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MESA-REDONDA. Corpo: cenário de amor, gozo e sofrimento. Amor e compulsão: figuras contemporâneas do trabalho de jovens executivos.

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Academic year: 2021

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IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental

X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental

Tema: O amor e seus transtornos

Curitiba, de 04 a 07 de setembro de 2010

MESA-REDONDA

Corpo: cenário de amor, gozo e sofrimento

Amor e compulsão: figuras contemporâneas do trabalho de jovens executivos

Jorge Gomes

INTRODUÇÃO

Teria o amor ao trabalho virado compulsão? Neste trabalho, irei discutir as formas contemporâneas de vinculação ao trabalho pela via da compulsão. Foi através de minha prática psicanalítica em uma organização ligada ao mercado que várias questões foram me ocorrendo. Dentre elas as questões ligadas aos processos de subjetivação de jovens executivos. Pretendo desenvolver aqui algumas reflexões que me parecem importante e que posiciona a psicanálise noutro campo de atuação, interrogando os universais da administração para fazer emergir o singular de cada organização, que no contexto moderno também se contam uma a uma.

ARTICULAÇÃO TEÓRICA

O contexto contemporâneo mudou o conceito de trabalho repetitivo e manual que produzia bens materiais e sofrimento associado às doenças por esforços repetitivos para um trabalho compulsivo e intelectual produzindo bens imateriais que gera novas formas de sofrimento dentre elas o estresse ocupacional e as patologias de sobrecarga. Focalizaremos nesta reflexão os efeitos dessa nova visada nos processos subjetivos do trabalhador. No interstício dessa virada topológica vai se consolidando então a “economia do conhecimento”. Nesta, Gorz (2009) vai escrever o trabalho com um novo valor, agora não mais pela quantidade de horas dedicadas a sua atividade, mas pelo valor do conteúdo de “conhecimento”, “informações” e “inteligências gerais”. Neste cenário o trabalhador encontrará uma cena traumática, portadora de angústia, marcada por um encontro faltoso entre o trabalho simbólico e o trabalho real.

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O trabalho simbólico é aquele descrito nos manuais e procedimentos da empresa. Já o trabalho real convoca o sujeito a produzir respostas inventivas frente ao imprevisto e o contingencial, solicitando seus recursos afetivos e cognitivos na construção de alternativas para atender as exigências do “Discurso Capitalista”. Tal discurso lançado por Lacan em 1972 na “Conferência de Milão” é astucioso e trabalha depressa demais, o que na prática arrebata o sujeito num circuito compulsivo marcado pela urgência, em que para se proteger do desamparo provocado pela constante desestabilização do discurso capitalista o sujeito age. Uma das estratégias para conter essa angústia é o consumo incansável de enunciados provenientes de revistas de negócios que comportam promessas capazes de minimizar o encontro faltoso do sujeito com o real.

Para discutir as figuras-tipo de subjetivação que esse ato produz na cena do trabalho tomaremos o conceito de compulsão no seu sentido descritivo o que colocará em “questão os aspectos urgente, irresistível e incontrolável do ato (Minerbo, 2000, p.17)”. E que se apresentam como “aqueles comportamentos que, sem razão aparente, convertem-se de atividades prazerosas, comedidas e necessárias, a imperativos tenazmente irrefreáveis (Almeida, 2004, p.07).” Portanto, nossa hipótese de trabalho é que a mudança brusca de direção, onde um regime de funcionamento conectado com uma cena coletiva passou a funcionar num registro individual modificou os processos subjetivos no trabalho.

Nessa mudança de registro de um regime incompleto e consistente para outro completo e inconsistente como propõe Lebrun (2009) uma alteração importante vai se apresentar neste novo laço social e seus efeitos no campo do trabalho estarão associados a tese de que nesta cena “o trabalhador não se apresenta mais apenas como o possuidor de sua força de trabalho hetero-produzida (ou seja, de capacidades predeterminadas inculcadas pelo empregador – O Mestre), mas como um produto que continua, ele mesmo, a se produzir (Gortz, 2009 citando Moulier-Boutang, 2000, p. 19).

No primeiro regime o sujeito pressupõe que existe um Chefe detentor de um gozo, mas que também ocupa um lugar de exceção, por isso ele é incompleto porque trata-se apenas de uma suposição sustentada na linguagem que também é incompleta, mas é consistente porque tem sua ação legitimada pelos discurso da organização. No segundo regime de funcionamento as coisas tomam outro rumo. Os lugares são embaralhados, por isso ele vai funcionar num regime paradoxal em que o lugar de exceção já não é mais ocupado por um Terceiro, é um Outro que está ai, aparentemente nos enunciados, mas que não existe, por isso ele se

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personifica como uma figura onipresente, no campo do trabalho, pelos enunciados do marketing e das redes virtuais. Neste ideário o regime completo e inconsistente se sobrepõe ao regime incompleto e consistente desmantelando o conceito de fronteira e limite dentro das organizações. Isso fica bem ilustrado na campanha de marketing de uma grande empresa de telecomunicações que reforça ao final da sua propaganda o slogam: “você, sem fronteiras” referendando a força do enunciado na produção de um imperativo superegóico de que a tecnologia instrumentaliza o sujeito na cena do trabalho cotidiano.

Neste cenário as figuras-tipo contemporâneas do: “work@holic” (viciados em trabalho) muito comum entre jovens executivos que usam os recursos da tecnologia para executar tarefas e eliminar as fronteiras entre o público e o privado. O “obsessivo por resultados” desenvolve uma atividade compulsiva para atingir metas, podendo infringir regras de convivência com o outro, criando em alguns casos, montagens organizacionais perversas. O “super especialista” que na série de enunciados apresentados pelo discurso do mercado se agarra a um significante para dar conta da sua angústia, mas se queixa das dificuldades em crescer na empresa e por último “o carismático” que investe compulsivamente nos relacionamentos para ser admirado e reconhecido pelos outros.

ESTRATÉGIA DE AÇÃO

Identificamos e analisamos na sessão “Carreira” da “Revista Você S/A” 10 (dez) edições da revista publicada em 2009 dirigida a executivos e publicada mensalmente no país, quais os principais imperativos superegóicos, que ilustram uma espécie de comando compulsivo para o consumo de habilidades. Através dos enunciados tentaremos realizar uma operação-redução (Miller, 1998) dos elementos que se repetem sinalizando um dado estrutural, os elementos convergentes que se dirigem a um significante-mestre e o que se evita tocar nos enunciados publicados na revista. Estas três operações estão topologicamente alinhadas aos registros lacaniano de Real, Imaginário e Simbólico onde na repetição e convergência tentamos realizar uma operação de “enxugamento do imaginário pelo simbólico, reduzindo o discurso aleatório, desordenado e abundante dos enunciados (grifo meu) em formas simbólicas elementares. Enquanto a terceira, a evitação, diria respeito a uma operação de redução do simbólico pelo real (Guerra, 2001, p.88).

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ENUNCIADOS DAS 10 EDIÇÕES ANALISADAS NA “REVISTA VOCÊ S/A”

Fonte: Revista Você S/A 2009

OPERAÇÃO-REDUÇÃO DOS DADOS

O trabalho realizado vislumbrou analisar a força dos enunciados na produção de comportamentos compulsivos nas figuras-tipos que se apresenta na clinica do trabalho. Dessa análise nosso estudo detectou que o imperativo é o modo verbal que se apresenta nos enunciados expressando ordem, pedidos ou recomendações tais como: “Vire o jogo”, “Enfrente o medo”, “Aprenda a dar seu recado” e “Entregue resultados surpreendentes”. Descobrimos também o imperativo aprender sozinho é o que mais se apresenta no eixo da repetição. A Revista vende a imagem de mundo “caótico” em que o sujeito precisa se instrumentalizar para

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enfrentá-lo sozinho. Os imperativos superegóicos “aprenda mais”, “aprenda a dar seu recado”, “venda suas idéias”, “avalie seu desempenho”, “peça feedback”, “mantenha seus relacionamentos” se repetem como mantra e sinaliza para o sujeito que ele é o único responsável pela sua carreira. Os enunciados convergem para um pedido de inovação constante. Inovar emerge como o significante-mestre, o S1 que se repete na cadeia e que coloca o sujeito num encontro faltoso (tiquê) com o real, sempre jogando-o para além do signo e da fantasia que ele acredita ser regulado pelo principio do prazer. Finalmente, no que toca a evitação, percebemos que a segurança ou garantia do trabalho não faz laço com o discurso capitalista. É o impossível de co-existir, de nivelar ou de alinhar com o discurso do mercado. O sujeito para não ser atingido pelas crises do mercado deve se manter como um corpo vivo que produz a si próprio na cena do trabalho contemporâneo.

REFEERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, João José Rodrigues Lima de (2004). A compulsão à linguagem na psicanálise:

teoria lacaniana e psicanálise pragmática. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de

Campinas.

GORZ, André (2009). O imaterial: conhecimento, valor e capital. Rio de Janeiro, Anna Blume Editora.

GUERRA, Andrea Maris Campos (2001). A lógica da clínica e a pesquisa em psicanálise:

um estudo de caso. Revista Ágora, V. IV, N. 1. Porto Alegre, jan-jun 2001.

LACAN, Jacques. (2004). O Seminário, livro X (1962-1963). Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores

LEBRUN, Jean-Pierre (2008). A Perversão comum: viver juntos sem o outro. Rio de Janeiro, Ed. Companhia de Freud.

MILLER, Jacques-Allain. (1998) O osso de uma análise. Salvador, Biblioteca Agente. MINERBO, Marion (2000). Estratégias de investigação em psicanálise: desconstrução e

reconstrução de conhecimento. São Paulo, Ed. Casa do Psicólogo.

Psicólogo; Especialista em Psicologia Clinica (Unicap); Mestrando em Psicologia Clínica (Laboratório de Psicopatologia Fundamental e Psicanálise da Unicap); Analista organizacional, Professor Titular e Coordenador de Pós-graduação da Faculdade IBGM.

Tel: (81) 3231.7771

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Referências

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