de pressão de precisão Regulador de pressão de

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

Figure III. 37: Water vapor-liquid interfacial tension.. 38: Ethanol vapor-liquid interfacial tension. Interfacial tension was calculated using these coefficients in

The present study evaluated the potential effects on nutrient intake, when non- complying food products were replaced by Choices-compliant ones, in typical Daily Menus, based on