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Introdução à Educação Cristã Reflexões, Desafios e perspectivas (18) 1

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Academic year: 2021

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– Reflexões, Desafios e perspectivas – (18)

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3. Os Presbiterianos e a Escola Dominical

O Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867) foi o primeiro missionário presbite-riano a se estabelecer no Brasil (12/8/1859) − antes dele esteve o Rev. James Coo-ley Fletcher (1823-1901), todavia, ele não pregou em português nem fundou igreja alguma, pois esta não era a sua missão, contudo, realizou um trabalho notável.2

Em sua viagem de 55 dias, Simonton – mesmo sem a aprovação do Capitão,3 ”nominalmente católico”4 – estabeleceu uma Escola Dominical nos "aposentos dos marinheiros", tendo boa aceitação e interesse;5 todavia, se isto o agradava, não o iludia, conforme ele mesmo escreveu três dias antes de desembarcar no Rio de Janeiro:

"Dois ou três (marinheiros) disseram que pretendem mudar de vida no fu-turo mas temo que isso signifique apenas uma auto-reforma. Acham que precisam deixar o mar para corrigir a vida. Conversei com a maioria deles, e fiquei a par de suas vidas; todos se parecem; ou foram abandonados sem parentes ou amigos, ou queriam ver o mundo e gozar a mocidade (...). Mas não se podem levar a sério todas essas promessas. Eles se arre-pendem no mar e pecam em terra".6

Simonton, antes de vir para o Brasil estudara um pouco o português em New York,7 no entanto, não se sentia seguro, como é natural, para pregar nesta nova e difícil língua.

Nestes primeiros meses de Simonton no Rio de Janeiro, torna-se visível a sua angústia por não conseguir aprender o português tão rapidamente como gostaria; ele se ofereceu a algumas pessoas para ensinar o inglês ou outra língua morta, en-quanto elas, no caso, ensinar-lhe-iam o português ou, se não fosse o caso, ele for-çosamente aprenderia o português, por ser obrigado a conversar com seus alunos na língua materna deles. Aqui dois personagens devem ser destacados. O primeiro, é o Dr. Manuel Pacheco da Silva (1812-1889), a quem Simonton trouxera carta de

1

Texto disponibilizado pela Secretaria de Educação Religiosa do Presbitério de São Bernardo do Campo, SP.

2

Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil, São Paulo, 1997,

pas-sim 3

Ashbel Green Simonton, Diário, 1852-1867, 4/7/1859.

4

Ashbel Green Simonton, Diário, 1852-1867, 19/6/1859.

5

Ashbel Green Simonton, Diário, 1852-1867, 4/7/1859; 11/7/1859; 25/7/1859; 9/8/1859.

6

Diário, 1852-1867, 9/08/1859. 7

Júlio A. Ferreira, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, 2. ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteri-ana, 1992, v. 1, p. 21.

(2)

apresentação remetida por Fletcher.8 O Dr. Pacheco era um intelectual, diretor do Externato do Colégio Imperial Dom Pedro II de 1855 a 1872,9 função que exerceu com competência.10 Ele era amigo de Fletcher e, tornou-se amigo, aluno de inglês e confidente de Simonton.11 No início de seus contatos, o Dr. Pacheco ofereceu-se para ajudá-lo do estudo do português e Simonton retribuiu a oferta para o estudo do Hebraico.12 Foi ele quem apresentou Simonton ao segundo personagem, que desta-co; o Dr. Teófilo Neves Leão, que era Secretário da Instrução Pública, o qual "pro-meteu ajudá-lo a conseguir uma licença de professor, necessária para que pudesse legalmente abrir uma escola particular".13

Os dois tornaram-se amigos e, em dezembro de 1859, Simonton registra: "Co-meçamos no dia seguinte (a aprender português e a ensinar inglês) e agora vou diariamente a seu escritório às duas horas. É importante ter como profes-sor alguém que tenha bom conhecimento da língua".14

Apesar destes esforços, Simonton continuou tendo dificuldade com a língua e, as duas vezes em que anunciou no jornal a sua disposição em ensinar inglês, não lhe trouxe alunos.15

Em 02/01/1860, Simonton mudou de residência, indo morar com uma família que falava o português: "Muitos esforços e orações foram coroados de êxito e moro em casa onde posso ouvir e falar o português (...). Estou bem instalado, mais que esperava em casa de fala portuguesa; já era mais que tempo de saber a língua da terra".16

Finalmente, em 22 de abril de 1860, ele começou uma classe de Escola Domini-cal no Rio de Janeiro, ao que parece na casa do Sr. Grunting, onde havia alugado um quarto para a sua residência, desde 10/4/1860, por um período de quase seis meses.17 Este foi o seu primeiro trabalho em português. Os textos usados com as cinco crianças presentes (três americanas da família Eubank e duas alemãs da

8

Cf. David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, p. 91 e 135.

9

David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, p. 91.

10

Veja-se Luiz Agassiz; Elizabeth C. Agassiz, Viagem ao Brasil: 1865-1866, Belo Horizonte, MG.: Ita-tiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1975, p. 92.

11

David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, p. 91. O Dr. Pa-checo tornou-se também amigo do casal Agassiz, sendo alvo constante de referências que dignificam a sua pessoa e amizade. Vejam-se: Luiz Agassiz; Elizabeth C. Agassiz, Viagem ao Brasil: 1865-1866, p. 53, 75, 91, 92, 275.

12

Diário, 1852-1867, 1852-1867, 08/09/1859. 13

David G. Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e A Questão Religiosa no Brasil, p. 135.

14

Diário, 1852-1867, 1852-1867, 02/12/1859. 15

Vejam-se: Diário de Simonton, 1852-1867, 08/09/1859; 08/11/1859; 26/11/1859; 02/12/1859; 03/01/1860; 21/01/1860; 24/02/1860; 13/08/1860, etc.

16

Diário de Simonton, 1852-1867, 03/01/1860. 17

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lia Knaack), foram: A Bíblia, O Catecismo de História Sagrada18 e o Progresso do Peregrino, de Bunyan.19 Duas das crianças, Amália e Mariquinhas (Knaack), confes-saram ou demonstraram na segunda aula (29/04/1860), terem dificuldade em enten-der John Bunyan.20

Aqui vemos delineados os princípios que caracterizariam a nossa Escola Domini-cal: O estudo das Escrituras, o estudo da história Bíblica através do Catecismo de História Sagrada21 e com uma aplicação ética e mística, através do Progresso do Peregrino.

A primeira Escola Dominical organizada em São Paulo pelos presbiterianos, ocor-reu no dia 17 de abril de 1864, às 15 horas, com sete crianças, sob a direção do Rev. Alexander L. Blackford (1829-1890), que se encontrava no Brasil desde 25/7/1860 e, em São Paulo, desde 09/10/1863.22 Este trabalho permaneceu e, pos-teriormente o seu horário foi transferido para às 10 horas, sendo seguido de um ato de Culto.23

Em 1868 parece haver três Escolas Dominicais entre os presbiterianos.24Há uma descrição muito cativante feita por Chamberlain em 1869 da Escola Dominical no Ri-o. Conta como devido a uma pilhéria de um guarda, o missionário e os demais co-meçaram a chamar a Escola Dominical de Batalhão de os Bíblias.25

18

Estou convencido de que este Catecismo seja o mesmo que ele publicou parcialmente na Imprensa

Evangélica a partir da edição de 16/02/1867 até 16/11/1867. 19

Diário de Simonton, 1852-1867, 28/04/1860. 20

Diário de Simonton, 1852-1867, 01/05/1860. 21

Em 1867, A Imprensa começa publicar o Catecismo, iniciando com uma nota explicativa:

“A Bíblia em grande parte é história, e o plano da nossa redenção atravessa longos séculos, começando a descobrir-se a Adão e Eva e alcançando o seu perfeito desenvol-vimento com a descida do Espírito Santo no dia de Pentecoste.

“Se queremos compreender a Bíblia e torná-la compreensível aos outros, é mister dar-mos a devida importância à sua forma histórica. É necessário acompanhar passo a passo o desenvolvimento do plano de Deus em relação à nossa raça e comentar os fatos na ordem em que se sucedem” (Imprensa Evangélica, 16/02/1867, p. 27).

22

Blackford (1829-1890) chegou ao Brasil, acompanhado de sua esposa, Elizabeth W. Simonton, em 25/07/1860. Ele trabalhou primeiramente no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, organizando a primeira igreja presbiteriana na então Província de São Paulo (05/3/1865). (Vejam-se, entre outros: Rev. Antonio Trajano, Esboço Histórico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: Álvaro Reis, ed.

Al-manak Historico do O Puritano, Rio de Janeiro: Casa Editora Presbyteriana, 1902, p. 13; O Estandar-te, 18/1/1912, p. 8; Boanerges Ribeiro, O Padre ProtestanEstandar-te, p. 100; Boanerges Ribeiro, Protestan-tismo e Cultura Brasileira, p. 46; Vicente T. Lessa, Annaes da 1. Egreja Presbyteriana de São Paulo,

p. 24).

23

Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p. 61; Carl Joseph Hahn, História do Culto

Protestante no Brasil, p. 175. 24

Veja-se: Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p. 268.

25

(4)

Anotações Finais

A Escola Dominical é a Escola do Senhor, aquele que tem domínio sobre todas as coisas. Como vimos, Deus nos deu a Sua Palavra para que a conheçamos, medite-mos e a pratiquemedite-mos, sendo conduzidos a Jesus Cristo (Jo 5.39): “O conhecimen-to de Deus é a genuína vida da alma....”.26 Assim, na Sua Escola, o natural e indispensável é que o Livro-texto seja a Sua Palavra e, que o currículo seja elabora-do a partir daí em suas perspectivas, conteúelabora-dos e conclusões, formanelabora-do assim, um quadro de referência bíblico.

A Escola Dominical se constitui para a Igreja e para a família em organismo de fundamental importância. Para aqueles que por muitos ou mesmo alguns anos têm desfrutado do privilégio de participar dessa Escola, esta afirmação não carece de demonstração. A Igreja ao longo dos anos tem sido amplamente abençoada por meio do ensino ministrado na Escola Dominical. Aqui ressaltamos a necessidade de ambas – a Escola Dominical, como parte da Igreja e a família – caminharem juntas na promoção e integração do cultivo da vida cristã orientada pelo ensino da Palavra. A Escola Dominical não substitui o ensino familiar: o culto doméstico, a prática da oração e o testemunho dos pais (2Tm 1.3-5; 3.14-15/Pv 22.6/Dt 4.9-10); antes é um reforço a esses procedimentos, sendo retroalimentada pelas próprias famílias. Na Escola Dominical temos uma escola sui generis, entre outros, pelos seguintes moti-vos: pelo seu currículo permanente (A Bíblia), pelo seu propósito eterno (Santi-dade) e pela sua integração (toda a família). Esta é a Escola do Senhor!

No ano de 1913, Herculano de Gouvêa Jr. escreveu um artigo para a Revista de Missões Nacionais, intitulado: “O que se deve esperar da Escola Dominical”. O arti-culista apresentou três benefícios “que a Igreja pode receber da Escola Domi-nical”, a saber: a) “A conservação dos filhos da Igreja no seio dela”; b) “Um conhecimento mais metódico, regular e completo da Bíblia, ministrado aos membros da Igreja”; c) “Conversões”.27

Na edição de setembro da Revista de Missões Nacionaes, foram publicados cinco artigos de alunos28 do Seminário Presbiteriano do Sul dirigidos à Escola Dominical. Estes artigos, reunidos e prefaciados pelo professor, que suponho ser o Rev. Geor-ge E. Henderlite (lamentavelmente não consta o nome do professor), foi publicado sob o título: O Mestre da Escola Dominical. No prefácio, o professor diz: “Igreja que não ensine não pode evangelizar o Brasil”.29 À frente continua: “Sem a medi-tação na Palavra da Vida, a Igreja Reformada no Brasil será apenas um pouco melhor do que a Igreja Romana com suas inépcias e fracassos (...). Somente o Evangelho da graça e a verdade do Filho de Deus poderá

26

João Calvino, Efésios, (Ef 4.18), p. 136-137.

27

Herculano Gouvêa Jr., O que se deve esperar da Escola Dominical: In: Revista das Missões

Nacio-naes, Outubro de 1913, p. 1-2. 28

Galdino Moreira, Julio Nogueira, Jorge Goulart, Paschoal Pitta e João Camargo.

29

O Mestre da Escola Dominical, Campinas, SP.: Imprensa do Seminário Theológico de Campinas,

(5)

figurar o caráter nacional”.30

Hoje, ainda cremos que as observações do Rev. Herculano de Gouvêa Jr. são coerentes; a Escola Dominical se propõe a educar biblicamente os filhos da aliança, solidificar a fé dos adultos por meio de um ensino sistemático das Escrituras e ser um instrumento de evangelização para que aqueles que não conhecem a Cristo possam fazê-lo e, pelo Espírito se renderem ao Senhor.

Somos herdeiros deste trabalho que cresceu e frutificou. Cabe-nos a responsabi-lidade de participar, orar e usar a nossa inteligência para aperfeiçoar a Escola Domi-nical, a fim de que partindo sempre das Escrituras Sagradas, ela continue sendo um veículo poderoso de propagação do Evangelho e de edificação espiritual da Igreja.

Maringá, 29 de junho de 2015. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

30

O Mestre da Escola Dominical, Campinas, SP.: Imprensa do Seminário Theológico de Campinas, 1913, p. 7.

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